TREINAMENTO POR SIMULAÇÃO PARA ADMISSÃO HOSPITALAR DE PACIENTES COM COVID-19: AVALIAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

RESUMO

Objetivo:

avaliar habilidades, satisfação, autoconfiança e experiência com debriefing de profissionais de enfermagem em um cenário simulado para admissão hospitalar de pacientes com covid-19.

Método:

estudo quantitativo, observacional, de corte transversal, realizado em um Hospital Universitário com profissionais de enfermagem. Os dados foram coletados em junho de 2020 utilizando os seguintes instrumentos: questionário sociodemográfico, checklist de avaliação das habilidades para admissão do paciente, Escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem e Escala de Experiência com o Debriefing. Posteriormente, os dados coletados foram analisados por estatística descritiva e analítica.

Resultados:

participaram 62 profissionais, sendo 23 (37,10%) enfermeiros e 39 (62,90%) técnicos em enfermagem, com idade média de 36,82 (±6,19). O cumprimento das habilidades na admissão do paciente variou entre 66,13% e 90,32%. A pontuação média geral na Escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem foi de 4,46 (±0,36) e, na Escala e fatores de Experiência com o Debriefing, 4,63 (±0,33). Profissionais que se atualizavam por artigos científicos e protocolos obtiveram maior pontuação média nas duas escalas (p < 0,05).

Conclusão:

a maioria dos profissionais demonstrou habilidades à admissão do paciente, satisfação com a aprendizagem, autoconfiança no cenário simulado e adequada experiência com o debriefing.

DESCRITORES:
Enfermagem; Hospitalização; Infecções por coronavírus; Simulação de paciente; Educação em enfermagem; Profissionais de enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to assess skills, satisfaction, self-confidence and experience with debriefing of nursing professionals in a simulated scenario for hospital admission of patients with COVID-19.

Method:

this is a quantitative, observational, cross-sectional study, carried out at a university hospital with nursing professionals. Data were collected in June 2020 using the following instruments: sociodemographic questionnaire, checklist for assessing patient admission skills, the Student Satisfaction and Self-Confidence in Learning Scale and the Debriefing Experience Scale. Subsequently, the collected data were analyzed using descriptive and analytical statistics.

Results:

sixty-two professionals participated, 23 (37.10%) nurses and 39 (62.90%) nursing technicians, with an average age of 36.82 (±6.19). Compliance with patient admission skills ranged from 66.13% to 90.32%. The overall average score on the Student Satisfaction and Self-Confidence in Learning Scale was 4.46 (± 0.36) and, on the Debriefing Experience Scale and factors, 4.63 (±0.33). Professionals who updated themselves with scientific articles and protocols obtained a higher average score on both scales (p<0.05).

Conclusion:

most professionals demonstrated skills on patient admission, satisfaction with learning, self-confidence in the simulated scenario and adequate experience with debriefing.

DESCRIPTORS:
Nursing; Hospitalization; Coronavirus infections; Patient simulation; Nursing education; Nursing professionals

RESUMEN

Objetivo:

evaluar habilidades, satisfacción, autoconfianza y experiencia con el debriefing de los profesionales de enfermería en un escenario simulado para el ingreso hospitalario de pacientes con Covid-19.

Método:

estudio cuantitativo, observacional, transversal, realizado en un Hospital Universitario con profesionales de enfermería. Los datos se recolectaron em junio 2020 utilizando los siguientes instrumentos: cuestionario sociodemográfico, lista de verificación para evaluar las habilidades de admisión del paciente, Escala de Satisfacción y Confianza Propia de los Estudiantes en el Aprendizaje y la Experiencia con Debriefing. Posteriormente, los datos recolectados fueron analizados mediante estadística descriptiva y analítica.

Resultados:

participaron 62 profesionales, 23 (37,10%) enfermeros y 39 (62,90%) técnicos de enfermería, con una edad media de 36,82 (±6,19). El cumplimiento de las habilidades de admisión del paciente osciló entre el 66,13% y el 90,32%. El puntaje promedio general en la Escala de Satisfacción y Confianza Propia de los Estudiantes en el Aprendizaje fue de 4.46 (±0.36) y, en la Escala de Experiencia de Debriefing y factores, 4.63 (±0.33). Los profesionales que se actualizaron con artículos y protocolos científicos obtuvieron una puntuación media más alta en ambas escalas (p<0,05).

Conclusion:

la mayoría de los profesionales demostraron habilidades en la admisión de pacientes, satisfacción con el aprendizaje, confianza en sí mismos en el escenario simulado y experiencia adecuada con el debriefing.

DESCRIPTORES:
Enfermería; Hospitalización; Infecciones por coronavirus; Simulación de pacientes; Educación en enfermería; Profesionales de enfermería

INTRODUÇÃO

No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a infeção causada pelo novo Coronavírus, a covid-19, como doença pandêmica e de emergência em saúde pública.1 A partir de então, foram divulgadas diretrizes provisórias sobre o manejo de pacientes infectados e as precauções necessárias para prevenção.2 Contudo, o conhecimento em construção sobre patogenicidade do vírus e o rápido aumento no número de casos da covid-19 no mundo vêm exigindo respostas rápidas dos sistemas de saúde, por meio de profissionais qualificados, prontos a tomar decisão, com base em evidências científicas.2^-4

Cabe aos profissionais de saúde garantir a segurança do ambiente de assistência à saúde, de modo que o cuidado seja livre de iatrogenias, danos à saúde pessoal e da população.5^-6 Dessa forma, torna-se imperativo empregar os protocolos testados e comprovadamente eficazes para controle da disseminação do Sars-CoV-2 no contexto dos serviços de saúde.6 Para isso, algumas instituições de saúde têm lançado mão de simulação clínica para treinamento dos profissionais de saúde, a fim de que desenvolvam competências e habilidades específicas para o posterior cuidado aos pacientes infectados.7 A simulação clínica é um método de ensino que utiliza ambientes planejados e controlados, definidos como cenários simulados. Estes são preparados com simuladores e/ou atores que reproduzem situações reais da prática clínica.7

Estudo quase-experimental indiano, realizado com residentes de medicina para treinamento simulado do manejo ventilatório em paciente com covid-19, demonstrou que o cenário planejado foi oportuno para o desenvolvimento de habilidades, segurança e satisfação dos participantes. Dos 23 residentes do estudo, houve aumento significativo entre as notas do pré-teste e pós-teste (p < 0,0001), sendo que o treinamento atendeu e/ou superou as expectativas de 88,4% dos participantes.8

Uma investigação conduzida com 46 enfermeiros estadunidenses avaliou, por meio da simulação, a habilidade na realização de swabs nasofaríngeos para exame de RT-PCR. Verificou-se que a maioria dos participantes desconhecia a forma correta da técnica e que, após a atividade educativa, eles melhoraram seu desempenho em até 1,41 ponto (p < 0,0001) em relação ao pré-teste.9

No contexto da pandemia, a educação baseada em simulação pode ser um instrumento prático e flexível para treinamento dos profissionais de enfermagem, de modo a atingir níveis desejáveis de conhecimento, habilidades e atitudes.7^,9 Além disso, possibilita aos participantes a execução de uma prática em cenário seguro e controlado, em que é possível repetir e aprimorar a habilidade antes de ser executada na prática de enfermagem.10 Nesse sentido, a habilidade de um profissional para executar procedimentos ou atividades de sua competência, prevenindo problemas potenciais, pode implicar maior satisfação e confiança no exercício profissional.9^-10

Estudo realizado no Reino Unido utilizou a simulação in situ ou simulação empregada no próprio ambiente clínico para identificar problemas potenciais na admissão de pacientes com covid-19 em uma Unidade de Terapia Intensiva. Por meio da simulação, foi possível identificar e corrigir deficiências operacionais em torno de protocolos do trabalho multiprofissional e de comunicação, aumentando a segurança da assistência prestada.11

Considerando que a literatura ainda carece de estudos que avaliem as habilidades, a satisfação e a confiança de profissionais de enfermagem na abordagem de pacientes com covid-19, justifica-se a proposta de atividade educativa em cenário simulado. Assim, o estudo teve como objetivo avaliar habilidades, satisfação, autoconfiança e experiência com debriefing de profissionais de enfermagem em um cenário simulado para admissão hospitalar de pacientes com covid-19.

MÉTODO

Estudo quantitativo, observacional, de corte transversal, realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU/UFJF), localizado na cidade de Juiz de Fora, Brasil. O HU/UFJF é um hospital de porte médio, que conta com 136 leitos e se tornou um serviço público de referência regional para admissão e tratamento de pacientes com a covid-19.

Para participação do estudo, foram adotados os seguintes critérios de inclusão: ser enfermeiro, técnico de enfermagem ou auxiliar de enfermagem envolvido com a admissão direta de pacientes. Foram excluídos aqueles que estivessem afastados das atividades profissionais por licença médica ou férias no momento da coleta de dados.

A pesquisa foi realizada em junho de 2020, período em que ocorreram as atividades educativas no laboratório de simulação da instituição, abordando a temática da admissão de pacientes com covid-19. O referido laboratório de simulação é multiprofissional e interdisciplinar. Conta com instrutores qualificados, além de estrutura física e equipamentos que permitem atender a variados níveis de complexidade.

Para o treinamento, todos os profissionais interessados e que atendessem aos critérios de inclusão poderiam efetuar a inscrição pelo site do hospital. Adotou-se uma amostragem não probabilística, por conveniência, considerando que os participantes se inseriram na atividade educativa por conveniência, de acordo com a disponibilidade e interesse em participar da atividade.

A demanda para o treinamento surgiu com a finalidade de equalizar o procedimento operacional padrão de admissão de pacientes com covid-19 (Ad.POP.covid-19) e proporcionar uma maior segurança aos pacientes e à equipe profissional diante do aumento do número de internações.

Atenta à segurança dos profissionais, a equipe de treinamento, formada pelos autores do estudo, optou por enviar por correio eletrônico toda a parte teórica do curso, ou Ad.POP.covid-19, além de informações sobre o cenário simulado. A parte prática do curso ocorreu no laboratório de simulação, com número reduzido de pessoas, considerando todas as orientações quanto às normas e precauções vigentes. No ambiente simulado, coube aos instrutores, previamente treinados, preparar o ambiente, simular o paciente com covid-19, avaliar as habilidades, facilitar o debriefing e aplicar as escalas.

No dia da atividade educativa, os 5 minutos iniciais foram reservados para que cada profissional participante do treinamento pudesse esclarecer dúvidas, rever o Ad.POP.covid-19, além de fazer o reconhecimento de todo o cenário de simulação.

Para treinamento dos inscritos, foram disponibilizadas 16 rodadas de atividades de duas horas, em variados turnos, ao longo do mês de junho, com o objetivo de oportunizar a participação dos profissionais. Em cada hora de treinamento, dois profissionais passavam pelo cenário, sendo reservados em média 60 minutos para cada dupla desenvolver as ações de admissão. Esse formato foi escolhido, pois se considerou a média 5 minutos para esclarecimentos e reconhecimento do cenário, 25 minutos para o desenvolvimento do Ad.POP.covid-19, 25 minutos para debriefing e os 5 minutos finais reservados para a equipe de treinamento ajustar e organizar o cenário para o próximo profissional. Os tempos não foram estabelecidos de forma fixa, mas apenas tomados como parâmetro que poderia ser ajustado conforme a necessidade de cada dupla profissional.

Antes da atividade educativa, o cenário simulado de alta complexidade foi validado por cinco juízes quanto a conteúdo, aparência e fidelidade, obtendo Índice de Validade de Conteúdo (IVC) 0,91.

Para o cenário Ad.POP.covid-19, consideraram-se dez habilidades avaliadas por um checklist: paramentação com os equipamentos de proteção individual (EPIs); recepção do paciente com escuta atenta de queixas e prestação de esclarecimentos; monitorização multiparamétrica e aferição dos sinais vitais; identificação e relato de alterações de sinais clínicos (em voz alta); instalação de oxigenioterapia; punção de acesso venoso e implementação da prescrição inicial (500 mililitros de solução fisiológica a 0,9% a 14 gotas por minuto); realização de coleta de material para exame laboratorial (sangue venoso); estabelecimento de medidas de segurança e controle de circulação (orientações sobre circulação e instalação de placa de aviso sobre precaução contra aerossóis); realização de descarte do material infectante utilizado nos procedimentos de forma correta, desparamentação e higienização das mãos.

O cenário simulado contava com todos os recursos necessários para a atividade de admissão e procedimentos padronizados, como a paramentação e desparamentação, oxigenioterapia, monitorização multiparamétrica e oximetria de pulso, punção venosa e coleta de sangue para exame. Simulando uma enfermaria real, em uma antessala do laboratório, o profissional poderia realizar a higienização das mãos e a paramentação. Nesse local, também foi adaptado um pequeno posto de enfermagem, com todos os materiais necessários para realização dos procedimentos, além das orientações afixadas na porta sobre o que deveria ser realizado no cenário. Antes de entrar no cenário de cuidados diretos ao paciente, o profissional recebia uma solicitação de coleta de sangue venoso para exames bioquímicos e prescrição médica básica, informando: dieta branda, administração de solução fisiológica a 0,9% de 12 em 12 horas e instalação de oxigênio por cateter nasal tipo óculos a três litros por minuto, se necessário. Cabe destacar que a avaliação das dez habilidades relacionadas ao Ad.POP.covid-19 foi estabelecida por meio do somatório do desempenho da dupla, respeitando a atribuição de cada profissional.

No cenário simulado da enfermaria, um dos instrutores, interpretou uma senhora de 72 anos, viúva, transferida do ambulatório da instituição com queixa de piora de dispneia, tosse, dor abdominal, com SARS-CoV-2 detectável pelo exame RT-PCR realizado há dois dias, em uma Unidade de Pronto Atendimento. Após o procedimento de monitorização da paciente, os parâmetros simulados eram projetados em um monitor, indicando a necessidade de instalação de oxigênio por cateter tipo óculos, conforme as dez habilidades relacionadas ao Ad.POP.covid-19. Para punção de acesso venoso e coleta de sangue, foi adaptado à lateral do tórax do ator um manequim braço e antebraço para coleta de sangue e punção intravenosa.

O debriefing foi uma discussão reflexiva que ocorreu logo após a execução das atividades no cenário, em que foram ressaltados pelos instrutores os aspectos positivos, os pontos a serem aprimorados pelos profissionais e o nível de satisfação. Para isso, três aspectos centrais nortearam o debriefing: atividades realizadas e não realizadas, pontos a serem aprimorados e o que representou o treinamento para cada profissional.

Os dados sociodemográficos foram coletados por um questionário no qual se solicitavam informações sobre idade, sexo, formação, setor de trabalho, tempo de atuação profissional, treinamento por simulação e atualizações sobre a covid-19. Para avaliação das habilidades desempenhadas na admissão do paciente, foi utilizado um checklist com dez itens referentes às habilidades elencadas no Ad.POP.covid-19, com possibilidade de três opções de resposta em cada item: sim, parcialmente e não. O checklist foi avaliado e ajustado conforme considerações de cinco especialistas quanto a clareza, pertinência e conteúdo. Também foram utilizadas as escalas Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem11 e Experiência com o Debriefing.12 Ambas foram validadas transculturalmente para o português do Brasil, com alta consistência interna, apresentando a Escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem um alfa de Cronbach de 0,86 e a Escala de Experiência com o Debriefing, um alfa de Cronbach de 0,94.

A Escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem possui 13 itens e é formada por duas subescalas, sendo a primeira referente à satisfação (com cinco itens) e segunda à autoconfiança (com oito itens). Para cada item que compõe a escala, as cinco respostas possíveis são do tipo Likert, variando de discordo fortemente da afirmação a concordo fortemente com a afirmação.12

A Escala de Experiência com o Debriefing é composta de 20 itens e subdividida em quatro domínios: analisando os pensamentos e sentimentos (com quatro itens); aprendendo e fazendo conexões (com oito itens); habilidade do professor em conduzir o debriefing (com cinco itens); orientação apropriada do professor (com três itens). Para cada item que compõe a escala, as cinco respostas possíveis são do tipo Likert, variando de discordo fortemente da afirmação a concordo fortemente com a afirmação.13

Os dados foram tabulados no Microsoft Excel e analisados no software Stata versão 15.0. Os dados sociodemográficos e a pontuação do checklist das habilidades, bem como da Escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem e da Escala de Experiência com o Debriefing, foram inicialmente analisados mediante cálculo de frequências e medidas de posição e dispersão.

A normalidade da distribuição das variáveis quantitativas foi verificada aplicando-se o teste Shapiro-Wilk. A partir dos resultados, a análise das diferenças de médias por variáveis sociodemográficas foi realizada mediante aplicação dos testes t de Student para amostras não pareadas e análise de variância a um fator. A correlação entre as pontuações das escalas foi verificada por meio do teste de Pearson. Adotaram-se, em toda a análise, testes bilaterais e nível de significância de 5%.

A pesquisa foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora e mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes do estudo.

RESULTADOS

Participaram do estudo 62 profissionais de enfermagem, cuja idade média foi de 36,82 (±6,19) anos. O sexo feminino representou 77,4% da amostra. Do total, 23 (37,1%) eram enfermeiros e 39 (62,9%) eram técnicos em enfermagem, não havendo participação de auxiliares de enfermagem. Quanto ao setor de trabalho na instituição, prevaleceu a clínica médica (25,8%), seguida por clínica cirúrgica (11,7%) e ambulatório (14,5%). O tempo de atuação profissional predominante foi de 11 a 15 anos (29,0%), seguido pelo período de seis a dez anos (27,4%). A realização de atualizações sobre a covid-19 por meio de artigos científicos/protocolos e redes sociais/telejornais/jornais foi relatada por 93,5% dos participantes, enquanto 6,5% reportaram atualizar-se somente por redes sociais, como Facebook, Instagram e WhatsApp. A maioria (56,4%) referiu já ter sido treinada por simulação.

Quanto às dez habilidades avaliadas no cumprimento do Ad.POP.covid-19, a frequência relativa de cumprimento das atividades pelos profissionais variou de 66,1% a 90,3%. Contudo, cabe destacar que 30,6% dos participantes cumpriram parcialmente a habilidade de desprezar o material infectante utilizado nos procedimentos em local apropriado, a desparamentação e a higienização das mãos, e 27,4% não relataram as alterações clínicas do paciente simulado, apesar de 90,3% terem identificado essas alterações (Tabela 1).

Tabela 1
Avaliação dos profissionais de enfermagem quanto às habilidades desenvolvidas no cenário de simulação. Juiz de Fora, MG, Brasil, 2020. (n=62)

Habilidades desenvolvidas	Sim (n%)	Parcialmente (n%)	Não (n%)
1. Paramentam-se corretamente	44 (71,0)	17 (27,4)	1 (1,6)
2. Recepcionam o paciente, ouvem queixas e as esclarecem	50 (80,7)	8 (12,9)	4 (6,4)
3. Monitorizam e aferem sinais vitais	55 (88,7)	7 (11,3)	0
4. Identificam alterações clínicas	56 (90,3)	5 (8,0)	1 (1,7)
5. Relatam as alterações clínicas	41 (66,1)	4 (6,4)	17(27,5) ((27,42)
6. Iniciam oxigenioterapia	49 (79,0)	13 (21,0)	0
7 Punção venosa e implementam prescrição	49 (79,0)	9 (14,5)	4 (6,5)
8. Realizam coleta de material para exames	44 (71,0)	12 (19,3)	6 (9,7)
9. Estabelecem medidas de segurança e controle de circulação	53 (85,5)	7 (11,3)	2 (3,2)
10. Desprezam material infectante, desparamentam e higienizam as mãos	42 (67,8)	19 (30,6)	1 (1,6)

Na distribuição quanto a média, desvio-padrão, mediana, máximo e mínimo na escala e subescalas Satisfação com a Aprendizagem Atual e Autoconfiança na Aprendizagem, as pontuações ficaram entre 3,60 e 5, com média geral de 4,46 (±0,36). Já na escala e fatores de Experiência com o Debriefing, as pontuações ficaram entre 3,25 e 5, com média geral de 4,63 (±0,33) (Tabela 2).

Tabela 2
Pontuação na escala e subescalas Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem e na escala e fatores de Experiência com o Debriefing. Juiz de Fora, MG, Brasil, 2020. (n=62)

Variáveis	Média	DP*	Mediana	Máximo	Mínimo
Escala de Satisfação dos Estudantes	4,46	0,36	4,53	5	3,84
Subescala 1 - Satisfação com a aprendizagem	4,56	0,41	4,60	5	3,60
Subescala 2 - A autoconfiança na aprendizagem	4,40	0,42	4,50	5	3,37
Escala de Experiência com o Debriefing	4,63	0,33	4,70	5	3,80
Fator 1 - Analisando pensamentos e sentimentos	4,52	0,43	4,75	5	3,25
Fator 2 - Aprendendo e fazendo conexões	4,63	0,38	4,81	5	3,87
Fator 3 - Habilidade professor conduzir debriefing	4,71	0,37	5	5	3,80
Fator 4 - Orientação apropriada do professor	4,62	0,41	4,66	5	3,66

• ^*
  Desvio-padrão.

Encontrou-se alta consistência interna nas duas escalas aplicadas, sendo identificado alfa de Cronbach de 0,86 para Escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem e alfa de Cronbach de 0,93 para Escala de Experiência com o Debriefing.

Ao considerar a distribuição das pontuações na escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem a partir da relação com as características sociodemográficas, não se identificaram variações significativas na maioria das médias, exceto nos meios de atualização sobre a covid-19 (p < 0,001). Para a escala de Experiência com o Debriefing, da mesma forma, a partir da relação, não se encontraram variações significativas na maioria das médias, exceto nos meios de atualização sobre a covid-19 (p < 0,016). Apesar de a maioria dos profissionais se valer tanto de artigos científicos e protocolos governamentais e institucionais quanto de redes sociais para ampliar o conhecimento sobre a covid-19, o grupo que se atualizava por artigos científicos e protocolos obteve maior pontuação média nas duas escalas (Tabela 3).

Tabela 3
Distribuição das pontuações médias na Escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem e na Escala de Experiência com o Debriefing relacionadas às características sociodemográficas dos profissionais. Juiz de Fora, MG, Brasil, 2020. (n=62)

Variável		n (%)	Pontuação Satisfação e Autoconfiança	Valor de p	Pontuação Experiência Debriefing	Valor de p
			Média (DP) *		Média (DP)*
Participantes		62 (100)	4,56 (0,41)	-	4,63 (0,33)	-
Sexo	Feminino	48(77,4)	4,56 (0,41)	0,586†	4,64 (0,34)	0,685†
	Masculino	14 (22,6)	4,58 (0,41)		4,60 (0,29)
Formação	Enfermeiro	23 (37,1)	4,51 (0,41)	0,428†	4,60 (0,37)	0,618†
	Técnico	39 (62,9)	4,60 (0,41)		4,64 (0,31)
Setor de trabalho	Centro cirúrgico	6 (9,7)	4,60 (0,45)	0,826ǂ	4,77 (0,25)	0,800ǂ
	Clínica médica	16 (25,8)	4,48 (0,37)		4,55 (0,43)
	Clínica cirúrgica	11 (17,7)	4,60 (0,40)		4,59 (0,32)
	Terapia intensiva	6 (9,7)	4,40 (0,48)		4,60 (0,32)
	Ambulatório	9 (14,5)	4,57 (0,50)		4,70 (0,21)
	Imagem	6 (9,7)	4,77 (0,30)		4,58 (0,34)
	Transplante	8 (12,9)	4,65 (0,45)		4,71 (0,34)
Tempo atuação (anos)	Menor 5	10 (16,1)	4,68 (0,34)	0,244ǂ	4,48 (0,30)	0,292ǂ
	De 6-10	17 (27,4)	4,37 (0,40)	0,244ǂ	4,48 (0,37)
	De 11-15	18 (29,0)	4,60 (0,36)		4,70 (0,30)
	De 16-20	12 (19,4)	4,63 (0,51)		4,71 (0,31)
	Mais 20	5 (8,1)	4,72 (0,38)		4,66 (0,37)
Treinamento anterior	Sim (n=35)	35 (56,4)	4,52 (0,41)	0,304†	4,59 (0,34)	0,372†
	Não (n=27)	27 (43,6)	4,62 (0,41)		4,67 (0,32)
Atualização covid-19	Artigos/protocolos	26 (42,0)	4,87 (0,38)	<0,001ǂ	4,70 (0,26)	0,016ǂ
	Mídias sociais	4 (6,4)	4,65 (0,19)		4,16 (0,32)
	Ambos	32 (51,6)	3,56 (0,37)		4,63 (0,35)

• * Desvio-padrão; ^†Teste t de Student para amostras não pareadas; ^ǂAnálise de variância a um fator.

DISCUSSÃO

A enfermagem desempenha papel crucial em todo o processo de assistência à saúde dos indivíduos e das coletividades.14 No âmbito hospitalar, cabe ao corpo de enfermagem implementar variadas atividades, privativas e colaborativas, que comumente têm início na admissão do paciente.15^-16 No contexto da pandemia do novo coronavírus, houve um aumento exponencial nas admissões hospitalares, exigindo da enfermagem ações específicas de segurança e monitorização do paciente.16^-17

Nesse sentido, os dados da presente investigação emergiram de um cenário simulado para treinamento de habilidades específicas na admissão de pacientes com covid-19. As características sociodemográficas dos participantes são compatíveis com outros estudos e com o perfil do profissional de enfermagem brasileiro.15^,18 Trata-se de um contingente majoritariamente feminino, adulto jovem, representado por técnicas de enfermagem e enfermeiras, distribuídas nas mais diversas atividades e especialidades hospitalares.18

Estudos16^-17^,19 têm destacado o importante papel da enfermagem mundial no enfrentamento da covid-19, que envolve desde o rastreamento epidemiológico de pacientes infectados até a gestão e a implementação diligente de medidas de controle ambiental e segurança do paciente internado. Treinamentos, em sua maioria no formato expositivo e remoto, foram empregados como recurso para difusão de protocolos institucionais, com destaque para habilidades específicas, como epidemiologia do novo coronavírus; utilização de equipamentos de proteção individual; identificação de sinais, sintomas e agravamento da doença; monitorização de parâmetros vitais; descarte de materiais infectantes e controle de circulação de pessoas.14^,16^,20

No presente estudo, optou-se por enviar por correio eletrônico o material teórico e desenvolver as habilidades dos profissionais em um cenário simulado. Cabe destacar que o checklist utilizado para avaliação das habilidades dos profissionais foi desenvolvido especificamente para a temática e envolveu todo o processo de admissão de um paciente no hospital. Apesar de os estudos destacarem treinamentos específicos para os profissionais, as habilidades requeridas na admissão de pacientes exigem da enfermagem padrões universais relacionados à observação, à escuta, à avaliação, à monitorização, à orientação e à segurança.13^,20

Investigação21 conduzida na China, com 71 profissionais de enfermagem, adotou a modalidade à distância para conteúdo teórico e a simulação presencial para prática, avaliação de sinais e sintomas da covid-19, controle de infecção hospitalar e suporte psicológico para profissionais. Para avaliação, utilizou-se pré e pós-teste, sendo verificado aprimoramento do conhecimento sobre o conteúdo teórico da covid-19 nas habilidades operacionais e suporte psicológico (p < 0,001).

Outro estudo22, realizado na Arábia Saudita, com 337 profissionais de saúde, também forneceu o conteúdo teórico a distância e avaliou via simulação as habilidades de triagem e controle de infeção. Houve uma taxa de conformidade igual de 92% em habilidades de utilização de EPIs, de 82% no reconhecimento de sinais e sintomas da covid-19 e de 88% na implementação das recomendações diante de um paciente infectado. Na etapa de debriefing, 94% dos participantes relataram satisfação ou muita satisfação com o treinamento.

Na presente investigação, foi possível identificar problemas potenciais para admissão dos pacientes e para segurança profissional, como deficiência na paramentação, na identificação de alterações clínicas, no descarte de materiais infectantes e na higienização das mãos. Os problemas potenciais foram discutidos no debriefing, a partir da apresentação das falhas e dos possíveis desfechos à segurança do paciente e do profissional, seguida de estratégias para prevenção das deficiências operacionais do protocolo.

Pesquisa23 realizada em um serviço de emergência, com equipe multiprofissional, avaliou por simulação as habilidades básicas e avançadas para estabelecimento de vias aéreas em pacientes infectados com covid-19. Apesar de a maioria dos profissionais realizar os procedimentos corretamente, cerca de 21% não seguiram a sequência e o procedimento corretos para utilização dos equipamentos de proteção individual e higienização das mãos.

Outro estudo,24 realizado em um hospital em Beirute, descreveu a realização ampla de treinamento multiprofissional in situ para atendimento inicial a pacientes com covid-19, em variadas unidades da instituição, totalizando 22 simulações diversificadas. Os autores destacaram a simulação como ferramenta essencial para solucionar problemas e ameaças latentes de segurança no atendimento.

Os participantes da presente investigação, ao responderem à Escala de Satisfação de Estudantes e Autoconfiança com a Aprendizagem, apresentaram média global de 4,46 pontos em 5. Essa pontuação representa o grau de satisfação do profissional em relação à sua aprendizagem sobre a admissão de um paciente com covid-19 e à sua autoconfiança com o desempenho no cenário simulado. Já em relação ao debriefing, mensurado pela escala de Experiência com o Debriefing, a média global foi de 4,63 pontos em 5. O resultado retrata a avaliação do profissional sobre a reflexão e a análise das habilidades requeridas e as empregadas no cenário, em sua totalidade, parcialmente ou não empregadas.

Esses dados são compatíveis com a literatura, que tem apresentado pontuação média global variando entre 3,9 e 4,5 para satisfação e autoconfiança com a aprendizagem.25^-27 Por outro lado, estudos experimentais têm retratado pontuações médias menores para o grupo controle, em que a abordagem se limitou ao ensino tradicional expositivo.26^-27

Em relação à experiência com o debriefing na simulação, estudos têm descrito pontuação média global variando entre 3,7 e 4,2 pontos.28^-30 Essas pontuações estão abaixo da média global identificada no debriefing de admissão do paciente com covid-19.

Identificaram-se, para as duas escalas, pontuações médias superiores entre os profissionais que se valiam de protocolos e artigos científicos para atualização sobre a covid-19. Considerando que o conteúdo do cenário simulado se baseou em evidências científicas, infere-se que os profissionais habituados a acessar conteúdo científico tenham encontrado maior facilidade e coerência na atividade.

Cabe destacar que, desde o início da pandemia, têm se produzido informações em excesso, por meio de veículos nem sempre confiáveis, sobre diagnóstico, tratamento, prevenção, origem e propagação do novo coronavírus. Essa produção excessiva de informação tem sido reportada como uma infodemia ou epidemia de informação.31^-32

Pesquisa33 avaliou, entre janeiro e abril de 2020, um total de 1.225 notícias falsas sobre a covid-19, publicadas em inglês. Constatou-se que 50,5% eram difundidas em mídias sociais, como Facebook, Instagram e WhatsApp, e outras 49,5%, por múltiplas fontes, como pessoas desconhecidas, autoridades governamentais, sites e tabloides.

Na presente investigação, verificou-se que há profissionais que se atualizam por meio de redes sociais, apesar de não serem maioria. Portanto, o consumo de informação por esses veículos, sem a devida verificação de conteúdo e veracidade, pode representar riscos à atuação profissional e à saúde individual e coletiva.

Como limitação do estudo, considera-se a utilização de uma amostragem não probabilística, o que dificulta a generalização dos resultados à população do estudo. Além disso, o envio do material teórico por correio eletrônico pode implicar heterogeneidade de acesso e estudo do conteúdo. A disponibilização de material teórico em plataforma ou ambiente virtual pode mediar a discussão e enriquecer a apropriação do conhecimento.

Não obstante, o estudo contribui para área de educação e prática clínica de enfermagem, apresenta possibilidades de educação continuada a partir de cenários simulados, fortalecendo a segurança da assistência. Os achados deste estudo contribuem como informação útil para direcionar o delineamento de pesquisas futuras sobre a temática.

CONCLUSÃO

Por meio de um cenário simulado, o estudo buscou avaliar as habilidades, a satisfação e a autoconfiança e a experiência com debriefing de profissionais de enfermagem na admissão hospitalar de pacientes com covid-19. Nesse sentido, os resultados refletem que a maioria dos profissionais demonstrou habilidades necessárias à admissão de um paciente com covid-19, além de satisfação em relação à aprendizagem, autoconfiança com o desempenho no cenário simulado e adequada experiência com o debriefing.

A simulação permitiu identificar problemas potenciais, como deficiência na paramentação, na identificação de alterações clínicas, no descarte de materiais infectantes e na higienização das mãos, sendo essas ameaças latentes discutidas no debriefing.

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NOTAS

• AGRADECIMENTO

  Agradecemos à Universidade Federal de Juiz de Fora pelo apoio financeiro a esta pesquisa.

• APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

  Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, parecer n. 4.081.880, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 33050320.4.0000.5133.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Maio 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  06 Nov 2020
• Aceito
  12 Jan 2021