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Consciência fonológica em estudantes com baixa visão e em estudantes com visão normal: estudo comparativo

RESUMO

Objetivo:

avaliar e comparar a consciência fonológica de alunos com baixa visão e de alunos com visão normal.

Metodos:

trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva e quantitativa que foi realizada por meio da aplicação da prova de Consciência Fonológica por Produção Oral, que é composta por dez subtestes, com quatro itens cada. Participaram do estudo 15 alunos com baixa visão que contituíram o Grupo Estudo, e 15 alunos com visão normal que constituíram o Grupo Controle, com idades entre 8 e 14 anos, que estavam matriculados no ensino fundamental de escolas públicas de um município do interior de São Paulo.

Resultados:

para os questionários referentes à Síntese Fonêmica, Rima, Segmentação Fonêmica, Manipulação Silábica, Manipulação Fonêmica, e nos dois questionários de Transposição Fonêmica, o p.valor encontrado foi menor do que 1%, fazendo assim que seja rejeitada a igualdade nos resultados dos questionários considerando o nível de significância de 1%. Na análise da variância para a soma dos pontos adquiridos em todos os questionários verifica-se uma diferença estatisticamente significante considerando o nível de significância de 1%, pois o p.valor obtido foi menor que 1%.

Conclusão:

o Grupo Estudo, representado por alunos com baixa visão, apresentou resultados inferiores na maioria dos subtestes da Prova de Consciência Fonológica por Produção Oral, com exceção da prova de Síntese Silábica, na qual apresentaram resultados iguais aos do Grupo Controle, representado pelos alunos com visão normal.

Descritores:
Baixa Visão; Linguagem; Consciência Fonológica

ABSTRACT

Objective:

to evaluate and compare the phonological awareness of low vision students with normal vision ones.

Methods:

this is a cross-sectional, descriptive and quantitative research that was performed through the application of the Oral Phonological Awareness Test, which is composed of ten subtests, with four items each. The population consisted of 30 students attending public elementary school, aged 8 to 14 years, and divided into two groups of 15 participants each: the study group and the control one.

Results:

the p value found was less than 1% for the Phonemic Synthesis, Rhyme, Phonemic Segmentation, Syllabic Manipulation, Phonemic Manipulation questionnaires, in addition to the two Phonemic Transposition questionnaires, thus, considering the significance level of 1%, and rejecting equality in the results of the questionnaires. Considering the significance level of 1%, and since the p-value obtained was less than 1%, a statistically significant difference was observed in the variance analysis of the sum of the points obtained in all questionnaires.

Conclusion:

The Study Group, which was represented by low vision students, had lower results in most of the subtests of the Oral Phonological Awareness Test, except for the Syllabic Synthesis test, in which they had similar results as those of the Control Group, represented by normal vision students.

Keywords:
Vision, Low; Language; Phonological Awareness

Introdução

O desenvolvimento do sistema fonológico das crianças acontece de maneira gradual e natural, mas este desenvolvimento respeita etapas maturacionais e depende do meio no qual ela está inserida devido aos estímulos que receberá11. Stefanini MR, Oliveira BV, Marcelino FC, Maximino LP. Performance in phonological awareness of children with phonological disorder: comparison of two instruments. Rev. CEFAC. 2013;15(5):1227-35..

Visto que a consciência fonológica abrange a capacidade de refletir explicitamente sobre a estrutura da palavra, compreendendo-a como uma sequência de fonemas e/ou sílabas22. Cavalheiro LG, Santos MS, Martinez PC. Influência da consciência fonológica na aquisição de leitura. Rev. CEFAC. 2010;12(6):1009-16.,33. Rosal AGC, Cordeiro AAA, Queiroga BAM. Phonological awareness and phonological development in children of public and private schools. Rev. CEFAC. 2013;15(4):837-46., evidenciou-se a importância da consciência fonológica para a aprendizagem da língua escrita, já que para a criança aprender a ler e escrever no sistema de escrita alfabético é necessário que perceba a relação grafofonêmica. Para isso, são fundamentais as habilidades em identificação, análise, síntese e manipulação dos componentes fonológicos em níveis silábico e fonêmico, que compõem a consciência fonológica44. Suehiro ACB. Roteiro de avaliação da consciência fonológica (RACF). Act. Colom. Psicol. 2011;14(1):147-54..

A consciência fonológica parece se desenvolver gradativamente desde a consciência de unidades fonológicas mais globais - palavras e sílabas - até o desenvolvimento da consciência fonêmica. Os diferentes tipos de habilidades seguem, de maneira geral, uma sequência de emergência - habilidade em consciência de palavras, seguida pela habilidade em consciência de rimas, posteriormente de sílabas e, por último, de fonemas55. Cielo CA. Habilidades em consciência fonológica em crianças de 4 a 8 anos de idade. Pró-Fono R. Atual. Cientif. 2002;14(3):301-12..

A relação entre a consciência fonológica e a aquisição da língua escrita é bem documentada na produção científica da área, uma vez que, quanto maior a atenção da criança sobre a estrutura fonológica das palavras, maior será seu sucesso no aprendizado da leitura e escrita33. Rosal AGC, Cordeiro AAA, Queiroga BAM. Phonological awareness and phonological development in children of public and private schools. Rev. CEFAC. 2013;15(4):837-46..

A leitura eficiente implica no funcionamento de diversos processos cognitivos, tais como percepção, memória e atenção. Além disso, implica no funcionamento eficiente da visão, tanto periférica como central, que deve apresentar os estímulos corretamente ao cérebro, fazendo assim uma interlingação entre todos os sistemas necessários à apendizagem da leitura e escrita. À medida que atribui significado ao significante, o processo de reconhecimento das palavras se acelera. O sujeito deverá estruturar os elementos lexicais na estrutura sintática, ou seja, deverá atribuir um sentido ao que decodifica, pois além de reconhecer o significado do código é obrigado a reconhecer o sentido desse código e integrá-lo à mensagem como um todo66. Capovilla AGS, Capovilla FC. Efeitos do treino da consciência fonológica em criança com baixo nível sócio-econômico. Psicologia: Reflexão e Crítica. 2000a;13(1):7-24.

Favila et al. (2014)77. Favilla M, Cruz AFI, Martins P, Arruda SMCP, Gagliardo HGRG. Avaliação da visão funcional de uma criança prematura com cegueira congênita. Cad. Ter. Ocup. 2014;22(2):429-34. observaram que crianças com diminuição da acuidade visual necessitam de estimulação constante e especializada desde os primeiros anos de vida. Dessa forma, é possível que a criança apresente um desenvolvimento esperado para a faixa etária. Porém, se não estimulada, apresenta atrasos nas aquisições básicas de motricidade, linguagem, competência social e cognição.

A inclusão de alunos com baixa visão no campo educacional não se constitui em um fato recente. Ao contrário, advém de uma luta histórica, consolidando-se, expressivamente, enquanto movimento social, mundialmente conhecido, com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos. A temática aborda novas propostas de políticas para inclusão de alunos com deficiência nas escolas regulares, trazendo múltiplas perspectivas e concepções que contribuem para a compreensão do cenário e da complexidade dos processos em que se inserem88. Barros AB, Silva SMM, Costa MPR. Dificuldades no processo de inclusão escolar: percepções de professores e de alunos com deficiência visual em escolas públicas. Bol. - Acad. Paul. Psicol. 2015;35(88):145-63..

De acordo com a 10ª revisão da Classificação Estatística Internacional das Doenças e Problemas relacionados à Saúde (CID-10), considera-se baixa visão quando o valor da acuidade visual corrigida no melhor olho é menor do que 0,3 e maior ou igual a 0,05 (categorias 1 e 2 de graus de comprometimento visual), e considera-se cegueira quando esses valores encontram-se abaixo de 0,05 (categorias 3, 4 e 5 de comprometimento visual)99. CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10ª rev. São Paulo: Edusp; 2004. Cap. 7; Doenças do olho e anexos (H00-H59)..

Mesmo com as mudanças políticas e com os novos e muitos documentos produzidos na área, a crença na incapacidade e na falta de potencial das pessoas com baixa visão pode produzir generalizações em relação à dificuldade de aprendizagem que esta população pode apresentar.

Há pouca literatura explorando a consciência fonológica e como esta pode influenciar a aquisição da linguagem escrita de crianças com baixa visão. Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo realizar um estudo comparativo da consciência fonológica de alunos com e sem baixa visão, matriculados no ensino fundamental de escolas públicas de um município de São Paulo.

Métodos

Tipo de Estudo e Aspectos Éticos

Trata-se de pesquisa transversal, descritiva e quantitativa1010. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. que foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas sob o protocolo 042122/2017. O método de investigação respeitou os princípios éticos para pesquisas envolvendo seres humanos, regulamentados pela Resolução n° 466/12. Todos os participantes da pesquisa tiveram seus Termos de Consentimento Livre e Esclarecido assinados pelos pais e/ou responsáveis.

População do Estudo

A população foi composta por alunos que estavam matriculados no ensino fundamental de escolas públicas municipais com idades entre 8 e 14 anos e foram distribuídos em dois grupos: o grupo de estudo e o grupo controle, conforme apresentados abaixo. Optou-se por população não-probabilista, considerando o objetivo da pesquisa1111. Laville C, Dione J. A construção do saber. Belo Horizonte, Ed. UFMG; 1999..

  • GRUPO ESTUDO (GE) - grupo de estudo composto por quinze alunos de ambos os gêneros e que possuíam baixa visão congênita ou adquirida;

  • GRUPO CONTROLE (GC) - grupo controle composto por quinze alunos de ambos os gêneros que apresentavam visão normal.

Como critérios de exclusão, para o GE, utilizou-se a cegueira além da presença de outras deficiências associadas. Já para o GC, os critérios de exclusão foram a presença de deficiências e de dificuldades escolares.

Procedimentos

As avaliações foram realizadas no Centro de Estudos e Pesquisa da instituiçao de origem.

Os alunos foram identificados por meio do cadastro da Prefeitura do município em questão. Após obter esta lista dos alunos, entrou-se em contato com as escolas e apresentou-se o objetivo da pesquisa e como ela seria realizada. Após o aceite da escola, os pais foram convidados a comparecer à escola para que a pesquisadora explicasse os procedimentos da pesquisa. Após o aceite de participação na pesquisa, os pais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, conforme disponibilidade, receberam um documento que continha a data e o local onde seria aplicada individualmente a Prova de Consciência Fonológica Oral (PCFO), elaborada por Capovilla e Capovilla (1998)1212. Capovilla AGS, Capovilla FC. Prova de Consciência Fonológica: desenvolvimento de dez habilidades de pré-escola a 2 a. série. Temas sobre Desenvolvimento. 1998b;7(37):14-20..

A PCFO é composta por dez subtestes, com quatro itens cada. A aplicação de cada tarefa foi precedida por dois exemplos iniciais em que o pesquisador explicava ao sujeito que devia ser feito:

  1. No subteste de síntese silábica, o sujeito deve unir sílabas faladas pelo pesquisador, dizendo qual palavra resulta da união;

  2. No subteste de síntese fonêmica, o sujeito deve unir os fonemas falados pelo pesquisador;

  3. No subteste de rima, o sujeito deve julgar, dentre três palavras, quais são as duas que terminam com o mesmo som;

  4. No subteste de aliteração, o sujeito deve julgar, também dentre três palavras, quais são as duas que começam com o mesmo som;

  5. No subteste de segmentação silábica, o sujeito deve separar uma palavra falada pelo pesquisador nas suas sílabas componentes;

  6. No subteste de segmentação fonêmica, o sujeito deve separar uma palavra falada pelo pesquisador nos seus fonemas componentes;

  7. No subteste de manipulação silábica, o sujeito deve adicionar e subtrair sílabas de palavras dizendo qual foi formada;

  8. No subteste de manipulação fonêmica, o sujeito deve adicionar ou subtrair fonemas de palavras dizendo qual foi formada;

  9. No subteste de transposição silábica, o sujeito deve inverter as sílabas das palavras dizendo qual foi a palavra formada;

  10. No subeste de transposição fonêmica, o sujeito deve inverter os fonemas das palavras dizendo qual foi a palavra formada.

Análise dos Resultados

Foi feita uma análise de variância, utilizando a função aov do software R para testar se houve diferença estatisticamente significante entre o grupo GE-Baixa visão e o grupo GC, grupo controle. Além disso, uma segunda análise foi feita: trata-se do teste de permutação, utilizando a função perm.test do pacote jmuOutlier do R, testando a hipótese nula de que o grupo GE-DV tinha o mesmo desempenho do grupo GC contra a hipótese de que as crianças com baixa visão teriam um pior desempenho no questionário.

Resultados

No presente estudo, os alunos que participaram da pesquisa e fizeram parte do grupo estudo (GE) tinham entre 8 e 14 anos, sendo a maioria do sexo masculino (10). Somente sete sujeitos faziam uso de óculos. Já os participantes do grupo controle (GC) tinham entre 8 e 14 anos e também eram em sua maioria do sexo masculino (9). Somente dois alunos faziam uso de óculos para correções. Participaram da pesquisa alunos matriculados em salas do primeiro ao nono ano do ensino fundamental.

Na Tabela 1 são fornecidos dados de categorização da amostra.

Tabela 1:
Catagorização da amostra: grupo estudo e grupo controle

Na Tabela 2 são apresentados os valores que evidenciam a diferença entre o GE e o GC em cada um dos subtestes que fazem parte da Prova.

Quando testada a presença de diferença entre o GE e o GC, para Síntese Silábica foi obtido um p.valor de 14%. Portanto, não há evidências estatísticas suficientes para rejeitar a igualdade entre os dois grupos neste questionário, visto que se adotou como valor alfa 5%.

Nos questionários sobre Alteração e Segmentação Silábica obteve-se um p.valor menor do que 5%, com p.valor igual a 2,4% e 1,9% respectivamente. Assim, nos dois questionários, rejeitou-se a igualdade dos grupos considerando o nível de significância de 5%.

Para os questionários referentes à Síntese Fonêmica, Rima, Segmentação Fonêmica, Manipulação Silábica, Manipulação Fonêmica, e nos dois questionários de Transposição Fonêmica, o p.valor encontrado foi menor do que 1%. Assim, foi rejeitada a igualdade nos resultados dos questionários cosiderando o nível de significância de 1%.

Ao realizar a análise d variância para a soma dos pontos adquiridos em todos os questionários, tem-se uma diferença estatisticamente significante considerando o nível de significância de 1%, pois o p.valor obtido foi menor que 1% (Tabela 2).

Tabela 2:
Análise do teste de variância da consciência fonológica entre grupo estudo e grupo controle

Na Tabela 3, que se refere à prova da Análise de Permutação da Consciência Fonológica, verificou-se que o grupo GC obteve melhor desempenho. Obtive-se pequena diferença nos p.valores com relação à análise de variância, porém eles continuaram nas mesmas faixas que se encontravam no outro teste (Tabela 3).

Tabela 3:
Análise do teste de permutação da consciência fonológica do Grupo Estudo e do Grupo Controle

Discussão

Os resultados do presente estudo evidenciaram que a maioria dos sujeitos do GE, que apresentam baixa visão, tiveram dificuldades nos testes do PFCO. Foram apresentadas diferenças estatísticamente significantes entre os dois grupos na maioria dos subtestes, com exceção da Síntese Silábica. Esse resultado leva a inferir que, além da dificuldade visual apresentada, há dificuldades de outras vias de aprendizagem por parte destas crianças, já que os testes em questão não são visão-dependentes para serem realizados.

É importante ressaltar, contudo, que este subteste de Síntese Silábica é o de execução mais simples, já que as habilidades de análise silábica e outras habilidades supra-segmentares tendem a se desenvolver de modo mais natural, visto que as sílabas são unidades que requerem menor esforço para análise.

A maioria dos trabalhos publicados em lingua portuguesa discutem a consciência fonológica de crianças cegas, que utilizam o Sistema Braille, o que não se enquadra nesta pesquisa. Referências ainda não foram encontradas sobre como tratar os “erros” de ortografia das crianças cegas. No entanto, as pesquisas de Capovilla e Capovilla (1997)1313. Capovilla A, Capovilla F. O desenvolvimento da consciência fonológica durante a alfabetização. Temas sobre Desenvolvimento. 1997;35(6):15-21. constataram a importância da consciência fonológica para a aquisição das regras ortográficas em crianças videntes99. CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10ª rev. São Paulo: Edusp; 2004. Cap. 7; Doenças do olho e anexos (H00-H59)..

Supõe-se, assim, que a consciência fonológica também seja de extrema importância para a aquisição da escrita por crianças com alterações visuais. A ausência da informação visual pode ser indicada como resonsável por atrasos e alterações no desenvolvimento infantil, principalmente durante as fases iniciais da aquisição da linguagem em crianças com baixa visão, como visto no estudo de Lima e Nunes (2015)1414. Lima AL, Nunes RTD. Phonological profile of children with low vision from 6 to 9 years old at an institution for the blind in the city of Salvador - BA. Rev. CEFAC. 2015;17(5):1490-8.. Neste mesmo estudo, que analisou a consciência fonológica de crianças cegas e com baixa visão, houve uma melhor performance nos subtestes pelas crianças com baixa visão do que as crianças cegas. Isso corrobora a hipotése de que quanto menor foi a acuidade visual, maior dificuldade o sujeito terá com a consciência fonológica.

A Transposição fonêmica foi o subteste que as crianças apresentaram maior dificuldade para realizar. Neste subteste espera-se que a criança inverta a ordem dos fonemas de uma determinada palavra, criando uma nova palavra, como por exemplo AMOR - ROMA. Este dado apresenta-se como um aspecto negativo do desenvolvimento, visto que a maioria das crianças com idades pertencentes aos participantes já deveriam ter finalizado o processo de aquisição fonológica.

A habilidade de transposição fonêmica e as habilidades fonêmicas em geral são promovidas a partir do contato com a escrita e que, nessa medida, as crianças com deficiência visual poderiam ser prejudicadas, pois não tem o mesmo acesso que as crianças com desenvolvimento visual típico (capacidades visuais dentro dos parâmetros de normalidade).

O processo de aprendizagem não é o mesmo e não ocorre ao mesmo tempo para todas as crianças e esta diferença pode estar diretamente relacionada aos fatores intrínsecos, os quais, por sua vez, dependem das influências ambientais ou socioeconômicas e culturais1515. Segin M, Dias NM, Seabra AG, Teixeira MCTV, Carreiro LRR. Phonological awareness assessment in Williams syndrome. Rev. CEFAC. 2015;17(5):1483-9..

Conforme dito anteriormente, a literatura sobre a consciência fonológica em crianças com deficiência visual apresenta-se escassa. Desta maneira, este estudo vem com o propósito de olhar para o processo de aquisição da linguagem escrita de alunos com baixa visão, visto que o trabalho com a consciência fonológica nestes alunos deve ser feita de maneira apropriada, propiciando a acessibilidade.

Considerando que a consciência fonoaudiológica é um pressuposto para a aquisição da escrita, verifica-se que na literatura não há estudos que evidenciam que alunos com deficiência visual apresentam alterações. Com os resultados obtidos nesta pesquisa verifica-se a necessidade de maior atenção durante a fase de aquisição da linguagem escrita desses alunos.

Uma das limitações apresentadas neste estudo foi o acesso a um número reduzido de alunos com baixa visão matriculados no ensino fundamental municipal, dado este que foi conseguido por meio da Secretaria de Educação do município. Outra limitação foi a dificuldade de encontrar literatura que apresente resultados de avaliação da consciência fonológica de pessoas com baixa visão.

Conclusão

O GE, representado pelo alunos com baixa visão, apresentou resultados inferiores na maioria dos subtestes da Prova de Consciência Fonológica por Produção Oral, com exceção da prova de Síntese Silábica, na qual apresentaram resultados iguais aos do GC, que foi representado pelos alunos que apresentam acuidade visual dentro dos padrões da normalidade.

O estudo mostra-se relevante na medida em que quase não é encontrada literatura sobre a consciência fonológica em crianças com baixa visão. E, como é reconhecida, a consciência fonológica exerce grande influência na aprendizagem da leitura e escrita. O contrário também é verdadeiro. Com os resultados encontrados neste estudo, pode-se sugerir que os alunos do GE poderão apresentar dificuldades nesta habilidade.

A baixa visão é caracterizada por uma redução de informações sendo que os danos da região da mácula afetam significantemente a percepção visual comprometendo a fixação visual, a visão de detalhes, a nitidez e consequentemente, restringe a quantidade de oportunidades visuais que são importantes para a construção do sistema fonológico e aprendizagem da leitura e escrita.

Considerando-se tais informações recomenda-se que os profissionais da área da educação e da área da saúde que atuam com crianças com baixa visão, estejam atentos às especificidades dessas crianças verificando se há necessidade de utilização de recursos de tecnologia assistiva para identificarem mais facil e rapidamente os materiais que são trabalhados em sala de aula.

REFERENCES

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  • 3
    Fonte de Auxílio à pesquisa: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Out 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    28 Jul 2018
  • Aceito
    04 Set 2019
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