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O brincar na rotina doméstica para a promoção do desenvolvimento infantil: estudo transversal

RESUMO

Objetivo:

Analisar a associação entre a incorporação do brincar na rotina doméstica de cuidadoras e o desenvolvimento infantil de crianças sob seu cuidado.

Método:

Estudo transversal conduzido com 129 díades cuidadora-criança de 12-23 meses, na região sul de São Paulo. O desenvolvimento infantil foi avaliado com a utilização do Ages & Stages Questionnaire-3, e a incorporação do brincar na rotina doméstica, por meio de questionário e filmagem das díades em atividades relacionadas à rotina doméstica.

Resultados:

Quase a totalidade das cuidadoras era a mãe (98%) que, ao responder ao questionário, referiu incorporar o brincar na rotina doméstica (93%), porém, no vídeo, apenas um terço brincou com a criança (34%). Verificou-se associação positiva entre brincadeiras em momentos da rotina doméstica e domínios do desenvolvimento em crianças com idade igual ou inferior a 18 meses.

Conclusões:

Constatou-se associação positiva entre a incorporação do brincar na rotina doméstica e o desenvolvimento infantil.

Palavras-chave:
Desenvolvimento infantil; Cuidado da criança; Jogos e brinquedos; Promoção da saúde; Relações mãe-filho; Enfermagem em saúde pública

ABSTRACT

Objective:

To analyze the association between the incorporation of play into the domestic routine of caregivers, and the child development of children under their care.

Method:

Cross-sectional study conducted with 129 caregiver-child dyads aged 12-23 months, living in the southern region of São Paulo. Child development was assessed using the Ages & Stages Questionnaire-3, and the incorporation of play into the domestic through a questionnaire and filming of the dyads in activities related to the domestic routine.

Results:

Almost all the caregivers were the mother (98%), who, when answering the questionnaire, reported incorporating play into their domestic routine (93%), however in the video, only one third played with the child (34%). There was a positive association between playing in moments of domestic routine and domains of child development in children aged 18 months or less.

Conclusions:

A positive association was found between the incorporation of play into the domestic routine and child development.

Keywords:
Child development; Child care; Play and playthings; Health promotion; Mother-child relations; Public health nursing

RESUMEN

Objetivo:

Analizar la asociación entre la incorporación del juego en la rutina doméstica, por parte de cuidadoras, y el desarrollo infantil de niños bajo su cuidado.

Método:

Estudio transversal con 129 díadas cuidadora-niño de 12-23 meses, en la ciudad de São Paulo. El desarrollo infantil se evaluó con el Ages & Stages Questionnaire-3 y la incorporación del juego a la rutina doméstica a través de cuestionario y filmaciones de las díadas en actividades relacionadas con la rutina doméstica.

Resultados:

Casi todas las cuidadoras fueron la madre (98%) que, al responder al cuestionario, refirieron incorporar el juego en su rutina doméstica (93%), pero en el video, solo un tercio jugó con el niño (34%). Hubo asociación positiva entre jugar en momentos de rutina doméstica y dominios del desarrollo de niños de 18 meses o menos.

Conclusiones:

Se encontró una asociación positiva entre la incorporación del juego en la rutina doméstica y el desarrollo infantil.

Palabras clave:
Desarrollo infantil; Cuidado del niño; Juego e implementos de juego; Promoción de la salud; Relaciones madre-hijo; Enfermería en salud pública

INTRODUÇÃO

Evidências científicas apontam a importância do brincar na promoção do desenvolvimento infantil. Brincar é tão essencial para o desenvolvimento infantil que deveria ser incluído na própria definição de infância como algo inerente à vida da criança. Desde os primeiros anos de vida, as crianças têm um potencial natural para aprender sobre o mundo, interagir com as pessoas ao seu redor e se envolver com o ambiente através da brincadeira11. Sethna V, Perry E, Domoney J, Iles J, Psychogiou L, Rowbotham NEL, et al. Father-child interactions at 3 months and 24 months: contributions to children's cognitive development at 24 months. Infant Ment Health J. 2017;38(3):378-90. doi: https://doi.org/10.1002/imhj.21642
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Brincar melhora a estrutura, o desenvolvimento do cérebro e promove a aquisição de habilidades socioemocionais, cognitivas, de linguagem e motoras. Além disso, estimula as interações mais importantes da criança com seus pais ou cuidadores durante a primeira infância, melhorando a qualidade da interação adulto-criança22. Yogman M, Garner A, Hutchinson J, Hirsh-Pasek K, Golinkoff RM; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3):e20182058. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2018-2058
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-44. Milteer RM, Ginsburg KR; Council on Communications and Media; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health. The importance of play in promoting healthy child development and maintaining strong parent-child bond: focus on children in poverty. Pediatrics. 2012;129(1):e204-13. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2011-2953
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. Em condições de pobreza e vulnerabilidade social, o brincar se torna ainda mais importante, pois protege o cérebro do impacto negativo produzido pelo estresse tóxico22. Yogman M, Garner A, Hutchinson J, Hirsh-Pasek K, Golinkoff RM; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3):e20182058. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2018-2058
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,55. McEwen CA, McEwen BS. Social structure, adversity, toxic stress, and intergenerational poverty: an early childhood model. Annu Rev Sociol. 2017;43:445-72. doi: https://doi.org/10.1146/annurev-soc-060116-053252
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. Crianças que vivem em ambientes altamente adversos tendem a apresentar níveis mais elevados de cortisol, hormônio que regula o estresse, mas que também se relaciona com áreas do sistema nervoso central responsáveis pela memória, aprendizado, emoções e sistema imunológico. Assim, a exposição frequente a eventos de estresse alteram os níveis de cortisol e podem, ainda, levar a outros problemas nas áreas correspondentes ao desenvolvimento infantil66. Branco MSS, Linhares MBM. The toxic stress and its impact on development in the Shonkoff’s Ecobio developmental Theorical approach. Estud Psicol. 2018;35(1):89-98. doi: https://doi.org/10.1590/1982-02752018000100009
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Apesar da constatação de que elevada proporção de crianças dos países de baixa e média renda77. McCoy DC, Seiden J, Cuartas J, Pisani L, Waldman M. Estimates of a multidimensional index of nurturing care in the next 1000 days of life for children in low-income and middle-income countries: a modelling study. Lancet Child Adolesc Health. 2022;6(5):324-34. doi: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(22)00076-1
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e de grupos sociais excluídos88. Oliveira CVR, Palombo CNT, Toriyama ATM, Veríssimo MLOR, Castro MC, Fujimori E. Desigualdades em saúde: o desenvolvimento infantil nos diferentes grupos sociais. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03499. doi: https://doi.org/10.1590/s1980-220x2018037103499
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correm o risco de não alcançar seu potencial máximo de desenvolvimento e da relevância do brincar para a promoção do desenvolvimento, especialmente nesse contexto22. Yogman M, Garner A, Hutchinson J, Hirsh-Pasek K, Golinkoff RM; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3):e20182058. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2018-2058
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,44. Milteer RM, Ginsburg KR; Council on Communications and Media; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health. The importance of play in promoting healthy child development and maintaining strong parent-child bond: focus on children in poverty. Pediatrics. 2012;129(1):e204-13. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2011-2953
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, poucos estudos avaliam a associação entre o brincar e o desenvolvimento na primeira infância em populações socialmente vulneráveis99. Cabrera NJ, Karberg E, Malin JL, Aldoney D. The magic of play: low-income mothers’ and fathers’ playfulness and children’s emotion regulation and vocabulary skills. Infant Ment Health J. 2017;38(6):757-71. doi: https://doi.org/10.1002/imhj.21682
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) e no ambiente familiar, pois em enfermagem predominam estudos em ambientes escolares1010. Whitebread D, Neale D, Jensen H, Liu C, Solis SL, Hopkins E, et al. The role of play in children’s development: a review of the evidence [Internet]. Denmark: The LEGO Foundation; 2017. e hospitalares1111. Chiavon SD, Brum CN, Santos E, Sartoretto EA, Zuge SS, Gaio G, et al. Utilização do brinquedo terapêutico para a criança que vivencia o processo de hospitalização: uma revisão narrativa. Braz J Hea Rev. 2021;4(1):382-98. doi: https://doi.org/10.34119/bjhrv4n1-031
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,1212. Sousa CS, Barreto BC, Santana GAS, Miguel JVF, Braz LS, Lima LN, et al. O brinquedo terapêutico e o impacto na hospitalização da criança: revisão de escopo. Rev Soc Bras Enferm Ped. 2021;21(2):173-80. doi: http://doi.org/10.31508/1676-379320210024
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Documento que aborda questões que podem privar as crianças pobres de obter os benefícios do brincar destaca como obstáculos: a exposição a estressores sociais (chefes de família com baixo nível de escolaridade; mães solteiras sem apoio social e recursos financeiros; pais ausentes; acesso limitado à educação infantil; bairros inseguros; e falta de cuidados preventivos de saúde). Nessas famílias, os pais ou cuidadores têm menos tempo para brincar com os filhos, o que representa um risco adicional para o desenvolvimento infantil44. Milteer RM, Ginsburg KR; Council on Communications and Media; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health. The importance of play in promoting healthy child development and maintaining strong parent-child bond: focus on children in poverty. Pediatrics. 2012;129(1):e204-13. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2011-2953
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No Brasil, resultados da pesquisa “Percepções e Práticas da Sociedade em Relação à Primeira Infância” mostraram que apenas 19% dos participantes reconheciam o brincar como um dos aspectos importantes para o desenvolvimento de crianças menores de três anos1313. Marino E, Pluciennik GA, organizadores. Primeiríssima infância da gestação aos três anos: percepções e práticas da sociedade brasileira sobre a fase inicial da vida [Internet]. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal; 2013 [citado 2022 maio 27]. Disponível em: Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2019/10/primeirissima_infancia.pdf
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. Também há evidências de que, mesmo quando os pais reconhecem o brincar como um aspecto importante para o desenvolvimento de seus filhos, não consideram a necessidade de seu envolvimento na brincadeira33. Smith RL, Stagnitti K, Lewis AJ, Pépin G. The views of parents who experience intergenerational poverty on parenting and play: a qualitative analysis. Child Care Health Dev. 2015;41(6):873-81. doi: https://doi.org/10.1111/cch.12268
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. Essas crenças influenciam o valor que os pais ou cuidadores dão ao brincar e seu envolvimento em brincadeiras com a criança1414. Aldoney D, Coo S, Mira A, Valdivia J. Mothers, fathers and educators’ beliefs about play in Chilean preschool children. Int J Play. 2022;11(2):164-83. doi: https://doi.org/10.1080/21594937.2022.2069346
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,1515. Lin X, Li H. Parents’ play beliefs and engagement in young children’s play at home, Eur Early Child Educ Res J. 2018;26(2):161-76. doi: https://doi.org/10.1080/1350293X.2018.1441979
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Nos dias atuais, convive-se com pais sobrecarregados com o trabalho fora do domicílio e com os cuidados da casa e crianças igualmente sobrecarregadas de atividades, o que contribui para diminuir o tempo de brincadeira entre pais e crianças, especialmente, pela crença de que há necessidade de períodos específicos e exclusivos do dia, além de brinquedos caros e tecnológicos para tal atividade. No Brasil, uma pesquisa desenvolvida para conhecer a vivência de mães moradoras em favelas sobre o brincar com os filhos menores de 6 anos revelou que: para 66% das participantes o cuidar das crianças é a atividade que mais ocupa o tempo, situação que piorou na pandemia pela COVID-19, quando 68% apontou dificuldade para cuidar da casa e das crianças, embora 59% tenha informado que se envolve em brincadeiras com a criança, 88% consideram as telas um apoio importante para cuidar das crianças e das tarefas domésticas e 63% das crianças brinca, principalmente, dentro de casa1616. Unidos pelo Brincar. O brincar nas favelas brasileiras: relatório executivo de pesquisa [Internet]. 2021 [citado 2022 maio 27]. Disponível em: Disponível em: http://aliancapelainfancia.org.br/wp-content/uploads/2021/05/Pesquisa-Brincar-nas-Favelas-Brasileiras-deck-Webinar-Direito-do-Brincar.pptx-2.pdf
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Entretanto, a brincadeira entre pais ou cuidadores e a criança não requer tempo prolongado e pode acontecer durante as atividades da rotina diária, tais como cozinhar, limpar, alimentar e tomar banho com uso de materiais e objetos domésticos que comumente são encontrados numa casa22. Yogman M, Garner A, Hutchinson J, Hirsh-Pasek K, Golinkoff RM; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3):e20182058. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2018-2058
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,1717. Popp JM, Thomsen BS. A commentary on the importance of father-child play and children’s development. Infant Ment Health J . 2017;38(6):785-8. doi: https://doi.org/10.1002/imhj.21681
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Tendo em vista essas considerações, o objetivo deste estudo foi analisar a associação entre a incorporação do brincar na rotina doméstica das cuidadoras e o desenvolvimento infantil de crianças de 12 a 23 meses de idade. Com base na literatura, espera-se que as crianças cujas cuidadoras incorporam o brincar na rotina doméstica tenham um melhor desenvolvimento infantil.

Entende-se, como cuidadora, àquela que convive com a criança no dia a dia, que tem a responsabilidade de cuidar, amar, educar e estimular, e com quem a criança forma os laços afetivos mais fortes nos primeiros anos de vida1818. Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. Primeiríssima infância creche: necessidades e interesses de famílias e crianças. São Paulo: FMCSV; 2017.. Nessa perspectiva, cuidadora pode ser mãe, avó, tia, irmã, amiga ou vizinha, desde que seja a pessoa que cuide e conviva com a criança no dia a dia.

MÉTODO

Estudo transversal que integrou uma investigação mais ampla intitulada “Programa BEM (Brincar Ensina a Mudar): o brincar na rotina diária para a promoção do desenvolvimento infantil”, aprovada pelo Comitê de Ética da Fundação José Luiz Egydio Setubal sob o parecer consubstanciado número 3.448.089. O Programa BEM é uma intervenção remota que envia vídeos de brincadeiras para que as responsáveis pelo cuidado de crianças de 12 a 23 meses de idade possam incluir em sua rotina doméstica diária atividades voltadas para estimular o desenvolvimento infantil. Os dados aqui apresentados referem-se à realidade das cuidadoras quanto à incorporação do brincar na rotina doméstica antes da implementação do Programa BEM.

O tamanho da amostra foi estimado com base no indicador de desenvolvimento infantil, considerando-se um poder de 80% e alpha de 5%, que indicou uma amostra de 160 díades cuidadora-criança de 12 a 23 meses de idade sob seu cuidado. Entretanto, a amostra foi composta por 129 díades, uma vez que as dificuldades impostas pela pandemia da COVID-19 não permitiram o alcance do cálculo amostral. Constituíram critérios de inclusão: a criança ter entre 12 e 23 meses de idade; frequentar os Centros de Educação Infantil participantes do estudo; e ter uma cuidadora que possuísse smartphone com acesso à internet. Foi critério de exclusão: a criança apresentar condições clínicas pudessem interferir no curso típico do desenvolvimento.

As díades foram recrutadas em Centros de Educação Infantil (CEI) da região sul do município de São Paulo que, após a apresentação do estudo, manifestaram interesse em participar e autorizaram o recrutamento das díades. O primeiro contato com as famílias ocorreu durante reuniões que foram realizadas em cada CEI em datas e horários sugeridos pela direção das instituições. Nessa ocasião, a equipe de pesquisa apresentou o estudo e convidou as famílias a participarem.

A coleta dos dados, que incluiu entrevista e filmagem de vídeos, foi realizada nos domicílios das díades no período de julho 2019 a junho 2020 por meio de visitas pré-agendadas com a família. A equipe de entrevistadores incluiu profissionais (enfermeiras, psicólogas e graduados em saúde pública) e graduandos de enfermagem e psicologia do último semestre que receberam treinamento teórico e prático de 40 horas, planejado e desenvolvido pelos pesquisadores, experientes no uso dos instrumentos utilizados, e que, ainda, elaboraram o “Manual do Entrevistador - Programa BEM” para ser usado como guia durante a coleta dos dados, pois continha informações detalhadas sobre os instrumentos, além de informações para a condução da entrevista e realização da filmagem.Os instrumentos foram inseridos no software REDCap (Research Eletronic Data Capture), o qual permite a coleta dos dados de forma off-line e transmissão direta das respostas para um banco de dados, o que evita desperdício de tempo e erros de digitação1919. REDCap-HCFMUSP [Internet]. São Paulo: 2020 [citado 2022 maio 27]. Disponível em: Disponível em: https://redcap.hc.fm.usp.br/
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. Assim, os entrevistadores utilizaram tablets, os quais também foram utilizados para filmagem no formato de um vídeo com duração de 5 minutos (tempo definido com base nas necessidades da pesquisa mais ampla), relacionada à atividade da rotina doméstica, dentre as quatro analisadas no Programa BEM: cuidar da criança; arrumar a casa; cozinhar ou lavar louça; e lavar roupa. As filmagens só foram realizadas com anuência das cuidadoras, cientes de que estavam sendo filmadas.

O desenvolvimento infantil, variável dependente do estudo, foi avaliado por meio da adaptação brasileira do Ages & Stages Questionnaire-3 (ASQ-3), destinado à avaliação de crianças de zero a cinco anos e meio de idade2020. Filgueiras A, Pires P, Maissonette S, Landeira-Fernandez J. Psychometric properties of the Brazilian-adapted version of the Ages and Stages Questionnaire in public child daycare centers. Early Hum Dev. 2013;89(8):561-76. doi: https://doi.org/10.1016/j.earlhumdev.2013.02.005
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. O instrumento é composto por 21 questionários, um para cada intervalo etário, e avalia o desenvolvimento infantil em cinco domínios: a) comunicação; b) coordenação motora ampla; c) coordenação motora fina; d) resolução de problemas; e) pessoal/social. Para crianças nascidas prematuramente, utilizou-se o ajuste de idade. Todos os questionários apresentam a mesma estrutura, composta por cinco blocos, um para cada domínio, com seis questões cada, de maneira que ao final há um total de 30 perguntas. As questões são específicas para avaliar determinada atividade com possibilidade de gerar três respostas: “sim”, caso a criança consiga realizar a atividade todas as vezes; “às vezes”, quando nem sempre a criança consegue realizar a atividade com êxito; “ainda não” quando a criança não consegue ou nunca realizou a atividade. Para cada domínio, a criança obtém uma pontuação entre 0 e 60, que é classificada por faixa etária como “desenvolvimento infantil adequado” ou “desenvolvimento infantil inadequado”1414. Aldoney D, Coo S, Mira A, Valdivia J. Mothers, fathers and educators’ beliefs about play in Chilean preschool children. Int J Play. 2022;11(2):164-83. doi: https://doi.org/10.1080/21594937.2022.2069346
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A incorporação do brincar na rotina doméstica, variável independente, foi avaliada pelo: 1. engajamento da cuidadora no brincar com a criança durante a rotina doméstica; e 2. repertório de brincadeiras durante a rotina doméstica. O engajamento foi avaliado por meio da resposta às questões: brinca com a criança no dia a dia? (sim/não); e considera possível brincar com a criança durante a rotina doméstica? (sim/não), as quais foram incluídas no instrumento criado pela equipe de pesquisa, uma vez que não se localizou na revisão da literatura, um instrumento que avaliasse a incorporação do brincar na rotina doméstica. Ademais, analisou-se o brincar no vídeo de 5 minutos. Para isso, criou-se um checklist que permitiu avaliar o engajamento da cuidadora no brincar com a criança durante a rotina doméstica, ao identificar a presença de brincadeiras (sim/não) em um dos quatro momentos da rotina doméstica abordado no Programa BEM. Duas pesquisadoras foram treinadas para analisar os vídeos e preencher o checklist com confiabilidade estabelecida em r>0,8 para ambas.

O repertório de brincadeiras que a cuidadora incorporava em sua rotina doméstica foi avaliado com base em uma lista que incluía: cantar, dançar, desenhar, jogar bola, mexer com água, esconder e procurar objetos, entre outras atividades, distribuídas em cada um dos quatro momentos da rotina doméstica que foram avaliados. Para esse levantamento, foram consideradas as brincadeiras contidas nos vídeos criados pela equipe do Programa BEM. Para análise, as brincadeiras foram agrupadas (média de brincadeiras e desvio-padrão) segundo os domínios do DI que mais estimulam e o momento da rotina doméstica. O Quadro 1 mostra o repertório de brincadeiras avaliadas, total e número de atividades segundo momentos da rotina doméstica em que poderiam ocorrer e os domínios do desenvolvimento infantil que mais estimulam.

Quadro 1 -
Repertório de brincadeiras avaliadas (total e número de atividades), distribuídas segundo momentos da rotina doméstica em que poderiam ocorrer e os domínios do desenvolvimento infantil mais estimulados. São Paulo, São Paulo, Brasil, 2020

As covariáveis referiram-se às característica familiares: faixa de renda familiar mensal em reais (<R$1000,00; 1000,00-3000,00; >3000,00), recebimento de Bolsa-Família (sim/não) e número de crianças em casa (1; >1); características da cuidadora: respondente (mãe/avó), idade em anos (≤19; 20-29; ≥30), cor de pele (branca/não branca), situação conjugal (com/sem companheiro), escolaridade em anos de estudo (≤12; >12) e trabalho (empregada/ desempregada); e características infantis: idade da criança em meses (≤12; 13-15; 16-18; ≥19), sexo (masculino/feminino), cor de pele (branca/não branca - classificação que englobou crianças referidas pelo seu cuidador como negras, pardas ou de outra cor de pele que não a branca), prematuridade (sim/não), idade que ingressou na creche (média e desvio padrão). Bolsa- Família refere-se ao programa de combate à pobreza e à desigualdade do governo do Brasil, que inclui como um dos seus eixos, um complemento de renda. A prematuridade ao nascer foi definida como a criança que nasceu antes de completar 37 semanas de gestação.

A análise dos dados foi processada no software Stata versão 15.0. Para as variáveis categóricas, apresentam-se frequências absolutas e relativas; e para as variáveis contínuas, médias (x) e desvio-padrão (dp). Nenhuma variável contínua apresentou normalidade de acordo com o teste de Kolmogorov-Smirnov. Para analisar a associação entre o desenvolvimento infantil e a incorporação do brincar na rotina doméstica, foram utilizados os testes de Mann-Whitney (duas categorias), Kruskal-Wallis (três ou mais categorias) e Correlação de Spearman. O nível de significância adotado foi de 5%.

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta as características familiares, das cuidadoras e infantis. Mais da metade das famílias participantes do estudo tinha uma renda mensal entre R$1000,00 e R$3000,00 (55,0%) e mais de uma criança no domicílio (52,7%), sendo que quase um quinto recebia Bolsa-Família (18,6%). As cuidadoras foram predominantemente a mãe das crianças estudadas (97,7%) com idade média de 30,6 anos de idade e 12,0 anos de estudo; quase três quartos identificaram-se como não brancas (71,3%), viviam com companheiro (72,9%) e dois terços estavam empregadas (64,3%). Quanto às crianças: tinham idade média de 16,2 meses e haviam ingressado na creche com média de 10,9 meses de idade; mais da metade era do sexo masculino (55,0%) e classificada como não branca (57,4%) e; quase a totalidade nasceu a termo (90,7%).

Tabela 1 -
Caracterização das famílias, cuidadoras e crianças. São Paulo, São Paulo, Brasil, 2020

Em relação ao desenvolvimento infantil, a avaliação mostrou maior proporção de crianças com desenvolvimento adequado no domínio ‘pessoal-social’ (78,3%) e menor proporção no domínio ‘coordenação motora fina’ (59,7%).

Os dados referentes ao engajamento da cuidadora no brincar com a criança durante a rotina doméstica e o repertório de brincadeiras avaliadas, segundo domínios do DI, encontram-se na Tabela 2. Verificou-se que quase a totalidade das cuidadoras referiu que brincava com a criança no dia a dia (93,0%), e a maior parte respondeu que achava possível brincar com a criança enquanto realizava as tarefas de casa (72,1%), porém a análise do vídeo mostrou que pouco mais de um terço das participantes brincou com a criança durante a realização da atividade doméstica filmada (34,2%). Quanto ao repertório, predominaram as brincadeiras que estimulam o domínio ‘coordenação motora ampla’ (como dançar e jogar bola). Àquelas que estimulam o domínio ’coordenação motora fina’ (como desenhar, mexer com massinha ou água) foram as menos praticadas durante as atividades da rotina doméstica. As maiores médias de brincadeiras foram praticadas quando ’cuida da criança’.

Tabela 2 -
Engajamento da cuidadora no brincar durante a rotina doméstica e média de brincadeiras praticadas segundo domínios do DI que mais estimulam e atividades da rotina doméstica. São Paulo, São Paulo, Brasil 2020

Na Tabela 3, que mostra a distribuição das brincadeiras segundo os momentos avaliados da rotina doméstica, é possível observar que aquelas que incluíram música, tais como cantar e dançar foram as mais praticadas. Por outro lado, ler ou contar histórias, desenhar e mexer com massinha foram as brincadeiras menos praticadas nos diferentes momentos da rotina.

Tabela 3 -
Distribuição das brincadeiras segundo os momentos estudados da rotina doméstica. São Paulo, São Paulo, Brasil 2020

A análise da associação entre o desenvolvimento infantil (DI) e as brincadeiras praticadas, segundo os domínios do DI que estimulam e os momentos da rotina doméstica em que foram praticadas, mostrou para o total das crianças que as brincadeiras que estimulam a ‘comunicação’ associaram-se significativamente ao domínio ‘coordenação motora fina’ do DI, enquanto aquelas que estimulam o domínio ‘pessoal/social’ associaram-se com o domínio ‘comunicação’ (p<0,05). No que se refere aos diferentes momentos da rotina doméstica, as brincadeiras praticadas quando ‘cuida da criança’ associaram-se positivamente com ‘coordenação motora fina’ e ‘resolução de problemas’, e as praticadas enquanto ‘arruma a casa’ associaram-se com ‘comunicação’ e ‘coordenação motora fina’ (p<0,05).

Ao estratificar a análise por faixa etária (Tabela 4), verificou-se maior número de associações significativas positivas nas crianças com idade ≤18 meses, especialmente, nos domínios do desenvolvimento “comunicação” e “coordenação motora fina”, além de associação ao ‘pessoal/social’.

DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar a associação entre a incorporação do brincar na rotina doméstica das cuidadoras e o desenvolvimento infantil de crianças de 12 a 23 meses de idade sob os seus cuidados. Quase a totalidade das cuidadoras referiu brincar com as crianças em sua rotina doméstica, observando-se associação positiva entre o desenvolvimento infantil e as brincadeiras praticadas, a maioria em crianças com idade igual ou inferior a 18 meses, o que permitiu comprovar parcialmente a nossa hipótese.

Esses achados são consistentes com outros estudos que mostraram as contribuições trazidas pelas brincadeiras entre o adulto e a criança nos primeiros anos de vida para melhorar a qualidade da interação e promover as habilidades dos diferentes domínios do desenvolvimento infantil22. Yogman M, Garner A, Hutchinson J, Hirsh-Pasek K, Golinkoff RM; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3):e20182058. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2018-2058
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,2121. Jeong J, Franchett EE, Oliveira CVR, Rehmani K, Yousafzai AK. Parenting interventions to promote early child development in the first three years of life: a global systematic review and meta-analysis. PLoS Med. 2021;18(5):e1003602. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1003602
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. Brincar é fundamental para o desenvolvimento do cérebro da criança tanto no que se relaciona à estrutura quanto ao funcionamento, do qual depreende-se que qualquer tipo de brincadeira, especialmente àquelas que envolvem a participação dos pais, podem promover o melhor desenvolvimento infantil, pois as primeiras experiências de interação que acontecem no ambiente domiciliar com os cuidadores estimulam a qualidade e quantidade das conexões cerebrais2222. Fox SE, Levitt P, Nelson CA 3rd. How the timing and quality of early experiences influence the development of brain architecture. Child Dev. 2010;81(1):28-40. doi: https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2009.01380.x
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. Além disso, o brincar protege a criança do impacto negativo do estresse tóxico sob o qual vive a população infantil, principalmente àquelas em condições de vulnerabilidade social22. Yogman M, Garner A, Hutchinson J, Hirsh-Pasek K, Golinkoff RM; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3):e20182058. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2018-2058
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,55. McEwen CA, McEwen BS. Social structure, adversity, toxic stress, and intergenerational poverty: an early childhood model. Annu Rev Sociol. 2017;43:445-72. doi: https://doi.org/10.1146/annurev-soc-060116-053252
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como foi o caso das crianças deste estudo.

O maior número de associações positivas encontradas entre a incorporação do brincar na rotina doméstica e o desenvolvimento infantil nas crianças com idade igual ou inferior a 18 meses perpassa o próprio conceito de desenvolvimento neurológico que, do ponto de vista biológico, inicia-se na concepção, mas, é sua interação com o meio ambiente que molda a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso central, o qual apresenta velocidade máxima de desenvolvimento nos primeiros meses e anos de vida2222. Fox SE, Levitt P, Nelson CA 3rd. How the timing and quality of early experiences influence the development of brain architecture. Child Dev. 2010;81(1):28-40. doi: https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2009.01380.x
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. Nesse contexto, crianças menores requerem mais atenção de pessoas que possam interagir com elas em brincadeiras, o que poderia justificar as associações encontradas prioritariamente entre as crianças menores de 18 meses.

O achado no qual evidenciou-se que quase a totalidade das participantes referiu brincar com a criança no dia a dia aliado à questão de que quase três-quartos responderam ser possível brincar com a criança durante a rotina doméstica poderiam ser indicativos de que as participantes reconheciam a importância do brincar para o desenvolvimento infantil ou, ainda, que no presente estudo, as cuidadoras responderam ao que era esperado para não se sentirem julgadas, ou seja, pode ter ocorrido um viés de informação. Com vistas a reduzir esse tipo de viés, além de perguntas no formulário de entrevista, a coleta dos dados incluiu a filmagem de um vídeo que permitia avaliar a incorporação do brincar em algum dos quatro momentos da rotina doméstica consideradas no estudo que, por sua vez, mostrou discordância entre as respostas das cuidadoras e o que, de fato, ocorreu na rotina doméstica, quando apenas um terço brincou com a criança no vídeo filmado.

A divergência encontrada corrobora a evidência de que, mesmo quando os pais ou cuidadores reconhecem o brincar como um aspecto importante para o desenvolvimento de seus filhos, desconsideram a necessidade de seu envolvimento na brincadeira33. Smith RL, Stagnitti K, Lewis AJ, Pépin G. The views of parents who experience intergenerational poverty on parenting and play: a qualitative analysis. Child Care Health Dev. 2015;41(6):873-81. doi: https://doi.org/10.1111/cch.12268
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. Tendo em vista que a interação diária entre pais e filhos é um fator de proteção para o desenvolvimento infantil e que a implementação de intervenções com foco na prática de atividades lúdicas entre díades cuidador-criança se mostra eficaz para aumentar o envolvimento dos pais na rotina e nas brincadeiras de seus filhos2323. Duch H, Marti M, Wu W, Snow R, Garcia V. CARING: the impact of a parent-child, play-based intervention to promote latino head start children’s social-emotional development. J Prim Prev. 2019;40(2):171-88. doi: https://doi.org/10.1007/s10935-019-00542-7
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.

Tabela 4 -
Associação entre os domínios do desenvolvimento infantil (DI) e as brincadeiras por faixa etária segundo domínios do DI que mais estimulam e rotina doméstica em que foram praticadas. São Paulo, São Paulo, Brasil 2020

Os resultados do presente estudo permitem avançar em aspectos concernentes à prática do brincar com detalhamento da interação entre as díades participantes do estudo (cuidador e criança brincam durante a rotina doméstica? Se sim, do que brincam e quando brincam?), o que poderá contribuir para o delineamento de intervenções personalizadas para a melhoria da interação cuidador-criança e, consequentemente, para a promoção do desenvolvimento infantil.

De fato, o conhecimento sobre como as cuidadoras se envolvem em brincadeiras com as crianças oferece informações úteis e oportunas para a elaboração ou aprimoramento de programas ou intervenções que visam promover o desenvolvimento infantil de crianças em vulnerabilidade social e ajuda a preencher as lacunas existentes sobre o brincar nessa população específica99. Cabrera NJ, Karberg E, Malin JL, Aldoney D. The magic of play: low-income mothers’ and fathers’ playfulness and children’s emotion regulation and vocabulary skills. Infant Ment Health J. 2017;38(6):757-71. doi: https://doi.org/10.1002/imhj.21682
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. Além do mais, analisar a incorporação do brincar segundo os momentos da rotina doméstica configura ideia inovadora e apropriada aos tempos atuais em que as cuidadoras estão sobrecarregadas com horas de trabalho a cumprir tanto fora como dentro de casa, além do cuidado das crianças. Assim sendo, os diferentes momentos do dia como, por exemplo, cuidar da criança, cozinhar, limpar a casa e lavar roupas representam oportunidades valiosas para incluir brincadeiras com as crianças que promovam a interação adulto-criança e o desenvolvimento infantil22. Yogman M, Garner A, Hutchinson J, Hirsh-Pasek K, Golinkoff RM; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3):e20182058. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2018-2058
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.

Apesar do amplo consenso em que brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil, os estudos sobre o brincar concentram-se em ambientes escolares1010. Whitebread D, Neale D, Jensen H, Liu C, Solis SL, Hopkins E, et al. The role of play in children’s development: a review of the evidence [Internet]. Denmark: The LEGO Foundation; 2017., e, na enfermagem, o foco é o brinquedo terapêutico, especialmente, no ambiente hospitalar1111. Chiavon SD, Brum CN, Santos E, Sartoretto EA, Zuge SS, Gaio G, et al. Utilização do brinquedo terapêutico para a criança que vivencia o processo de hospitalização: uma revisão narrativa. Braz J Hea Rev. 2021;4(1):382-98. doi: https://doi.org/10.34119/bjhrv4n1-031
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,1212. Sousa CS, Barreto BC, Santana GAS, Miguel JVF, Braz LS, Lima LN, et al. O brinquedo terapêutico e o impacto na hospitalização da criança: revisão de escopo. Rev Soc Bras Enferm Ped. 2021;21(2):173-80. doi: http://doi.org/10.31508/1676-379320210024
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. Dessa forma, a associação entre a incorporação do brincar em diferentes momentos da rotina doméstica e o desenvolvimento infantil tem sido pouco estudada. É provável que essa escassez se deva, também à ausência de instrumentos que permitam avaliar o brincar nessa abordagem, pois em diferentes pesquisas, majoritariamente, utilizam-se seis questões que coletam informações sobre a frequência com que o adulto participa de diferentes atividades com a criança, tais como cantar, contar ou ler histórias, nomear objetos e jogar ou sair de casa, utilizadas no Multiple Indicator Cluster Surveys (MICS), que se referem a pesquisas domiciliares desenvolvidas pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF - United Nations International Children's Emergency Fund) para obtenção de dados internacionais sobre a situação de crianças e mulheres2424. United Nations International Children's Emergency Fund [Internet]. MICS6 Questionnaires: questionnaire for children under five. New York: UNICEF; 2020 [cited 2022 May 27]. Available from: Available from: https://mics.unicef.org/tools
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-2727. Cuartas J, Jeong J, Rey-Guerra C, McCoy DC, Yoshikawa H. Maternal, paternal, and other caregivers' stimulation in low- and- middle-income countries. PLoSOne. 2020;15(7):e0236107. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0236107
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. Nesse âmbito, o presente estudo se faz importante porque apresenta, ainda, quais atividades e em que momento do dia são praticadas pela cuidadora e a criança.

No Brasil, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) estabelece no terceiro eixo estratégico a “promoção e acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento integral”. Esse eixo reconhece a importância do ambiente e do fortalecimento dos vínculos familiares para o pleno desenvolvimento da criança na primeira infância e o papel fundamental da atenção primária à saúde2828. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde.Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança: orientações para implementação [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2018 [citado 2022 maio 27]. Disponível em: Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf
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. Contudo, não faz referência direta à importância do brincar para o desenvolvimento infantil e à promoção da incorporação de brincadeiras entre a cuidadora e a criança no dia a dia. Dessa forma, o presente estudo, incorporado à literatura disponível, contribui para a atualização de materiais que orientem os profissionais de saúde em suas condutas de promoção e proteção do desenvolvimento infantil por meio do brincar.

Estudo realizado nos Estados Unidos evidenciou que após a implementação de uma intervenção breve baseada na Atenção Primária à Saúde, onde se utilizava o espaço das consultas de puericultura para estimular comportamentos parentais e promover o desenvolvimento infantil, os pais do grupo intervenção apresentaram um aumento significativo do número de vezes em que brincavam com a criança por semana em comparação aos pais do grupo-controle, que receberam apenas um folheto informativo sobre o desenvolvimento infantil2929. Shah R, Isaia A, Schwartz A, Atkins M. Encouraging parenting behaviors that promote early childhood development among caregivers from low-income urban communities: a randomized static group comparison trial of a primary care-based parenting program. Matern Child Health J. 2019;23(1):39-46. doi: https://doi.org/10.1007/s10995-018-2589-8
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.

Especificamente, no que diz respeito às contribuições para a enfermagem no âmbito da Atenção Primária à Saúde, o presente estudo serve de base para que o profissional forneça ao usuário do serviço novas orientações a respeito da importância do brincar que, com as orientações da Caderneta da Criança3030. Ministério da Saúde (BR).Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Caderneta da criança: passaporte da cidadania - menina [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2020 [citado 2022 maio 27]. Disponível em: Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_5.ed.pdf
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se complementem. Essas orientações incluem: o estímulo à brincadeira, principalmente daquelas que promovem as habilidades da coordenação motora fina, que foi o domínio com menor proporção de crianças com desenvolvimento adequado, e o tipo de brincadeiras menos praticadas durante as atividades da rotina doméstica. Também, a incorporação do brincar na rotina doméstica com a utilização de materiais simples (tais como panelas, tampas, potes e tigelas de plástico, etc.) ao arrumar a casa, cozinhar e lavar roupas. (No Quadro 1 é possível encontrar exemplos das diferentes atividades que podem ser realizadas segundo domínios do desenvolvimento infantil e momentos da rotina doméstica).

Apesar das contribuições do estudo, é importante destacar suas limitações. A primeira se refere especificamente ao tipo de estudo, que por se tratar de um estudo transversal não permite estabelecer relação de causalidade entre as variáveis estudadas. Soma-se a isso a dificuldade de comparar os resultados obtidos com dados da literatura devido à escassez de estudos e instrumentos capazes de analisar o brincar, que tornou necessária a elaboração de um instrumento próprio para a coleta de dados.

CONCLUSÕES

O presente estudo evidenciou que há associação positiva entre a incorporação do brincar na rotina doméstica e o desenvolvimento infantil. Esse resultado confirma a hipótese de que crianças cuidadas por adultas que incorporam o brincar na rotina doméstica apresentam um melhor desenvolvimento infantil. Observou-se maior número de associações em crianças com idade igual ou inferior a 18 meses, especialmente, nos domínios do desenvolvimento “comunicação” e “coordenação motora fina”, além de associação ao ´pessoal/social’. Portanto, a incorporação de brincadeiras durante a rotina doméstica é uma importante estratégia que deve ser estimulada pelos profissionais de enfermagem na assistência às crianças e suas famílias na Atenção Primária à Saúde para a promoção do desenvolvimento infantil. Para estudos futuros, além do aprimoramento dos instrumentos para avaliar tal associação, seria importante o delineamento de estudos de intervenção que, de fato, possibilite avaliar o efeito da incorporação do brincar no desenvolvimento infantil. Ademais, considerando que a brincadeira contribui para melhorar a qualidade da interação cuidador-criança, essa variável deve ser analisada em futuras investigações. Finalmente, os resultados podem fortalecer o corpo de conhecimento das disciplinas de saúde da criança no que concerne ao desenvolvimento infantil e intervenções para sua promoção tanto nos cursos de graduação quanto de pós-graduação em enfermagem. A inclusão dessa temática nos planos de estudo deve considerar que a atenção da enfermagem à população infantil envolve múltiplos aspectos que afetam o desenvolvimento das crianças de forma que cuidar da saúde infantil implica, também, cuidar do desenvolvimento da criança.

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  • Financiamento:

    Essa pesquisa foi desenvolvida com apoio financeiro do Núcleo Ciência pela Primeira Infância.

Editado por

Editor associado:

Helena Becker Issi

Editor-chefe:

João Lucas Campos de Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    01 Jun 2022
  • Aceito
    18 Nov 2022
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