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EVIDÊNCIA CIENTÍFICAS SOBRE EXPERIÊNCIAS DE HOMENS TRANSEUXAIS GRÁVIDOS

RESUMO

Objetivo:

analisar as evidências científicas sobre experiências de homens transexuais grávidos.

Método:

estudo descritivo, tipo revisão integrativa de literatura, sem recorte de tempo, realizada em janeiro de 2021 nas seguintes Bases de Dados: Medline, CINAHL, LILACS, CUIDEN, SCOPUS, WoS, EMBASE, PSYCINFO e BDENF, nos idiomas português, inglês e espanhol; usando os descritores DECs e MeSH: “Pessoas Transgênero”, “Gravidez”, “Reprodução”, “Fertilização”, “Inseminação”, “Cuidado Pré-Natal”, “Período Pós-Parto”, “Lactação”, “Aborto Espontâneo”, “Aborto habitual”, “Saúde reprodutiva” e “Assistência à Saúde” e respectivos sinônimos. A elaboração da questão norteadora foi conduzida pela Estratégia PICo: (População): homens transexuais; I (Interesse): experiências durante o ciclo gravídico puerperal; Co (Contexto): saúde reprodutiva e serviços de saúde. A amostra final foi submetida à Técnica de Análise Temática.

Resultados:

foram identificados 1.011 estudos. Após o processo de seleção e avaliação por pares, 10 compuseram esta revisão. A análise resultou em duas categorias temáticas: “Ciclo gravídico-puerperal: desafios e experiências” e “Corpos grávidos: percepções e relações sociais”.

Conclusão:

as experiências de homens transexuais grávidos são marcadas por inquietações relacionadas à gestação, ao parto, ao nascimento e ao puerpério, ocasionando impactos psicológicos e/ou emocionais inesperados, evidenciando a cisheteronormatividade e a transfobia como aspectos estruturantes que acrescentam uma parcela adicional ao medo do parto e violações de direitos.

DESCRITORES:
Pessoas transgênero; Gravidez; Reprodução; Fertilização; Inseminação; Cuidado pré-natal; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to analyze the scientific evidence about the experiences of pregnant transsexual men.

Method:

a descriptive, integrative literature review study without a defined time cut, carried out in January 2021 in the following Databases: Medline, CINAHL, LILACS, CUIDEN, SCOPUS, WoS, EMBASE, PSYCINFO and BDENF, in Portuguese, English and Spanish; using the DECs and MeSH descriptors: “Transgender People”, “Pregnancy”, “Reproduction”, “Fertilization”, “Insemination”, “Prenatal Care”, “Postpartum Period”, “Lactation”, “Mispontaneous Abortion” , “Habitual abortion”, “Reproductive health” and “Health Care” and their respective synonyms. The elaboration of the guiding question was conducted by the PICo Strategy: (Population): transgender men; I (Interest): experiences during the puerperal pregnancy cycle; Co (Context): reproductive health and health services. The final sample was submitted to the Thematic Analysis Technique.

Results:

a total of 1,011 studies were identified, 10 of which composed this review after the selection process and peer review. The analysis resulted in two thematic categories: “Pregnancy-puerperal cycle: challenges and experiences” and “Pregnant bodies: perceptions and social relationships”.

Conclusion:

the experiences of pregnant transsexual men are marked by concerns related to pregnancy, childbirth, birth and the puerperium, causing unexpected psychological and/or emotional impacts, evidencing cisheteronormativity and transphobia as structuring aspects which add an additional part to fear of childbirth and violations of rights.

DESCRIPTORS:
Transgender people; Pregnancy; Reproduction; Fertilization; Insemination; Prenatal care; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

analizar la evidencia científica sobre las experiencias de los hombres transexuales embarazados.

Método:

estudio descriptivo, tipo revisión bibliográfica integradora, sin corte temporal, realizado en enero de 2021 en las siguientes bases de datos: Medline, CINAHL, LILACS, CUIDEN, SCOPUS, WoS, EMBASE, PSYCINFO y BDENF, en los idiomas portugués, inglés y español; utilizando los descriptores DeCS y MeSH: "Personas Transgénero", "Embarazo", "Reproducción", "Fertilización", "Inseminación", "Atención Prenatal", "Período Posparto", "Lactancia", "Aborto Espontáneo", "Aborto Habitual", "Salud Reproductiva" y "Atención a la Salud" y sus respectivos sinónimos. La elaboración de la pregunta guía fue realizada por la estrategia PICo: hombres transgénero (P - Población); experiencias durante el ciclo gravídico-puerperal (I - Interés); salud reproductiva y servicios de salud (Co - Contexto). La muestra final se sometió a la técnica de análisis temático.

Resultados:

se identificaron 1.011 estudios. Después del proceso de selección y la revisión por pares, 10 compusieron esta revisión. El análisis se ha centrado en dos categorías temáticas: "Ciclo gravídico-puerperal: desafíos y experiencias" y "Cuerpos embarazados: percepciones y relaciones sociales".

Conclusión: l

as experiencias de hombres transexuales embarazados están marcadas por inquietudes relacionadas a la gestación, el parto, el nacimiento y el puerperio, ocasionando impactos psicológicos y/o emocionales inesperados, evidenciando la cisheteronormatividad y la transfobia como aspectos estructurales que incorporan una parcela adicional al miedo del parto y violaciones de derechos.

DESCRIPTORES:
Personas transgénero; Embarazo; Reproducción; Fertilización; Inseminación; Atención prenatal; Enfermería

INTRODUÇÃO

Apesar de estudos sobre experiências e cuidados com a saúde de homens transexuais (ou seja, aquelas pessoas que foram identificadas como sendo do gênero feminino no nascimento, mas que se reconhecem como pertencentes ao gênero masculino e se reivindicam enquanto homens) terem aumentado substancialmente nos últimos 10 anos, ainda há lacunas na produção de conhecimentos que contemplem as singularidades deste grupo11. Jesus JG. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Guia técnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros, para formadores de opinião [Internet]. Brasília: JGJ; 2012 [cited 2021 Jan 05]. 42 p.Available from:http://www.diversidadesexual.com.br/wp-content/uploads/2013/04/G%C3%8ANERO-CONCEITOS-E-TERMOS.pdf
http://www.diversidadesexual.com.br/wp-c...
-33. Prado EAJ, Sousa MF. Public policies and health of the LGBT population: one integrative review. Tempus, acta saude colet [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 05];11(1):69-80.Available from:https://doi.org/10.18569/tempus.v11i1.1895
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.

Destaca-se que as relações de poder calcadas na heterossexualidade dos corpos pressupõem, antes, que corpos são cisgêneros - sujeitos que se reconhecem com o gênero ao qual foi designado ao nascimento a partir do sexo biológico. Assim, pela lógica do senso comum, o corpo dito feminino sempre coincidirá com um corpo com vulva e vagina e o corpo masculino sempre com um pênis e testículos, e esses corpos se atrairão mutuamente por ser essa a ordem naturalizada pela heteronormatividade44. Preciado, PB. Multitudes queer: notes for a politics of "abnormality". Rev Estud Fem [Internet]. 2011 [cited 2021 Jan 05];19(1):11-20.Available from:https://doi.org/10.1590/S0104-026X2011000100002
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.

No que diz respeito aos cuidados de saúde reprodutiva, estes homens perpassam um processo contínuo de ofuscamento nos espaços de saúde organizados sob a lógica da cisheteronormatividade, em que experiências de gravidezes, partos e amamentação, por exemplo, são tratados como eventos exclusivamente “femininos” de mulheres cisgêneras e heterossexuais55. Vergueiro V. Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade [dissertation]. Salvador, BA(BR): Universidade Federal da Bahia, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade; 2015 [cited 2021 Jan 05].Available from:https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/19685
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-66. Besse M, Lampe NM, Mann ES. Experiences with achieving pregnancy and giving birth among transgender men: a narrative literature review. Yale J Biol Med [Internet]. 2020 [cited 2021 Jan 05];93(4):517-28.Available from:https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33005116/
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. Essas concepções influenciadas por normas e papéis de gêneros estabelecidos socialmente têm gerado impactos significativos sobre o estado de saúde de homens transexuais.

O parto, como a gravidez, é um processo que requer interação frequente com os serviços da saúde. A presença dessas pessoas em espaços públicos tidos como “femininos” as deixa vulneráveis às transfobias e, consequentemente, ao acometimento de adoecimentos psíquicos, necessitando do apoio social de familiares e amigos, os quais intervêm como fatores de proteção77. Sampaio AGS. Ginecologia: um espaço clínico específico para mulheres (?) Impasses e desafios para a saúde ginecológica dos homens trans. Rev Estud Transviades [Internet]. 2020 [cited 2021 Jan 05];1(2):102-18.Available from:http://revistaestudostransviades.wordpress.com/blog-2/
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. Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo analisar as evidências científicas sobre as experiências de homens transexuais grávidos.

MÉTODO

Trata-se de estudo descritivo, bibliográfico, tipo revisão integrativa de literatura, sem recorte temporal, operacionalizada pelas seguintes etapas: 1) estabelecimento da questão de pesquisa; 2) estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados e caracterização; 4) avaliação dos estudos incluídos; 5) interpretação dos resultados; 6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento88. Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. J Adv Nurs [Internet]. 2005 [cited 2021 Jan 05];52(5):546-53.Available from:https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2005.03621.x
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-1111. Sá GGM, Silva FL, Santos AMR, Nolêto JS, Gouveia MTO, Nogueira LT. Technologies that promote health education for the community elderly: integrative review. Rev Lat Am Enfermagem [Internet]. 2019 [cited 2021 Jan 10];27:e3186.Available from:https://doi.org/10.1590/1518-8345.3171.3186
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.

Para a elaboração da questão norteadora, foi utilizada a estratégia PICo: P (População): homens transexuais; I (Interesse): experiências vivenciadas durante o ciclo gravídico puerperal; Co (Contexto): saúde reprodutiva e serviços de saúde1212. Santos CMC, Pimenta CAM, Nobre MRC. The PICO strategy for there search question construction and evidence search. Rev Lat Am Enfermagem [Internet]. 2007 [cited 2021 Jan 10];15(3):508-11.Available from:https://doi.org/10.1590/s0104-11692007000300023
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. Deste modo, construiu-se a seguinte pergunta condutora: quais as evidências científicas sobre as experiências de homens transexuais grávidos?

Para sistematizar a coleta de dados, utilizou-se a busca avançada, considerando peculiaridades e características intrínsecas a cada Base de Dados. Os descritores foram combinados entre si com o conector booleano OR, em cada conjunto de termos da estratégia PICo, em seguida, cruzados com o conector booleano AND, apresentado na Quadro 1.

No que se refere aos critérios de inclusão: foram estabelecidos artigos primários que se apresentassem nos idiomas português, inglês ou espanhol. Quanto aos critérios de exclusão: artigos de revisão, publicações duplicadas (sendo incluída a publicação que estiver disponível na maior base de dados em função do número de publicação), teses, dissertações, monografias, livros, capítulos de livros, resumos de congressos, anais, programas e relatórios governamentais e demais literatura cinzenta e publicações predatórias.

O levantamento da literatura duplo cega de pesquisadores independentes foi realizado no mês de janeiro de 2021, por meio de consultas nas Bases de Dados via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline), Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), CUIDEN, The Largest base of abstracts and references from peer-reviewed scientific literature (SCOPUS), Web of Science (WoS), EMBASE, American Psychological Association base (PSYCINFO) e Bases de Dados de Enfermagem (BDENF).

Para a busca dos artigos, utilizaram-se os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Pessoas Transgênero”, “Gravidez”, “Reprodução”, “Fertilização”, “Inseminação”, “Cuidado Pré-Natal”, “Período Pós-Parto”, “Lactação”, “Aborto Espontâneo”, “Aborto habitual”, “Saúde reprodutiva” e “Assistência à Saúde”, bem como seus equivalentes na língua Inglesa disponível no Medical Subject Headings (MeSH), que foram “TransgenderPersons", “transgenders”, “transgender”, “transsexualism”, “Pregnancy”, “Gestation”, “Pregnancies”,“Reproduction”, “Fertilization”, “Insemination”, "PrenatalCare", "AntenatalCare", "Care, Antenatal", "Care, Prenatal", "PostpartumPeriod", “Puerperium”, “Lactation”, “Paternity”, "Abortion, Habitual", "Abortion, Spontaneous", "Reproductive Health", "Health, Reproductive", "Delivery of Health Care", "Health Care" e "Delivery of Healthcare".

Quadro 1 -
Estratégia de busca nas bases de dados a partir da estratégia PICo. Recife, PE, Brasil, 2021.

Após o levantamento das publicações científicas, os estudos foram organizados pelo uso do gerenciador de dados e referências Zotero, sendo enumeradas e excluídas as duplicatas. O título e o resumo dos estudos foram lidos por pares (pesquisadores independentes (duplo cega), por meio do aplicativo Rayyan QCRI, e incluídos na amostra aqueles que tiveram proximidade com a temática do estudo. Em seguida, um terceiro colaborador estabeleceu consenso entre os pares nos casos em que houve discrepâncias, visando a minimizar os vieses.

Para confirmar a elegibilidade, os artigos foram lidos na íntegra e, após a leitura do material, foram excluídos os que não responderam à questão norteadora e os que não realizaram coleta de dados com homens transexuais bem como os que não estavam disponíveis na íntegra, obtendo-se a amostra final. O corpus de análise ficou caracterizado em 10 artigos científicos; em seguida, os artigos foram avaliados quanto ao nível de evidência, respaldado na categorização, em conformidade com a abordagem metodológica da Agency for Healthcare Researchand Quality (AHRQ), a saber: Nível I -Revisões sistemáticas ou metanálise de ensaios clínicos relevantes; Nível II -Ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; Nível III ̶ Ensaios clínicos bem delineados sem randomização; Nível IV - Estudos de coorte e de caso-controle bem delineados; Nível V - Revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; Nível VI - Evidências derivadas de um único estudo descritivo ou qualitativo; Nível VII - Opinião de autoridades ou relatório de comitês de especialistas1313. Galvão CM. Níveis de evidência. Acta Paul Enferm [Internet]. 2006 [cited 2021 Kam 12];19(2):5.Available from:https://doi.org/10.1590/s0103-21002006000200001
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.

Na análise dos resultados, privilegiou-se a qualitativa a partir da análise temática, a qual possibilitou a classificação em duas categorias1414. Braun V, Clarke V. Using thematic analysis in psychology. Qualit Res Psychol [Internet]. 2006 [cited 2021 Jan 12];3(2):77-101.Available from:https://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
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. Foi confeccionado o Quadro 2, identificando as características e o nível de evidência, e um Quadro 3 com as categorizações temáticas e a síntese das experiências de homens transexuais grávidos. Foi apresentado, também, o fluxograma nas recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMArs-2020), visando a mostrar o rigor metodológico e a apresentação dos resultados (Figura 1)1515. Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ [Internet]. 2021 [cited 2021 Jan 17];372(71).Available from:https://doi.org/10.1136/bmj.n71
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.

RESULTADOS

Foram identificados 1.011 artigos primários e incluíram-se, ao final desse processo, 10 estudos. As etapas de seleção estão descritas na Figura 1.

Figura 1-
Fluxograma dos estudos selecionados adaptado do modelo PRISMArs-2020. Recife, PE, Brasil, 2021.

Quanto ao país onde foi realizado o estudo, os Estados Unidos da América (EUA) apresentaram seis artigos e tiveram apenas um artigo nos respectivos países: Suécia, Austrália, Canadá e Brasil. O idioma predominante foi o inglês e com data de publicação entre 2014 e 2020.

Quanto às Bases de Dados de origem, foram indexados artigos da CINAHL (n=3), SCOPUS (n=3), EMBASE (n=2) e WoS (1). Quanto ao delineamento metodológico, predominam os artigos de abordagem qualitativa. Sintetizando o conhecimento produzido quanto ao nível de evidência, todos os artigos apresentam nível de evidência VI. Levando-se em consideração as ideias convergentes apresentadas pelos autores, agruparam-se os resultados em duas categorias temáticas, a saber: I) Ciclo gravídico-puerperal: desafios e experiências e; II) Corpos grávidos: percepções e relações sociais.

Quadro 2 -
Distribuição dos artigos segundo autoria, ano de publicação, delineamento de pesquisa e nível de evidência. Recife,PE, Brasil, 2021.

Quadro 3-
Categorização temática e síntese dos resultados. Recife,PE, Brasil 2021. (n=10)

DISCUSSÃO

C1 - Ciclo gravídico-puerperal: desafios e experiências

Durante o ciclo gravídico-puerperal, as experiências dos homens transexuais que passaram pela gestação estão relacionadas ao medo do processo de parturição, que é o momento em que se é prestada a assistência de saúde ao parto e ao nascimento. Este momento pode resultar em impactos psicológicos e/ou emocionais inesperados: perda de controle emocional, crises de pânico e risco de morte são relatos frequentes,1616. Malmquist A, Jonsson L, Wikström J, Nieminen K. Minority stress adds an additional layer to fear of childbirth in lesbian and bisexual women, and transgender people. Midwifery [Internet]. 2019 [cited 2021 Jan 17];79:102551.Available from:https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102551
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corroborando com outro estudo desenvolvido, que identificou a ansiedade como um marcador potente na saúde mental dos homens transexuais, sendo a mesma desencadeadora de diversas doenças como a síndrome do pânico e a depressão2626. Bezerra DS, Bezerra AK, Souza RCM, Nogueira WBAG, Bonzi ARB, Costa LMM. Transgender, social invisibility and mental health. Temas em Saude [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 26];18(1):428-44.Available from:https://temasemsaude.com/wp-content/uploads/2018/04/18122.pdf
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. Além disso, há estudos que relatam a preocupação dos homens transexuais com possíveis dores intensas, lesões e complicações durante o parto1616. Malmquist A, Jonsson L, Wikström J, Nieminen K. Minority stress adds an additional layer to fear of childbirth in lesbian and bisexual women, and transgender people. Midwifery [Internet]. 2019 [cited 2021 Jan 17];79:102551.Available from:https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102551
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,2626. Bezerra DS, Bezerra AK, Souza RCM, Nogueira WBAG, Bonzi ARB, Costa LMM. Transgender, social invisibility and mental health. Temas em Saude [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 26];18(1):428-44.Available from:https://temasemsaude.com/wp-content/uploads/2018/04/18122.pdf
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Em estudo realizado na Suécia, homens transexuais grávidos expressaram o sentimento de medo de uma cesárea de emergência e outros relataram a preferência por cesariana planejada, uma vez que a ideia de ter um parto vaginal, com seus órgãos genitais expostos por longos períodos é emocionalmente perturbadora. Esse pensamento pode estar relacionado às violações vivenciadas por estes homens em um contexto de transfobia institucional, que não reconhecem este corpo “abjeto” como possível de “gestar” e por estarem inseridos em espaços de saúde, como as “maternidades”, pensadas para o atendimento de mulheres cisgêneras1616. Malmquist A, Jonsson L, Wikström J, Nieminen K. Minority stress adds an additional layer to fear of childbirth in lesbian and bisexual women, and transgender people. Midwifery [Internet]. 2019 [cited 2021 Jan 17];79:102551.Available from:https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102551
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,2424. Macdonald TK, Walks M, Biener M, Kibbe A. Disrupting the norms: reproduction, gender identity, gender dysphoria, and intersectionality. Int J Transgender Health [Internet]. 2020 [cited 2021 Jan 29];22(1-2):18-29.Available from:https://doi.org/10.1080/26895269.2020.1848692
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,2727. Sousa D, Iriart J. “Living with dignity”: health needs and demands of trans men in Salvador, Bahia State, Brazil. Cad Saúde Pública [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 26];34(10):e00036318.Available from:https://doi.org/10.1590/0102-311X00036318
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.

Durante os atendimentos em serviços de saúde em que há a necessidade de realização de exames vulvo-vaginais, o desconforto dos homens trans com seu próprio corpo ou genitais tem sido uma grande problemática, pois se pressupõe que os procedimentos técnicos realizados por profissionais da saúde são invasivos e executados sem diálogo para seu consentimento. Deve-se considerar, também, o uso anterior à gestação de hormônios masculinizantes, a exemplo da testosterona, que lhes provocam mudanças do tecido genital, o ressecamento do canal vaginal, o que pode ocasionar maior incômodo1616. Malmquist A, Jonsson L, Wikström J, Nieminen K. Minority stress adds an additional layer to fear of childbirth in lesbian and bisexual women, and transgender people. Midwifery [Internet]. 2019 [cited 2021 Jan 17];79:102551.Available from:https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102551
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,1818. Light AD, Obedin-Maliver, J, Sevelius JM, Kerns, JL. Transgender men who experienced pregnancy after female-to-male gender transitioning. Obstet Gynecol [Internet]. 2014 [cited 2021 Jan 18];124(6):1120-7.Available from:https://doi.org/10.1097/aog.0000000000000540
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Diante de uma incipiência na formação de profissionais de saúde para o atendimento ao ciclo gravídico-puerperal de homens transexuais, em especial enfermeiros e médicos obstetras, o resultado é a reprodução de uma prática profissional discriminatória. Este contexto afeta o acesso a serviços de saúde com profissionais capacitados para a garantia da assistência pré-natal, parto e puerpério de qualidade e que respeite as subjetividades dos homens transexuais1818. Light AD, Obedin-Maliver, J, Sevelius JM, Kerns, JL. Transgender men who experienced pregnancy after female-to-male gender transitioning. Obstet Gynecol [Internet]. 2014 [cited 2021 Jan 18];124(6):1120-7.Available from:https://doi.org/10.1097/aog.0000000000000540
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-1919. Hoffkling A, Obedin-Maliver J, Sevelius JM. From erasure to opportunity: a qualitative study of the experiences of transgender men around pregnancy and recommendations for providers. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];17(Suppl 2):332. Available from:Available from:Available from: https://doi.org/10.1186/s12884-017-1491-5
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. É evidente que a cisheteronormatividade e a LGBTfobia acrescentam uma parcela adicional ao medo do parto, sendo relatadas experiências anteriores de violência perpetradas por profissionais de saúde contra homens transexuais e que aumentaram o medo de parir1616. Malmquist A, Jonsson L, Wikström J, Nieminen K. Minority stress adds an additional layer to fear of childbirth in lesbian and bisexual women, and transgender people. Midwifery [Internet]. 2019 [cited 2021 Jan 17];79:102551.Available from:https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102551
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,2424. Macdonald TK, Walks M, Biener M, Kibbe A. Disrupting the norms: reproduction, gender identity, gender dysphoria, and intersectionality. Int J Transgender Health [Internet]. 2020 [cited 2021 Jan 29];22(1-2):18-29.Available from:https://doi.org/10.1080/26895269.2020.1848692
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.

Estudo realizado nos Estados Unidos da América (EUA) demonstrou que os resultados da gravidez, do parto e nascimento não diferiram de acordo com o uso anterior da testosterona pelos homens transexuais, no entanto, apresentam algumas variedades de complicações perinatais, incluindo hipertensão arterial sistêmica (HAS), trabalho de parto prematuro, descolamento prematuro da placenta e anemia ferropriva1818. Light AD, Obedin-Maliver, J, Sevelius JM, Kerns, JL. Transgender men who experienced pregnancy after female-to-male gender transitioning. Obstet Gynecol [Internet]. 2014 [cited 2021 Jan 18];124(6):1120-7.Available from:https://doi.org/10.1097/aog.0000000000000540
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. O processo de manejo clínico do uso de hormônios entre homens transexuais em acompanhamento com uma equipe de saúde multiprofissional trata-se de um procedimento seguro e que contribui para a aquisição de características corporais compatíveis com seu gênero, tendo influências positivas em seu bem-estar e qualidade de vida. No entanto, destaca-se a recomendação da interrupção de testosterona durante a gestação2828. Asscheman H, Giltay EJ, Megens JAJ, Ronde WP, van Trotsenburg MAA, Gooren LJG. A long-term follow-up study of mortality in transsexuals receiving treatment with cross-sex hormones. Eur J Endocrinol [Internet]. 2011 [cited 2021 Jan 26];164(4):635-42.Available from:https://doi.org/10.1530/eje-10-1038
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-2929. Campana GA, Zambon CP, Tiegs LMR, Cardoso CA Jr. Hormonal therapy in the transexualization process. Rev Cient Faema [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 26];9(1): 526-31.Available from:https://doi.org/10.31072/rcf.v9iedesp.627
https://doi.org/10.31072/rcf.v9iedesp.62...
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Em relação à via de parto, uma proporção daqueles que usaram testosterona foi submetida ao parto cesáreo em comparação com aqueles que não relataram uso de testosterona. Entre os que realizaram parto cesáreo, foi indicado o procedimento de cesárea eletiva. Aqueles que já haviam usado testosterona eram estatisticamente menos propensos a amamentar seu filho do que aqueles que não haviam usado testosterona anteriormente1818. Light AD, Obedin-Maliver, J, Sevelius JM, Kerns, JL. Transgender men who experienced pregnancy after female-to-male gender transitioning. Obstet Gynecol [Internet]. 2014 [cited 2021 Jan 18];124(6):1120-7.Available from:https://doi.org/10.1097/aog.0000000000000540
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,2424. Macdonald TK, Walks M, Biener M, Kibbe A. Disrupting the norms: reproduction, gender identity, gender dysphoria, and intersectionality. Int J Transgender Health [Internet]. 2020 [cited 2021 Jan 29];22(1-2):18-29.Available from:https://doi.org/10.1080/26895269.2020.1848692
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No que diz respeito a amamentação, a realização ou não da cirurgia de mamoplastia masculinizadora antes de engravidar e o tipo de técnica cirúrgica foram os principais fatores que afetaram as decisões em torno desta experiência. Durante o período puerperal, homens transexuais que possuíam mama optaram por amamamentar seus filhos. Sobre aqueles que realizam a cirurgia de mamoplastia masculinizadora anterior a gravidez, alguns produziram leite suficiente e alimentaram seus filhos por mais de 6 meses, alguns relatam um “inchaço” no local da cicatriz cirúrgica voltando a crescer um pouco do tecido mamário ou até mesmo atingir o tamanho anterior à cirurgia, mas não amamentaram, e outros não apresentaram inchaço ou lactação1919. Hoffkling A, Obedin-Maliver J, Sevelius JM. From erasure to opportunity: a qualitative study of the experiences of transgender men around pregnancy and recommendations for providers. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];17(Suppl 2):332. Available from:Available from:Available from: https://doi.org/10.1186/s12884-017-1491-5
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Outro estudo mencionou a ressignificação das mamas, parte do corpo normalmente associada a um desconforto, que poderia fornecer nutrição para seus filhos, portanto, planejava-se com antecedência a alimentação infantil e buscavam-se informações e apoio para suas escolhas, considerando os benefícios à saúde e à utilidade da amamentação para o bebê e promovendo a criação de vínculos entre pai e filho. Alguns relatos mencionam que muitos se sentiam confortáveis em amamentar em espaços públicos, sendo este um ato político2020. Macdonald T, Noel-Weiss J, West D, Walks M, Biener M, Kibbe A, et al. Transmasculine individuals’ experiences with lactation, chestfeeding, and gender identity: a qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2016 [cited 2021 Jan 25];16:106.Available from:https://doi.org/10.1186/s12884-016-0907-y
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Em um dos estudos encontrados nesta revisão, alguns participantes tiveram que lidar com desafios físicos no período pós-parto: dois participantes relataram que passaram por cirurgia de mamoplastia masculinizadora anterior a gestação e experimentaram ingurgitamento mamário e sinais precoces de mastite, não estando os profissionais da saúde preparados para o manejo desses agravos. Além disso, relatam terem sido tocados na mama sem consentimento, sendo uma experiência que causou angústia durante um momento já desafiador2020. Macdonald T, Noel-Weiss J, West D, Walks M, Biener M, Kibbe A, et al. Transmasculine individuals’ experiences with lactation, chestfeeding, and gender identity: a qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2016 [cited 2021 Jan 25];16:106.Available from:https://doi.org/10.1186/s12884-016-0907-y
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É preciso se utilizar de outras possibilidades de alimentação infantil para filhos(as) de homens transexuais que não optarem pela amamentação, a exemplo do uso dos bancos de leite ou fórmulas lácteas, sendo responsabilidade dos profissionais comunicarem, durante a assistência pré-natal, a respeito das diferentes opções, não devendo pressionar o usuário e respeitando sua autonomia2020. Macdonald T, Noel-Weiss J, West D, Walks M, Biener M, Kibbe A, et al. Transmasculine individuals’ experiences with lactation, chestfeeding, and gender identity: a qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2016 [cited 2021 Jan 25];16:106.Available from:https://doi.org/10.1186/s12884-016-0907-y
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. Conforme a amamentação prosseguia, os participantes tiveram que fazer escolhas sobre como equilibrar os desconfortos com o corpo com a alimentação de seus filhos em meio ao processo de afirmação de gênero2020. Macdonald T, Noel-Weiss J, West D, Walks M, Biener M, Kibbe A, et al. Transmasculine individuals’ experiences with lactation, chestfeeding, and gender identity: a qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2016 [cited 2021 Jan 25];16:106.Available from:https://doi.org/10.1186/s12884-016-0907-y
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Existe um relato na literatura em que um homem transexual fez uso da testosterona enquanto amamentava e afirmou ter vivenciado uma experiência positiva. Ele notou que “amarrar” ou usar “faixas torácicas nos seios” e fazer uso de testosterona permitia que ele se apresentasse como homem e alimentasse seu filho desde a primeira infância. No entanto, a recomendação dos profissionais da saúde que o acompanhavam foi observar atentamente a criança em busca de quaisquer sinais de puberdade precoce, como crescimento de pelos no corpo. Durante sua experiência, não ocorreu a diminuição na produção de leite e coincidiu com o reinício da hormonização quando seu filho tinha aproximadamente 21 meses, o equivalente a 1 ano e 9 meses2020. Macdonald T, Noel-Weiss J, West D, Walks M, Biener M, Kibbe A, et al. Transmasculine individuals’ experiences with lactation, chestfeeding, and gender identity: a qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2016 [cited 2021 Jan 25];16:106.Available from:https://doi.org/10.1186/s12884-016-0907-y
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É frequente que homens transexuais descrevam pensamentos e sentimentos sobre fazer a cirurgia de masculinização do tórax após o desmame. Três participantes de um dos estudos incluídos nesta revisão mencionaram que nunca experimentaram disforia de gênero durante a amamentação, mas experimentaram disforia de gênero intensa logo após o desmame. Para esses participantes, ter tecido mamário e usá-lo para amamentar não parecia ser problemático2020. Macdonald T, Noel-Weiss J, West D, Walks M, Biener M, Kibbe A, et al. Transmasculine individuals’ experiences with lactation, chestfeeding, and gender identity: a qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2016 [cited 2021 Jan 25];16:106.Available from:https://doi.org/10.1186/s12884-016-0907-y
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Diante do despreparo de profissionais da saúde para lidar com as mudanças de humor durante o período puerperal de uma gestação de homens transexuais, ocorrem diversos relatos de falta de condução adequada do atendimento prestado durante o pré-natal, inclusive, preparando-lhes para os riscos pós-parto, a exemplo da depressão pós-parto, fazendo-lhes com que se sentissem inseguros quanto a identificação para realizar a diferenciação entre depressão e alterações de humor. Apesar disto, foram relatadas experiências positivas durante a assistência à saúde caracterizadas por encontros clínicos que proporcionaram privacidade, naturalização da gestação transexual, reconhecimento de sua paternidade e ausência de atitudes vexatórias1919. Hoffkling A, Obedin-Maliver J, Sevelius JM. From erasure to opportunity: a qualitative study of the experiences of transgender men around pregnancy and recommendations for providers. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];17(Suppl 2):332. Available from:Available from:Available from: https://doi.org/10.1186/s12884-017-1491-5
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A compreensão da gravidez e o nascimento foram relatados como uma possibilidade para efetivação da paternidade. Cada vez mais a gestação tem sido desejada entre homens transexuais e se configuram como necessárias para constituir relações que rompem com a lógica tradicional “familiar”1818. Light AD, Obedin-Maliver, J, Sevelius JM, Kerns, JL. Transgender men who experienced pregnancy after female-to-male gender transitioning. Obstet Gynecol [Internet]. 2014 [cited 2021 Jan 18];124(6):1120-7.Available from:https://doi.org/10.1097/aog.0000000000000540
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No geral, as gestações não são planejadas. É importante destacar, também, que existem relatos de aborto espontâneo e aborto provocado entre este público, no sentido de os serviços de saúde lhes garantir o manejo adequado e humanizado às situações de risco e à assistência integral2323. Angonese M, Lago MCS. Reproductive health and rights for the population of transvestites and transsexuals: abjection and symbolic sterility. Saude Soc [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];26(1):256-70.Available from:https://doi.org/10.1590/s0104-12902017157712
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. A violência e o preconceito sofridos nos serviços de saúde por pessoas que provocam aborto não é direcionado de forma restrita aos homens transexuais, mas é uma realidade que violenta o direito de escolha de homens e mulheres que engravidam2323. Angonese M, Lago MCS. Reproductive health and rights for the population of transvestites and transsexuals: abjection and symbolic sterility. Saude Soc [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];26(1):256-70.Available from:https://doi.org/10.1590/s0104-12902017157712
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,2525. Light A, Wang L-F, Zeymo A, Gomez-Lobo V. Family planning and contraception use in transgendermen. Contraception [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 26];98(4):266-9.Available from:https://doi.org/10.1016/j.contraception.2018.06.006
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. Ressalta-se que os sistemas de informação de saúde ainda não incluem homens transexuais, o que dificulta o acesso às unidades de saúde e produção de indicadores para avaliação de suas necessidades2121. Moseson H, Fix L, Hastings J, Stoeffler A, Lunn MR, Flentje A, et al. Pregnancy intentions and outcomes among transgender, nonbinary, and gender-expansive people assigned female or intersex at birth in the United States: results from a national, quantitative survey. Int J Transgend Health [Internet]. 2020 [cited 2021 Jan 25];22(1-2):30-41.Available from:https://doi.org/10.1080/26895269.2020.1841058
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C2 - Corpos grávidos: percepções, representações e relações sociais

O processo de afirmação de gênero para o homem transexual grávido pode ser impactado pela interrupção da hormonização masculinizante. Além disso, a representação do corpo grávido ainda é associada a uma característica, essencialmente, “feminina e cisgênera”. As consequências da perda de alguns estereótipos considerados socialmente “masculinos” podem diminuir a “passabilidade”, ou seja, quando um indivíduo busca alcançar e ser capaz de se “passar” por cisgênero, configurando-se como uma estratégia de autoproteção em contextos intolerantes1717. Charter R, Ussheret JM, Perz J, Robinson K. The transgender parent: experiences and constructions of pregnancy and parenthood for transgendermen in australia. Int J Transgend [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 21];19(1):64-77.Available from:https://doi.org/10.1080/15532739.2017.1399496
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,3030. Duque T. Gêneros Incríveis: um estudo socioantropológico sobre as experiências de (não) passar por homem e/ou mulher. Campo Grande, MG(BR): EDUFMS; 2017. . Esta experiência torna-se angustiante e pode resultar na não procura dos homens transexuais grávidos por serviços de pré-natal devido a invisibilidade de sua existência e suas especificidades1717. Charter R, Ussheret JM, Perz J, Robinson K. The transgender parent: experiences and constructions of pregnancy and parenthood for transgendermen in australia. Int J Transgend [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 21];19(1):64-77.Available from:https://doi.org/10.1080/15532739.2017.1399496
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Em estudo realizado na Austrália1717. Charter R, Ussheret JM, Perz J, Robinson K. The transgender parent: experiences and constructions of pregnancy and parenthood for transgendermen in australia. Int J Transgend [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 21];19(1):64-77.Available from:https://doi.org/10.1080/15532739.2017.1399496
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os relatos dos homens transexuais referiram desconfortos relacionados às experiências com a gravidez: dissociação no reconhecimento de seus corpos grávidos como evento biológico. A experiência mencionada como a mais desafiadora foram as alterações no tórax, com o aumento das mamas. Estes homens se utilizam, frequentemente, de estratégias para ocultar as mamas, como “binder”, mas que não são eficazes durante a gravidez. Este contexto resulta em isolamento devido ao “medo de ser descoberto” que pode perdurar até o puerpério1616. Malmquist A, Jonsson L, Wikström J, Nieminen K. Minority stress adds an additional layer to fear of childbirth in lesbian and bisexual women, and transgender people. Midwifery [Internet]. 2019 [cited 2021 Jan 17];79:102551.Available from:https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102551
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-1717. Charter R, Ussheret JM, Perz J, Robinson K. The transgender parent: experiences and constructions of pregnancy and parenthood for transgendermen in australia. Int J Transgend [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 21];19(1):64-77.Available from:https://doi.org/10.1080/15532739.2017.1399496
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,3030. Duque T. Gêneros Incríveis: um estudo socioantropológico sobre as experiências de (não) passar por homem e/ou mulher. Campo Grande, MG(BR): EDUFMS; 2017. .

A amamentação pós-parto também foi relatada como um fator desencadeador de incômodos e profundamente angustiante. Neste sentido, é necessário reforçar a importância da rede social de apoio, sobretudo, a participação do(a) parceiro(a) durante o ciclo gravídico-puerperal, além dos familiares e amigos próximos que possam apoiar positivamente1717. Charter R, Ussheret JM, Perz J, Robinson K. The transgender parent: experiences and constructions of pregnancy and parenthood for transgendermen in australia. Int J Transgend [Internet]. 2018 [cited 2021 Jan 21];19(1):64-77.Available from:https://doi.org/10.1080/15532739.2017.1399496
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. Em estudo realizado nos Estados Unidos da América, alguns participantes citaram suas comunidades de apoio como uma fonte de resiliência contra os desafios que enfrentaram. Uma fonte particular de apoio foi um grupo do Facebook, no qual puderam trocar experiências entre pares1919. Hoffkling A, Obedin-Maliver J, Sevelius JM. From erasure to opportunity: a qualitative study of the experiences of transgender men around pregnancy and recommendations for providers. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];17(Suppl 2):332. Available from:Available from:Available from: https://doi.org/10.1186/s12884-017-1491-5
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Ser reconhecido como homem, com o uso consistente de nomes e pronomes masculinos, foi referido como fundamental para o senso de segurança emocional, bem-estar e promoção da qualidade de vida deles. Para alguns, serem tratados como homens grávidos significou um ato político1919. Hoffkling A, Obedin-Maliver J, Sevelius JM. From erasure to opportunity: a qualitative study of the experiences of transgender men around pregnancy and recommendations for providers. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];17(Suppl 2):332. Available from:Available from:Available from: https://doi.org/10.1186/s12884-017-1491-5
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Para alguns homens transexuais, utilizar estratégias de ocultação da gestação fizeram parte de sua experiência a fim de evitar violências transfóbicas e aumentar sentimentos de segurança, sendo estas: 1) passar-se por uma mulher cisgênera, aumentando a afirmação externa da gravidez e ocorrendo a negação da sua afirmação enquanto sujeito com identidade de gênero masculina; 2) Agir de forma com que as pessoas pudessem reconhecê-lo como homem cisgênero aumentou a afirmação externa do gênero masculino e diminuindo a exposição à transfobia, mas, também, diminuiu a afirmação externa da gravidez. Por não estar visível como grávido, alguns direitos básicos lhes foram negados: suporte social, assistência com equipe de saúde multiprofissional e o reconhecimento de sua subjetividade. Aqueles que se passam por homem cisgênero relataram “ser percebido como um homem obeso e nunca como uma mulher grávida”. Em contrapartida, outros homens transexuais tornaram-se publicamente visíveis enquanto homens transexuais grávidos, com a afirmação de sua identidade de gênero transmasculina e de sua gravidez. No entanto, alguns participantes temeram uma maior probabilidade à violência transfóbica1919. Hoffkling A, Obedin-Maliver J, Sevelius JM. From erasure to opportunity: a qualitative study of the experiences of transgender men around pregnancy and recommendations for providers. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];17(Suppl 2):332. Available from:Available from:Available from: https://doi.org/10.1186/s12884-017-1491-5
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O aumento de volume das mamas tornou-se uma das principais problemáticas em relação à percepção do seu gênero por outras pessoas. Ter tecido mamário proeminente pode resultar em indivíduos sendo identificados por outros como mulheres cisgêneras com mais frequência do que outras características sexuais secundárias tipicamente femininas, incluindo o abdômem de grávida. Estes homens notaram que suas gestações eram frequentemente identificadas como obesidade e, geralmente, eram mais fáceis de disfarçar com roupas do que a própria mama2020. Macdonald T, Noel-Weiss J, West D, Walks M, Biener M, Kibbe A, et al. Transmasculine individuals’ experiences with lactation, chestfeeding, and gender identity: a qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2016 [cited 2021 Jan 25];16:106.Available from:https://doi.org/10.1186/s12884-016-0907-y
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,2323. Angonese M, Lago MCS. Reproductive health and rights for the population of transvestites and transsexuals: abjection and symbolic sterility. Saude Soc [Internet]. 2017 [cited 2021 Jan 25];26(1):256-70.Available from:https://doi.org/10.1590/s0104-12902017157712
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Homens transexuais, por vezes, não conseguem transitar em espaços gendrados de gênero,3131. Lauretis T. A tecnologia do gênero. Bloomington, IN(US): Indiana University Press; 1987. ou seja, aqueles marcados por especificidades ditas do gênero feminino/masculino. A ideia do “não pertencimento” dos homens trans a estes locais, por exemplo, os serviços de saúde, acentua as vulnerabilidades em relação à saúde física e psicológica77. Sampaio AGS. Ginecologia: um espaço clínico específico para mulheres (?) Impasses e desafios para a saúde ginecológica dos homens trans. Rev Estud Transviades [Internet]. 2020 [cited 2021 Jan 05];1(2):102-18.Available from:http://revistaestudostransviades.wordpress.com/blog-2/
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Neste estudo foram identificadas lacunas de produções científicas no contexto dos homens transexuais grávidos. Estas decorrem da falta de estudos que abordassem às experiências do enfermeiro durante a assistência pré-natal, parto, nascimento e puerpério, especialmente, sobre a experiência da amamamentação.

Recomenda-se, assim, o desenvolvimento de estudos empíricos no âmbito das Ciências da Saúde que possam fomentar o debate a respeito dessa lacuna identificada, especialmente durante a formação do enfermeiro, para romper as barreiras do conservadorismo e reorientar o cuidado integral a homens transexuais e pesssoas transmasculinas3232. Abreu PD, Araújo EC, Vasconcelos EMR, Moura JWS, Sousa JC, Santos CB. Transexual “Womanhood” and the emergence of transfeminism: rhetorics of hiv/aids in the light of the queer theory. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2019 [cited 2021 Jan 28];28:e20180294.Available from:http://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2018-0294
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CONCLUSÃO

As evidências científicas analisadas nesse estudo demonstraram que as experiências de homens transexuais durante a gestação, ao parto, nascimento e puerpério estiveram associadas a impactos psicológicos inesperados. Os estudos evidenciaram o despreparo dos profissionais da saúde no reconhecimento das demandas dos homens transexuais durante todo o ciclo gravídico-puerperal. Este contexto esteve associado à perpetuação do modelo cisheteronormativo na prestação de cuidados à saúde, que contribui com o medo dos homens transexuais em parir e nas violações de seus direitos.

Evidenciaram-se estratégias mais comuns utilizadas durante a ocultação da gestação entre homens transexuais, sendo elas passar-se por uma mulher cisgênera ou agir de forma com que as pessoas pudessem reconhecê-lo como homem cisgênero. Já outros visibilizaram sua identidade de gênero transmasculina e de sua gravidez, mas se expuseram ao risco de violências transfóbicas.

Sugere-se, assim, a realização de pesquisas empíricas que discorram sobre outras experiências, com foco na assistência à saúde de homens transexuais durante o planejamento reprodutivo, pré-natal, parto, nascimento e puerpério, dando visibilidade a existência dessas pessoas e da necessidade do atendimento equânime e integral operacionalizado por meio do respeito às diferenças.

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NOTAS

  • FINANCIAMENTO

    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Não se aplica

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Jaime Alonso Caravaca-Morera, Monica Motta Lino. Editor-chefe: Roberta Costa

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    08 Nov 2021
  • Aceito
    24 Mar 2022
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