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EM BUSCA DE UMA TERMINOLOGIA DIACRÔNICA SISTEMATIZADA: ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS EM FOCO

TOWARDS A SYSTEMATIZED DIACHRONIC TERMINOLOGY: SOME BASIC CONCEPTS IN FOCUS

RESUMO

A diacronia nem sempre é um aspecto abordado pelos estudos que se debruçam sobre os termos à luz de diferentes perspectivas em Terminologia. Dentre elas, a Terminologia Diacrônica (TD), concebida como uma vertente que tem o principal objetivo de enfocar esse aspecto a partir de diversas abordagens teóricas e metodológicas, tem recebido mais atenção nas últimas décadas em trabalhos diversos, cujo ponto em comum é a adoção de uma abordagem terminológico-diacrônica. A diversidade dessas pesquisas é tamanha que, de acordo com Dury e Picton (2009)DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41., acaba gerando contornos teóricos e metodológicos vagos e imprecisos em Terminologia. Com o intuito, então, de contribuir com uma organização desses contornos, em português brasileiro, já que, em nosso país, estudos (sobretudo teóricos) nesse viés ainda são incipientes, tratamos, neste artigo, de apresentar um panorama de pesquisas internacionais e nacionais, destacando suas principais características em termos de contribuição e de concepções de base. Partindo desse panorama, discutimos o uso, nesses estudos, de alguns termos que se referem aos fenômenos analisados e às implicações teóricas e metodológicas que são reiteradas pelas concepções relativas a essas unidades terminológicas. Com isso, esperamos que este trabalho possa despertar mais interesse por essa abordagem e, indo mais além, servir, talvez, como um ponto de partida para pesquisas a serem desenvolvidas especialmente no Brasil.

Palavras-chave:
t erminologia diacrônica; terminológica histórica; abordagem diacrônica; abordagem histórica; diacronia

ABSTRACT

Diachrony is not always an aspect discussed by terminological studies that can be based on different perspectives. Among them, Diachronic Terminology (DT), conceived as an approach that has the main characteristic of focusing on this aspect, has received more attention in recent decades by several works, whose common characteristic is the adoption of a terminologicaldiachronic approach. The diversity of these research is enormous, which and, according to Dury and Picton (2009)DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41., generates vague and imprecise theoretical and methodological contours in Terminology. To contribute to an organization of these contours in Brazilian Portuguese, since, in our country, studies (especially the theoretical ones) in this regard are still incipient, this paper presents an overview of international and national research by highlighting their main characteristics in terms of contribution and basic conceptions. Based on this panorama, the use of some terms in these studies that refer to the phenomena analyzed, and their theoretical and methodological implications are discussed. Thus, it is hoped that this work may arouse more interest in this approach and, going further, it can serve as an initial guide, as it discusses some paths that can be followed by investigations to be developed especially in Brazil.

Keywords:
diachronic terminology; historical terminology; diachronic approach; historical approach; diachrony

INTRODUÇÃO

Em Terminologia, a diacronia nem sempre foi um fenômeno abarcado pelos estudos que se debruçam sobre os termos à luz de diferentes olhares, e diversos são os motivos que explicam esse fato (cf. DURY; PICTON, 2009DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41.). Foi somente em 19881 1 Consideramos, em consonância com outros pesquisadores da área, que esse evento é um importante marco para os estudos terminológicos diacrônicos. Contudo, vale dizer que, fora da Terminologia, é possível encontrar estudos diacrônicos sobre vocabulários técnicos (cf. MARONEZE; ALVES, 2019). que esse aspecto ganhou, de forma inédita, um reconhecimento maior com o colóquio Terminologie Diachronique, que ocorreu na Bélgica e reuniu importantes estudiosos sobre o léxico especializado. Sua temática central foi a história da terminologia a partir de três perspectivas: história da Ciência dos termos, história dos vocabulários e terminologia diacrônica e sociedade (HANSE, 1989). A relevância desse evento reside no fato de que, até então, “não se concebia validade científica aos estudos terminológicos em diacronia” (MACEDO, 2019MACEDO, Cristian Cláudio Quinteiro. (2019). A arte da tradução: um breve exercício de Terminologia Diacrônica. Cadernos do IL, v. 59, p. 255-270., p. 61). Ele pode ser considerado, portanto, um divisor de águas por possibilitar uma mudança marcante nesse cenário.

Uma das ideias fortemente discutidas nesse colóquio é a de que a Terminologia só poderia ser concebida como diacrônica. Tal afirmação, em um contexto internacional de forte difusão da perspectiva normalizadora implantada pela Teoria Geral da Terminologia (TGT), mostra-se bastante desafiadora e pode ser explicada da seguinte forma:

se a Terminologia for considerada como essa parte da epistemologia que estuda a relação entre pensamento científico e linguagem científica, admitir-se-á que a Terminologia somente pode ser concebida como diacrônica. A própria essência da ciência e da indústria é o seu caráter temporal (o famoso progresso) e só é possível estudar as línguas da ciência estudando o seu desenvolvimento2 2 No original: “si l’on conçoit la terminologie comme cette partie de l’épistémologie qui étudie le rapport entre pensée scientifique et langage scientifique, on admettra que la terminologie ne peut être conçue que comme diachronique. L’essence même de la science et de l’industrie est leur caractère temporel (le fameux progrès) et on ne peut étudier les langues de la science qu’en étudiant leur développement”. (BAUDET, 1988BAUDET, Jean-Claude. (1988). Histoire du vocabulaire de spécialité, outil de travail pour l’historien des sciences et des techniques. In: Actes du Colloque Terminologie diachronique, Bruxelas, CILF. p. 56-67., p. 856, tradução nossa).

Para Baudet (1988)BAUDET, Jean-Claude. (1988). Histoire du vocabulaire de spécialité, outil de travail pour l’historien des sciences et des techniques. In: Actes du Colloque Terminologie diachronique, Bruxelas, CILF. p. 56-67., então, uma vez que o progresso é inerente às ciências e à indústria, é inevitável que esses ramos se transformem com o passar do tempo, alterando, consequentemente, a sua linguagem. É, sobretudo, por esse motivo que o autor afirma que um termo não só pode, como deve, ser estudado do ponto de vista diacrônico.

Ao longo dos anos subsequentes, como se sabe, houve uma profusão de propostas teóricas criadas em resposta às críticas à TGT muito em função das necessidades advindas da prática terminológica que acontecia, especialmente, por motivos de planificação linguística em alguns países, tais como o Canadá (no Quebec) e a Espanha (na Catalunha). Aos poucos, a Terminologia Diacrônica (TD) foi conquistando, então, um espaço de discussão cada vez maior e mais amplo no âmbito dos estudos terminológicos. Tanto que, dez anos após o colóquio belga, em 1998, outro aconteceu em Barcelona. La historia de los lenguajes iberorrománicos de especialidad (siglos XVII-XIX). Soluciones para el presente tratou de “revisitar a concepção tradicional da Terminologia: apropriação e rupturas de epistemologias que norteavam a Terminografia do final da Idade Moderna, a partir de uma pesquisa diacrônica, tomando como essencial os conceitos e suas relações” (SOUZA, 2007SOUZA, Ivan Pereira de. (2007). Do engenho à usina: estudo diacrônico da terminologia do açúcar. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo., p. 53). Assim, esse colóquio contribuiu para “evidenciar que as soluções para a formação de terminologias e de tipos de textos especializados oferecidas em épocas passadas podem contribuir e guiar soluções para questões e problemas contemporâneos” (MARONEZE; ALVES, 2019MARONEZE, Bruno; ALVES, Ieda Maria. (2019). Um estudo de História da Terminologia: os termos em William Harvey (1628). Polifonia, v. 26 n. 41, p. 84-102, p. 87).

De lá para cá, outros eventos aconteceram3 3 Dentre eles, a segunda edição do colóquio de Barcelona (BRUMME, 1999) e outro que enfocou a influência da tradução na história das linguagens especializadas (ALSINA, 2003), mencionados por Maroneze e Alves (2019), além do VIII Colóquio Internacional sobre a História das Linguagens Ibero-românicas de Especialidade (CIHLIE), que ocorreu mais recentemente (em 2019) em Pisa, Itália (FINATTO, 2020). A próxima edição do CIHLIE está prevista para acontecer em maio de 2022 em Barcelona, Espanha. e trabalhos diversos, cujo ponto em comum é a adoção de uma abordagem terminológico-diacrônica, vêm sendo desenvolvidos. A diversidade é tamanha que, de acordo com Dury e Picton (2009)DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41., acaba gerando contornos teóricos e metodológicos vagos e imprecisos em Terminologia. Com o intuito, então, de contribuir com uma organização desses contornos, especialmente em português brasileiro, tratamos, neste artigo, de apresentar um panorama das pesquisas realizadas no Brasil e no exterior, destacando suas principais características em termos de contribuição, pressupostos teóricos e concepções de base. Partindo desse panorama, discutimos alguns termos empregados para se referir a esse tipo de estudo e suas implicações teóricometodológicas. Ao final, tecemos algumas considerações sobre o exposto, esperando contribuir, dessa forma, com uma possível sistematização da TD.

1. PANORAMA DE INVESTIGAÇÕES INTERNACIONAIS E NACIONAIS: A TD EM FOCO

Esta seção reúne algumas das principais investigações na área, em uma tentativa de compreender de que modo esses estudos concebem alguns conceitos de base, como termo e conceito, em seus pressupostos. Primeiramente, apresentamos algumas pesquisas realizadas no exterior para, em seguida, traçarmos um panorama do que vem sendo feito no Brasil nas últimas décadas sobre o tema4 4 Cumpre dizer que nossas observações não pretendem ser exaustivas no sentido de trazer todos os trabalhos existentes, pois diversos fatores nos impedem de fazê-lo: impossibilidade de acesso a todos eles por diferentes motivos, a própria limitação de tamanho deste artigo, dentre outros. Apesar de haver essas restrições, pretendemos trazer um panorama que, no geral, seja representativo das propostas que existem no Brasil e no mundo em termos de estudos em TD. Desse modo, consideramos as pesquisas realizadas exclusivamente à luz das abordagens teóricas que integram o rol de teorias em Terminologia, ainda que o façam em associação a outras disciplinas científicas. . Tratamos, portanto, de abordar os seguintes aspectos em nossas considerações, não necessariamente nessa ordem: i) apresentação e contextualização do trabalho; ii) fundamentos teóricos, dando enfoque às concepções de termo e conceito; e iii) principais contribuições.

2. PANORAMA DA TD NO EXTERIOR

As primeiras contribuições que apresentamos são fruto dos trabalhos desenvolvidos por Pascaline Dury. Em sua tese, Dury (1997)DURY, Pascaline. (1997). Etude comparative et diachronique de l’évolution de dix dénominations fondamentales du domaine de l’écologie en anglais et en français. Thèse de doctorat, Université Lumière -Lyon 2, Editions du Septentrion., além de observar a evolução conceitual e lexical de alguns termos fundamentais ao domínio da Ecologia, compara essa transformação entre o francês e o inglês, evidenciando a relevância do conhecimento da história dos conceitos denominados pelos termos para o ofício de tradutores. Desde sua defesa, suas pesquisas têm versado sobre a evolução terminológica de diferentes subdomínios da área de biológicas, tais como a Medicina, a Ecologia e a Farmacologia, estudando sobre diversos aspectos, dentre os quais constam a evolução conceitual de alguns desses termos (cf. DURY, 1999DURY, Pascaline. (1999). Étude comparative et diachronique des concepts ecosystem et écosystème. Meta : journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 44, n° 3, p. 485-499.), a metonímia (cf. DURY, 2008aDURY, Pascaline. (2008a). Les noms du pétrole : une approche diachronique de la métonymie onomastique. Lexis, 1, p.10-22.), a variação sinonímica (cf. DURY, 2008bDURY, Pascaline. (2008b). The Rise of Carbon Neutral and Compensation Carbone: A Diachronic Investigation into the Migration of Vocabulary from the Language of Ecology to Newspaper Language and Vice Versa. Terminology, v. 14, n. 2, p.230-248.), o sentimento de necessidade neológica (cf. DURY, 2013DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10.), os ritmos de obsolescência dos termos (cf. DURY, 2021DURY, Pascaline. (2021). L’obsolescence terminologique dans le domaine de la pharmacologie, Linx, 82.), dentre outros, além de contribuir com discussões de cunho teórico, sobretudo com relação às noções de termo e conceito em diacronia.

No que tange a essas concepções, Dury (2005)DURY, Pascaline. (2005). Terminology and specialized translation: the relevance of the diachronic Approach. LSP and professional communication, v. 5, nº 1, p. 31-41. defende que, de um ponto de vista diacrônico, a oposição entre termo e palavra é questionável e contraproducente, uma vez que, especificamente em seu trabalho, ela observa que parte da linguagem da Ecologia é tanto da comunicação especializada quanto da comunicação geral e, inclusive, representa uma zona de transição entre as duas em diversos aspectos. Por essa razão, a autora considera o termo como uma entidade lexical que transcende as fronteiras da linguagem dos especialistas e pode também ser usada pelo público geral. Para Dury (2005)DURY, Pascaline. (2005). Terminology and specialized translation: the relevance of the diachronic Approach. LSP and professional communication, v. 5, nº 1, p. 31-41., quando esse movimento acontece, na maior parte dos casos, a essência do conceito denominado por determinada unidade terminológica é compreendida de forma similar por leigos e especialistas, mantendo idêntico o que chama de sentido básico do domínio.

Ademais, para Dury (1999)DURY, Pascaline. (1999). Étude comparative et diachronique des concepts ecosystem et écosystème. Meta : journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 44, n° 3, p. 485-499., a TD pode revelar a complexidade da evolução conceitual, na medida em que, por um lado, as transformações de um conceito nem sempre se refletem em sua denominação; por outro, uma análise diacrônica pode expor que uma profusão terminológica acompanha a constituição de um conceito ao longo do tempo.

A base de sustentação teórica de suas investigações tem sido o quadro variacionista, seguindo, em geral, contribuições de Freixa (2006)FREIXA, Judit. (2006). Causes of Denominative Variation in Terminology - A Typology Proposal. Terminology, v. 12, n. 1, p.51-77. e de Desmet (2007)DESMET, Isabel. (2007). Éléments pour une théorie variationniste de la terminologie et des langues de spécialité. Cahiers du RIFAL, p. 3-13.. Além de considerar a variação denominativa do ponto de vista diacrônico, no sentido de que um mesmo conceito pode receber diferentes denominações em diferentes momentos da história de sua veiculação em determinado domínio especializado, Dury defende que a variação temporal também é parte integrante da variação cognitiva. Em outras palavras, ela propõe que se considere que a variação denominativa temporal seja fortemente dependente das variações que, ao longo do tempo, podem se dar no nível conceitual (DURY, 2013DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10.).

Outro pesquisador que também trouxe contribuições inovadoras para área de estudos diacrônicos em Terminologia foi Bernt Møller (1994MØLLER, Bernt. (1994). Où va la terminologie technique française?. La Banque des mots, 6, p.71-98. e 1998). Diferentemente de Dury, Møller estabelece que seu estudo se dá no âmbito de uma linha nova - a Terminocronia (Terminochronie), como a chama. Seu trabalho consiste em uma das propostas emergentes de automatização do reconhecimento da evolução terminológica, observando-a além da neologia e da implantação terminológicas5 5 Sobre implantação terminológica, cf. Montané (2012). , uma vez que propõe analisar diferentes aspectos, tais como o desaparecimento dos termos e o aparecimento de cadeias terminológicas (PICTON, 2009PICTON, Aurélie. (2009). Diachronie en langue de spécialité. Définition d’une méthode linguistique outillée pour repérer l’évolution des connaissances en corpus. Un exemple appliqué au domaine spatial. Thèse de Doctorat, Université de Toulouse 2.).

O autor prefere separar a evolução terminológica em dois níveis: o dos termos e o das terminologias, embora reconheça que a evolução de uma terminologia está intimamente ligada à evolução de suas partes constituintes, ou seja, das unidades terminológicas. No nível coletivo ou no macronível, dois ou vários estados aleatórios são descritos sob a forma de acumulação de dados individuais. Já no nível individual ou no micronível, são as fases sucessivas de estados semânticos diferentes de uma unidade terminológica que são expostas (MØLLER, 1998MØLLER, Bernt. (1998). A la recherche d’une terminochronie. Meta: journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 43, n° 3, p. 426-438.).

Møller (1998)MØLLER, Bernt. (1998). A la recherche d’une terminochronie. Meta: journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 43, n° 3, p. 426-438. reconhece separadamente a evolução do significante e a evolução do significado6 6 Significado, conceito e noção, dentre outros, são termos empregados em Terminologia que implicam, cada qual, posicionamentos teóricos. Freixa (2002, p. 93) salienta que noção e conceito podem ser considerados sinônimos (ou quase-sinônimos) no âmbito dos estudos terminológicos, enquanto a distinção entre conceito e significado tem sido uma das discussões teóricas fundamentais em Terminologia. Neste trabalho, contudo, não entramos no mérito dessa questão e esses termos são usados aqui a partir das escolhas feitas pelos autores citados neste panorama. , entendendo-as a partir de quatro combinações possíveis: i) nem significante e nem significado mudam; ii) apenas o significado sofre alteração; iii) ambos mudam; iv) somente o significante se transforma. Em seu trabalho, o autor enfoca nas duas últimas combinações que, segundo ele, compreendem os fenômenos de expansão (referente a iii) e redução (relativo a iv) terminológicas. Embora não traga uma definição clara para o que entende como termo e conceito em suas pesquisas, Møller (1998)MØLLER, Bernt. (1998). A la recherche d’une terminochronie. Meta: journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 43, n° 3, p. 426-438. propõe, grosso modo, que a expressão e o conteúdo dos termos podem ter momentos diferentes de evolução, já que a alteração de um nem sempre está associada à mudança do outro. Além disso, o autor defende que um mesmo termo, cuja essência conceitual se mantém constante ao longo dos anos, pode denominar um conceito que possua diferentes estados semânticos, os quais podem ser observados nesses processos de expansão e redução, foco de seu trabalho.

Møller (1998)MØLLER, Bernt. (1998). A la recherche d’une terminochronie. Meta: journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 43, n° 3, p. 426-438., ao propor uma metodologia que pretende medir a evolução terminológica, coloca o estatuto do termo como meio metodológico de acesso a essa evolução. A partir da unidade terminológica, portanto, é possível articular medidas quantitativas globais e análises qualitativas locais (PICTON, 2009PICTON, Aurélie. (2009). Diachronie en langue de spécialité. Définition d’une méthode linguistique outillée pour repérer l’évolution des connaissances en corpus. Un exemple appliqué au domaine spatial. Thèse de Doctorat, Université de Toulouse 2.).

As investigações de Annie Tartier (2003TARTIER, Annie. (2003). A Method for Observing Terminological Evolution. In: Actes du colloque « Recent Advances in Natural Language Processing », (RANLP’03), Bulgarie, p. 467-471. e 2006, por exemplo) figuram entre as contribuições que trouxeram a automatização (parcial ou total) do tratamento de corpora diacrônicos de textos técnicos e científicos. A autora parte do princípio de que, quanto mais complexo for o mecanismo de criação de uma variante, maior a probabilidade de que o sentido inicial de determinado termo tenha evoluído, propondo, então, um jeito de calcular a distância entre um termo e sua variante com o intuito de analisar a sua evolução (PICTON, 2009PICTON, Aurélie. (2009). Diachronie en langue de spécialité. Définition d’une méthode linguistique outillée pour repérer l’évolution des connaissances en corpus. Un exemple appliqué au domaine spatial. Thèse de Doctorat, Université de Toulouse 2.). Dessa forma, sua intenção é a de atualizar as evoluções terminológicas nos textos e, particularmente, observar, ao longo do tempo, no que se transforma um termo e quais unidades são instáveis e estáveis (TARTIER, 2006TARTIER, Annie. (2006). Analyse automatique de l’évolution terminologique. In: Actes du Traitement Automatique des Langues Naturelles (TALN), Leuven.).

Dado o fato de que seu trabalho se caracteriza pela análise automática da evolução terminológica em corpora textuais, seu foco está em analisar as transformações que se dão no nível da expressão dos termos. Sendo assim, a autora considera que o termo tem uma faceta linguística (que é passível de ser analisada por meio de um software) e outra ligada à uma função de referência a uma noção ou conceito (TARTIER, 2006TARTIER, Annie. (2006). Analyse automatique de l’évolution terminologique. In: Actes du Traitement Automatique des Langues Naturelles (TALN), Leuven.). A essa forma linguística, Tartier (2006)TARTIER, Annie. (2006). Analyse automatique de l’évolution terminologique. In: Actes du Traitement Automatique des Langues Naturelles (TALN), Leuven. dá o nome de forma terminológica, que tem uma data de ocorrência (data em que é encontrada em um texto) e que constitui o material a ser observado para que as marcas de evolução sejam identificadas. A partir do estudo dessa forma, dois níveis de análise são possíveis: o microscópico e o macroscópico. Diferentemente da proposta de Møller (1998)MØLLER, Bernt. (1998). A la recherche d’une terminochronie. Meta: journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 43, n° 3, p. 426-438., o primeiro, para a autora, refere-se à história do termo em foco; por sua vez, o segundo permite visualizar as coortes de termos que são agrupados segundo critérios preestabelecidos, tais como o pertencimento a um domínio, a uma comunidade discursiva, dentre outras características comuns que sejam relevantes para o estudo em processo de realização.

Além das contribuições de Tartier (e de outras de linha semelhante, tais como as de Ahmad e Al-Thubaity (2003)AHMAD, Khurshid; AL-THUBAITY, Abdulmohsen. (2003). Can Text Analysis Tell us Something about Technology Progress?. In: Actes de la conférence internationale Association for Computational Linguistics (ACL 2003). Sapporo, Japon, p. 46-55., por exemplo, citados por Picton (2009)PICTON, Aurélie. (2009). Diachronie en langue de spécialité. Définition d’une méthode linguistique outillée pour repérer l’évolution des connaissances en corpus. Un exemple appliqué au domaine spatial. Thèse de Doctorat, Université de Toulouse 2. em sua tese), destacamos alguns trabalhos de cunho terminológicodiacrônico apoiados em uma abordagem textual e na TD. Nesse viés, Aurélie Picton tem desenvolvido importantes reflexões teóricas e metodológicas em prol da observação da evolução do conhecimento por meio da identificação de neologismos e necrologismos terminológicos em corpora textuais. Nesse sentido, sua proposta foca na observação de pistas que podem ser encontradas nos corpora especializados em estudo e que permitem detectar o surgimento e o desaparecimento de termos (cf. PICTON, 2009PICTON, Aurélie. (2009). Diachronie en langue de spécialité. Définition d’une méthode linguistique outillée pour repérer l’évolution des connaissances en corpus. Un exemple appliqué au domaine spatial. Thèse de Doctorat, Université de Toulouse 2.; 2014). Sendo assim, seu trabalho se debruça, principalmente, sobre a evolução dos termos que está diretamente associada a alterações no nível de sua expressão.

A autora tem seguido uma abordagem textual-diacrônica que, considerando os textos especializados como “reservatórios” de conhecimento nos quais é possível encontrar os usos reais das expressões que se pretende estudar, “busca há vários anos, por um lado, sistematizar os métodos orientados por softwares de análise sobre a variação em corpus e, por outro, teorizar diferentes aspectos de análise da variação a partir de contextos reais de aplicação”7 7 No original: “cette approche cherche depuis plusieurs années, d’une part, à systématiser les méthodes outillées d’analyse de la variation en corpus et, d’autre part, à théoriser différents aspects de l’analyse de la variation, à partir de contextes réels d’application”. (PICTON, 2018PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74., tradução nossa). Os trabalhos desenvolvidos nessa linha têm se dedicado, principalmente, à identificação da evolução em janelas temporais pequenas, no contexto da evolução dos conhecimentos em projetos espaciais desenvolvidos pelo Centre national d’études spatiales (Cnes), à identificação e ao tratamento da desterminologização relacionada à temática espacial difundida para o grande público, e à análise de convergências e divergências de terminologias entre grupos de locutores e especialistas no âmbito da pedagogia universitária com o intuito de evidenciar evoluções terminológicas distintas em diferentes grupos de especialistas de um mesmo domínio (PICTON, 2018PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74.).

2.1. Panorama da TD no contexto brasileiro

No Brasil, a TD pode ser encontrada no âmbito dos estudos terminológicos desde o início dos anos 2000. A publicação do livro Temas de Terminologia, de Krieger e Maciel (2001)KRIEGER, Maria da Graça; MACIEL, Anna Maria Becker. (org.). (2001.) Temas de terminologia. São Paulo/ Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS/ Humanitas/USP., que traz uma seção chamada de “Terminologia diacrônica” com textos que abordam questões terminológicas e terminográficas de um ponto de vista histórico8 8 Seus títulos e autoras são: “Terminografia médica no Brasil no século XIX”, de Maria da Graça Krieger, “Estrutura e funcionamento dos dicionários jurídicos no Brasil do século XIX”, de Anna Maria Becker Maciel e “Terminografia brasileira no final do século XIX: contraponto entre domínios emergentes e consolidados”, de Maria José Finatto. , pode ser considerada pioneira com relação à menção específica à TD em nosso país (MACEDO, 2019MACEDO, Cristian Cláudio Quinteiro. (2019). A arte da tradução: um breve exercício de Terminologia Diacrônica. Cadernos do IL, v. 59, p. 255-270.).

Contudo, isso não quer dizer que, no Brasil, não havia antes outros trabalhos que se dedicassem, de algum modo, à faceta diacrônica das linguagens de especialidade, ainda que não trouxessem a TD claramente mencionada em seus pressupostos. Nesse sentido, cumpre lembrar as contribuições de Lidia Barros com relação aos estudos terminológicos do ponto de vista diacrônico. A pesquisadora foi uma das pioneiras no Brasil a estudar a evolução terminológica, tendo trabalhos publicados nesse sentido antes dos anos 2000 (cf. BARROS, 1999BARROS, Lidia Almeida. (1999). Aspectos da dinâmica lexical no domínio da Medicina: a Nomina Anatomica. Estudos Lingüísticos (São Paulo), v. 28, p. 385-390.). Além de verificar como os termos se transformam ao longo dos anos, Barros também tratou do enfoque histórico no âmbito terminográfico (cf. BARROS, 2004BARROS, Lidia Almeida. (2004). O primeiro dicionário médico do Brasil. Cad. Est. Ling., Campinas, v. 46(1), p. 21-42.). De modo geral, seus trabalhos tinham a característica de considerar os aspectos socioculturais e históricos que subjazem às mudanças terminológicas. Nesse viés, orientou algumas investigações, dentre as quais constam as de Curti-Contessoto (2019)CURTI-CONTESSOTO, Beatriz Fernandes. Terminologia de certidões de casamento: estudo terminológico bilíngue e elaboração de glossário português-francês. 2019. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE), Universidade Estadual Paulista (UNESP), São José do Rio Preto..

Além dos trabalhos de Barros, outros podem ser mencionados, no sentido de que abordam a diacronia no âmbito de pesquisas terminológicas intra- e interlinguísticas que são realizadas, principalmente, à luz de princípios teóricos que exploram a neologia e o quadro variacionista. Há, nesse sentido, grandes contribuições brasileiras, dentre as quais destacamos as de Ieda Alves (1991ALVES, Ieda Maria. (1991). Neologia e neonímia no português do Brasil: algumas notas. Terminologias, Lisboa, v. 3-4, p. 125-131., por exemplo) e de Enilde Faulstich (1998)FAULSTICH, Enilde. (1998). Variação Terminológica. Algumas tendências no Português do Brasil. In: Cicle de conferencies 96-97. Lèxic, corpus i diccionaris. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.. Outros trabalhos9 9 Finatto (2020) também apresenta alguns trabalhos brasileiros que tratam da história das terminologias e que foram realizados com base em diferentes perspectivas. mais recentes que se debruçam sobre o léxico de um ponto de vista histórico (e não necessariamente terminológico) também podem ser encontrados (cf. Cambraia (2013)CAMBRAIA, César Nardelli. (2013). Da lexicologia social a uma lexicologia sócio-histórica: caminhos possíveis. Revista de Estudos da Linguagem, v. 21, p. 157-188., por exemplo).

Até os dias de hoje, as pesquisas brasileiras que foram desenvolvidas à luz de uma abordagem diacrônica em Terminologia seguem linhas teóricas e metodológicas particulares a cada uma. Sobre algumas delas, tratamos a seguir.

Maria José Finatto tem realizado e orientado pesquisas no sentido de ampliar os estudos em TD no Brasil. Seus trabalhos, atualmente, têm relacionado a TD, em um viés sobretudo histórico e filológico, com o campo das Humanidades Digitais a fim de organizar um Corpus Histórico da Linguagem da Medicina em Português, composto por textos do século XVIII sobre doenças e seus tratamentos. A ideia principal é disponibilizar esse corpus gratuitamente e de forma online e processá-lo de modo que haja

uma série de recursos de busca, tais como estatísticas de distribuição de palavras, obtenção automática de resumos por nuvens de palavras e mapeamento de temas mais recorrentes, comparações com outros textos por perfil vocabular, representações dinâmicas de conteúdo, entre outros (FINATTO, 2020FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36., p. 27).

Seu intuito é o de trazer melhorias com relação aos obstáculos de ordem técnica apontados por Dury e Picton (2009)DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41., que ainda existem, sobretudo, em língua portuguesa, embora outras contribuições possam surgir a partir desse trabalho.

Finatto (2020)FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36. entende que a TD lida com a recuperação e a sistematização das transformações terminológicas em termos de uso e convenções discursivas, já que, para ela, “o estudo de um texto do passado deve auxiliar a melhor entender as motivações para a linguagem dos textos do presente” (FINATTO, 2020FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36., p. 25). Suas reflexões partem, portanto, de um viés discursivo, textual e cognitivo, entendendo que as propostas de Temmerman (2000), com a Teoria Sociocognitiva da Terminologia (TST), sejam o ponto de reconciliação da Terminologia com a diacronia, na medida que essa teoria defende “a importância de descrever o caráter evolutivo das unidades de compreensão - que na [TST] tomam o lugar dos conceitos” (FINATTO, 2020FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36., p. 25) - e que revelam a construção dos conhecimentos especializados. À luz dessas considerações principalmente, estão as concepções de base nas quais se fundamenta a autora para desenvolver suas pesquisas.

Em um viés diferente, situam-se as investigações desenvolvidas por Sandro Marengo (2016MARENGO, Sandro Marcío Drumond Alves. (2016). Variações terminológicas e diacronia: Estudo léxico-social de documentos manuscritos militares dos séculos XVIII e XIX. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. e 2017MARENGO, Sandro Marcío Drumond Alves. (2017). Mudança linguística à luz da socioterminologia diacrônica: a história da cultura escrita como fator extralinguístico. História da Cultura Escrita, v. 3 n. 03, p. 59-76., por exemplo), que também tem contribuído com a produção de trabalhos diacrônicos em Terminologia no Brasil. Em sua tese, Marengo (2016)MARENGO, Sandro Marcío Drumond Alves. (2016). Variações terminológicas e diacronia: Estudo léxico-social de documentos manuscritos militares dos séculos XVIII e XIX. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. analisou, de um ponto de vista diacrônico, a terminologia militar recorrente em documentos em língua portuguesa dos séculos XVIII e XIX. Para tanto, ele se baseou na vertente da Socioterminologia, de orientação funcional e de cunho variacionista segundo Faulstich (2002)FAULSTICH, Enilde. (2002). Variação em terminologia. Aspectos de socioterminologia. In: RAMOS, Gloria Guerrero; PÉREZ LAGOS, Manuel Fernando (org.). Panorama Actual de la Terminología. Granada: Editorial Comares, p.65-91., relacionando, a essa linha, a Sociolinguística de Terceira Onda (ECKERT, 2002ECKERT, Penny. (2002). Constructing meaning in sociolinguistic variation. In: Annual Meeting of the American Anthropological Association. New Orleans, p. 01-08. e 2004ECKERT, Penny. (2004). Linguistic variation as social practice. Oxford: Blackwell Publishing.) e a Lexicologia Social (MATORÉ, 1973MATORÉ, Georges. (1973). La Méthode en Lexicologie. Paris: Libraire Marcel Didier.). Dentro desse quadro de fundamentação teórica que propõe e dado o seu enfoque nos aspectos históricos da linguagem de especialidade com a qual trabalha, o autor tem adotado a Socioterminologia Diacrônica (SD), nem sempre trazendo, portanto, o nome TD em suas discussões e, quando o traz, parece relacioná-lo à SD. De acordo com Cambraia (2020)CAMBRAIA, César Nardelli. (2020). Auto de resistência. Domínios de Lingu@gem, v. 15, n. 1, p. 228-257., essa abordagem é inovadora no sentido de “não apenas considerar a variação terminológica no tempo, mas também buscar situá-la em uma comunidade de prática, identificando os usuários dos termos em função de seu perfil social” (CAMBRAIA, 2020CAMBRAIA, César Nardelli. (2020). Auto de resistência. Domínios de Lingu@gem, v. 15, n. 1, p. 228-257., p. 234). É, portanto, nesse lugar teórico e metodológico que se sustentam as bases segundo as quais Marengo compreende por termo e conceito em seu trabalho.

Há outros importantes estudos terminológicos e diacrônicos que seguem uma abordagem socioterminológica no Brasil. Dentre eles, destacamos os de Clotilde Murakawa10 10 É importante mencionar o Dicionário Histórico do Português do Brasil (DHPB) (BIDERMAN; MURAKAWA, 2021), importante contribuição no sentido de disponibilização de dados terminográficos históricos em nossa língua. e Odair Silva. Juntos, em um trabalho em específico (cf. MURAKAWA; SILVA, 2020MURAKAWA, Clotilde de Almeida Azevedo; NADIN, Odair Luiz. (2020). De Males e Dores: a variação terminológica na denominação de doenças no Português do Brasil colonial. Papéis, v. 24, p.289-320), os autores estudam as variações linguísticas na terminologia das enfermidades dos séculos XVI, XVII e XVIII à luz da Socioterminologia tal como proposta nos anos 90. Dessa forma, termo e conceito são compreendidos com base nesses pressupostos. Assim, em resumo, termo é uma entidade variante porque pode assumir formas diferentes em contextos afins” (FAULSTICH, 2006FAULSTICH, Enilde. (2006). A socioterminologia na comunicação científica e técnica. Cienc. Cult., São Paulo, v. 58, n. 2, p. 27-31., p. 28). Consequentemente, conceito é “uma construção dinâmica resultante da interação dialógica e interlocutiva”11 11 No original: “le concept est une construction dynamique résultant de l’interaction dialogale et interlocutive”. (DUFOUR, 2004DUFOUR, Françoise. (2004). Lecture de François Gaudin, « Socioterminologie, une approche sociolinguistique de la terminologie », Cahiers de praxématique [Online], 42., p. 209, tradução nossa).

Outro pesquisador que tem contribuído com investigações de cunho histórico e terminológico é Bruno Maroneze. O autor tem realizado estudos com vieses etimológico e filológico sobre termos científicos (cf. MARONEZE, 2019aMARONEZE, Bruno. (2019a). A história da pétala: etimologia de um termo científico. Linha D’Água, v. 32, n. 3, p. 159-176.) e sobre neologismos terminológicos em sincronias pretéritas (cf. MARONEZE, 2019bMARONEZE, BRUNO. (2019b). Termos neológicos em sincronias pretéritas: um estudo do Diccionario dos Termos Technicos de Historia Natural de Vandelli. In: GIL, Beatriz Daruj; Cardoso, Elis de Almeida; Mariângela de Araújo; CONDÉ, Valéria Gil. (org.). Saberes lexicais. 1ed. São Paulo: FFLCH-USP, p. 96-109.). Seus trabalhos propõem diálogos entre a TD12 12 Por vezes, o autor se refere à Lexicologia Diacrônica em seus estudos (cf. Maroneze e Alves (2019)), que, entendemos, não é o mesmo que TD, já que também pode tratar da evolução do léxico da língua geral, além das linguagens especializadas (valendo-se, neste caso, de outro aparato teórico-metodológico, sobre o qual não discutimos neste artigo). e outras vertentes teóricas (tais como a Etimologia e a Filologia, por exemplo). Desse modo, suas pesquisas se inserem no rol das investigações sobre a formação diacrônica do léxico científico, que vêm sendo realizadas, no âmbito da Terminologia, desde o final do século XX no Brasil (MARONEZE, 2019bMARONEZE, BRUNO. (2019b). Termos neológicos em sincronias pretéritas: um estudo do Diccionario dos Termos Technicos de Historia Natural de Vandelli. In: GIL, Beatriz Daruj; Cardoso, Elis de Almeida; Mariângela de Araújo; CONDÉ, Valéria Gil. (org.). Saberes lexicais. 1ed. São Paulo: FFLCH-USP, p. 96-109.). Nesse sentido, embora não traga definições acerca do que compreende por termo e conceito, pode-se depreender que, de forma geral, o autor os considera entidades dinâmicas, variantes, passíveis de serem estudadas diacronicamente graças às propostas teóricas que surgiram na década de 1990 no âmbito da Terminologia.

Por fim, dentre os trabalhos desenvolvidos pelo Grupo TermNeo (Observatório de neologismos do português brasileiro contemporâneo), orientados por Ieda Alves, figuram contribuições aos estudos lexicais segundo uma abordagem histórica. Dentre elas, destacamos as pesquisas de Souza (2007)SOUZA, Ivan Pereira de. (2007). Do engenho à usina: estudo diacrônico da terminologia do açúcar. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. e Pereira (2012)PEREIRA, Eliane Simões. (2012). Aspectos da variação na linguagem econômica do Brasil colonial. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo..

Em sua dissertação de mestrado, Souza (2007)SOUZA, Ivan Pereira de. (2007). Do engenho à usina: estudo diacrônico da terminologia do açúcar. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. buscou, por meio de uma análise diacrônica da terminologia da área de produção de açúcar, apontar e descrever problemas sobre a sua variação, descrevendo os fatores que nela interferem, a relação entre o grau de consolidação de um domínio e sua sistematicidade, com o intuito de comprovar que a dinâmica das linguagens de especialidade se renova na mesma medida em que o faz a língua geral. Para tanto, o autor se baseou na junção de alguns poucos estudos em TD (que também chama de Terminologia Histórica), dentre os quais constam os de Finatto (2001)FINATTO, Maria José Bocorny. (2001). Terminografia brasileira no final do século XIX: contraponto entre domínios emergentes e consolidados. In: KRIEGER, Maria da Graça; MACIEL, Anna Maria Becker. (org.). Temas de terminologia. São Paulo. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS/Humanitas/USP. e os anais dos colóquios sobre diacronia na Terminologia realizados em Bruxelas (1988) e Barcelona (1997), com a Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT) (mas, especialmente, nesta última), adotando, portanto, um ponto de vista variacionista em sua investigação. Desse modo, termo e conceito são concebidos, sobretudo, à luz da TCT, que os concebe, grosso modo, como unidades poliédricas, ou seja, que contemplam aspectos linguísticos, sociais e cognitivos.

Pereira (2012)PEREIRA, Eliane Simões. (2012). Aspectos da variação na linguagem econômica do Brasil colonial. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo., em sua tese, estudou a variação diacrônica dos termos da Economia entre os séculos XVI e XVIII com o intuito de delinear aspectos da história da formação do Português Brasileiro, bem como documentar a história de nossa sociedade. Para realizar seu trabalho, a autora se apoiou em diferentes correntes teóricas da Terminologia que consideram a possibilidade de se estudar a diacronia nas linguagens de especialidade, tais como TCT, TST e TD, por exemplo, seguindo, principalmente, os princípios da Socioterminologia com as contribuições de Enilde Faulstich. Desse modo, seu estudo, embora seja realizado no âmbito da TD, situa-se no quadro variacionista da Terminologia e considera ainda a influência da História sobre a língua e a linguagem de especialidade.

Como se vê, o panorama expõe não só uma diversidade em termos das temáticas exploradas do ponto de vista diacrônico, mas também com relação aos fundamentos teóricos e metodológicos adotados. Contudo, o fato de existirem diferentes possibilidades de caminhos não significa que o trabalho terminológico possa mesclá-los à revelia. Nesse sentido, por exemplo, se uma investigação pretender dar enfoque à automatização da análise da evolução terminológica, deverá buscar os trabalhos que a exploram (como os de Tartier (2006)TARTIER, Annie. (2006). Analyse automatique de l’évolution terminologique. In: Actes du Traitement Automatique des Langues Naturelles (TALN), Leuven. e de outros), para se embasar. Se a ideia for explorar a evolução terminológica, sobretudo, do ponto de vista social, a Socioterminologia e a TCT podem contribuir com sua análise. Se o intuito for trabalhar as transformações dos saberes especializados, de seus conceitos e de suas categorizações, talvez a TST seja mais coerente. Os objetivos de cada trabalho terminológico é que vão determinar o caminho teórico e metodológico a ser escolhido.

O que podemos salientar é que adotar a TD, em consonância com qualquer uma dessas perspectivas teóricas, tem dado bons frutos. Isso significa que não há, pelo que se pode observar nos estudos deste panorama, restrições teóricas no sentido de relacioná-la com as teorias em Terminologia (com exceção da TGT), muito provavelmente porque não se trata de uma teoria per se, organizada e sistematizada como as demais, e sim uma via a partir da qual vários caminhos de abordagem surgem, tal como discutimos na seção seguinte.

3. DIFERENTES EXPRESSÕES E A(S) ABORDAGEM(NS) EM TD

O panorama de investigações apresentado expõe diferentes denominações que se referem aos estudos diacrônicos em Terminologia. O quadro, a seguir, organiza essas expressões, relacionando-as às linhas teóricas às quais vêm sendo associadas:

Quadro 1
Denominações dos estudos terminológicos em diacronia levantadas com base no panorama anteriormente apresentado e suas respectivas abordagens teóricas em Terminologia.

Com base no aparato teórico adotado pelas investigações apresentadas, observamos que o nome Terminologia Diacrônica vem frequentemente relacionado ao arcabouço teórico-metodológico da Socioterminologia, da TCT, da TST e da TT. Essa expressão figura, em geral, em trabalhos que lidam tanto com janelas temporais longas e curtas (ainda que seja difícil precisar quando um período deixa de ser curto para se tornar longo e vice-versa), e que exploram diferentes aspectos terminológicos, que variam de acordo com o propósito das pesquisas e das teorias em que se fundamentam. Sendo assim, notamos que o termo Terminologia Diacrônica (e sua variante TD) tende a se referir a uma ideia mais genérica sobre a abordagem diacrônica em relação aos estudos cujo lugar de base é a disciplina de Terminologia. Em outras palavras, a nosso ver, os trabalhos em que esses termos figuram têm, como característica principal, diferentes objetos e objetivos de análise e, consequentemente, pressupostos teóricos e metodológicos diversos. Poderíamos nos arriscar e considerá-los, portanto, como sendo as expressões mais “neutras” quando se pretende fazer referência a um estudo diacrônico em Terminologia.

O termo Terminologia Histórica, em alguns casos, parece ser empregado como variante de Terminologia Diacrônica (cf. SOUZA, 2007SOUZA, Ivan Pereira de. (2007). Do engenho à usina: estudo diacrônico da terminologia do açúcar. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo., a título de exemplificação), quando este diz respeito, especificamente, a um estudo diacrônico cuja janela temporal é longa, histórica. Já o termo Socioterminologia Diacrônica (e sua variante, SD), por sua vez, traz, em sua expressão denominativa, um núcleo substantival concernente a uma corrente teórica específica da Terminologia: a Socioterminologia. Sendo assim, ao utilizar essa unidade terminológica, a pesquisa deixa evidente qual é a linha teórica em que se fundamenta principalmente para realizar seus estudos. Além dessa relação, esses termos se referem, do ponto de vista conceitual, a uma perspectiva socioterminológica de orientação funcional ancorada na Sociolinguística de terceira onda e na Lexicologia Social, tal como propõe Marengo (2016)MARENGO, Sandro Marcío Drumond Alves. (2016). Variações terminológicas e diacronia: Estudo léxico-social de documentos manuscritos militares dos séculos XVIII e XIX. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.. Desse modo, o estudo terminológico que se orientar por essa proposta o fará segundo um ponto de vista específico, ainda que seja histórico ou não.

Por fim, nossos estudos indicam que a unidade Terminocronia, cunhada por Møller (1998)MØLLER, Bernt. (1998). A la recherche d’une terminochronie. Meta: journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 43, n° 3, p. 426-438., tem, aparentemente, a função de se referir a uma nova vertente em Terminologia, que seria uma teoria per se, em relação à qual o autor visa estabelecer alguns princípios. Por essa razão, difere-se de Terminologia Diacrônica (ou TD), já que esta diz respeito a uma noção geral de abordagem diacrônico-terminológica, isto é, a um trabalho que una Terminologia e diacronia em suas análises a fim de estudar a evolução dos termos e dos conceitos e que não tem a pretensão de ser, sozinha, uma teoria, tal como a TCT, TST etc. O termo Terminocronia acabou sendo mais atrelado à proposta de Møller, não sendo empregado, portanto, por outros estudos terminológico-diacrônicos que, em geral, ancoram-se em outras teorias em Terminologia para realizar suas análises.

Como se vê, não há um consenso com relação ao emprego dessas expressões nos estudos mencionados. De fato, um dos obstáculos que ainda necessita ser vencido diz respeito a questões teóricas em torno do que se entende por um estudo diacrônico em Terminologia (cf. PICTON, 2018PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74.) e quais são os caminhos possíveis para se realizarem análises nesse viés. Mais recentemente, tem-se discutido sobre o que se considera em termos de diferenciação (e aproximação) entre as abordagens diacrônica e sincrônica, a fim de melhor situar as investigações desenvolvidas em

TD.

Nesse sentido, parece-nos que os trabalhos adotam, direta ou indiretamente, a ideia de que os termos diacronia e sincronia se referem a abstrações metodológicas necessárias para o desenvolvimento de seus estudos (cf. PICTON, 2009PICTON, Aurélie. (2009). Diachronie en langue de spécialité. Définition d’une méthode linguistique outillée pour repérer l’évolution des connaissances en corpus. Un exemple appliqué au domaine spatial. Thèse de Doctorat, Université de Toulouse 2.). De modo geral, entende-se que, por um lado, uma sincronia representa um estado de língua, abstraindo-se, nessa perspectiva, as suas mudanças (“mínimas”) ao longo dos anos; por outro, a diacronia permite “comparar diferentes estados sucessivos de uma língua e descrever a evolução desses estados”13 13 No original: “Synchronie et diachronie sont de fait avant tout des abstractions méthodologiques nécessaires pour mener des études linguistiques, l’une pour observer un état de langue et faire abstraction des changements (« minimes »), l’autre pour comparer différents états successifs d’une langue et en décrire l’évolution”. (PICTON, 2009PICTON, Aurélie. (2009). Diachronie en langue de spécialité. Définition d’une méthode linguistique outillée pour repérer l’évolution des connaissances en corpus. Un exemple appliqué au domaine spatial. Thèse de Doctorat, Université de Toulouse 2., p. 62, tradução nossa), o que possibilita a observação da mudança no decorrer do tempo. Sendo assim, a janela temporal escolhida não define o caráter diacrônico de um estudo que se pretende como tal (DURY, 2013DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10.). Na verdade, é o estudo das transformações que acontecem nos conceitos e nos termos que caracteriza a diacronia no âmbito da Terminologia (DURY, 2013DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10.). Outro aspecto que deve ser considerado é a relação entre duas dimensões: a linguagem de especialidade14 14 Em estudos internacionais, encontra-se o termo language for specific purposes (LSP) [língua para fins específicos] em referência aos conjuntos terminológicos encontrados em diferentes domínios especializados. Contudo, no Brasil, essa expressão é mais comumente associada a estudos no âmbito do ensino e da aprendizagem de línguas do que ao quadro da Terminologia. Por esse motivo, neste trabalho, empregamos o termo linguagem de especialidade, que é mais corrente, hoje em dia, nas pesquisas terminológicas brasileiras. Ademais, neste trabalho, optamos por utilizar sempre esse termo, ainda que as pesquisas citadas mencionem língua de especialidade. (dimensão interna) e os conhecimentos especializados (dimensão externa) (PICTON, 2018PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74.). Assim, em um estudo terminológico-diacrônico, há uma íntima relação entre a evolução linguística (termos e conceitos) e a evolução dos saberes que são “traduzidos” na e pela linguagem de especialidade.

Dessa forma, não é necessário, para Dury (2013)DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10., explorar um corpus especializado de janela temporal longa e histórica para que o estudo seja terminológico-diacrônico. Dury (2013)DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10. defende, então, que um espaço de tempo curto (de dois ou três anos, por exemplo) em domínios especializados de ponta, cujos conhecimentos evoluem muito rapidamente (tais como o domínio médico e o dos nanomateriais, mencionados por ela) pode ser observado em um estudo em diacronia. Logo, para que um estudo diacrônico seja realizado em Terminologia, o que precisa haver é a evolução terminológica em determinado domínio de especialidade, independentemente do tempo que leva para que esse fenômeno ocorra.

A partir desse ponto de vista, tem-se o que autoras como Dury (2013)DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10. e Picton (2018)PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74. chamam de diacronia curta e diacronia longa. Pelo que observamos em diferentes investigações terminológicas (cf. PICTON, 2014PICTON, Aurélie. (2014). The dynamics of terminology in short-term diachrony: A proposal for a corpus-based methodology to observe knowledge evolution. In: TEMMERMAN, Rita; VAN CAMPENHOUDT, Marc (org.). Dynamics and Terminology: An interdisciplinary perspective on monolingual and multilingual culture-bound communication. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company. p. 160-182. e 2018; SIOUFF et al. 2012SIOUFFI Gilles; STEUCKARDT, Agnès; WIONET Chantal. (2012). Comment enquêter sur des diachronies courtes contemporaines ?. Actes du 3e Congrès Mondial de Linguistique Française, Lyon, France. p.215-226.; DURY, 2013DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10., por exemplo), não há, ao certo, uma quantidade de anos que faça com que determinado estudo seja inserido no âmbito de uma ou de outra. O que se tem é que, em geral, pesquisas, cujo corpus abarca uma janela temporal inferior a vinte anos, sejam relacionadas à diacronia curta, enquanto investigações terminológicas, que se debrucem sobre um corpus de espaço temporal maior do que essa quantia, sejam de diacronia longa.

Tomando como base essas considerações, a análise realizada em um estudo com essas características pode ser classificada em diferentes tipos. Nesse sentido, Dury (2018)DURY, Pascaline. (2018). La dimension diachronique en anglais de spécialité : une approche terminologique. Note de synthèse pour l’Habilitation à Diriger des Recherches : Université Paris 7. propõe que se pode fazer uma pesquisa terminológica no quadro da linguística histórica - o que significaria observar a linguagem de especialidade empregada em períodos muito antigos, sem, obrigatoriamente, descrever o dinamismo de uma determinada linguagem de especialidade; ou realizá-la no âmbito da linguística diacrônica, destacando o que mudou ou não em determinada linguagem especializada ao longo dos anos, os quais podem ser próximos do momento da análise (ou, até mesmo, muito próximos) (DURY, 2018DURY, Pascaline. (2018). La dimension diachronique en anglais de spécialité : une approche terminologique. Note de synthèse pour l’Habilitation à Diriger des Recherches : Université Paris 7.). Essa distinção permite, em primeiro lugar, que a análise possa se dar sobre a dinâmica das evoluções (PICTON, 2018PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74.), que, nessa proposta, está associada ao adjetivo diacrônico. Essa análise pode compreender aspectos que se transformam ao longo do tempo em determinado âmbito de especialidade ou em um momento preciso e antigo, atrelada, neste caso, aos adjetivos histórico e estático (sincrônico, portanto - o que poderíamos chamar de sincronia pretérita). Em segundo lugar, a autora ressalta a ideia de uma diacronia curta, contemporânea, prevista em análises sobre evoluções temporalmente próximas (PICTON, 2018PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74.).

Picton (2018)PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74., contudo, amplia essa proposta, a partir de outro ponto de vista, que é o de distinguir as abordagens analíticas com base nas dimensões interna e externa, e não no período temporal considerado para realizálas, tal como o faz Dury (2018)DURY, Pascaline. (2018). La dimension diachronique en anglais de spécialité : une approche terminologique. Note de synthèse pour l’Habilitation à Diriger des Recherches : Université Paris 7.. Desse modo, em relação ao estudo sobre linguagens de especialidade ao longo do tempo, Picton (2018)PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74. faz outras distinções, que foram organizadas por nós no esquema exposto a seguir:

Quadro 2
Abordagens diacrônica e histórica e seus subtipos de acordo com Picton (2018)PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74..

Como se vê no esquema anterior, os adjetivos diacrônico e histórico foram associados a questões diferentes nessa proposta. Nesse sentido, o primeiro se refere à análise das transformações das dimensões interna (mais centrada nas linguagens de especialidade propriamente ditas) e externa (mais focada nos saberes especializados), enquanto o segundo diz respeito à observação dos elementos externos. Desse modo, o que está em jogo é o aspecto em análise, e não o período recoberto, já que ambas as abordagens podem se dar sobre períodos contemporâneos e temporalmente distantes. Outro aspecto interessante é o fato de que é possível misturar a abordagem diacrônica e a abordagem histórica em um mesmo trabalho terminológico. Em outras palavras, um estudo pode se dar, em diacronia curta (ou longa), tanto sobre uma ou todas as dimensões quanto sobre os elementos externos. O trabalho brasileiro de Curti-Contessoto et al (2021)CURTI-CONTESSOTO, Beatriz; BARROS, Lidia Almeida; OLIVEIRA, Isabelle. (2021). Changes in the concept designated by the term mariage civil throughout the History of French Law 1791-2013. Terminology, v. 27, p. 140-162. é um exemplo nesse sentido, pois se trata de uma pesquisa que adota as abordagens diacrônica e histórica em diacronia longa (de 1791 a 2013).

Picton (2018)PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74. acrescenta, ainda, duas outras perspectivas a essa distinção: a primeira diz respeito à abordagem em sincronia dinâmica que, com base em Feuillard (2007)FEUILLARD, Colette. Grammaticalisation et synchronie dynamique. La linguistique, v. 43, n.1, 2007, p. 3-28. e em outros de corrente funcionalista, refere-se à ideia da coexistência de diferentes usos de uma mesma unidade lexical no discurso (especializado, no caso) em um momento determinado - o que, para ela, configura-se em uma abordagem pertinente, sobretudo para a terminologia e a neologia; e a segunda tem relação com a história das ciências. Há, no entanto, uma diferença entre ela e a abordagem histórica em Terminologia no sentido de que “a história das ciências, por sua vez, não trata das linguagens de especialidade e busca menos diretamente estabelecer relações entre a evolução de uma disciplina e sua respectiva linguagem”15 15 No original: “l’histoire des sciences quant à elle ne relève pas des langues de spécialité et cherche moins directement à établir de liens ente l’évolution d’une discipline et l’évolution de ‘sa’ LSP”. (PICTON, 2018PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74., p. 14, tradução nossa).

Assim, nota-se que os adjetivos diacrônico e histórico figuram, na proposta de Picton (2018)PICTON, Aurélie. (2018). Terminologie outillée et diachronie : éléments de réflexion autour d’une réconciliation. ASp [En ligne], 74., atrelados a ideias de abordagens bastante específicas, mas que não se excluem. Por sua vez, dinâmico é um adjetivo especificador (cf. NEVES, 2000NEVES, Maria Helena de Moura. (2000). Gramática de usos do Português. São Paulo: Editora UNESP.) que pode ser atrelado tanto à sincronia quanto à diacronia, na medida em que recupera a ideia de que a linguagem especializada se transforma constantemente (não sendo, portanto, necessário um longo período de tempo para tanto), podendo se referir, nesse sentido, a novas criações terminológicas que surgem em determinado momento e convivem com outras formas que podem se tornar arcaicas (nesse caso, seria uma observação sincrônica (contemporânea ou pretérita), porque o momento seria preciso, apenas um, (presente ou passado)), bem como a usos anteriores em relação a outros mais recentes (em mais de um momento; daí, então, análise diacrônica); já estático, em geral, diz respeito a uma abordagem metodológica sincrônica (seja contemporânea, seja pretérita).

Nesse sentido, tem-se a possibilidade de que um corpus seja dinâmico, na medida em que compreende textos de diferentes datas. Cada qual, por sua vez, seria um subcorpus estático do corpus dinâmico ao qual corresponde (cf. DURY; PICTON, 2009DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41.). Assim, um estado semântico seria estático, já que diz respeito ao conceito denominado por determinado termo em determinado momento específico (recente ou não, em relação ao momento da execução da análise pelo(a) terminólogo(a)) da história de sua veiculação em determinado domínio de especialidade. Ao serem analisados em conjunto, observam-se esses estados do ponto de vista dinâmico, isto é, sua evolução ao longo do tempo.

Com relação especificamente aos estudos terminológicos em diacronia e em sincronia pretérita, há ainda outros aspectos que devem ser considerados. Nesse sentido, Finatto (2020)FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36. faz alguns importantes questionamentos, que versam sobre as escolhas do corpus para análise, bem como sobre o olhar do(a) terminólogo(a) nessas abordagens investigativas em Terminologia. Nesse sentido, a autora questiona o seguinte:

que tipo de textos e linguagens especializados seriam esses? Seriam obras de divulgação científica? Tal item ou expressão x, conforme empregado em uma dada obra, será uma terminologia ou se trata de um vocábulo comum, percebido terminologizado pela análise e pelos enriquecimentos filológicos feitos no presente? (FINATTO, 2020FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36., p. 24)

Pelo fato, então, de um estudo que possa ser classificado como diacrônico, histórico ou sincrônico-pretérito se referir a aspectos das linguagens de especialidade empregadas em determinados domínios em um momento outro, anterior, em relação ao momento em que a análise é realizada pelo(a) terminólogo(a), é inevitável que o olhar direcionado a eles seja influenciado não só pelas concepções terminológicas mais recentes, mas também pelo próprio(a) pesquisador(a) que é um sujeito ideológica e historicamente construído, para se dizer o mínimo.

Por fim, outra questão que julgamos relevante tratar ainda neste artigo diz respeito ao emprego dos substantivos evolução, renovação, migração, variação, transformação, alteração e mudança, associados ao adjetivo terminológica e empregados, em TD, para se referirem aos fenômenos analisados. O que se observa é que não há também um consenso em relação ao modo como se deve ou não se referir ao objeto principal em análise em TD: que é justamente o aspecto mutável, dinâmico, dos termos e dos conceitos em seus mais variados processos (neológico, necrológico, de terminologização, desterminologização, dentre outros)16 16 Neste trabalho, entende-se necrologia como o processo por meio do qual ocorre o desaparecimento dos termos, isto é, que entraram em desuso em um determinado domínio de especialidade (PICTON, 2014); terminologização, por sua vez, diz respeito ao processo por meio do qual uma unidade lexical da língua geral passa a ser empregada em determinado âmbito especializado para denominar um conceito especializado (Norma ISO 1087, 2019); já o termo desterminologização nomeia o processo que transforma um termo veiculado em determinado âmbito de especialidade em uma unidade lexical da língua geral (processo este que também recebe outros nomes (MEYER; MACKINTOSH, 2000). .

Dury e Picton (2009)DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41. já haviam destacado a falta de harmonização terminológica em relação ao vocabulário utilizado em TD para tratar, de modo mais genérico, dos fenômenos observados à luz dessa linha de estudos em Terminologia. Para as autoras, o termo renovação terminológica não seria o mais adequado, pois ele retoma, de modo mais específico, a ideia de “desaparecimento de unidades terminológicas e [de] sua eventual substituição por outros termos”17 17 No original: “la disparition de termes et à leur éventuel remplacement par d’autres termes”. (DURY; PICTON, 2009DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41., p. 38, tradução nossa). Quanto ao termo migração, este, por sua vez, é frequentemente “associado aos casos de empréstimo de termos entre domínios [...] ou entre níveis de especialização”18 18 No original: “associé aux cas de transfert de termes entre domaines […] ou entre niveaux de spécialisation”. (DURY; PICTON, 2009DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41., p. 38, tradução nossa). Obviamente, se um estudo terminológico-diacrônico tratar desses aspectos, ele poderá empregar essas expressões para se referir especificamente a eles sem que haja confusão terminológica.

Já o termo variação apresenta dupla-significação no quadro dos estudos em TD. Por um lado, variação terminológica [1] se refere, de forma específica em TD, “à descrição de estados sucessivos [dos termos e dos conceitos] ao longo do tempo”19 19 No original: “la description d’états successifs dans le temps. On pourra en outre parler de « variation terminologique », « temporelle » ou « chronolectale ».”. (DURY; PICTON, 2009DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41., p. 38, tradução nossa). Segundo as autoras, esse tipo de variação também é chamado de temporelle (temporal) e chronolectale (“cronoletal”20 20 Não confundir com cronoleto, que, no quadro da Sociolinguística, refere-se à variedade linguística relacionada à faixa etária de uma mesma geração de falantes (cf. MONTEIRO, 2002). No Brasil, variação cronoletal não é um termo empregado em estudos à luz da TD. Prefere-se o adjetivo cronológica, nesse caso (chronologique, em francês), que também gera confusão com a vertente variacionista em Terminologia, já que variante cronológica, como vimos, diz respeito à uma classificação proposta por Freixa (2006). ) por estudos terminológico-diacrônicos - o que pode, a nosso ver, levar a uma associação errônea entre essas denominações e as classificações de Freixa (2006)FREIXA, Judit. (2006). Causes of Denominative Variation in Terminology - A Typology Proposal. Terminology, v. 12, n. 1, p.51-77. e Faulstich (1998)FAULSTICH, Enilde. (1998). Variação Terminológica. Algumas tendências no Português do Brasil. In: Cicle de conferencies 96-97. Lèxic, corpus i diccionaris. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra., que dizem respeito à segunda acepção de variação, sobre a qual tratamos a seguir.

Por outro, variação terminológica [2] pode se referir ao fenômeno em que (co)existem diferentes expressões denominativas que se referem a um mesmo conceito - nesse caso, é também chamado de variação denominativa. Trabalhos como os de Freixa (2006)FREIXA, Judit. (2006). Causes of Denominative Variation in Terminology - A Typology Proposal. Terminology, v. 12, n. 1, p.51-77. e de Faulstich (1998)FAULSTICH, Enilde. (1998). Variação Terminológica. Algumas tendências no Português do Brasil. In: Cicle de conferencies 96-97. Lèxic, corpus i diccionaris. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra. propõem tipologias para esse fenômeno que se dá por diferentes causas, sendo uma delas o dinamismo das linguagens de especialidade, responsável por possibilitar alterações nas expressões dos termos do ponto de vista sintático ou morfológico ao longo do tempo. Nesses trabalhos, o aspecto diacrônico é reconhecido nas classificações variação cronológica e variação temporal, respectivamente. Não se prevê, nesse tipo de variação, alterações semânticas, já que o que permite relacionar as variantes terminológicas a partir desse ponto de vista é justamente o fato de denominarem o mesmo conceito em determinado âmbito de especialidade.

Com base no exposto e na nossa observação dos estudos aqui citados, parece-nos que os termos transformação, mudança, alteração e evolução21 21 Sobre o termo evolução, de forma mais específica, Møller (1998) salienta que, em Terminologia, ele pode se referir tanto a ideia de que os conjuntos terminológicos estão em pleno “crescimento”, na medida em que se renovam com novas unidades terminológicas que são criadas com o passar do tempo, o que pode fazer com que determinadas composições sejam mais ou menos produtivas em determinado momento, por exemplo, quanto às transformações morfológicas, sintáticas e semânticas propriamente ditas pelas quais os termos passam individualmente ao longo dos anos. A nosso ver, transformação, mudança e alteração também podem recuperar essas duas acepções. terminológicas, juntamente com variação [1], podem ser concebidos, grosso modo, como genéricos em TD, na medida em que tendem a se referir à ideia de dinamismo, de mutabilidade, das linguagens de especialidade. Nesse sentido, acabam sendo empregados um pelo outro, em geral, pelos estudos terminológicodiacrônicos. As demais unidades terminológicas, juntamente com outras possibilidades, dizem respeito a conceitos mais específicos, no sentido de que se referem aos tipos de fenômenos que podem ser analisados por estudos em TD. O quadro a seguir organiza esses termos do ponto de vista de suas relações semântico-conceituais:

Quadro 3
Hierarquia da terminologia referente a alguns aspectos estudados em TD.

No esquema apresentado anteriormente, organizamos, com base no exposto, a terminologia referente a alguns fenômenos estudados em TD. Do ponto de vista hierárquico, temos, então, que as unidades terminológicas evolução, transformação, alteração, mudança22 22 Desse modo, o termo mudança, em TD, está relacionado a uma simples transformação de determinado termo ou conceito; não implica, portanto, uma alteração mais profunda no sistema linguístico. e variação [1] se referem ao conceito genérico relativo a fenômeno dinâmico, mutável, que é o objeto de estudo principal da TD. Renovação, migração e variação2 dizem respeito, por sua vez, a tipos de processos por meio dos quais se dão as transformações das linguagens de especialidade.

O primeiro deles, denominado pelo termo renovação, está relacionado aos processos que “renovam” as terminologias, dentre os quais podem ser mencionados o da neologia (ligada à novidade) e o da necrologia (ligada à obsolescência) (PICTON, 2014PICTON, Aurélie. (2014). The dynamics of terminology in short-term diachrony: A proposal for a corpus-based methodology to observe knowledge evolution. In: TEMMERMAN, Rita; VAN CAMPENHOUDT, Marc (org.). Dynamics and Terminology: An interdisciplinary perspective on monolingual and multilingual culture-bound communication. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company. p. 160-182.). Neologia, nessa perspectiva, pode ser, principalmente, de dois tipos: referencial (CABRÉ, 1998CABRÉ, María Teresa. (1998). La Terminologie: théorie, méthodes et applications. Traduzido, adaptado e atualizado por Monique Cormier e John Humbley. Ottawa: Presses de l’Université d’Ottawa; Paris: Armand Colin.) e de adaptação (DURY, 2013DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10.). Já migração, como dissemos, refere-se a um processo de transformação terminológica em que está em jogo o empréstimo de termos de um domínio para outro, ou entre diferentes níveis de discurso especializado - daí, a possibilidade de terminologização e desterminologização serem subtipos de migração. Por último, o termo variação [2] trata, especificamente, da variação denominativa. No eixo diacrônico, esse processo pode ser classificado como cronológico ou temporal, segundo pressupostos distintos do quadro variacionista em Terminologia.

Vale dizer que a terminologia tratada neste artigo não tem a pretensão de ser exaustiva - o que significa que outros termos, denominativos de outros fenômenos, podem integrar a árvore apresentada. O mais importante, a nosso ver, é a tentativa de organização estrutural desses termos e dos conceitos denominados por eles no âmbito dos estudos terminológico-diacrônicos com base no que se encontra, até o momento da elaboração deste texto, em pesquisas brasileiras e estrangeiras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo trouxe um panorama das pesquisas realizadas em TD no exterior e no Brasil. Nesse panorama, discutimos alguns conceitos de base adotados por elas, bem como as expressões utilizadas para se referirem a essa linha de estudos. Com base no exposto, verificamos que as investigações do exterior são bastante diversificadas em termos de aparato teórico e metodológico e de objetivos, destacando-se, entre elas, a preocupação na (semi-) automatização das análises sobre a evolução das terminologias e dos conceitos especializados.

No Brasil, por sua vez, notamos que o quadro variacionista, à luz dos princípios da Socioterminologia e (ou) da TCT, tem norteado boa parte dos trabalhos, cujo viés tem sido mais descritivo, embora contribuições de ordem “prática” também sejam encontradas (cf. Finatto (2020)FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36. e Biderman e Murakawa (2021)BIDERMAN, Maria Teresa Camargo; MURAKAWA, Clotilde de Almeida Azevedo. (2021). Dicionário Histórico do Português do Brasil. Disponível em: <https://dicionarios.fclar.unesp.br/dhpb/>. Acesso em: 17 nov. 2021.
https://dicionarios.fclar.unesp.br/dhpb/...
, a título de exemplificação). De fato, as pesquisas brasileiras em Terminologia (sendo diacrônicas ou não) têm tido, ao longo das últimas décadas, uma tradição de seguir uma dessas duas linhas teóricas, havendo, portanto, poucas que adotem outras vertentes, tais como a TST e a TT, por exemplo.

Tratamos também de estabelecer uma relação entre os nomes utilizados por essas investigações para se referirem à abordagem terminológico-diacrônica e suas implicações teórico-metodológicas. Nesse sentido, observamos que a denominação Terminologia Diacrônica (ou TD) nos parece mais genérica do que outras que ocorrem, tais como Socioterminologia Diacrônica (ou SD) e Terminocronia, por exemplo, que situam os trabalhos que as adotam em lugares de cunho teórico e metodológico mais específicos.

Salientamos ainda o emprego de outras expressões denominativas, que são frequentemente encontradas nos estudos abordados. Dentre elas, constam os termos substantivais diacronia, sincronia, evolução, renovação, migração, variação, transformação, alteração e mudança, bem como os adjetivais dinâmico, estático, pretérito, diacrônico e histórico. Como vimos, há, de fato, uma variedade de termos usados em estudos diacrônico-terminológicos, o que acaba gerando imprecisão em torno do objeto estudado por eles (cf. Dury e Picton (2009)DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41.). Contudo, verificamos que cada uma dessas unidades lexicais recupera concepções e questões metodológicas específicas. Na tentativa, então, de organizá-las, sobretudo, do ponto de vista conceitual, discutimos quais aspectos podem ser recuperados a partir de seu emprego, relacionandoas por aproximação e distanciamento semânticos no contexto de pesquisas terminológico-diacrônicas. Estruturamos os termos que dizem respeito aos fenômenos passíveis de serem estudados em TD em uma árvore conceitual, que foi apresentada anteriormente, sem, no entanto, sermos exaustivos em relação a eles.

Este artigo mostrou alguns direcionamentos que se aproximam e se distanciam em vários aspectos. Em comum, os estudos apresentados contribuem em expor diversos fenômenos relacionados à evolução dos conceitos, dos termos que os denominam e dos conhecimentos especializados, embora evidenciem uma diversidade teórica e metodológica e falta de harmonização terminológica que podem ser fonte de confusão (cf. Dury (2013)DURY, Pascaline. (2013). Que montre l’étude de la variation d’une terminologie dans le temps. Quelques pistes de réflexion appliquées au domaine médical. Debate Terminológico, n. 9, p. 2-10.). Sendo assim, nosso intuito foi o de oferecer uma organização dos possíveis vieses que podem ser adotados no âmbito da TD, por meio do respaldo oferecido pelas pesquisas apresentadas neste breve panorama, bem como chamar a atenção para a importância de se adotar uma terminologia harmônica, em português brasileiro, para se referir aos fenômenos estudados nessa linha. Mesmo em busca de uma sistematização da TD, não almejamos, todavia, reduzir a diversidade inerente a esses trabalhos, pois, ainda que possam dar contornos imprecisos aos objetos em análise, tal como apontado por Dury e Picton (2009)DURY, Pascaline; PICTON, Aurélie. (2009). Terminologie et diachronie : vers une réconciliation théorique et méthodologique?. Revue française de linguistique appliquée, v. 15, nº. 2, p. 31-41., eles enriquecem, a nosso ver, essa linha de estudos.

Pelo fato de a TD ser ainda incipiente no Brasil, esperamos que este trabalho possa despertar mais interesse por essa abordagem e, indo mais além, servir, talvez, de ponto de partida, já que discute alguns caminhos que podem ser seguidos por investigações futuras que podem ser desenvolvidas, especialmente, em nosso país. Essas pesquisas terminológicas poderiam, então, contribuir, em português brasileiro, com: a atualização de dicionários especializados, glossários e bases terminológicas existentes; o ofício dos tradutores que, por vezes, têm de lidar com textos de produção pretérita em relação ao momento de execução de seu trabalho - o que pode causar dificuldades de compreensão terminológica e conceitual; a produção de obras dicionarísticas de um ponto de vista histórico, já que esse tipo de trabalho é relativamente raro no Brasil; o processo de aprendizagem de especialistas em formação que podem apresentar dificuldades de entendimento terminológico e conceitual relativo aos conhecimentos especializados atuais e passados; dentre outras possibilidades.

  • 1
    Consideramos, em consonância com outros pesquisadores da área, que esse evento é um importante marco para os estudos terminológicos diacrônicos. Contudo, vale dizer que, fora da Terminologia, é possível encontrar estudos diacrônicos sobre vocabulários técnicos (cf. MARONEZE; ALVES, 2019MARONEZE, Bruno; ALVES, Ieda Maria. (2019). Um estudo de História da Terminologia: os termos em William Harvey (1628). Polifonia, v. 26 n. 41, p. 84-102).
  • 2
    No original: “si l’on conçoit la terminologie comme cette partie de l’épistémologie qui étudie le rapport entre pensée scientifique et langage scientifique, on admettra que la terminologie ne peut être conçue que comme diachronique. L’essence même de la science et de l’industrie est leur caractère temporel (le fameux progrès) et on ne peut étudier les langues de la science qu’en étudiant leur développement”.
  • 3
    Dentre eles, a segunda edição do colóquio de Barcelona (BRUMME, 1999) e outro que enfocou a influência da tradução na história das linguagens especializadas (ALSINA, 2003), mencionados por Maroneze e Alves (2019)MARONEZE, Bruno; ALVES, Ieda Maria. (2019). Um estudo de História da Terminologia: os termos em William Harvey (1628). Polifonia, v. 26 n. 41, p. 84-102, além do VIII Colóquio Internacional sobre a História das Linguagens Ibero-românicas de Especialidade (CIHLIE), que ocorreu mais recentemente (em 2019) em Pisa, Itália (FINATTO, 2020FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36.). A próxima edição do CIHLIE está prevista para acontecer em maio de 2022 em Barcelona, Espanha.
  • 4
    Cumpre dizer que nossas observações não pretendem ser exaustivas no sentido de trazer todos os trabalhos existentes, pois diversos fatores nos impedem de fazê-lo: impossibilidade de acesso a todos eles por diferentes motivos, a própria limitação de tamanho deste artigo, dentre outros. Apesar de haver essas restrições, pretendemos trazer um panorama que, no geral, seja representativo das propostas que existem no Brasil e no mundo em termos de estudos em TD. Desse modo, consideramos as pesquisas realizadas exclusivamente à luz das abordagens teóricas que integram o rol de teorias em Terminologia, ainda que o façam em associação a outras disciplinas científicas.
  • 5
    Sobre implantação terminológica, cf. Montané (2012)MONTANÉ, Amor. (2012). Terminologia i implantació: anàlisi d’alguns factors que influencien l’ús dels termes normalitzats de la informàtica i les TIC en llengua catalana, Barcelona, Institut Universitari de Lingüística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra [tesis doctoral]..
  • 6
    Significado, conceito e noção, dentre outros, são termos empregados em Terminologia que implicam, cada qual, posicionamentos teóricos. Freixa (2002FREIXA, Judit. (2002). La variació terminològica: anàlisi de la variació denominativa en textos de diferent grau d’especialització de l’àrea de medi ambient. Barcelona: Institut Universitari de Lingüística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra (Sèrie Tesis, 3)., p. 93) salienta que noção e conceito podem ser considerados sinônimos (ou quase-sinônimos) no âmbito dos estudos terminológicos, enquanto a distinção entre conceito e significado tem sido uma das discussões teóricas fundamentais em Terminologia. Neste trabalho, contudo, não entramos no mérito dessa questão e esses termos são usados aqui a partir das escolhas feitas pelos autores citados neste panorama.
  • 7
    No original: “cette approche cherche depuis plusieurs années, d’une part, à systématiser les méthodes outillées d’analyse de la variation en corpus et, d’autre part, à théoriser différents aspects de l’analyse de la variation, à partir de contextes réels d’application”.
  • 8
    Seus títulos e autoras são: “Terminografia médica no Brasil no século XIX”, de Maria da Graça Krieger, “Estrutura e funcionamento dos dicionários jurídicos no Brasil do século XIX”, de Anna Maria Becker Maciel e “Terminografia brasileira no final do século XIX: contraponto entre domínios emergentes e consolidados”, de Maria José Finatto.
  • 9
    Finatto (2020)FINATTO, Maria José Bocorny. (2020). Medicina em português no século XVIII: desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais. Revista Panace@, v. 21, n. 52, p. 20-36. também apresenta alguns trabalhos brasileiros que tratam da história das terminologias e que foram realizados com base em diferentes perspectivas.
  • 10
    É importante mencionar o Dicionário Histórico do Português do Brasil (DHPB) (BIDERMAN; MURAKAWA, 2021BIDERMAN, Maria Teresa Camargo; MURAKAWA, Clotilde de Almeida Azevedo. (2021). Dicionário Histórico do Português do Brasil. Disponível em: <https://dicionarios.fclar.unesp.br/dhpb/>. Acesso em: 17 nov. 2021.
    https://dicionarios.fclar.unesp.br/dhpb/...
    ), importante contribuição no sentido de disponibilização de dados terminográficos históricos em nossa língua.
  • 11
    No original: “le concept est une construction dynamique résultant de l’interaction dialogale et interlocutive”.
  • 12
    Por vezes, o autor se refere à Lexicologia Diacrônica em seus estudos (cf. Maroneze e Alves (2019)MARONEZE, Bruno; ALVES, Ieda Maria. (2019). Um estudo de História da Terminologia: os termos em William Harvey (1628). Polifonia, v. 26 n. 41, p. 84-102), que, entendemos, não é o mesmo que TD, já que também pode tratar da evolução do léxico da língua geral, além das linguagens especializadas (valendo-se, neste caso, de outro aparato teórico-metodológico, sobre o qual não discutimos neste artigo).
  • 13
    No original: “Synchronie et diachronie sont de fait avant tout des abstractions méthodologiques nécessaires pour mener des études linguistiques, l’une pour observer un état de langue et faire abstraction des changements (« minimes »), l’autre pour comparer différents états successifs d’une langue et en décrire l’évolution”.
  • 14
    Em estudos internacionais, encontra-se o termo language for specific purposes (LSP) [língua para fins específicos] em referência aos conjuntos terminológicos encontrados em diferentes domínios especializados. Contudo, no Brasil, essa expressão é mais comumente associada a estudos no âmbito do ensino e da aprendizagem de línguas do que ao quadro da Terminologia. Por esse motivo, neste trabalho, empregamos o termo linguagem de especialidade, que é mais corrente, hoje em dia, nas pesquisas terminológicas brasileiras. Ademais, neste trabalho, optamos por utilizar sempre esse termo, ainda que as pesquisas citadas mencionem língua de especialidade.
  • 15
    No original: “l’histoire des sciences quant à elle ne relève pas des langues de spécialité et cherche moins directement à établir de liens ente l’évolution d’une discipline et l’évolution de ‘sa’ LSP”.
  • 16
    Neste trabalho, entende-se necrologia como o processo por meio do qual ocorre o desaparecimento dos termos, isto é, que entraram em desuso em um determinado domínio de especialidade (PICTON, 2014PICTON, Aurélie. (2014). The dynamics of terminology in short-term diachrony: A proposal for a corpus-based methodology to observe knowledge evolution. In: TEMMERMAN, Rita; VAN CAMPENHOUDT, Marc (org.). Dynamics and Terminology: An interdisciplinary perspective on monolingual and multilingual culture-bound communication. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company. p. 160-182.); terminologização, por sua vez, diz respeito ao processo por meio do qual uma unidade lexical da língua geral passa a ser empregada em determinado âmbito especializado para denominar um conceito especializado (Norma ISO 1087, 2019Norma ISO 1087. (2019). Terminology work and terminology science — Vocabulary. Genebra. ISO.); já o termo desterminologização nomeia o processo que transforma um termo veiculado em determinado âmbito de especialidade em uma unidade lexical da língua geral (processo este que também recebe outros nomes (MEYER; MACKINTOSH, 2000MEYER, Ingrid; MACKINTOSH, Kristen. (2000). ‘L’étirement du sens terminologique: aperçu du phénomène de la déterminologisation’ représentation mentale des concepts: bases pour une tentative de modélisation. In: BEJOINT, Henri; THOIRON, Philippe (org.). Le sens en terminologie. Lyon: Presses Universitaires de Lyon, p. 198-217.).
  • 17
    No original: “la disparition de termes et à leur éventuel remplacement par d’autres termes”.
  • 18
    No original: “associé aux cas de transfert de termes entre domaines […] ou entre niveaux de spécialisation”.
  • 19
    No original: “la description d’états successifs dans le temps. On pourra en outre parler de « variation terminologique », « temporelle » ou « chronolectale ».”.
  • 20
    Não confundir com cronoleto, que, no quadro da Sociolinguística, refere-se à variedade linguística relacionada à faixa etária de uma mesma geração de falantes (cf. MONTEIRO, 2002MONTEIRO, José Lemos. Para compreender Labov. 2. ed., São Paulo: Vozes, 2002.). No Brasil, variação cronoletal não é um termo empregado em estudos à luz da TD. Prefere-se o adjetivo cronológica, nesse caso (chronologique, em francês), que também gera confusão com a vertente variacionista em Terminologia, já que variante cronológica, como vimos, diz respeito à uma classificação proposta por Freixa (2006)FREIXA, Judit. (2006). Causes of Denominative Variation in Terminology - A Typology Proposal. Terminology, v. 12, n. 1, p.51-77..
  • 21
    Sobre o termo evolução, de forma mais específica, Møller (1998)MØLLER, Bernt. (1998). A la recherche d’une terminochronie. Meta: journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 43, n° 3, p. 426-438. salienta que, em Terminologia, ele pode se referir tanto a ideia de que os conjuntos terminológicos estão em pleno “crescimento”, na medida em que se renovam com novas unidades terminológicas que são criadas com o passar do tempo, o que pode fazer com que determinadas composições sejam mais ou menos produtivas em determinado momento, por exemplo, quanto às transformações morfológicas, sintáticas e semânticas propriamente ditas pelas quais os termos passam individualmente ao longo dos anos. A nosso ver, transformação, mudança e alteração também podem recuperar essas duas acepções.
  • 22
    Desse modo, o termo mudança, em TD, está relacionado a uma simples transformação de determinado termo ou conceito; não implica, portanto, uma alteração mais profunda no sistema linguístico.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2022

Histórico

  • Recebido
    17 Nov 2021
  • Aceito
    19 Jan 2022
  • Publicado
    05 Abr 2022
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