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Parcerias interinstitucionais: o investimento na construção de projetos multicêntricos sobre drogas lícitas e ilícitas

EDITORIAL

Parcerias interinstitucionais: o investimento na construção de projetos multicêntricos sobre drogas lícitas e ilícitas

Isabel Amélia Costa MendesI; Margarita Antonia Villar LuisII

IPresidenta do Conselho Diretor e Editora da Revista Latino-Americana de Enfermagem, Professor Titular, Diretor, e-mail: iamendes@eerp.usp.br

IIVice-Presidenta do Conselho Diretor da Revista Latino-Americana de Enfermagem, Professor Titular, Vice-Diretor, e-mail: margarit@eerp.usp.br. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem

Este volume reúne a contribuição de docentes de instituições de ensino superior de enfermagem da América Latina que, com o apoio da CICAD, deslocaram-se para o Canadá, especificamente a Universidade de Alberta-Faculty of Nursing, com o objetivo de capacitação em pesquisa no tema drogas lícitas e ilícitas, e de buscar parcerias entre si e com os professores daquela instituição visando o desenvolvimento de projetos conjuntos.

A Faculdade de Enfermagem da Universidade de Alberta participou do Projeto de Escolas de Enfermagem desenvolvido pela CICAD/OEA como instituição colaboradora e recebeu em 2003 onze pesquisadores latino-americanos para o I Programa Internacional de Capacitação em Pesquisa para Enfermeiros no Estudo do Fenômeno das Drogas. Como um centro de excelência em pesquisa, a Faculdade de Enfermagem da Universidade de Alberta recebeu professores de Escolas de Enfermagem do Brasil, Argentina, Chile, Equador, México e Peru para um programa inovador de três meses focado no desenvolvimento de pesquisadores e líderes de enfermagem.

Os artigos resultantes dessa iniciativa mostram, em diversos graus, o avanço nessas parcerias e evidenciam a mulher como sujeito prioritário das investigações. Tal prioridade tem fundamento em dados demográficos de estudos realizados no âmbito mundial(1) e local(2), que indicam a mulher, as crianças e os adolescentes como grupos vulneráveis da população e sujeitos a abusos ou expostos ao pauperismo.

No Brasil estudos(2-7) mostram que as famílias chefiadas por mulheres estão aumentando e que essas famílias, com crianças e sem outros adultos além da mãe, situam-se entre as extremamente pobres e muito pobres.

Por outro lado, freqüentemente, a violência domiciliar (na qual se inclui a familiar) parece estar associada ao uso excessivo de bebidas alcoólicas. Estudo brasileiro(8) mostrou uma associação de 52,7%, semelhante às estimativas mundiais relacionadas a essa questão(1,9).

O álcool por ser uma droga lícita, estimulada pela publicidade e pelas tradições culturais, beneficia-se de uma permissividade social que as ilícitas não possuem. Justamente devido ao seu consumo ser altamente popularizado entre as diversas camadas sociais e grupos da população, ele prevalece em quase todas as situações que envolvem violência, exceto nos furtos, nos quais a cocaína é mais freqüente(8-9).

Entretanto, a relação violência e uso de substâncias psicoativas deve ser encarada com prudência, dado que várias situações de violência ocorrem sem qualquer indício de associação com as mesmas. Mesmo mostrando-se muito freqüente, essa associação não deve ser vista como uma relação de causa e efeito(10-11).

Ratifica-se nos artigos a preocupação da mulher com seus filhos, confirmando a sua posição de detentora do maior grau de responsabilidade sobre a prole, atribuição que direta ou indiretamente ela assume, devido às normas e valores culturais, pelo contexto social e pela história que consolidou a mulher como a cuidadora central dos membros da família.

Neste número tem-se a oportunidade de avaliar os investimentos em termos de negociações políticas interinstitucionais de apoio financeiro e logístico, de recursos humanos e outros, necessários à efetivação de parcerias interinstitucionais, mostrando que o resultado foi compensador pois reverteu em possibilidades de estreitamento dos vínculos iniciados nesse processo.

O trabalho em parceria pressupõe um grande desafio(12), pois vínculos são construídos e sedimentados num processo que demanda tempo para as partes se conhecerem, confiarem na competência e envolvimento um do outro, entenderem e respeitarem o próprio ritmo, de maneira que, ao final, o trabalho de um complementa o do outro. Isso é particularmente importante em parcerias cujo objetivo principal é o desenvolvimento de investigações.

O presente número evidencia a carência de investigações sobre álcool e outras drogas na realidade brasileira, desenvolvidas por enfermeiros, indicando ainda vertentes desse tema muito pouco exploradas.

Nesse sentido, a Revista Latino-Americana de Enfermagem faz sua contribuição em dois assuntos de escassa literatura, presentes em dois artigos de pesquisadores não enfermeiros, versando sobre idosos e co-morbidade: transtornos psiquiátricos e uso de substâncias psicoativas.

A inclusão desses textos além do fato exposto, ratifica a posição da revista não só como um veículo de divulgação internacional mas também multidisciplinar, por entender que alguns temas, (a exemplo do fenômeno uso de drogas psicotrópicas), mais do que outros necessitam dessa abordagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. World Health Organization (WHO). World report on violence and health. Geneva; 2002.

2. Zaluar A. Integração perversa: pobreza e tráfico de drogas. Rio de Janeiro (RJ): Editora FGV; 2004.

3. Silva RMR (coordenador). Indicadores sociais. Rio de Janeiro (RJ): IBGE; 1987. v.1: crianças e adolescentes.

4. Henriques MH, Silva NV, Singh S. Adolescentes de hoje, pais de amanhã. New York. The Alan Guttmacher Institute; 1989.

5. IBGE. Síntese de indicadores de pesquisa básica de 1981 a 1989. Rio de Janeiro (RJ): IBGE; 1990. v. 1: justiça e vitimização.

6. Rizzini I (organizador). A criança no Brasil hoje. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Santa Ursula; 1993.

7. Barros R, Mendonça R. Poverty among female-headed households in Brazil. Rio de Janeiro (RJ): Ipea; 1993.

8. Noto AR, Fonseca AM, Silva EA, Galduróz JC. Violência domiciliar associada ao consumo de bebidas alcoólicas e de outras drogas: um levantamento do Estado de São Paulo. J Bras Dep Quim 2004; 5(1):9-17.

9. Galbraith S, Rubinstein G. Alcohol, drugs and domestic violence: confronting barriers to changing practice and policy. Journal of the American Women's association 1996; 51(3):115-7.

10. Galduróz JCF, Noto AR, Nappo SA, Carlini EA. Uso de drogas psicotrópicas no Brasil: pesquisa domiciliar envolvendo as 107 maiores cidades do país - 2001. Rev Latino-am Enfermagem 2005 setembro-outubro; 13(número especial):888-95.

11. National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA). Alcohol and interpersonal violence: fostering multidisciplinary perspectives research monograph 24; 1992.

12. Mendes IAC. A integração da enfermagem na América Latina e os desafios no preparo de lideranças para o desenvolvimento de pesquisas na área de drogas. Rev Latino-am Enfermagem 2005 setembro-outubro; 13(número especial):765-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Fev 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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