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O convívio polêmico em meio à pandemia de Covid-19 - um olhar semiótico discursivo sobre as relações do si com o outro

The controversial conviviation in the midst of the Covid-19 pandemic - a discursive semiotic view on the relationships between the self with the other

RESUMO

Se o convívio e o diálogo foram conflituosos e as divergências pareceram exacerbadas no período pandêmico por Covid-19 pelo qual passamos, em meio a esta conjuntura, qual o grau de admissão em nossa existência, ou nas diversas esferas de tomadas de decisões cotidianas, perante aqueles que denominamos de Outro? Esse Outro, a todo o momento (re)construído discursivamente, é esquecido e/ou silenciado? Apresentar possibilidades de respostas a essas perguntas é o objetivo geral do presente trabalho. De forma específica, objetiva-se apontar, por meio das estratégias retóricas de convencimento envolvendo o afeto presentes nos enunciados observados, uma proposta de medição do nível de assimilação do Outro na vida do Si. Baseando-se nas vertentes semióticas ditas Tensiva e Sociossemiótica, metodologicamente são apontados efeitos de sentido em análises de enunciados extraídos de reportagens que tratam sobre: a entrega de alimentos a pessoas em situação de rua; a confecção de uma cartilha sobre cuidados sanitários no idioma Guarani; uma denúncia feita à Justiça sobre comentários racistas referentes a indígenas; e sobre um projeto de extensão universitária de acolhimento a imigrantes. Como resultado dos apontamentos pode-se inferir que a relação Si-Outro não é harmônica, mas de dissenso, e que, a partir das análises sobre o afeto, seguindo Zilberberg e Landowski, podem ser graduadas.

Palavras-chaves:
Semiótica Tensiva; Afeto; Covid-19; Polêmica; Pandemia

ABSTRACT

If conviviality and dialogue have been conflictual and the differences seemed to be exacerbated in the pandemic period due to Covid-19 that we have been through, in the midst of this conjuncture, what is the degree of admission in our existence, or in the various spheres of daily decision-making, towards those we call the Other? Is this Other, discursively (re)constructed at all times, forgotten and/or silenced? Presenting possible answers to these questions is the general objective of this work. Specifically, the aim is to point out, through the rhetorical strategies of convention involving the affection present in the observed utterances, a proposal for measuring the level of assimilation of the Other in the life of the Self. Based on the Tensive and Socio-semiotic approaches, meaning effects are pointed out in analyzes of utterances extracted from reports that deal with: ​​ food delivery to homeless people; producing a booklet on health care in the Guarani language; a complaint made to Justice about racist comments referring to indigenous people; and about a University extension project to welcome immigrants. As a result of the findings, it can be inferred that the Self-Other relationship is not harmonious, but of dissent, and that, based on the analysis of affection, after Zilberberg and Landowski, it can be graded.

Keywords:
Tensive Semiotics; Affect; Covid-19; Controversy; Pandemic

Introdução

Partimos da proposição de que estamos atrelados ao mundo por meio de nosso corpo, e que é ele próprio o centro de nossa percepção. 1 1 Como asseveram Merleau-Ponty (2022) e Fontanille (2017). Se o mundo é também um sistema de oposições qualitativas do tipo vida e morte, dia e noite ou claro e escuro, é então a interação entre diferentes valores categoriais que nos torna capazes de, por meio da linguagem, dar sentido a esse mesmo mundo. Entre essas relações de termos contrários estaria também a diferença entre o Si (um eu ou um nós) e o Outro? Acreditando que sim, devemos observar que o convívio e o diálogo entre Si e o Outro é conflituoso. E as divergências parecem exacerbadas nesse período pandêmico por Covid-19 pelo qual passamos. Em meio a esta pandemia pelo novo coronavírus, qual o grau de admissão em nossa existência, ou nas diversas esferas de tomadas de decisões cotidianas, perante aqueles que denominamos Outro? Esse Outro, a todo o momento (re)construído discursivamente, é esquecido e/ou silenciado? Apresentar possibilidades de respostas a essas perguntas é o objetivo geral do presente trabalho. De forma específica, objetiva-se apontar, por meio das estratégias retóricas de convencimento envolvendo o afeto presentes nos enunciados observados, uma proposta de medição do nível de assimilação do Outro na vida do Si, em redes e gráficos tensivos.

Visando a seus objetivos, o presente trabalho baseia-se na Semiótica Discursiva, sobretudo nas vertentes ditas Tensiva e Sociossemiótica. Metodologicamente são apontados efeitos de sentido em análises sobre: a entrega de alimentos a pessoas em situação de rua; à confecção de uma cartilha sobre cuidados sanitários em guarani; uma denúncia feita à Justiça sobre comentários racistas referentes aos indígenas; e sobre um projeto de extensão universitária de acolhimento a imigrantes. Esses textos foram selecionados como corpus por formarem, a nosso ver, um compêndio capaz de ser organizado ao mesmo tempo como exemplos de discussão sobre o que Landowski define como “buscas de identidade” e “crises de alteridade” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 3-30) e como valores de um gráfico tensivo. Como resultado dos apontamentos, pode-se inferir que a relação Si-Outro não é harmônica, mas de dissenso.

Doravante, além das “Considerações finais”, o presente texto divide-se em cinco partes. A próxima seção trata sobre a relação entre o Si perante o Outro, bem como apresenta o ponto de vista teórico pelo qual reconhecemos essas noções. Na sequência, três seções que, conjuntamente, apresentam as análises do corpus, propõem uma discussão sobre parte da tipologia de Landowski sobre a relação entre Si e Outro e apontamentos a respeito das estratégias retóricas de convencimento envolvendo o afeto presentes nesses enunciados. Logo depois, uma interpretação por meio de rede e gráfico tensivos da categorização apresentada juntamente à indicação de possíveis respostas para as indagações apresentadas no início.

A postura do Si perante o Outro

Como dissemos, entendemos que o corpo é nosso centro perceptivo, nosso canal de relação com o mundo: “Ser corpo […] é estar atado a um certo mundo, e nosso corpo não está primeiramente no espaço: ele é no espaço”, diz Merleau-Ponty (2022MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2022., p. 205). Sendo assim, é por meio do corpo que percebemos a nós mesmos, ao ambiente que nos circunda e aos demais seres com quem nos contatamos.

Quando aludimos novamente ao fenomenólogo, ao lembrar que “o equívoco é essencial à existência humana, e tudo o que vivemos ou pensamos sempre tem vários sentidos” ( MERLEAU-PONTY, 2022MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2022., p. 253), compreendemos que a percepção tenderia a ser, ainda que involuntariamente, sectária, tem um viés; mas é também provocada. Em outras palavras, perceber alguém ou alguma coisa é perceber uma determinada presença - presença desse alguém, desse algo (concreto ou abstrato, que seja) - no mundo. Nesse processo, haveria duas operações semióticas essenciais geradas pelo corpo: uma apreensão e uma visada ( FONTANILLE, 2017FONTANILLE, Jacques. Corpo e sentido. Tradução de Fernanda Massi e Adail Sobral. Londrina: Eduel, 2017.). A primeira refere-se a uma tomada de posição, a uma certa projeção a respeito do objeto. A segunda, a uma certa captação sensorial do objeto.

Podemos correlacionar essas operações com a Semiótica Tensiva de Zilberberg (2011ZILBERBERG, Claude. Elementos de semiótica tensiva. Tradução de Ivã Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.), ao registrarmos que à apreensão correlacionar-se-ia o eixo da extensidade e à visada o da intensidade. Dessa maneira, indicar-se-ia uma graduação por meio de valências categoriais. Portanto, a percepção é uma qualidade eminentemente inteligível e sensível.

Dizer que a percepção é eminentemente inteligível e sensível sinaliza que ela é significada por um ser enquanto corpo. Fontanille define o corpo próprio como:

[…] a identidade que se constrói ao longo do processo de semiose, na reunião de dois planos de linguagem. […] será então portador da identidade em construção e em devir […]. Chamaremos “eu” a carne que impele, resiste e faz referência, e “Si” o corpo próprio que orienta, dirige, se inventa e se identifica ( FONTANILLE, 2017FONTANILLE, Jacques. Corpo e sentido. Tradução de Fernanda Massi e Adail Sobral. Londrina: Eduel, 2017., p. 25, grifos do autor).

Consequentemente, a postura do Si perante o Outro (o não-si) é sempre a partir de um olhar obviamente do corpo próprio do Si. Isso impõe que o Si percebe o simulacro do Outro, pois este não pertence àquele. O Outro é parte do mundo, e não significa sozinho, mas perante a apreensão e a visada do Si. Por seu turno, o Outro é, para ele mesmo, o seu Si. Por isso, os significados são fugidios e a linguagem não é neutra e os contatos (re)produzem efeitos de sentido dos mais diversos, pois a relação entre o Si e o Outro é um choque.

Landowski propôs uma tipologia desse conflito ao pensar a presença do outro. Segundo o estudioso, ao buscar uma identidade, o Si auxiliaria a evidenciar uma crise de alteridade. Situações de assimilação e exclusão e de segregação e admissão do Outro estariam em voga o tempo todo nas diversas sociedades ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.). A seguir, apresentamos uma proposta de discussão sobre essas formulações.

Espécies de segregação

Mais de duas dezenas de pessoas na beirada de rua do centro da cidade numa noite aguardando ansiosas serem servidas por voluntários que retiram marmitas acondicionadas no porta-malas de um carro (que não é dos ditos populares). A comida ora oferecida provavelmente será a única refeição do dia para elas (para esses corpos). Essa imagem ( Figura 1) é apresentada na fotografia de matéria do jornal eletrônico Amazônia Real, de Belém. Ela reflete algo que, conforme mostra a reportagem, acometeu a capital paraense - e, por certo, boa parte do Brasil e do mundo -: o aumento da população vivendo na rua sem respaldo do poder público durante a pandemia.

Figura 1 -
Pessoas morando na rua aguardando refeição doada

Intitulada “Invisível e desamparada, população de rua aumentou em Belém durante a pandemia”, a reportagem foi publicada em agosto de 2021 e é o objeto de análise agora. A seguir, são apresentados alguns trechos (aqueles que servem a nossos propósitos) do texto:

“A gente já vivia no meio de um monte de desgraça, a pandemia só piorou tudo”. A frase de Lene Silva, que tem 40 anos e há 26 vive nas ruas de Belém, capital do Pará, resume o drama enfrentado pela população em situação de rua no Brasil com a chegada devastadora da pandemia da Covid-19.

Socialmente vulneráveis, com doenças crônicas e imunodepressoras, usuários de drogas, vivendo em condições extremamente insalubres e vítimas da fome, essa população tem sido uma vítima invisível da doença: as autoridades públicas de saúde no estado não possuem dados epidemiológicos oficiais sobre os impactos da pandemia neste grupo social, conforme apurou a reportagem.

No próximo dia 19, o Brasil comemora o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, criada em 2004, mas a realidade de quem não têm um teto e dorme nas calçadas é de desamparo e invisibilidade, agravada mais ainda com os impactos da pandemia [...] ( PEDROSA NETO, 2021PEDROSA NETO, Cícero. Invisível e desamparada, população de rua aumentou em Belém durante a pandemia. Amazônia Real, 11 ago. 2021. Disponível em: https://amazoniareal.com.br/invisivel-e-desamparada-populacao-de-rua-aumentou-em-belem-durante-a-pandemia/ . Acesso em: 12 ago. 2021.
https://amazoniareal.com.br/invisivel-e-...
, n. p., grifos nossos).

Pode-se observar que a desolação é o tema que recobre todo o enunciado. Ao apontarmos os vocábulos destacados - drama, enfrentado, (pandemia) devastadora, vulneráveis, doenças crônicas e imunodepressoras, condições extremamente insalubres, fome, vítima invisível, desamparo e invisibilidade - percebe-se uma invocação, por parte do enunciador, da afetividade. Retoricamente, a reportagem apela ao emocional para estimular no enunciatário (leitor do jornal online) compadecimento para com as pessoas ali mostradas.

Pela repetição dos traços semânticos, podemos dizer que o plano do conteúdo segue uma isotopia, isto é, aponta indicações recorrentes em todo seu percurso. Em outras palavras, a isotopia semântica: “[…] torna possível a leitura uniforme do discurso, tal como resulta das leituras parciais dos enunciados que o constituem, e da resolução de suas ambiguidades que é orientada pela busca de uma leitura única” ( GREIMAS; COURTÉS, 2021GREIMAS, Algridas Julius; COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima, Diana Luz Pessoa de Barros, Eduardo Peñuela Cañizal, Edward Lopes, Ignacio Assis da Silva, Maria José Castagnetti Sombra e Tieko Yamaguchi Miyazaki. 2. ed. 3. reimp. São Paulo: Contexto, 2021., p. 276).

O foco emocional é um efeito de sentido de compaixão provocado pelo enunciador no enunciatário. E a percepção do enunciatário é exacerbada pois, além do material verbal, há o visual presente na fotografia. Greimas e Courtés nos autorizam a pensar em isotopia além do plano do conteúdo. Ou seja, também o plano de expressão é afetado por ela: “[…] nada impede que se transfira o conceito de isotopia, elaborado e mantido até aqui no nível do conteúdo, para o plano da expressão” ( GREIMAS; COURTÉS, 2021GREIMAS, Algridas Julius; COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima, Diana Luz Pessoa de Barros, Eduardo Peñuela Cañizal, Edward Lopes, Ignacio Assis da Silva, Maria José Castagnetti Sombra e Tieko Yamaguchi Miyazaki. 2. ed. 3. reimp. São Paulo: Contexto, 2021., p. 278). Assim sendo, a fotografia na horizontal focando o quantitativo ligeiramente alto de pessoas em fila - por mais que não estejam maltrapilhas, vestem roupas bastante simples (bermudas, chinelos, até mesmo descamisado) perante os doadores voluntários (calças jeans, camisas, sapatos) - aguardando a doação de comida vinda de um carro aparentemente de luxo no meio da rua corroboram a isotopia presente no plano do conteúdo.

Para dar continuidade a nossas observações, foquemos a relação de identidade e de alteridade entre o Si e o Outro. Para tanto, seguiremos com um novo trecho da reportagem:

“Na rua, todo mundo se trata como igual. A gente come com a colher do outro, bebe no mesmo copo, mesmo às vezes sabendo que aquela pessoa tem uma doença feia. Se um irmão chega com uma sacola de comida e quer dividir, a gente faz uma roda e todo mundo mete a mão ali, não tem dessa”, conta Lene Silva.

Quando perguntada sobre a maior dificuldade que enfrentou na pandemia, Lene responde: “ o povo já tinha nojo da gente, quando veio a Covid, aí que eles não quiseram mais nem chegar perto. A gente bate na casa das pessoas para pedir e, lá de dentro, já todos de máscara e ‘encapados’, só balançam a mãozinha dizendo que não tem” ( PEDROSA NETO, 2021PEDROSA NETO, Cícero. Invisível e desamparada, população de rua aumentou em Belém durante a pandemia. Amazônia Real, 11 ago. 2021. Disponível em: https://amazoniareal.com.br/invisivel-e-desamparada-populacao-de-rua-aumentou-em-belem-durante-a-pandemia/ . Acesso em: 12 ago. 2021.
https://amazoniareal.com.br/invisivel-e-...
, n. p., grifos nossos).

Voltando-nos, como antes, às partes realçadas, podemos observar que há uma discrepância entre as posturas apresentadas: de um lado a comunhão entre os moradores na rua e de outro uma dissonância com os moradores das casas. Impõe-se, a partir da escolha do enunciador pela apresentação do ponto de vista dos que estão na rua, um grupo de iguais (um Si) e um de diferentes (um Outro). Quando a entrevistada comenta que “ todo mundo se trata como igual”, esse “todo mundo” é seu grupo de conviventes na rua, quer dizer, esse “todo mundo” pode ser entendido como um Si. Ela é esse grupo também, seu corpo percebe esse mundo na/da rua em particular . Curiosamente, nesse caso, o “outro” confunde-se com o significado de Si (ou seja, não é somente um vocábulo vazio de sentido), pois, quando a entrevistada comenta “ A gente come com a colher do outro”, esse “a gente” e esse “outro” (que empresta a colher), na verdade, é um mesmo Nós. Um Nós que, nesse caso, confunde-se com um Si: como se ela evidenciasse “eu mesma sou esse Nós também”; esse “outro (que empresta a colher) mesmo é o Nós”. Porque, em outra ocasião, pode ser ela quem tem o talher e pode emprestar. É quase como se aquele grupo fosse um grande corpo uno.

Esse grande corpo sugestionado, quando aparece frente ao dessemelhante, causa desconforto. É o que podemos inferir das afirmações da entrevistada em: “ o povo já tinha nojo da gente, quando veio a Covid, aí que eles não quiseram mais nem chegar perto”; “A gente bate na casa das pessoas”. Quando cita “o povo”, este é o Outro em relação à “gente” (Nós-Si, pode-se dizer). Assim como a “gente” que bate na casa das “pessoas” são o Nós-Si que batem na casa do Outro, respectivamente.

Por essas análises, poderíamos apontar que a reportagem pode servir de exemplo de alguma das tipologias propostas por Landowski (2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 1-30) comentadas anteriormente 2 2 Embora trate sobremaneira a respeito do estrangeiro, tomemos liberdade de extrapolar as definições de Landowski (2012) sobre o Outro, já que o Outro, como o próprio autor nos ensina, não é um não-si que tem o papel - por meio da linguagem - de definir a própria figura do eu, ou seja, um “terceiro” que não é um mero espectador das atitudes e percepções do um, mas de servir como auxiliar da caracterização desse próprio um. Em outras palavras: “Não, todavia, a [figura] de um simples ‘Ele’ situado à distância, mas aquela forma específica do Outro que tem por função enviar ao sujeito sua própria imagem, ‘representando-o’” ( LANDOWSKI, 2012, p. XI). ? Com relação ao texto visual (fotografia), podemos indicá-la como espécie 3 3 Usamos esse termo para relembrar nossa “extrapolação abalizada” explicada na nota anterior. de segregação, pois a atitude daqueles que estão “nas casas” é de repelir os pedintes, todavia, reconhecem neles um Outro mesmo querendo permanecer afastados deles. Não são as pessoas “nas casas” que expulsaram as “na rua” para lá, mas, ao mesmo tempo, não querem com elas conviver, preferindo que elas permaneçam apartadas. Nesse caso, recordemos o enunciado supracitado: “o povo já tinha nojo da gente, quando veio a Covid, aí que eles não quiseram mais nem chegar perto”; “ e, lá de dentro […] só balançam a mãozinha”.

Todavia, se o apontamento de que há uma segregação fica mais fácil de verificar a partir das análises sobre a postura dos moradores “nas casas”, se for levada em conta a abordagem dos voluntários (evidenciada sobretudo na fotografia), poderíamos dizer que há uma admissão, ou mesmo assimilação? Pois, como pontua a Sociossemiótica, “[…] a classe dominante não rejeita ninguém, e se pretende, ao contrário, por princípio, generoso acolhedor aberto para o que vem de fora” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 6). Não parece ser o caso. Os voluntários, no carro - seja lá a quem pertença -, são membros de uma irmandade franciscana que, naquele momento, não está ali para pregar suas crenças aos que têm fome, mas simplesmente para acolhê-los e entregar o jantar a quem precisa. Não há evidência interna ao texto de uma investida da congregação para angariar novos fiéis ou algo do tipo - ainda que, eventualmente, tal ajuda possa despertar essa vontade. Esse contato entre Si e Outro seria, então, de outro tipo.

Sobre admissão e exclusão

Como na seção anterior, façamos agora a análise a respeito das estratégias retóricas envolvendo o afeto presentes nos enunciados, e, progressivamente as que condizem com as relações de identidade e/ou alteridade. Diferentemente de antes, apresentaremos nesse momento não um, mas dois textos. O primeiro é a reportagem “Professores da UFGD elaboram cartilha em guarani com orientações de combate à pandemia”, veiculada em abril de 2020, pela assessoria de imprensa da Universidade Federal da Grande Dourados, que atende região composta por inúmeros municípios no cone sul de Mato Grosso do Sul. Relata a confecção de material desenvolvido com apoio indígena para ser distribuído nas aldeias das etnias Guarani Ñandeva e Guarani Kaiowá, no idioma local, sem tradução para o português. Esse texto aparenta características de admissão. O segundo, “Promotor denuncia usuários de redes sociais por comentários racistas contra indígenas em MS”, é reportagem veiculada em janeiro de 2021, assinado por G1 MS e TV Morena. Ao relatar um caso de ofensas proferidas a indígenas pela internet, o texto traz à tona o embate com relação à prioridade para aplicação da vacina em determinado grupo de risco ao contágio pelo coronavírus (como os aldeados, por definição do Ministério da Saúde) quando o imunizante começava a ser disponibilizado.

Mais uma vez, metodologicamente, apresentamos adiante trechos que acreditamos auxiliar em nossos objetivos. Segue enunciado retirado do texto sobre a cartilha:

Além das orientações sanitárias indicadas pelas autoridades mundiais de saúde, como distanciamento social, assepsia das mãos, etiqueta respiratória, cuidados com a higiene, entre outras possíveis de serem seguidas nas aldeias - já que parte dessa população não dispõe sequer de acesso à água - os pesquisadores abordaram na cartilha os aspectos ritualísticos tradicionais, muito presentes na rotina dos povos indígenas e essenciais para a garantia da preservação de suas etnias.

“Após essa primeira fase, os professores indígenas passaram a dialogar com os mais velhos também sobre os cuidados tradicionais de saúde aplicados na aldeia em casos de quadros gripais e insuficiência respiratória, características da covid-19, além de registrar suas concepções sobre o adoecimento”, relata Neimar [Machado de Souza, docente da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND) da UFGD].

Ele enfatiza que as comunidades indígenas tradicionalmente fazem o uso regular de plantas medicinais na prevenção ao adoecimento e também vêm empregando algumas delas durante a pandemia. “É importante reforçar que as plantas são utilizadas em rituais, seguindo um modo de preparo adequado, sob orientação de anciãos e especialistas indígenas”, afirma.

[…]

“Essa parceria é muito importante, pois os profissionais da UFGD envolvidos no processo de prevenção e solidariedade, além de contribuírem com a população indígena, que é mais vulnerável, protegem também a sociedade não-índia”, diz a docente [Teodora de Souza, coordenadora do Setor de Educação Escolar Indígena da Secretaria Municipal de Educação de Dourados], que é da etnia Guarani, moradora na aldeia Jaguapiru e falante da língua nativa ( UFGD, 2020UFGD. Professores da UFGD elaboram cartilha em guarani com orientações de combate à pandemia: Realizada em parceria com docentes da educação escolar indígena de Dourados, a iniciativa tem por objetivo tornar as informações acessíveis a toda a população indígena da macrorregião. Portal UFGD, 16 abr. 2020. Disponível em: https://portal.ufgd.edu.br/noticias/professores-da-ufgd-elaboram-cartilha-em-guarani-com-orientacoes-de-combate-a-pandemia . Acesso em: 12 ago. 2021.
https://portal.ufgd.edu.br/noticias/prof...
, n. p., grifos nossos).

Por meio das palavras grifadas - aspectos ritualísticos tradicionais, preservação de suas etnias, dialogar com os mais velhos (detentores de sabedoria) , cuidados tradicionais, orientação de anciãos e especialistas indígenas - podemos observar que há uma isotopia de respeito aos costumes e sabedoria locais. Nesse texto, há um apelo emocional menor que no precedente, todavia, ele existe. Quando observamos as palavras grifadas da fala da entrevistada - prevenção e solidariedade, [população indígena] vulnerável, protegem também a sociedade não-índia -, podemos ver que existe o afeto pressuposto pela solidariedade a um povo tido como vulnerável (o olhar voltado ao Outro) e pela importância de se auto proteger, já que, segundo as informações, minimizando os riscos de contágio na população indígena, consequentemente, diminui-se na não indígena (um olhar voltado para Si).

Com relação às questões de identidade/alteridade, podemos dizer que estamos no que Landowski chama de admissão, momento em que “geralmente objeto de desconfiança, senão de repulsa, o Outro se torna, aqui, […] um polo de atração para o qual nos voltamos em razão de sua própria alteridade” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 23). Curioso e paradoxal: não é por ser a cartilha feita somente em guarani e a sociedade envolvente falar português (e, obviamente, não tem como acessar seu conteúdo) que esse contato entre os professores da universidade e os das aldeias é conflituoso. Ao contrário: é justamente porque a língua materna foi elevada apesar da sociedade envolvente não a apreender que esse contato é de admissão de um diferente - tanto o indígena admitiu ajuda da universidade para confeccionar o material, quanto a universidade não impôs sua língua e admitiu a indígena.

Evidentemente, como já afirmamos, a relação com o outro é em essência de conflito quanto à linguagem, pois o Si tem acesso ao simulacro do Outro, portanto, a linguagem nunca é neutra e nunca é desprovida de possibilidades de diversas interpretações. De tal maneira que, ainda que exista uma admissão, há sempre um risco implicado, como alerta Landowski:

Com efeito, de tanto os parceiros se aproximarem, empurrados para isso por sua “simpatia” recíproca, de se conhecerem melhor e de melhor se entenderem, de tanto descobrirem que o que os diferencia e, á primeira vista os opõe, os torna ao mesmo tempo complementares e lhes abre novas possibilidades de ação, chegará quase inevitavelmente um momento em que eles, primeiro distintos e separados, mas que entraram desse modo em relação e logo em contato, aspirarão fundir-se e tenderão a confundir-se numa nova totalidade. O fato de esse momento ser, num certo sentido (já que há atração mútua), a própria meta da relação - daí eu lado eufórico -, não evita que ele ponha praticamente - e este será o lado disfórico - termos a isso. A prova disso é que se, por uma ou outra razão, as unidades que se consideraram num determinado momento unidas e, por assim dizer, indistintas, se desunem, nunca mais serão, em seguida, completamente as mesmas relações que “antes” que as reunirão, se for o caso de, mais uma vez, elas se encontrarem. Embora a história permita às vezes tais reencontros, nem por isso ela se repete.

Compreender-se-á nessas condições que, quando as unidades em questão têm o estatuto de sujeitos autônomos, e se apegam a sua respectiva identidade tendo-se mutuamente em estima pelo que são, elas possam ter preocupação, e, às vezes, interesse em retardar o momento dessa pequena ou grande catástrofe (no sentido matemático do termo) que constituiria sua fusão. Pois bem, para isso, não bastará que os parceiros saibam resistir mutuamente um ao outro, nem que fosse somente para deliberadamente manter sua “reserva de si”. Na verdade, é também, e sobretudo frente a si mesmo que será preciso que cada um deles tenha força de “manter-se”. Porque, se se trata de fazer viver, entre Si e Outro, uma relação efetiva de Sujeito a Sujeito, será preciso, de ambas as partes, não ceder nem ao desejo de um total abandono de si mesmo perante o Outro - o que equivaleria a renunciar à própria identidade, com o risco de logo ser para o outro apenas um objeto -, nem ao desejo de uma posse total do outro, que do mesmo modo só poderia chegar a coisificá-lo, despojando-o daquilo que o faz verdadeiramente outro - ao mesmo tempo autônomo e diferente -, isto é, precisamente, daquilo que o torna “atraente” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 23-24, grifos do autor).

É para manter esse contato perene, mas com a fronteira ainda delimitada, que os indígenas fizeram questão de conservar somente a língua original na cartilha a ser distribuída. E é por conta da simpatia mútua que ambos acolheram os ensinamentos do outro: a cartilha traz os procedimentos de distanciamento social e uso de máscaras (indicados pelos médicos da sociedade não indígena) e o uso de plantas medicinais (costumeiro da sociedade indígena). Mas, existem circunstâncias diferenciadas nesse contato: o texto nos informa que uma das professoras que participou da feitura do material é vinculada à gestão municipal e indígena da etnia envolvida. E a instituição que promoveu e realizou o projeto é uma Universidade. Isto é, em ambos os casos, o Estado está envolvido, poderíamos ainda falar em admissão ou seria assimilação? Seria uma admissão, mas os vislumbres são mesmo difíceis, pois não há um enquadramento fechado das categorias mencionadas, como “[…] esse modelo dá uma representação esquemática de uma sintagmática e de uma ‘dinâmica’ da mudança” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 21), sendo assim, subentende-se que é possível que existam intercalações e que o semioticista as definiria, dentro de certa margem, de acordo com suas intenções de pesquisa. Mas parece existir algo a mais também.

Passemos ao exemplo de exclusão. Em janeiro de 2021, as vacinas contra o coronavírus começaram a ser aplicadas nos brasileiros. Foram definidos grupos prioritários e os indígenas aldeados foram colocados entre eles. Durante um período, pessoas começaram a comentar de forma pejorativa ( Figura 2) sobre essa diretriz, a ponto de um promotor público denunciar internautas por racismo. A matéria “Promotor denuncia usuários de redes sociais por comentários racistas contra indígenas em MS”, do G1 MS, relata o caso.

Figura 2 -
Comentários considerados ofensivos contra população indígena

Adaptando as falas transcritas na Figura 2, temos o seguinte diálogo entre - subentendendo-se pelo enunciado - uma pessoa não indígena que mora na cidade e outra indígena que mora na aldeia:

Enunciador nº 1 - Eu acho um absurdo isso. Para nós que saímos todos os dias para trabalhar e produzir, pagamos impostos, temos que ser os últimos da fila. Agora, índio e bandido que só dão despesa têm que ser os primeiros. Isso é Brasil.

Enunciador nº 2 - Como assim? Você acha que nós não pagamos impostos [?] Nós também saímos de casa para trabalhar, viu. Isso quer dizer que aí na cidade não tem ladrão?? Nossa, parabéns para você, sua preconceituosa (G1 MS; TV MORENA, 2021, n.p.).

A discussão é exemplar com relação ao que indicamos anteriormente como a percepção sobre o Outro ser um simulacro. Vejamos que Nós é variável e assume seu “lugar” assim que cada enunciador toma a palavra: “Para nós que saímos (...)” na primeira fala e “Nós também saímos (...)”. Para além de uma simples troca de turno na enunciação, há aqui uma marcação de identidade. Uma demarcação territorial em que o primeiro enunciador tenta se sobrepor ao segundo.

Existe uma tentativa do enunciador número 1 - ainda que criminosa, conforme apontou o promotor - de atingir o enunciatário emocionalmente, pois esse Nós ele atribui a um conjunto de pessoas no qual idealiza estar incluso aquele que lê, já que, seu comentário foi na reportagem de um site de notícias famoso na região. Ela busca um tipo de proteção e cumplicidade para com o que está afirmando. E espera conseguir, pois subentende-se, de acordo com o texto, que um quantitativo considerado de pessoas sai “todos os dias para trabalhar e produzir, [paga] impostos”.

Simultaneamente ao instante em que tenta se enquadrar em determinado grupo social - aquele dos que definiu como que saem para produzir - busca rechaçar o diferente desse grupo que elegeu para Si. Sob o ponto de vista desse enunciador, o “índio” não produz, portanto, não teria direito à vacina pois ficaria em sua casa e não correria risco de se contaminar por ter menos contato com outras pessoas. Demonstra-se a introdução de um simulacro da vida indígena: aquele de um ser da floresta ou mesmo de um ser vagabundo, que não gosta de trabalhar (já que não produz, subentende-se, pelo mundo capitalista que nos circunda e pelo próprio texto, principalmente, que não possuiria trabalho remunerado).

Há uma exclusão com relação à identidade do indígena, uma atitude sem argumentos racionais. Ou seja, um discurso que “procede de um gesto explicitamente passional que tende à negação do Outro enquanto tal” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 9). Para o enunciador número 1, “ índio e bandido [...] só dão despesa”. Ao comparar indígena a bandido figurativiza uma implementação de pena, tanto um quanto o outro precisariam estar encarcerados. Dessa forma, diferentemente do exemplo das “pessoas nas casas” que balançavam “a mãozinha” para os que pediam comida no texto sobre os moradores na rua do Pará - em que os das residências queriam distância, mas não importunavam os demais -, nesse caso o enunciador número 1 quer eliminar completamente o Outro de seu convívio, mantendo-o preso, até mesmo (seja na penitenciária, seja na aldeia, mas ambos longe do centro da cidade).

Por outro lado, outro trecho da reportagem apresenta os pontos de vista de profissionais do direito e da saúde sobre o ocorrido:

A infectologista Andyane Tetila explica os motivos da vulnerabilidade dos indígenas à Covid-19. “Além da constituição genética, por morarem em comunidades mais fechadas, como aldeias, também há o contexto social, de modo cultural de vivência, além da habitação, com muitas pessoas morando na mesma casa. Ainda há de ser considerada a parte cultural do contato entre eles. Então é totalmente diferente da população urbana, que nós conseguimos ter maior controle”, esclarece.

[…]

Para o promotor João Linhares, os comentários preconceituosos e criminosos em notícias precisam ser mais coibidos nas redes sociais. “Essa discriminação, xingamentos e, especialmente, a depreciação da comunidade indígena, são intoleráveis à luz da constituição, das convenções internacionais. [...]”, finaliza ( G1 MS; TV MORENA, 2021G1MS; TV MORENA. Promotor denuncia usuários de redes sociais por comentários racistas contra indígenas em MS. G1MS, 20 jan. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2021/01/20/promotor-denuncia-usuarios-de-redes-sociais-por-comentarios-racistas-contra-indigenas-em-ms.ghtml . Acesso em: 20 maio 2021.
https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-s...
, n.p., grifos nossos).

Pontuando as partes grifadas - vulnerabilidade dos indígenas; contexto social, de modo cultural de vivência, além da habitação, com muitas pessoas morando na mesma casa; a parte cultural do contato entre eles; totalmente diferente da população urbana; discriminação - percebemos que há uma isotopia que caminha por uma temática de proteção ao indígena e sua cultura, ao seu modo de estar no mundo. Tanto as posturas do promotor quanto da infectologista poderiam ser indicadas como: de não-disjunção, porque os admite enquanto diferentes e respeita essas diferenças a ponto de mantê-los em suas aldeias, mas não no sentido de apartá-los do restante da sociedade, mas de respeito a seu ambiente tradicional; de conjunção, pois posiciona-se no sentido de que os indígenas têm de ser incluídos na população prioritária de aplicação das doses de vacina. Mas, também nesses casos teria algo além dessas categorizações?

Acolhimento: seria um curioso caso simultâneo de assimilação e disjunção?

Há alguns anos o estado de Mato Grosso do Sul recebe uma grande quantidade de imigrantes refugiados oriundos de diversos países, mas principalmente do Haiti e da Venezuela. O próximo texto relata um projeto de extensão realizado por professores e estudantes dos Cursos de Letras da Universidade Estadual (UEMS) voltado para esse público, visando, entre outras metas, ensinar a língua portuguesa.

Denominada “UEMS ACOLHE: Além do acolhimento linguístico”, a reportagem foi publicada no portal da instituição de ensino em junho de 2021, quando a pandemia estava em um de seus picos:

“Nossa meta é avançar na defesa dos direitos dos migrantes e seus familiares. O Projeto UEMS ACOLHE busca promover condições para que refugiados e migrantes em situação de vulnerabilidade tenham acesso à aprendizagem da língua portuguesa, favorecendo a integração na comunidade sul-mato-grossense e oferecendo-lhes oportunidades para realização de atividades de caráter cultural, de suporte à educação, de formação e complementação na dimensão humana, social e comunitária”, explica o professor João Fábio Sanches Silva, coordenador geral do Projeto UEMS ACOLHE ( ZARPELON, 2021ZARPELON, Liziane. UEMS ACOLHE: Além do acolhimento linguístico. Portal Uems, 18 jun. 2021. Disponível em: https://portal.uems.br/noticias/detalhes/uems-acolhe-alem-do-acolhimento-linguistico-171255 . Acesso em: 18 jun. 2022.
https://portal.uems.br/noticias/detalhes...
, n.p.).

Se, quando abordamos o texto sobre a cartilha feita para os Guarani-Kaiowá, avistamos que a língua materna era o foco das atenções - visando à manutenção da cultura local e sua proteção -, no projeto da UEMS a proposta é o inverso: ensinar o português aos não falantes do idioma.

Pode-se afirmar que se trata de um caso de conjunção por meio de assimilação porque busca incluir o Outro no mundo do Si. Tem por objetivo promover as condições necessárias para que essa incorporação se dê de forma quase que sem percalços. Parece, conforme o texto apresentado, existir uma sobreposição de uma cultura sobre outra, deixada num alhures pelos imigrantes. Como se, para que possam sobreviver de forma digna, eles não teriam escolha a não ser serem integrados.

E é finalmente este desconhecimento [da cultura do Outro] - ingênuo ou deliberado - que fundamenta a boa consciência do Nós em sua integração assimiladora: não só o estrangeiro tem tudo a ganhar ao se fundir de corpo e alma no grupo que o acolhe, mas, além disso, o que ele precisa perder de si mesmo para aí se dissolver como lhe recomendam não conta, estritamente falando, para nada ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 7).

Se focarmos nos itens destacados no enunciado retirado da reportagem - a integração na comunidade sul-mato-grossense e oferecendo-lhes oportunidades para realização de atividades de caráter cultural, de suporte à educação, de formação e complementação - seria possível apreendermos que existe um lado de assimilação, nos termos de Landowski. Ora, mas será mesmo assim? A própria continuidade do texto traz “na dimensão humana, social e comunitária”. Se é “humana, social e comunitária”, podemos subentender que levaria também em consideração os saberes e a cultura originários dos imigrantes e a troca entre eles e os ministrantes. É o que pode ser mais bem observado no seguinte trecho:

Rafaela Cordeiro é uma das voluntárias do UEMS ACOLHE e conta que fazer parte do projeto é ir muito além dos processos de ensino-aprendizagem da língua portuguesa, pois a primeira função é acolher o humano, o outro que também nos integra. Outros voluntários também relatam que ter contato com a realidade dos migrantes é transformador ( ZARPELON, 2021ZARPELON, Liziane. UEMS ACOLHE: Além do acolhimento linguístico. Portal Uems, 18 jun. 2021. Disponível em: https://portal.uems.br/noticias/detalhes/uems-acolhe-alem-do-acolhimento-linguistico-171255 . Acesso em: 18 jun. 2022.
https://portal.uems.br/noticias/detalhes...
, n.p.).

Enfatizando os termos em destaque - a primeira função é acolher o humano, o outro que também nos integra, ter contato com a realidade dos migrantes é transformador - é possível ver que existe um Si vertido para o Outro. Uma postura da voluntária - uma apreensão ( FONTANILLE, 2017FONTANILLE, Jacques. Corpo e sentido. Tradução de Fernanda Massi e Adail Sobral. Londrina: Eduel, 2017.) por meio de seu corpo - voltada para a conexão com o diferente, para ela, um ser capaz de agir sobre sua percepção e de lhe transformar.

Há um rogo emocional, em que retoricamente busca angariar empatia pelo projeto por meio de um conjunto semântico como “acolher”, “humano”, “o outro que nos integra” - ou seja, acolher o Outro também seria afagar o próprio Si. Mas, haveria aí algo além de assimilação?

Se salientamos aqui essa dúvida e as que fizemos pontualmente ao longo do trabalho no pedaço final de cada seção - se poderíamos dizer que há uma admissão, ou mesmo assimilação, durante a análise dos textos sobre as pessoas na rua em Belém; se poderíamos afirmar o mesmo sobre os comentários a respeito da vacinação destinada aos indígenas; se, ainda no caso da vacinação nas aldeias, se existiria uma postura além de não-disjunção ou de conjunção por parte do promotor e da infectologista - é para explicitar que não há uma definição estanque sobre essas classificações, mas uma que serve de norte. Ela não é “uma grade paradigmática congelada” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 21). Por isso, e até mesmo porque a linguagem nunca é neutra e as possibilidades de efeitos de sentido são diversas, pode ser que existam outras correlações. Em outras palavras, conforme a Sociossemiótica ensina: “Seu principal interesse é, ao contrário, indicar entre posições definidas que servem de ponto de resistência, a presença de zonas de tensão e de vias de passagem que induzem a transformações possíveis, necessárias ou prováveis. [...]” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 21).

Dessa forma, acreditamos que se dispomos essa categorização numa rede tensiva, podemos perceber além de quatro “cantos” de um quadrado semiótico. Podemos verificar uma gradação que incluiria nas categorizações o item “ausente” na tipologia, o acolhimento.

Ao ressignificarmos a palavra emprestada do último texto em análise, percebemos que o acolhimento - enquanto conceito que definiria a apreensão e visada abertas à identidade do Outro, no que tange à receptividade quanto ao advento perante o corpo, à aceitação quanto às diferenças, ao amparo quanto às demandas - é elemento presente nos textos que forma nosso corpus. No que concerne à Semiótica Tensiva, ela nos auxilia na elaboração de redes que, se não desconsideram o quadrado semiótico clássico, o desdobram em uma cadeia de valores que se prolonga em gradações. Nelas, podemos, portanto, acrescer o acolhimento às noções propostas de Landowski. É o que faremos, então.

Tensividade e acolhimento

Se o percurso gerativo proposto por Landowski (2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.) é extremamente eficaz para demonstrar “os pontos de referência” dos atos de apreensão e visada, haveria, a nosso ver, outra forma para demonstrar as possibilidades de valência gradativas da relação entre o Si e o Outro. Podemos correlacionar as categorias encontradas e incrementar o acolhimento, gerando, dessa forma, uma gradação que vai da apreensão menos acolhedora à mais acolhedora, conforme reformulação inspirada na metodologia de redes da Semiótica Tensiva de Zilberberg (2011ZILBERBERG, Claude. Elementos de semiótica tensiva. Tradução de Ivã Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.).

O autor exorbita o quadrado semiótico construindo uma rede com componentes valorativos definidos como sobrecontrários e subcontrários, sendo esses os itens médios da gradação e aqueles os extremos. “Dito isso, pretendemos demonstrar que uma estrutura semiótica, nesse caso o paradigma ingênuo da grandeza do espaço percebido, pode ser descrita com o auxílio de noções e operações que a tradição tem reservado à retórica” ( ZILBERBERG, 2011ZILBERBERG, Claude. Elementos de semiótica tensiva. Tradução de Ivã Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011., p. 200). O autor cita isso quando exemplifica seu parecer por meio do exemplo de uma gradação do nível de grandeza, como exposto a seguir ( Quadro 1):

Quadro 1 -
Rede tensiva feita por Zilberberg demonstrando gradação de grandeza

Sugerimos a possibilidade de exceder a quantidade de quadros da rede proposta por Zilberberg, tendo em vista que, se indica uma gradação, nos permite pressupor que as medidas podem ser inúmeras: “Se a paradigmática valencial se baseia na desigualdade dos intervalos que estabelece de um lado, os sobrecontrários [S1↔S2] e, de outros, os subcontrários [S2↔S3], a sintagmática depende do andamento adotado” ( ZILBERBERG, 2011ZILBERBERG, Claude. Elementos de semiótica tensiva. Tradução de Ivã Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011., p. 120).

Quadro 2 -
Rede tensiva da gradação de acolhimento presente nos textos analisados

Verifica-se que, por meio da rede tensiva e das análises anteriores sobre os textos, que a gradação do acolhimento é gerada de acordo com o maior ou menor grau de conhecimento sobre o Outro. Ou seja, quanto maior a ignorância do Si sobre o Outro, menor será o grau de tolerância. Sendo assim, o Quadro 2 apresenta S1 → S6 um sentido que leva ao estabelecimento do acolhimento, e, em S1 ← S6, um sentido que caminha ao recrudescimento.

Com essas indicações em mente, podemos responder às perguntas propostas no início de nosso trabalho. Em meio a esta pandemia pelo novo coronavírus, qual o grau de admissão em nossa existência, ou nas diversas esferas de tomadas de decisões cotidianas, perante aqueles que denominamos Outro? Não há uma postura única perante o outro. Ela é sempre conflituosa, no sentido de gerar desconforto porque é para o Si um simulacro. Ou seja, o Si tem noção de seu corpo próprio, pois este é para ele seu passe para perceber o mundo, o corpo é o ser “pelo qual assumimos o espaço, o objeto ou o instrumento” ( MERLEAU-PONTY, 2022MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2022., p. 213). Mas o Si cometerá um erro se achar que por ser corpo entende o corpo do outro como idêntico ao seu: não há como sentir-se pelo/no outro. Pode-se, somente, fazer uma analogia. E essa tentativa de entender o Outro é que gera a polêmica, que é conflituosa por excelência. O Si, se pretender entender o Outro, só o pode por meio de suas próprias apreensões e visadas. E, se se pretende entender o Outro, é preciso um esforço. É por isso que existe uma gradação desse esforço: que pode ir, segundo os textos que foram nosso corpus analisado, do ódio ao envolvimento - mas, como propomos, essa gradação em rede pode ser estendida para demais quadros da rede para outros elementos que se queiram, porventura, explorar.

Perguntamos ainda se esse Outro, a todo o momento (re)construído discursivamente - como vimos perante a apreciação interna dos textos selecionados -, é esquecido e/ou silenciado? É esquecido e é silenciado. Quando verificamos os moradores em situação de rua em Belém, por viverem na rua são, subentende-se pelo texto, esquecidos pelo Poder Público e são silenciados pelos moradores das residências, pois, quando vão pedir comida, sequer responder com palavras, mas com gestos: “só balançam a mãozinha [negativamente]”, lembrando o pronunciamento da entrevista na reportagem. Quando a moradora da cidade questiona se os indígenas teriam preferência para recebimento da imunização, há também aí uma tentativa de silenciamento. Mesmo que o(a) indígena tenha replicado o comentário, a enunciadora anterior não queria dialogar, pois estava dissipando sua opinião criminosa, sob a percepção do promotor de justiça.

Parece-nos que, a partir do que acabamos de expor, perante esse amalgama de percepções, há o acolhimento que cresce conforme a ignorância (no sentido de falta de conhecimento) diminui. Sendo assim, podemos finalizar com a proposição do gráfico tensivo gradando a relação acolhimento-ignorância:

Gráfico 1 -
Tensividade da relação acolhimento-ignorância

Observamos, por meio do gráfico, que, é possível partir de um alto grau de ignorância com destino ao acolhimento - pelo caminho ódio→aversão→zelo→caridade (oferta)→estima (consideração)→envolvimento. Há uma relação inversa entre ignorância e acolhimento, pois, quanto menos o Si torna-se ignorante com relação ao Outro, mais ele tende a se tornar acolhedor.

Se, quando comentávamos ainda nas primeiras seções deste texto sobre nossa proposição a respeito da postura do Si perante o Outro afirmamos, inspirados por Merleau-Ponty (2022), pensar o corpo como centro perceptivo, nosso canal de relação com o mundo, a partir do gráfico tensivo proposto para gradar a relação acolhimento-ignorância, podemos dizer que o Outro não é um objeto perante o Si, ou vice-versa. Essa relação é mais imbrincada que um simples contato objetivo. Poderíamos aludir novamente ao fenomenólogo:

[…] agora outrem não é mais para mim um simples comportamento em meu campo transcendental, aliás nem eu no seu, nós somos, um para o outro, colaboradores em uma reciprocidade perfeita, nossas perspectivas escorregam uma na outra, nós coexistimos através do mesmo mundo ( MERLEAU-PONTY, 2022MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2022., p. 475).

O caminho proposto pelo gráfico é uma possibilidade da gradação desse processo polêmico (pensado a partir dos enunciados analisados) que é a relação entre os corpos. Se há polêmica, ela pode ser ora mais conflituosa (tendendo ao ódio), ora menos conflituosa (tendendo ao acolhimento).

Considerações finais

Estimulados pelas definições de Landowski, sobremaneira no que concerne às “buscas de identidade” e “crises de alteridade” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. 3-30), e pela tensividade apontada por Zilberberg (2011ZILBERBERG, Claude. Elementos de semiótica tensiva. Tradução de Ivã Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.), propusemos que a visão do Si sobre o Outro é complexa e conflituosa e pode ser disposta em gradações de distanciamento ou proximidade, ou, o que chamamos de acolhimento. Sendo este um conceito eficaz para - a partir de sua gradação em redes e gráficos tensivos - demonstrar o nível de polêmica entre o Si e o Outro, já que a relação é, geralmente, de dissenso.

Imersos sobre os estudos de textos publicados durante o período de pandemia pela Covid-19, objetivamos, em termos gerais, tentar responder a algumas indagações que abordavam o grau de admissão em nossa existência a respeito daqueles que denominamos de Outro e se esse Outro é esquecido e/ou silenciado. A partir das análises e das formulações das redes e gráficos tensivos, conseguimos apontar algumas possibilidades de resolução dessas dúvidas. Especificamente, objetivamos apontar, por meio das estratégias retóricas de convencimento envolvendo o afeto, uma proposta de medição do nível de assimilação do Outro na vida do Si. Possibilidades de interpretação nesse sentido foram formuladas durante as análises de cada enunciado, bem como a feitura do gráfico final possibilitou uma visualização melhor dessa gradação, que pode, por exemplo, deslocar-se do ódio ao envolvimento.

Debruçamo-nos sobre reportagens que relatavam: a entrega de alimentos a pessoas em situação de rua; à confecção de uma cartilha sobre cuidados sanitários em guarani; a uma denúncia feita à Justiça sobre comentários racistas referentes aos indígenas; e sobre projeto de extensão universitária de acolhimento a imigrantes. Como resultado dos apontamentos pode-se inferir que a relação Si-Outro não é harmônica, mas de dissenso, todavia, tende mais ou menos para o acolhimento à medida que a ignorância sobre o Outro diminui ou aumenta, respectivamente.

Referências

  • FONTANILLE, Jacques. Corpo e sentido Tradução de Fernanda Massi e Adail Sobral. Londrina: Eduel, 2017.
  • GREIMAS, Algridas Julius; COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica Tradução de Alceu Dias Lima, Diana Luz Pessoa de Barros, Eduardo Peñuela Cañizal, Edward Lopes, Ignacio Assis da Silva, Maria José Castagnetti Sombra e Tieko Yamaguchi Miyazaki. 2. ed. 3. reimp. São Paulo: Contexto, 2021.
  • G1MS; TV MORENA. Promotor denuncia usuários de redes sociais por comentários racistas contra indígenas em MS. G1MS, 20 jan. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2021/01/20/promotor-denuncia-usuarios-de-redes-sociais-por-comentarios-racistas-contra-indigenas-em-ms.ghtml Acesso em: 20 maio 2021.
    » https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2021/01/20/promotor-denuncia-usuarios-de-redes-sociais-por-comentarios-racistas-contra-indigenas-em-ms.ghtml
  • LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.
  • MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2022.
  • PEDROSA NETO, Cícero. Invisível e desamparada, população de rua aumentou em Belém durante a pandemia. Amazônia Real, 11 ago. 2021. Disponível em: https://amazoniareal.com.br/invisivel-e-desamparada-populacao-de-rua-aumentou-em-belem-durante-a-pandemia/ Acesso em: 12 ago. 2021.
    » https://amazoniareal.com.br/invisivel-e-desamparada-populacao-de-rua-aumentou-em-belem-durante-a-pandemia/
  • UFGD. Professores da UFGD elaboram cartilha em guarani com orientações de combate à pandemia: Realizada em parceria com docentes da educação escolar indígena de Dourados, a iniciativa tem por objetivo tornar as informações acessíveis a toda a população indígena da macrorregião. Portal UFGD, 16 abr. 2020. Disponível em: https://portal.ufgd.edu.br/noticias/professores-da-ufgd-elaboram-cartilha-em-guarani-com-orientacoes-de-combate-a-pandemia Acesso em: 12 ago. 2021.
    » https://portal.ufgd.edu.br/noticias/professores-da-ufgd-elaboram-cartilha-em-guarani-com-orientacoes-de-combate-a-pandemia
  • ZARPELON, Liziane. UEMS ACOLHE: Além do acolhimento linguístico. Portal Uems, 18 jun. 2021. Disponível em: https://portal.uems.br/noticias/detalhes/uems-acolhe-alem-do-acolhimento-linguistico-171255 Acesso em: 18 jun. 2022.
    » https://portal.uems.br/noticias/detalhes/uems-acolhe-alem-do-acolhimento-linguistico-171255
  • ZILBERBERG, Claude. Elementos de semiótica tensiva Tradução de Ivã Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.
  • 1
    Como asseveram Merleau-Ponty (2022MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2022.) e Fontanille (2017FONTANILLE, Jacques. Corpo e sentido. Tradução de Fernanda Massi e Adail Sobral. Londrina: Eduel, 2017.).
  • 2
    Embora trate sobremaneira a respeito do estrangeiro, tomemos liberdade de extrapolar as definições de Landowski (2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.) sobre o Outro, já que o Outro, como o próprio autor nos ensina, não é um não-si que tem o papel - por meio da linguagem - de definir a própria figura do eu, ou seja, um “terceiro” que não é um mero espectador das atitudes e percepções do um, mas de servir como auxiliar da caracterização desse próprio um. Em outras palavras: “Não, todavia, a [figura] de um simples ‘Ele’ situado à distância, mas aquela forma específica do Outro que tem por função enviar ao sujeito sua própria imagem, ‘representando-o’” ( LANDOWSKI, 2012LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de May Amazonas Leite de Barros. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012., p. XI).
  • 3
    Usamos esse termo para relembrar nossa “extrapolação abalizada” explicada na nota anterior.
  • 4
    Indicamos “estima (consideração)” em grau mais alto que “caridade (oferta)” porque, pelos textos analisados, a apreensão de que o Outro precisa ser considerado em sua integralidade nos parece, nesse caso específico, mais relevante que doar algo, ainda que seja alimento.

Editado por

Editora-chefe dos Estudos de Linguagem:

Bethania Mariani

Editores convidados:

Pierluigi Basso-Fossali, Renata Mancini

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Abr 2023
  • Aceito
    03 Set 2023
Programas de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n, Bloco C - sala 518, CEP 24210-201 - Niterói, Rio de Janeiro, Brasil., Telefone +55 21 2629-2600 - Niterói - RJ - Brazil
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