Acessibilidade / Reportar erro

Disseram que eu voltei americanizada: a história temática da Revista de Sociologia e Política

Tu Vuò Fà L’Americano: the thematic history of the Revista de Sociologia e Política

RESUMO

Introdução:

Periódicos são mediadores científicos legítimos em comunidades acadêmicas. Eles funcionam como marcadores institucionais para definir fronteiras entre disciplinas, domínios de pesquisa e áreas de conhecimento. O seu estudo permite compreender rotinas intelectuais, tópicos de investigação e a ascensão ou o declínio de modelos de análise ao longo do tempo. Este artigo trata desses problemas explorando as mudanças temáticas da Revista de Sociologia e Política durante três décadas de existência.

Materiais e Métodos:

Utilizando técnicas bibliométricas, analisamos os metadados de 746 documentos publicados entre novembro de 1993 (número 1) e dezembro de 2019 (n. 72). Dois tipos de análises foram feitos: 1) coocorrência de termos nos títulos e resumos dos artigos; 2) cocitação de autores nas referências bibliográficas.

Resultados:

Os dados mostraram uma mudança acentuada no perfil do periódico, que deixou de ser uma publicação centrada em temas variados de ciências sociais, história política e teoria social para se tornar uma publicação especializada em tópicos da agenda mainstream de Ciência Política. Descrevemos esse processo metaforicamente como “americanização” da Revista de Sociologia e Política.

Discussão:

A assunção de temas tradicionais de Ciência Política (tais como partidos, eleições, legislativo etc.), pautados por uma abordagem empírica e quantitativa, acompanha e documenta as transformações ocorridas na própria Ciência Política brasileira do início do século XXI.

PALAVRAS-CHAVE:
história intelectual; Ciência Política; cientometria; bibliometria; periódico científico

ABSTRACT

Introduction:

Academic journals are legitimate scientific mediators in academic communities. They operate as institutional markers to define discipline boundaries, research domains, and areas of knowledge. As a field of study, they allow us to understand intellectual routines, research topics, and the rise or decline of analytical models over time. This article addresses these topics by exploring the thematic changes in the Brazilian journal Revista de Sociologia e Política over its three decades of existence.

Materials and Methods:

Using bibliometric techniques, we analyzed the metadata of 746 documents published between November 1993 (issue number 1) and December 2019 (issue number 72). Two types of analysis were performed: 1) co-occurrence of terms in the titles andABSTRACT of the published papers; 2) co-cited authors in the bibliographic references.

Results:

The data revealed a marked change in the journal’s profile, which shifted from covering a wide array of topics within the social sciences, political history, and social theory to become a specialized publication focused on Political Science and its mainstream agenda. We describe this process metaphorically as the “Americanization” of the Revista de Sociologia e Politica.

Discussion:

The ascension of traditional Political Science themes (such as political parties, elections, legislative studies, etc.), grounded on empirical and quantitative approaches, both mirrors and documents the transformations within Brazilian Political Science at large at the beginning of the 21st century.

KEYWORDS:
intellectual history; Political science; scientometrics; bibliometrics; scientific journal

I. Introdução1 1 Agradecemos aos pareceristas do periódico os apontamentos, críticas e sugestões que melhoraram bastante o manuscrito.

O primeiro fascículo da Revista de Sociologia e Política (Rev. Sociol. Polit.) apareceu em novembro de 1993 e continha seis ensaios (dois históricos e quatro teóricos), uma entrevista com o dirigente comunista Luis Carlos Prestes sobre a Revolução de 1930 e duas resenhas de livros. Três autores desses ensaios eram filiados à Universidade Federal do Paraná e três à Universidade Estadual de Campinas. Uma dessas resenhas era a tradução do comentário de Ralph Miliband publicado originalmente na New Left Review sobre o livro de Fukuyama, O fim da história e o último homem, saído no Brasil um ano antes e que fora objeto de polêmica nos círculos da esquerda socialista mundial.

Nas três décadas seguintes, Sociologia e Política editaria 877 documentos, uma média de 32,5 textos ao ano. Em 2019 a Revista publicou vinte e seis artigos de pesquisa e dois artigos de revisão de literatura. O número 72 (volume 27), de dezembro, trouxe sete textos inéditos. Ao lado da revisão sobre abordagens empírico-quantitativas do processo deliberativo dos parlamentos, dois artigos tratavam de ideologias partidárias, um da relação entre opinião pública e impeachment, outro de ambição política, um quinto era sobre eleições municipais e o último estudava frentes partidárias em coalizões presidenciais. Os trabalhos eram empíricos, quantitativos e focados em problemas de política institucional, mostrando que houve uma reconversão substancial da agenda temática do periódico.

Nesses quase trinta anos de existência, a Revista de Sociologia e Política redefiniu seu perfil editorial. Essa mudança, descrita aqui de maneira metafórica como “americanização”, isto é, a assunção, pela Revista, de temas mais tradicionais de Ciência Política com forte viés empírico e abordagem predominantemente quantitativa, acompanha e documenta, em certa medida, as transformações teóricas e metodológicas ocorridas nos últimos vinte e cinco anos na própria Ciência Política nacional (Figueiredo et al., 2020Figueiredo, D.; Fernandes, A.; Borba, L. & Aguiar T. H. (2020) Metodologias de pesquisa em ciência política: uma breve introdução. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, s/v (94), pp. 1-34.; Leite & Feres Jr., 2021Leite, F. & Feres Jr., J. (2021) A Ciência na Ciência Política brasileira. Revista Brasileira de Ciência Política, s/v(34), pp. 1-53. DOI: 10.1590/0103-3352.2021.34.222017
https://doi.org/10.1590/0103-3352.2021.3...
). Em termos temáticos, o estudo sobre questões apenas de política institucional terminou por se impor à Sociologia Política, a abordagem dominante na área desde os anos 1970 (Limongi, Almeida & Freitas, 2016Limongi, F., Almeida, M. H. T. de & Freitas, A. (2016) Da sociologia política ao (neo) institucionalismo: trinta anos que mudaram a Ciência Política no Brasil. In: L. Avritzer, C. R. S. Milani, & M. do S. Braga (eds) A ciência política no Brasil: 1960-2015. Rio de Janeiro: FGV Editora, pp. 61-91.).

A fim de entender as sucessivas transições pelas quais a Revista de Sociologia e Política passou em três décadas de existência e, indiretamente, o que ocorreu no campo disciplinar da Ciência Política brasileira, ou em parte dele, o artigo organiza, apresenta e explora, através de análise bibliométrica, informações relativas aos textos publicados entre novembro de 1993 (número 1) e dezembro de 2019 (n. 72). Analisamos os metadados de 746 documentos que apareceram nos últimos vinte e sete anos: 689 artigos de pesquisa (incluindo aqui também entrevistas e apresentações de dossiês temáticos), 16 ensaios bibliográficos e sete traduções de textos fundamentais de Ciência Política e de Relações Internacionais. Deixamos de fora deste balanço resenhas de livros e comunicados editoriais.

Além da estatística descritiva dos documentos editados, nos concentramos em três tipos de informações para entender a história da Revista da Universidade Federal do Paraná: i) temas e áreas dos dossiês (o que permite fazer a crônica dos assuntos dominantes), ii) termos mais frequentes em títulos e nos resumos dos artigos (o que proporciona acessar os objetos de pesquisa e as perspectivas metodológicas dos documentos), iii) autores cocitados mais vezes nas referências bibliográficas desses documentos (o que viabiliza a análise das correntes teóricas mais influentes no periódico). O interesse principal deste estudo está na mensuração das áreas mais destacadas do periódico e como isso tem mudado ao longo do tempo.

Na seção seguinte fazemos um balanço de alguns artigos que já utilizaram abordagens bibliométricas para entender as dinâmicas do campo científico na Ciência Política. O objetivo aqui é situar nosso estudo, e não analisar lacunas dessa literatura. A seção 3 descreve as fontes utilizadas, sua heterogeneidade e tipo de tratamento conforme os métodos bibliométricos empregados na análise dos dados. A seção 4 expõe os resultados e está dividida em três subitens: a história temática, com foco nos dossiês (4.1), a história conceitual (4.2) e a história intelectual (4.3) do periódico. Na última seção (‘Discussão e conclusões’), nós sintetizamos essas metamorfoses e um balanço tentativo do seu significado. Por fim, propomos uma interpretação do lugar e do papel de Sociologia e Política na ecologia dos periódicos de Ciência Política no Brasil.

II. Análise e autoanálise de periódicos científicos de Ciência Política

Desde os anos 1990, pesquisas bibliométricas sobre a atividade científica da Ciência Política têm enfatizado aspectos importantes da cultura da disciplina, como o provincialismo das agendas de pesquisa (Norris, 1997Norris, P. (1997) Towards a more cosmopolitan political science?. European Journal of Political Research, 31(1-2), pp. 17-34. DOI: 10.1111/j.1475-6765.1997.tb00761.x
https://doi.org/10.1111/j.1475-6765.1997...
; Sigelman, 2006Sigelman, L. (2006) The Coevolution of American Political Science and the American Political Science Review. American Political Science Review, 100(4), pp. 463-478. DOI: 10.1017/S0003055406060333
https://doi.org/10.1017/S000305540606033...
; Breuning et al., 2018Breuning, M.; Feinberg, A.; Gross, B. I; Martinez, M.; Sharma, R. & Ishiyama, J. (2018) How International Is Political Science? Patterns of Submission and Publication in the American Political Science Review. PS: Political Science & Politics, 51(4), pp. 789-798. DOI: 10.1017/S1049096518000963
https://doi.org/10.1017/S104909651800096...
), a desigualdade de gênero nas autorias (Teele & Thelen, 2017Teele, D. L. & Thelen, K. (2017) Gender in the Journals: Publication Patterns in Political Science. PS - Political Science and Politics, 50(2), pp. 433-447. DOI: 10.1017/S1049096516002985
https://doi.org/10.1017/S104909651600298...
; König & Ropers, 2018König, T. & Ropers, G. (2018) Gender and Editorial Outcomes at the American Political Science Review. PS: Political Science & Politics, 51(4), pp. 849-853. DOI: 10.1017/S1049096518000604
https://doi.org/10.1017/S104909651800060...
; Djupe, Smith & Sokhey, 2019Djupe, P. A., Smith, A. E. & Sokhey, A. E. (2019) Explaining Gender in the Journals: How Submission Practices Affect Publication Patterns in Political Science. PS - Political Science and Politics, 52(1), pp. 71-77. DOI: 10.1017/S104909651800104X
https://doi.org/10.1017/S104909651800104...
), os padrões de coautoria e a colaboração científica crescente no campo (Fisher et al., 1998Fisher, B. S.; Cobane, C. T.; Vander Ven, T. M. & Cullen, F. T. (1998) How Many Authors Does It Take to Publish an Article? Trends and Patterns in Political Science. PS: Political Science & Politics, 31(4), pp. 847-856. DOI: 10.2307/420730
https://doi.org/10.2307/420730...
; McDermott & Hatemi, 2010McDermott, R. & Hatemi, P. K. (2010) Emerging Models of Collaboration in Political Science: Changes, Benefits, and Challenges. PS: Political Science & Politics, 43(1), pp. 49-58. DOI: 10.1017/S1049096510990811
https://doi.org/10.1017/S104909651099081...
; Metz & Jäckle, 2017Metz, T. & Jäckle, S. (2017) Patterns of Publishing in Political Science Journals: An Overview of Our Profession Using Bibliographic Data and a Co-Authorship Network. PS: Political Science & Politics, 50(1), pp. 157-165. DOI: 10.1017/S1049096516002341
https://doi.org/10.1017/S104909651600234...
; Henriksen, 2018Henriksen, D. (2018) What factors are associated with increasing co-authorship in the social sciences? A case study of Danish Economics and Political Science. Scientometrics. Springer Netherlands, 114(3), pp. 1395-1421. DOI: 10.1007/s11192-017-2635-0
https://doi.org/10.1007/s11192-017-2635-...
). Muitos estudos de caso têm oferecido uma interpretação global da construção e composição das Ciências Políticas nacionais e de suas propriedades (Grant, 2005Grant, J. T. (2005) What Divides Us? The Image and Organization of Political Science. PS: Political Science and Politics, 38(3), pp. 379-386. DOI: 10.1017/S1049096505050067
https://doi.org/10.1017/S104909650505006...
; Almond, 2006Almond, G. A. (2006) Separate Tables: Schools and Sects in Political Science. PS: Political Science and Politics, 21(4), pp. 828-842. DOI: 10.2307/420022
https://doi.org/10.2307/420022...
; Yanow & Schwartz-Shea, 2010Yanow, D. & Schwartz-Shea, P. (2010) Perestroika ten years after: Reflections on methodological diversity. PS: Political Science & Politics, 43(4), pp. 741-745. doi: 10.1017/S1049096510001149
https://doi.org/10.1017/S104909651000114...
; Leite, 2016Leite, F. (2016) The Stratification of Diversity: Measuring the Hierarchy of Brazilian Political Science. Brazilian Political Science Review, 10(1), pp. 1-29. DOI: 10.1590/1981-38212016000100006
https://doi.org/10.1590/1981-38212016000...
; Ravecca, 2019Ravecca, P. (2019) The Politics of Political Science: Re-Writing Latin American Experiences. New York: Routledge.; Wang & Guo, 2019Wang, Z. & Guo, S. (2019) The state of the field of Chinese political science: “Glocalising” political science in China?. European Political Science, 18(3), pp. 456-472. DOI: 10.1057/s41304-018-0179-2
https://doi.org/10.1057/s41304-018-0179-...
). Nessa especialidade de “ciência da Ciência Política”, estudos comparados entre países ou regiões ainda são exceção (Lewis-Beck & Bélanger, 2015Lewis-Beck, M. S. & Bélanger, É. (2015) Quantitative methods in Political Science: research in France and the United States. French Politics, 13(2), pp. 175-184. DOI: 10.1057/fp.2015.7
https://doi.org/10.1057/fp.2015.7...
), como já foi demonstrado (Codato, Madeira & Bittencourt, 2020Codato, A., Madeira, R. & Bittencourt, M. (2020) Political Science in Latin America: A Scientometric Analysis. Brazilian Political Science Review, 14(3), p. e0007. DOI: 10.1590/1981-3821202000030005
https://doi.org/10.1590/1981-38212020000...
).

A abordagem de grande parte dessa literatura é quantitativa, os periódicos científicos são a fonte usual de dados e a unidade de análise são artigos de pesquisa e não livros (exceções são Nederhof, van Leeuwen & van Raan, 2010Nederhof, A. J., van Leeuwen, T. N. & van Raan, A. F. J. (2010) Highly cited non-journal publications in political science, economics and psychology: A first exploration. Scientometrics, 83(2), pp. 363-374. DOI: 10.1007/s11192-009-0086-y
https://doi.org/10.1007/s11192-009-0086-...
; Samuels, 2013Samuels, D. (2013) Book citations count. PS - Political Science and Politics, 46(4), pp. 785-790. DOI: 10.1017/S1049096513001054
https://doi.org/10.1017/S104909651300105...
). O pressuposto compartilhado pela maioria das especialidades é que periódicos acadêmicos funcionam não só como grandes gatekeepers da pesquisa científica qualificada (Crane, 1967Crane, D. (1967) The Gatekeepers of Science: Some Factors Affecting the Selection of Articles for Scientific Journals. The American Sociologist. Springer, 2(4), pp. 195-201. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/27701277>. Acesso em 31. mai. 2021.
http://www.jstor.org/stable/27701277...
), em razão do suposto controle de padrões de cientificidade através do sistema de peer review, mas também como marcadores institucionais que permitem compreender rotinas e práticas das disciplinas, delimitando suas fronteiras, tópicos legítimos de investigação e a ascensão ou o declínio de modelos e métodos de análise ao longo do tempo (Ding, Chowdhury & Foo, 2000Ding, Y., Chowdhury, G. G. & Foo, S. (2000) Journal as Markers of Intellectual Space: Journal Co-Citation Analysis of Information Retrieval Area, 1987-1997. Scientometrics, 47(1), pp. 55-73.).

Há, nessa linha analítica, alguns estudos focados apenas em periódicos que permitem entender, por exemplo, as preferências metodológicas da Ciência Política (Kasza, 2010Kasza, G. J. (2010) Perestroika and the journals. PS - Political Science and Politics, 43(4), pp. 733-734. DOI: 10.1017/S1049096510001186
https://doi.org/10.1017/S104909651000118...
; Lima, Mörschbächer & Peres, 2018Lima, E., Mörschbächer, M. & Peres, P. (2018) Three decades of the International Political Science Review (IPSR): A map of the methodological preferences in IPSR articles. International Political Science Review, 39(5), pp. 679-689. DOI: 10.1177/0192512118755596.
https://doi.org/10.1177/0192512118755596...
), as mudanças nos padrões de cientificidade e produção de inferências da área (Rezende, 2017Rezende, F. da C. (2017) Transformações na cientificidade e o ajuste inferencial na Ciência Política: argumento e evidências na produção de alto fator de impacto. Revista de Sociologia e Política, 25(63), pp. 103-138. DOI: 10.1590/1678-987317256305
https://doi.org/10.1590/1678-98731725630...
) ou ainda o tipo de tratamento que um tema/região recebe (Cammett & Kendall, 2021Cammett, M. & Kendall, I. (2021) Political Science Scholarship on the Middle East: A View from the Journals. PS: Political Science & Politics, pp. 1-8. DOI: 10.1017/s1049096520002061
https://doi.org/10.1017/s104909652000206...
). Análises críticas apoiadas em bibliometria, como a de Lenine e Mörschbächer (2020)Lenine, E. & Mörschbächer, M. (2020) Pesquisa bibliométrica e hierarquias do conhecimento em Ciência Política. Revista Brasileira de Ciência Política, s/v(31), pp. 123-160. DOI: 10.1590/0103-335220203104
https://doi.org/10.1590/0103-33522020310...
, destacam a produção de hierarquias de conhecimento e prestígio que são naturalizadas pela Ciência Política mundial e que funcionam como efeito e causa da “falta de pluralidade e diversidade de perfis profissionais na disciplina” (2020, p. 125).

Os próprios periódicos costumam fazer balanços de sua atividade editorial em datas redondas: aniversários de vinte anos (Freidenberg & Vásquez, 2012Freidenberg, F. & Vásquez, J. M. T. (2012) América Latina Hoy, una evaluación de sus 20 años. América Latina Hoy, 60(s/n), pp. 229-238. DOI: 10.14201/alh.8990
https://doi.org/10.14201/alh.8990...
; Janda, 2015Janda, K. (2015) Party Politics at age 20. Party Politics, 21(1), pp. 4-9. DOI: 10.1177/1354068814552384
https://doi.org/10.1177/1354068814552384...
), de vinte e cinco (Briquet & Sawicki, 2012Briquet, J.-L. & Sawicki, F. (2012) Retour sur un quart de siècle d’une revue «?militante?». Politix, nº100(4), pp. 9-40. DOI: 10.3917/pox.100.0009
https://doi.org/10.3917/pox.100.0009...
), de trinta (Collares, Tavolaro & Almeida, 2016Collares, A. C., Tavolaro, S. B. F. & Almeida, T. M. C. (2016) Sociedade e Estado (S&E): trinta anos de produção científica e pioneirismo na difusão do conhecimento em sociologia no Brasil. Sociedade e Estado, 31(spe), pp. 939-954. DOI: 10.1590/s0102-69922016.0spe0004
https://doi.org/10.1590/s0102-69922016.0...
; Teixeira & Maciel, 2016Teixeira, J. G. & Maciel, M. L. (2016) Relato de pesquisa: o nascimento de uma revista acadêmica. Sociedade e Estado, 31(spe), pp. 917-920. DOI: 10.1590/s0102-69922016.0spe0002
https://doi.org/10.1590/s0102-69922016.0...
), de cinquenta anos (Campos, Feres Júnior & Guarnieri, 2017Campos, L. A., Feres Júnior, J. & Guarnieri, F. (2017) 50 Anos da Revista DADOS: uma análise bibliométrica do seu perfil disciplinar e temático. Dados, 60(3), pp. 623-661. DOI: 10.1590/001152582017131
https://doi.org/10.1590/001152582017131...
), ou em intervalos de tempo mais ou menos arbitrários como os “últimos dez anos” (Garzia & Verzichelli, 2011Garzia, D. & Verzichelli, L. (2011) Publishing political science in Italy. An analysis of the last decade of contributions to the RISP. Italian Political Science, 6, pp. 1-6. Disponível em: <https://www.academia.edu/790369/Publishing_political_science_in_Italy._An_analysis_of_the_last_decade_of_contributions_to_the_RISP>. Acesso em 31 de mai. 2021.
https://www.academia.edu/790369/Publishi...
) e, ainda, na comemoração da centésima edição da revista (Araujo, 2017Araujo, C. (2017) Rito de passagem: CEDEC e Lua Nova. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, s/v(100), pp. 15-23. DOI: 10.1590/0102-015023/100
https://doi.org/10.1590/0102-015023/100...
).

Esse tipo de estudo (do periódico sobre si próprio) é, basicamente, de três gêneros: i) histórico e memorialístico, como a autoanálise de Politix, que propõe avançar uma sorte de “ego-sociologia”, já que é redigido pelos próprios fundadores da revista (Briquet & Sawicki, 2012Briquet, J.-L. & Sawicki, F. (2012) Retour sur un quart de siècle d’une revue «?militante?». Politix, nº100(4), pp. 9-40. DOI: 10.3917/pox.100.0009
https://doi.org/10.3917/pox.100.0009...
); ii) quantitativo e descritivo, documentando, a partir de frequências simples, temas e objetos preferenciais de estudo a fim de mostrar a agenda do periódico, como são os balanços da Party Politics (Janda, 2015Janda, K. (2015) Party Politics at age 20. Party Politics, 21(1), pp. 4-9. DOI: 10.1177/1354068814552384
https://doi.org/10.1177/1354068814552384...
) e da America Latina Hoy (Freidenberg & Vásquez, 2012Freidenberg, F. & Vásquez, J. M. T. (2012) América Latina Hoy, una evaluación de sus 20 años. América Latina Hoy, 60(s/n), pp. 229-238. DOI: 10.14201/alh.8990
https://doi.org/10.14201/alh.8990...
), por exemplo; ou iii) analítico e contextual, como o estudo bibliométrico sobre Dados que calcula, através da cartografia das referências mais citadas e das temáticas mais mencionadas na história da revista, o perfil e a vocação do periódico desde a sua origem. A análise comprovou a existência de uma forte conexão entre a agenda editorial de Dados e as mudanças operadas no contexto político e social nacional durante meio século: “a produção acadêmica [da revista Dados] se revela como contemporânea aos fatos, à dinâmica social e política [do Brasil], e não ex-post” (Campos, Feres Júnior & Guarnieri, 2017Campos, L. A., Feres Júnior, J. & Guarnieri, F. (2017) 50 Anos da Revista DADOS: uma análise bibliométrica do seu perfil disciplinar e temático. Dados, 60(3), pp. 623-661. DOI: 10.1590/001152582017131
https://doi.org/10.1590/001152582017131...
, p. 56).

Este artigo sobre a Revista de Sociologia e Política é uma combinação das três abordagens (histórica, descritiva e analítica). É uma autoanálise das opções editoriais dos comandantes do periódico ao longo do tempo; é um diagnóstico apoiado em elementos de conhecimento bibliométrico, como termos-chave mais frequentes em títulos e resumos e nas referências bibliográficas mais cocitadas nos documentos; e é uma tentativa, através da investigação de um único periódico, de indicar mudanças operadas na estrutura intelectual da área no Brasil.

III. Métodos bibliométricos e fontes dos dados utilizados na pesquisa

Termos presentes em títulos e em resumos, as palavras-chave escolhidas para indexar documentos científicos, a lista de referências citadas, seu número e abrangência teórica e metodológica, os periódicos referidos (e os países de origem desses periódicos), língua e data de publicação dos artigos ou livros citados, a quantidade de coautores, a filiação institucional deles são elementos objetivos de conhecimento para se estimar a complexidade, a estrutura, as hierarquias e as formas do comércio de ideias em uma dada comunidade científica. Esses elementos podem, através de métodos bibliométricos, fornecer um mapa da ciência, análogo aos mapas geográficos, representando espacialmente a relação entre disciplinas, periódicos, textos ou autores em função da localização relativa e da proximidade física entre esses objetos (Small, 1999Small, H. (1999) Visualizing science by citation mapping. Journal of the American Society for Information Science. 50(9), pp. 799-813. DOI: 10.1002/(SICI)1097-4571(1999)50:9<799::AID-ASI9>3.0.CO;2-G
https://doi.org/10.1002/(SICI)1097-4571(...
).

Nesta seção, descrevemos os tipos de metadados dos textos utilizados nessa história temática da Revista de Sociologia e Política, os tipos de análises bibliométricas empregadas e os softwares para lidar com as informações de 1993 a 2019.

III.1 Dados

Os metadados dos documentos (artigos, entrevistas, traduções, resenhas) publicados pela Revista estão disponíveis na plataforma Web of Science somente a partir de 2002. Por isso, as informações bibliométricas para os textos publicados entre 1993 e 2001 foram coletadas manualmente. Essa divergência de fontes e a forma como os documentos foram indexados impediu o tratamento uniforme de toda a coleção de textos. Nas análises de coocorrência de termos em títulos e resumos e nas redes de cocitação de referências bibliográficas, dividimos o corpus de análise em três fases cronológicas conforme as datas de publicação dos artigos: de 1993 a 2001; de 2002 a 2010; e de 2011 a 2019 (Quadro 1). O objetivo é identificar diferenças - temáticas e teóricas - entre os três ciclos de publicação.

Quadro 1
Divisão por períodos do corpus de análise dos documentos da Revista de Sociologia e Política

Foram excluídas da análise apenas as resenhas de livros e os editoriais. As entrevistas, conforme a orientação editorial da Revista, sempre foram publicadas acompanhadas de um grande aparato crítico (explicações introdutórias do entrevistador sobre o entrevistado, notas de rodapé sobre os eventos históricos mencionados pelo entrevistado e lista de referências importantes para se compreender o contexto político ou social implicado nos fatos e opiniões relatados na entrevista). Além disso, elas possuem todos os metadados mais importantes para análises bibliométricas: título, resumo, palavras-chave e referências. Apresentações de dossiês também foram incluídas no corpus de análise, pois são um gênero de artigo que fazem um balanço da área de estudos como forma de introdução ao tema. O mesmo perfil se aplica aos ensaios bibliográficos (importante: não são book reviews, mas review articles). As traduções dos textos fundamentais não são artigos inéditos, mas são, afinal, documentos publicados pela Revista de Sociologia e Política e por isso foram considerados no corpus da análise.

III.2 Análises bibliométricas

Neste estudo, foram utilizados dois métodos de análise bibliométrica relacional: co-word e author co-citation.

Estudos de co-word medem a coocorrência de termos ou expressões (noun terms) em títulos, resumos e keywords dos artigos em um dado corpus de estudo. A força de ligação entre as palavras é determinada com base no número de vezes em que ocorrem juntas nos artigos (Callon et al., 1983Callon, M.; Courtial, J-P.; Turner, A. & Bauin, S. (1983) From translations to problematic networks: An introduction to co-word analysis. Social Science Information, 22(2), pp. 191-235. DOI: 10.1177/053901883022002003
https://doi.org/10.1177/0539018830220020...
). O fato de aparecem em uma nuvem de palavras, seu tamanho, posição e a intensidade das ligações entre termos ou grupos de temos em uma rede semântica é um indicador das afinidades entre temas, problemas, conceitos, métodos e técnicas de pesquisa. Uma vantagem importante dessa medida é que, ao contrário de outros métodos que utilizam apenas metadados bibliográficos, pode-se acessar o conteúdo real dos documentos - em que pese o fato de que, em teses, as mesmas palavras podem aparecer em um discurso científico com sentidos diferentes (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Èater, T. (2015) Bibliometric Methods in Management and Organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. DOI: 10.1177/1094428114562629
https://doi.org/10.1177/1094428114562629...
).

Cocitação se refere a dois elementos (documentos, autores, periódicos) que aparecem juntos na lista de referências de um terceiro documento, o que implica que dois elementos publicados anteriormente foram citados juntos por um documento posterior (Small, 1973Small, H. (1973) Co-citation in the scientific literature: A new measure of the relationship between two documents. Journal of the American Society for Information Science, 24(4), pp. 265-269. DOI: 10.1002/asi.4630240406
https://doi.org/10.1002/asi.4630240406...
). Análise de cocitação é uma medida bibliométrica relacional confiável que permite identificar tradições teóricas e estruturas intelectuais em uma dada área de estudos (Grácio, 2016Grácio, M. C. C. (2016) Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, 21(47), pp. 82-99. DOI: 10.5007/1518-2924.2016v21n47p82
https://doi.org/10.5007/1518-2924.2016v2...
, p. 90). Os pressupostos subjacentes ao método são dois: i) quanto mais dois itens são citados juntos, maiores as chances deles estarem relacionados de alguma maneira (em termos de conteúdo, por exemplo, formando uma escola de pensamento) (White & Griffith, 1981White, H. D. & Griffith, B. C. (1981) Author cocitation: A literature measure of intellectual structure. Journal of the American Society for Information Science, 32(3), pp. 163-171. doi: 10.1002/asi.4630320302
https://doi.org/10.1002/asi4630320302...
); e ii) quanto maior a frequência de cocitação, mais relevantes essas duas referências serão para um dado discurso científico (ou, em nosso caso específico, para um periódico). A unidade de análise aqui foram os(as) autores(as) mais cocitados. Análises de cocitação são especialmente úteis para detectar mudanças de paradigmas ao longo do tempo. Enquanto variações no número de citações de um único item (artigo, livro, autor(a)) podem ser fenômenos mais ordinários, mudanças nas redes de cocitação são menos comuns “e representam grandes mudanças na atividade de investigação e orientação académica dentro de uma disciplina” (Pasadeos, Phelps & Kim, 1998Pasadeos, Y., Phelps, J. & Kim, B. H. (1998) Disciplinary Impact of Advertising Scholars: Temporal Comparisons of Influential Authors, Works and Research Networks. Journal of Advertising, 27(4), pp. 53-70. DOI: 10.1080/00913367.1998.10673569
https://doi.org/10.1080/00913367.1998.10...
, p. 55).

III.3 Softwares

Dois softwares de análise de conteúdo foram empregados para realizar os cálculos cientométricos e permitir a visualização dos dados de co-word e de author co-citation: Voyant e VOSviewer.

III.3.1 Voyant Tools: nuvem de palavras

Para estudar a coocorrência de termos chave nos títulos e nos resumos dos 137 artigos publicados entre 1993 e 2001 foi utilizada a ferramenta de contagem de ocorrência de termos Voyant. O Voyant Tools (http://voyant-tools.org/) é um aplicativo web-based para mineração e análise de textos. Voyant possui 19 ferramentas. Utilizamos a Cirrus para a geração de uma nuvem de palavras mais frequentes. Essa ferramenta conta todas as palavras presentes no corpus e lista a quantidade de vezes em que são repetidas formando uma nuvem. Palavras que mais se repetem são maiores e mais destacadas no grafo.

III.3.2 VOSviewer: visualização de redes bibliométricas

O software utilizado para os demais cálculos bibliométricos e a apresentação das redes foi o VOSviewer versão 1.6.15 (http://www.vosviewer.com/). VOS significa “visualization of similarity” (van Eck & Waltman, 2010van Eck, N. J. & Waltman, L. (2010) Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics, 84(2), pp. 523-538. DOI: 10.1007/s11192-009-0146-3
https://doi.org/10.1007/s11192-009-0146-...
, 2014van Eck, N. J. & Waltman, L. (2014) Visualizing Bibliometric Networks’. In: Y. Ding, R. Rousseau, & D. Wolfram (eds) Measuring scholarly impact: Methods and practice. Basel: Springer, pp. 285-320. DOI: 10.1007/978-3-319-10377-8_13
https://doi.org/10.1007/978-3-319-10377-...
).

A visualização dos diferentes elementos nas redes do VOSviewer é distance-based. Isso é, a distância entre dois “nós” (termos, autores) indica, aproximadamente, a relação entre eles em um espaço euclidiano bidimensional. Os diferentes objetos em uma rede não direcionada relacionados entre si são alocados em clusters (grupos) por afinidade e identificados por cores diferentes. O agrupamento (“clusterização”) é baseado em relações de citação direta em um nível agregado de análise (van Eck & Waltman, 2017van Eck, N. J. & Waltman, L. (2017) Citation-based clustering of publications using CitNetExplorer and VOSviewer. Scientometrics, 111(2), pp. 1053-1070. DOI: 10.1007/s11192-017-2300-7
https://doi.org/10.1007/s11192-017-2300-...
). Os mapas resultantes desse processo devem ser lidos da seguinte maneira: quanto mais próximos os elementos considerados estão uns dos outros em uma rede de conhecimento (termos importantes, autores citados), maior será a afinidade entre eles; quanto mais distantes, menor. Quanto mais importante um item é nessa rede, maior será o seu rótulo e o seu círculo.

A técnica de clusterização do VOSviewer implica na maximização da seguinte função:

(1) V ( c 1 , , c n ) = i < j δ ( c i , c i ) ( S i j γ )

onde n indica o número de publicações, Sij a similaridade entre o elemento i e o elemento j, ci denota o cluster ao qual o elemento i é atribuído, δ ci, cj denota uma função que é igual a 1 se ci = cj e 0 caso contrário, e γ denota um parâmetro de resolução que determina o nível de detalhe do agrupamento. Quanto maior for o valor de γ, maior será o número de clusters que serão obtidos (van Eck & Waltman, 2014, p. 317).

Os três mapas de rede fornecidos pelo VOSviewer (ver mais adiante) utilizaram os metadados descritivos dos 609 documentos coletados na base de indexação bibliográfica Web of Science. O VOSviewer viabilizou mineração de texto para confeccionar uma rede de coocorrência dos termos mais relevantes extraídos de títulos e de resumos. Foi aplicado um dicionário de sinônimos (thesaurus) que agrupou diversas grafias de uma mesma palavra ou variantes de um mesmo objeto ou tópico de interesse para melhorar a disposição dos elementos nos mapas2 2 Por exemplo: os termos ou expressões ‘candidates for deputy’, ‘candidates.’ e ‘candidato’ foram unificados simplesmente em ‘candidates’. Igualmente, ‘conceptual definition’, ‘conceptual framework’ e ‘conceptualization’ viraram ‘concept’. Ou ‘municipal government’, ‘municipal level’ e ‘municipality’ foram agrupados no termo ‘local government’. .

As duas outras redes apresentadas na próxima seção foram formadas com base em relações de cocitação de autores para os dados de dois ciclos diferentes de publicação: 2002-2010 e 2011-20193 3 Para uma informação completa sobre os protocolos utilizados para gerar as redes no VOSviewer, ver o Quadro 1A, no apêndice deste artigo. .

IV. Resultados

Quando foi concebida, em 1992, a Revista de Sociologia e Política inspirou-se em dois modelos bem diferentes: Actes de la recherche em Sciences Sociales e New Left Review. Essa opção refletia o ecletismo teórico dos seus fundadores e a ambição para fundir, em um único projeto acadêmico, duas dimensões da atividade intelectual: a política e a politológica.

Fundada em 1975 por Pierre Bourdieu para divulgar os trabalhos do Centre de sociologie européenne, Actes de la recherche forneceu o modelo acadêmico para três características assumidas pela Revista de Sociologia e Política nos seus primeiros vinte anos: multidisciplinaridade, dossiês temáticos e publicação de resultados empíricos de pesquisas de cientistas sociais (e não de ensaios de interpretação sociológica ou de meta-teoria). Na formulação que atualmente consta da missão da Actes no portal Cairn, essa característica era definida como uma “sociologia em ação, que não aborda os problemas [sociológicos] mais abstratos e gerais no espaço puro da teoria, mas submete objetos empíricos a uma análise aprofundada” (Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 2021Actes de la Recherche en Sciences Sociales (2021) À propos de cette revue. Objectifs. Actes de la Recherche en Sciences Sociales [homepage]. Disponível em: <https://www.cairn.info/revue-actes-de-la-recherche-en-sciences-sociales.htm?contenu=apropos>. Acesso em 31 de mai. 2021.
https://www.cairn.info/revue-actes-de-la...
).

O foco da Revista foi, desde o início, o fato político, mas em um sentido amplo, isto é, todos os fenômenos ligados ao poder de Estado (do monopólio da violência à regulação da economia) e aos modos sociais de dominação. Daí derivou a exigência de um tratamento multidisciplinar dos objetos, outro traço herdado de Actes de la recherche, o que implicou a publicação de manuscritos nativos de especialidades diferentes da Ciência Política e da Sociologia Política, tais como Urbanismo, Filosofia Política, Economia Política, História Política etc.4 4 Os dados de Leite (2017) mostraram que, em termos de estilos cognitivos, abordagens teórico-metodológicas e áreas temáticas, a Revista de Sociologia e Política esteve muito mais próxima de um periódico generalista como a Revista Brasileira de Ciências Sociais do que periódicos de Ciência Política em sentido estrito. Em sua primeira década de existência, a orientação editorial que constava da missão nos vinte primeiros números era a seguinte: “A Revista prioriza manuscritos cujo tema principal seja a prática política. As contribuições das diversas disciplinas das Ciências Humanas são bem-vindas. Elas podem tomar a forma de ensaios teóricos, investigações históricas, reflexões filosóficas e pesquisas empíricas”.

O caráter multidisciplinar foi também um reflexo da política de publicação de dossiês temáticos.

A Revista de Sociologia e Política priorizou uma política editorial baseada em dossiês com temas pré-definidos e não na oferta espontânea de manuscritos, mesmo porque research articles nos anos noventa do século XX não eram tradicionalmente o canal por meio dos quais as pesquisas pós-graduadas em Ciências Sociais divulgavam seus resultados, mas livros autorais5 5 O Observatório das Ciências Sociais (UERJ) analisou 581.169 referências citadas em artigos de periódicos de Ciências Sociais indexados na base SciELO Brasil publicados entre 1990 e 2019. Em 1990, livros e capítulos correspondiam a 57% das referências citadas e em 2019 esse valor era de 52%. Já artigos eram 26% em 1990 e em 2019 saltaram para 39%. Luiz Augusto Campos, comunicação pessoal. . A preferência pelos dossiês, que durou de 1994 até 2015, possibilitou aos editores não somente um controle sobre a agenda teórica e temática da Revista, mas foi também o modo e o meio de atrair, para uma publicação nova, desconhecida e situada na periferia do sistema universitário do Brasil, um fluxo constante de manuscritos que apenas a submissão espontânea seria incapaz de prover (retomaremos a questão dos dossiês mais adiante).

New Left Review (NLR), por sua vez, funcionou como o referencial político do projeto editorial original da Revista de Sociologia e Política.

NLR foi fundada no contexto da Guerra Fria, em 1960, com duas ambições políticas, e não acadêmicas. De um lado, rejeitar, através de ensaios de análise e de intervenção teórica, a ortodoxia revisionista no Partido Trabalhista e o legado stalinista no Partido Comunista britânico; de outro, empolgar o movimento antinuclear pela paz no Reino Unido. Embora a revista abrisse espaço para questões continentais e do Terceiro Mundo, as relações de classe e de dominação do capitalismo inglês foram temas que passaram a conviver com as questões mais urgentes de política prática: movimento estudantil, movimento socialista, os impasses dos regimes burocráticos do Leste etc. Também como revista de um partido teórico, NLR assumiu e levou adiante, nos anos 1970, o projeto de “introdução e avaliação das principais correntes do pensamento marxista europeu pós-clássico” (Blackburn, 2010Blackburn, R. (2010) A Brief History of New Left Review 1960-2010. New Left Review. Disponível em: <https://newleftreview.org/pages/history>Acesso em 31 de mai. 2021.
https://newleftreview.org/pages/history...
), como o estruturalismo de Althusser e o historicismo de Gramsci. Veio da New Left Review o interesse da Sociologia e Política para considerar, mesmo em um periódico eminentemente universitário, questões políticas imediatas e problemas conjunturais.

Esse propósito está resumido no Editorial do primeiro número. A Revista deveria ser um “meio de divulgação da produção intelectual recente das Ciências Sociais e, ao mesmo tempo, [um] espaço acadêmico que” pudesse deliberadamente repercutir e “refletir sobre os impasses e as contradições da política contemporânea”. Os editores imaginavam, no espírito de um periódico que admitisse também a presença de uma agenda política e não estritamente acadêmica, que a Revista de Sociologia e Política conseguiria “intervir [...] nas questões políticas do momento, [...] no sentido daquilo que é fundamental para seus membros: a radicalização e o aprofundamento da democracia no Brasil” (Editores, 1993Editores (1993) Editorial. Revista de Sociologia e Política, s/v(1), pp. 1-1. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39389/24204>. Acesso em 31 de mai. 2021.
https://revistas.ufpr.br/rsp/article/vie...
grifos nossos). Conceitos bibliométricos como fator de impacto, índice de imediação, vida média de citações etc. não somente eram desconhecidos dos fundadores na Revista, mas completamente desimportantes no campo acadêmico das Ciências Sociais nacionais até recentemente.

IV.1 A política de dossiês: a história temática

Entre o fascículo 2 (1994) e o 55 (2015), a Revista publicou 42 dossiês especiais.

Os dossiês temáticos cumpriram um papel fundamental nas fases de constituição e de consolidação da Revista. Foi através deles que os editores e organizadores conseguiram “convidar nomes importantes em uma área do conhecimento com vistas a conferir prestígio à publicação, especializar as contribuições, aprofundar o debate sobre um tema e, graças à eleição de assuntos específicos, manter a publicação sempre atualizada” (Editores, 2014aEditores (2014a) Editorial. Revista de Sociologia e Política, 22(49), pp. 1-3. DOI: 10.1590/S0104-44782014000100001
https://doi.org/10.1590/S0104-4478201400...
, p. 3). Assim, os dossiês significaram um expediente “eficaz para reunir uma comunidade de colaboradores” de destaque e reputação na área de Ciência Política e de Sociologia do país e dar, assim, projeção ao periódico (Editores, 2014aEditores (2014a) Editorial. Revista de Sociologia e Política, 22(49), pp. 1-3. DOI: 10.1590/S0104-44782014000100001
https://doi.org/10.1590/S0104-4478201400...
, p. 3).

As temáticas tratadas nos dossiês pretendiam fabricar a agenda da Revista alinhada tanto com a agenda das ciências sociais no Brasil, quanto com a agenda de debates da política nacional. Assim, os temas não foram uma escolha apenas acadêmica, mas também refletiam (ou pretendiam refletir) problemas conjunturais: dilemas da cidadania e da violência policial e simbólica (Dossiê “Cidadania e Violência” no número 13, de 1999), tema que retornará em 2011 (Dossiê “Crime, Segurança e Instituições Estatais”), a mundialização da economia e dos processos de regulação do capitalismo (Dossiê “Globalização” no número 19, de 2002), o papel crescente e estruturante da mídia na política (em 2004), a ascensão da China e seus impactos no sistema internacional (em 2011), a guerra contra o terrorismo (em 2015) etc.

A inspeção dos assuntos dos dossiês revela o alinhamento com o projeto original da vocação multidisciplinar pretendida da Revista de Sociologia e Política, mas também um excessivo (e progressivamente indesejável) ecletismo teórico e temático. Grosso modo, são todos temas políticos (no sentido de “questões políticas importantes”), mas não de “Ciência Política” em sentido estrito (ou seja, disciplinar).

A ausência de fronteiras disciplinares e o sincretismo daí resultante podem ser vistos na Tabela 1. Ela subdivide os dossiês por área de origem dos temas tratados.

Tabela 1
Áreas temáticas dos dossiês publicados na Revista de Sociologia e Política entre 1994 e 2015

Apenas oito dos 42 dossiês foram em temas paradigmáticos de Ciência Política6 6 Democracia, Políticos e Partidos (2000), Transição Política (2001), Cultura Política e Capital Social (2001), Mídia e Política (2003), Federalismo (2004), Internet e Política (2009), Política, Direito e Judiciário (2013), Recrutamento e Seleção de Candidatos (2013). ou 19% do total, um número pouco distante dos 17% de Relações Internacionais e de Economia Política. Esses valores estão só um pouco à frente de Teoria Política (seis dossiês ou 14% do total). História Política também teve 6 dossiês e essa temática esteve muito concentrada nos primeiros anos do periódico (cinco dossiês “históricos” são publicados entre 1994 e 1997)7 7 1964 (1994), Burguesia e política (1995), Constituinte de 1946 (1996), Esquerda (1997), Estado Novo (1997), Novas Repúblicas: construção de nações na América Latina do século XIX (2012). . Relações Internacionais e Teoria Política são temas frequentes entre 2006 e 2013, quando foram publicados quatro dos seis números especiais sobre Teoria e três dos sete dossiês sobre RI (tendo sido também o dossiê sobre guerra ao terrorismo contratado nesse período). Essa política editorial terá um reflexo direto na agenda da Revista, como poderá ser visto nos dados a seguir.

IV.2 As palavras e as ideias: a história conceitual

Um modo de expor e explicar as transformações no catálogo temático e teórico de Sociologia e Política é olhar para os termos mais frequentes nos textos publicados nas diferentes fases do periódico. Utilizando análise de texto automatizada, sistematizamos os diferentes tópicos de pesquisa para os 746 documentos analisados. Os dados sugerem a predominância, ao longo do tempo, de três programas editoriais diferentes: i) história política e política brasileira (entre 1993 e 2001); ii) sociologia e economia, grosso modo (entre 2002 e 2010); e iii) temas de política institucional tradicional como partidos, eleições, legislativos, representantes políticos etc. (entre 2011 e 2019).

A Figura 1 arranja as palavras importantes em resumos e títulos dos 137 documentos publicados entre 1993 (n. 1) e 2001 (n. 17). Os termos mais constantes nessa fase são “Brasil” (61 ocorrências), “Estado” (47) e “democracia” (37).

Figura 1
Termos de maior ocorrência em títulos e resumos nos documentos publicados na Revista de Sociologia e Política entre 1993 e 2001

Observação: Total de termos selecionados: 165. As 20 palavras mais frequentes nesse corpus são: brasil (61); estado (47); democracia (37); 1946 (22); estado novo (22); regime (22); social (22); crise (20); guerra (20); governo (19); caso (18); militar (18); constituinte (17); critica (16); espaço (16); sindical (16); sociais (16); transição (16); classe (15); desenvolvimento (15).

“Brasil” é tão destacado porque a maior parte dos artigos é sobre história brasileira. A frequência de “Estado Novo” e “1946” (ambos com 22 ocorrências) é um efeito direto da publicação de artigos típicos de história política nos dossiês nos aniversários de sessenta anos do Estado Novo (1997) e de cinquenta anos da Assembleia Constituinte de 1946 (1996). Um inventário não sistemático de teses e dissertações dos principais centros de pós-graduação em Ciência Política nos anos 1980 indicou que os objetos de pesquisa preferenciais eram mais historiográficos do que politológicos (Reis, 1991Reis, F. W. (1991) O tabelão e a lupa: teoria, método generalizante e idiografia no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 6(16), pp. 27-42.) e Sociologia e Política é um efeito tanto dessa preferência, quanto da cultura temática da área.

A questão do “Estado” (segunda maior frequência nas ocorrências entre 1993 e 2001) ao lado de “governo” (19 vezes) foi um tema fundamental na pauta de debates da política nacional nos anos 1990 e as discussões, que podem ser lidas na Revista, irão girar sobre a sua forma (se democrático ou ditatorial) e função de regulação (diante da economia e da cidadania).

“Democracia” (terceiro lugar nas ocorrências) é o termo que repercute o assunto dominante da agenda político-institucional nacional dos anos 1980 e 1990 e as discussões sobre a natureza do novo regime político. No fim do século XX, a questão da democracia - após mais de duas décadas de regime ditatorial-militar, uma longa transição (de 1974 a 1985), uma Constituição (1988), uma eleição (1989) e um impeachment (1992) - era a questão política e acadêmica mais premente (isto é, urgente e angustiante). É nesse contexto que o periódico foi criado e esses assuntos serão discutidos inúmeras vezes pelos artigos publicados na Revista nos anos 1990 e 2000, em especial no número temático sobre “Transição Política”, de 2001 (n. 17).

A Figura 2 mostra as temáticas predominantes no periódico no início dos anos 2010. É possível ver melhor a transição entre temas, conceitos e métodos do que na nuvem de ocorrências de termos (Figura 1). O mapa de palavras em títulos e resumos foi feito a partir dos termos que aparecem ao menos seis vezes no corpus e que possuíam alguma conexão com os demais.

Figura 2
Estrutura conceitual: termos mais frequentes na Revista de Sociologia e Política em títulos e resumos entre 2009 e 2014

Observação: Visualização da rede de coocorrências de termos mais frequentes (ocorrência mínima de 6 vezes) e suas relações recíprocas em títulos e resumos dos 609 documentos selecionados (total: 12.678 palavras). Termos encontrados: 439. Na figura estão representados 360 termos. Foi retirado da rede o termo “apresentação” (7 ocorrências).

No VOSviewer, em um mapa de tipo overlay as instâncias de uso de uma palavra são mostradas conforme seu ano médio de predominância. Na representação vemos a transição entre 2009 e 2014. Os termos mais utilizados no começo do recorte temporal são retratados em tons de lilás e rosa, e as palavras mais comuns ao final de nosso recorte (ou seja, as mais recentes) são ilustradas em tons de amarelo e laranja claro.

Há dois clusters bem definidos tematicamente e metodologicamente assinalados na Figura 2. Do lado esquerdo do mapa (tons mais escuros) se destacam as palavras “sociedade”, “interesse” “classe”, “capital”, “mercado” e “economia”, por exemplo. Do lado direito do mapa (em tons mais claros) os termos são diferentes dessa família mais sociológica e são suplantados por assuntos típicos da agenda mais mainstream da Ciência Política, tais como “votante”, “candidato”, “eleição”, “deputado” e “partido” (segundo termo que mais ocorre na rede, 80 vezes, e com maior número de links, 288)8 8 Estudo sobre a presença do tema “poder legislativo” em artigos publicados entre 1984 e 2016 em 13 periódicos brasileiros mostrou que a Rev. Sociol. Polit. foi o segundo periódico com mais ocorrências (44 artigos de um total de 233), atrás apenas de Dados (69 artigos). Para mais detalhes ver Barros e Silva (2021, p. 34, Tabela 1). .

Metodologicamente, podemos inferir a existência de uma transição de “conceito” (o termo mais destacado desse quadrante e o de maior ocorrência na rede, 84 vezes, e segundo maior em número de ligações, 283), “lógica”, “paradigma”, termos próximos a “sociologia”, no mapa (à esquerda), e “variável”, “indicador”, “parâmetro” (à direita). Isso expressa a feição mais empírica que os artigos da Revista vão adquirindo com o tempo9 9 Análise do conteúdo de 3.409 resumos dos artigos nos seis principais periódicos de Ciência Política do Brasil mostrou que, para o período coberto pela investigação (1993-2019), a Rev. Sociol. Polit. era o periódico com mais menções a termos relacionadas à metodologia, quase 25% contra menos de 5% de Lua Nova. Para mais detalhes ver Figueiredo et al. (2020, p. 8, Gráfico 2). .

As palavras que estão no meio da escala temporal (mostradas em tons de rosa ou laranja) possuem citações em torno da média de ocorrências, estão distribuídas de maneira uniforme no período considerado e são temas constantes dos artigos (tais como “elite”, por exemplo, com 36 ocorrências, em 12º lugar em uma lista de 361 termos). “Ciência Política” está no centro do grafo, com 34 ocorrências no corpus, equidistante dos dois clusters teórico-metodológicos, praticamente demarcando essa transição disciplinar.

IV.3 Os autores e as tradições: a história intelectual

A unidade de análise das redes de cocitação (Figuras 3 e 4) são os autores mais citados nas referências dos 609 documentos coletados na base Web of Science. O período 2002-2019 foi divido em duas partes para facilitar a visualização e para compreender a transição temática do periódico.

Figura 3
Tradições intelectuais. Rede de cocitação de autores citados nas referências dos documentos publicados na Revista de Sociologia e Política entre 2002-2010

Observação: Visualização da rede de cocitações entre autores citados no mínimo 5 vezes nas referências de 293 documentos. Autores encontrados: 4.909. Na figura estão representados 191 autores divididos em 7 clusters. Somente o primeiro autor do documento é apresentado na rede.

Figura 4
Tradições intelectuais. Rede de cocitação de autores citados nas referências dos documentos publicados na Revista de Sociologia e Política entre 2011-2019

Observação: Visualização da rede de cocitações entre autores citados no mínimo 8 vezes nas referências de 316 documentos. Autores encontrados: 7.863. Na figura estão representados 157 autores divididos em 5 clusters (156 autores formam a rede). Somente o primeiro autor do documento é apresentado na rede.

Enquanto redes de termos-chave permitem compreender a estrutura conceitual, seja em termos teóricos, seja em termos metodológicos, a vantagem desse outro tipo de rede é mapear as influências intelectuais de um campo científico. Os nós ou vértices destacados nas redes de conhecimento são as referências mais frequentes no corpus de textos. As ligações entre autores dizem muito sobre padrões conceituais compartilhados por uma comunidade. Autores retratados em um mesmo cluster indicam referencial teórico comum ou similaridade de objetos e/ou de metodologia. Não necessariamente existe afinidade ou consenso, uma vez que um texto pode ser citado para expor um ponto de vista divergente ou contrário ao do autor citante, mas há um reconhecimento tácito por parte do citante do impacto científico e da posição de destaque do autor citado na construção e evolução de uma área de pesquisa.

As duas redes de cocitação foram feitas separadamente para os períodos 2002-2010 e 2011-2019 e permitem identificar uma mudança semelhante àquela retratada na Figura 2, isto é, a passagem de uma abordagem mais “sociológica” para uma mais “politológica”, grosso modo.

A Figura 3 (2002-2010) ilustra sete abordagens distintas do fato político no periódico. À esquerda no grafo (em laranja) estão autores de referência da sociologia teórica (Weber, Durkheim, Bourdieu, Giddens) e em dourado os autores de referência para a discussão da democracia deliberativa (Rawls, Habermas, Laclau, Avritzer). No centro do mapa, em lilás, o debate da democracia representativa (Dahl, O’Donnell). Do lado direito, no alto na rede, em vermelho, há o cluster dos marxistas. Abaixo, em azul, a sociologia política brasileira (Diniz, Martins, Cardoso) e em azul celeste, a sociologia histórica (Skocpol, Tilly). Por fim, em verde estão agrupadas as referências da ciência política brasileira (Figueiredo, Mainwaring, Souza, Abrucio). A inflação de citações de Bourdieu (207 ocorrências) deve-se não somente à sua influência nas ciências sociais brasileiras (Campos & Szwako, 2020Campos, L. A. & Szwako, J. (2020) Biblioteca Bourdieusiana ou como as ciências sociais brasileiras vêm se apropriando de Pierre Bourdieu (1999-2018). Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, s/v(91), pp. 1-25.), mas ao fato de que um fascículo todo foi dedicado ao dossiê “Pierre Bourdieu no campo” (n. 26, 2006).

A Figura 4 (2011-2019) é formada por cinco clusters. O cluster principal, em verde e à direita no grafo, é integrado por 43 autores cujos temas são típicos de ciência política (Limongi, Figueiredo, Samuels, Ames, Nicolau etc.). São estudos principalmente sobre as instituições representativas (legislativo, eleições, partidos, políticos) e uma extensão dessa discussão, com mais foco na Sociologia Política, está representada no cluster azul. O cluster dourado, à esquerda no grafo, ainda é bastante importante (33 autores) e é o cluster de temas ligados à teoria da democracia e à participação democrática (Habermas, Rawls, Avritzer, Dagnino etc.). Nesta rede, os autores marxistas da Figura 3 (cluster vermelho, à direita e no alto), foram absorvidos no cluster de P. Bourdieu. Ainda há “sociologia” (o cluster em laranja, no centro e abaixo), mas ela não é hegemônica como anteriormente; e o cluster lilás (no centro da rede, acima) mostra a permanência da discussão sobre democracia representativa (Przeworski, Dalton, Norris, Dahl).

Nesse tipo de visualização, relações mais fortes entre os termos são indicadas usando linhas; quanto mais linhas, maior a interação entre os elementos; e quanto mais espessas essas linhas, maior a intensidade da interação (van Eck and Waltman, 2017). A rede formada pela Figura 3 é mais densa que a da Figura 4, pois há linhas que conectam quase todas as áreas do mapa e os nós estão mais próximos uns dos outros, indicando maior afinidade.

A Figura 4 é bem diferente e sugere um processo de especificação, retratado pelo afastamento dos grupos de autores mais citados. Há uma baixa densidade de conexões entre os clusters visto que há um número bem menor de linhas que interconectam as áreas ou especialidades. Existem ainda conexões suficientes para comprovar que há um perfil herdado pelo periódico, com questões de pesquisa convergentes e autores comuns nos dois períodos, mas a distância entre os conjuntos de autores mostra o desenvolvimento de subcampos com alguma independência. Isso pode se referir a dois fenômenos: a especialização temática como uma tendência na Ciência Política brasileira, de um lado; e, de outro, que a Sociologia Política passa progressivamente a publicar artigos com delimitações teóricas mais claras. A partir de 2016, artigos com uma abordagem quantitativa são dominantes.

Uma evidência para compreender a progressiva especialização em Ciência Política é a filiação disciplinar dos autores que submeteram artigos à Revista. Pode-se estimar, a partir daí, áreas influentes ou emergentes do periódico.

O Gráfico 1 resume os dados das áreas de atuação acadêmica conforme a origem das submissões e compara dois anos: 2013 e 2017. Utilizamos como proxy para determinar áreas o pertencimento dos autores a programas de pós-graduação ou departamentos universitários.

Gráfico 1
Áreas de origem das submissões dos artigos à Revista de Sociologia e Política, 2013 e 2017 (%)

Observação: Na área de “Políticas Públicas” agregamos autores vindos da Economia, Administração, Gestão Pública, Políticas Públicas e Administração Pública. Na área de “Sociologia” agregamos Ciências Sociais, Ciências Humanas ou Sociologia. Em “outras áreas” estão Direito, Geografia, História.

Em 2013, Sociologia foi o domínio mais saliente com 33,2% das submissões. Se esse valor for somado à Antropologia (16,6%), metade dos artigos (49,8%) vinham de ramos das ciências sociais que não Ciência Política. Em 2017, Ciência Política (41%) é a área principal de origem dos manuscritos e se somarmos os percentuais de Relações Internacionais (7,9%) e de Políticas Públicas (18,2%), dois terços (67,1%) dos documentos são de Ciência Política e de áreas correlatas.

V. Discussão e conclusões

Os dados da seção anterior ilustram as divisões teóricas, temáticas e metodológicas da Revista de Sociologia e Política. Eles permitem resumir a história intelectual do periódico em suas três primeiras décadas de existência. Nesta seção destacamos os principais achados desse nosso estudo e propomos uma interpretação dos seus significados à luz das transições e das transformações do próprio campo disciplinar da Ciência Política brasileira.

Utilizando informações bibliométricas sobre 746 documentos publicados entre 1993 e 2019, a análise dos termos em resumos e títulos, das referências citadas e do perfil das submissões demonstraram que em três décadas a Revista de Sociologia e Política

1. deixou de ser uma publicação generalista de Ciências Sociais, que abrigava temáticas diversificadas e “politizadas”, isto é, ligadas a problemas concretos da agenda política nacional, e passou enfocar alguns temas típicos do catálogo acadêmico de Ciência Política.

A despolitização da agenda da Revista e a admissão de um perfil mais “científico” com a promoção de artigos sobre problemas de Ciência Política ao invés de problemas políticos é uma mudança importante, ainda mais quando se considera que Dados, um periódico semelhante, permaneceu fiel à sua missão original, que era o de repercutir as grandes questões nacionais (Campos, Feres Júnior & Guarnieri, 2017Campos, L. A., Feres Júnior, J. & Guarnieri, F. (2017) 50 Anos da Revista DADOS: uma análise bibliométrica do seu perfil disciplinar e temático. Dados, 60(3), pp. 623-661. DOI: 10.1590/001152582017131
https://doi.org/10.1590/001152582017131...
). Esse é um dos aspectos da “americanização” de Sociologia e Política. A geração de cientistas políticos que em fins dos anos 1960 quis, através do Caucus for a new Political Science, reorientar a agenda da APSA para crises sociais e questões políticas controversas do momento foi derrotada em nome da manutenção do perfil “cientificista” e o periódico que fundaram, o New Political Science, nunca rivalizou em prestígio e impacto com o American Political Science Review (Dryzek, 2006Dryzek, J. S. (2006) Revolutions Without Enemies: Key Transformations in Political Science. American Political Science Review, 100(4), pp. 487-492. DOI: 10.1017/S0003055406062332
https://doi.org/10.1017/S000305540606233...
). Também é preciso considerar que os novos temas dos manuscritos de Sociologia e Política refletiram o processo de rotinização da democracia eleitoral brasileira. A regularidade de candidaturas, coligações, votações, as dinâmicas dos legislativos, o papel dos partidos políticos etc. praticamente impuseram o seu estudo.

Essa constatação, sobre o tema dos artigos, permite destacar uma segunda mudança que tem justamente a ver com o volume da oferta de artigos. Em 2015, a Revista de Sociologia e Política

2. mudou a sua política editorial, eliminando a publicação de dossiês temáticos sobre temas políticos variados, escolhidos pelos editores ou negociados com a comunidade, para receber apenas submissões espontâneas de manuscritos.

Essa virada só foi possível porque também mudou, desde a criação da Revista em 1993, o mercado acadêmico da Ciência Política brasileira. Houve um crescimento exponencial dos programas de pós-graduação especializados na área (Marenco, 2014Marenco, A. (2014)The Three Achilles’ Heels of Brazilian Political Science. Brazilian Political Science Review. 8(3), pp. 3-38. DOI: 10.1590/1981-38212014000100019
https://doi.org/10.1590/1981-38212014000...
; Oliveira et al., 2021Oliveira, A.; Engerroff, A. M. B; Silva, C. F. & Santos, B. M. C. (2021) A trajetória da ciência política no Brasil e a sua autonomização: uma análise a partir dos programas de pós-graduação. Pro-Posições, 32(s/n), p. e20190059. DOI: 10.1590/1980-6248-2019-0059
https://doi.org/10.1590/1980-6248-2019-0...
). Em 1998 havia 10 cursos de mestrado e/ou doutorado na área, concentrados no Sudeste, com 459 matriculados e 92 docentes. Já em 2019 serão 59 cursos de Ciência Política, Relações Internacionais, Políticas Públicas, Estudos Estratégicos e de Defesa com 2.440 matriculados e 898 professores (Fernandes, Codato & Moreira, 2019Fernandes, L. M. R., Codato, A. N. & Moreira, W. de S. (2019) Documento de Área: Ciência Política e Relações Internacionais (2019). Brasília: CAPES. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/338570631_Documento_de_Area_Ciencia_Politica_e_Relacoes_Internacionais_2019>. Acesso em 31 de mai. 2021.
https://www.researchgate.net/publication...
). Logo, a possibilidade de oferta regular de artigos aumentou exponencialmente.

Aliado a esse crescimento quantitativo da pós-graduação em estudos políticos, houve um importante incremento de qualidade da formação na área em termos metodológicos (Figueiredo et al., 2020Figueiredo, D.; Fernandes, A.; Borba, L. & Aguiar T. H. (2020) Metodologias de pesquisa em ciência política: uma breve introdução. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, s/v (94), pp. 1-34.). Isso permitiu que os editores preferissem research articles ao invés de ensaios de interpretação de história política e grandes sínteses da dinâmica política nacional. Assim, a Revista de Sociologia e Política

3. passou a incentivar, a receber e a publicar artigos empíricos com abordagem quantitativa em uma área de conhecimento - Ciência Política. Essa seria uma outra face da “americanização” do periódico, a especialização disciplinar.

Sobre o termo “americanização”, utilizado aqui de maneira taquigráfica, é preciso considerar que a Ciência Política dos Estados Unidos é um universo grande, complexo e que não pode ser reduzido a “estudos quantitativos”. A APSA possui mais de 10.000 membros com pesquisas em 52 seções temáticas diferentes e patrocina quatro periódicos (American Political Science Association, 2020American Political Science Association (2020) 2020 Annual Report. Disponível em: <https://www.apsanet.org/Portals/54/docs/2020%20APSA%20Annual%20Report.pdf>. Acesso em 31 de mai. 2021.
https://www.apsanet.org/Portals/54/docs/...
). Por outro lado, o movimento Perestroika de reforma da Ciência Política norte-americana (do início dos anos 2000) denunciou a hegemonia, na disciplina, de um consenso epistemológico imposto pelos defensores de uma “hard science”. Esse grupo compreendia teóricos da escolha racional, politólogos que faziam apenas pesquisa quantitativa e que utilizavam modelos formais (Kasza, 2001Kasza, G. (2001) Perestroika: For An Ecumenical Science of Politics. PS: Political Science and Politics, 34(3), pp. 597-600.). Em termos metodológicos, análise dos artigos publicados entre 1990 e 2005 em American Political Science Review, American Journal of Political Science e Journal of Politics mostrou de forma convincente que essa Ciência Política segue “um paradigma de ciência ‘normal’ [...]: questão de pesquisa, teoria, hipóteses, medidas, amostra, testes, estimativas, inferência” (Lewis-Beck & Bélanger, 2015Lewis-Beck, M. S. & Bélanger, É. (2015) Quantitative methods in Political Science: research in France and the United States. French Politics, 13(2), pp. 175-184. DOI: 10.1057/fp.2015.7
https://doi.org/10.1057/fp.2015.7...
, p. 182). Essa seria, de maneira muito resumida, a Ciência Política “americana”

A Revista de Sociologia e Política e mesmo a Ciência Política brasileira não são isso. A questão em aberto é se o periódico conseguirá ser isso e se isso é desejável.

  • 1
    Agradecemos aos pareceristas do periódico os apontamentos, críticas e sugestões que melhoraram bastante o manuscrito.
  • 2
    Por exemplo: os termos ou expressões ‘candidates for deputy’, ‘candidates.’ e ‘candidato’ foram unificados simplesmente em ‘candidates’. Igualmente, ‘conceptual definition’, ‘conceptual framework’ e ‘conceptualization’ viraram ‘concept’. Ou ‘municipal government’, ‘municipal level’ e ‘municipality’ foram agrupados no termo ‘local government’.
  • 3
    Para uma informação completa sobre os protocolos utilizados para gerar as redes no VOSviewer, ver o Quadro 1A, no apêndice Apêndice Quadro 1A Protocolos para reproduzir as Figuras 2, 3 e 4 no software VOSviewer versão 1.6.15 Protocolo Figura 2. Estrutura conceitual Figura 3. Tradições intelectuais Figura 4. Tradições intelectuais Type Map based on text data Map based on bibliographic data Map based on bibliographic data Source of data Web of Science (August 11 ,2020) Web of Science (August 11 ,2020) Web of Science (August 11 ,2020) Timespan 2002-2019 (609 documents) 2002-2010 (293 documents) 2011-2019 (316 documents) Type of analysis Co-occurrence links between terms Author co-citation Author co-citation Unit of analysis terms cited authors(b) cited authors(b) Fields from wich terms will be extracted Title and abstract fields journal article references journal article references Counting method Binary counting Full counting Full counting Include Thesaurus yes yes yes Total of terms/authors 12 678 4 909 7 863 Minimum number of occurrences/citations of a term/an author 6 5 8 Meet the threshold 439 192 157 Number of the terms/ authors selected 360(a) 191(c) 156(d) Visualization Overlay Network Network Normalization Method LinLog/modularity LinLog/modularity LinLog/modularity Layout Attraction 1 1 2 Repulsion 0 -1 0 Clusters 4 7 5 Min. cluster size 1 10 1 Merge small clusters yes yes yes Flip figure Horizontally ,Vertically Horizontally ,Vertically Visualization Scale 0.86 1.35 1.53 Weights Occurrences Citations Citations Scores: Avg. pub. year Labels size variation 1.00 0.67 1.00 Lines Size variation 0,00 0,00 0,00 Max. lines 300 300 300 Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de Web of Science - SciELO Citation Index (dados coletados em 11 ago. 2020). (a) Foi eliminada a entrada “apresentacao” com 6 menções. (b) Quando se utiliza a base Web of Science para gerar mapas bibliométricos, somente o primeiro autor é considerado. (c) Foi eliminada a entrada “______” com 5 citações. (d) Apenas 158 autores estão conectados. deste artigo.
  • 4
    Os dados de Leite (2017) mostraram que, em termos de estilos cognitivos, abordagens teórico-metodológicas e áreas temáticas, a Revista de Sociologia e Política esteve muito mais próxima de um periódico generalista como a Revista Brasileira de Ciências Sociais do que periódicos de Ciência Política em sentido estrito.
  • 5
    O Observatório das Ciências Sociais (UERJ) analisou 581.169 referências citadas em artigos de periódicos de Ciências Sociais indexados na base SciELO Brasil publicados entre 1990 e 2019. Em 1990, livros e capítulos correspondiam a 57% das referências citadas e em 2019 esse valor era de 52%. Já artigos eram 26% em 1990 e em 2019 saltaram para 39%. Luiz Augusto Campos, comunicação pessoal.
  • 6
    Democracia, Políticos e Partidos (2000), Transição Política (2001), Cultura Política e Capital Social (2001), Mídia e Política (2003), Federalismo (2004), Internet e Política (2009), Política, Direito e Judiciário (2013), Recrutamento e Seleção de Candidatos (2013).
  • 7
    1964 (1994), Burguesia e política (1995), Constituinte de 1946 (1996), Esquerda (1997), Estado Novo (1997), Novas Repúblicas: construção de nações na América Latina do século XIX (2012).
  • 8
    Estudo sobre a presença do tema “poder legislativo” em artigos publicados entre 1984 e 2016 em 13 periódicos brasileiros mostrou que a Rev. Sociol. Polit. foi o segundo periódico com mais ocorrências (44 artigos de um total de 233), atrás apenas de Dados (69 artigos). Para mais detalhes ver Barros e Silva (2021Barros, A. T. de & Silva, L. E. (2021) O poder legislativo como objeto de estudo da Ciência Política em periódicos brasileiros. Revista Eletrônica de Ciência Política, 11(1), pp. 24-55. doi: 10.5380/recp.v11i1.72198
    https://doi.org/10.5380/recp.v11i1.72198...
    , p. 34, Tabela 1).
  • 9
    Análise do conteúdo de 3.409 resumos dos artigos nos seis principais periódicos de Ciência Política do Brasil mostrou que, para o período coberto pela investigação (1993-2019), a Rev. Sociol. Polit. era o periódico com mais menções a termos relacionadas à metodologia, quase 25% contra menos de 5% de Lua Nova. Para mais detalhes ver Figueiredo et al. (2020, p. 8, Gráfico 2).
  • A produção desse manuscrito foi viabilizada através do patrocínio fornecido pelo Centro Universitário Internacional Uninter à Revista de Sociologia e Política.

Referências

  • Actes de la Recherche en Sciences Sociales (2021) À propos de cette revue. Objectifs. Actes de la Recherche en Sciences Sociales [homepage]. Disponível em: <https://www.cairn.info/revue-actes-de-la-recherche-en-sciences-sociales.htm?contenu=apropos>. Acesso em 31 de mai. 2021.
    » https://www.cairn.info/revue-actes-de-la-recherche-en-sciences-sociales.htm?contenu=apropos
  • Almond, G. A. (2006) Separate Tables: Schools and Sects in Political Science. PS: Political Science and Politics, 21(4), pp. 828-842. DOI: 10.2307/420022
    » https://doi.org/10.2307/420022
  • American Political Science Association (2020) 2020 Annual Report Disponível em: <https://www.apsanet.org/Portals/54/docs/2020%20APSA%20Annual%20Report.pdf>. Acesso em 31 de mai. 2021.
    » https://www.apsanet.org/Portals/54/docs/2020%20APSA%20Annual%20Report.pdf
  • Araujo, C. (2017) Rito de passagem: CEDEC e Lua Nova. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, s/v(100), pp. 15-23. DOI: 10.1590/0102-015023/100
    » https://doi.org/10.1590/0102-015023/100
  • Barros, A. T. de & Silva, L. E. (2021) O poder legislativo como objeto de estudo da Ciência Política em periódicos brasileiros. Revista Eletrônica de Ciência Política, 11(1), pp. 24-55. doi: 10.5380/recp.v11i1.72198
    » https://doi.org/10.5380/recp.v11i1.72198
  • Blackburn, R. (2010) A Brief History of New Left Review 1960-2010. New Left Review Disponível em: <https://newleftreview.org/pages/history>Acesso em 31 de mai. 2021.
    » https://newleftreview.org/pages/history
  • Breuning, M.; Feinberg, A.; Gross, B. I; Martinez, M.; Sharma, R. & Ishiyama, J. (2018) How International Is Political Science? Patterns of Submission and Publication in the American Political Science Review. PS: Political Science & Politics, 51(4), pp. 789-798. DOI: 10.1017/S1049096518000963
    » https://doi.org/10.1017/S1049096518000963
  • Briquet, J.-L. & Sawicki, F. (2012) Retour sur un quart de siècle d’une revue «?militante?». Politix, nº100(4), pp. 9-40. DOI: 10.3917/pox.100.0009
    » https://doi.org/10.3917/pox.100.0009
  • Callon, M.; Courtial, J-P.; Turner, A. & Bauin, S. (1983) From translations to problematic networks: An introduction to co-word analysis. Social Science Information, 22(2), pp. 191-235. DOI: 10.1177/053901883022002003
    » https://doi.org/10.1177/053901883022002003
  • Cammett, M. & Kendall, I. (2021) Political Science Scholarship on the Middle East: A View from the Journals. PS: Political Science & Politics, pp. 1-8. DOI: 10.1017/s1049096520002061
    » https://doi.org/10.1017/s1049096520002061
  • Campos, L. A., Feres Júnior, J. & Guarnieri, F. (2017) 50 Anos da Revista DADOS: uma análise bibliométrica do seu perfil disciplinar e temático. Dados, 60(3), pp. 623-661. DOI: 10.1590/001152582017131
    » https://doi.org/10.1590/001152582017131
  • Campos, L. A. & Szwako, J. (2020) Biblioteca Bourdieusiana ou como as ciências sociais brasileiras vêm se apropriando de Pierre Bourdieu (1999-2018). Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, s/v(91), pp. 1-25.
  • Codato, A., Madeira, R. & Bittencourt, M. (2020) Political Science in Latin America: A Scientometric Analysis. Brazilian Political Science Review, 14(3), p. e0007. DOI: 10.1590/1981-3821202000030005
    » https://doi.org/10.1590/1981-3821202000030005
  • Collares, A. C., Tavolaro, S. B. F. & Almeida, T. M. C. (2016) Sociedade e Estado (S&E): trinta anos de produção científica e pioneirismo na difusão do conhecimento em sociologia no Brasil. Sociedade e Estado, 31(spe), pp. 939-954. DOI: 10.1590/s0102-69922016.0spe0004
    » https://doi.org/10.1590/s0102-69922016.0spe0004
  • Crane, D. (1967) The Gatekeepers of Science: Some Factors Affecting the Selection of Articles for Scientific Journals. The American Sociologist Springer, 2(4), pp. 195-201. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/27701277>. Acesso em 31. mai. 2021.
    » http://www.jstor.org/stable/27701277
  • Ding, Y., Chowdhury, G. G. & Foo, S. (2000) Journal as Markers of Intellectual Space: Journal Co-Citation Analysis of Information Retrieval Area, 1987-1997. Scientometrics, 47(1), pp. 55-73.
  • Djupe, P. A., Smith, A. E. & Sokhey, A. E. (2019) Explaining Gender in the Journals: How Submission Practices Affect Publication Patterns in Political Science. PS - Political Science and Politics, 52(1), pp. 71-77. DOI: 10.1017/S104909651800104X
    » https://doi.org/10.1017/S104909651800104X
  • Dryzek, J. S. (2006) Revolutions Without Enemies: Key Transformations in Political Science. American Political Science Review, 100(4), pp. 487-492. DOI: 10.1017/S0003055406062332
    » https://doi.org/10.1017/S0003055406062332
  • van Eck, N. J. & Waltman, L. (2010) Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics, 84(2), pp. 523-538. DOI: 10.1007/s11192-009-0146-3
    » https://doi.org/10.1007/s11192-009-0146-3
  • van Eck, N. J. & Waltman, L. (2014) Visualizing Bibliometric Networks’. In: Y. Ding, R. Rousseau, & D. Wolfram (eds) Measuring scholarly impact: Methods and practice Basel: Springer, pp. 285-320. DOI: 10.1007/978-3-319-10377-8_13
    » https://doi.org/10.1007/978-3-319-10377-8_13
  • van Eck, N. J. & Waltman, L. (2017) Citation-based clustering of publications using CitNetExplorer and VOSviewer. Scientometrics, 111(2), pp. 1053-1070. DOI: 10.1007/s11192-017-2300-7
    » https://doi.org/10.1007/s11192-017-2300-7
  • Editores (1993) Editorial. Revista de Sociologia e Política, s/v(1), pp. 1-1. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39389/24204>. Acesso em 31 de mai. 2021.
    » https://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39389/24204
  • Editores (2014a) Editorial. Revista de Sociologia e Política, 22(49), pp. 1-3. DOI: 10.1590/S0104-44782014000100001
    » https://doi.org/10.1590/S0104-44782014000100001
  • Editores (2014b) Editorial. Revista de Sociologia e Política, 22(50), pp. 3-7. DOI: 10.1590/1678-987314225001
    » https://doi.org/10.1590/1678-987314225001
  • Fernandes, L. M. R., Codato, A. N. & Moreira, W. de S. (2019) Documento de Área: Ciência Política e Relações Internacionais (2019) Brasília: CAPES. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/338570631_Documento_de_Area_Ciencia_Politica_e_Relacoes_Internacionais_2019>. Acesso em 31 de mai. 2021.
    » https://www.researchgate.net/publication/338570631_Documento_de_Area_Ciencia_Politica_e_Relacoes_Internacionais_2019
  • Figueiredo, D.; Fernandes, A.; Borba, L. & Aguiar T. H. (2020) Metodologias de pesquisa em ciência política: uma breve introdução. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, s/v (94), pp. 1-34.
  • Fisher, B. S.; Cobane, C. T.; Vander Ven, T. M. & Cullen, F. T. (1998) How Many Authors Does It Take to Publish an Article? Trends and Patterns in Political Science. PS: Political Science & Politics, 31(4), pp. 847-856. DOI: 10.2307/420730
    » https://doi.org/10.2307/420730
  • Freidenberg, F. & Vásquez, J. M. T. (2012) América Latina Hoy, una evaluación de sus 20 años. América Latina Hoy, 60(s/n), pp. 229-238. DOI: 10.14201/alh.8990
    » https://doi.org/10.14201/alh.8990
  • Garzia, D. & Verzichelli, L. (2011) Publishing political science in Italy. An analysis of the last decade of contributions to the RISP. Italian Political Science, 6, pp. 1-6. Disponível em: <https://www.academia.edu/790369/Publishing_political_science_in_Italy._An_analysis_of_the_last_decade_of_contributions_to_the_RISP>. Acesso em 31 de mai. 2021.
    » https://www.academia.edu/790369/Publishing_political_science_in_Italy._An_analysis_of_the_last_decade_of_contributions_to_the_RISP
  • Grácio, M. C. C. (2016) Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, 21(47), pp. 82-99. DOI: 10.5007/1518-2924.2016v21n47p82
    » https://doi.org/10.5007/1518-2924.2016v21n47p82
  • Grant, J. T. (2005) What Divides Us? The Image and Organization of Political Science. PS: Political Science and Politics, 38(3), pp. 379-386. DOI: 10.1017/S1049096505050067
    » https://doi.org/10.1017/S1049096505050067
  • Henriksen, D. (2018) What factors are associated with increasing co-authorship in the social sciences? A case study of Danish Economics and Political Science. Scientometrics Springer Netherlands, 114(3), pp. 1395-1421. DOI: 10.1007/s11192-017-2635-0
    » https://doi.org/10.1007/s11192-017-2635-0
  • Janda, K. (2015) Party Politics at age 20. Party Politics, 21(1), pp. 4-9. DOI: 10.1177/1354068814552384
    » https://doi.org/10.1177/1354068814552384
  • Kasza, G. (2001) Perestroika: For An Ecumenical Science of Politics. PS: Political Science and Politics, 34(3), pp. 597-600.
  • Kasza, G. J. (2010) Perestroika and the journals. PS - Political Science and Politics, 43(4), pp. 733-734. DOI: 10.1017/S1049096510001186
    » https://doi.org/10.1017/S1049096510001186
  • König, T. & Ropers, G. (2018) Gender and Editorial Outcomes at the American Political Science Review. PS: Political Science & Politics, 51(4), pp. 849-853. DOI: 10.1017/S1049096518000604
    » https://doi.org/10.1017/S1049096518000604
  • Leite, F. (2016) The Stratification of Diversity: Measuring the Hierarchy of Brazilian Political Science. Brazilian Political Science Review, 10(1), pp. 1-29. DOI: 10.1590/1981-38212016000100006
    » https://doi.org/10.1590/1981-38212016000100006
  • Leite, F. (2017) Tradições intelectuais na Ciência Política brasileira contemporânea. Dados, 60(3), pp. 751-791. DOI: 10.1590/001152582017134
    » https://doi.org/10.1590/001152582017134
  • Leite, F. & Feres Jr., J. (2021) A Ciência na Ciência Política brasileira. Revista Brasileira de Ciência Política, s/v(34), pp. 1-53. DOI: 10.1590/0103-3352.2021.34.222017
    » https://doi.org/10.1590/0103-3352.2021.34.222017
  • Lenine, E. & Mörschbächer, M. (2020) Pesquisa bibliométrica e hierarquias do conhecimento em Ciência Política. Revista Brasileira de Ciência Política, s/v(31), pp. 123-160. DOI: 10.1590/0103-335220203104
    » https://doi.org/10.1590/0103-335220203104
  • Lewis-Beck, M. S. & Bélanger, É. (2015) Quantitative methods in Political Science: research in France and the United States. French Politics, 13(2), pp. 175-184. DOI: 10.1057/fp.2015.7
    » https://doi.org/10.1057/fp.2015.7
  • Lima, E., Mörschbächer, M. & Peres, P. (2018) Three decades of the International Political Science Review (IPSR): A map of the methodological preferences in IPSR articles. International Political Science Review, 39(5), pp. 679-689. DOI: 10.1177/0192512118755596.
    » https://doi.org/10.1177/0192512118755596.
  • Limongi, F., Almeida, M. H. T. de & Freitas, A. (2016) Da sociologia política ao (neo) institucionalismo: trinta anos que mudaram a Ciência Política no Brasil. In: L. Avritzer, C. R. S. Milani, & M. do S. Braga (eds) A ciência política no Brasil: 1960-2015 Rio de Janeiro: FGV Editora, pp. 61-91.
  • Marenco, A. (2014)The Three Achilles’ Heels of Brazilian Political Science. Brazilian Political Science Review 8(3), pp. 3-38. DOI: 10.1590/1981-38212014000100019
    » https://doi.org/10.1590/1981-38212014000100019
  • Massimo, L., Roeder, K. M. & Franz, P. (2018) Editorial: desempenho do comitê editorial em 2017, ORCID e IMRAD. Revista de Sociologia e Política, 26(66), pp. 1-6. DOI: 10.1590/1678-987318266600
    » https://doi.org/10.1590/1678-987318266600
  • McDermott, R. & Hatemi, P. K. (2010) Emerging Models of Collaboration in Political Science: Changes, Benefits, and Challenges. PS: Political Science & Politics, 43(1), pp. 49-58. DOI: 10.1017/S1049096510990811
    » https://doi.org/10.1017/S1049096510990811
  • Metz, T. & Jäckle, S. (2017) Patterns of Publishing in Political Science Journals: An Overview of Our Profession Using Bibliographic Data and a Co-Authorship Network. PS: Political Science & Politics, 50(1), pp. 157-165. DOI: 10.1017/S1049096516002341
    » https://doi.org/10.1017/S1049096516002341
  • Nederhof, A. J., van Leeuwen, T. N. & van Raan, A. F. J. (2010) Highly cited non-journal publications in political science, economics and psychology: A first exploration. Scientometrics, 83(2), pp. 363-374. DOI: 10.1007/s11192-009-0086-y
    » https://doi.org/10.1007/s11192-009-0086-y
  • Norris, P. (1997) Towards a more cosmopolitan political science?. European Journal of Political Research, 31(1-2), pp. 17-34. DOI: 10.1111/j.1475-6765.1997.tb00761.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1475-6765.1997.tb00761.x
  • Oliveira, A.; Engerroff, A. M. B; Silva, C. F. & Santos, B. M. C. (2021) A trajetória da ciência política no Brasil e a sua autonomização: uma análise a partir dos programas de pós-graduação. Pro-Posições, 32(s/n), p. e20190059. DOI: 10.1590/1980-6248-2019-0059
    » https://doi.org/10.1590/1980-6248-2019-0059
  • Pasadeos, Y., Phelps, J. & Kim, B. H. (1998) Disciplinary Impact of Advertising Scholars: Temporal Comparisons of Influential Authors, Works and Research Networks. Journal of Advertising, 27(4), pp. 53-70. DOI: 10.1080/00913367.1998.10673569
    » https://doi.org/10.1080/00913367.1998.10673569
  • Ravecca, P. (2019) The Politics of Political Science: Re-Writing Latin American Experiences New York: Routledge.
  • Reis, F. W. (1991) O tabelão e a lupa: teoria, método generalizante e idiografia no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 6(16), pp. 27-42.
  • Rezende, F. da C. (2017) Transformações na cientificidade e o ajuste inferencial na Ciência Política: argumento e evidências na produção de alto fator de impacto. Revista de Sociologia e Política, 25(63), pp. 103-138. DOI: 10.1590/1678-987317256305
    » https://doi.org/10.1590/1678-987317256305
  • Samuels, D. (2013) Book citations count. PS - Political Science and Politics, 46(4), pp. 785-790. DOI: 10.1017/S1049096513001054
    » https://doi.org/10.1017/S1049096513001054
  • Sigelman, L. (2006) The Coevolution of American Political Science and the American Political Science Review. American Political Science Review, 100(4), pp. 463-478. DOI: 10.1017/S0003055406060333
    » https://doi.org/10.1017/S0003055406060333
  • Small, H. (1973) Co-citation in the scientific literature: A new measure of the relationship between two documents. Journal of the American Society for Information Science, 24(4), pp. 265-269. DOI: 10.1002/asi.4630240406
    » https://doi.org/10.1002/asi.4630240406
  • Small, H. (1999) Visualizing science by citation mapping. Journal of the American Society for Information Science 50(9), pp. 799-813. DOI: 10.1002/(SICI)1097-4571(1999)50:9<799::AID-ASI9>3.0.CO;2-G
    » https://doi.org/10.1002/(SICI)1097-4571(1999)50:9<799::AID-ASI9>3.0.CO;2-G
  • Teele, D. L. & Thelen, K. (2017) Gender in the Journals: Publication Patterns in Political Science. PS - Political Science and Politics, 50(2), pp. 433-447. DOI: 10.1017/S1049096516002985
    » https://doi.org/10.1017/S1049096516002985
  • Teixeira, J. G. & Maciel, M. L. (2016) Relato de pesquisa: o nascimento de uma revista acadêmica. Sociedade e Estado, 31(spe), pp. 917-920. DOI: 10.1590/s0102-69922016.0spe0002
    » https://doi.org/10.1590/s0102-69922016.0spe0002
  • Wang, Z. & Guo, S. (2019) The state of the field of Chinese political science: “Glocalising” political science in China?. European Political Science, 18(3), pp. 456-472. DOI: 10.1057/s41304-018-0179-2
    » https://doi.org/10.1057/s41304-018-0179-2
  • White, H. D. & Griffith, B. C. (1981) Author cocitation: A literature measure of intellectual structure. Journal of the American Society for Information Science, 32(3), pp. 163-171. doi: 10.1002/asi.4630320302
    » https://doi.org/10.1002/asi4630320302
  • Yanow, D. & Schwartz-Shea, P. (2010) Perestroika ten years after: Reflections on methodological diversity. PS: Political Science & Politics, 43(4), pp. 741-745. doi: 10.1017/S1049096510001149
    » https://doi.org/10.1017/S1049096510001149
  • Zupic, I. & Èater, T. (2015) Bibliometric Methods in Management and Organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. DOI: 10.1177/1094428114562629
    » https://doi.org/10.1177/1094428114562629

Apêndice

Quadro 1A
Protocolos para reproduzir as Figuras 2, 3 e 4 no software VOSviewer versão 1.6.15

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    08 Set 2020
  • Aceito
    11 Jan 2021
  • Recebido
    25 Maio 2021
Universidade Federal do Paraná Rua General Carneiro, 460 - sala 904, 80060-150 Curitiba PR - Brasil, Tel./Fax: (55 41) 3360-5320 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: editoriarsp@gmail.com