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Características grafofonéticas das vogais francesas na gramática o Mestre francez ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza de Francisco Clamopin Durand

Graphophonetic characteristics of french vowels in the grammar o Mestre francez ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza by Francisco Clamopin Durand

RESUMO

Coelho et al. (2018Coelho, S., Fontes, S., & Moura, T. (2018). O Mestre francez (1767) de Francisco Clamopin Durand e as suas fontes. DELTA: Documentação E Estudos Em Linguística Teórica E Aplicada, 34(4), 1-19. http://dx.doi.org/10.1590/0102-445044605217808024.
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) sublinharam a importância da gramática O mestre francez ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza, de Francisco Clamopin Durand, no contexto da gramática franco-portuguesa setecentista. Esta obra destaca-se sobretudo pelo seu pendor didático, pois destinava-se a todos os portugueses que pretendessem estudar a língua francesa corretamente, pelo que, na elaboração da sua obra, o autor afirmou ter baseado as suas teorias linguísticas nos autores franceses mais prestigiados da época, referenciando Pierre de La Touche, François Séraphin Régnier Desmarais e Pierre Restaut. Por esta razão, é nossa pretensão, neste artigo, apresentar as propostas grafofonéticas do autor da gramática em análise relativamente à pronúncia das vogais, procurando demonstrar a possível influência dos supramencionados autores franceses. A metodologia utilizada consistirá numa análise contrastiva das informações presentes na gramática de Durand com os diferentes tratados mencionados pelo autor, evidenciando o contributo das suas principais fontes (Auroux, 2006Auroux, S. (2006). Les modes d’historicisation Histoire et langage. Histoire Épistémologie Langage: Histoire des idées linguistiques et horizons de rétrospection, 28(1), 105-116. https://www.persee.fr/doc/hel_0750-8069_2006_num_28_1_2869 (acesssado 14 de fevereiro, 2022).
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).

Palavras-chave:
historiografia linguística; gramaticografia franco-portuguesa; vogais; características grafo-fonéticas

ABSTRACT

Coelho et al. (2018Coelho, S., Fontes, S., & Moura, T. (2018). O Mestre francez (1767) de Francisco Clamopin Durand e as suas fontes. DELTA: Documentação E Estudos Em Linguística Teórica E Aplicada, 34(4), 1-19. http://dx.doi.org/10.1590/0102-445044605217808024.
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) underlined the importance of the grammar O mestre francez ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza, by Francisco Clamopin Durand, in the context of 18th century French-Portuguese grammar. This work stands out mainly due to its didactic character, as it was intended for all Portuguese people who wanted to study the French language correctly. In preparing his work, the author claimed to have based his linguistic theories on the most prestigious French authors of the time, referencing Pierre de La Touche, François Séraphin Régnier Desmarais, and Pierre Restaut. For this reason, in this paper we intend to present the graphophonetic proposals of the author of the grammar under analysis concerning the pronunciation of vowels, trying to demonstrate the possible influence of the aforementioned French authors. The methodology used will consist in a contrastive analysis of the information present in Durand’s grammar with the different treatises mentioned by the author, highlighting the contribution of his main sources (Auroux, 2006Auroux, S. (2006). Les modes d’historicisation Histoire et langage. Histoire Épistémologie Langage: Histoire des idées linguistiques et horizons de rétrospection, 28(1), 105-116. https://www.persee.fr/doc/hel_0750-8069_2006_num_28_1_2869 (acesssado 14 de fevereiro, 2022).
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).

Keywords:
historiography of linguistics; French-Portuguese gramaticography; vowels; graphophonetic characteristics

Introdução

A gramática O Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Confirmada com exemplos escolhidos, tirados os melhores auctores, de Francisco Clamopin Durand, é uma gramática pouco conhecida no campo da gramaticografia de línguas estrangeiras em Portugal, mas é uma obra fundamental nos estudos dedicados à língua francesa no século XVIII, como já evidenciaram Coelho et al. (2018Coelho, S., Fontes, S., & Moura, T. (2018). O Mestre francez (1767) de Francisco Clamopin Durand e as suas fontes. DELTA: Documentação E Estudos Em Linguística Teórica E Aplicada, 34(4), 1-19. http://dx.doi.org/10.1590/0102-445044605217808024.
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), não só pelo número de edições de que foi alvo, mas sobretudo pelo seu carácter didático, eminentemente prático, visando dar um conhecimento rápido e atualizado do francês da época.

De acordo com a tipologia proposta por Salema (2000Salema, M. J. (2000). Manuais para o ensino/aprendizagem do Francês de 1732 a 1890. FORUM 28, Jul-Dez 2000, 71-112. https://revistas.uminho.pt/index.php/forum/article/download/2813/2781 (acessado 14 de fevereiro, 2022).
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), O Mestre francez enquadra-se no grupo de métodos ou cursos de língua completos, uma vez que se trata de uma obra que reúne “num só volume um manual de gramática, um vocabulário ou uma secção lexical, diálogos ou conversações, modelos de cartas e uma selecção de textos que serviam para os principiantes aprenderem a ler” (Salema, 2000Salema, M. J. (2000). Manuais para o ensino/aprendizagem do Francês de 1732 a 1890. FORUM 28, Jul-Dez 2000, 71-112. https://revistas.uminho.pt/index.php/forum/article/download/2813/2781 (acessado 14 de fevereiro, 2022).
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, p. 76).

Neste sentido, estamos perante um manual que contemplava todas as componentes necessárias para a aprendizagem da língua francesa sem o auxílio de mestre, o que estava na linha do ensino em autodidaxia, que vigorou em Portugal até meados do século XIX (Salema, 2000Salema, M. J. (2000). Manuais para o ensino/aprendizagem do Francês de 1732 a 1890. FORUM 28, Jul-Dez 2000, 71-112. https://revistas.uminho.pt/index.php/forum/article/download/2813/2781 (acessado 14 de fevereiro, 2022).
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). Durand propõe, assim, um método em que os interessados pudessem aprender de forma mais autónoma. Por essa razão, para tornar o seu manual mais claro e acessível aos aprendentes, adota uma metodologia que consiste em apresentar inicialmente a regra, seguindo-se um modelo de estudo tripartido com a exposição do exemplo em português, a sua tradução em francês e, posteriormente, o mais importante, a proposta de pronúncia. Tendo em conta que se trata de um manual didático, o autor não perde muito tempo com reflexões de pendor teórico sobre a língua, o que não invalida de citar os gramáticos e ortógrafos franceses mais insignes, em concreto Pierre de La Touche (?-1730), François Séraphin Régnier-Desmarais (1632-1713) e Pierre Restaut (1696-1764).

Neste artigo, propomo-nos fazer uma análise ao capítulo I da gramática de Durand, intitulado Do numero e divisão das Letras, procurando apresentar as suas conceções linguísticas, sobretudo no que diz respeito às relações entre a grafia e fonia francesas, tentando averiguar a possível influência dos autores franceses citados na obra. Por outro lado, pontualmente surge a necessidade de compararmos a obra em estudo com as gramáticas de Luís Caetano de Lima (1671-1757) e Francisca Chantal Álvares (1742-post 1800).

Considerando que este trabalho tem por objetivo comparar as principais ideias e abordagens entre as diferentes obras acerca do estudo das vogais, com intuito de verificar aproximações, ter-se-á em conta a noção de horizonte de retrospeção (Auroux, 2006Auroux, S. (2006). Les modes d’historicisation Histoire et langage. Histoire Épistémologie Langage: Histoire des idées linguistiques et horizons de rétrospection, 28(1), 105-116. https://www.persee.fr/doc/hel_0750-8069_2006_num_28_1_2869 (acesssado 14 de fevereiro, 2022).
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), uma vez que o conjunto de conhecimentos antecedentes não só condiciona as opções do autor, como também nos permite compreender melhor as suas ideias.

2. Contextualização do estudo das vogais

À semelhança de Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio.), Durand enceta o estudo das vogais no capítulo I da primeira parte da sua gramática, que subdivide em parágrafos. No primeiro, estabelece a divisão das vogais em três classes, tal como Restaut (1812Restaut, P. (1812). Abrégé des principes de la grammaire françoise par Restaut. Nouvelle édition. Beaucoup plus correcte que les précédentes, et augmentée de la liste des mots où l’H est aspire, et une table alphabétique des matières. Théodore Le Clerc, jeune, libraire.): as simples, as compostas e as nasais. Nos três parágrafos seguintes, dedica cada um ao estudo dessas classes, as simples correspondem a <a, e, i, y, o, u>; as compostas ou ditongos impróprios dizem respeito às sequências <ao, ea, eai, oi, eoi, au, eu, oeu, ou> e as nasais são <am, ean, aen, aon, em, en, im, in, om, on, eon, um, un>. No último parágrafo do primeiro capítulo, o autor procede ao tratamento dos ditongos próprios, contemplando as sequências <ae, ao, aia, aya, aio, ayo, ia, ie, io, iu, iau, ieu, iou, oe, oi, oy, eoi, eoy, oua, oue, oui, ua, ue, ui, ou, ueu>.

Vogais simples

<a> com pronúncia de [a], [ɑ]

No que diz respeito à pronúncia da vogal <a>, Durand reconhece, à semelhança de Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio., p. 2), que este som é “[…] mais aberto, e mais claro, do que na lingua Portugueza” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 2), apontando-lhe duas realizações fonéticas distintas. Porém, na explicação da diferença entre as respetivas pronúncias, o gramático não é muito preciso, mas parece-nos que contempla o <a>, enquanto vogal anterior ou palatal [a], por exemplo, Il a un livre, que deve pronunciar-se i-lá eum livre, *[il a ɛ͂ livR]4 4 Para efeitos de transcrição fonética, não assinalamos o alongamento das vogais nem as sílabas tónicas. e o [ɑ] posterior ou velar, como em À Pierre, que deve pronunciar-se a Pierre, *[α pjɛR].

<e> com pronúncia de [ǝ], [e], [ɛ]

Relativamente à pronúncia da vogal <e>, não há consenso entre os gramáticos, pois um grupo adianta o <e> mudo, também apelidado de breve, obscuro ou feminino; o <e> masculino ou fechado; e o <e> aberto. São partidários desta divisão Desmarais (1707Desmarais, F. S. R. (1707 [1705]). Traité de la grammaire françoise. Chez Henri Desbordes, Marchand Libraire, dans le Kalverstraat., pp. 20-21), Buffier (1711Buffier, C. (1711). Grammaire françoise sur un plan nouveau pour en rendre les príncipes plus clairs & la pratique plus aisee. Contenant divers traite’s sur la nature de la grammaire en general; sur l’usage; sur la beauté des langues & sur la maniere de les aprendre. Sur le stile; sur l’ortographe; sur les accens; sur la longueur des sillabes françoises; sur la punctuation, &c. Chez Jean Leonard., p. 270), Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio., p. 3) e Restaut (1812Restaut, P. (1812). Abrégé des principes de la grammaire françoise par Restaut. Nouvelle édition. Beaucoup plus correcte que les précédentes, et augmentée de la liste des mots où l’H est aspire, et une table alphabétique des matières. Théodore Le Clerc, jeune, libraire., p. 3). O outro grupo, no qual se posicionam La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., pp. 3-4) e Durand (1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 3), subdivide o <e> aberto em aberto propriamente dito e muito aberto. Esta dissensão de opiniões a propósito da pronúncia e da grafia do grafema <e> manteve-se constante entre os gramáticos e ortógrafos franceses, sobretudo, até ao século XVIII, como nos testemunha Thurot (1881Thurot, C. (1881). De la prononciation française depuis les témoignages des grammairiens, tome premier. Imprimerie Nationale., p. 39): “L’histoire de la prononciation de l’e est d’autant plus malaisée à faire, que la notation des diferentes espèces d’e dans l’écriture n’est devenue générale qu’au XVIIIe siècle” [A história da pronúncia do e é tanto mais difícil de fazer, quanto a notação das diferentes espécies de e na escrita que só se tornou geral no século XVIII. Tradução nossa].

Na explicação dos sons concernentes ao grafema <e>, Durand apoia-se sobretudo nos sinais diacríticos. O <e> mudo corresponde à vogal média ou central [ǝ], pois, além de não ser acentuada graficamente5 5 Inclui nesta regra os seguintes monossílabos “de, ce, je, le, me, ne, te, se que” (Durand, 1836, p. 7). , “[…] não se profere quasi nada” e deve acentuar-se “[…] com força a consoante que o precede” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 3), como em coutume, bagage e dame, *[kutym(ǝ)], *[bagaʒ(ǝ)] e *[dam(ǝ)]. No plano gráfico e tendo em atenção a noção de sílaba, defende que a vogal em causa nunca se encontra em início de sílaba, nem em duas sílabas consecutivas, cuja exceção recai apenas em alguns compostos com os prefixos re- e de-, como, por exemplo, redevoir, redevoar *[RǝdǝvwaR].

Defende que este som pode ser suprimido, na oralidade, nos casos em que se encontra em final de palavra, quer esteja no singular ou plural, e é precedido de outra vogal, sendo o caso de adorée, adorées, e jolie, jolies, adôré, jolî, *[adɔRe], *[ʒɔli]; sempre que ocorre uma vogal ou h não aspirado que, por via da sinalefa, faz unir a consoante anterior com a vogal que se lhe segue, como écrire une lettre, écrir-une létre *[ekRiR yn lɛtR]; e nas terceiras pessoas do plural dos verbos que terminam em -ent, eliminando-se esta terminação e pronunciando a sílaba que resta como longa, por exemplo, Ils rient, i rî *[i Ri]. A vogal [ǝ] também não é pronunciada quando a seguir a um monossílabo existe um h não aspirado, pelo que toma o som da vogal que se lhe segue, por exemplo, j’aspire, jaspire *[ʒaʃ piRe]; e quando o adjetivo feminino grande é seguido de um nome, e a preposição entre é seguida de uma vogal, por exemplo, grand’mère e entre, gram mère, entr’elle *[gRɑ͂ mɛR(ǝ)] e *[ɑ͂tR ɛl(ǝ)]. O mesmo som é omitido no futuro e no condicional dos verbos em -ier, -uer e -ouer, como j´etudierai *[ʒɛtydiRɛ], assim como no meio da dicção de alguns nomes e advérbios, por exemplo, remerciment *[R(ǝ)mɛRsimɑ͂], no pretérito e particípio passivo do verbo avoir, por exemplo, j’eus *[ʒy] e o <e> que precede as terminações do futuro e do condicional presente, como j’aimerai, jémeré *[ʒɛm(ǝ)Rɛ], excetuando os verbos que têm dois -rr- depois de e que passa a mediano, por exemplo, je verrai, je verrè *[ʒeveRe].

Durand tece ainda algumas considerações a respeito da alteração vocálica a que a vogal média ou central [ǝ] está sujeita, tendo em conta a sua posição na palavra. Assim, esta vogal passa a vogal anterior semifechada [e] sempre que “[…] o pronome je se acha depois de hum verbo interrogativo, que acaba com e mudo […]” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 6), que é substituído por “é fechado”, como aimé-je? émé je? *[eme ʒǝ]. Também La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 6) tece alguns comentários a este respeito, pois admite que “l’E final, que est féminin à la prémiére personne du présent de l’indicatif dans les verbes de la prémiére conjugaison, devient masculin, lors qu’on interroge, comme; je parle, parlé-je? Je chante, chanté-je? &c.” [O E final, que é feminino na primeira pessoa do presente do indicativo nos verbos da primeira conjugação, torna-se masculino quando faz parte de uma interrogação, como eu falo, falo eu? Eu canto, canto eu? Etc.. Tradução nossa]. Por outro lado, fazendo jus ao peso da autoridade do uso, Francisco Clamopin Durand advoga que o pronome je não admite uma posição pós-verbal em verbos que não terminem “com e mudo”, pelo que se deve “mudar a frase”, por exemplo, perds-je? Deve ser substituído por est-ce que je perds? È ce ke je pèr? *[e sǝ kǝ ʒǝ peR].

Pelo recurso, de novo, ao constituinte diacrítico, subsidiado por um elemento de base articulatória, em concreto ao grau de abertura, Durand caracteriza o grafema <e> masculino ou fechado que parece corresponder à vogal anterior semifechada [e] como aquele que “[…] leva regularmente hum accento agudo, e se pronuncía abrindo a boca medianamente” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 7), por exemplo, vérité, vérité *[veRite]. Seguem a mesma regra todos os plurais dos nomes em causa, ou seja, todos aqueles que terminam em -és. Este aspeto é por si só revelador de que o autor estava perfeitamente consciente da moderna ortografia da época, pois, como sublinhou Buffier, a respeito da diferença prática entre a antiga e a nova ortografia,

dans l’ancienne, le son de l’é fermé long se designe par ez, sans aucun accent: comme le nez, aimez; […] Dans la nouvelle le son de l’é fermé long, se designe par és avec un accent aigu, le nés, aimés; […] mais ez peut s’employer même dans la nouvelle ortographe, pour marquer un é fermé qui se pronounce long; car il n’est sujet à aucune equivoque, & il épargne la peine de metre un accent sur l’e (Buffier, 1754, p. 385).

[na antiga, o som fechado longo do é é designado por ez, sem qualquer acento: como le nez, aimez; (...) Na nova, o som do e fechado longo é designado por és com um acento agudo, le nés, aimés; (...), mas ez pode ser usado mesmo na nova ortografia, para marcar um é fechado que se pronuncia longo; porque não está sujeito a qualquer equívoco, & poupa o trabalho de colocar um acento no e. Tradução nossa].

De facto, Durand (1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 8) argumenta que “póde dar-se como regra geral, que os nomes, e verbos, que terminem na syllaba ez, tem som de é fechado”, por exemplo, le nez, venez, le né, vené, *[lǝ ne] e *[vǝ ne], hoje [v(ǝ)ne]. Da mesma forma, têm o som [e] o particípio passivo plural dos verbos, como aimés, émé *[eme], hoje [ɛme]; todos os infinitivos dos verbos em -er, depois de lhe ser suprimida a terminação -r, por exemplo, soupirer, supiré, [supiRe], tal como a pronúncia atual; e os nomes que terminam em -er, como, papier, papié, atualmente [papje]. Pela grafia apresentada neste último exemplo, Durand parece não reconhecer a existência do encontro vocálico <ie> enquanto ditongo [je], mas de hiato [ie], visto que nem o considera na lista dos ditongos impróprios, cuja caracterização assenta na conceção de som, pois corresponde a “[…] duas, ou tres vogaes unidas, que exprimem hum som simples” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 12), nem o contempla no rol do que apelida de ditongos próprios que, pelo recurso ao critério silábico coadjuvado pela sonoridade, são aqueles que “[…] formão duas syllabas, ou dous sons differentes” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 20), fazendo corresponder a <ie> o ditongo [jɛ], por exemplo, diète, diète *[djɛtǝ], hoje [djɛt], e não o [je].

O gramático apresenta, em seguida, as exceções à regra da pronúncia da vogal [e] dos nomes que terminam em -er6 6 Recorde-se que Caetano de Lima (1733, p. 6) fez um tratamento muito exaustivo deste assunto. , argumentando que todos os monossílabos se devem pronunciar com a vogal semiaberta [ɛ], pronunciando-se também o -r, por exemplo, mer, mèr [mɛR], de acordo com a pronúncia atual, assim como os nomes próprios, como Jupiter, Jupitèr, [ʒypitɛR], tal como nos dias de hoje. Admite, ainda, que alguns nomes substantivos e adjetivos têm o mesmo som, por exemplo, l’hiver, livèr, [livɛR], correspondendo também à pronúncia atual. Pelo contrário, todos os advérbios formados dos particípios que terminam em <e> fechado conservam o dito som, a saber, assuré, assuré, [asRe], que corresponde à pronúncia da atualidade, tal como a conjunção et que tem o som fechado, ignorando-se a pronúncia do -t: *[e].

Para terminar, Durand socorre-se, de novo, dos sinais diacríticos, em concreto do acento agudo, como meio auxiliador da identificação do som das unidades silábicas de cariz vocálico, admitindo que as sílabas que se grafarem com acento agudo, no início, no meio ou no fim, devem pronunciar-se com a vogal anterior semifechada [e].

À semelhança de La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein.) e Restaut (1812Restaut, P. (1812). Abrégé des principes de la grammaire françoise par Restaut. Nouvelle édition. Beaucoup plus correcte que les précédentes, et augmentée de la liste des mots où l’H est aspire, et une table alphabétique des matières. Théodore Le Clerc, jeune, libraire.)7 7 La Touche diz que o “[...] troisiéme E se nomme ouvert, parce qu’on le prononce lá bouche plus ouverte qu’on ne fait les des deux précédens. […] Le quatriéme E s’appelle três-ouvert. Il ne difere du précédent, qu’en ce qu’il se prononce plus long & la bouche encore plus ouverte” (La Touche, 1710, p. 5) [[...] terceiro E é chamado aberto, porque é pronunciado com a boca mais aberta do que os dois anteriores. [...] O quarto E chama-se muito aberto. Difere do anterior apenas na medida em que se pronuncia mais longo e com a boca ainda mais aberta. Tradução nossa]. Por sua vez, Restaut argumenta que “l’e un peut ouvert, qui se prononce avec une ouverture de bouche un peu plus grande que celle qu’il faut pour la prononciation de l’é fermé […]. L’e fort ouvert, qui se prononce avec une ouverture de la bouche plus considérable” (Restaut, 1812, p. 4) [o e pode ser aberto, que se pronuncia com uma abertura da boca um pouco maior do que a necessária para a pronúncia do e fechado [...]. O e muito aberto, que é pronunciado com uma maior abertura da boca. Tradução nossa]. , Durand subdivide o grafema <e> aberto em “aberto”, propriamente dito, e “mediano”, cuja caracterização é assente em bases articulatórias e fisiológicas. O <e> aberto parece corresponder à vogal anterior semiaberta [ɛ], pois é aquele em que “[…] se abre mais a boca para o pronunciar […]”8 8 Embora Durand estabeleça a distinção entre o “e aberto” e o “e mediano”, nas soluções fonéticas que apresenta não se verificam quaisquer diferenças entre esses sons, havendo uma clara correspondência à vogal [ɛ], pelo que optamos, nas transcrições fonéticas que apresentamos, por fazer essa neutralização, respeitando as propostas do autor. (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 9). O <e> mediano “[…] deve guardar hum meio entre o è aberto, e o é fechado, pronunciando-se com huma abertura de boca maior do que o é fechado, e menor do que o è aberto” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 9). Ora, como já tivemos oportunidade de referir anteriormente, excetuando La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein.) e Restaut (1812Restaut, P. (1812). Abrégé des principes de la grammaire françoise par Restaut. Nouvelle édition. Beaucoup plus correcte que les précédentes, et augmentée de la liste des mots où l’H est aspire, et une table alphabétique des matières. Théodore Le Clerc, jeune, libraire.), nenhum dos outros autores que são referenciados explicitamente por Durand estabelece esta dissemelhança, embora todos eles reconheçam esta variabilidade de pronúncia do <e> aberto, incluindo o gramático português Luís Caetano de Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio., p. 6), que admite ser um pormenor sem grande importância. Este assunto, de resto, constitui um motivo de discordância para os gramáticos franceses até ao século XIX, como o comprovam os estudos levados a cabo por Fouché (1969Fouché, P. (1969). Phonétique historique du français. Volume II, Les voyelles. 2e édition revue et corrigée. Éditions Klincksieck.) e Morin e Ouellet (1991Morin, Yves-Charles, & Ouellet, M. (1991). Les [ɛ] longs devant [s] en français: sources historiques et évolution. Revue québécoise de linguistique, 20(2), 11-32. https://doi.org/10.7202/602702ar.
https://doi.org/10.7202/602702ar...
).

Embora a pronúncia atual faça a neutralização das diferenças de pronúncia do grafema <e>, aberto e muito aberto, em [ɛ], tal como o fizeram muitos dos gramáticos setecentistas, a explicação da diferença adiantada por Francisco Clamopin Durand é bastante coerente. Na realidade, o autor esclarece, apoiado no sinal diacrítico e na constituição silábica, que o <e> aberto é “[…] accentuado com accento grave: advertindo que o dito è ha de estar na ultima syllaba masculina ès” (Durand: 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia.: 9), como, por exemplo, procès e progrès, prôcè, prôgrè9 9 Durand clarifica a alternância vocálica de [ɛ] para [e], mais uma vez, pelo recurso à constituição silábica, nos casos em que a dita sílaba masculina se encontrar “[…] seguida immediatamente de outra masculina em alguns nomes derivados” (Durand, 1836, p. 9), como em procéder e professer, prôcéde e prôfessé, parecendo ir ao encontro da pronúncia atual [pRɔsede] e [pRɔfese]. , havendo uma correspondência com a pronúncia atual [pRɔsɛ] e [pRɔgRɛ], respetivamente10 10 Da mesma forma, admite que as palavras très, dès e après têm também o som de [ɛ], que corresponde à pronúncia atual [tRɛ], [dɛ] e [apRɛ]. . De resto, este som de <e> é o mesmo que La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 5) apelida de “três ouvert”, de que é exemplo a palavra procès. Seguindo ainda este gramático (La Touche, 1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 5), Durand (1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., pp. 9-10) admite ainda a pronúncia da vogal [ɛ] em “todos os nomes, que tiverem hum accento circumflexo no ê, […] e distinguirão as syllabas longas das breves”, como em tête e fête, tête, fête, respetivamente *[tɛtǝ] e *[fɛtǝ], hoje [tɛt] e [fɛt]. Neste contexto, chama a atenção para o facto de não existir nenhum nome ou verbo que “[…] principie por ê com accento circumflexo, ou por è aberto […]” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 10), excetuando o infinitivo do verbo être.

Tendo em atenção a relação grafia-fonia, o autor contempla ainda os casos em que a vogal [ɛ] não é acentuada graficamente, sobretudo quando está antes de <-r, -rs, -ct>, por exemplo, mer, mèr, *[mɛR].

Para terminar, Durand esclarece a alternância vocálica do grafema <e> dos monossílabos mes, tes, ses, les, des, ces, tendo em conta a posição em que ocorrem. Assim, quando precedem o nome substantivo, pronunciam-se com a vogal anterior semifechada [e], como mes amis, -zami *[me zami], e quando estão no fim de frase pronunciam-se com a vogal anterior semiaberta [ɛ], como, e dites-les, dite lè *[dite lɛ]. A este respeito, e como já aludimos anteriormente, convém salientar que Durand considera a existência de um som mediano do grafema <e> que, em termos de pronúncia, se poderá situar entre o “e fechado” e o “e aberto”, pelo que os monossílabos acima apontados, quando precedem o nome substantivo, recebem a dita pronúncia. Este ponto de vista é precisamente defendido por La Touche, que argumenta que

Les Grammariens font l’E ouvert dans tous les monosylabes, comme dans mes, tes, ses, ces, les &c. Cependant dans les six mots que je viens de spécifier, on prononce l’e dans la conversation fort aprochant du masculin, lors qu’il suit une consone; […] Exemples: mes freres, mes soeurs; mes amis, les hommes, &c. prononcez presque comme mé freres, mé soeurs; me zamis, le zhommes, &c. (La Touche 1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 5).

[Os gramáticos fazem o E aberto em todos os monossílabos, como em mes, tes, ses, ces, les, des &c. Contudo, nas seis palavras que acabo de especificar, o e é pronunciado, na conversa, muito próximo do masculino, quando segue uma consoante; (...) Exemplos: mes freres, mes soeurs; mes amis, les hommes, &c. pronunciados quase como mé freres, mé soeurs; me zamis, le zhommes, &c.. Tradução nossa].

No que diz respeito ao grafema <e> com a pronúncia do que apelida de mediano, Durand assenta a sua explicação não só na posição que ele assume na palavra, como também no critério da acentuação gráfica, enquanto elemento distintivo do som em causa. Com efeito, “o è mediano conhece-se ordinariamente por se achar seguido de huma consoante que faz syllaba com o e mudo final. Poremos pois hum accento grave no è penultimo dos nomes, que acabarem em èce, ède, èle, ème, ère, èse, ète, ève” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 10), à exceção da “[…] syllaba ége que ha de levar hum accento agudo” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 10), por exemplo, zèle, zèle; thèse, tèze; collége, còllége hoje pronunciadas com [ɛ], [zɛl], [tɛz] e [kɔlɛʒ]. Segundo o autor, se a seguir ao grafema <e> mediano se encontrarem “[…] duas consoantes, ou hum x, então não levará accento” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 10), como, belle, bèle, hoje pronunciadas com [ɛ], [bɛl].

<i, y> com pronúncia de [i]

Relativamente ao tratamento da pronúncia do grafema <i> com a oscilação gráfica em <y>, Durand é muito sintético, sobretudo se compararmos o seu estudo ao de Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio., p. 8). Durand prescinde de qualquer traço articulatório na descrição de <i>, atendendo apenas à posição que ele assume na palavra, pois “[…] antes de huma consoante, pronuncia-se do mesmo modo, que em Portuguez” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 10). Reconhece, assim, que o som em causa tem o valor da vogal anterior fechada [i], por exemplo, irriter, irrite [iRite], que corresponde à pronúncia atual.

<o> com pronúncia de [ɔ], [o]

No concernente ao grafema <o>, Durand é ainda mais sintético, limitando-se a admitir que tem o mesmo som que em português. Apesar disso, pela análise dos exemplos, podemos verificar que contempla a vogal posterior semiaberta [ɔ] e a posterior semifechada [o], na medida em que se supõe que casos como os de homme se pronunciam com [ɔ] semiaberta, ôme *[ɔm(ǝ)]; e casos como de rôle se articulam com [o] semifechada, rôle *[Rol(ǝ)], hoje [ɔm] e [Rol]. A distinção das pronúncias em causa parece prender-se com questões de acentuação gráfica, na medida em que o gramático admite que “quando o o he longo, leva hum accento circumflexo” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 11), por exemplo, hôte e apôtre.

<u> com pronúncia de [y]

Na pronúncia do grafema <u>, Durand parece revelar alguns problemas na explanação da sua teoria, defendendo que a respeito do som em causa “[…] não se póde dar regra clara” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 11). Estas dificuldades não são exclusivas deste gramático, como o comprovam os estudos levados a cabo por Kemmler (2012Kemmler, R. (2012). Le rôle du français dans la grammaire visitandine de Francisca de Chantal Álvares (Lisbonne 1786). In B. Colombat, Jean-Marie Fournier, & V. Raby (Eds.), Vers une Histoire Générale de l Grammaire Française: Matériaux et perspectives, Actes du coloque international de Paris (HTL/SHESL, 27-29 janvier 2011) (pp. 445-466). Honoré Champion.) sobre a gramática de Francisca Chantal Álvares e Moura (2016Moura, T. (2016). A Grammatica franceza, ou arte para aprender o francez por meio do portuguez, regulada pelas notas e refflexoens da Academia de França: a primeira gramática setecentista da língua francesa em português. In A.-M. Fryba, R. Antonelli, & B. Colombat (Eds.), Actes du XXVIIe Congrès international de linguistique et de philologie romanes (Nancy, 15-20 juillet 2013). Section 15: Histoire de la linguistique et de la philologie (pp. 105-119). ATILF.) sobre a gramática de Luís Caetano de Lima, que põem em evidência as dificuldades destes gramáticos em explicar cabalmente a pronúncia de um som desconhecido de um público não francófono. De facto, explicar um som característico do sistema linguístico da língua francesa, cuja existência em Portugal se reduzia a um ou a outro dialeto a priori, traria muitos problemas a um estudante luso, pelo que Durand aconselha que se deva imitar a voz do Mestre11 11 A peculiaridade deste som é referenciada pelas fontes primárias de Durand, em concreto Desmarais (1707, pp. 60-61) e La Touche (1710, p. 9). .

Mesmo assim, apoiado no traço articulatório, particularmente quanto à posição dos lábios, Francisco Clamopin Durand admite para o grafema <u> a pronúncia da vogal anterior fechada arredondada [y] em que “[…] se dispõem os beiços da mesma sorte, como quando queremos assobiar” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 11), por exemplo, chûte, xûte, *[ʃyt(ǝ)], nos dias de hoje [ʃyt].

Durand ainda reconhece a vogal posterior fechada arredondada [u], fazendo-a corresponder ao digrama <ou>, já que considera que “estas duas vogaes tem o mesmo som que o u Portuguez” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 15), como em nourrir, nurri, *[kRutǝ], hoje [kRut], sendo um aspeto que já tinha sido tratado por Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio., p. 65). Além disso, quando faz o tratamento das vogais compostas, Durand (1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 13) defende, relativamente à grafia <aou>, que corresponde à vogal [u], por exemplo, août, embora não apresente a correspondência fonética, mas que julgamos equivaler à pronúncia atual [ut], sendo de resto uma posição defendida por muitos gramáticos franceses da época, como o faz notar Thurot (1881Thurot, C. (1881). De la prononciation française depuis les témoignages des grammairiens, tome premier. Imprimerie Nationale., p. 505).

Vogais compostas

No tratamento das vogais compostas, as quais também intitula de ditongos impróprios, Durand apoia a sua caracterização no plano gráfico e funcional, já que admite que “são duas, ou tres vogaes unidas, que exprimem hum som simples” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 12), pelo que esta definição parece ter sido colhida de Restaut (1812Restaut, P. (1812). Abrégé des principes de la grammaire françoise par Restaut. Nouvelle édition. Beaucoup plus correcte que les précédentes, et augmentée de la liste des mots où l’H est aspire, et une table alphabétique des matières. Théodore Le Clerc, jeune, libraire., p. 2), que havia caracterizado as vogais compostas de uma forma muito similar, pois considerava que “Ce sont celles qui s’expriment par deux ou trois voyelles, lesquelles ne forment qu’un seul son simple” [Estas são as que se exprimem por duas ou três vogais, que formam um único som simples. Tradução nossa].

<ai, ay, eai> com pronúncia de [e] e [ɛ]

Durand explica claramente as sequências vocálicas <ai, ay, eai> como vogal anterior semifechada [e] nos pretéritos e futuros dos verbos, como je donnai, je dôné *[ʒǝ dɔne], que corresponde à pronúncia atual [ʒǝ dɔne]; nos monossílabos que terminam em <ei>, por exemplo, mai, *[me], atualmente com valor fonético de [ɛ], [mɛ]; nos nomes que começam por <ai> aimant, émám *[emɑ͂], hoje [ɛmɑ͂], mas que é perfeitamente justificável na época devido à instabilidade gráfica e de pronúncia, como já referenciamos. As exceções a esta regra, porque têm valor fonético de vogal anterior semiaberta [ɛ], encontram-se, de acordo com o autor, no monossílabo vrai, tal como na pronúncia atual [vRɛ]; no meio dos nomes, quando a sílaba seguinte começa por <s>, ou o nome termina em <s>, por exemplo, maison, mézôm, [mɛzɔ͂], jamais, jamè [ʒamɛ], como atualmente; e “quando depois do ai se segue hum t, ou d, que não faz syllaba […]” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 13), por exemplo, lait, , [lɛ], correspondendo à pronúncia da atualidade.

<aie, aye, aient> com pronúncia de [ɛ]

Durand é extremamente sintético e parece não revelar qualquer problema na explicação dos sons correspondentes às grafias <aie, aye, aient> em [ɛ], dizendo somente que “os monosyllabos, nomes, e verbos, que acabão com estes, sôão como è aberto” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 13), como vraie, vrè. *[vRɛ] que de resto se manteve ao longo dos tempos, como defendeu Thurot (1881Thurot, C. (1881). De la prononciation française depuis les témoignages des grammairiens, tome premier. Imprimerie Nationale., p. 499) ao admitir que “[...] la prononciation d’ai par e ouvert était depuis longtemps en usage” [a pronúncia de ai por e aberto estava em uso há muito tempo. Tradução nossa].

<ao, aou> com pronúncia de [a]

A este respeito, Durand limita-se a dizer que o som em causa deve pronunciar-se [a], por exemplo, paonneau, pano, atualmente [pano].

<au, eau> com pronúncia de [o]

Sendo também extramente breve na explicação da pronúncia do som em causa, na medida em que se limita a afirmar que tem “som de o”, Francisco Clamopin Durand apresenta os exemplos de aujourd’hui, ôjurdui e bateau, batô, *[oʒuRdyi] e *[bato], identificando os sons respetivos como vogal posterior semifechada [o], também assim designada pelas suas fontes, em concreto La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 40), pelo que há correspondência à pronúncia atual.

<ea> com pronúncia de [a]

À semelhança dos casos anteriores, também no que diz respeito ao digrama <ea>, Durand tece considerações muito breves, limitando-se a adiantar que tem “som de a”, admitindo a pronúncia da vogal anterior ou palatal [a], por exemplo, il songea, i sônjá *[il sɔ͂ʒa], sendo que La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 41) dava um ponto de vista muito semelhante sobre o assunto, pois “l’E ne sonne point dans cett fausse diphthongue, & on ne le met que pour adoucir la prononciation du c ou du g qui le précédent. Exemples: tu anvanceas […]. Prononcez, tu avansas” [o l’E não soa nesse falso ditongo e é usado apenas para suavizar a pronúncia do c ou do g que o precede. Exemplos: tu anvanceas […]. Pronunciada, tu avansas. Tradução nossa].

<ei, ey> com pronúncia de [ɛ]

Durand define o digrama <ei, ey> como vogal anterior semiaberta [ɛ] “no meio, ou no fim dos nomes […]” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 14), por exemplo, peine, pène, *[pɛn(ǝ)], hoje [pɛn], revelando-se conhecedor da ortografia mais recente da época, pois, como comprova Thurot (1881Thurot, C. (1881). De la prononciation française depuis les témoignages des grammairiens, tome premier. Imprimerie Nationale., p. 499), a partir do século XVII, “les grammairiens ne donnent plus à ei que le son d’e sans i” [os gramáticos dão apenas ao ei o som de e sem i. Tradução nossa]. No entanto, logo a seguir, chama a atenção para o facto de nas sequências <eim, ein>, na mesma sílaba, se pronunciarem juntas, por exemplo, éteindre. No entanto, a respetiva proposta fonética não parece corresponder à explicação dada, já que indicia a correspondência com a vogal nasal [ɛ͂], *[etɛ͂dR (ǝ)], hoje [etɛ͂dR], existindo a neutralização de <ein> em [ɛ͂], embora não se refira à nasalidade em causa. O gramático prevê ainda a existência de hiato na sequência <ei> sempre que existam “[…] dois pontos, ou algum accento no e […]” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 14), por exemplo, obéir, ôbéi *[ɔbei], hoje [ɔbeiR].

<eo> com pronúncia de [ɔ]

Segundo o autor, o digrama <eo> corresponde à vogal posterior semiaberta [ɔ], como em George, jôrge, *[ʒɔRʒǝ], atualmente [ʒɔRʒ], mas se tiver acento “[…] no é, as duas vogaes se pronunciarão séparadas” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 14), pelo que prevê a existência de hiato, por exemplo, géographe, jéôgráfe *[ʒeɔgRaʒǝ], hoje [ʒeɔgRaʒ].

<eu> com pronúncia de [œ]

À semelhança de Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio., p. 60) e Álvares (1786Álvares, F. de C. (1786). Breve compendio de grammatica portugueza para o uso das meninas que se educaõ no mosteiro da vizitaçaõ de Lisboa, por huma religioza do mesmo mosteiro. Na officina de Antonio Rodrigues Galhardo/ Impressor da Real Meza Censoria., p. [II]), Francisco Clamopin Durand revela muitas dificuldades em explicar o digrama <eu> com valor atual da vogal anterior arredondada semiaberta [œ], que pensamos dever-se ao facto de não existir no sistema linguístico do português, tal como tinha acontecido com a vogal anterior fechada arredondada [y]. Consequentemente, argumenta que este “[…] som vem a ser quasi como hum e escuro formando sómente hum som” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 15), como em peur, peur, *[pǝuR], atualmente [pœR], opinião que é partilhada pelas suas fontes, quer por Desmarais (1707Desmarais, F. S. R. (1707 [1705]). Traité de la grammaire françoise. Chez Henri Desbordes, Marchand Libraire, dans le Kalverstraat., p. 67), quer por Buffier (1711Buffier, C. (1711). Grammaire françoise sur un plan nouveau pour en rendre les príncipes plus clairs & la pratique plus aisee. Contenant divers traite’s sur la nature de la grammaire en general; sur l’usage; sur la beauté des langues & sur la maniere de les aprendre. Sur le stile; sur l’ortographe; sur les accens; sur la longueur des sillabes françoises; sur la punctuation, &c. Chez Jean Leonard., p. 280) e sobretudo por La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 42), que comprova que estas “[...] deux lettres ont ordinairement un son confus. Exemples: peur, pleurer, jeune, &c. Mais eles ont le son d’un u seulement” [(...) duas letras têm normalmente um som confuso. Exemplos: peur, pleurer, jeune, &c. Mas eles apenas têm o som de um u. Tradução nossa].

<oi, oy, eoi, eoy> com pronúncia de [ɛ]

Thurot (1881Thurot, C. (1881). De la prononciation française depuis les témoignages des grammairiens, tome premier. Imprimerie Nationale., p. 358) apresenta um estudo exaustivo a respeito da instabilidade fonética da sequência <oi> na língua francesa, sobretudo no século XVIII, à qual Durand não parece ser alheio, na medida em que se revela pouco preciso e até indeciso na exposição das regras do som em causa. Defende, assim, que esse som corresponde a [ɛ], regularmente nos imperfeitos e condicionais dos verbos, por exemplo, je parlais, je parlè, hoje [ʒǝ paRlɛ]12 12 Têm também som de [ɛ] os nomes faible e roide e seus compostos, por exemplo, faiblesse, fèblèce, hoje [fɛblɛs]. Neste aspeto, o autor alerta para o facto de as opiniões serem diversas e alguns autores preferirem o som [e]. Têm ainda a mesma pronúncia de [ɛ] o presente do indicativo dos verbos e particípios que terminam em <-oître> com mais de duas sílabas, como je connais, je cônnè, que se aproxima da pronúncia atual [ʒǝ kɔnɛtR]. . Continua, sem qualquer esclarecimento adicional, a ditar as regras que pensamos dizerem respeito à pronúncia de [ɛ], advogando que ela se aplica “no infinitivo dos verbos, que acabão em oître, e os seus compostos” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 15). Porém, nem em todos os exemplos apresentados pelo autor existe correspondência com a regra respetiva, já que num dos exemplos se verifica uma realização diferente em [wa], croître, croàtre, hoje [kRwatR].

Não obstante este aspeto, no parágrafo que dedica ao estudo dos ditongos próprios, Durand estabelece os casos em que as grafias <oi, oy, eoi, eoy> são consideradas ditongos e não vogais compostas, atribuindo-lhes duas pronúncias possíveis em <oa> e <oè>, embora prefira a primeira. No entanto, deixa ao critério do falante a opção que achar mais conveniente, por exemplo, moi, moá, hoje [mwa], pois considera que

geralmente pronuncião-se como aberto; seguindo a opinião dos Senhores de Vaugelas, Regnier- Desmarais, la Touche, Buffier, Restaut, e outros muitos Academicos; mas o certo he, que estes dithongos sôão mais em oa, do que em . Não decido a duvida; porém supprimiremos o accento grave do e, para que este dithongo se pronuncie em huma só syllaba; de sorte que não ha de sôar em oa, nem em aberto; mas sim guardando hum meio nestes dois sons. Os curiosos pódem servir-se de ambos os dois sons, pois tanto custa pronunciar oa, como (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 21).

Acresce ainda notar, a propósito da pronúncia de <oi>, que Thurot (1881Thurot, C. (1881). De la prononciation française depuis les témoignages des grammairiens, tome premier. Imprimerie Nationale., p. 361) faz o comentário que se segue a respeito do nosso autor: “Durand, qui écrit, aussi en 1767Durand, F. C. (1767). O mestre francez ou novo methodo Para aprender a Lingua Franceza por meio da Portugueza. Officina de Francisco Mendes Lima., pour des Portugais, assure que oi se prononce plutôt comme oa que comme que le son est intermédiaire entre a et ê, et qu’on peut prononcer de l’une et l’autre manière” [Durand, que também escreve em 1767 para os portugueses, garante que oi se pronuncia mais como ao do que , que o som é intermédio entre a e ê, e que pode ser pronunciado de uma ou outra maneira. Tradução nossa].

Como se depreende das palavras de Durand, a questão da pronúncia da sequência em causa foi motivo de dissensão quer para os gramáticos franceses, quer para os gramáticos portugueses que escreveram gramáticas que se debruçam sobre a língua francesa, como foi o caso de Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio.) e Álvares (1786Álvares, F. de C. (1786). Breve compendio de grammatica portugueza para o uso das meninas que se educaõ no mosteiro da vizitaçaõ de Lisboa, por huma religioza do mesmo mosteiro. Na officina de Antonio Rodrigues Galhardo/ Impressor da Real Meza Censoria.). No entanto, a regra que atualmente é adotada para a pronúncia de <oi> mantém a tendência para a utilização sistemática do som [wa], consubstanciando a opinião manifestada por Durand.

<ai, oi, oient, eoient> com pronúncia de [ɛ]

O autor é muito sintético no que diz respeito a estas sequências vocálicas, admitindo apenas que têm som de [ɛ], como paraître, parêtre, hoje [paRɛtR].

Vogais nasais

Durand (1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 16) argumenta que “todas estas vogaes antes de m, e n fazendo syllaba, tem o nome de nasaes, porque são proferidas alguma cousa pelo nariz”, pelo que é o primeiro autor a escrever uma gramática francesa, usando como metalinguagem o português, a reconhecer a existência da oposição entre a oralidade e nasalidade13 13 Nem Luís Caetano de Lima (1733) nem Francisca de Chantal Álvares (1786) fazem esta distinção. , ainda que de uma forma incipiente. De facto, apoiado em critérios fisiológicos, reconhece o traço nasalidade vocálica, porquanto a produção do som implica a intervenção do nariz, sem qualquer alusão, no entanto, à descrição articulatória. No plano gráfico, as vogais nasais são representadas mediante a utilização de um <m> ou <n> na mesma sílaba. Esta definição parece ter sido baseada na de Restaut, que defendia que as vogais nasais são “[...] des voyelles qui se prononcent un peu du nez, et qui s’expriment par une ou deux voyelles suivies d’une n ou d’une m” (Restaut, 1812Restaut, P. (1812). Abrégé des principes de la grammaire françoise par Restaut. Nouvelle édition. Beaucoup plus correcte que les précédentes, et augmentée de la liste des mots où l’H est aspire, et une table alphabétique des matières. Théodore Le Clerc, jeune, libraire., p. 3) [[…] vogais que são pronunciadas um pouco do nariz, e que são expressas por uma ou duas vogais seguidas por um n ou um m. Tradução nossa].

Posteriormente, Durand apresenta as sequências vocálicas que considera corresponderem a vogais nasais e, embora seja bastante sintético, faz uma análise séria e coerente, identificando as quatro vogais nasais francesas que correspondem à pronúncia da atualidade. Deste modo, apoiado nos elementos que constituem a sílaba, advoga que as sequências <am, an, ean, em en, aen, aon> têm o som de <am>, ou seja, da atual vogal nasal, posterior, aberta, não arredondada [ɑ͂], por exemplo, danse, damce, atualmente [dɑ͂s]. A sequência <ian> deve pronunciar-se <iam>, como viande, viamde, hoje [vjɑ͂d]; o mesmo acontecendo com os nomes que vêm do latim, por exemplo, science, siamce, pelo que há também correspondência com a pronúncia atual [sjɑ͂s]. Por fim, as sequências <ouan, ouen> pronunciam-se como em português <uam>, por exemplo, en jouant am jûam, hoje [ɑ͂ ʒwɑ͂].

As grafias <aim, ain, im, in> pronunciam-se como <éim>, pelo que corresponde à vogal nasal anterior, semiaberta, não arredondada [ɛ͂], por exemplo, cousin, cuzém, na transcrição fonética moderna [kuzɛ͂]. Os monossílabos têm som de <iém>, por exemplo, rien, riém, atualmente [Rjɛ͂], assim como a terceira pessoa dos verbos il vient, i viém, hoje [il vjɛ͂], e ainda no princípio ou no fim do nome, por exemplo, maintien, méimtiém, hoje [mɛ͂tjɛ͂]. Tem ainda valor de [ɛ͂] a sequência de <oin>, que deve pronunciar-se <oéim> numa única sílaba, por exemplo, besoin, bezoém, atualmente [bǝzwɛ͂]. Defende, por fim, que a sequência <uin> “tem som de u Francez, e de éim” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 18), por exemplo, juin, juém, que também corresponde à pronúncia atual [ʒyɛ͂]; e a sequência <ouin> “tem som de u Portuguez, e de éim” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 17), como babouin, babuém, atualmente [babwɛ͂].

As sequências gráficas que correspondem à atual vogal nasal posterior semiaberta arredondada [ɔ͂] são <om, on, eon>, cuja pronúncia corresponde a <ôm>, por exemplo, ombre, ômbre, atualmente [ɔ͂bR], e <ion>, que corresponde à pronúncia <ion>, por exemplo, consolation, cômsôlaciôm, modernamente [kɔ͂sɔlasjɔ͂].

Para terminar, defende que as grafias <um, un> devem pronunciar-se <eum>, “[…] atendendo ao u Francez” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 16), cuja referência corresponde à atual vogal nasal, anterior, semiaberta arredondada [œ], por exemplo, chacun, xakeúm, hoje [ʃakœ].

Ditongos próprios

Entre os gramáticos e ortógrafos do século XVIII, o ditongo é um dos aspetos mais problemáticos das línguas latinas, e a francesa não é exceção, “dele decorrendo parte da instabilidade gráfica verificada na representação do vocalismo” (Gonçalves, 2003Gonçalves, M. F. (2003). As ideias ortográficas em Portugal: de Madureira Feijó a Gonçalves Viana (1734-1911). Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e Tecnologia, Ministério da Ciência e do Ensino Superior., p. 81). Esta controvérsia não é alheia às fontes citadas por Durand, muito embora pareça ter existido algum consenso no que diz respeito à definição de ditongo, já que a sua caracterização é apoiada na ideia de sílaba, ressalvando o facto de só se poderem considerar como tal os casos em que a sonoridade fosse estendida aos dois elementos silábicos. É esta a opinião de La Touche, que defendia que “La Diphthongue est un assemble de deux, de trois, ou de quatre voïelles, qui forment deux sons diférens dans une seule sylabe” (La Touche, 1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 37) [O ditongo é um conjunto de duas, três, ou quatro vogais, que formam dois sons diferentes numa única sílaba. Tradução nossa], e de Restaut, que advogava que “Ce sont plusieurs voyelles qui expriment un double son, et qui se prononcent en une seule syllabe” (Restaut, 1812Restaut, P. (1812). Abrégé des principes de la grammaire françoise par Restaut. Nouvelle édition. Beaucoup plus correcte que les précédentes, et augmentée de la liste des mots où l’H est aspire, et une table alphabétique des matières. Théodore Le Clerc, jeune, libraire., p. 3) [São várias vogais que exprimem um som duplo, e que são pronunciadas numa só sílaba. Tradução nossa]. Durand parece perfilhar a opinião dos seus mestres, pois admite que são ditongos “[…] porque formão duas syllabas, ou dous sons differentes” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 20), conquanto não entre em reflexões teóricas sobre o conceito, pois o seu objetivo primordial é evidenciar a pronúncia correta da língua francesa a um público não francófono. Por essa razão, é extremamente sintético, limitando-se a apresentar a grafia do som em causa com a transcrição da pronúncia respetiva, reconhecendo vinte e um ditongos na língua francesa.

Assim sendo, admite que a grafia <ae> se pronuncia como em português, “[…] guardando cada vogal o proprio som” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 20), por exemplo, aérien, aériém, que condiz com pronúncia atual de duas vogais em hiato [aeRjɛ͂]. No <ao>, há uma correspondência entre a grafia e a fonia, por exemplo, pharaon, *[aeRjɛ͂] faráôm, hoje considerado hiato [faRaɔ͂]. As sequências <aia> ou <aya> pronunciam-se <éia>, por exemplo, ayant, éiám, hoje [ɛjɑ͂], pelo que se identifica o ditongo nasal [jɑ͂]. Há também correspondência entre a grafia e a fonia na sequência <aio, ayo>, baïonette, baiônète, *[bajɔnɛt], que corresponde ao ditongo oral [aj]. O digrama <ia>, com valor de [ja], pronuncia-se como em português, por exemplo, diamant, diamám, hoje [djamɑ͂]. A correspondência entre fonia e grafia está novamente presente nos digramas <ie>, <io>, que correspondem aos ditongos [jɛ], [jɔ], por exemplo, diète, diète, fiole, fiôle, atualmente [djɛt] e [fjɔl], respetivamente. Quanto à sequência <iau>, Durand diz que “tem som de i, e de o longo (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 21)”, identificando o ditongo [jo] em casos como os de miauler, miôle, hoje [mjole]. Identifica os ditongos [wa], [we] e [wi] nas sequências gráficas <oua, oue, oui>, admitindo que tem o som de “u Portuguêz” e de <a, e, i>, por exemplo, rouage, ruáge, fouetter, fuété, jouir, juí, hoje [Rwaʒ], [fwete], [ʒwir], respetivamente. Por fim, reconhece os ditongos [ɥa], [ɥi] e [ɥo], nas sequências gráficas <ua, eu, ui>, por exemplo, nuage, nuáje, nuire, nuire e tuorbe, tuôrbe, atualmente [nɥaʒ], [nɥiR] e [tɥoRb].

3. Considerações finais

O Mestre francez de Francisco Clamopin Durand é uma gramática destinada à aprendizagem da língua francesa para um público não francófono. O seu pendor essencialmente didático justifica as poucas reflexões a respeito da língua francesa, sobretudo no que se refere à exposição das regras de pronúncia do sistema vocálico francês. Por isso, embora tenha um conhecimento substancial das obras francesas que cita, pensamos que o objetivo primordial do autor era fornecer aos alunos um método simples e claro, para que pudessem aprender com alguma rapidez e relativa simplicidade a língua considerada na época como “a mais cultivada na Europa”, pelo que se pautou, acima de tudo, pela correção linguística, como de resto admite no prólogo: “Em quanto á correcção, posso affirmar, que me tem dado maior trabalho do que a propria composição; e na verdade se não assistisse á impressão della, serìa impossivel sahir tão correcta especialmene na terceíra columna da pronunciação, onde se achará nos accentos huma exactissima regularidade” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. [III]).

Ora, é precisamente na exposição das suas propostas fonéticas que reside o interesse desta obra, já que o autor encontrou um método de ensino simples que tornasse mais clara a diversidade de sons do vocalismo francês. Este objetivo parece ter sido cumprido, à exceção da explicação dos sons que são inexistentes no sistema linguístico português, sobretudo no que diz respeito à pronúncia da vogal anterior fechada arredondada [y], a vogal anterior arredondada semifechada [ø] e a vogal anterior arredondada semiaberta [œ]. Apesar disso, os exemplos que acompanham a exposição destas três vogais correspondem, respetivamente, ao som de cada uma delas.

Cumpre salientar ainda que, apesar de Durand revelar algumas dificuldades em fazer corresponder o som vocálico [ɛ] à sequência <oi>, a que chama vogais compostas, pela própria instabilidade deste som no século XVIII, o gramático é inovador quando argumenta que a sequência em causa corresponde praticamente ao som [wa], afastando-se da opinião das suas fontes francesas mais diretas.

Por outro lado, cabe destacar que foi o primeiro autor da época a fazer uma exposição bastante completa das vogais nasais francesas, o que ajudou bastante na simplificação das regras, se o compararmos a Francisca Chantal Álvares e a Luís Caetano de Lima. Na realidade, a gramática de Durand estabelece menos regras do que a de Lima e, embora apresente também problemas de terminologia, por exemplo, na explicação dos ditongos, o autor revela-se mais eficaz relativamente ao seu propósito, que era ensinar a pronúncia francesa de uma forma mais acessível e clara.

No que diz respeito às suas fontes, conclui-se que Durand consultou todas as obras que cita, até porque a sua atividade de livreiro facilitava o acesso às obras, e conhecia a doutrina dos seus mestres. No entanto, tendo sempre em mente o público-alvo da sua obra, das suas fontes aproveitou apenas aquilo que lhe parecia mais importante para os possíveis alunos, pelo que somos da opinião de que a sua maior inspiração foi efetivamente a obra de Restaut, talvez por ser de todas aquela que tinha um pendor mais didático e que gozou de ampla difusão ao longo do século XVIII, como já sublinharam Coelho et al. (2018Coelho, S., Fontes, S., & Moura, T. (2018). O Mestre francez (1767) de Francisco Clamopin Durand e as suas fontes. DELTA: Documentação E Estudos Em Linguística Teórica E Aplicada, 34(4), 1-19. http://dx.doi.org/10.1590/0102-445044605217808024.
http://dx.doi.org/10.1590/0102-445044605...
). De resto, o compêndio de Durand parece ter herdado a projeção do seu mestre, pois, além de ter contado com várias edições e de ter sido adotado como manual de ensino/aprendizagem do francês em Portugal, é uma obra que figura em De la prononciation française depuis le commencement du XVIe siècle, d’après les témoignages des grammairiens, de Charles Thurot (1881Thurot, C. (1881). De la prononciation française depuis les témoignages des grammairiens, tome premier. Imprimerie Nationale.), facto que comprova o merecido destaque no seio da gramaticografia franco-portuguesa.

Agradecimentos

Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) , no âmbito do Centro de Estudos em Letras, com a referência n.º UIDP/00707/2020 , Portugal.

Referências

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  • Thurot, C. (1881). De la prononciation française depuis les témoignages des grammairiens, tome premier. Imprimerie Nationale.
  • 4
    Para efeitos de transcrição fonética, não assinalamos o alongamento das vogais nem as sílabas tónicas.
  • 5
    Inclui nesta regra os seguintes monossílabos “de, ce, je, le, me, ne, te, se que” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 7).
  • 6
    Recorde-se que Caetano de Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio., p. 6) fez um tratamento muito exaustivo deste assunto.
  • 7
    La Touche diz que o “[...] troisiéme E se nomme ouvert, parce qu’on le prononce lá bouche plus ouverte qu’on ne fait les des deux précédens. […] Le quatriéme E s’appelle três-ouvert. Il ne difere du précédent, qu’en ce qu’il se prononce plus long & la bouche encore plus ouverte” (La Touche, 1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 5) [[...] terceiro E é chamado aberto, porque é pronunciado com a boca mais aberta do que os dois anteriores. [...] O quarto E chama-se muito aberto. Difere do anterior apenas na medida em que se pronuncia mais longo e com a boca ainda mais aberta. Tradução nossa]. Por sua vez, Restaut argumenta que “l’e un peut ouvert, qui se prononce avec une ouverture de bouche un peu plus grande que celle qu’il faut pour la prononciation de l’é fermé […]. L’e fort ouvert, qui se prononce avec une ouverture de la bouche plus considérable” (Restaut, 1812Restaut, P. (1812). Abrégé des principes de la grammaire françoise par Restaut. Nouvelle édition. Beaucoup plus correcte que les précédentes, et augmentée de la liste des mots où l’H est aspire, et une table alphabétique des matières. Théodore Le Clerc, jeune, libraire., p. 4) [o e pode ser aberto, que se pronuncia com uma abertura da boca um pouco maior do que a necessária para a pronúncia do e fechado [...]. O e muito aberto, que é pronunciado com uma maior abertura da boca. Tradução nossa].
  • 8
    Embora Durand estabeleça a distinção entre o “e aberto” e o “e mediano”, nas soluções fonéticas que apresenta não se verificam quaisquer diferenças entre esses sons, havendo uma clara correspondência à vogal [ɛ], pelo que optamos, nas transcrições fonéticas que apresentamos, por fazer essa neutralização, respeitando as propostas do autor.
  • 9
    Durand clarifica a alternância vocálica de [ɛ] para [e], mais uma vez, pelo recurso à constituição silábica, nos casos em que a dita sílaba masculina se encontrar “[…] seguida immediatamente de outra masculina em alguns nomes derivados” (Durand, 1836Durand, F. C. (1836). Mestre francez, ou novo methodo para aprender a lingua franceza por meio da portugueza. Decima Edição emendada de muitos erros, e accrescentada com a Formação das Conjugações dos Verbos Regulares, e da Verdadeira Orthografia Franceza. Delaunay/Seignot-Plancher et Cia., p. 9), como em procéder e professer, prôcéde e prôfessé, parecendo ir ao encontro da pronúncia atual [pRɔsede] e [pRɔfese].
  • 10
    Da mesma forma, admite que as palavras très, dès e après têm também o som de [ɛ], que corresponde à pronúncia atual [tRɛ], [dɛ] e [apRɛ].
  • 11
    A peculiaridade deste som é referenciada pelas fontes primárias de Durand, em concreto Desmarais (1707Desmarais, F. S. R. (1707 [1705]). Traité de la grammaire françoise. Chez Henri Desbordes, Marchand Libraire, dans le Kalverstraat., pp. 60-61) e La Touche (1710La Touche, P. de (1710). L’Art de bien parler françois. Chez R. & G. Wetstein., p. 9).
  • 12
    Têm também som de [ɛ] os nomes faible e roide e seus compostos, por exemplo, faiblesse, fèblèce, hoje [fɛblɛs]. Neste aspeto, o autor alerta para o facto de as opiniões serem diversas e alguns autores preferirem o som [e]. Têm ainda a mesma pronúncia de [ɛ] o presente do indicativo dos verbos e particípios que terminam em <-oître> com mais de duas sílabas, como je connais, je cônnè, que se aproxima da pronúncia atual [ʒǝ kɔnɛtR].
  • 13
    Nem Luís Caetano de Lima (1733Lima, L. C. de. (1733). Grammatica franceza ou arte para apprender o francez por meyo da lingua portugueza, regulada pelas notas e refflexoens da academia de França. Na Officina da Congregaçaõ do Oratorio.) nem Francisca de Chantal Álvares (1786Álvares, F. de C. (1786). Breve compendio de grammatica portugueza para o uso das meninas que se educaõ no mosteiro da vizitaçaõ de Lisboa, por huma religioza do mesmo mosteiro. Na officina de Antonio Rodrigues Galhardo/ Impressor da Real Meza Censoria.) fazem esta distinção.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    01 Mar 2021
  • Aceito
    04 Fev 2022
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