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MATÉRIA ESCURA DA METÁFORA: O QUE A METAFORICIDADE DIZ A RESPEITO DA MENTE

Dark Matter of Metaphor: What Metaphoricity Reveals about the Mind

Materia oscura de la mente: lo que la metaforicidad revela sobre la mente

Resumo

Em sentido lato, este trabalho explora a possibilidade do processamento consciente de metáforas. Especificamente, ele tem o objetivo de investigar em quais circunstâncias expressões metafóricas usadas no discurso podem ser desautomatizadas (Kyratzis, 2003) ‒ ou seja, podem ser reconhecidas como sendo metáforas ‒, bem como quais elementos (do discurso) seriam responsáveis por essa desautomatização. Lançando mão dos conceitos de metáfora conceptual (Lakoff; Johnson, 2002 [1980]) e de metaforicidade (Müller, 2008), este trabalho identifica e analisa a coocorrência e o funcionamento de recursos de metaforicidade (Müller, 2008) em exemplos concretos de uso de metáforas, no esforço de compreender e de explicar como esse uso poderia ser posto à luz da nossa consciência. Esta discussão mostra, em última análise, que diferentes elementos cotextuais ‒ tais como advérbios e conjunções particulares, além de imagens ‒ seriam capazes de viabilizar o reconhecimento de expressões metafóricas como sendo metáforas no discurso.

Palavras-chave:
Metacognição; Desautomatização; Metáfora; Metaforicidade

Abstract

Broadly speaking, this paper engages with research on the possibility of conscious metaphor processing. In particular, it aims to look into the events in which linguistic metaphors being used in discourse could be deautomatized (Kyratzis, 2003) ‒ i.e., in which they could be recognized as metaphors ‒, as well as to look into discursive components which would be able to afford such a deautomatization. Based on the notions of conceptual metaphor (Lakoff; Johnson, 2002 [1980]) and metaphoricity (Müller, 2008), this paper proceeds with identification and analysis of both the occurrence of activation devices of metaphoricity and their effects upon metaphor use, in an attempt to account for how such use could become directly accessible to introspective consciousness. Outcomes from this investigation suggest that some co-occurring textual elements, such as certain adverbs, conjunctions, and images, would be able to afford the recognition of linguistic metaphors as such in discourse.

Keywords:
Metacognition; Deautomatization; Metaphor; Metaphoricity

Resumen

En un sentido amplio, este trabajo explora la posibilidad del procesamiento consciente de metáforas. Específicamente, busca investigar bajo qué circunstancias las expresiones metafóricas utilizadas en el discurso pueden ser desautomatizadas (Kyratzis, 2003) ‒ es decir, pueden ser reconocidas como siendo metáforas ‒, así como qué elementos (del discurso) serían responsables de esta desautomatización. Utilizando los conceptos de metáfora conceptual (Lakoff; Johnson, 2002 [1980]) y de metaforicidad (Müller, 2008), este trabajo identifica y analiza la coocurrencia y el funcionamiento de recursos de metaforicidad (Müller, 2008) en ejemplos concretos de metáforas de uso, en un esfuerzo por comprender y explicar cómo este uso puede se quedar directamente accesible a la consciencia introspectiva. Esta discusión muestra que diferentes elementos co-textuales, como adverbios y conjunciones particulares, así como imágenes, pueden posibilitar el reconocimiento de expresiones metafóricas como metáforas en efecto en el discurso.

Palabras clave:
Metacognición; Desautomatización; Metáfora; Metaforicidad

1 INTRODUÇÃO

A maioria das coisas que pensamos e fazemos ocorre de maneira automática e inconsciente. Quando conversamos ou caminhamos, por exemplo, são raros os momentos em que precisamos prestar atenção particular à estrutura de palavras e frases que usamos ou aos movimentos de nossas pernas e pés. Isso ocorre porque a atenção geralmente se volta para outra coisas como contar uma novidade ou atravessar a rua. Para Everett (2016EVERETT, D. Dark Matter of the Mind: The Culturally Articulated Unconscious. Chicago: University of Chicago Press, 2016.), a maior parte de nossos conhecimentos está tão internalizada e convencionalizada em nossa estrutura cognitiva, que é completamente invisível para nós ‒ e alguns seriam, até mesmo, verbalmente inexprimíveis. Para constatar isso, basta tentar colocar em palavras o que exatamente a nossa mente faz para que possamos falar ou caminhar. Ao conjunto desses conhecimentos (tácitos), Everett (2016, p. xi) chama de “matéria escura da mente”1 1 Segundo Everett (2016), a sua escolha pelo termo “matéria escura” remete ao conceito de matéria escura da astronomia, que se refere à porção de matéria do universo que não é conhecida, somente inferida. [dark matter of the mind], na medida em que, em princípio, corresponde a conhecimentos sobre os quais não temos qualquer consciência imediata.

Já outra parte da nossa mente ‒ uma parte muito pequena, conforme Everett (2016EVERETT, D. Dark Matter of the Mind: The Culturally Articulated Unconscious. Chicago: University of Chicago Press, 2016.) ‒ corresponde a conhecimentos que, por algum motivo e em alguma medida, acabam sendo colocados à luz da nossa consciência. Quando tentamos aprender uma língua nova ou andar de bicicleta, por exemplo, precisamos focar nossa atenção consciente sobre a estrutura das palavras e frases que usamos ou sobre os movimentos que nossos corpos precisam executar. Às circunstâncias nas quais tomamos consciência ‒ acidental ou intencionalmente ‒ sobre algo que estamos pensando ou fazendo, Flavell (1979FLAVELL, J. Metacognition and Cognitive Monitoring: A New Area of Cognitive-Model Inquiry. American Psychologist, v. 34, n. 10, p. 906-911, 1979., p. 908) dá o nome de “experiências metacognitivas” [metacognitive experiences]. Em termos mais técnicos, esse tipo de experiência supõe algo como uma cognição sobre a nossa própria cognição (ou, ainda, um pensamento sobre o nosso próprio pensamento).

Algo que deve estar claro a partir desse raciocínio é que o nosso conhecimento linguístico também é composto tanto por coisas que habitam a matéria escura da mente2 2 Lakoff e Johnson (2002 [1980]) antecipam algo da ideia de matéria escura da mente, tal como proposta por Everett (2016), ao introduzirem o conceito de “sistema conceptual ordinário” (p. 235). quanto por experiências metacognitivas. Na maioria das vezes em que falamos, ouvimos ou lemos algo em um idioma que dominamos ‒ este texto, por exemplo ‒, não precisamos prestar qualquer atenção particular aos conhecimentos que temos sobre a estrutura e o funcionamento desse idioma. A razão que Langacker (2013LANGACKER, R. Essentials of Cognitive Grammar. Oxford: Oxford University Press, 2013., p. 85) fornece para isso é que, durante o uso espontâneo da linguagem, o “foco da nossa atenção recai sobre o que está sendo dito; não sobre os mecanismos por trás”3 3 [In normal, unreflective language use, our primary interest lies in what is being said, not the underlying mechanisms]. da nossa capacidade de expressá-lo. Em analogia às explicações de Everett (2016EVERETT, D. Dark Matter of the Mind: The Culturally Articulated Unconscious. Chicago: University of Chicago Press, 2016.), poderíamos denominar esse conjunto de conhecimentos linguísticos (tácitos) de matéria escura da linguagem.

Contudo, há circunstâncias ‒ bastante particulares, em verdade ‒ em que algo no uso que fazemos da linguagem chama a nossa atenção consciente para o que sabemos sobre sua estrutura e seu funcionamento. Este trabalho trata dessas circunstâncias. O objetivo que esta discussão assume é o de investigar eventos metacognitivos que podem atravessar o uso espontâneo da linguagem por alguma razão. Especificamente, o estudo busca identificar e analisar mecanismos por trás da possibilidade do uso consciente de um fenômeno particular, a metáfora. Para tanto, este trabalho oferece uma breve introdução sobre como eventos metacognitivos podem ocorrer durante os usos (espontâneos) da linguagem. Em seguida, com base em muito do que dizem Lakoff e Johnson (2002LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Coordenação de tradução: Mara Sofia de Toledo Zanotto. Campinas: Mercado de Letras, 2002. [1980]) a respeito desse fenômeno discute certos tipos de metáfora que, em princípio, usamos de maneira automática e inconsciente. Ao final, o texto explora a possibilidade de reconhecer essas metáforas como tais ‒ ou seja, investiga os usos de metáfora que podem desencadear experiências metacognitivas ‒, a partir, sobretudo, das considerações sobre o conceito de metaforicidade em Müller (2008MÜLLER, C. Metaphors Dead and Alive, Sleeping and Waking: A Dynamic View. Chicago: The University of Chicago Press, 2008.).

2 EVENTOS METACOGNITIVOS NO USO DA LINGUAGEM

Já foi mencionado aqui que nosso conhecimento linguístico é composto tanto por matéria escura quanto por eventos metacognitivos. Por exemplo, não precisamos prestar qualquer atenção especial à posição que a nossa língua precisa ocupar ou ao formato que a nossa boca precisa assumir para emitir os sons da fala. Isso ocorre porque os aspectos fonéticos do nosso uso da linguagem ‒ tais como ponto e modo de articulação ou grau de vozeamento ‒ constituem conhecimentos tácitos, que, em princípio, processamos e executamos de maneira automática e inconsciente.

A respeito dos eventos metacognitivos relativos à linguagem, por outro lado, podemos dizer que eles acontecem quando esbarramos conscientemente sobre algo do nosso conhecimento relativo à estrutura e ao funcionamento da nossa própria língua. Nessas situações, os mecanismos responsáveis pelo processamento da linguagem ‒ quer em sua codificação4 4 Graham (2006) explica que o ato de escrever envolve estratégias metacognitivas bastante complexas ‒ e, sem dúvida, mais frequentes ‒ se comparados aos atos de ler e, sobretudo, de falar e de ouvir. quer em sua decodificação ‒ ficam, como explica Langacker (2013LANGACKER, R. Essentials of Cognitive Grammar. Oxford: Oxford University Press, 2013., p. 85), “diretamente acessíveis à [nossa] consciência introspectiva” [directly accessible to introspective awareness]. E isso pode acontecer em todos os níveis do processamento linguístico, desde o fonético e o fonológico até o sintático e o semântico. A título de esclarecimento, analisemos algumas dessas circunstâncias.

No nível fonológico, podem ser considerados exemplos de evento metacognitivo a criação e a identificação de padrões de sons na sequência da fala, tais como as rimas e aliterações que preenchem poemas e canções. Sabemos que os sons da nossa língua tendem a se manifestar de forma automática e inconsciente no ato da fala. Contudo, estudo de Roazzi e Dowker (2003ROAZZI, A.; DOWKER, A. Consciência fonológica, rima e aprendizagem de leitura. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 5, n. 1, p. 31-55, 2003.) revela que a manipulação de rimas e aliterações ‒ que consistem na repetição do mesmo som no final ou no meio de palavras, respectivamente ‒ exige uma atenção especial do falante5 5 Na arte repentista, por exemplo, são especialmente notáveis os esforços metacognitivos ‒ em nível fonológico ‒ envolvidos na improvisação de rimas, conforme mostram Roazzi e colegas (1991). (e do ouvinte) sobre a estrutura fonológica das palavras e sentenças. Dessa forma, o processamento dessas estruturas pode acabar ocorrendo à luz da nossa consciência6 6 O processamento consciente (da linguagem) desencadeado por rimas e aliterações tende a provocar um efeito mnemônico bastante singular. De fato, rimas e aliterações, dentre outros recursos de estilo, se prestam, além da ornamentação, à memorização dos textos (Moisés, 2013) ‒ o que as torna mecanismos essenciais para a conservação e a disseminação de produções intelectuais eminentemente orais. .

Outro exemplo de evento metacognitivo, agora em nível morfológico, se refere às ocasiões nas quais nos deparamos com uma palavra que não conhecemos durante a leitura de algum texto. Coscarelli (2002COSCARELLI, C. Entendendo a leitura. Revista de Estudos da Linguagem, v. 10, n. 1, p. 7-27, 2002.) argumenta que nossos esforços para tentar inferir o significado a partir, por exemplo, do que sabemos a respeito das partes que compõem uma palavra (tais como radical e afixos) orientam nossa atenção para algo de nossos conhecimentos sobre a estrutura e o funcionamento da linguagem ‒ tais como regras de combinação de morfemas. Eventos metacognitivos também podem ocorrer quando nos propomos a criar uma palavra nova a partir de elementos que já existem na língua que falamos ‒ o que, conforme explicam Paula e Leme (2017PAULA, F.; LEME, M. Produção de neologismo para avaliação da consciência morfológica no ensino fundamental. Boletim de Psicologia, v. 68, n. 146, p. 51-66, 2017.), implica o processamento de neologismos. Isso ocorre porque precisamos nos deter de modo consciente sobre o que sabemos a respeito das regras de combinação de morfemas para que essa palavra nova soe razoável na nossa língua.

Em nível sintático, casos bastante emblemáticos de eventos metacognitivos são aqueles que envolvem ambiguidades. Fora de contexto, uma sentença como “o policial viu o turista com o binóculo” (Maia, 2019MAIA, M. Processamento de frases e contexto discursivo. Alfa, v. 63, n. 3, p. 559-582, 2019.), tende a exigir um esforço particular de interpretação que, por vezes, sequer conseguimos fazer. Isso acontece porque algo nessa sentença (a informação sobre quem, de fato, estava portanto um binóculo) permite dois ou mais processamentos diferentes ‒ alguns deles comprometendo sua coerência. Na sentença “esposa suspeita de assassinato do marido foge” (Maia, 2019), por outro lado, a ambiguidade relativa ao adjetivo “suspeita” somente consegue ser resolvida ao final da leitura.

Inversões da ordem canônica de sintagmas e sentenças ‒ que, em estilística, incluem desde a anástrofe (mais sutil) até o hipérbato e a sínquise ‒ compõem outro fenômeno sintático capaz de desencadear eventos metacognitivos. De acordo com Rebello e colegas (2019REBELLO, B.; SANTOS, G.; ÁVILA, C.; KIDA, A. Efeito da simplificação sintática sobre a compreensão de leitura de crianças do ensino fundamental. Audiology, Communication Research, v. 24, p. 1-8, 2019.), o esforço para interpretar sentenças cujas palavras estão fora da sua ordem habitual exige atenção específica. A língua portuguesa, por exemplo, assume como canônica a ordem “SVO” (sujeito, verbo e objeto) das sentenças; e, nos nossos usos espontâneos da linguagem, somos capazes de reproduzi-la e interpretá-la sem quaisquer dificuldades. Entretanto, quando nos deparamos com uma sentença como “Ouviram do Ipiranga, às margens plácidas, de um povo heroico, o brado retumbante” ‒ que compõe a letra de Duque-Estrada (1922) para o hino nacional brasileiro ‒, precisamos nos debruçar conscientemente (às vezes, por mais tempo do que gostaríamos) sobre como processá-la de forma que faça algum sentido.

Assim como rimas e aliterações, anástrofes e hipérbatos são bastante comuns no discurso literário ‒ sobretudo, em poemas ‒, como consta no glossário de Moisés (2013MOISÉS, M. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2013.). É por essa razão, a propósito, que muitos pesquisadores, como Lizarraga e Baquedano (2013LIZARRAGA, M. L.; BAQUEDANO, M. T. How Creative Potential is Related to Metacognition. European Journal of Education and Psychology, v. 6, n. 2, p. 69-81, 2013.), associam fortemente criatividade com eventos metacognitivos (ou, ainda, estratégias metacognitivas). De fato, os tipos de eventos metacognitivos proporcionados pelo discurso literário ‒ como os que envolvem rimas, aliterações e inversões, por exemplo ‒ são o tema central de um estudo de Mukařovský (2014MUKAŘOVSKÝ, J. Standard Language and Poetic Language. In: CHOVANEC, J. (Org.). Chapters from the History of Czech Functional Linguistics. Bruno: Universidade de Masaryk, 2014, p. 41-53. [1932]) sobre a linguagem poética. De acordo com esse estudo, algo que serve para distinguir a linguagem poética da linguagem vernacular seria a colocação dessa linguagem “em primeiro plano” [foregrounding] (p. 44). Colocar a linguagem em primeiro plano, nesse caso, significa violar padrões linguísticos convencionalizados para promover, justamente, a “desautomatização” [deautomatization] (loc. cit.) do seu processamento. Em outras formas, podemos caracterizar a literatura pela maneira como ela explora eventos metacognitivos através da desautomatização da linguagem. Não é à toa que Jakobson (1995JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. Tradução: Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1995. [1960], p. 128) atribui a essa desautomatização a “função poética” da linguagem.

De todo modo, os eventos metacognitivos de que esta discussão se ocupa dizem respeito ao processamento semântico. Especificamente, eles se referem a um tipo de mapeamento mental implicado na produção e na interpretação de metáforas. Antes de discutirmos os eventos de uso consciente dessas expressões, contudo, é importante falar das metáforas usadas de maneira automática e inconsciente em nosso cotidiano.

3 A MATÉRIA ESCURA DA METÁFORA

Uma das constatações mais paradigmáticas de Lakoff e Johnson (2002LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Coordenação de tradução: Mara Sofia de Toledo Zanotto. Campinas: Mercado de Letras, 2002. [1980]) a respeito das metáforas é a de que elas estariam “infiltrada[s] na nossa vida cotidiana, não somente na linguagem, mas também no pensamento e na ação” (p. 45, grifos nossos). Nas bases dessa constatação, está a tese dos autores (2002 [1980]) de que esse fenômeno tradicionalmente visto como um artifício retórico ou poético (isto é, como uma figura de linguagem) constitui um mecanismo fundamental da nossa mente que dificilmente conseguimos evitar. Eles explicam (2002 [1980], p. 47-48) que “a essência da metáfora é compreender e experienciar uma coisa em termos de outra” e que esse modo de compreensão seria materializado na linguagem. Isso significa dizer que a razão para falar metaforicamente deriva do fato de pensarmos metaforicamente. Lakoff e Johnson (2002 [1980]) argumentam que isso acontece com mais frequência do que imaginamos e de maneiras de que sequer nos damos conta.

Na estrutura mental de uma metáfora, nos moldes dessa abordagem ‒ que Lakoff (1993LAKOFF, G. The Contemporary Theory of Metaphor. In: ORTONY, A. (Ed.) Metaphor and Thought. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. p. 202-251., p. 43) chamou de “teoria conceptual da metáfora” [conceptual theory of metaphor] mais tarde ‒, os conhecimentos sobre alguma coisa em geral mais concreta são projetados (ou mapeados) para os conhecimentos sobre outra coisa em geral mais abstrata, ajudando a estruturar parte desses conhecimentos. A título de ilustração, analisemos as sentenças (1-3) retiradas de manchetes de portais de notícias. Elas contêm metáforas (aliás, bastante convencionalizadas e, por isso mesmo, difíceis de serem reconhecidas como tais) que nos ajudam a entender de que maneira a linguagem humana parece funcionar.

  • (1) Diretora de escola de SC leva7 7 Este trabalho atende a uma convenção dos estudos da teoria conceptual da metáfora de marcar com sublinhado as expressões que atualizam metáforas conceptuais. livros, comida e palavras de incentivo a alunos durante pandemia. (G1, 23 maio 2020)

  • (2) Quarentena tem nos mostrado o significado de trabalhar. (Estado de Minas, 10 maio 2020)

  • (3) Com palavras duras, Masvidal se manifesta sobre saída de Covington da ATT. (Super Lutas, 28 maio 2020).

Segundo o raciocínio que sustenta as expressões metafóricas em (1-3), ideias e significados mentais são conceptualizados (isto é, experienciados e entendidos) em termos de objetos, ou seja, de entidades concretas. Isso significa que conhecimentos sobre objetos concretos são projetados para a forma como compreendemos ideias abstratas. Essas ideias são metaforicamente colocadas dentro de palavras e sentenças, que são entendidas, nesse caso, como recipientes. Por fim, essas palavras e sentenças são metaforicamente enviadas para o nosso interlocutor, que deve desembrulhar o seu conteúdo para interpretá-las. Reddy (2000REDDY, M. A metáfora do conduto: um caso de conflito de enquadramento na nossa linguagem sobre a linguagem. Tradução: Ilesca Holsbach, Fabiano Gonçalves, Marcela Migliavacca e Pedro Garcez. Cadernos de Tradução, n. 9, p. 9-54, 2000. [1979], p. 9) verificou que esse modo de entendermos a linguagem ‒ e que ele chamou de “metáfora do conduto” ‒ é bastante comum nas nossas conversas do dia a dia e, portanto, consiste em um conhecimento fortemente internalizado e convencionalizado na nossa mente.

De fato, há cada vez mais estudos que atestam não somente a abundância e a ubiquidade, mas, principalmente, a importância das metáforas na nossa vida cotidiana. Os estudos de Vereza (2012VEREZA, S. Sob a ótica da metáfora: tempo, conhecimento e guerra. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2012.), de Malta (2016MALTA, F. A construção metafórica da mulher nas capas do Meia Hora. 2016. 234 f. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem). Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016.), de Silva (2016SILVA, L. O macaco, a banana e o preconceito racial: um estudo da metáfora no discurso. 2016. 101 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem). Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016.), de Mattos (2018MATTOS, M. A metáfora do canal no contexto da comunicação digital: uma questão de reenquadramento? 2018. 100 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem). Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2018.), de Rocha (2018ROCHA, R. A linguagem bélica no futebol, suas manifestações e suas implicações dentro e fora dos campos. 2018. 130 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem). Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2018.) e de Costa Júnior (2019), por exemplo, mostram que esse fenômeno está amplamente presente e produz efeitos cruciais desde domínios discursivos mais prosaicos ‒ como em discussões em plataformas de redes sociais na internet ‒ até aqueles mais técnicos e criativos, como nas ciências, no jornalismo e na publicidade.

Contudo, algo que Lakoff e Johnson (2002LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Coordenação de tradução: Mara Sofia de Toledo Zanotto. Campinas: Mercado de Letras, 2002. [1980]) argumentam ‒ e que interessa de maneira especial para esta discussão ‒ é que a maioria das metáforas que usamos (e que estão refletidas na linguagem do dia a dia) já está tão convencionalizada na estrutura cognitiva mais elementar ‒ ou “sistema conceptual ordinário” (p. 235) ‒ , que sequer temos acesso consciente a elas. Em função de sua internalização e convencionalização, as metáforas cotidianas ocorrem de forma automática e inconsciente e, por isso mesmo, dificilmente conseguimos contorná-las e mesmo percebê-las. Para verificar isso, basta tentar explicar como funciona a linguagem humana sem recorrer a palavras relativas à metáfora do conduto, tais como “transmitir”, “enviar” e “conteúdo”. Justo porque não temos acesso consciente a essas estruturas, elas compõem a matéria escura da metáfora.

A despeito disso, há circunstâncias em que o uso de alguma metáfora ‒ que seria automático e inconsciente em princípio ‒ acaba chamando a atenção para seu processamento. Passamos a explorar essas circunstâncias a seguir.

4 EVENTOS METACOGNITIVOS COM METÁFORAS

No final de abril de 2019, o então vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (2016‒2020) fez uma declaração na sua conta pessoal no Twitter (Twitter, Inc.) que desencadeou reações bastante curiosas de seus seguidores nas redes sociais (Figura 1).

Figura 1
‒ Postagem feita por Carlos Bolsonaro no Twitter (informação verbal8 8 Postagem feita no Twitter em 29 de abril de 2019. Disponível em: https://twitter.com/CarlosBolsonaro/ status/1122947402988703749. Acesso em: 28 abr. 2020. )

Algo que acabou chamando a atenção dos usuários do Twitter nessa declaração foi o uso ‒ supostamente equivocado ‒ que Carlos Bolsonaro fez do advérbio “literalmente”. Isso se dá porque uma pessoa que tenha se matado literalmente, como ele afirma na postagem, deveria estar morta (e, desse modo, não poderia fazer qualquer declaração na internet). No entanto, o vereador não somente não morreu como continuou respondendo aos comentários que eram feitos à sua postagem. Algo que precisa ser observado, a respeito dessa declaração, é que ela parece ter colocado à luz da consciência dos seus leitores a sua incongruência semântica ‒ isto é, o significado da expressão “literalmente me matado” é incompatível com o fato do seu enunciador continuar vivo. Em outras palavras, podemos dizer que no curso do seu processamento algo nessa declaração desencadeou um evento semântico metacognitivo, deixando parte do seu significado acessível à consciência (introspectiva) de seus leitores.

Uma análise mais disciplinada da declaração de Carlos Bolsonaro poderia identificar o uso de “se matado” como atualização de uma metáfora conceptual que mapeia (ou projeta) os nossos conhecimentos sobre o sacrifício da própria vida (isto é, sobre morte) para aquilo que entendemos a respeito da dedicação ou do esforço para alcançar um objetivo. Quanto ao advérbio “literalmente” no meio da declaração, Vereza (2007VEREZA, S. Literalmente falando: sentido literal e metáfora na metalinguagem. Niterói: Eduff, 2007.) argumenta que ele estaria desempenhando uma função hiperbólica; ou seja, da forma como está sendo usado na sentença, antes de constituir um equívoco, esse advérbio teve o seu sentido intensificado. Esse uso contraria o significado mais canônico do advérbio ‒ algo como “sentido próprio” ou “ao pé da letra” ‒, o que acabou chamando a atenção para algo da estrutura semântica (isto é, para a metáfora) por trás da expressão “me matado”.

A respeito disso, Steen (2014STEEN, G. Deliberate Metaphor Affords Conscious Metaphorical Cognition. Cognitive Semiotics, v. 5, n. 2, p. 179-197, 2014.) sugere que, quando o uso de uma metáfora chama a nossa atenção para sua condição metafórica ‒ isto é, quando coloca algo da sua estrutura semântica à luz da nossa consciência ‒, esse uso corresponde a uma “metáfora deliberada” [deliberate metaphor] (p. 180). Para ele (2014), uma metáfora deliberada acontece quando seu uso convida ou, até mesmo, orienta o falante a atentar para o fato de que há um mapeamento metafórico por trás do que está sendo dito. Em síntese, metáforas deliberadas resultariam de um convite para um evento metacognitivo envolvendo alguma expressão metafórica. Na declaração de Carlos Bolsonaro, o convite para o evento metacognitivo envolvendo a expressão “me matado” entraria justamente na conta do uso que ele faz do advérbio “literalmente”.

Embora ofereça alguma explicação para um eventual processamento consciente dos significados mobilizados por certas metáforas, a proposta de Steen (2014STEEN, G. Deliberate Metaphor Affords Conscious Metaphorical Cognition. Cognitive Semiotics, v. 5, n. 2, p. 179-197, 2014.) sobre metáforas deliberadas é, todavia, bastante controversa. A avaliação que Gibbs (2011GIBBS, R. Are ‘Deliberate’ Metaphors Really Deliberate? A Question of Human Consciousness and Action. Metaphors and the Social World, v. 1, n. 1, p. 26-52, 2011.) faz dessa proposta contesta os significados que o próprio conceito de “deliberado” pode evocar. Uma vez que denotaria algum arbítrio ‒ o dicionário Aulete Digital (2021) inclui as acepções “que foi decidido” ou “feito de propósito” na sua definição ‒, o termo “deliberado” acaba insinuando certa intencionalidade para o uso da metáfora de um lado e, de outro, para a criação de ‒ e um convite para ‒ um evento metacognitivo a partir dela. Entretanto, conforme Lakoff e Johnson (2002LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Coordenação de tradução: Mara Sofia de Toledo Zanotto. Campinas: Mercado de Letras, 2002. [1980]), isso raramente acontece. Sobre a declaração de Carlos Bolsonaro, ninguém perguntou se ele realmente tinha a intenção de produzir uma metáfora ou se ele pretendia chamar a atenção dos seus seguidores para ela. Na verdade, sequer sabemos ‒ a não ser que lhe perguntássemos ‒ se ele tinha consciência de que estava usando uma expressão metafórica.

Outra tentativa de explicar eventos metacognitivos envolvendo metáforas, a despeito de qualquer intenção consciente, aparece em um estudo de Kyratzis (2003KYRATZIS, S. Laughing Metaphorically: Metaphor and Humour in Discourse. In: INTERNATIONAL COGNITIVE LINGUISTICS CONFERENCE, 8., 2003, La Rioja. Anais... La Rioja: Universidad de Logroño, 2003. p. 1-19.) sobre o papel desse fenômeno em piadas. A título de ilustração, consideremos o aforismo atribuído à escritora Tatiana Bernardi (informação pessoal9 9 Sentença creditada à escritora Tatiana Bernardi pelo portal de frases e pensamentos Pensador. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MTQ0ODc5Nw/. Acesso em: 25 jan. 2021. ) em (4).

(4) Se quer dar o seu coração a alguém, faça o cadastro como doador de órgãos, compensa mais.

A expressão “dar o seu coração” nessa sentença está ancorada no nosso entendimento (metafórico) ‒ já descrito, aliás, por Lakoff e Johnson (2002LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Coordenação de tradução: Mara Sofia de Toledo Zanotto. Campinas: Mercado de Letras, 2002. [1980], p. 76) ‒ de emoções como entidades físicas que podemos quantificar, segurar, armazenar (em algum recipiente) ou entregar a outra pessoa. Além dessa metáfora, também compõe a estrutura semântica dessa expressão o mapeamento metonímico que conceptualiza o sentimento do amor em termos do nosso coração ‒ que é, de fato, um objeto concreto. De todo modo, algo que podemos alegar de modo geral a respeito da expressão “dar o coração” é que ela é bastante convencionalizada em língua portuguesa para conceptualizar o ato de amar alguém. Uma pesquisa simples no serviço de busca Google Search (Google, Inc.10 10 Disponível em: https://www.google.com/. Acesso em: 25 jan. 2021. ), por exemplo, identifica mais de 2,5 milhões de ocorrências dessa expressão na internet. Por essa razão, poderíamos supor que, em princípio, ela não deveria chamar qualquer atenção consciente, ou melhor, seu uso espontâneo dificilmente desencadearia um evento metacognitivo.

No entanto, há razões para suspeitar que esse não seria o caso do uso de “dar o seu coração” na sentença (4). A ocorrência do sintagma “doador de órgãos” na segunda oração que compõe essa sentença teria a capacidade de trazer à luz da nossa consciência algo da estrutura semântica por trás da expressão “dar o seu coração”. Ele serve, nesse caso, para evidenciar que o substantivo “coração” na oração anterior serviria para conceptualizar, além do sentimento do amor (aqui, metaforicamente), o próprio órgão cardíaco (literal) ‒ cuja entrega, segundo a escritora, traria menos prejuízos (apesar de que, para isso, seria necessário morrer).

O uso do sintagma “doador de órgãos” em (4), de acordo com explicações de Kyratzis (2003KYRATZIS, S. Laughing Metaphorically: Metaphor and Humour in Discourse. In: INTERNATIONAL COGNITIVE LINGUISTICS CONFERENCE, 8., 2003, La Rioja. Anais... La Rioja: Universidad de Logroño, 2003. p. 1-19., p. 11), constitui uma estratégia verbal ‒ ao que parece, para efeitos de humor ‒ que se presta à “desautomatização” [deautomatization] do processamento da metáfora que sustenta a expressão “dar o seu coração” no início da sentença e cuja interpretação deveria acontecer de maneira inconsciente em princípio. Ao desautomatizarem o uso de uma expressão metafórica (geralmente muito convencionalizada), estratégias do tipo do sintagma “doador de órgãos” permitem que o processamento daquela expressão fique, conforme as palavras de Langacker (2013LANGACKER, R. Essentials of Cognitive Grammar. Oxford: Oxford University Press, 2013.), diretamente acessível à consciência introspectiva. Em outras palavras, o que essas estratégias fazem é aumentar as chances de uma expressão metafórica ser justamente reconhecida (pelo falante) como uma metáfora.

Dienstbach (2017DIENSTBACH, D. Metaforicidade: um aspecto do gênero. Fórum Linguístico, v. 14, n. 1, p. 1767-1778, 2017., p. 1769) traduz essa possibilidade de reconhecer uma expressão metafórica como tal (isto é, como sendo uma metáfora) no conceito de “metaforicidade”. Dessa forma, entendemos que, quanto mais acessível ao processamento consciente ficar a estrutura semântica de uma expressão metafórica ‒ como, por exemplo, a expressão “dar o seu coração” em (4) ‒, maiores serão as chances de ela ser reconhecida como uma metáfora; e, em última análise, maior será a sua metaforicidade. Para tratar das estratégias que podem desencadear esse reconhecimento ‒ tais como o sintagma “doador de órgãos” ‒, Müller (2008MÜLLER, C. Metaphors Dead and Alive, Sleeping and Waking: A Dynamic View. Chicago: The University of Chicago Press, 2008., p. 190) propõe o conceito de “recurso de ativação” [activation devices] da metaforicidade. A escolha por tratar tais estratégias como “recursos” visa a isentar o uso desses elementos de uma eventual intencionalidade do falante (ou autor). Ou seja, se a ocorrência desses recursos é deliberada ou acidental, isso é menos importante do que o fato de eles serem capazes de desencadear um evento metacognitivo a partir das respectivas expressões metafóricas.

Já temos conhecimento de pelo menos dois mecanismos que concorrem como recursos de metaforicidade, isto é, elementos que podem desautomatizar uma metáfora e viabilizar o seu processamento consciente. O primeiro deles é o uso do advérbio “literalmente” ‒ e de outras palavras como “verdadeiramente” ou “ao pé da letra” ‒ ao lado de alguma expressão metafórica. Além da declaração de Carlos Bolsonaro no Twitter (figura 1), que analisamos anteriormente, podemos mencionar, a título de ilustração, as declarações repertoriadas por uma reportagem (Capanema, 2015CAPANEMA, R. 15 pessoas que literalmente não sabem usar a palavra “literalmente”. BuzzFeed, Nova York, 11 ago. 2015. Disponível em: https://buzzfeed.com.br/post/15-pessoas-que-literalmente-nao-sabem-usar-a-palavra-literalmente. Acesso em: 7 mar. 2021.
https://buzzfeed.com.br/post/15-pessoas-...
) em um portal de notícias e reproduzidas na figura 2, a seguir.

Figura 2
‒ Usos de “literalmente” como recurso de metaforicidade

Funcionando como um recurso de metaforicidade, o uso do advérbio “literalmente” tem o potencial de colocar à luz da consciência a estrutura semântica que sustenta as respectivas expressões metafóricas. Enquanto a expressão “dar meu sangue” conceptualiza algo como “se dedicar ao máximo”, “pendurar as chuteiras” conceptualiza a ideia de “se aposentar”. Embora o uso metafórico dessas expressões seja tão convencionalizado a ponto de sequer serem reconhecidas como metáforas, algo que a coocorrência de “literalmente” faz é evidenciar que elas também podem significar outra coisa: respectivamente, doar o fluido do nosso sistema circulatório e suspender um par de sapatos em um gancho ou um prego.

Um segundo recurso de metaforicidade com que já nos deparamos aqui diz respeito às expressões que acompanham uma metáfora e que fazem referência formal a algo da sua estrutura semântica. É o caso do sintagma “doador de órgãos” usado logo após a expressão metafórica “dar o coração” em (4). Outro exemplo dessa estratégia aparece na sentença em (5) reproduzida abaixo.

(5) Diretora de escola de SC leva livros, comida e palavras de incentivo a alunos durante pandemia (G1, 23 maio 2020).

Em algum ponto ao longo da sentença, o uso do verbo “levar” serve para instanciar o nosso entendimento metafórico de palavras em termos de objetos físicos (que, nesse caso, podem ser carregados até onde os alunos estão). Visto que é bastante convencional em língua portuguesa, esse entendimento permite que esse verbo seja usado dessa forma sem gerar qualquer estranhamento. No entanto, a coocorrência de outros objetos (literalmente físicos) ‒ isto é, “livros” e “comida” ‒ no mesmo complemento evidencia a incongruência semântica do verbo “levar”, que significaria simultaneamente “transportar coisas de um lugar ao outro” e “proferir mensagens de incentivo aos alunos”.

Também podem constituir recursos de metaforicidade determinados usos de conjunções de comparação, como “que nem”, “tal qual”, “como” e “igual a”. Em uma discussão sobre a ativação do pensamento metafórico consciente, Steen (2014STEEN, G. Deliberate Metaphor Affords Conscious Metaphorical Cognition. Cognitive Semiotics, v. 5, n. 2, p. 179-197, 2014.) sugere que sentenças comparativas também implicariam a elaboração mental de mapeamentos entre determinados conhecimentos ‒ tal como as projeções semânticas que sustentam uma metáfora. Uma diferença dessas sentenças, no entanto, é que o mapeamento por trás das suas metáforas é formalmente marcado por uma conjunção. Dado que esse mapeamento é diretamente explicitado na sentença ‒ e, por causa disso, acaba ficando acessível à nossa consciência introspectiva ‒, Steen (2014, p. 180) chama essas expressões de “metáforas diretas” [direct metaphor]. É esse tipo de metáfora que aparece nas sentenças (6-7), a seguir.

(6) Custos são como unhas, devemos cortá-los sempre (Anônimo).

(7) Homem é que nem lata, uma chuta e a outra cata (HOMEM É QUE…, 2008).

Além das conjunções de comparação, as sentenças (6-7) também recorrem à reelaboração da incongruência semântica por trás das suas metáforas através de glosas a respeito das respectivas comparações. Em (6), o entendimento de custo em termos de unhas fica mais acessível a um processamento lúcido, na medida em que o verbo “cortar” passa a apresentar dois significados na segunda metade da sentença: o de reduzir a frequência e a intensidade de um hábito (isto é, dos gastos) e o de aparar (literalmente) o tamanho de um objeto (nesse caso, das unhas). Já em (7), o mapeamento que conceptualiza homem como uma lata é colocado à luz da nossa consciência pelos verbos “chutar” e “catar”, que denotam, além das noções de “abandonar” e “acolher” uma pessoa, seus significados literais (ou básicos) de empurrar com pés e pegar com as mãos.

Por fim, podemos mencionar o impacto que imagens possuem no desencadeamento de eventos metacognitivos envolvendo expressões metafóricas ‒ ou seja, de que maneira imagens podem operar como recursos de metaforicidade. De fato, alguns gêneros textuais permitem explorar, além de linguagem verbal, recursos gráficos associados. Um exemplo emblemático desses gêneros é a capa de revista. De acordo com Dienstbach (2018DIENSTBACH, D. Por uma análise sistemática da metáfora no discurso. Linguagem em (Dis)curso, v. 18, n. 2, p. 287-306, 2018.), expressões metafóricas em capas de revista tendem a apresentar alta metaforicidade ‒ ou, ainda, grandes chances de serem reconhecidas como metáforas ‒ se estiverem acompanhadas de figuras que façam referência explícita à sua estrutura semântica. É o caso das capas na figura 3, a seguir.

Figura 3
‒ Capas das edições 2722 e 2717 da revista Veja

A expressão metafórica “vitória da vacina” em uma das capas atualiza o nosso entendimento da prevenção de uma doença como uma competição esportiva entre, de um lado, o vírus e, do outro, o imunizante. Na outra capa, a prevenção da doença é conceptualizada em termos de uma guerra contra o vírus, o que permite avaliar a descoberta de uma vacina como uma “conquista histórica”. Palavras como “vitória” e “conquista” ‒ pertinentes aos domínios discursivos de guerras e jogos ‒ também são usadas de modo bastante convencionalizado para falarmos sobre a cura (e a erradicação) de uma doença. Podemos supor, portanto, que elas são geralmente usadas de maneira automática e inconsciente. No entanto, além das expressões metafóricas, as capas se valem de imagens que fazem referência direta aos conhecimentos de esporte e de guerra que sustentam seu significado. As figuras de uma pessoa praticando salto com vara ‒ nesse caso, com uma seringa ‒ e de profissionais de saúde hasteando uma seringa em solo inimigo11 11 A imagem de profissionais de saúde hasteando uma seringa, presente em uma das capas de revista reproduzida na Figura 3, emula a famosa fotografia Raising the flag on Iwo Jima (ROSENTHAL, 1945), que mostra fuzileiros navais e um paramédico americanos fincando a bandeira dos Estados Unidos no topo do Monte Suribachi no Japão. fazem com que algo da estrutura semântica das respectivas expressões metafóricas possa esbarrar na nossa consciência introspectiva.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma constatação bastante trivial entre linguistas e leigos é a de que, durante o uso espontâneo da linguagem, o processamento cognitivo geralmente acontece de maneira automática e inconsciente. A principal razão para isso é que a estrutura e o funcionamento da língua ou das línguas que conhecemos estão internalizados e convencionalizados em nosso sistema conceptua. Fazem parte do nosso sistema conceptual mais internalizado e convencionalizado, de acordo com Lakoff e Johnson (2002LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Coordenação de tradução: Mara Sofia de Toledo Zanotto. Campinas: Mercado de Letras, 2002. [1980]), a maior parte das metáforas que usamos no nosso dia a dia e com as quais organizamos nossos pensamentos e ações. Contudo, tão interessantes quanto as metáforas que habitam nosso sistema conceptual ordinário ‒ e que, por isso mesmo, não conseguimos reconhecer espontaneamente como tais ‒ são as expressões metafóricas que, por alguma razão e em alguma medida, desencadeiam eventos metacognitivos.

Na sua discussão a respeito das circunstâncias que desencadeariam o pensamento metafórico consciente, Steen (2014STEEN, G. Deliberate Metaphor Affords Conscious Metaphorical Cognition. Cognitive Semiotics, v. 5, n. 2, p. 179-197, 2014.) argumenta que, ao contrário do que afirmam Lakoff e Johnson (2002LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Coordenação de tradução: Mara Sofia de Toledo Zanotto. Campinas: Mercado de Letras, 2002. [1980]), o poder das metáforas estaria menos nas expressões metafóricas automáticas e inconscientes do que naquelas que usamos de forma consciente. Segundo aquele autor, expressões metafóricas que podem ser eventualmente reconhecidas como tais, ao chamarem a nossa atenção consciente para os mapeamentos que sustentam a sua estrutura semântica, seriam capazes de tornar mais evidentes ‒ ao contrários de metáforas automáticas e inconscientes ‒ aspectos cruciais dos discursos em que ocorrem. A depender da função comunicativa a que se prestam, metáforas conscientes podem ser uma estratégia crucial para sinalizar ou reconhecer, dentre outros aspectos, o estilo ou o registro de um texto, o seu conteúdo, a sua tipologia, os seus propósitos ou o seu domínio discursivo (Steen, 2014). Em última análise, algo que Steen (2014) defende é que metáforas conscientes ‒ e, às vezes, deliberadas ‒ podem otimizar e enriquecer interações sociais (e culturais).

Nesse sentido, tão importantes quanto as metáforas que ocorrem nos nossos usos da linguagem são os elementos capazes de eventualmente ‒ e pelas razões que forem ‒ possibilitar o seu reconhecimento como tais; ou seja, de chamar a atenção (a nossa e a de nossos interlocutores) para o fato de elas serem metafóricas. Ao tratar dos recursos que permitem o reconhecimento de expressões metafóricas como tais, Müller (2008MÜLLER, C. Metaphors Dead and Alive, Sleeping and Waking: A Dynamic View. Chicago: The University of Chicago Press, 2008., p. 202) argumenta que, “quando se consideram as modalidades em que a linguagem se insere, recursos de metaforicidade acabam entrando naturalmente em cena”12 12 [[When taking into account some of the modalities in which language is embedded, such indicators (of metaphoricity) quite naturally appear on stage.] . De fato, até onde os exemplos dados na seção anterior permitem deduzir, o uso intencional ou acidental de determinados tipos de recurso de metaforicidade ‒ como, por exemplo, imagens, usos controversos do advérbio “literalmente”, conjunções de comparação etc. ‒ parece fazer mais sentido em certos gêneros discursivos do que em outros. Sendo assim, investigações empíricas sobre o desencadeamento de eventos metacognitivos a partir de metáforas ‒ e dos respectivos recursos de metaforicidade ‒ devem considerar em algum momento os tipos de evento discursivo em que elas ocorrem.

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  • 1
    Segundo Everett (2016), a sua escolha pelo termo “matéria escura” remete ao conceito de matéria escura da astronomia, que se refere à porção de matéria do universo que não é conhecida, somente inferida.
  • 2
    Lakoff e Johnson (2002 [1980]) antecipam algo da ideia de matéria escura da mente, tal como proposta por Everett (2016), ao introduzirem o conceito de “sistema conceptual ordinário” (p. 235).
  • 3
    [In normal, unreflective language use, our primary interest lies in what is being said, not the underlying mechanisms].
  • 4
    Graham (2006) explica que o ato de escrever envolve estratégias metacognitivas bastante complexas ‒ e, sem dúvida, mais frequentes ‒ se comparados aos atos de ler e, sobretudo, de falar e de ouvir.
  • 5
    Na arte repentista, por exemplo, são especialmente notáveis os esforços metacognitivos ‒ em nível fonológico ‒ envolvidos na improvisação de rimas, conforme mostram Roazzi e colegas (1991).
  • 6
    O processamento consciente (da linguagem) desencadeado por rimas e aliterações tende a provocar um efeito mnemônico bastante singular. De fato, rimas e aliterações, dentre outros recursos de estilo, se prestam, além da ornamentação, à memorização dos textos (Moisés, 2013) ‒ o que as torna mecanismos essenciais para a conservação e a disseminação de produções intelectuais eminentemente orais.
  • 7
    Este trabalho atende a uma convenção dos estudos da teoria conceptual da metáfora de marcar com sublinhado as expressões que atualizam metáforas conceptuais.
  • 8
    Postagem feita no Twitter em 29 de abril de 2019. Disponível em: https://twitter.com/CarlosBolsonaro/ status/1122947402988703749. Acesso em: 28 abr. 2020.
  • 9
    Sentença creditada à escritora Tatiana Bernardi pelo portal de frases e pensamentos Pensador. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MTQ0ODc5Nw/. Acesso em: 25 jan. 2021.
  • 10
    Disponível em: https://www.google.com/. Acesso em: 25 jan. 2021.
  • 11
    A imagem de profissionais de saúde hasteando uma seringa, presente em uma das capas de revista reproduzida na Figura 3, emula a famosa fotografia Raising the flag on Iwo Jima (ROSENTHAL, 1945), que mostra fuzileiros navais e um paramédico americanos fincando a bandeira dos Estados Unidos no topo do Monte Suribachi no Japão.
  • 12
    [[When taking into account some of the modalities in which language is embedded, such indicators (of metaphoricity) quite naturally appear on stage.]

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    16 Mar 2021
  • Aceito
    31 Ago 2023
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