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Plano de intervenção em vocabulário, memória de trabalho e consciência sintática para adolescentes e jovens adultos com trissomia do 21: desenvolvimento e validação do conteúdo

RESUMO

Objetivo:

elaborar e validar o conteúdo de um plano de intervenção para adolescentes e jovens adultos com Trissomia do 21 focado em vocabulário, memória de trabalho e consciência sintática.

Métodos:

estudo metodológico, com etapas de validação de proposta de intervenção. Foi realizada avaliação com um grupo de dez juízes. Para avaliação do conteúdo de forma quantitativa, foi utilizado o Índice de Validade de Conteúdo.

Resultados:

a maior parte dos juízes apresenta doutorado. Em todas as proposições, o escore mínimo foi atingido. O plano de intervenção em linguagem oral com foco em vocabulário, memória de trabalho e consciência sintática foi elaborado para adolescentes e jovens adultos entre 13 e 25 anos e 11 meses. A proposta contempla 15 sessões de 40 minutos, semanalmente.

Conclusão:

foi possível apresentar o processo de desenvolvimento e validação do Plano Terapêutico em Linguagem Oral com foco em Vocabulário, Memória de Trabalho e Consciência Sintática para pessoas com Trissomia do 21 com a concordância dos juízes.

Descritores:
Síndrome de Down; Estudo de Validação; Fonoaudiologia

ABSTRACT

Purpose:

to develop and validate the content of an intervention plan for adolescents and young adults with Trisomy 21, focusing on vocabulary, working memory, and syntactic awareness.

Methods:

a methodological study with validation stages for the proposed intervention, which was assessed by ten judges. The content validity index was used to evaluate the content, quantitatively.

Results:

most judges had a doctoral degree. All propositions reached the minimum score. The oral language intervention plan focusing on vocabulary, working memory, and syntactic awareness was designed for adolescents and young adults aged 13 to 25 years and 11 months. The proposal included fifteen 40-minute weekly sessions.

Conclusion:

the study presented the process of developing and validating the Oral Language Therapy Plan, focusing on vocabulary, working memory, and syntactic awareness for people presented with trisomy 21, with the judges’ agreement.

Keywords:
Down Syndrome; Validation Study; Speech, Language and Hearing Sciences

INTRODUÇÃO

A trissomia do 21 (T21) ou comumente conhecida como Síndrome de Down (SD) é uma alteração genética no 21º par de cromossomos, sendo identificada como uma cópia extra ou excesso de material genético em decorrência de uma falha na divisão celular do óvulo fecundado, apresentando déficits cognitivos e físicos, podendo variar consideravelmente entre os indivíduos11. Mecca TP, Morão CP de AB, Silva PB da, Macedo EC de. Perfil de habilidades cognitivas não-verbais na Síndrome de Down. Rev Bras Educ Espec. 2015;21(2):213-28. http://dx.doi.org/10.1590/s1413-65382115000200004
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. A prevalência é de 1:700 nascidos vivos22. Fonseca EB, Dantas TC, Vendel AL, Delgado IC. Trissomia 21: um primeiro olhar sobre o desenvolvimento infantil. João Pessoa, PB: Instituto Primeiro Olhar; 2021..

Pessoas com T21 apresentam características peculiares como atrasos globais no desenvolvimento da linguagem oral e escrita, hipotonia muscular, alterações cardíacas e pulmonares, dentre outras. Porém, é importante mencionar que o nível de comprometimento das funções pode variar entre os sujeitos33. Lamônica DAC, Ferreira-Vasques AT, Tragueta A. A influência da estimulação precoce, aquisição lexical e comunicação gestual na linguagem oral de crianças com Síndrome de Down. In: Delgado IC, editor. Contribuições da fonoaudiologia na síndrome de Down. 1ed. Ribeirão Preto: Booktoy; 2016. p.83-94..

Sendo assim, a T21 pode trazer prejuízos para a linguagem em virtude das alterações neurológicas, sensoriais, auditivas e intelectuais. A competência lexical é uma habilidade extremamente importante e necessária para os demais subsistemas da linguagem oral e preditora para a aprendizagem da linguagem escrita. Seu desenvolvimento tem início aos 12 meses e pode ser influenciado por diversos fatores como: interações sociais, ambientes ricos em linguagem, dentre outros. Esse processo não é linear, é complexo e multifacetado44. Nóro LA, Mota HB. Relationship between mean length of utterance and vocabulary in children with typical language development. Rev. CEFAC. 2019;21(6):e4419. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0216/20192164419
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,55. Silva C da, Alves P do V. Vocabulary performance of students with and without difficulties learning to read and write. Rev. CEFAC. 2021;23(3):e12020. https://doi.org/10.1590/1982-0216/202123312020
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É visto que a competência lexical em pessoas com T21 inicia-se em torno dos 18 a 24 meses, sendo o vocabulário expressivo com maiores prejuízos quando comparadas a pessoas com o desenvolvimento típico66. Barbosa TMMF, Alves GAS, Montenegro ACA, Delgado IC. Memória operacional e repercussões no vocabulário expressivo na síndrome de Down. PROLÍNGUA. 2020;15(2):227-41.. Isso pode acontecer devido a problemas auditivos que podem vir associados à síndrome, dificuldade nas funções executivas e atraso nos níveis da linguagem (fonológico, pragmático, semântico e sintático), sendo o nível semântico a base para a aquisição dos demais subsistemas da linguagem77. Lima ILB, Delgado IC, Cavalcante MCB. Language development in Down syndrome: literature analysis. Distúrb. Comunic. 2017;29(2):354-6. http://dx.doi.org/10.23925/2176-2724.2017v29i2p354-36
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Além dos desafios enfrentados na aquisição lexical, pessoas com T21 também podem apresentar dificuldades em outras habilidades cognitivas essenciais. Estudos têm destacado a importância da Memória de Trabalho (MT) nesse contexto. A MT é compreendida como a habilidade de armazenamento e manipulação dos estímulos propostos. É necessária para que as pessoas consigam desenvolver atividades complexas como raciocínio, aprendizagem e compreensão, sendo importante ter a retenção, o processamento, a manipulação e a compreensão para, por fim, poderem ser evocadas durante um diálogo88. Lima AA. Desenvolvimento da linguagem oral e da memória de trabalho em indivíduos com síndrome de Down por meio da recontagem de histórias. [Dissertação]. Vitória da Conquista (Bahia): Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; 2018.. Autores apontam uma maior dificuldade em pessoas com T21 no componente fonológico da MT66. Barbosa TMMF, Alves GAS, Montenegro ACA, Delgado IC. Memória operacional e repercussões no vocabulário expressivo na síndrome de Down. PROLÍNGUA. 2020;15(2):227-41..

A Consciência Sintática (CS) é outra importante habilidade linguística que pode ser afetada em indivíduos com T21. Essa habilidade envolve a compreensão e a capacidade de manipular as estruturas gramaticais da linguagem, como frases, orações e suas relações. Indivíduos com T21 podem encontrar desafios na identificação de diferentes elementos sintáticos, como sujeito, verbo, objeto e, também, na compreensão das relações de concordância e regência entre as palavras99. Barbosa VM, Silva C da. Correlation between receptive vocabulary skill, syntactic awareness, and word writing. Rev. CEFAC. 2020;22(3):e2420. https://doi.org/10.1590/1982-0216/20202232420
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A intervenção fonoaudiológica representa um papel crucial na manutenção, na relevância de abordar essas dificuldades e na qualidade de vida de pessoas com T21. Quando é direcionada a esse público, visa estimular habilidades linguísticas e de comunicação, promovendo a melhoria na inteligibilidade da fala e no vocabulário compreensivo e expressivo, desempenhando um papel fundamental na maximização do potencial de comunicação e na compreensão das pessoas com T211010. Regis MS, Lima ILB, Almeida LNA, Alves GAS, Delgado IC. Speech-language therapy stimulation in children with Down's syndrome. Rev. CEFAC. 2018;20(3):271-80. https://doi.org/10.1590/1982-0216201820319617
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A escolha dessas habilidades para compor um plano de intervenção busca promover maior autonomia para exercer suas atividades acadêmicas e laborais, podendo apresentar ganhos nas formas de se comunicar e de se relacionar, trazendo um maior empoderamento e abrindo portas para inserção deste público no mercado de trabalho1111. Barbosa TMMF, Lima ILB, Alves GÂ dos S, Delgado IC. Contributions of speech-language therapy to the integration of individuals with Down syndrome in the workplace. CoDAS. 2018;30(1):e20160144. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20172016144 PMID:29513864.
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Com base no exposto, é necessário responder a pergunta de pesquisa: qual conteúdo deve ser proposto em um plano de intervenção para adolescentes e jovens com trissomia do 21?

Este estudo apresenta como hipótese que o plano de intervenção para adolescentes e jovens com trissomia do 21 apresentará um conteúdo validado pelos juízes, sendo estruturado com base na estimulação das demandas de linguagem, memória de trabalho e consciência sintática deste público.

A partir desse estudo será possível traçar novas metas para a intervenção fonoaudiológica para a pessoa com T21, a fim de favorecer uma prática baseada em evidência. Atualmente, são vistos escassos estudos sobre T21 e linguagem em adolescentes e jovens, podendo dificultar o manejo clínico-educacional com o público em questão. Sendo assim, vê-se a necessidade de desenvolver estudos nessa área, a fim de diminuir as queixas apontadas pelos familiares, cuidadores, professores e sociedade em geral, presentes no contexto social das pessoas com T21.

Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo elaborar e validar o conteúdo de um plano de intervenção para adolescentes e jovens adultos com T21 focado em vocabulário, memória de trabalho e consciência sintática.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo metodológico, com etapas de validação de proposta de intervenção.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, Brasil, sob número de protocolo 6.196.860 e CAEE 71203223.1.0000.5188, portanto, foi aplicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com o que é recomendado pela resolução 466/12 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Para a construção do plano de intervenção que será apresentado, foi realizada uma revisão na literatura para identificação das habilidades com maiores dificuldades a serem trabalhadas. Para a validação do conteúdo proposto para o plano de intervenção, quanto ao número de sessões e às atividades indicadas, foi realizada uma avaliação com um grupo de juízes.

Os juízes foram selecionados por meio de uma amostragem não probabilística por conveniência. Os critérios de elegibilidade foram: profissionais fonoaudiólogos atuantes em linguagem com a trissomia do 21, apresentar mais de 5 anos de atuação, ter publicações ou pesquisar sobre o tema e realizar intervenção fonoaudiológica com o público-alvo. A literatura recomenda de 5 a 10 juízes1212. Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Ciênc saúde coletiva. 2011;16(7):3061-8. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006
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O primeiro contato foi realizado por e-mail para dez profissionais, sendo feito o convite e envio do questionário que iniciou com o termo de consentimento e as questões para avaliação do plano. Foram obtidas dez respostas. O e-mail continha informações sobre o objeto de estudo da pesquisa, uma breve explicação sobre o plano e o motivo pelo qual aquele profissional havia sido escolhido.

Na Tabela 1 encontram-se os dados sociodemográficos dos juízes da presente pesquisa.

Tabela 1
Dados sociodemográficos dos juízes

Observa-se que os juízes cumpriram todos os requisitos de elegibilidade da pesquisa.

O questionário foi feito na plataforma Google Forms, dividido em duas partes: dados sociodemográficos e análise do plano de intervenção. A primeira seção tinha como objetivo ter conhecimento do grau acadêmico dos participantes, anos de profissão, se realizavam intervenção fonoaudiológica em linguagem para pessoas com T21 e se realizaram cursos de aperfeiçoamento na área.

A última seção foi constituída de nove proposições que os juízes deveriam analisar por meio da escala Likert de 4 pontos (discordo, concordo pouco, concordo, concordo muito). As proposições foram descritas com base na literatura1313. Loch MR, Lemos EC de, Jaime PC, Rech CR. Development and validation of an instrument to evaluate interventions in relation to Health Promotion principles. Epidemiol Serv Saude. 2021;30(3):e2020627. http://dx.doi.org/10.1590/s1679-49742021000300005
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,1414. Luís C, Abrantes A, Oliveira C, Alves M, Martins JH. Auditory processing intervention program for school-aged children - development and content validation. CoDAS. 2023;35(1):e20210146. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20212021146pt PMID: 36327393.
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e buscavam compreender se a intervenção atendia de forma diferenciada o público em questão, se estimulava o desenvolvimento de habilidades pessoais buscando maior autonomia, se as instruções para os procedimentos eram adequadas, se as competências de linguagem selecionadas eram satisfatórias, se o programa era adequado para o público que se destinava, se apresentava o número de sessões adequados e, por fim, se a organização das tarefas em níveis de dificuldade era adequada. Ao final, destinou-se um espaço para que os juízes adicionassem informações que julgassem necessárias.

Para avaliação do conteúdo de forma quantitativa, foi utilizado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC). Seu escore é obtido pelo cálculo do número de itens marcados com 3 ou 4 na escala Likert dividido pelo número total de respostas. Para esse estudo, utilizou-se a concordância mínima (valor de corte) de 0,78. Sendo assim, a pontuação mínima para validar o conteúdo foi de 0,78. Itens marcados com 1 ou 2 na escala likert foram revisados1212. Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Ciênc saúde coletiva. 2011;16(7):3061-8. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006
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,1515. Souza AC de, Alexandre NMC, Guirardello E de B, Souza AC de, Alexandre NMC, Guirardello E de B. Propriedades psicométricas na avaliação de instrumentos: avaliação da confiabilidade e da validade. Epidemiol Serv Saude. 2017;26(3):649-59. http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742017000300022
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. As sugestões que os juízes deixaram no espaço proposto, foram analisadas de forma qualitativa.

RESULTADOS

O plano de intervenção em linguagem oral com foco em vocabulário, memória de trabalho e consciência sintática foi elaborado para adolescentes e jovens adultos entre 13 e 25 anos e 11 meses. A proposta contempla 15 sessões de 40 minutos, semanalmente.

Os objetivos foram traçados por meio de uma hierarquia de aquisição. As cinco primeiras sessões foram focadas no desenvolvimento do vocabulário. Nesse período, foi trabalhado intensivamente para expandir o repertório de palavras do paciente, ajudando-o a adquirir novos termos e a compreender seus significados. Foram propostos materiais interativos, jogos de associação de palavras e exercícios de categorização para tornar o aprendizado do vocabulário mais efetivo.

A partir da sexta sessão até a décima, as sessões tiveram foco na melhoria da memória de trabalho. Essa habilidade é essencial para o processamento da informação, constituindo a base para realização de tarefas cognitivas complexas. Foram propostos exercícios de repetição e sequenciamento de eventos para fortalecer a capacidade de reter e manipular informações na mente.

As cinco últimas sessões tiveram como objetivo trabalhar a consciência sintática. A consciência sintática envolve a compreensão das estruturas gramaticais das frases. Foram propostos jogos linguísticos e exercícios de análise gramatical oral e prática de construção de frases para aprimorar essa habilidade.

Para os procedimentos, foram utilizados, em média, três diferentes abordagens lúdicas semiestruturadas em cada sessão, as quais foram baseadas em atividades comuns da prática fonoaudiológica.

Caso o paciente não consiga corresponder aos procedimentos em uma sessão, a proposta prevê o ajuste do nível de suporte terapêutico. Na sessão seguinte, devem ser retomados os procedimentos da sessão anterior sem suporte, permitindo que o paciente se desafie gradualmente e desenvolva suas habilidades.

O plano terapêutico está exposto a seguir:

Quadro 1
Plano terapêutico em linguagem oral com foco em vocabulário, memória de trabalho e consciência sintática para pessoas com T21

Pode-se observar na Tabela 2 o valor do IVC de cada item. O escore total do IVC foi 0,85.

Tabela 2
Valor do Índice de Validade do Conteúdo para cada item

Em todas as proposições, foi atingindo o escore mínimo e, no espaço destinado às sugestões, alguns juízes colocaram o que poderia ser melhorado. Algumas sugestões foram acatadas.

Foi sugerido por um juiz a possibilidade de haver registro das respostas dos participantes, como também, promover orientação parental para continuidade das atividades em ambiente domiciliar. Também foi solicitado que ampliasse o número de sessões para maior generalização pelo público que se destina.

DISCUSSÃO

O propósito central desse estudo reside na formulação e validação de conteúdo de um plano de intervenção destinado a adolescentes e jovens com T21. Este plano focalizou em três elementos cognitivos essenciais: vocabulário, memória de trabalho e consciência sintática. Por meio de um percurso de desenvolvimento e avaliação minucioso, este estudo alcançou o escore mínimo necessário para a validação de conteúdo.

De forma geral, a elaboração e a validade de conteúdo são as primeiras partes essenciais para continuidade da pesquisa. Por meio dessa etapa, é possível verificar se cada item apresenta representatividade e é relevante. Para isso, é preciso passar por algumas etapas: definição do constructo, desenvolvimento do instrumento, revisão por especialistas, análise do conteúdo, cálculo do Índice de Validade de Conteúdo (IVC), avaliação e revisão1616. Crestani AH, Moraes AB de, Souza APR de. Content validation: clarity/relevance, reliability and internal consistency of enunciative signs on language acquisition. CoDAS. 2017;29(4):e20160180. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201720160180 PMID: 28813071.
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.

As habilidades contempladas no plano interventivo são a memória de trabalho, o vocabulário e a consciência sintática. A primeira apresenta quatro subsistemas, sendo eles: alça fonológica, visuoespacial, executivo central e buffer episódico. Indivíduos com T21, nos estudos, apresentam grande dificuldade, principalmente na alça fonológica, e melhor desempenho no subsistema visuoespacial1717. Lima AA, Ghirello-Pires CSA. Desenvolvimento da Linguagem Oral e da Memória de Trabalho em Indivíduos com Síndrome de Down por meio da Recontagem de Histórias. Rev. Mult. Psic. 2019;13(46):212-30. http://dx.doi.org/10.14295/idonline.v13i46.1816
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.

Barbosa66. Barbosa TMMF, Alves GAS, Montenegro ACA, Delgado IC. Memória operacional e repercussões no vocabulário expressivo na síndrome de Down. PROLÍNGUA. 2020;15(2):227-41. aponta, no seu estudo, a relação entre vocabulário e memória de trabalho na T21, sendo que os indivíduos que apresentaram maiores respostas no teste da competência lexical expressiva também apresentaram bons resultados na prova de memória. Sendo assim, é possível observar que vocabulário e memória de trabalho estão interligados e se complementam.

A CS é uma habilidade prejudicada na T21, que impacta diretamente na aprendizagem da leitura e escrita. Necessita de outras habilidades para seu bom desempenho, como a MT. Sendo assim, sua função é que os indivíduos sejam capazes de compreender as estruturas gramaticais das frases e como as palavras se relacionam umas com as outras1818. Segin M. Alfabetização e deficiência intelectual: estudo sobre o desenvolvimento de habilidades fonológicas em crianças com síndrome de Williams e síndrome de Down [tese]. São Paulo (SP): Universidade Presbiteriana Mackenzie; 2014..

Esse estudo contou com a participação de dez juízes, sendo um bom número de acordo com a literatura1212. Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Ciênc saúde coletiva. 2011;16(7):3061-8. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006
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,1616. Crestani AH, Moraes AB de, Souza APR de. Content validation: clarity/relevance, reliability and internal consistency of enunciative signs on language acquisition. CoDAS. 2017;29(4):e20160180. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201720160180 PMID: 28813071.
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. Todos os peritos dessa pesquisa contemplaram os critérios de elegibilidade.

O IVC, que é bastante utilizado na área da saúde, mede a proporção da concordância dos juízes em relação aos tópicos. Por meio dele, é possível verificar itens isolados, como, também, a concordância do instrumento completo. Recomenda-se uma taxa de concordância mínima de 0,78 e, para excelente concordância, espera-se 0,90 ou mais1919. Coluci MZO, Alexandre NMC, Milani D. Construção de instrumentos de medida na área da saúde. Ciênc saúde coletiva. 2015;20(3):925-36. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015203.04332013
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Observam-se muitos estudos com a temática da Trissomia do 21, porém poucos são referentes à intervenção. Sendo assim, apresentar estratégias para estimulação precoce aumenta a estimulação da plasticidade cerebral das crianças1010. Regis MS, Lima ILB, Almeida LNA, Alves GAS, Delgado IC. Speech-language therapy stimulation in children with Down's syndrome. Rev. CEFAC. 2018;20(3):271-80. https://doi.org/10.1590/1982-0216201820319617
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. A Fonoaudiologia tem um papel fundamental no desenvolvimento e aprimoramento das habilidades neste público, principalmente em relação à comunicação. Propor estratégias terapêuticas pode auxiliar os terapeutas que estão em clínicas2020. Cruz BW da, Sousa CC de A, Farias RRS de. Os benefícios da intervenção fonoaudiológica em bebês com sindrome de Down: revisão sistemática. Res Soc Dev. 2021;10(1):e23210111694. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i1.11694
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.

O questionário de avaliação do plano teve como base uma pesquisa realizada na literatura1313. Loch MR, Lemos EC de, Jaime PC, Rech CR. Development and validation of an instrument to evaluate interventions in relation to Health Promotion principles. Epidemiol Serv Saude. 2021;30(3):e2020627. http://dx.doi.org/10.1590/s1679-49742021000300005
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,1414. Luís C, Abrantes A, Oliveira C, Alves M, Martins JH. Auditory processing intervention program for school-aged children - development and content validation. CoDAS. 2023;35(1):e20210146. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20212021146pt PMID: 36327393.
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com algumas modificações para se adequar ao plano proposto.

Estudos apontam a dificuldade das pessoas com T21 nas habilidades propostas e apresentam que, se estimuladas, tem-se uma melhora significativa na linguagem e em seus subsistemas66. Barbosa TMMF, Alves GAS, Montenegro ACA, Delgado IC. Memória operacional e repercussões no vocabulário expressivo na síndrome de Down. PROLÍNGUA. 2020;15(2):227-41.. Pela intervenção fonoaudiológica nessas habilidades, pode-se trazer resultados positivos na construção e organização do discurso verbal, bem como de textos escritos, podendo contribuir para o empoderamento das pessoas com T211111. Barbosa TMMF, Lima ILB, Alves GÂ dos S, Delgado IC. Contributions of speech-language therapy to the integration of individuals with Down syndrome in the workplace. CoDAS. 2018;30(1):e20160144. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20172016144 PMID:29513864.
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.

A potencial adaptabilidade do plano de intervenção proposto neste estudo para outras condições apresenta-se como uma perspectiva promissora para a ampliação do impacto positivo. No entanto, é importante destacar a necessidade de condução de estudos futuros que busquem avaliar o sucesso dessa abordagem em diferentes públicos. A generalização de estratégias de intervenção requer uma compreensão abrangente de como variáveis contextuais e características individuais podem influenciar os resultados. Portanto, para assegurar a eficácia e a relevância do plano em distintos cenários, é necessário realizar pesquisas adicionais que explorem a adaptabilidade e os possíveis ajustes necessários para atender às nuances específicas de diferentes grupos de indivíduos.

Além da validação de conteúdo, é essencial considerar outras formas de validação que enriqueçam a robustez e a confiabilidade dos resultados obtidos. A validade de construto emerge como um ponto crucial, exigindo uma análise mais aprofundada das relações teóricas subjacentes ao plano de intervenção. A clareza e a coerência conceitual são fundamentais para estabelecer a validade de construto, garantindo que as medidas adotadas realmente mensurem aquilo que se propõem a avaliar. Paralelamente, a validade de critério e de predição oferece uma abordagem prática para avaliar a eficácia do plano em relação a critérios estabelecidos e sua capacidade de prever resultados futuros2121. Andrade RD, Schwartz GM, Tavares GH, Pelegrini A, Teixeira CS, Felden EPG. Validade de construto e consistência interna da Escala de Práticas no Lazer (EPL) para adultos. Ciênc saúde coletiva. 2018;23(2):519-28. https://doi.org/10.1590/1413-81232018232.11492016
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,2222. Oliveira D, Walter SA e B, Tatiana M. Critérios de validade em pesquisas em estratégia: uma análise em artigos publicados no EnAnpad de 1997 a 2010. RAM. Revista de Administração Mackenzie. 2012;13(6):225-54. https://doi.org/10.1590/S1678-69712012000600010
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.

Nesse sentido, é importante considerar futuras investigações que aprofundem a análise das validades mencionadas, contribuindo para uma compreensão mais abrangente e sólida dos efeitos do plano de intervenção proposto. Além disso, que novos estudos se desenvolvam para ampliar o leque de intervenções fonoaudiológicas com esse público. As próximas etapas dessa pesquisa são as demais validades mencionadas e a aplicação do plano com o público proposto. São consideradas limitações do estudo a faixa etária estendida, a fim de se alcançar um número propício de participantes, no intuito de que os objetivos sejam alcançados de forma assertiva.

CONCLUSÃO

Na presente pesquisa, foi possível apresentar o processo de desenvolvimento e validação do Plano Terapêutico em Linguagem Oral com foco em Vocabulário, Memória de Trabalho e Consciência Sintática para pessoas com T21. Houve validade do conteúdo de acordo com os juízes, podendo seguir para as próximas etapas.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES).

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  • Estudo realizado na Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil.
  • Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Número do processo: 88887.672329/2022-00.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    23 Set 2023
  • Aceito
    03 Nov 2023
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