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Uso da Classificação Internacional de Funcionalidade na Fonoaudiologia: revisão integrativa da literatura

RESUMO

Objetivo:

realizar uma revisão integrativa da literatura sobre o uso da CIF na Fonoaudiologia.

Métodos:

foi realizada uma busca em base de dados nacionais e internacionais, entre 2008 a 2018, considerando os descritores “Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde”, “fonoaudiologia” e “fonoterapia” em português, inglês e espanhol. Foram excluídos artigos duplicados e apresentação de novos protocolos tendo a CIF como base e estudos que não referiram exclusivamente a atuação fonoaudiológica como temática.

Resultados:

foram encontrados 36 artigos, e desses, 9 atendiam aos critérios de inclusão. Os artigos foram categorizados em subáreas da Fonoaudiologia, bem como quanto ao tipo de estudo, sendo em sua maioria da subárea da linguagem e do tipo estudo de caso.

Conclusão:

os estudos, apontam que a CIF pode contribuir para a construção de projetos terapêuticos singulares numa abordagem mais ampla de saúde na clínica fonoaudiológica, porém, entende-se ser necessário o desenvolvimento de mais pesquisas sobre o tema com aplicação nas demais áreas da Fonoaudiologia.

Descritores:
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; Fonoterapia; Fonoaudiologia

ABSTRACT

Purpose:

to carry out an integrative review of literature regarding the use of the ICF in Speech-Language-Hearing Therapy.

Methods:

a search was conducted on both national and international databases, for articles published between 2008 and 2018, considering the following descriptors in Portuguese, English and Spanish: “International Classification of Functioning, Disability and Health”, “Speech-Language-Hearing”, and “Speech Therapy”. Duplicated articles, as well as those introducing new ICF-based protocols and studies whose theme didn’t refer exclusively to speech-language-hearing practices were excluded.

Results:

36 articles were found, 9 of which met the inclusion criteria. The articles were categorized according to speech-language-hearing subareas (most belonging to the subarea of language), and to types of study (most being case studies).

Conclusion:

studies point out that the ICF can contribute to the development of unique therapy projects in a broader approach to health in the speech-language-hearing clinic. However, it has been perceived the need for more researches on the theme with applicability to the other fields of knowledge in speech-language-hearing sciences.

Keywords:
International Classification of Functioning, Disability and Health; Speech Therapy; Speech-Language-Hearing Sciences

Introdução

O interesse pelos conceitos de incapacidade e funcionalidade tem crescido na área da saúde. Com os avanços médicos e tecnológicos muitas doenças são passíveis de tratamento, provocando um aumento na expectativa de vida e, consequentemente, o surgimento de limitações impostas pelos quadros de saúde 11. Castaneda L, Bergmann A, Bahia L. The International Classification of Functioning disability and health: a systematic review of observational studies. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(2):437-51..

Em 2001, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborou a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), uma ferramenta com objetivo de proporcionar uma linguagem unificada para apontar as condições de funcionalidade e incapacidade dos indivíduos, identificando as relações existentes entre condições sociais e saúde 22. Organização Mundial de Saúde (OMS). CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: Edusp; 2015..

Buscando ampliar o olhar para além da classificação de doenças, dada pela Classificação Internacional de Doenças (CID), a CIF considera que funcionalidade inclui todas as funções do corpo, atividades e participação social, enquanto a incapacidade abrange as deficiências e limitações de cada indivíduo nesses mesmos âmbitos 33. Santos SSC, Lopes MJ, Vidal ADS, Gautério DP. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde: utilização no cuidado de enfermagem a pessoas idosas. Rev Bras Enferm. 2013;66(5):789-93.. É um instrumento que se baseia em um modelo conceitual que considera a existência de influências biopsicossociais sobre os quadros de saúde e doença 22. Organização Mundial de Saúde (OMS). CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: Edusp; 2015.,44. Araujo ES, Buchalla CM. O uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde em inquéritos de saúde: uma reflexão sobre limites e possibilidades. Rev Bras Epidemiol. 2015;18(3):720-4..

A OMS recomenda o uso da CIF como uma classificação capaz de prover um padrão estatístico referente à saúde e incapacidade e promover a participação, inclusão e saúde das pessoas com deficiência, associados às políticas públicas 22. Organização Mundial de Saúde (OMS). CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: Edusp; 2015.,55. World Health Organization (WHO). Relatório mundial sobre a deficiência. In: The World Bank. Trad Lexicus Serviços Linguísticos. São Paulo: SEDPcD; 2012.. Essa classificação é feita individualmente, e pessoas com a mesma doença primária podem apresentar diferentes classificações na CIF. Por exemplo, dois pacientes apresentam transtornos de deglutição, um deles pode ser instruído a receber nutrição e hidratação apenas por alternativa de alimentação, enquanto o outro pode ser orientado a receber alimentos pastosos por via oral. Neste caso ambos são classificados pela doença (CID) como disfagia, porém, de acordo com a funcionalidade, eles apresentam classificações distintas na CIF.

Apesar da complexidade dessa classificação, sua utilização auxilia os profissionais a compreenderem as limitações e potencialidades de seus pacientes, bem como direcionar a intervenção terapêutica 44. Araujo ES, Buchalla CM. O uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde em inquéritos de saúde: uma reflexão sobre limites e possibilidades. Rev Bras Epidemiol. 2015;18(3):720-4.,66. Farias N, Buchalla CM. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde: conceitos, usos e perspectivas. Rev. bras. epidemiol. 2005;8(2):187-93.,77. Romano N, Chun RYS. Condições linguístico-cognitivas de crianças usuárias de comunicação suplementar e/ou alternativa segundo componentes da CIF. Distúrb. Comun. 2014;26(3):503-18..

O modelo e o conjunto de itens apresentados pela CIF norteiam as respostas individuais referentes à saúde e funcionalidade. Os apontamentos podem ser realizados por familiares ou profissionais da saúde, entretanto, a OMS sugere que haja o envolvimento do paciente nessa classificação para fins de validade e também por motivos éticos 22. Organização Mundial de Saúde (OMS). CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: Edusp; 2015..

Ciente dos conceitos acima descritos, e do crescente interesse pelo uso da CIF na prática de profissionais da saúde 88. Pernambuco AP, Lana RC, Polese JC. Knowledge and use of the ICF in clinical practice by physiotherapists and occupational therapists of Minas Gerais. Fisioter Pesqui.2018;25(2):134-42.

9. Lima TG, Barbosa P, Modesto GP, Valduga R. O uso da CIF para caracterização da funcionalidade de pacientes críticos em uma unidade de emergência. XXVII Fórum Nacional de Ensino em Fisioterapia e IV Congresso Brasileiro de Educação em Fisioterapia; João Pessoa; Rede Unida; 2017.
-1010. Alexandrino K, Dutra MB, Souza IN, Amorin J, Castaneda L. Utilização e conhecimento da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) por fisioterapeutas brasileiros. XXVIII Fórum Nacional de Ensino em Fisioterapia, V Congresso Brasileiro de Educação em Fisioterapia; Vitória; Rede Unida; 2018., o objetivo deste estudo é realizar uma revisão integrativa da literatura a fim de explorar a utilização da CIF na prática terapêutica fonoaudiológica.

Métodos

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre o uso da CIF na prática terapêutica fonoaudiológica.

Para nortear a busca na literatura, foi formulada a seguinte questão: “Como a CIF é utilizada na área de Fonoaudiologia?”.

Foi realizada busca nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (MEDLINE), US National Library of Medicine National Institutes Health (PubMed) e Scientific Eletronic Library Online (Scielo).

Os descritores em Ciências da Saúde (DeCs) utilizados para localização dos artigos, com os limitadores de idiomas inglês, espanhol e português, foram: “Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde”, “fonoaudiologia” e “fonoterapia”. A busca foi realizada por combinações de dois descritores associados (e/and/y).

Os critérios de inclusão inicialmente foram artigos inéditos, disponíveis na íntegra, publicados em revistas científicas em português, inglês ou espanhol no período dos últimos cinco anos, descrevendo a aplicabilidade da CIF na prática terapêutica fonoaudiológica. Devido ao baixo número de publicações, optou-se por ampliar a busca dentro de um período de 10 anos, considerando as datas de janeiro de 2008 a agosto de 2018.

Os critérios de exclusão foram artigos duplicados e apresentação de novos protocolos tendo a CIF como base e estudos que não referiram exclusivamente a atuação fonoaudiológica como temática.

A seleção das publicações foi feita seguindo as etapas: busca por estudos nas bases de dados com os descritores associados; seleção do material publicado no período pré-estabelecido; leitura de título e resumo buscando estudos que se relacionassem ao tema proposto; aplicação dos critérios de inclusão e exclusão; leitura completa do material selecionado; e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão.

Todos os artigos foram categorizados considerando as subáreas da Fonoaudiologia e tipo de estudo.

Revisão da Literatura

A partir da metodologia utilizada foram encontrados 36 artigos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, nove foram incluídos nesta revisão e categorizados entre as áreas de conhecimento da Fonoaudiologia, conforme demonstrado na Figura 1, sinalizados de acordo com a subárea da Fonoaudiologia e tipo de pesquisa.

Figura 1:
Apresentação do processo de seleção dos estudos, áreas de conhecimento e tipos de estudo

A descrição dos estudos incluídos consta na Figura 2.

Figura 2:
Apresentação dos artigos segundo ano de publicação, autor (es), país de origem, periódico, subárea da fonoaudiologia e tipo de estudo

Diante da literatura produzida de janeiro de 2008 a agosto de 2018, observa-se que a temática da CIF na Fonoaudiologia ainda é pouco desenvolvida. O maior número de publicações ocorreu no ano de 2017 (n=4), e a área de linguagem foi a que apresentou mais publicações na temática (n=6). Foi possível identificar, também, maior produção de estudos de caso (n= 7). A contribuição de pesquisadores brasileiros (n= 7) corresponde a maior parte dos artigos selecionados.

Na área de linguagem, Thomas-Stonell et al. (2009) 1111. Thomas-Stonell N, Oddson B, Robertson B, Rosenbaum P. Predicted and observed outcomes in preschool children following speech and language treatment: parent and clinician perspectives. J Commun Disord. 2009;42(1):29-42. avaliaram o impacto da terapia fonoaudiológica em crianças, tendo como base os domínios da CIF. Trata-se de um estudo longitudinal com 210 crianças, de 2 a 6 anos de idade, com transtornos de linguagem. A evolução terapêutica foi pautada na percepção dos pais e dos fonoaudiólogos. Os domínios da CIF foram utilizados para pontuar a evolução qualitativa das crianças após terapia fonoaudiológica.

Stocks et al. (2009) 1212. Stocks R, Dacakis G, Phyland D, Rose M. The effect of smooth speech on the speech production of an individual with ataxic dysarthria. Brain Injury. 2009;23(10):820-9. examinaram os efeitos de uma técnica intensiva de terapia da fala de um sujeito adulto com disartria atáxica, incluindo o nível de funcionalidade por meio dos domínios da CIF. Houve avaliação pré e pós intervenção terapêutica, com aplicação da CIF nos dois momentos. Foi possível observar a melhora da funcionalidade do paciente após a intervenção.

Romano e Chun (2014) 77. Romano N, Chun RYS. Condições linguístico-cognitivas de crianças usuárias de comunicação suplementar e/ou alternativa segundo componentes da CIF. Distúrb. Comun. 2014;26(3):503-18. investigaram questões de linguagem, participação e desempenho/funcionalidade de crianças usuárias de comunicação suplementar e alternativa (CSA) nas atividades linguístico-cognitivas, por meio dos componentes da CIF. Trata-se de um estudo longitudinal com três crianças não oralizadas, usuárias de CSA, em acompanhamento fonoaudiológico. Todas as crianças apresentaram mudanças nas condições linguístico-cognitivas, participação e desempenho/funcionalidade após o período de avaliação e terapia fonoaudiológica. A utilização da CIF permitiu, ao longo do tempo, verificar diminuição no grau de severidade ou na barreira que as alterações de linguagem representavam para essas crianças.

Pommerehn et al. (2016) 1313. Pommerehn J, Delboni MCCC, Fedosse E. International Classification of Functioning, Disability and Health, and aphasia: a study of social participation. CoDAS. 2016;28(2):132-40. caracterizaram as condições de vida e saúde de 12 sujeitos com diagnóstico neurológico de afasia. Os participantes eram de ambos os sexos, com idade entre 34 a 69 anos e, participavam de um mesmo, grupo denominado Grupo Interdisciplinar de Convivência. O processo de avaliação foi realizado em até três sessões, por uma única avaliadora, com duração aproximada de 40 minutos cada, no período de outubro de 2011 a março de 2013. Os dados foram coletados e analisados tendo como base os domínios da CIF. A utilização dessa ferramenta permitiu identificar que todos os sujeitos apresentavam restrições no desempenho e para a participação em suas atividades cotidianas, seja por determinantes biológicos, ambientais ou socioculturais. A restrição na participação foi a mais evidente, decorrente mais dos fatores ambientais do que das sequelas advindas das lesões cerebrais. Nestes termos, a utilização da CIF permitiu a compreensão do impacto da doença na sobrevida dos participantes.

Ostrochi et al. (2017) 1414. Ostroschi DT, Zanolli ML, Chun RYS. Families' perception of children / adolescents with language impairment through the International Classification of Functioning, Disability, and Health (ICF-CY). CoDAS. 2017;29(3):e20160096. realizaram estudo com 24 crianças e adolescentes em acompanhamento fonoaudiológico devido transtornos de linguagem. Foram utilizadas duas fontes de dados: levantamento dos prontuários dos pacientes e entrevistas com seus familiares. Cada familiar respondeu a uma entrevista com roteiro semiestruturado. Posteriormente, foi feita análise descritiva dos perfis dos participantes e categorização das respostas utilizando a CIF versão para crianças e jovens (CIF-CJ). Os achados demonstraram ampliação do olhar dos familiares quanto às alterações de fala e linguagem, sob uma abordagem mais ampla de saúde. Os resultados reforçam a importância do uso da CIF-CJ ao incorporar aspectos de funcionalidade e participação, proporcionando subsídios para a construção de projetos terapêuticos singulares.

Santana e Chun (2017) 1515. Santana MTM, Chun RYS. Language and functionality of post-stroke adults: evaluation based on International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF). CoDAS. 2017;29(1):e20150284. utilizaram os domínios da CIF para avaliar linguagem, participação e funcionalidade de 50 indivíduos, de 32 a 88 anos de idade, com diagnóstico de acidente vascular encefálico (AVE). A utilização da CIF permitiu a compreensão dos transtornos de linguagem para além da dimensão orgânica, incorporando aspectos sociais e afetivos, contribuindo para uma maior compreensão da funcionalidade e participação desses indivíduos. Os resultados direcionaram uma reflexão sobre o impacto das dificuldades de linguagem na vida sujeitos pós AVE e, reafirmam a aplicabilidade da CIF como importante instrumento complementar à avaliação de linguagem numa abordagem integral e humanizada.

Na área de audição, foram registrados nesta revisão dois estudos. Morettin et al. (2013) 1616. Morettin M, Cardoso MRA, Delamura AM, Amantini RCB, Bevilacqua MC. Use of the International Classification of Functioning, Disability and Health for monitoring patients using cochlear implants. CoDAS. 2013;25(3):216-23. caracterizaram o perfil dos pacientes usuários de Implante Coclear a partir do proposto pela CIF-CJ. Para análise foram considerados 30 prontuários de pacientes usuários de implante coclear, com idade entre 3 e 18 anos, que foram analisados segundo os domínios da CIF-CJ. Ao final foi possível ampliar a visão para o desenvolvimento e qualidade de vida das crianças usuárias de implante coclear, e as autoras afirmam que o uso da CIF pode auxiliar o profissional da saúde no planejamento terapêutico e na escolha de instrumentos de avaliação.

Bernardi et al. (2017) 1717. Bernardi AS, Alvarenga S, Pupo AC, Trenche MCB. The use of ICF in the monitoring of hearing and language development in children in their first year of life. Rev. CEFAC. 2017;19(2):159-70. utilizaram a CIF-CJ em um centro de saúde do Sistema Único de Saúde, no interior do estado de São Paulo, para o registro do desenvolvimento auditivo e de linguagem de crianças no primeiro ano de vida. A primeira fase do estudo foi o treinamento de 13 agentes comunitários de saúde (ACS) para aplicação de um questionário de monitoramento do desenvolvimento auditivo e de linguagem com famílias atendidas pela Estratégia de Saúde da Família. Os ACS aplicaram o questionário com 22 famílias, que corresponde a, aproximadamente, 5% das crianças na faixa etária de 0 a 1 ano de idade cadastradas no território do centro de saúde em questão. Em seguida, três fonoaudiólogos, especialistas em Audiologia, realizaram a correlação de cada uma das perguntas contidas no questionário com os domínios da CIF-CJ. Devido à complexidade da aplicação da CIF, foi elaborado um check-list com os códigos da CIF-CJ que se relacionavam com as perguntas do questionário. O check-list passou por processo de validação de conteúdo, o que tornou sua aplicação confiável. O pareamento do instrumento utilizado com a CIF possibilitou a identificação de três crianças com risco para alteração auditiva. Apesar desse estudo abordar desenvolvimento auditivo e de linguagem, foi classificado na subárea “audição” visto o maior destaque no decorrer do artigo.

Classificado como Fonoaudiologia Geral, o estudo proposto por Borges et al. (2018)1818. Borges MGS, Medeiros AM, Lemos SMA. Characterization of communication disorders according to the categories of the International Classification of Functioning, Disability and Health - Children and Youth (ICF-CY). CoDAS. 2018;30(4):e20170184. analisou 180 prontuários de pacientes com idade entre 5 e 16 anos, avaliados no período entre março de 2010 e dezembro de 2014 em um serviço fonoaudiológico ambulatorial. Foram utilizados os domínios da CIF-CJ para classificar essa população. A classificação pelos domínios da CIF permitiu identificar a existência de aspectos fonoaudiológicos que afetaram o desempenho funcional e qualidade de vida em crianças e jovens.

Com a metodologia utilizada, foi encontrado apenas um trabalho envolvendo os conhecimentos de disfagia e CIF1919. Jaramillo JH, Duque LMR, Patiño MCG, Gutiérrez MFS. Prognosis factors of dysphagia after stroke: a search and systematic Review. Rev. cienc. Salud. 2017;15(1):7-21., porém, por tratar-se de uma revisão da literatura, não atendia ao critério de inclusão desta revisão.

Diante dos estudos analisados, a CIF pode ser utilizada como uma ferramenta para identificar a funcionalidade e participação dos pacientes com transtornos fonoaudiológicos e, para pautar a evolução terapêutica incluindo a percepção do profissional, do paciente e de seus familiares.

Observa-se uma distribuição desigual de estudos nas diferentes áreas de conhecimento da Fonoaudiologia, e esse fato justifica-se, talvez, a determinados transtornos fonoaudiológicos comumente associados a alterações neurológicas e oncológicas, nas quais predomina o uso da classificação internacional de doenças (CID-10).

Nos últimos dois anos houve um aumento de publicações sobre a temática abordada, o que pode estar associado à nova versão da CIF publicada em 2015, abrangendo domínios específicos para crianças, jovens e adultos. Os profissionais em reabilitação têm sido os protagonistas da utilização e da produção do conhecimento relacionado à CIF, e alguns trabalhos estão sendo publicados a fim de orientar os núcleos profissionais sobre como realizar diagnósticos ou como realizar o planejamento terapêutico de forma multiprofissional com base na CIF2020. Tordoya EJJ. Guía metodológica para elaborar el diagnóstico fisioterapéutico según la Clasificación Internacional del Funcionamiento (CIF), de la Discapacidad y de la Salud. Gaceta Médica Boliviana. 2016;39(1):46-52..

Apesar do conhecimento que existem recentes trabalhos apresentados em congressos, bem como dissertações e teses defendidas sobre o uso da CIF na fonoaudiologia, esses estudos não foram considerados no presente artigo por não estarem publicados.

A despeito da importância da CIF, a pouca utilização da ferramenta registrada na literatura fonoaudiológica pode estar associada à complexidade de sua aplicação e desconhecimento dos profissionais da saúde2121. Andrade LEL, Oliveira NPD, Ruaro JA, Barbosa IRB, Dantas DS. Evaluation of the level of knowledge and applicability of the International Classification of Functioning, Disability and Health. Saúde Debate. 2017;41(114):812-23..

Conclusão

Esta revisão integrativa identificou um olhar inicial da Fonoaudiologia para a CIF na prática terapêutica, demonstrando que dentre os nove estudos analisados, a área da Fonoaudiologia com maior correlação com a CIF foi linguagem (n=6), com necessidade de maior exploração sobre o assunto, principalmente nas áreas de voz, disfagia, motricidade orofacial e escolar.

Após essa análise, é possível afirmar que a CIF pode contribuir para nortear a reabilitação fonoaudiológica, para um processo de reabilitação considerando a percepção dos profissionais, dos pacientes e seus familiares e, proporcionar subsídios para a construção de projetos terapêuticos singulares.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES).

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  • Fonte de auxílio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Set 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    03 Jan 2019
  • Aceito
    01 Ago 2019
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