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Tradução da escrita feminina contemporânea na Espanha: “Operación Cancelada”, de Rosario Pérez Blanco

Translation of contemporary women’s writing in Spain: “Operación cancelada” by Rosario Pérez Blanco

RESUMO

Este artigo é fruto de uma pesquisa colaborativa, no âmbito dos estudos de Tradução Literária, entre o grupo Traducere (UFSM/UEMS, Brasil) e o grupo de escrita criativa El Laurel de la Azotea (Granada, Espanha). O objetivo da pesquisa é conhecer e traduzir obras literárias de escritoras espanholas contemporâneas para, em seguida, apresentar traduções anotadas e/ou comentadas no contexto brasileiro. A partir do diálogo com o grupo espanhol, selecionamos narrativas breves para em seguida traduzi-las. A pesquisa contempla um grupo de alunos brasileiros e, portanto, abarca também o ensino de tradução. Realizamos, nesse artigo, a tradução do relato Operación cancelada, publicado em 2019, por Rosario Pérez Blanco, uma das escritoras integrantes de El Laurel de la Azotea. Além da tradução propriamente dita, abordamos o contexto de produção do texto de partida e discutimos as soluções tradutórias encontradas. Os aportes teóricos estão pautados nos seguintes críticos: Carvalhal (2003), Paz (2009), Rónai (1985), Navarro (2000), Mangueira (2018), Andreta (2021), Sant’Anna (1996), Torres (2017).

PALAVRAS-CHAVE:
Tradução; escrita feminina; Rosário Pérez Blanco; conto; literatura espanhola

ABSTRACT

This article is the result of a collaborative research in Literary Translation between the groups Traducere (UFSM/UEMS, Brazil) and the El Laurel de la Azotea creative writing group (Granada, Spain). This research aimed to translate and recognize literary works of contemporary Spanish women writers to present annotated and/or commented translations according to the Brazilian context. Through discussions with the Spanish group, it was selected the short stories to be translated. A group of Brazilian students participated in this research and, therefore, it was approached the teaching of translation. It was translated the short story Operación cancelada published in 2019 by Rosario Pérez Blanco, who is one of the writers in the El Laurel de la Azotea group. Besides translating, it was approached the source text production context and it was discussed the translation solutions found. The theoretical contributions are based on the following critics: Carvalhal (2003), Paz (2009), Rónai (1985), Navarro (2000), Mangueira (2018), Andreta (2021), Sant’Anna (1996).

KEYWORDS:
Translation; Women’s writing; Rosário Pérez Blanco; short story; Spanish literature

INTRODUÇÃO

[...] Fazia mais de um mês que tinha se mudado para a casa da tia Inês, abandonando a casa paterna. Era uma mulher sozinha, jovem e independente.

A tia Inês era quem a tinha criado desde criança. [...]

[...] Deixou-lhe de herança a casa da laranjeira e tudo o que ela continha ‘para quando quiser estar sozinha’.

[...] Quando ela chegou, padecia da decrepitude e do abandono. As portas rangiam, o teto tinha goteiras; sofria do reumatismo da umidade e da clausura. [...]

(BELLI, 2000BELLI, Gioconda. A mulher habitada. Tradução de Enrique Boero Baby. Rio de Janeiro: Record, 2000., p. 10-11)

[...] uma mulher, se quiser escrever literatura, precisa ter dinheiro e um quarto só seu. [...] as mulheres e a literatura, no que me diz respeito, continuam a ser problemas não resolvidos.

(WOLF, 1985WOOLF, Virginia.Um teto todo seu. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985., p. 8)

A escrita de autoria feminina liga-se à problemática do espaço doméstico, em específico, ao domicílio da mulher, local que lhe foi destinado pelo patriarcado. Este espaço configurou-se - e ainda se configura - como uma forma de aprisionamento e restrição de sua liberdade de locomoção e atividades laborativas, que ficavam circunscritas à casa e aos seus arredores.

Diante dessa realidade, escrever era uma tarefa que, geralmente, cabia aos homens, assim como o seu lugar de atuação era o espaço externo, com liberdade ampla e irrestrita. Para adentrar esse âmbito tão austero e rigoroso, as mulheres precisaram encontrar um “cômodo todo seu”, um aposento que lhes garantisse paz e tranquilidade para poder escrever e contar suas histórias e, em suma, alcançar autonomia e se desvincular da residência e dos afazeres domésticos. Essa autonomia, contudo, era relativa, pois a maioria das escritoras, além de se dedicarem ao ofício da escrita, permaneceram atreladas às obrigações com o lar, os filhos, o marido e com a sociedade, que continua a se pautar pelo sistema patriarcal.

A conquista de um recanto dentro da sua morada é um primeiro passo para que as mulheres tenham condições para se consagrar ao processo de escritura de textos ficcionais, ensaísticos, memorialísticos... É uma base que serve como sustentação para voos mais amplos, para desafios e aventuras num campo ainda dominado por figuras masculinas.

Dessa maneira, divulgar criações textuais de autoria feminina é uma forma de ajudar a romper a hegemonia do sexo oposto e revelar o talento e a capacidade narrativa de escritoras que desejam, além de um recinto para poder trabalhar, marcar e solidificar suas ações no mundo contemporâneo, a fim de garantir que igualdade, liberdade e direitos possam ser estendidos a toda e qualquer representante do sexo feminino, seja lá qual for o ofício ou profissão que exerça.

Levando em conta as premissas acima, nosso objetivo é evidenciar as produções de autoras espanholas contemporâneas por meio da tradução, interpretação e comentários a respeito do processo tradutório do conto Operación cancelada, de Rosario Pérez Blanco, escritora que faz parte do grupo El Laurel de la Azotea, almejando divulgar sua obra no sistema literário brasileiro e contribuir também para que se estabeleçam diálogos entre seus textos e a nossa literatura.

TRADUÇÃO E SISTEMAS LITERÁRIOS

A difusão de textos de escritores estrangeiros por meio das traduções tem se ampliado e, a cada dia, tomamos contato com novas obras, que vão estabelecer relações de convergências e divergências com aquelas que conformam o sistema literário do nosso país. Essa premissa é válida para toda e qualquer nação na qual se insira um escrito traduzido de um(a) escritor(a) oriundo de um outro país. A esse respeito, o crítico e poeta Octavio Paz (2009PAZ, Octavio. Tradução: literatura e literalidade. Edição bilíngue. Ensaio traduzido por Doralice Alves de Queiroz. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2009. ) tece as seguintes ponderações:

[...] Por um lado a tradução suprime as diferenças entre uma língua e outra; por outro, as revela mais plenamente: graças à tradução, nos inteiramos de que nossos vizinhos falam e pensam de um modo distinto do nosso. Em um extremo o mundo se apresenta para nós como uma coleção de heterogeneidades; no outro, como uma superposição de textos, cada um ligeiramente distinto do anterior: traduções de traduções de traduções. Cada texto é único e, simultaneamente, é a tradução de outro texto. Nenhum texto é inteiramente original, porque a própria linguagem em sua essência já é uma tradução: primeiro, do mundo não-verbal e, depois, porque cada signo e cada frase é a tradução de outro signo e de outra frase. Mas esse raciocínio pode se inverter sem perder sua validade: todos os textos são originais porque cada tradução é distinta. Cada tradução é, até certo ponto, uma invenção e assim constitui um texto único. (PAZ, 2009PAZ, Octavio. Tradução: literatura e literalidade. Edição bilíngue. Ensaio traduzido por Doralice Alves de Queiroz. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2009. , p. 13-14)

As traduções possibilitam estabelecer um profícuo diálogo entre as distintas tessituras textuais, fazendo com que o que é próprio, específico de uma região, de um autor, estabeleça laços com o que lhe é alheio, distinto e, muitas vezes, acaba por desvelar semelhanças e similaridades insuspeitadas. Elas são vitais para que os leitores possam tomar contato com novas produções ficcionais, poéticas, dramatúrgicas e, assim, renovam e possibilitam um “comércio” invisível de ideias, de temáticas, de peculiaridades que só se concretizam por intermédio da transposição de uma obra para outras línguas.

Nesse sentido, a estudiosa Tania Carvalhal (2003CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio. São Leopoldo: Ud. Unisinos, 2003.) salienta um fato que envolve essa transposição e que muitas vezes passa despercebido:

As traduções têm sido insuficientemente estudadas, como textos literários. Em geral, são vistas como “intermediárias”, elementos importantes nas trocas e intercâmbios culturais. [...]

Sabe-se que, mesmo que vários leitores possam ler uma obra no original, o texto não integra o sistema literário enquanto não for traduzido, enquanto uma forma apropriada ou uma dicção própria não for alcançada na tradição que passa a integrar. [...] Frequentemente, a obra traduzida é que diretamente ecoa nos leitores e não o original. [...] (CARVALHAL, 2003CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio. São Leopoldo: Ud. Unisinos, 2003., p. 230)

Além disso, é inquestionável que os textos traduzidos sempre agregam algo inovador ao sistema literário ao qual passam a integrar, a partir das suas traduções. Assim, eles surgem permeados por visões/interpretações críticas:

Quando o texto é traduzido pela primeira vez, um certo aparato crítico acompanha a tradução. Geralmente, o próprio tradutor ou algum crítico explicam por que o livro foi traduzido e mesmo como foi. Nesse contexto, a crítica literária que avalia a tradução feita é igualmente importante. Ela tem uma função decisiva na recepção de um dado texto, situando os leitores com relação ao autor, à literatura de origem e preparando o terreno para sua adequada leitura. [...] (CARVALHAL, 2003CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio. São Leopoldo: Ud. Unisinos, 2003., p. 231-232)

Na recepção de uma obra vertida para outro idioma, configuram-se aspectos de suma importância e que possibilitam alargar os ângulos de observação, pois se examina não só o texto traduzido, “mas também a literatura a que pertence e a literatura que vai integrar. A ênfase recai não apenas no objeto recebido, mas no sistema receptor” (CARVALHAL, 2003CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio. São Leopoldo: Ud. Unisinos, 2003., p. 233).

É relevante, portanto, observar e discutir como e por que determinado texto foi traduzido, que lugar pode passar a ocupar no novo sistema literário, quais são as variações introduzidas por ele em tal sistema e, dessa maneira,

[...] a obra literária traduzida passa a ter um tratamento crítico semelhante ao atribuído às obras literárias originais, equivalendo a elas no exame das alterações por que passa um dado sistema literário, como ele se constitui em tradição, em avanços e retrocessos, em continuidade e rupturas. (CARVALHAL, 2003CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio. São Leopoldo: Ud. Unisinos, 2003., p. 233)

A obra traduzida vai estabelecer conexões com a tradição, ensejando rupturas e continuidades ao ser inserida em um novo sistema literário. Balizados pela premissa acima, propomos realizar a tradução inédita para a língua portuguesa do conto Operación cancelada, da escritora madrilenha Rosario Pérez Blanco, que faz parte do livro de contos Espacios sin cobertura (2019, p. 97-100). Optamos pela elaboração de uma tradução acrescida de comentários sobre o processo tradutório, de acordo com o que assevera Torres (2017TORRES, Marie-Hélène. Por que e como pesquisar a tradução comentada? In: FREITAS, Luana Ferreira de; TORRES, Marie Hélène Catherine; COSTA, Walter Carlos (orgs.). Literatura traduzida: tradução comentada e comentários da tradução. Fortaleza: Substânsia, 2017. p. 15-35. Disponível em: Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/40930/1/2017_capliv_mhtorres.pdf . Acesso em: 12 fev. 2022.
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), a tradução comentada é “[…] cada vez mais estudada e pesquisada na academia, pois além de partir do exercício da tradução em si, trabalha com a crítica e a história da tradução e promove uma autoanálise por parte do tradutor-pesquisador acerca da tradução na sua relação com o comentário” (TORRES, 2017TORRES, Marie-Hélène. Por que e como pesquisar a tradução comentada? In: FREITAS, Luana Ferreira de; TORRES, Marie Hélène Catherine; COSTA, Walter Carlos (orgs.). Literatura traduzida: tradução comentada e comentários da tradução. Fortaleza: Substânsia, 2017. p. 15-35. Disponível em: Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/40930/1/2017_capliv_mhtorres.pdf . Acesso em: 12 fev. 2022.
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, p. 01).

Além disso, nossa proposta visa a ressaltar a importância da escrita de autoria feminina na contemporaneidade. Neste sentido, a voz de Pérez Blanco, em um relato intimista, pode demonstrar que, apesar da distância geográfica entre Espanha e Brasil, há questões ainda não resolvidas e que são compartilhadas por mulheres em várias partes do mundo.

OPERACIÓN CANCELADA

Rosario Pérez Blanco, mais conhecida como Charo Blanco, nasceu em Madri, em 1958. É licenciada em Filosofia e Ciências da Educação pela Universidade Complutense. Trabalhou como professora em Madri e Granada. Ainda durante os anos que viveu em Madri, por causa de uma reforma em seu apartamento, viveu algum tempo na Casa do Brasil, localizada em Moncloa, próximo do bairro de Argüelles, onde se passa Operación cancelada. Segundo a autora, o tempo vivido na instituição que reúne brasileiros - especialmente estudantes e pesquisadores - fez com que se sentisse mais próxima da cultura brasileira e simpatizasse com nossa língua.

Além de seu trabalho como professora, Charo foi membro da Associação de Poesia Prometheus, do Grupo Poético da Sala de Reuniões do Círculo de Bellas Artes de Madrid e do Encontro da Sala de Granada. Atualmente colabora com a Associação UNIGRAMA, braço da Universidade de Granada que se dedica ao público da terceira idade, coordenando oficinas de escrita criativa. Publicou vários livros, entre eles Un romántico in-docente (2016, romancePÉREZ BLANCO, Rosario. Un romántico in-docente. Granada: Artificios, 2016.), Naufragios transparentes (2017, poesia) e Amor con humor se paga (2017, antologia de relatos organizada por Elvira CámaraCÁMARA, Elvira (org.). Amor con humor se paga. Granada: Artificios, 2017.). Seu último trabalho foi o livro de contos Espacios sin cobertura (2019).

Em relação aos temas e assuntos tratados nessa última obra, julgamos relevante transcrever as informações que se encontram na sua contracapa:

Homens e mulheres, crianças ou idosos, românticos ou materialistas, crentes ou céticos..., aproximam-se do limite em que se revelam as suas personalidades. A autora seleciona e aguarda o momento ideal de suas vidas, para nos mostrar as luzes e sombras da natureza humana. Conhece bem o coração do homem, suas motivações e desejos. Nessa luta para realizar seus desejos ou restaurar a justiça, tratam de seus assuntos com “pequenos acertos de contas”. Por sua própria vontade ou por obra de uma vontade superior, vão se movendo os fios de sua existência. Histórias que vão além do realismo e apontam para outra realidade. Uma viagem à esfera íntima da consciência para compreender melhor os conflitos que surgem nas relações, sejam elas de trabalho, família, casal ou amizade. Páginas cheias de humanidade onde se revela o lado mais belo e mesquinho da existência. (PÉREZ BLANCO, 2019PÉREZ BLANCO, Rosario. Operación cancelada. In: PÉREZ BLANCO, Rosario. Espacios sin cobertura. Granada: Istoríes, 2019. p. 97-100., n.p.)

Aproximando-se de um momento epifânico das vidas de suas personagens, a escritora madrilenha radicada em Granada brinda o seu leitor com pequenas pérolas literárias que iluminam o humano com todas as suas idiossincrasias, mesquinharias e impetuosidades. O livro em epígrafe, conforme informações sobre sua apresentação, ocorrida em 18 de novembro de 2019, na antiga Faculdade de Medicina de Granada, em Aula 2, Espacio V Centenario, compõe-se de vinte contos que têm como foco o conflito de e entre personagens em momentos decisivos que precisam ser enfrentados em solidão (ROSARIO ..., 2019ROSARIO PÉREZ BLANCO presenta en la antigua Facultad de Medicina su libro de cuentos, ‘Espacios sin cobertura’. 17 nov. 2019. Disponível em: Disponível em: https://en-clase.ideal.es/2019/11/17/rosario-perez-blanco-presenta-en-la-antigua-facultad-de-medicina-su-libro-de-cuentos-espacios-sin-cobertura/ . Acesso em: 05 jan. 2022.
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, n.p.). As decisões, portanto, deverão ser tomadas solitariamente, o que enfatiza a reflexão interna das personagens com suas angústias, memórias e desejos mais recônditos. Assim, a autora seleciona um momento da vida de homens e mulheres para nos mostrar a natureza humana.

Nessa luta dos personagens para alcançar seus anseios ou desejos, vai se tecendo a trama que conduz a uma mudança e, por meio da memória, a autora viaja a partir de sua infância até a sua maturidade para nos mostrar algumas das peculiaridades da consciência humana. Os relatos transcorrem em diferentes contextos: sociais, familiares, laborais, domésticos e aludem a “espaços sem cobertura”, lugares sem amparo, nos quais é necessário tomar decisões pessoais que conduzem à mudança mencionada anteriormente, que pode ser externa ou interna. Dessa maneira, os acontecimentos narrados se sucedem para gerar mais perguntas que respostas no leitor, exigindo que deixe de lado a sua passividade e seja um participante ativo na sua interpretação.

Rosario Pérez Blanco é integrante de um grupo de escrita criativa granadina, composto somente por mulheres, denominado de Laurel de la Azotea. Esse nome, sem dúvida, chama nossa atenção e, a esse respeito, a escritora nos confidenciou por e-mail o seguinte: “Em relação à pergunta sobre o motivo do nome LAUREL DE LA AZOTEA, te direi que não era definitivo. Um nome provisório inspirado em uma foto de um terraço que nem sequer albergava um ramo de louro. Não tem explicação.” Embora não haja uma explicação racional para o nome do grupo, e de sua suposta provisionalidade, as atividades têm se mantido constantes ao longo do tempo.

A propósito da formação do grupo, Bárbara Loureiro Andreta (2021ANDRETA, Bárbara Loureiro. A autoria feminina na Espanha contemporânea: O conto “Silêncio”, de María Ángeles Barrionuevo Gómez - Uma tradução comentada. Signo, Santa Cruz do Sul, v. 46, n. 87, p. 115-123, set./dez. 2021. Disponível em: Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/view/115-123 . Acesso em: 05 jan. 2022.
https://online.unisc.br/seer/index.php/s...
, p. 116-117) salienta que ele é composto por mulheres que encontraram na escrita criativa um espaço para elaborar e discutir literariamente suas inquietações. Antes da pandemia, as reuniões ocorriam com intervalos semanais ou quinzenais, de acordo com as possibilidades das agendas das participantes, na cidade de Granada. Em 2020, cancelaram-se os encontros, tendo em vista as restrições sanitárias. No ano seguinte, o grupo tornou a se organizar, por intermédio de encontros remotos.

O conto “Operação cancelada” possui um narrador onisciente e traz uma protagonista feminina, Cati, que decide vender o apartamento que lhe foi deixado como herança por uma tia solteira. O imóvel é antigo, mas localizado no centro de Madri. Depois de várias visitas, aparece por fim um comprador decidido a efetivar a compra. É nesse momento que ocorre uma epifania para o personagem, que muda sua perspectiva no modo de encarar a casa e todas as lembranças que aquelas paredes permitiam evocar e que poderiam se perder para sempre.

O termo epifania, de acordo com Robert Scholes e Florence L. Walzl (1967, p. 152 apudMANGUEIRA, 2018MANGUEIRA, José Vilian. Epifania e paralisia: o passeio feminino em “A fuga”, de Clarice Lispector. DLCV - Língua, Linguística & Literatura, João Pessoa, v. 14, n. 1, p. 110-125, jan./jun. 2018. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/dclv/article/view/42206/21704 . Acesso em: 05 jan. 2022.
https://periodicos.ufpb.br/index.php/dcl...
, p. 112), pode significar uma apreensão intelectual ou espiritual que representaria uma iluminação e deve ser entendido como o momento de iluminação em que ocorre uma percepção da essencialidade de um determinado período, de uma situação, de um objeto ou de uma pessoa. Complementando essas colocações, o ensaísta e poeta Affonso Romano de Sant’Anna (1996SANT’ANNA, Affonso Romano de. O ritual epifânico do texto. In: LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H. Edição crítica, Benedito Nunes, coordenador. 2. ed. Madrid; Paris; México; Buenos Aires; São Paulo; Rio de Janeiro; Lima: ALLCA XX, 1996. p. 241-261., p. 244) afirma que ela pode ser entendida e apreendida no campo da religião e da literatura das seguintes maneiras:

A questão da epifania (ephiphaneia) pode ser compreendida num sentido místico-religioso e num sentido literário. No sentido místico-religioso, a epifania é o aparecimento de uma divindade e uma manifestação espiritual - e é neste sentido que a palavra surge descrevendo a aparição de Cristo aos gentios. Aplicado à literatura o termo significa o relato de uma experiência que a princípio se mostra simples e rotineira, mas que acaba por mostrar toda a força de uma inusitada revelação. É a percepção de uma realidade atordoante quando os objetos mais simples, os gestos mais banais e as situações mais cotidianas comportam iluminação súbita da consciência dos figurantes, e a grandiosidade do êxtase pouco tem a ver com o elemento prosaico em que se inscreve o personagem. Ainda mais especificamente em literatura, a epifania é uma obra ou parte de uma obra onde se narra o episódio da revelação. (SANT´ANNA, 1996SANT’ANNA, Affonso Romano de. O ritual epifânico do texto. In: LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H. Edição crítica, Benedito Nunes, coordenador. 2. ed. Madrid; Paris; México; Buenos Aires; São Paulo; Rio de Janeiro; Lima: ALLCA XX, 1996. p. 241-261., p. 244, grifos do autor).

Com base no que afirma Sant’Anna, o evento epifânico evidencia um momento de revelação e percepção súbita da realidade diante de algo frequentemente banal e comporta três instantes: 1) o personagem encontra-se em uma situação corriqueira; 2) aparecem sinais de uma situação inusitada, que acaba se transformando em uma epifania reveladora; 3) esgota-se a epifania e o personagem volta ao seu cotidiano modificado (SANT’ANNA, 1996SANT’ANNA, Affonso Romano de. O ritual epifânico do texto. In: LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H. Edição crítica, Benedito Nunes, coordenador. 2. ed. Madrid; Paris; México; Buenos Aires; São Paulo; Rio de Janeiro; Lima: ALLCA XX, 1996. p. 241-261.).

No relato de Pérez Blanco, esses três momentos configuram-se na seguinte ordem: 1) Cati deseja vender o apartamento que recebera como herança e o mostra a vários interessados; 2) Miguel, um jovem de cerca de trinta anos manifesta seu desejo de comprar o imóvel e aceita as condições e o preço, declarando que irá realizar mudanças no local, as quais inquietam a proprietária; 3) ela percorre todos os cômodos, lembra-se das vantagens e das preocupações vividas ali, sem conseguir dormir, desiste da venda e então o sono e a tranquilidade voltam a imperar. Há uma volta ao cotidiano do personagem, e uma compreensão mais aprofundada da realidade e da importância dos laços que mantêm com a residência e com o seu passado. Efetua-se uma transformação interna em Cati, que agora é capaz de perceber que o apartamento não é só uma armação de concreto e janelas, mas um refúgio, um espaço que ela deseja manter inalterado, a fim de salvaguardar a sua essência, a sua feminilidade, a sua ancestralidade.

A temática desenvolvida no conto relaciona-se ao feminino, às particularidades próprias de um universo íntimo e privado que, diferentemente das imposições do patriarcado, condenavam a mulher a se manter restrita a esse espaço. Assim, desvela-se um modo pessoal e único de rever/revisitar o passado para se afirmar como mulher, como um ser independente, mas que preserva suas raízes, seus antepassados.

Entrelaçam-se as vivências da escritora e sua criação ficcional, como se constata pelas observações de Pérez Blanco, via e-mail, em entrevista para esta tradução (2021), sobre suas experiências profissionais e o resgate ímpar da memória:

Sobre a minha experiência como professora e coordenadora de oficinas de escrita literária posso dizer que tem sido fantástica. Tento oferecer um espaço cordial e tranquilo, que inspire confiança e que dê lugar a todos. [...] Escrever é muito saudável e põe as lembranças em ordem. A memória se torna criativa e ‘distorce’ a realidade em benefício da beleza, da palavra [...]. (PÉREZ BLANCO, 2021PÉREZ BLANCO, Rosario. Noticias, novedades y otros estados emocionales. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por luciana.montemezzo@ufsm.br em 09 de set. 2021., n.p.)

A memória é um gatilho que serve para resgatar o passado, distorcê-lo, reinterpretá-lo para que possa desvelar a beleza, a sutileza das pequenas situações, dos gestos contidos e das emoções guardadas e trancafiadas no mais profundo da alma feminina.

A escrita feminina está ligada à família e à inserção da mulher no mercado de trabalho, assevera Elvira Cámara, também integrante do grupo, em entrevista para este artigo. A narrativa “Operação cancelada” enquadra-se nessa vertente que enfoca o universo familiar, as questões concernentes às origens e ao legado que foi transmitido para Cati graças à herança deixada pela tia. A alma das mulheres, enfim, das pessoas que ocupavam aquele espaço, ainda está ali, revivida no presente por meio de lembranças, de ruídos que não podem ser profanados por outros ocupantes que não sejam aqueles que pertencem aos descendentes daquela célula familiar.

Aliás, um dos desafios enfrentados durante o processo tradutório refere-se ao campo semântico do vocábulo moradia, que inicialmente vai se corporificando no enredo por um processo metonímico, pela menção dos móveis, dos cômodos, das paredes, até se configurar nos dois termos que se plasmam na narrativa: “piso” e “vivienda”:

Quizáno fuera mala idea mudarse a un piso más grande. Aquella vivienda pequeña en el barrio de Argüelles había pertenecido a una tía suya, soltera, la única hermana de su madre, pero había muerto. (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 97, grifos nossos). Talvez não fosse má ideia mudar para um apartamento maior. Aquela moradia pequena no bairro de Argüelles tinha pertencido a uma tia sua, solteira e já falecida, a única irmã de sua mãe.

O sintagma “vivienda” poderia ser traduzido por “habitação”, “abrigo”, “residência”, “lar”, “moradia”. A opção por este último parece ser a mais apropriada, uma vez que ele dá conta do sentido expresso nessa parte do texto e em outras nas quais aparece. O deslocamento da informação que se encontra no final do período (“já falecida”) confere, no nosso entender, uma maior fluência ao texto em português. Nesse caso, a opção por transformar o verbo no tempo composto em um adjetivo também não prejudica a compreensão da frase, pois esse adjetivo, assim como a forma verbal estão relacionados ao termo “tia”, atribuindo-lhe uma ação que transformamos em atributo e, se mantivéssemos a estrutura original do trecho, ele soaria um pouco estranho em língua portuguesa.

Nota-se que à medida que a narrativa evolui, o local habitado por Cati vai assumindo novas tonalidades pelo emprego de diferentes palavras que simbolizam a residência que ela tenciona vender:

Nada de apego por esas cuatro paredes […]. (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 97-98) En las dos semanas posteriores a la publicación del anuncio, su hogar fue un constante trasiego de gente; […] (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 98) Había enseñado la casa al menos a quince candidatos […]. (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 98) […] pero a pesar de sus advertencias sobre el bullicio, la estructura de madera, la distribución de los espacios y la falta de ascensor, el chico persistió en su deseo de ver el inmueble. (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 98, grifos nossos) Nada de apego a essas quatro paredes [...]; Nas duas semanas posteriores à publicação do anúncio, seu lar foi um constante entra e sai de gente; [...] Tinha mostrado a casa a pelo menos quinze candidatos [...]. [...] Mas, apesar de suas advertências sobre o barulho, a estrutura de madeira, a distribuição dos espaços e a falta de elevador, o rapaz insistiu no seu desejo de ver o imóvel.

O que era somente uma estrutura (“cuatro paredes”) vai assumindo um matiz subjetivo à proporção que o narrador, por meio da técnica do sumário, menciona a intenção da venda, o ir e vir dos possíveis compradores e a persistência de Miguel que se dispõe a adquirir a propriedade. Durante a tarefa tradutória, é necessário estar atento a essas nuances no emprego de determinados vocábulos, para preservar a significação que vem manifestada no texto fonte. Realizamos uma modificação na pontuação do último período transcrito e, ao invés de manter a vírgula, inserimos um ponto final depois da advertência de todos os inconvenientes do apartamento. Essa solução também objetivou garantir uma maior fluência ao parágrafo, cuja divisão em estruturas menores facilita a leitura e não cansa tanto o leitor.

A ação de mostrar/exibir o imóvel para potenciais compradores é recortada por um sentimento de invasão, de intromissão na intimidade do personagem protagonista. Assim, pratos sujos sobre a pia, toalhas velhas, fios de cabelo, de uma maneira ou outra, acabam por se tornarem marcas de desleixo, de descuido por parte da moradora do local, que ela não deseja expor a estranhos:

[...] Detestaba enseñar la casa a los fisgones. Los ojos de los visitantes se clavaban a veces en detalles que le hacían sentirse incómoda: el paño de los cubiertos, la ropa sin recoger sobre la cama, las pastillas de dormir a la vista, los platos en el fregadero, las toallas envejecidas…, por no hablar en los fragmentos de cabello que quedaban en el lavabo o enredados en el cepillo. (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 98, grifos nossos) […] Detestava mostrar a casa para os bisbilhoteiros. Os olhos dos visitantes se fixavam, às vezes, em detalhes que lhe faziam sentir-se incomodada: o pano de prato, a roupa sem guardar em cima da cama, os remédios para dormir à vista, os pratos na pia, as toalhas velhas... isso sem falar nos fios de cabelo que ficavam na pia do banheiro ou enredados na escova de cabelo.

Quando recorremos aos dicionários espanhol/português, a única acepção que eles nos dão para “cubierto” é “talher” e, face ao fato de que a tradução ficaria estranhíssima, é preciso utilizar o bom senso para não escorregar nas cascas de banana que a língua nos prega a cada passo, como bem salientava Paulo Rónai (1985RÓNAI, Paulo. Cascas de banana no caminho do tradutor. Letras, Curitiba, v. 34, p. 186-198, 1985. Disponível em: Disponível em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/19306/12592 . Acesso em: 05 jan. 2022.
https://revistas.ufpr.br/letras/article/...
, p. 186), já que “não há qualquer palavra, por mais simples que seja, que não possa encerrar, em determinadas circunstância, alguma ambiguidade, e, portanto, transformar-se em perigosa armadilha”.

Esse também é o caso de “fregadero” e “lavabo”, aos quais são atribuídos apenas o significado de “pia”, em português. Ao traduzir o trecho acima, foi necessário especificar que a segunda pia era a do banheiro, num processo por meio do qual se deu a expansão do sintagma do texto de partida.

Na passagem do texto a seguir t foi necessário recorrer ao mesmo expediente apontado acima, a expansão, e também ao processo inverso, a concisão, a redução de uma frase a um único vocábulo:

[...] Dio un respingo y se levantó. El ruido se propagó y temiendo lo peor salió al descansillo. (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 99-100, grifos nossos) […] Levantou-se sobressaltada. O barulho propagou-se e, temendo o pior, saiu para o patamar da escada.

O sintagma “dar un respingo”, se fosse traduzido literalmente, equivaleria a algo como “deu um sobressalto”. Ao escolher inverter as formas verbais e transformar a primeira parte da frase em um adjetivo, notamos que o texto ganha fluência e se mantêm os sentidos expressos anteriormente. Em relação ao vocábulo “descansillo”, os dicionários apresentam o sentido de “patamar”. Aqui, a expansão do termo revelou-se adequada aos nossos propósitos de transpor os sentidos do texto em língua estrangeira para o nosso vernáculo, com o intento de evitar qualquer dubiedade.

Depois da visita de Miguel, Cati perde o sono e o fragmento em que isso é descrito reveste-se de certa dificuldade pelo uso dos complementos diretos e indiretos em espanhol:

No podía dormirse. Los nervios por la operación ya inminente se lo impedían. (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 99, grifos nossos) Não podia dormir. A ansiedade da operação já iminente impedia seu sono.

O acréscimo de um substantivo como objeto direto do verbo foi a única solução que vislumbramos para que a frase não ficasse ambígua e pudesse gerar alguma dúvida na compreensão do referido trecho. Nas traduções de textos do espanhol para o português, os complementos diretos e indiretos sempre se revestem de matizes e particularidades que requerem atenção por parte do tradutor.

Às vezes, acrescentar algo a um termo possibilita uma clareza maior no processo de seleção tradutória e um exemplo disso localiza-se no último parágrafo do conto:

[...] El cartel que anunciaba la venta del piso golpeaba el forjado. Lo quitó. […] (PÉREZ BLANCO, 2019, p. 100, grifos nossos) […] O cartaz que anunciava a venda do apartamento batia contra as vigas metálicas. Tirou-o dali.

A inclusão do advérbio permite uma maior clareza para a frase e, novamente, confere fluidez e precisão ao fragmento traduzido. Além disso, garante a oralidade da língua portuguesa do Brasil, da mesma forma que acontece no texto de partida em relação à língua espanhola em sua variante peninsular.

Não resta dúvida de que a memória é um elemento imprescindível para a interpretação do conto e, ao traduzi-lo, é conveniente ficar atento a isso para não minimizar o papel extremamente relevante que o espaço assume ao longo da narrativa, já que as reminiscências se ligam a um lugar específico, que foi habitado por gerações de uma mesma família, conforme destaca Pérez Blanco, via e-mail, em entrevista para esta tradução (2021):

Escrevi esse relato inspirando-me em uma experiência própria: a possível venda de um apartamento, em uma região muito típica de Madri e muito solicitada. Logo apareceu um candidato interessado e, quando chegou o momento de vender, fiquei com bastante pena de perder a propriedade. Hoje em dia eu ainda a conservo. Na atualidade, um sobrinho meu mora lá. Fiz uma reforma profunda no último ano e ficou lindo. É uma cobertura e está orientada ao Oeste. Eu quis fazer um relato no qual a própria casa tivesse um protagonismo e se rebelasse contra as mudanças que o novo proprietário pretendia fazer. Como se a casa tivesse sensibilidade. É algo fantástico, embora não pareça. O terremoto não era outra coisa que a “queixa” da casa, diante dos certeiros “ataques” a sua estrutura. Também é um relato sentimental, fala do que precisamos conservar, porque pertenceu à nossa família. Se nos desfazemos de tudo, nos desenraizamos. (PÉREZ BLANCO, 2021PÉREZ BLANCO, Rosario. Noticias, novedades y otros estados emocionales. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por luciana.montemezzo@ufsm.br em 09 de set. 2021., n.p.)

A casa foi, durante muito tempo, o local destinado às figuras femininas. Dentro delas, aprisionadas, confinadas, segregadas, as mulheres eram obrigadas a assumir o único papel que o sistema patriarcal lhes imputava, o de donas de casa, relegadas ao papel de mães e esposas abnegadas, impedidas de se aventurar nos locais públicos, destinados aos representantes do sexo masculino.

Divergindo dessa representação tradicional do feminino e sua relação com o lar e suas vicissitudes, que deveria estar ultrapassada e sepultada no passado, mas ainda encontra-se vigente na contemporaneidade, não só na América Latina, mas em muitas partes do mundo, a narrativa curta concebida por Pérez Blanco põe em destaque uma relação na qual a casa e a mulher que a habita constituem um esforço para se manter as memórias familiares, as alegrias, tristezas, enfim, as vivências experienciadas nesse espaço único e também universal, que reverbera o feminino em toda a sua transcendência ao longo de toda a existência da humanidade.

Intertextualmente, a casa que exala “sensibilidade”, dialoga com outras famosas da literatura ocidental, como é o caso daquelas que se tornaram o centro dos contos “Casa tomada”, de Julio Cortázar (1986CORTÁZAR, Julio. Casa tomada. In: CORTÁZAR, Julio. Bestiário. Tradução de Remy Gorga Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 9-18.) e “A queda da casa de Usher”, de Edgar Allan Poe (2017POE, Edgar Allan. A queda da casa de Usher. In: POE, Edgar Allan. Histórias Extraordinárias. Tradução de José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 227-256.). Elas respiram, transpiram, são subjetivizadas pela percepção de narradores e leitores, que as humanizaram e fizeram delas uma extensão de seus habitantes. A casa de Cati em “Operação cancelada” é um prolongamento da protagonista, é parte dela e, por isso, ela não consegue vendê-la e deixar que ela seja modificada, adulterada por estranhos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mulher e a conquista ou reconquista do seu espaço parece ser uma problemática que tangencia o âmbito feminino, e a escrita de Pérez Blanco salienta esse fato, lança luzes sobre essa questão e irmana todas as mulheres e seus dilemas cotidianos, pois como sustenta Márcia Hoppe Navarro (2000NAVARRO, Márcia Hoppe. Desconstruindo o discurso patriarcal: o papel de Rosario Ferré na nova percepção da História de Porto Rico. Revista língua & literatura, Frederico Westphalen, v. 2, n. 4, p. 33-51, 2000. Disponível em: Disponível em: http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistalinguaeliteratura/article/view/16 . Acesso em: 05 jan. 2022.
http://revistas.fw.uri.br/index.php/revi...
),

[...] um lugar no mapa é, também, um lugar na História. Isto é, as escritoras vivem e são determinadas por um Estado-Nação singular e não podem se livrar desse fato. [Assim, segundo Virginia Woolf] ‘Como mulher, eu não tenho país. Como mulher, o meu país é o mundo inteiro’. [...] por um lado [...] o estabelecimento de redes de solidariedade e compreensão [...] nos permitiram ver, rever, discutir e combater a opressão global vivida pelas mulheres, analisando escondidas histórias de resistência contra a imposição patriarcal, que despertaram mundialmente a consciência das mulheres [...] - por outro, situar as mulheres como totalidades descontextualizadas também limita e bloqueia processos desejados de transformação. [...]. (NAVARRO, 2000NAVARRO, Márcia Hoppe. Desconstruindo o discurso patriarcal: o papel de Rosario Ferré na nova percepção da História de Porto Rico. Revista língua & literatura, Frederico Westphalen, v. 2, n. 4, p. 33-51, 2000. Disponível em: Disponível em: http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistalinguaeliteratura/article/view/16 . Acesso em: 05 jan. 2022.
http://revistas.fw.uri.br/index.php/revi...
, p. 33-34)

De uma maneira abrangente, as escritoras criam vínculos como é o caso das participantes do grupo Laurel de la Azotea, do qual participa Rosario Pérez Blanco e, neste microcosmo, enlaçam um território singularmente feminino, que se solidariza e se unifica com as mulheres de todas as partes. Dentro de um contexto específico, que é a Espanha contemporânea e, mais precisamente a região de Granada, mulheres se reúnem para tratar de assuntos que dizem respeito à realidade feminina, ao seu mundo familiar, laboral, às suas vivências em sociedade e criam uma literatura que abarca essas questões. Assim, mergulham profundamente no seu íntimo para trazer à tona novas maneiras de se enfrentar os dilemas do cotidiano, as agruras dos relacionamentos, as perdas e os sofrimentos que atingem a todos e nos fazem ver que somos humanos, demasiadamente humanos e, como tal, imperfeitos, incompletos e propensos a ignorar tudo aquilo que se passa com o outro.

A literatura de autoria feminina olha para esse outro, solidariza-se com ele, compartilha, faz emergir uma sensibilidade que propõe indagações. Perguntas cujas respostas talvez nem existam, mas o simples fato de se pensar, refletir, pode trazer consequências benéficas para posturas petrificadas e retrógadas que ainda se sustentam nos dias atuais.

Ao empreender a tarefa de traduzir um conto de uma autora espanhola desconhecida em nosso país, efetivamos um esforço para divulgar as suas produções ficcionais, assinalando a maneira peculiar e o olhar único e, ao mesmo tempo, universal, de representar a realidade e as dificuldades e obstáculos que as mulheres ainda enfrentam na tentativa de conquistar e garantir um espaço que seja, realmente, “todo seu”. Além disso, esperamos contribuir para a divulgação de parte da obra de Rosario Perez Blanco, totalmente inédita no sistema literário brasileiro. Nesse sentido, acreditamos que sua voz poderá encontrar eco em leitores e leitoras no Brasil e, talvez, estabelecer com eles um profícuo diálogo.

OPERAÇÃO CANCELADA

Rosario Pérez Blanco

De novo a batida na ponta da mesa de centro da sala de estar. Que dor na panturrilha! Cada vez que saía para a sacada, precisava atravessar um pequeno vão que ficava entre a mesa e a parede, e era inevitável roçar-se no canto da mesa.

Talvez não fosse má ideia mudar para um apartamento maior. Aquela moradia pequena no bairro de Argüelles tinha pertencido a uma tia sua, solteira e já falecida, a única irmã de sua mãe.

Atualmente, as estantes estavam cheias de objetos sem serventia. O mesmo acontecia com o aparador da sala de estar e as prateleiras da cozinha. Ali não havia espaço para um alfinete, no entanto tudo se conservava em bom estado. Conhecia de memória cada centímetro de piso e de parede. Sabia onde estavam as irregularidades e rachaduras das vigas de madeira que emolduravam as janelas, assim como as sombras e os nós enegrecidos do revestimento de cerejeira que cobria o chão. Sem dúvida, o melhor da casa era sua localização. Da sacada da sala de estar, orientada ao oeste, era possível contemplar um dos melhores céus de Madri.

No entanto, aquele roxo na sua perna lhe recordaria, nos dias seguintes, da firmeza de seu propósito. Nada de apego por essas quatro paredes, por mais familiares que fossem, por mais que tivessem pertencido a sua madrinha. Colocaria um anúncio e aproveitaria a oferta de uma construtora na periferia. Algo distante do centro, mas nunca habitado e em uma área residencial. Adeus aos problemas de estacionamento e à algazarra diária que se formava em torno aos bares de estudantes.

Nas duas semanas posteriores à publicação do anúncio seu lar foi um constante entra e sai de gente. Alguns, com ideias imaturas sobre o que queriam e os demais, curiosos, sem intenção de comprar. Detestava mostrar a casa para os bisbilhoteiros. Os olhos dos visitantes se fixavam, às vezes, em detalhes que lhe faziam sentir-se incomodada: o pano de prato, a roupa sem guardar em cima da cama, os remédios para dormir à vista, os pratos na pia, as toalhas velhas… isso sem falar nos fios de cabelo que ficavam na pia do banheiro ou enredados na escova de cabelo.

- Eu gosto, apesar da localização da cozinha tão perto do banheiro.

- O bairro é central, mas muito barulhento.

- Nestas casas antigas, a estrutura de madeira antes ou depois cede, e os gastos extras vão encarecer muito os gastos de condomínio.

Já se passavam trinta dias e quase não restava sinal da batida na perna. Tinha mostrado a casa a pelo menos quinze candidatos e, naquela tarde, esperava outra visita. Cansada de abrir sua intimidade a tanto potencial comprador, advertiu-lhe de todos os inconvenientes. Mas, apesar de suas advertências sobre o barulho, a estrutura de madeira, a distribuição dos espaços e a falta de elevador, o rapaz insistiu no seu desejo de ver o imóvel.

Às quinze para as oito, antes do combinado, a campainha tocou. Era jovem, tinha por volta de trinta anos. Embora informal, tinha um aspecto cuidado e moderno. Jaqueta de couro, camisa, jeans desbotados e tênis Nike. Seguro de si, entrou na casa. Depois de dar uma rápida olhada, disse:

- A divisória que une a cozinha e a sala de estar será descartada. Uma porta de vidro ou de correr em seu lugar, para separar ambientes. Um banheiro ficará dentro do dormitório. Trocarei o revestimento do chão por um piso de cerâmica. Fecharei a sacada e, assim, ganharei alguns metros na sala de estar.

Aceitou o preço sem pechinchar. Estava disposto a formalizar o contrato de compra e venda, deixando um sinal. Cati sugeriu que esperasse até o dia seguinte:

- Não tenho nenhuma outra oferta. Pode ficar tranquilo - acrescentou -; me dê seus dados e quando eu tiver o contrato elaborado, aviso você. Não levará mais do que quarenta e oito horas.

Quando ele se foi, percorreu peça por peça, tentando imaginar como ficaria o apartamento depois das mudanças que Miguel, seu futuro proprietário, projetava. Sem a sacada da sala de estar, com cozinha americana, dormitório com banheira e sem piso revestido - aquelas madeiras que ela seguia abrilhantando todas as semanas e que preservavam a essência antiga da propriedade -, a casa não seria a mesma. A picareta e o martelo nas paredes poderiam comprometer a estrutura. Sentiu um leve estremecimento.

Aproximou-se do terraço e percorreu com os olhos a rua, a praça adjacente e a linha do horizonte demarcada pela Casa de Campo, verdadeiro pulmão de Madri. O crepúsculo tingia o céu de tonalidades rosáceas. Quantas vezes tinha se refugiado naquele quarto, com sua vista! Que assombro ver a luz do amanhecer! Quantas preocupações tinham perdido a gravidade contra o ocaso!

Não podia dormir. A ansiedade da operação já iminente impedia seu sono. Muito depois da meia-noite, as vigas do seu quarto estalaram, produzindo um ruido inquietante. Manteve-se atenta, para ver se aconteceria de novo. Escutou pela segunda vez o estrépito. Levantou-se sobressaltada. O barulho propagou-se e, temendo o pior, saiu para o patamar da escada. Lá fora reinavam o silêncio e a tranquilidade. Fez uma chamada aos serviços de Defesa Civil para se informar de um possível terremoto, mesmo que fosse de baixa intensidade, mas não tinham registrado nenhum sinal.

Descartado o terremoto, deu uma olhada para a velha estante de livros, para ver se alguma prateleira tinha cedido com o peso dos livros; mas também não encontrou fraturas. As portas da sacada estavam abertas. Aproximou-se. O cartaz que anunciava a venda do apartamento batia contra as vigas metálicas. Tirou-o dali. O apartamento deixava de estar à venda. Fechou bem as persianas e voltou para o seu quarto. Acendeu a lampadazinha da sua mesa de cabeceira. A iluminação tingiu as paredes de amarelo. Aquela luz envolvente a serenou; deu meia volta e dormiu tranquila.

OPERACIÓN CANCELADA

Rosario Pérez Blanco

De nuevo el golpe con el pico de la mesa baja del cuarto de estar. “¡Qué dolor en la espinilla!”. Cada vez que salía al balcón debía atravesar el pequeño hueco que quedaba entre la mesa y la pared, siendo inevitable rozarse con el canto de la mesa.

Quizá no fuera mala idea mudarse a un piso más grande. Aquella vivienda pequeña en el barrio de Argüelles había pertenecido a una tía suya, soltera, la única hermana de su madre, pero había muerto.

En la actualidad las viejas librerías rebosaban cachivaches. Lo mismo sucedía con el aparador del cuarto de estar y las repisas de la cocina. Allí no había espacio ni para un alfiler, sin embargo todo se conservaba en buen estado. Conocía de memoria cada centímetro de suelo y de pared. Sabía dónde estaban las irregularidades y arañazos de las vigas de madera que enmarcaban las ventanas, así como las sombras y los nudos ennegrecidos en la tarima de cerezo que cubría sus suelos. Sin lugar a dudas, lo mejor de la casa era su situación. Desde el balcón del cuarto de estar, orientado al Oeste, se podía contemplar uno de los mejores cielos de Madrid.

Sin embargo, aquel amoratado en su pierna le recordaría en los días sucesivos lo firme de su propósito. Nada de apego por esas cuatro paredes, por muy familiares que le resultasen, por mucho que hubieran pertenecido a su madrina. Pondría un anuncio y aprovecharía la oferta de una constructora en la periferia. Algo alejado del centro, pero a estrenar y en un área residencial. Adiós a los problemas de aparcamiento y a la algarabía diaria que se formaba en torno a los bares de estudiantes.

En las dos semanas posteriores a la publicación del anuncio, su hogar fue un constante trasiego de gente; algunos con ideas inmaduras respecto a lo que querían y los más, curiosos sin intención de compra. Detestaba enseñar la casa a los fisgones. Los ojos de los visitantes se clavaban a veces en detalles que le hacían sentirse incómoda: el paño de los cubiertos, la ropa sin recoger sobre la cama, las pastillas de dormir a la vista, los platos en el fregadero, las toallas envejecidas…, por no hablar de los fragmentos de cabello que quedaban en el lavabo o enredados en el cepillo.

−A mí me gusta, salvo la ubicación de la cocina tan cerca del baño.

−El caso es que el barrio es céntrico pero excesivamente ruidoso.

−En estas casas antiguas, la estructura de madera antes o después cede, y las derramas encarecerán mucho el recibo de la comunidad.

Pasaban ya treinta días y del golpe en la pierna apenas quedaba marca alguna. Había enseñado la casa al menos a quince candidatos y aquella tarde esperaba otra visita. Cansada ya de mostrar su intimidad a tanto comprador potencial, le advirtió por teléfono de todos los inconvenientes, pero a pesar de sus advertencias sobre el bullicio, la estructura de madera, la distribución de los espacios y la falta de ascensor, el chico persistió en su deseo de ver el inmueble.

A las siete menos cuarto, antes de lo convenido, sonó el timbre. Era joven, rondaba los treinta. Aunque informal tenía un aspecto cuidado y moderno. Cazadora de cuero, camisa, vaqueros desvaídos y zapatillas Nike. Seguro de sí, se internó en la vivienda. Tras echar una rápida ojeada, dijo:

−El tabique que une la cocina y el cuarto de estar irá fuera. Una puerta de cristal o mampara corredera en su lugar, para separar ambientes. El baño estará dentro del dormitorio. Cambiaré la tarima del suelo por un piso de cerámica. Haré un cerramiento del balcón y ganaré un par de metros para el cuarto de estar.

Aceptó el precio sin regatear. Estaba dispuesto a formalizar el compromiso de compraventa, dejando una señal y Cati sugirió que esperara hasta el día siguiente:

−No tengo ninguna otra oferta. Puedes estar tranquilo −añadió−; dame tus datos y cuando tenga el contrato elaborado, te aviso. No me llevará más de cuarenta y ocho horas.

Cuando se fue, recorrió habitación por habitación, tratando de imaginar cómo quedaría el piso tras los cambios que proyectaba Miguel, su futuro propietario. Sin el balcón del cuarto de estar, con cocina americana, dormitorio con jacuzzi y sin suelos de tarima −aquellas maderas que ella seguía abrillantando cada semana y que preservaban la esencia antigua de la propiedad−, la vivienda no sería la misma. La piqueta y los mazazos en las paredes podrían dañar su armazón. Sintió un leve estremecimiento.

Se asomó a terraza y recorrió con la vista su calle, la plaza adyacente y la línea del horizonte demarcada por la Casa de campo, verdadero pulmón de Madrid. El crepúsculo teñía el cielo con tonalidades rosáceas. ¡Cuántas veces se había refugiado en aquella habitación con vistas! ¡Qué asombro al ver la luz del amanecer! ¡Cuántas preocupaciones habían perdido gravedad contra el ocaso!

No podía dormirse. Los nervios por la operación ya inminente se lo impedían. Muy pasada la media coche, las vigas de su habitación crujieron produciendo un ruido inquietante. Se mantuvo atenta por si volvía a repetirse. Escuchó por segunda vez el chirrido. Dio un respingo y se levantó. El ruido se propagó y temiéndose lo peor salió al descansillo. Afuera reinaba el silencio y la tranquilidad. Hizo una llamada a los servicios de Protección Civil para informarse de un posible seísmo, aunque de baja intensidad, pero no habían registrado señal alguna.

Descartado el seísmo, echó un vistazo a la vieja librería por si alguna balda hubiera cedido con el peso de los libros; tampoco encontró fracturas. Las puertas del balcón estaban abiertas. Se asomó. El cartel que anunciaba la venta del piso golpeaba el forjado. Lo quitó. El piso dejaba de estar en venta. Se suspendía la operación. Cerró bien las contraventanas y regresó a su habitación. Encendió la lamparita de la mesilla de noche. La iluminación tiñó de amarillo las paredes. Aquella luz envolvente la serenó; se dio media vuelta y se durmió tranquila.

REFERÊNCIAS

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Editado por

Editor-chefe:

Rachel Esteves Lima

Editor executivo:

Regina Zilberman

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2022
  • Aceito
    15 Maio 2022
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