VIVÊNCIA DO CANCRO PARENTAL: ESTUDO DE CASO COM APLICAÇÃO DO MODELO DE NEUMAN

RESUMO

Objetivo

compreender à luz do Modelo de Sistemas de Betty Neuman, a experiência de uma mulher-mãe a vivenciar uma situação de cancro; identificar as necessidades da mulher-mãe e prescrever intervenções de enfermagem em linguagem classificada.

Método

estudo de caso do tipo qualitativo, de uma mulher-mãe de um adolescente, a vivenciar cancro. Colheita de dados realizada em Coimbra, Portugal, em 2021, através de entrevista semiestruturada, apoiada por um guião fundamentado no Modelo de Betty Neuman. Tratamento de dados realizado com base na análise de conteúdo categorial.

Resultados

a análise do discurso da mãe possibilitou identificar categorias concordantes com as variáveis do modelo: fisiológicas, psicológicas, socioculturais, espirituais e desenvolvimentais. As dificuldades mais expressas pela mãe foram o medo, alterações provocadas pela doença e o desempenho do papel parental. Os diagnósticos de enfermagem foram definidos com base nos focos “aceitação do estado de saúde”, “medo”, “papel parental” e “coping familiar”, associando-os às respetivas intervenções de enfermagem. As intervenções focaram-se no apoio e na educação.

Conclusão

o modelo teórico contribuiu para compreender e identificar as necessidades da mãe a experienciar o cancro parental, facilitando a prescrição de intervenções de enfermagem em linguagem classificada. O modelo mostrou-se pertinente para futuras intervenções em pais a vivenciar situações semelhantes.

DESCRITORES
Pais; Cancro; Parentalidade; Enfermagem; Modelos teóricos

ABSTRACT

Objective

to understand, in the light of Betty Neuman’s Systems Model, the experience of a woman-mother with cancer, and identify the woman-mother’s needs and prescribe nursing interventions in classified language.

Method

a qualitative case study of a woman-mother of a teenager experiencing cancer. Data collection carried out in Coimbra, Portugal, in 2021, through a semi-structured interview, supported by a script based on Betty Neuman’s Systems Model. Data processing performed based on categorical content analysis.

Results

the analysis of a mother’s speech made it possible to identify categories in agreement with the model variables: physiological, psychological, sociocultural, spiritual and developmental. The difficulties most expressed by the mother were fear, changes caused by the disease and parental role performance. The nursing diagnoses were defined based on the focuses “acceptance of health status”, “fear”, “parental role” and “family coping”, associating them with the respective nursing interventions. Interventions focused on support and education.

Conclusion

the theoretical model contributed to understanding and identifying the needs of a mother experiencing parental cancer, facilitating the prescription of nursing interventions in classified language. The model proved to be relevant for future interventions in parents experiencing similar situations.

DESCRIPTORS
Parents; Cancer; Parenting; Nursing; Theoretical models

RESUMEN

Objetivo

comprender, a la luz del Modelo de Sistemas de Betty Neuman, la experiencia de una mujer-madre que vive una situación de cáncer, e identificar las necesidades de la mujer-madre y prescribir intervenciones de enfermería en lenguaje clasificado.

Método

estudio de caso cualitativo de una mujer-madre de un adolescente en proceso de cáncer. Recopilación de datos realizada en Coimbra, Portugal, en 2021, a través de una entrevista semiestructurada, apoyada en un guión basado en el Modelo Betty Neuman. El procesamiento de datos fue realizado en base al análisis de contenido categórico.

Resultados

el análisis del discurso de la madre permitió identificar categorías de acuerdo con las variables del modelo: fisiológicas, psicológicas, socioculturales, espirituales y de desarrollo. Las dificultades más expresadas por la madre fueron el miedo, los cambios provocados por la enfermedad y el desempeño del rol parental. Los diagnósticos de enfermería fueron definidos a partir de los enfoques “aceptación del estado de salud”, “miedo”, “rol de los padres” y “afrontamiento familiar”, asociándolos a las respectivas intervenciones de enfermería. Las intervenciones centradas en el apoyo y la educación.

Conclusión

el modelo teórico contribuyó a la comprensión e identificación de las necesidades de las madres con cáncer parental, facilitando la prescripción de intervenciones de enfermería en lenguaje clasificado. El modelo demostró ser relevante para futuras intervenciones en padres que experimentan situaciones similares.

DESCRIPTORES
Padres; Cáncer; Paternidad; Enfermería; Modelos teóricos

INTRODUÇÃO

A incidência de cancro tem aumentado significativamente nas pessoas com idades compreendidas entre os 20 e os 50 anos1. Nestas faixas etárias, consideradas de procriação e paternidade, o diagnóstico de cancro num dos progenitores pode comprometer o desempenho do papel parental2. Considerando-se a doença oncológica a segunda principal causa de morte a nível mundial, com uma elevada incidência anual, o número de famílias afetadas por esta doença, pode provavelmente aumentar2^-3.

O cancro parental (CP) incorpora a experiência de cancro pela pessoa e núcleo familiar, repercutindo-se numa vivência angustiante e perturbadora na família, inerente à patologia oncológica, às suas repercussões físicas e psicológicas, insegurança sobre o futuro, e eventual ameaça de morte, causando sofrimento e mudanças no relacionamento de pais-filhos4. Ao longo do processo de doença, os pais que vivenciam CP estão focados em proteger os filhos de preocupações, confrontando-se com dificuldades em desempenhar o papel parental, contar a situação e manter as dinâmicas familiares5^-6. Concomitantemente, tendem a apresentar diminuição das capacidades parentais, provocada pelo desgaste físico e emocional específico da doença e pela complexidade de compreenderem as reações dos filhos à doença,7 o que pode gerar sentimento de fracasso face às suas responsabilidades. Estas circunstâncias podem afetar os pais que experienciam o CP, constituindo-se este, segundo o Modelo de Sistemas de Betty Neuman (MSN),8 um fator de stress. Atendendo a que a doença oncológica tem repercussões e traz novos desafios quer à pessoa, quer aos seus filhos, importa uma intervenção de enfermagem que inclua a díade5. Todavia, e não obstante as repercussões do CP, não existem orientações padronizadas de cuidados de enfermagem para as famílias que vivenciam esta problemática9. Considerando a relevância deste fenómeno para a sociedade, torna-se imperativo estudar a sua complexidade.

Como base conceptual para a intervenção de enfermagem para pais que vivenciam CP, considerou-se MSN8. Segundo a autora, o modelo aborda duas componentes essenciais, o stress e a reação da pessoa ao mesmo8.

Os objetivos deste estudo são compreender a vivência do CP de uma mulher-mãe, à luz do MSN; identificar as necessidades da mulher-mãe e prescrever intervenções de enfermagem recorrendo à linguagem classificada.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de caso, ancorado no paradigma qualitativo, referente à vivência do CP de uma mãe. Para a elaboração do estudo considerou-se a checklist COREQ. O presente estudo foi norteado pela autora AFS e fundamentado à luz do MSN8.

O estudo decorreu num hospital oncológico da região centro de Portugal.

A colheita de dados foi realizada a 2 de fevereiro de 2021.

A amostra é constituída por uma mulher, de 53 anos, casada, professora do ensino básico, mãe de um adolescente, do sexo masculino de 16 anos e de uma jovem adulta com 20 anos. O agregado familiar é constituído por quatro elementos, a própria, o marido e os filhos.

Os critérios de seleção da participante incluíram: ser doente oncológico, em qualquer fase da doença, com filhos dos 14 aos 18 anos de idade, ausência de défices cognitivos, que entenda e dialogue português fluentemente. O termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para participação no estudo foi assinado. Como critérios de exclusão definiram-se a necessidade de internamento em unidades de cuidados intermédios; pós-operatório imediato; complicações clínicas que impossibilitassem a verbalização; isolamento e fases terminais da doença oncológica.

A colheita de dados realizou-se recorrendo a um guião de entrevista, baseado nos conceitos e princípios metodológicos mencionados no MSN8.

Modelo de Sistemas de Betty Neuman

O MSN considera a pessoa um sistema aberto e dinâmico, numa relação de fatores fisiológicos, psicológicos, socioculturais, espirituais e desenvolvimentais, em interação contínua e recíproca com o ambiente10^-11. Através da aplicação do modelo à vivência do CP, pretende-se ajudar os pais a preservar, alcançar e a manter a estabilidade dos seus sistemas. Os cuidados de enfermagem centram-se no sistema cliente: doente oncológico, abordando os conviventes próximos díade/família (sistemas de clientes adicionais). A partir do MSN, o enfermeiro identifica as necessidades dos pais e os estímulos que possam gerar stress na díade: fatores intrapessoais, interpessoais e extrapessoais. A partir da avaliação devem planear intervenções de prevenção primária, secundária e terciária para manter a linha flexível de defesa dos pais, e avaliar o resultado. A Figura 1, demonstra o MSN apresentando a interligação entre os fatores stressores.

Figura 1 -
Modelo de Sistemas de Betty Neuman12^:3.

A colheita de dados realizou-se numa sala do hospital. A entrevista, semiestruturada, decorreu num ambiente calmo, sem interrupções, teve a duração de 60 minutos, contando com a presença da participante e do entrevistador. Foi gravada em suporte áudio e destruído após a transcrição.

O tratamento e análise de dados efetuou-se através da codificação e categorização dos dados por unidades de significado, segundo o referencial de análise de conteúdo13, e sustentados no referencial teórico do MSN8. A categorização decorreu de forma indutiva, identificando-se dimensões ou temas, mediante a análise do discurso13. Utilizou-se o Software MAXQDA para apoio na categorização.

Foram cumpridos todos os pressupostos éticos inerentes a estudos realizados com seres humanos, tendo sido aprovado pela Comissão de Ética da instituição onde se realizou a investigação. A mãe consentiu a participação e gravação da entrevista e assinou o TCLE. Os depoimentos da participante codificaram-se como M1, salvaguardando-se o anonimato e o sigilo dos dados.

RESULTADOS

De acordo com o MSN o fator de stress da mãe é vivenciar o CP. O status socioeconómico familiar não sofreu modificações, considerando-se a família a rede de suporte social. A doença oncológica da mãe é um carcinoma mamário invasivo, estadio 2, diagnosticado há um ano. No momento da entrevista encontrava-se a realizar tratamentos neoadjuvantes (quimioterapia, hormonoterapia e imunoterapia) e num período de recuperação pós-operatória (mastectomia). A Figura 2, fundamentada no MSN e adequada ao caso em análise, retrata esquematicamente a interligação dos elementos stressores, fatores stressores, os três níveis de prevenção, intervenções de enfermagem recorrendo à terminologia CIPE®14, e as ações de reconstituição. A mãe representa-se no centro do modelo, protegida pelas linhas de resistência, normal e flexível de defesa. Os stressores intrapessoais exprimem as forças que a mãe evidencia na interação da prestação de cuidados, nomeadamente o medo, as alterações da doença e modificações no papel parental. No que concerne aos fatores interpessoais, destaca-se a manutenção das relações da mãe com o marido, filhos, família e amigos próximos, e alguns profissionais de saúde. Nos fatores extrapessoais salienta-se o absentismo laboral por incapacidade, o isolamento social provocado pela situação de doença e as dificuldades para manter as dinâmicas familiares, comprometendo o papel parental. Relativamente às variáveis fisiológicas, psicológicas, socioculturais, espirituais e desenvolvimentais, foram identificados conteúdos da comunicação da mãe que se integram nas categorias conceptualizadas no modelo, cujos resultados são apresentados no Quadro 1. Conforme o MSN, o enfermeiro identifica a etiologia dos fatores stressores e a interação das varáveis, analisando potencias e reais efeitos para, em parceria com o núcleo familiar, conceber um plano de cuidados ajustado às suas necessidades. Na avaliação das necessidades da mãe, a “aceitação do estado de saúde,” o “medo,” o “papel parental”, e o “coping familiar,” constituem-se os focos de enfermagem com necessidade de intervenção. Deste modo, realizou-se o plano de cuidados utilizando-se a taxonomia CIPE^®14, com a apresentação da respetiva codificação para os focos, diagnósticos de enfermagem (DE), intervenções, atividades de diagnóstico e de avaliação, e para os resultados esperados (Quadro 2). Recorrer à linguagem classificada sustenta o processo de tomada de decisão, promovendo a documentação sistemática e a comunicação entre os enfermeiros15.

Figura 2 -
Aplicação do Modelo de Sistemas de Betty Neuman ao caso em estudo.

Quadro 1 -
Domínios, categorias, subcategorias e unidades de significado. Coimbra, Portugal, 2021.

Domínio	Categoria	Subcategoria	Unidades de significado (US)
Variáveis fisiológicas	Alterações provocadas pela doença oncológica	Efeitos secundários da quimioterapia	Vomitava muito. Tenho parestesias dos membros superiores, o paladar está alterado, tenho inchaço das pernas e dores de cabeça. Os efeitos estavam a ser violentos, não tinha forças. Esqueço-me facilmente, não tenho concentração. Não tenho energia.
Variáveis psicológicas	Alterações emocionais	Medo	Pensei e senti realmente que poderia morrer. Nunca o verbalizei, mas tive medo pelo meu filho. O que havia de ser dele, é um miúdo. (...) foi um bocado tenebroso.
		Tristeza	A nível psicológico e emocional também me fui abaixo (...) não estava muito bem psicologicamente. Às vezes achava um “vazio”, chorava. Sou mais emocional.
		Ansiedade	O processo é muito longo e causa ansiedade. É preciso estar sempre a arranjar forças. Não estava preparada para esta realidade, às vezes sentia-me perdida.
	Autoimagem		Custou-me cair o cabelo. A mastectomia foi dura (...) a primeira vez que vi fiquei sem chão. Quando me dispo é o confronto. Tive de fazer o luto e ainda o estou a fazer.
	Hospitalização		Mentalmente não estava preparada. Custou-me por causa do meu filho, porque ele sentiu imenso a minha falta. Um dia, ele disse-me ‘quando tu estavas no hospital, eu chegava a casa e não estudava, não fazia nada, só ficava à espera que me ligasses’.
	Estratégias de coping		Conversar com a família e amigos próximos. Agarrei-me com força a tudo o que podia e tentei agilizar o processo rapidamente. Não li nada sobre os tratamentos, sobre nada. Foi uma maneira de me proteger (...) nunca fiz nada sem a diretriz do médico.
Variáveis socioculturais	Alterações a nível laboral		Ainda estou de atestado, não tinha condições psicológicas para estar à frente de uma turma. Tinha mesmo de parar, porque a cabeça já não estava ali.
	Repercussões socioeconómicas		São muito mais despesas (...) o meu marido precisava de ficar de atestado. Deixei de poder ajudar os meus pais que estão doentes, e tive de recorrer a apoio para eles.
	Redes de suporte	Família	Tive apoio da minha família, ajudaram-me a tirar as pedras do caminho. Disseram que estava linda. A minha família nunca deixou que eu me afastasse deles. (…), o meu marido passou a dar-me mais apoio e aos filhos também.
		Amigos	Os meus amigos deram-me o apoio que puderam, apoiaram-me em tudo (...) eu sentia que não estava sozinha (...) sou uma privilegiada.
		Equipa de saúde	Tive apoio do médico de família, da cirurgiã, e de algumas enfermeiras. Tiveram disponibilidade para me ouvir e apoiar. Foi importante confiar na equipa.
		Redes da comunidade	Nunca procurei redes de suporte, não me inscrevi nas associações. Isto é uma coisa muito minha e quando eu tenho dúvidas, pergunto e esclareço.
Variáveis espirituais	Crenças		Zanguei-me com Deus e ainda não estou reconciliada. Não é por pensar porquê a mim. Não. Eu achava era que ninguém merecia.
Variáveis desenvolvi-mentais	Autocuidado		No banho ajudavam-me a lavar as costas (...) não me sentia bem, mas depois vai passando. Não existe um tempo certo, vai havendo uma adaptação.
	Alterações nas tarefas familiares		Tentei manter as rotinas, mas não se consegue, porque tudo muda à nossa volta. Eu é que tratava da casa e passei a não ter forças para fazer algumas coisas. O meu marido teve de assumir e muitas coisas que eu fazia passaram a ser tarefas dele.
	Relações familiares	Marido	O meu marido não estava a perceber bem a situação. Depois da mastectomia, às vezes apetecia-me afastá-lo, mas ele nunca me deixou. Ele sofreu e a nossa relação também. Ele não gosta que eu chore, não sabe o que fazer. Passou mais tempo em casa preocupado comigo e com os filhos (…).
		Filhos	A situação [a minha doença] abalou-os e a minha maior preocupação não era eu, eram eles. Quando estava pior a minha filha é que orientava a situação. O meu filho também ficou assustado, mas depois com o passar do tempo amadureceu. Não queria que ele crescesse por causa disto, mas ajudou-o. Ele sempre teve cuidado comigo, mesmo que pudesse sair, não saía para me proteger. Senti que ele ficou triste no fundo da alma, preocupado com a mãe.
		Núcleo familiar	A minha relação com o meu marido e com os meus filhos fortificou-se. Uniu-nos muito mais. Estamos todos para o mesmo objetivo. Não é um processo só meu, é da família toda.
	Papel parental		Eu não queria que os meus filhos deixassem de ter a qualidade de vida que tinham. Sou uma mãe muito atenta e que acompanho os meus filhos nos estudos, mas em alguns momentos estava mais fragilizada e não lhes dei o apoio a que estavam habituados. Esta situação comprometeu o meu papel de mãe. Sinto-me um pouco culpada por isso. Eu não tinha forças, e em alguns momentos o meu filho teve de se orientar sozinho. Não me tinha ali para lhe dar suporte.

Quadro 2 -
Plano de cuidados fundamentado na taxonomia CIPE^®14. Coimbra, Portugal, 2021.

Foco	Diagnóstico de enfermagem	Objetivo	Critérios de resultado	Intervenções de enfermagem autónomas	Resultados de enfermagem esperados
Aceitação do estado de saúde (10044273)	Aceitação do estado de saúde comprometida (10029480)	Promover a aceitação do estado de saúde da mulher-mãe ao longo da experiência do cancro.	Que a mulher-mãe se empodere de mecanismos adequados para facilitar o processo de aceitação do estado de saúde.	- Avaliar atitude face à doença (10024192) - Avaliar a aceitação do estado de saúde (10026249) - Promover aceitação do estado de saúde (10037783) - Promover autoestima (10024455) - Reforçar capacidades (10026436) - Promover apoio da família (10036078)	Aceitação do estado de saúde (10023499)
Medo (10007738)	Medo (10000703)	Reduzir o medo da mulher-mãe durante a experiência do cancro.	Que a mulher-mãe mobilize estratégias adequadas para reduzir o medo.	- Aconselhar sobre medos (10026208) - Aconselhar sobre a esperança (10026212) - Estabelecer confiança (10024396) - Providenciar apoio emocional (10027051)	Medo reduzido (10027889)
Papel Parental (10014068)	Risco de desempenho do papel parental comprometido (10015198)	Promover o papel parental da mulher-mãe durante a experiência do cancro.	Que a mulher-mãe se empodere de mecanismos adequados para desempenhar o papel parental.	- Avaliar desempenho de papéis (10026142) - Ensinar técnicas de adaptação (10023717) - Encorajar afirmações positivas (10024377) - Facilitar capacidade para desempenhar papel (10026277) - Providenciar apoio emocional (10027051) - Avaliar a auto-eficácia (10024280) - Avaliar o medo de ser uma sobrecarga para os outros (10026254)	Desempenho de papel efetivo (10027940)
Coping familiar (10034736)	Risco de coping familiar comprometido (10032364)	Promover coping e adaptação da família durante a experiência do cancro parental.	Que a família adote estratégias adequadas para promover a adaptação e o coping familiar efetivo.	- Avaliar coping familiar (10026600) - Apoiar processo de coping familiar (10032859) - Providenciar orientação antecipada à família (10026375) - Reforçar comunicação (10050309)	Coping familiar efetivo (10034770)

DISCUSSÃO

A vivência do CP pela mãe aproxima a sua linha flexível de defesa da linha normal. A definição das intervenções de enfermagem para cada DE objetiva reforçar as linhas de defesa, minimizar as consequências do CP e proporcionar o bem-estar da mãe, após a reconstituição ou recuperação. Ao nível da prevenção primária, as intervenções incorporam prover informação sobre a patologia e desenvolvimento de estratégias de coping, reduzindo fatores de risco e promovendo a adaptação ao CP e pelo fortalecimento e proteção da linha flexível de defesa11. Ao nível da prevenção secundária, as intervenções contemplam a avaliação das necessidades de informação, dificuldades de adaptação e alterações no desempenho do papel parental, permitindo um diagnóstico precoce. Estas intervenções tencionam reduzir a reação aos stressores, através das linhas de resistência, mobilizando recursos internos e externos para manter a energia e alcançar a estabilidade. No âmbito da prevenção terciária, as intervenções objetivam a readaptação à situação, atendendo às limitações físicas e psicológicas causadas pelo cancro, minimizando as consequências e prevenindo o medo. Estas intervenções iniciam-se após a reconstituição, permitindo a readaptação, através da comunicação, promoção do desempenho de papel parental efetivo e coping familiar. Na vivência do CP identificaram-se os fatores e elementos stressores que comprometeram a adaptação da mãe. As dificuldades mais recorrentes da mãe foram o medo, as alterações provocadas pela doença e o risco de compromisso no desempenho do papel parental. Estas dificuldades são referenciadas noutros estudos, nomeadamente as alterações provocadas pelo CP, que deterioram a qualidade de vida da díade, acarretando implicações ao nível de cinco dimensões: emocional, social, física, espiritual e financeira3^,16. A escassez de informação e de preparação para a doença e suas repercussões, a interrupção da atividade laboral, o isolamento social e as dificuldades para desempenhar o papel parental, constituíram-se os fatores stressores. Estes achados estão alinhados com a evidência cientifica, que aponta para que quanto mais efetivas forem as habilidades comunicacionais dos pais, o desempenho do papel parental, o ajuste emocional/comportamental dos filhos e a qualidade de vida familiar, menores serão as preocupações, ansiedade e depressão do progenitor doente17. Os elementos stressores identificados foram a adaptação e aceitação da mãe às alterações da doença, medo do prognóstico, tratamentos e da morte, inversão de papéis familiares, e papel parental comprometido. Quanto mais complexa for a vivência do CP, mais percetíveis serão os elementos e fatores stressores, podendo os pais manifestar ansiedade, medo, tristeza, alterações familiares, e sofrimento significativo17^-18. A evidência demonstra que os pais necessitam de orientações para promover a confiança e a autoeficácia da comunicação, desempenhando os enfermeiros um papel preponderante nas famílias que vivenciam o CP18. Considerando-se os focos de enfermagem identificados, as intervenções desenvolvidas visaram proporcionar apoio social às famílias e desenvolver as competências parentais, designadamente a disponibilidade emocional, as capacidades comunicacionais, reduzindo o medo, auxiliando no processo de inversão de papéis, diminuição da ansiedade e desenvolvimento de mecanismos de coping19.

Apesar do reconhecimento das necessidades desta população específica, os profissionais de saúde apontam barreiras para a incorporação de intervenções na prática clínica, designadamente: pressão do tempo; não inclusão do papel parental na avaliação clínica; barreiras estruturais e emocionais; medo de causar sofrimento; falta de confiança e défice de conhecimento para lidar com a situação20. No entanto, a avaliação estrutural familiar do doente, identificando a presença de crianças/adolescentes no agregado familiar constitui um dever,20 pelo que as intervenções de enfermagem devem incluir a díade, apoiando os pais a lidar com os filhos, aliviando as suas preocupações, e minimizando o impacto do CP ao longo da trajetória da doença20^-21.

Os resultados do estudo evidenciam o impacto da doença oncológica na vivência do papel parental, verificando-se a importância dos enfermeiros na adaptação da mãe ao CP.

Como limitações, destaca-se o tipo de estudo, podendo o estudo de caso analisado assumir-se como limitativo na generalização dos resultados. Recomenda-se a elaboração de outras investigações sobre a vivência de CP recorrendo ao MSN, com implementação e avaliação do processo de enfermagem.

Os resultados deste estudo apresentam potencial de aplicação em circunstâncias de pais, com filhos adolescentes, a vivenciar o CP. As equipas de enfermagem devem incorporar intervenções que respondam às necessidades da díade e família, destacando-se o papel parental como integrante do equilíbrio familiar. A implementação do MSN através de intervenções de enfermagem sistematizadas que atendam às necessidades dos pais, pode promover a adaptação ao CP e contribuir para minimizar o impacto psicossocial decorrente da experiência.

CONCLUSÃO

O MSN verificou-se adequado na compreensão do fenómeno e avaliação das necessidades de uma mãe a vivenciar o CP, permitindo identificar os fatores intra, inter, extrapessoais, e elementos stressores, possibilitando o planeamento de cuidados baseados nos três níveis de intervenção do modelo, considerando-se aplicável e adequado para outros pais com doença oncológica.

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NOTAS

• APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

  Aprovado no Comitê de Ética, com o parecer nº: TI 25/2020.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Leticia de Lima Trindade, Ana Izabel Jatobá de Souza. Editor-chefe: Elisiane Lorenzini.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  06 Jan 2023
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  03 Ago 2022
• Aceito
  31 Out 2022