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Um dia todos seremos Montag

One day we will be Montag

Resumos

Partindo de conversa comum em que a menção de Guernica causou constrangimento, pois as pessoas não conheciam o quadro, discutimos o caráter educacional especializado, em que os campos gerais do conhecimento não são valorizados. Isto denota falta de leitura que, quando praticada, é mero consumo. A escola tenta desenvolver esta prática, mas erra na concepção do ler e no não atendimento às necessidades do aluno. O professor não cumpre o papel de mediador, nem mostra a leitura como superação de dogmas. É urgente rever a política curricular, presa à cultura hegemônica. Assim, a escola deve abrir-se ao multiculturalismo, revelar a flutuação dos conceitos culturais. Na arte, tem de ensinar como esta não se faz cumprindo regras, mas rompendo-as, ao lado do que, o aluno aprenderá que cultura é crise. Percebendo isso, terá conhecimento de sua subjetividade como processo em construção e cultura como interdependência. Arte não é sagrada. Desmistificando mitos, o aluno está em condições de ser o modelador de sua história, não apenas consumidor de alheias. Verá a angústia como deflagradora de criatividade, impulso à superação de limites. Como a literatura perde espaço na sociedade, torna-se esotérica, recomendamos seu abandono, em nome de outras narrativas que ensinarão a sociedade como trançado de discursos. Sensibilizado e consciente disto, o aluno então pode trabalhar o literário como relação especial entre os discursos sociais.

desmistificação; multiculturalismo; leitura não-literária


This works starts with the analysis of an uncomfortable situation created, in a occasional speech, by the mention to Guernica, since involved people didn't know the picture. We discuss, here, the character of specialized education, in which general areas of education are not valorized, what reveals reading lack, which when is done it is just for consume. School tries to develop this practice but commit mistakes in relation to its conception of reading and do not understand learners necessities. Teachers do not play the role of mediator, neither present reading as dogma overcoming. It's urgent to review Curriculum policy, which is product of hegemonic culture. In this way, school should open itself for multiculturalism and reveal the cultural concepts fluctuation. In art, it's to teach how it doesn't exist following rules but break that ones, at the same time, learners will learn that culture is crisis. After notice that, learners will know their subjectivity as a building process and culture as interdependence. Art is not sacred. Demystifying myths, the learner is in condition to be builder of his own history and not just a consumer of other ones histories. The learner will see anguish as creativity outbreak and impulse to limits overcome. As literature looses its place in society, it becomes esoteric, and we recommend its abandon, in name of other narratives that will teach society as discourse twisting. Tender-hearted and conscious of that, learner can work then the literary as special relation among the social discourses.

Demystification; multiculturalism; not-literary reading


DOSSIÊ - LINGUAGEM E ENSINO: TEMAS E PERSPECTIVAS

Um dia todos seremos Montag

One day we will be Montag

Paulo Venturelli

Doutor em Literatura Brasileira pela USP. Professor de Literatura Brasileira do DELIN/UFPR. paventur@uol.com.br

RESUMO

Partindo de conversa comum em que a menção de Guernica causou constrangimento, pois as pessoas não conheciam o quadro, discutimos o caráter educacional especializado, em que os campos gerais do conhecimento não são valorizados. Isto denota falta de leitura que, quando praticada, é mero consumo. A escola tenta desenvolver esta prática, mas erra na concepção do ler e no não atendimento às necessidades do aluno. O professor não cumpre o papel de mediador, nem mostra a leitura como superação de dogmas. É urgente rever a política curricular, presa à cultura hegemônica. Assim, a escola deve abrir-se ao multiculturalismo, revelar a flutuação dos conceitos culturais. Na arte, tem de ensinar como esta não se faz cumprindo regras, mas rompendo-as, ao lado do que, o aluno aprenderá que cultura é crise. Percebendo isso, terá conhecimento de sua subjetividade como processo em construção e cultura como interdependência. Arte não é sagrada. Desmistificando mitos, o aluno está em condições de ser o modelador de sua história, não apenas consumidor de alheias. Verá a angústia como deflagradora de criatividade, impulso à superação de limites. Como a literatura perde espaço na sociedade, torna-se esotérica, recomendamos seu abandono, em nome de outras narrativas que ensinarão a sociedade como trançado de discursos. Sensibilizado e consciente disto, o aluno então pode trabalhar o literário como relação especial entre os discursos sociais.

Palavras-chave: desmistificação, multiculturalismo, leitura não-literária.

ABSTRACT

This works starts with the analysis of an uncomfortable situation created, in a occasional speech, by the mention to Guernica, since involved people didn't know the picture. We discuss, here, the character of specialized education, in which general areas of education are not valorized, what reveals reading lack, which when is done it is just for consume. School tries to develop this practice but commit mistakes in relation to its conception of reading and do not understand learners necessities. Teachers do not play the role of mediator, neither present reading as dogma overcoming. It's urgent to review Curriculum policy, which is product of hegemonic culture. In this way, school should open itself for multiculturalism and reveal the cultural concepts fluctuation. In art, it's to teach how it doesn't exist following rules but break that ones, at the same time, learners will learn that culture is crisis. After notice that, learners will know their subjectivity as a building process and culture as interdependence. Art is not sacred. Demystifying myths, the learner is in condition to be builder of his own history and not just a consumer of other ones histories. The learner will see anguish as creativity outbreak and impulse to limits overcome. As literature looses its place in society, it becomes esoteric, and we recommend its abandon, in name of other narratives that will teach society as discourse twisting. Tender-hearted and conscious of that, learner can work then the literary as special relation among the social discourses.

Key-words: Demystification, multiculturalism, not-literary reading.

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Full text available only in PDF format.

Texto recebido em 22 jul. 2002

Texto aprovado em 26 ago. 2002

1 LIBÂNIO, C. A. (Frei Betto). Um sentido para a vida. Revista de educação, Salvador, n. 27, p. 13, dez. 1999. CEAP.

2 BRASILEIRO não encontra prazer na leitura. Folha de São Paulo, 14 jul. 2001. Ilustrada, p. E-8.

3 Com relação à nova política curricular, recomendamos: SILVA, T. T. da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

4 ESCARPIT, apud MELO, J. M. de. Os meios de comunicação de massa e o hábito de leitura. In: BARZOTTO, V. H. Estado de leitura. Campinas: Mercado de Letras/Associação de Leitura do Brasil, 1999. p. 73.

5 MCLAREN, P. Multiculturalismo e a crítica pós-moderna: por uma pedagogia de resistência e transformação. In: ______. Multiculturalismo crítico. São Paulo: Cortez, 1997. p. 54-104.

6 MORAIS, F. Arte é o que eu e você chamamos arte: 801 definições sobre arte e o sistema da arte. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 176.

7 JOHNSON, R. O que é, afinal, Estudos Culturais? Trad. e org.: Tomaz T. da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 27.

8 ESCOSTEGUY, A. C. D. Cartografias dos estudos culturais: uma versão latino-americana. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 43.

9 ESCOSTEGUY, op. cit, p. 47.

10 MAGRIS, C. Microcosmos. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. p. 122.

11 MORAIS, op. cit., p. 174.

12 MAY, R. A coragem de criar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 19.

13 MACHADO, C. E. O balanço de Cony: escritor prepara "Missa para o Papa Marcello", sua última ficção. Folha de São Paulo, 2 fev. 2002. Ilustrada, p. E-1 e E-3. Entrevista.

14 Sobre a noção do pós-humano, cf. HARAWAY, D.; KUNZRU, H.; SILVA, T. T. da (Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

15 LIBÂNIO, op. cit., p. 14-15.

16 MORAIS, op. cit., p. 177.

17 SIBOLDI, G.; SALVO, M. di. A evolução da informática e as relações afetivas do indivíduo. In: PELUSO, A. (Org.). Informática e afetividade: a evolução tecnológica condicionará nossos sentimentos? Bauru: Edusc, 1998. p. 13.

18 LINS, O. Lima Barreto e o espaço romanesco. São Paulo: Ática, 1976.

19 A respeito desta questão, cf. VENTURELLI, P. Leitura: paixão do conhecimento. Letras, Curitiba, n. 44, p. 175-184, 1995.

20 NOOTEBOOM, C. Jornal do Brasil, 9 dez. 1995. Idéias. (Notas de arquivo, sem referências bibliográficas).

21 FREIRE, P. Da leitura do mundo à leitura da palavra. In: BARZOTTO, op. cit., p. 29. Entrevista concedida a Ezequiel T. da Silva.

22 YUNES, E. Além do domínio do alfabeto. Gazeta do Povo, Curitiba, 18 nov. 2001. Caderno G, p. 7. Entrevista.

23 MANGUEL, A. Ler é poder. Veja, p. 15, 7 jul. 1999. Entrevista.

24 LIBÂNIO, op. cit., p. 15.

25 GUMBRECHT, H. U. Modernização dos sentidos. São Paulo: Editora 34, 1998. p. 317.

26 MANGUEL, op. cit., p. 15.

27 BIZZOCCHI, A. Repensando o ensino de literatura. Folha de São Paulo, 10 jul.2000. p. A-3. Acrescentamos à sugestão do autor as obras de Stephen Jay Gould, Richard Dawkins, Alan Lightman, Freman Dyson, Russel Martin, Marcelo Gleiser que, além de livros, têm seus artigos estimulantes publicados semanalmente no caderno Mais! da Folha de São Paulo; Rogério Cerqueira Leite, a coleção "Baderna", da Editora Conrad, que focaliza as novas formas de organização e luta contra os desmandos do capital, a revista Galileu e dezenas de outras publicações que trazem o mundo escrito e são excelentes condutos para preencher o espaço estéril de tantas salas de aula.

28 ESCOSTEGUY, op. cit., p. 41.

29 BIZZOCCHI, op. cit., p. 3.

30 MANGUEL, op. cit., p. 14.

31 BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p.

33. 32 BLOOM, H. Como e porque ler. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 15.

  • BAKHTIN, M. Estética da criação verbal São Paulo: Martins Fontes, 1992.
  • BARZOTTO, V. H. (Org.). Estado de leitura Campinas: Mercado de Letras/Associação de Leitura do Brasil, 1999.
  • BIZZOCCHI, A. Repensando o ensino de literatura. Folha de São Paulo, 10 jul. 2000. p. A-3.
  • BLOOM, H. Como e por que ler Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
  • BRASILEIRO não encontra prazer na leitura. Folha de São Paulo, 14 jul. 2001. Ilustrada, p. E-8.
  • CONY, C. H. O balanço de Cony. Folha de São Paulo, 2 fev. 2002. Ilustrada, p. E-1 e E-2. Entrevista concedida a Cassiano E. Machado.
  • ESCOSTEGUY, A. C. Cartografias dos estudos culturais: uma versão latino-americana. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
  • GUMBRECHT, H. U. Modernização dos sentidos São Paulo: Editora 34, 1998.
  • JOHNSON, R.; ESCOSTEGUY, A. C.; SCHULMAN, N. O que é, afinal, Estudos Culturais Trad. e org. Tomaz T. da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
  • LIBÂNIO, C. A. (Frei Betto). Um sentido para a vida. Revista de Educação, Salvador, n. 27, p.7-19, dez. 1999. CEAP.
  • MAGRIS, C. Microcosmos Rio de Janeiro: Rocco, 2002.
  • MANGUEL, A. Ler é poder. Veja, São Paulo, p. 11-15, 7 jul. 1999. Entrevista a Tania Menaí
  • MAY, R. A coragem de criar Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
  • MCLAREN, P. Multiculturalismo crítico São Paulo: Cortez, 1997.
  • MORAIS, F. Arte é o que eu e você chamamos arte: 801 definições sobre arte e o sistema da arte. Rio de Janeiro: Record, 1998.
  • PELUSO, A. (Org.). Informática e afetividade: a evolução tecnológica condicionará nossos sentimentos? Bauru: Edusc, 1998.
  • SILVA, T. T.; HARAWAY, D.; KUNZRU, H. (Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
  • ______. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
  • VENTURELLI, P. Leitura: paixão do conhecimento. Revista Letras, Curitiba, n. 44, p. 175-184, 1995.
  • YUNES, E. Além do domínio do alfabeto. Gazeta do Povo, Curitiba, 18 nov. 2001. Caderno G, p. 7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 2002

Histórico

  • Aceito
    26 Ago 2002
  • Recebido
    22 Jul 2002
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