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NA TRILHA DE RAYMOND WILLIAMS PARA PENSAR CULTURA E POLÍTICA NO BRASIL1 1 Este artigo formaliza a exposição oral realizada no X Colóquio Marx e Engels, na mesa: Centenário de Raymond Williams. Centro de Estudos Marxistas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas (Cemarx-IFCH-Unicamp), Campinas, 27 de julho de 2021.

ON THE TRACK OF RAYMOND WILLIAMS TO THINK ABOUT CULTURE AND POLITICS IN BRAZIL

RESUMO

O artigo busca pensar como as formulações teóricas de Raymond Williams podem ajudar a analisar as relações entre cultura e política na sociedade brasileira. A apropriação de alguns de seus conceitos - em especial os de hegemonia (associado a hegemonia alternativa), estruturas de sentimento e determinação - tem sido fundamental para minhas próprias investigações, que são destacadas no texto, bem como para outros pesquisadores das ciências humanas.

Palavras-chave:
Raymond Williams; Hegemonia; Estruturas de sentimento; Determinação; Cultura brasileira

Abstract

The article seeks to think about how Raymond Williams’ theoretical formulations can help analyze the relations between culture and politics in the Brazilian society. The appropriation of some of his concepts - especially those of hegemony (associated with alternative hegemony), structures of feeling and determination - has been fundamental for my own investigations, which are highlighted in the text, as well as for other researchers in the human sciences.

Keywords:
Raymond Williams; Hegemony; Structures of feeling; Determination; Brazilian culture

No contexto de um debate sobre o legado da obra de Raymond Williams, este artigo busca pensar como seu materialismo cultural pode ajudar a analisar temas concretos, mais especificamente, as relações entre cultura e política no Brasil. Trato de expor brevemente como a apropriação de alguns de seus conceitos tem sido fundamental para minhas próprias investigações, e também para outros pesquisadores que se dedicam por exemplo à sociologia da cultura, à história dos intelectuais e ao pensamento social brasileiros. Serão abordados três dos conceitos inspiradores com os quais ele trabalha: hegemonia (associado a hegemonia alternativa), estruturas de sentimento e determinação. Tento esclarecer particularmente a influência de Williams sobre minha formação e produção intelectual. Primeiro, seu entendimento de hegemonia foi inspirador para a tese de doutorado, depois adaptada para a forma de livro (Ridenti, 2010bRidenti, Marcelo. (2010b). O fantasma da revolução brasileira. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Unesp .). Em segundo lugar, o conceito de estruturas de sentimento formulado por Williams serviu de base para a análise de aspectos do nacionalismo cultural e político de esquerda no Brasil nos anos de 1960 (Ridenti, 2010aRidenti, Marcelo. (2010a). Brasilidade revolucionária: um século de cultura e política. São Paulo: Editora Unesp .). Em terceiro lugar, meu livro mais recente (Ridenti, 2022Ridenti, Marcelo. (2022). O segredo das senhoras americanas: intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural. São Paulo: Editora Unesp .) foi influenciado pelo modo como Raymond Williams tratou teoricamente o tema da determinação, a impor limites e pressionar a atividade dos sujeitos, que entretanto têm alguma margem de manobra para agir, na contracorrente de visões deterministas. Em suma, Williams é um autor essencial para analisar as relações entre cultura, política e sociedade, cuja perspectiva é fértil também para compreender suas expressões no Brasil.

NOTA SOBRE A CRONOLOGIA DAS TRADUÇÕES DA OBRA DE WILLIAMS NO BRASIL

Se bem me lembro, a primeira vez que uma referência a Raymond Williams chamou minha atenção num trabalho sobre cultura e política no Brasil foi na introdução do livro de Marilena Chaui, Conformismo e resistência, no fim dos anos de 1980 (Chaui, 1987Chaui, Marilena. (1987). Conformismo e resistência. São Paulo: Brasiliense.). Ela usava sobretudo a versão original em inglês de Marxismo e literatura, obra que havia sido traduzida para o português em 1979, apenas dois anos após a edição original - caso único, pois em geral os livros de Williams demoraram para ser traduzidos no Brasil. Marxismo e literatura foi publicado por Jorge Zahar, que - em paralelo com Enio Silveira da editora Civilização Brasileira - foi responsável pela versão brasileira das obras mais importantes de ciências humanas nos anos 1960 e 1970, incluindo a literatura marxista (Oliveira, P., 2017Oliveira, Paulo Roberto Pires de. (2017). A marca do Z: a vida e os tempos do editor Jorge Zahar. Rio de Janeiro: Zahar.; Silva, 2019Silva, Leonardo Nóbrega da. (2019). Editoras e ciências sociais no Brasil: a Zahar Editores e a emergência das ciências sociais como gênero editorial (1957-1984). Doutorado em Sociologia. IESP/Universidade do Estado do Rio de Janeiro.).

A tradução rápida de Marxismo e literatura contrastava com as poucas edições de Williams então disponíveis no Brasil, talvez pela referência ao marxismo no título, que gozava de alto prestígio acadêmico no final dos anos 1970, quando ainda se lutava contra a ditadura - 1979, lembre-se, era o ano da Anistia e da volta dos exilados. Marxismo e literatura foi o segundo livro de Williams publicado no Brasil, e o primeiro fora o clássico Cultura e sociedade, com breve apresentação de Anísio Teixeira (Companhia Editora Nacional, 1969, original inglês publicado 1958). Só uma década depois de Marxismo e literatura viriam as traduções de O campo e a cidade (Companhia das Letras, 1989, editado em inglês em 1973), e Cultura (Paz e Terra, 1992, reeditado em 2000, original de 1981).

O livro de Maria Elisa Cevasco (2001Cevasco, Maria Elisa. (2001). Para ler Raymond Williams. São Paulo: Paz e Terra.), Para ler Raymond Williams, propôs uma síntese ao mesmo tempo aprofundada e didática do conjunto da obra de Williams, e abriu caminho para novas traduções, algumas por iniciativa da própria autora. Ela também tem o mérito de lembrar enfaticamente que a obra de Williams pertence à tradição marxista, pois esse fato tende a ficar diluído nas apropriações dos chamados “estudos culturais”, tão difundidos a partir do mundo anglo-saxão (Cevasco, 2001Cevasco, Maria Elisa. (2001). Para ler Raymond Williams. São Paulo: Paz e Terra.). Paralelamente a essa autora, houve outros difusores da obra de Williams no Brasil, como Iná Camargo Costa (1996Costa, Iná Camargo. (1996). A hora do teatro épico no Brasil. Rio de Janeiro: Graal.).

A partir do começo do século XXI, foi crescente o uso das obras de Williams nas ciências sociais, o que se deu em parte associado à influência de Pierre Bourdieu, com quem tinha afinidades, embora Williams se reivindicasse marxista e Bourdieu, não. Veja-se, por exemplo, a tese e depois livro de Heloísa Pontes (1998Pontes, Heloisa. (1998). Destinos mistos: os críticos do Grupo Clima em São Paulo, 1940-1968. São Paulo: Companhia das Letras .) sobre o grupo da revista Clima de Antonio Candido e companheiros, em que ela tomou como referência o estudo de Williams sobre o grupo de Bloomsbury de Virginia Wolf e outros.

Em sequência, foram publicados os livros: Política do modernismo (Editora Unesp, 2001, original de 1989), Tragédia moderna (Cosac Naify, 2002, original de 1964), Palavras-chave (Boitempo, 2007, original de 1976), Cultura e materialismo (Editora Unesp, 2011, original de 1980), A política e as letras (Editora Unesp, 2013, original de 1979), A produção social da escrita (Unesp, 2014, original de 1985), a coletânea Recursos da esperança (Editora Unesp, 2015, original de 1989) e Televisão: tecnologia e forma cultural (Boitempo, 2016, original de 1974). Como se vê, a difusão da obra de Williams no Brasil ocorreu sobretudo nos anos 2000, o que atesta a acuidade e a capacidade de sobrevivência de seu pensamento, em particular para tratar de questões de cultura que não se restringiam à época em que ele viveu (1921-1988). O caráter original e aberto de sua obra - pioneira na crítica ao determinismo econômico e à normatividade presentes em outros autores marxistas - contribuiu para reavivar sua tradição de pensamento no contexto do novo século.

HEGEMONIA

A interpretação de Williams sobre cultura e hegemonia tem ajudado a pensar o tema na sociedade brasileira. Ela se tornou decisiva, por exemplo, para a já referida Marilena Chaui no fim dos anos 1980. Exemplo disso é sua obra Conformismo e resistência (Chaui, 1987Chaui, Marilena. (1987). Conformismo e resistência. São Paulo: Brasiliense.), escrita no contexto dos primeiros anos de surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT), com base nos então chamados “novos movimentos sociais”. O partido pretendia ser diferente da tradição de comunistas e de trabalhistas, inclusive na interpretação da cultura popular. Marilena valorizava Williams e outros autores da New Left britânica, especialmente E. P. Thompson, que destacavam a experiência vivida da classe trabalhadora. Ela incorporava também autores de diversas tradições, como Claude Lefort, Cornelius Castoriadis e Hannah Arendt - e ainda Gramsci, lido com as lentes de Williams. Marilena pretendia, no livro, abordar a cultura popular “como expressão dos dominados, buscando as formas pelas quais a cultura dominante é aceita, interiorizada, reproduzida e transformada, tanto quanto as formas pelas quais é recusada, negada e afastada, implícita ou explicitamente, pelos dominados” (Chaui, 1987Chaui, Marilena. (1987). Conformismo e resistência. São Paulo: Brasiliense.: 24). Ou seja, baseada em parte na leitura que Williams fazia de Gramsci (2002Gramsci, Antonio. (2002). Cadernos do cárcere. Edição de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 6 v.), Marilena colocava a questão da hegemonia e da construção de uma alternativa pelas classes populares.

A hegemonia burguesa era compreendida por ela como a “subordinação interiorizada e imperceptível” de um “complexo de experiencias, relações e atividades” (Chaui, 1987Chaui, Marilena. (1987). Conformismo e resistência. São Paulo: Brasiliense.: 21-22). Essa formulação resumia e acompanhava os termos de Williams, que abordava a hegemonia como “um sistema vivido de significados e valores […] um senso de realidade absoluta, porque experimentada, e além da qual é muito difícil para a maioria dos membros da sociedade movimentar-se, na maioria das áreas de sua vida” (Williams, 1979Williams, Raymond. (1979). Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar .: 113). Interessava a ela, na época do surgimento dos novos movimentos sociais e do PT, o entendimento da hegemonia como processo ativo, no sentido exposto por Williams (apudChaui, 1987Chaui, Marilena. (1987). Conformismo e resistência. São Paulo: Brasiliense.: 23):

a hegemonia deve ser vista como mais do que simples transmissão de uma dominação imutável. Todo processo hegemônico precisa ser especialmente atento e capaz de responder às alternativas e oposições que questionam e desafiam sua dominação. A realidade do processo cultural deve ser sempre capaz de incluir os esforços e as contribuições daqueles que, de um modo ou de outro, estão fora ou na margem dos termos da ideologia específica.

Lendo Williams e inspirado pelo texto de Marilena Chaui, em minha tese de doutorado de 1989 - que depois foi transformada no livro O Fantasma da Revolução Brasileira -, tratei de pensar o tema da hegemonia para abordar a relação entre cultura, política e sociedade nos anos 1960 (Ridenti, 2010bRidenti, Marcelo. (2010b). O fantasma da revolução brasileira. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Unesp .). O foco específico era analisar as esquerdas armadas contra a ditadura e suas conexões com a produção cultural da época, que anunciavam a possibilidade de construir uma hegemonia alternativa (Ridenti, 2010bRidenti, Marcelo. (2010b). O fantasma da revolução brasileira. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Unesp .). De modo geral, a hegemonia política, econômica e cultural nunca deixou de ser burguesa na sociedade brasileira, pelo menos desde o fim da Segunda Guerra. Sempre foram dominantes as ideias e os valores comprometidos com o desenvolvimento nacional desigual e combinado2 2 O conceito de desenvolvimento desigual e combinado — originalmente formulado por Trotsky para compreender a formação social russa e sua inserção no capitalismo mundial no começo do século XX — inspirou autores brasileiros. Um exemplo é Francisco de Oliveira (1975), que foi crítico das concepções dualistas da história, segundo as quais a sociedade estaria cindida em duas no Brasil: uma moderna, em pleno desenvolvimento, que estaria sobreposta a outra, constituída de um país atrasado e subdesenvolvido a ser superado. Ao contrário, Oliveira entendia que na formação social brasileira haveria a convivência de diferentes etapas, uma combinação das fases distintas de desenvolvimento que tornava indissociáveis as formas ditas “arcaicas” daquelas mais modernas no capitalismo periférico. Um desenvolvimento desigual e subordinado em relação às nações centrais, e combinado indissoluvelmente com o chamado “atraso” interno, a conviver com setores capitalistas de ponta. . Não obstante, nos anos 1960, constitui-se um esboço de hegemonia alternativa. Havia uma “relativa hegemonia cultural de esquerda” que ameaçava a ordem em âmbito local e mundial, mas não deixava de fazer parte dela, segundo o artigo clássico de Roberto Schwarz (1978Schwarz, Roberto. (1978). Cultura e política, 1964-1969. In: Schwarz, Roberto. O pai de família e outros estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 61-92. (Clássicos Latino-Americanos).).

A disseminação de ideias críticas em certos meios intelectualizados - como no Cinema Novo, no Teatro de Arena, depois na Tropicália -, com o correr dos anos e as mudanças no cenário político, acabou sendo crescentemente utilizada de forma distorcida para a legitimação e consolidação da hegemonia burguesa reorganizada. A Rede Globo, por exemplo, usou de maneiras imbricadas e desfiguradas as propostas vanguardistas e nacionais-populares, originalmente contestadoras e que estavam, ao mesmo tempo, enraizadas na ordem constituída antes do Golpe de 1964, dita “populista” (Ortiz, 1988Ortiz, Renato. (1988). A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense .; Ridenti, 2010bRidenti, Marcelo. (2010b). O fantasma da revolução brasileira. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Unesp .).

A hegemonia burguesa rearranjou-se após 1964, incorporando elementos críticos a ela, pois “qualquer processo hegemônico deve ser especialmente alerta e sensível às alternativas e oposição que lhe questionam ou ameaçam o domínio” (Williams, 1979Williams, Raymond. (1979). Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar .: 116). Isso implica que a hegemonia deve ter certa plasticidade para se manter, incorporando a seu modo o que inicialmente era contestação. Ela se transformou junto com a trajetória do próprio capitalismo no país. O Golpe de 1964 pode ser interpretado como um marco da reorganização da hegemonia burguesa, para cuja manutenção não bastava mais o ideário de conciliação de classe do período dito populista (Gorender, 1998Gorender, Jacob. (1998). Combate nas trevas: a esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Ática.).

O conceito de hegemonia de Raymond Williams (1979Williams, Raymond. (1979). Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar .: 113) engloba e ultrapassa o de ideologia, entendida por ele como “os significados, valores e crenças formais e articulados, que uma classe dominante desenvolve e propaga”. Caberia dizer, então, que jamais houve uma hegemonia cultural de esquerda na sociedade brasileira, como poderia sugerir uma leitura menos aberta do citado artigo de Roberto Schwarz. No máximo, esboçou-se uma hegemonia alternativa, que acabou sendo quase totalmente abortada ou incorporada desfiguradamente pela ordem estabelecida.

ESTRUTURAS DE SENTIMENTO

Além do conceito de hegemonia na versão de Williams, um outro formulado pelo autor pode ser útil para compreender as afinidades entre política e cultura de esquerda nos anos 1960: o de estruturas de sentimento, que usei a meu modo no livro Brasilidade revolucionária, tratando de aspectos do nacionalismo político e cultural de esquerda brasileira (Ridenti, 2010aRidenti, Marcelo. (2010a). Brasilidade revolucionária: um século de cultura e política. São Paulo: Editora Unesp .).

O uso da noção de estruturas de sentimento permite pensar, por exemplo, o que há de comum em obras do Cinema Novo, do Teatro de Arena, da música popular brasileira (a chamada MPB), em romances como Quarup de Antonio Callado e outras produções artísticas dos anos 1960. Analisá-las como constituintes de uma estrutura de sentimento parece ser mais adequado do que as tratar como correspondentes à ideologia nacionalista do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) ou do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que seria bastante limitado, embora frequente na literatura estabelecida.

Meu livro Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da tv apresentava uma proposta latente que explicitei melhor em Brasilidade revolucionária: não seria pertinente reduzir o florescimento cultural dos anos 1960 à ideologia do PCB ou do ISEB, nem a um suposto “populismo nacionalista”. No primeiro livro, tentei mostrar que havia um romantismo revolucionário no período que tinha conexões com essas ideologias, mas ia além delas (Ridenti, 2014Ridenti, Marcelo. (2014). Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Unesp .)3 3 Para Löwy e Sayre (1995: 325), o romantismo revolucionário buscaria “instaurar um futuro novo, no qual a humanidade encontraria uma parte das qualidades e valores que tinha perdido com a modernidade: comunidade, gratuidade, doação, harmonia com a natureza, trabalho como arte, encantamento da vida. No entanto, tal situação implica o questionamento radical do sistema econômico baseado no valor de troca, lucro e mecanismo cego do mercado: o capitalismo”. . No segundo, em sentido complementar, lancei mão do conceito de estruturas de sentimento de Raymond Williams (Ridenti, 2010aRidenti, Marcelo. (2010a). Brasilidade revolucionária: um século de cultura e política. São Paulo: Editora Unesp .). Esse autor reconhecia que “o termo é difícil, mas ‘sentimento’ é escolhido para ressaltar uma distinção dos conceitos mais formais de ‘visão de mundo’ ou ‘ideologia’”, os quais se referem a crenças mantidas de maneira formal e sistemática, ao passo que uma estrutura de sentimento daria conta de “significados e valores tais como são sentidos e vividos ativamente” (Williams, 1979Williams, Raymond. (1979). Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar .). A estrutura de sentimento não se contraporia a pensamento, mas procuraria dar conta “do pensamento tal como sentido e do sentimento tal como pensado: a consciência prática de um tipo presente, numa continuidade viva e inter-relacionada”, sendo por isso uma hipótese cultural de relevância especial para a arte e a literatura (Williams, 1979Williams, Raymond. (1979). Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar .: 134-135).

A partir do final dos anos 1950, consolidou-se uma estrutura de sentimento em obras e na imaginação de muitos artistas e intelectuais brasileiros, que denominei “brasilidade (romântico-)revolucionária”. Arrisquei-me, portanto, a dar um nome a ela, procedimento que Williams não adotava, mas que talvez seja útil para historicizar o conceito, isto é, considerá-lo num contexto cultural e político específico da sociedade brasileira. Com essa designação sintetizadora ou sem ela, o importante é que não deveria ser substancializada, como se existisse e fizesse sentido por si mesma. Foi, sim, construção coletiva de diversos agentes, oriundos sobretudo das classes médias intelectualizadas, que constituíram o principal chão social do esboço de hegemonia alternativa gestado antes do Golpe de 1964, com sobrevivência forte até a edição do Ato Institucional n. 5, em dezembro de 1968. Ainda, essas classes médias foram ligadas à construção do mercado de produtos culturais, até mesmo aqueles voltados para um expressivo nicho de consumo à esquerda.

Difundia-se a proposta de ida dos artistas e intelectuais ao povo, em busca de afirmação da nacionalidade, recuperando as raízes populares do passado para construir um futuro que rompesse com o subdesenvolvimento e, no limite, com o capitalismo. Essa estrutura de sentimento estava presente em obras influenciadas: (i) pelas ideias de integrar os camponeses à nova ordem desenvolvimentista, conforme formulações do ISEB; (ii) pela proposta de revolução nacional e democrática do PCB; (iii) pelas pautas mais extremadas, inspiradas na revolução cubana; (iv) pelo contexto internacional de guerras de libertação em países do Terceiro Mundo durante a Guerra Fria; e (v) pela modernização e urbanização da sociedade brasileira, com a consolidação de uma indústria cultural que se alimentou contraditoriamente de um clima de contestação à ordem estabelecida.

O caráter de experiência viva que o conceito de estrutura de sentimento tenta apreender faz com que nem sempre tal estrutura seja perceptível para os artistas no momento que a constituem. Ela torna-se clara, no entanto, com a passagem do tempo, que a consolida - e também ultrapassa, transforma e supera. Nas palavras de Williams, “quando essa estrutura de sentimento tiver sido absorvida, são as conexões, as correspondências, e até mesmo as semelhanças de época, que mais saltam à vista. O que era então uma estrutura vivida, é agora uma estrutura registrada, que pode ser examinada, identificada e até generalizada” (Williams, 1979Williams, Raymond. (1979). Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar .: 18-19). Nesse sentido, hoje se pode identificar com clareza uma estrutura de sentimento que perpassou boa parte das obras de arte, em especial a partir do fim da década de 1950. Amadurecia o sentimento de pertencer a uma comunidade imaginada, para usar o termo de Benedict Anderson (2008Anderson, Benedict. (2008). Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras.), sobretudo nos meios intelectuais e artísticos de esquerda engajados em projetos revolucionários. Compartilhavam-se ideias e sentimentos de que estava em curso a revolução brasileira, na qual artistas e intelectuais deveriam se engajar.

Enfim, não se trata aqui de detalhar as ideias que expus naquele livro, mas de usá-lo para mostrar que a formulação de Williams sobre estruturas de sentimento abre inúmeras possibilidades interpretativas acerca das relações entre cultura e sociedade, inclusive para interpretar realidades diferentes da Grã-Bretanha onde viveu. Vários jovens pesquisadores têm recorrido a esse e outros conceitos de Williams para pensar seus temas de pesquisa. Por exemplo Sheyla Diniz (2017Diniz, Sheyla Castro. (2017). Desbundados e marginais: MPB e contracultura nos “anos de chumbo” (1969-1974). Doutorado em Sociologia. IFCH/Universidade Estadual de Campinas.), que usou a formulação de estrutura de sentimento para tratar da contracultura no Brasil em sua tese de doutorado. Também recorreram a Williams pesquisadores como Rodrigo Czajka (2009Czajka, Rodrigo. (2009). Praticando delitos, formando opinião: intelectuais, comunismo e repressão no Brasil (1958-1968). Doutorado em Sociologia. IFCH/Universidade Estadual de Campinas., 2020Czajka, Rodrigo. (2020). “Sou brasileiro, democrata e editor”: Ênio Silveira e a repressão à editora Civilização Brasileira (1963-1970). Tempo Social: Revista de Sociologia da USP, 32/2, p. 149-174.), Caroline Gomes Leme (2013Leme, Caroline Gomes. (2013). A ditadura em imagem e som: trinta anos de produções cinematográficas sobre o regime militar brasileiro. São Paulo: Editora Unesp., 2019Leme, Caroline Gomes. (2019). Um certo cinema paulista: entre o Cinema Novo e a indústria cultural (1958-1981). São Paulo: Alameda.), Daniela Vieira dos Santos (2014Santos, Daniela Vieira dos. (2014). As representações de nação nas canções de Chico Buarque e Caetano Veloso: do nacional-popular à mundialização. Doutorado em Sociologia. IFCH/Universidade Estadual de Campinas.), Thiago Bicudo Castro (2022Castro, Thiago Bicudo. (2022). Passado, tradição e resistência: dialética de continuidades e inflexões na obra jornalística de Otto Maria Carpeaux. Doutorado em Sociologia. IFCH/Universidade Estadual de Campinas.), Monique Lima de Oliveira (2020Oliveira, Monique Lima de. (2020). Correspondências do teatro brasileiro em dois tempos: o Arena de Boal retomado pela Companhia do Latão. Exame de qualificação, Doutorado em Sociologia. IFCH/Universidade Estadual de Campinas.) e Carla Baute (2020Baute, Carla Rocha. (2020). Tradição, inovação e historicidade no materialismo cultural de Raymond Williams. Mestrado em História. IFCH/Universidade Estadual de Campinas.) - apenas para citar exemplos próximos, formados na Unicamp.

DETERMINAÇÃO

Outra formulação de Raymond Williams, enraizada na tradição intelectual marxista, é essencial para entender as relações entre cultura, sociedade e política. Diz respeito ao problema da determinação, um dos mais intrincados das ciências humanas. Não à toa, Williams já citava em 1959, na obra Cultura e sociedade, uma carta de Engels a Bloch, na qual o melhor amigo de Marx dizia ser necessário levar-se em consideração todos os elementos para compreender as lutas históricas, e não apenas o econômico. Reduzir a totalidade ao aspecto econômico seria um equívoco: “Se assim não fosse, a aplicação da teoria a um particular período da história, que deliberássemos examinar, se transformaria em problema de mais fácil solução que o de uma simples equação de primeiro grau”, escrevia Engels (apudWilliams, 1969Williams, Raymond. (1969). Cultura e sociedade: 1780-1950. São Paulo: Companhia Editora Nacional.: 278) na referida carta de 21 de setembro de 1890.

Williams propõe compreender a cultura não como fenômeno secundário, mero reflexo superestrutural das determinações econômicas, mas sim como constituinte da própria estruturação da sociedade como um todo. Determinação significaria para ele - numa formulação sintética - exercer pressão e impor limites à ação, que entretanto tem margem para dar respostas diferenciadas às constrições sociais. Ou seja, ele se contrapõe ao determinismo, inclusive em sua vertente marxista, que vê os homens sem controle sobre processos determinados por leis históricas como as da base e da superestrutura, que praticamente não deixariam espaço para sua ação (Williams, 1979Williams, Raymond. (1979). Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar ., 2001Williams, Raymond. (2001). Política do modernismo. São Paulo: Editora Unesp ., 2007Williams, Raymond. (2007). Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo .).

Essa inspiração analítica foi fundamental para meu livro mais recente, intitulado O segredo das senhoras americanas: intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural (Ridenti, 2022Ridenti, Marcelo. (2022). O segredo das senhoras americanas: intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural. São Paulo: Editora Unesp .). A pesquisa busca demonstrar como certos pesquisadores, artistas e estudantes encontraram respostas criativas para realizar seus projetos, dentro do possível diante do contexto local e do embate entre as duas grandes potências no cenário internacional, do qual participaram cada qual a seu modo nas circunstâncias da Guerra Fria. Ambas as potências restringiam a margem de atuação e exerciam pressão sobre ela, mas a ação por sua vez ajudava a moldar a estruturação da sociedade.

A disputa para ganhar corações e mentes na Guerra Fria envolveu a participação de intelectuais e artistas. Eles não foram meras peças manipuladas, tendo participado ativamente da disputa das grandes potências, apesar de não dominarem todas as regras do jogo nem conhecerem alguns segredos, expostos em meu livro, sobre o financiamento de suas atividades. Destacam-se três passagens dos anos de 1950 e 1960 ainda pouco analisadas de relações culturais internacionais, imediatamente anteriores à criação de um sistema nacional universitário de pós-graduação, em paralelo com a rápida urbanização e industrialização da sociedade brasileira. Primeiro, o círculo internacional comunista, com a atuação de Jorge Amado, Pablo Neruda e seus camaradas da América Latina. Depois o outro lado: a ação do Congresso pela Liberdade da Cultura, sediado em Paris com fundos dos Estados Unidos, patrocinador também da revista Cadernos Brasileiros, na qual colaboraram intelectuais de todas as cores do espectro ideológico, de Raymond Aron a Mário Pedrosa e Abdias do Nascimento, de Golbery do Couto e Silva a Florestan Fernandes. Por fim, o livro aborda ainda a Associação Universitária Interamericana, dirigida por senhoras do círculo empresarial multinacional sediado em São Paulo, que deu oportunidade a mais de oitocentos estudantes, sobretudo de esquerda, de conhecer a Universidade de Harvard e o modo de vida americano em plenos anos rebeldes. De 1962 a 1971, foi enviado anualmente aos Estados Unidos um grupo de cerca de oitenta universitários recrutados em todas as regiões do Brasil. Tiveram encontros com os irmãos Kennedy, Henry Kissinger e outros expoentes das classes dirigentes e acadêmicos norte-americanos. Estiveram nessas viagens jovens que viriam a se destacar no mundo da política, da universidade, das artes e de todas as profissões liberais.

Nos três episódios estudados, os agentes negociaram com os poderes estabelecidos dentro das constrições da Guerra Fria, que impunham limites e exerciam pressão sobre suas ações, que entretanto tinham relativa autonomia. Em síntese, esse livro foi arquitetado teoricamente a partir de minha interpretação da obra de Williams, especialmente suas ideias de determinação e hegemonia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, este artigo procura esclarecer brevemente como alguns conceitos de Raymond Williams possibilitaram-me pensar aspectos da relação entre cultura e política na sociedade brasileira. A noção de estrutura de sentimento permite compreender a produção cultural dos anos 1960, que não se reduziu à ideologia de instituições como o ISEB ou o PCB, embora tivesse afinidade com elas. Hegemonia e hegemonia alternativa também são recursos teóricos decisivos para pensar os chamados “anos rebeldes”, assim como a perspectiva de Williams sobre o tema da determinação, que escapa do determinismo da estrutura econômica sobre a ação. Os sujeitos no período agiram com limites e sofreram pressão, mas a seu modo deram respostas criativas às constrições sociais. Pela exposição do uso que fiz das obras de Williams, espero ter demonstrado que elas contribuem para outros campos de pesquisa além do literário, como a sociologia da cultura e dos intelectuais.

Aproveito para lembrar que me atrevi a seguir um outro exemplo de Williams, que também foi autor de romances, embora sejam menos conhecidos no Brasil. A editora Boitempo acaba de publicar meu romance Arrigo, que revisita pela ficção cem anos de história da esquerda brasileira, tramada nas aventuras e desventuras do personagem Arrigo e seus companheiros no país e no exílio.

Para concluir, na efeméride dos cem anos de Raymond Williams, a melhor maneira de homenageá-lo é usar suas ideias para inspirar novas pesquisas, com o mesmo espírito de compreender para transformar o mundo.

REFERÊNCIAS

  • Anderson, Benedict. (2008). Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras.
  • Baute, Carla Rocha. (2020). Tradição, inovação e historicidade no materialismo cultural de Raymond Williams. Mestrado em História. IFCH/Universidade Estadual de Campinas.
  • Castro, Thiago Bicudo. (2022). Passado, tradição e resistência: dialética de continuidades e inflexões na obra jornalística de Otto Maria Carpeaux. Doutorado em Sociologia. IFCH/Universidade Estadual de Campinas.
  • Cevasco, Maria Elisa. (2001). Para ler Raymond Williams. São Paulo: Paz e Terra.
  • Chaui, Marilena. (1987). Conformismo e resistência. São Paulo: Brasiliense.
  • Costa, Iná Camargo. (1996). A hora do teatro épico no Brasil. Rio de Janeiro: Graal.
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  • 1
    Este artigo formaliza a exposição oral realizada no X Colóquio Marx e Engels, na mesa: Centenário de Raymond Williams. Centro de Estudos Marxistas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas (Cemarx-IFCH-Unicamp), Campinas, 27 de julho de 2021.
  • 2
    O conceito de desenvolvimento desigual e combinado — originalmente formulado por Trotsky para compreender a formação social russa e sua inserção no capitalismo mundial no começo do século XX — inspirou autores brasileiros. Um exemplo é Francisco de Oliveira (1975Oliveira, Francisco de. (1975). Economia brasileira: crítica à razão dualista. Seleções CEBRAP, 1. São Paulo: Brasiliense .), que foi crítico das concepções dualistas da história, segundo as quais a sociedade estaria cindida em duas no Brasil: uma moderna, em pleno desenvolvimento, que estaria sobreposta a outra, constituída de um país atrasado e subdesenvolvido a ser superado. Ao contrário, Oliveira entendia que na formação social brasileira haveria a convivência de diferentes etapas, uma combinação das fases distintas de desenvolvimento que tornava indissociáveis as formas ditas “arcaicas” daquelas mais modernas no capitalismo periférico. Um desenvolvimento desigual e subordinado em relação às nações centrais, e combinado indissoluvelmente com o chamado “atraso” interno, a conviver com setores capitalistas de ponta.
  • 3
    Para Löwy e Sayre (1995Löwy, Michael & Sayre, Robert. (1995). Revolta e melancolia: o romantismo na contramão da modernidade. Petrópolis: Vozes.: 325), o romantismo revolucionário buscaria “instaurar um futuro novo, no qual a humanidade encontraria uma parte das qualidades e valores que tinha perdido com a modernidade: comunidade, gratuidade, doação, harmonia com a natureza, trabalho como arte, encantamento da vida. No entanto, tal situação implica o questionamento radical do sistema econômico baseado no valor de troca, lucro e mecanismo cego do mercado: o capitalismo”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    25 Jul 2022
  • Revisado
    05 Set 2022
  • Aceito
    03 Out 2022
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