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Redes medioestruturais de dicionários escolares: fluxo de sentidos entre verbetes sobre homossexuais masculinos

Medioestructural Networks in School Dictionaries: Flow of Meanings Among Entries About Male Homosexuals

RESUMO

Dentre as estruturas lexicográficas, a medioestrutura se configura como a menos abordada nos estudos metalexicográficos tendo em vista o volume de pesquisas referentes a aspectos da microestrutura, como a definição e as marcas de uso. Nosso objetivo, então, é investigar o sistema de remissões de dicionários escolares tipo 3 do Programa Nacional do Livro Didático de 2012. Fundamentamos nosso estudo em trabalhos de metalexicografia (GELPÍ ARROYO, 2000GELPÍ ARROYO, C. La lexicografía. Barcelona: Santillana, 2000.; MARTÍNEZ DE SOUSA, 1995MARTÍNEZ DE SOUSA, J. Diccionario de Lexicografía práctica. Barcelona: Bibliograf, 1995.; PONTES, 2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009., WELKER, 2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.), com foco na medioestrutura e na classificação das remissivas. Nosso corpus é composto por quarenta ocorrências relacionadas a homossexuais masculinos em onze entradas, extraídas de cinco dicionários. (BECHARA, 2011BECHARA, E. C. (Org.). Dicionário escolar da Academia Brasileira de Letras. 3. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2011.; FERREIRA, 2011FERREIRA, A. B. H. Aurélio Júnior: dicionário escolar da língua portuguesa. 2. ed. Curitiba: Positivo, 2011.; GEIGER, 2011GEIGER, P. (Org.). Caldas Aulete: minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2011.; RAMOS, 2011RAMOS, R. A. (Ed.). Dicionário didático de língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: SM, 2011.; SARAIVA; OLIVEIRA, 2010SARAIVA, K. S. A.; OLIVEIRA, R. C. G. Saraiva jovem: dicionário da língua portuguesa ilustrado. São Paulo: Saraiva, 2010.) Fizemos a descrição das remissivas e, por meio delas, elaboramos redes medioestruturais para evidenciar o fluxo de sentidos entre os verbetes. Nossos resultados apontam uma tendência para a utilização de remissivas implícitas (81,8%) e para a convergência de sentidos para a entrada “homossexual”.

PALAVRAS-CHAVE:
medioestrutura; remissiva; homossexualidades masculinas

ABSTRACT

Among the lexicographic structures, the medioestructure is the least addressed in metalexicographic studies considering the volume of research related to aspects of the microstructure, such as the definition and the labels. Our objective, then, is to investigate the reprinting system of type 3 school dictionaries from Programa Nacional do Livro Didático of 2012. We base our study on works in metalexicography (GELPÍ ARROYO, 2000GELPÍ ARROYO, C. La lexicografía. Barcelona: Santillana, 2000.; MARTÍNEZ DE SOUSA, 1995MARTÍNEZ DE SOUSA, J. Diccionario de Lexicografía práctica. Barcelona: Bibliograf, 1995.; PONTES, 2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009., WELKER, 2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.), with a focus on the medioestructure and classification of cross-references. Our corpus comprised forty occurrences related to male homosexuals in eleven entries, extracted from five dictionaries (BECHARA, 2011BECHARA, E. C. (Org.). Dicionário escolar da Academia Brasileira de Letras. 3. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2011.; FERREIRA, 2011FERREIRA, A. B. H. Aurélio Júnior: dicionário escolar da língua portuguesa. 2. ed. Curitiba: Positivo, 2011.; GEIGER, 2011GEIGER, P. (Org.). Caldas Aulete: minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2011.; RAMOS, 2011RAMOS, R. A. (Ed.). Dicionário didático de língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: SM, 2011.; SARAIVA; OLIVEIRA, 2010SARAIVA, K. S. A.; OLIVEIRA, R. C. G. Saraiva jovem: dicionário da língua portuguesa ilustrado. São Paulo: Saraiva, 2010.). We described the cross-references and, based on them, elaborated medioestructural networks to show the flow of meanings among the entries. Our results point to a trend towards the use of implicit cross-references (81.8%) and towards the convergence of meanings to the entry “homosexual”.

KEYWORDS:
medioestructure; cross-reference; male homosexuality

1 Introdução

Dicionários são artefatos culturais que apresentam um retrato do universo semântico-cultural de uma determinada comunidade linguística. Enquanto fonte e objeto de pesquisa, essas obras têm recebido atenção de diversos estudiosos da metalexicografia interessados nos aspectos linguísticos (ALMEIDA, 2019ALMEIDA, E. C. Categorização e corporificação em dicionários escolares: uma análise do paradigma definicional. 2019. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2019.; CARVALHO, 2016CARVALHO, G. L. Expressões idiomáticas em dicionários escolares de língua portuguesa. 2016. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.), educacionais (ARAÚJO, 2018ARAÚJO, E. M. V. M. Descrição e avaliação de um quicktionary bilíngue offline usado na aprendizagem da língua inglesa. 2018. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2018.; MOREIRA, 2009MOREIRA, G. L. O uso do dicionário monolíngue na sala de aula: uma ferramenta para compreensão leitora em língua espanhola por alunos avançados de espanhol/LE. 2009. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2009.; NASCIMENTO, 2018NASCIMENTO, F. I. Lexicografia e semiótica social: uma análise da representação, da composição e das relações texto-imagem nos dicionários escolares tipo 2. 2018. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2018.; SOUSA, 2014SOUSA, A. G. F. Com a palavra o consulente: as relações entre imagem e texto em verbetes ilustrados. 2014. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2014.) e discursivos (CHAVES, 2011CHAVES, C. R. D. Le micro Robert: desvelando ideologia(s) em torno do gênero verbete. 2011. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2011.; NUNES, 2010NUNES, J. H. Espaço urbano, sujeito e dicionário: definição e formas do silêncio. Fragmentum, Santa Maria, n. 26, p. 45-54, 2010.; PONTES; SANTOS, 2014PONTES, A. L.; SANTOS, H. L. G. A representação do homem e da mulher no Dicionário de Usos do português do Brasil. Linha D’Água, São Paulo, v. 27, n. 2, p. 123-140, 2014.) que as envolvem.

A maior parte desses trabalhos se concentra nas informações presentes na microestrutura do dicionário; afinal, o verbete parece ser seu elemento mais importante. Há pesquisas sobre as definições (CARVALHO, 2011CARVALHO, O. L. S. Dicionários escolares: definição oracional e texto lexicográfico. In: CARVALHO, O. L. S.; BAGNO, M. (Org.). Dicionários escolares: políticas, formas & usos. São Paulo: Parábola, 2011. p. 87-104.; FARIAS, 2009FARIAS, V. S. Whole-sentence versus definição por genus proximum + differentiae specificae: um contraste entre duas técnicas definitórias. Revista Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p. 73-100, 2009.; SANTOS; PONTES; PRAXEDES FILHO, 2020SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Transitividade em definições de dicionários escolares: análise dos tipos de processos em verbetes sobre homossexuais masculinos. (Con)Textos Linguísticos, Vitória, v. 14, n. 28, p. 218-237, 2020.), sobre as marcas de uso (ARAÚJO, 2019ARAÚJO, N. C. Gíria comum no dicionário escolar. 2019. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2019.; SANTOS; PONTES; PRAXEDES FILHO, 2019SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Marcas de uso e redes medioestruturais de verbetes sobre homossexual masculino em dicionários escolares. Domínios da lingu@gem, Uberlândia, v. 12, n. 4, p. 2384-2410, 2019.; STREHLER, 2001STREHLER, R. G. Marcas de uso nos dicionários. In: PIRES DE OLIVEIRA, A. M. P.; ISQUERDO, A. N. (Org.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. 2. ed. Campo Grande: Ed. UFMS, 2001. p. 171-180.), sobre os exemplos de uso (FORGAS BERDET, 2001FORGAS BERDET, E. Diccionario e ideología: tres décadas de la sociedad española a través de los ejemplos lexicográficos. Espéculo - Revista de Estudios Literarios, Madrid, ano VII, n. 17, 2001.) e até sobre as informações fônicas (ONZI, 2016ONZI, M. L. Informação fônica em obras lexicográficas: estudo da pronúncia em dicionários das línguas portuguesa e italiana. 2016. Tese (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.) que aparecem no verbete. No entanto, poucos são os trabalhos sobre a medioestrutura, isto é, sobre a rede de remissões presentes em cada obra.

Um desses trabalhos é o de Duarte e Pontes (2011DUARTE, E. B.; PONTES, A. L. O componente medioestrutural do minidicionário escolar Caldas Aulete. Entrepalavras, Fortaleza, ano 1, v. 1, n. 1, p. 48-57, 2011.), que apresenta uma análise descritiva de como as remissivas são marcadas no dicionário escolar Caldas Aulete (2004AULETE, Caldas. Caldas Aulete: minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.). Os autores classificam as remissivas encontradas de acordo com as categorias de Gelpí Arroyo (2000GELPÍ ARROYO, C. La lexicografía. Barcelona: Santillana, 2000.) e de Pontes (2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009.).

Outro trabalho que aborda o tema é o de Pontes e Fechine (2018PONTES, A. L.; FECHINE, L. A. R. Metadiscurso verbal e visual: análise da medioestrutura de um dicionário de língua inglesa. Palimpsesto, Rio de Janeiro, v. 10, n. 13, p. 1-22, 2018.). Usando as mesmas categorias que Duarte e Pontes (2011DUARTE, E. B.; PONTES, A. L. O componente medioestrutural do minidicionário escolar Caldas Aulete. Entrepalavras, Fortaleza, ano 1, v. 1, n. 1, p. 48-57, 2011.), os autores acrescentam a perspectiva da multimodalidade e do metadiscurso visual, analisando um dicionário de língua inglesa ilustrado, o Collins Cobuild (2010COLLINS COBUILD. Illustrated Basic Dictionary of American English. Boston: Heinle Cengage Learning, 2010.), e enfatizando as marcas visuais que guiam o leitor para a consulta das remissivas.

Os aspectos ressaltados sobre a marcação das remissivas nos dois trabalhos citados são importantes do ponto de vista da compreensão da organização das obras e dos recursos disponíveis para consulta. No entanto, para além de investigar os tipos de remissivas usadas, é relevante investigar também como são as relações léxico-semânticas estabelecidas nos dicionários através da sua rede de remissões.

Dessa forma, nosso objetivo é investigar como se dá o fluxo de sentidos entre os verbetes relacionados a homossexuais masculinos em dicionários escolares tipo 3, por meio das indicações das remissivas presentes no conjunto de entradas que formam nosso corpus. Nossa hipótese aponta para um maior número de remissivas implícitas entre as entradas, conduzindo à compreensão de que as obras não sugerem que o usuário pode consultar outros verbetes a fim de esclarecer suas dúvidas em relação às definições e às características dos homossexuais masculinos.

Nossa hipótese se deve ao fato de que o recorte temático do campo lexical de nossa pesquisa - a homossexualidade masculina -, ainda enfrenta resistência e preconceito por boa parte da sociedade para o tratamento em âmbito escolar. Assim, é possível que os dicionários escolares optem por expressar as relações entre as entradas consultadas de forma implícita, dificultando a compreensão de usuários menos experientes de obras de referência.

Este artigo está dividido em cinco seções, sendo esta introdução a primeira. A segunda trata dos aspectos teóricos por meio de discussão a respeito da medioestrutura e dos tipos de remissivas. A terceira seção apresenta os aspectos metodológicos da pesquisa. A quarta apresenta os dados levantados e a discussão dos resultados. Por fim, a quinta seção apresenta nossas considerações finais.

2 Pressupostos teóricos

Para compreender de que se trata a medioestrutura de um dicionário, é necessário levar em conta que o dicionário é composto por estruturas que se conectam para gerar um todo coeso e coerente. As estruturas lexicográficas (WELKER, 2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.) são cinco, a saber: (1) a megaestrutura, estrutura global do dicionário em que se encaixam as demais; (2) a macroestrutura, corpo do dicionário, formado pelo conjunto de verbetes da obra; (3) a microestrutura, informações, presentes nos verbetes, de ordem ortográfico-gramatical, semântica e pragmática sobre as entradas que compõem a macroestrutura; (4) a medioestrutura, sistema de remissões entre as diferentes informações presentes no verbete, entre diferentes verbetes ou em outras estruturas do dicionário; e (5) os textos externos, gêneros exteriores à macroestrutura que auxiliam na compreensão de informações presentes na obra, como introdução, guia de uso e tabelas de conjugação verbal. O foco de nosso trabalho, então, é a quarta estrutura apresentada, a medioestrutura.

Segundo Welker (2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.), a medioestrutura é um sistema de remissões usado para remeter o usuário de um lugar para outro. Pontes (2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009., p. 88), por sua vez, afirma que esse nível estrutural do dicionário é um “sistema de referências entre as diferentes partes do dicionário”. Das duas definições apresentadas, uma palavra merece nossa atenção: sistema. O uso desse vocábulo evidencia dois aspectos importantes para a constituição do dicionário: a sistematização necessária para a organização da obra e o sistema de relações entre os elementos da língua. Dessa forma, a medioestrutura deixa entrever a organização do sistema linguístico e da obra lexicográfica através de suas remissivas.

Martínez de Sousa (1995MARTÍNEZ DE SOUSA, J. Diccionario de Lexicografía práctica. Barcelona: Bibliograf, 1995.) afirma que a principal função das remissivas é evitar a repetição de informações no dicionário, tendo em vista que esse tipo de obra apresenta ao mesmo tempo limitações espaciais e a necessidade de compilação de uma grande quantidade de informações. Dessa forma, as remissivas são usadas para economizar espaço no dicionário, levando o consulente de um lugar para outro em que a informação buscada já foi expressa. No entanto, o próprio autor ressalta que uma outra função importante das remissivas é a ampliação do conhecimento linguístico do consulente, uma vez que, ao ser levado para outros verbetes ou para outras partes do dicionário, o usuário terá acesso a outras informações a respeito da temática consultada.

As remissivas aparecem no interior do verbete sob diversas formas. A forma mais comum são as abreviações V. e Cf., respectivamente, ver e conferir. No entanto, as formas não abreviadas também são utilizadas, principalmente em dicionários infantis. As remissivas também podem ser expressas por símbolos, como setas ou formas geométricas, cores e números. (PONTES; FECHINE, 2018PONTES, A. L.; FECHINE, L. A. R. Metadiscurso verbal e visual: análise da medioestrutura de um dicionário de língua inglesa. Palimpsesto, Rio de Janeiro, v. 10, n. 13, p. 1-22, 2018.) Essas informações precisam ser indicadas no guia de uso do dicionário para que o usuário possa tirar melhor proveito da obra.

Embora as remissivas normalmente sejam indicadas, Welker (2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.) afirma que, “[n]a verdade, toda palavra empregada na definição implica uma remissão para o lema daquela palavra, pois, não conhecendo-a, o usuário tem que consultá-la” (p. 180). Dessa forma, todas as palavras que são usadas no interior do dicionário precisam estar definidas na obra; do contrário, configura-se uma falha na sistematização do dicionário que os estudiosos chamam de pista perdida. (DUARTE; PONTES, 2011DUARTE, E. B.; PONTES, A. L. O componente medioestrutural do minidicionário escolar Caldas Aulete. Entrepalavras, Fortaleza, ano 1, v. 1, n. 1, p. 48-57, 2011.; PONTES, 2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009.; WELKER, 2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.) No entanto, vale ressaltar que o dicionarista precisa tomar o cuidado para que as informações estejam acessíveis e o consulente não precise fazer muitos movimentos para encontrar o que deseja.

Wiegand (1996), citado por Welker (2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.), destaca que o uso de remissivas abrange desde aspectos formais a aspectos semântico-pragmáticos. Em relação aos aspectos formais, os autores apontam que as remissivas podem ocorrer das seguintes formas: (1) do lexema complexo para lexema simples, levando o consulente de um componente de uma fraseologia para o verbete em que ela está definida; (2) da palavra flexionada para o lema canônico, conduzindo o usuário para a forma neutra da palavra (masculino singular, para substantivos; e infinitivo, para verbos); e (3) da variante gráfica para a variante padrão.

Em relação aos aspectos semântico-pragmáticos, as remissivas são usadas para evidenciar: (1) as relações de sinonímia e antonímia, por exemplo; (2) as relações etimológicas, como as famílias de palavras; e (3) as relações entre as variantes sociolinguísticas como os regionalismos, os arcaísmos e os lexemas de uso marcado que são remetidos para as formas de uso padrão, atual e não marcadas, respectivamente. Sobre esse último aspecto, é interessante destacar que o fluxo de sentidos entre as variantes sociolinguísticas não se configura, geralmente, como uma via de mão dupla, mas apresenta apenas o sentido das formas marcadas para as não marcadas. (SANTOS; PONTES; PRAXEDES FILHO, 2019SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Marcas de uso e redes medioestruturais de verbetes sobre homossexual masculino em dicionários escolares. Domínios da lingu@gem, Uberlândia, v. 12, n. 4, p. 2384-2410, 2019.) Por isso, Zanatta e Bugueño Miranda (2008ZANATTA, F.; BUGUEÑO MIRANDA, F. V. A normatividade em dicionários gerais de língua portuguesa. In: LIMA-HERNANDES, M. C.; MARÇALO, M. J.; MICHELETTI, G.; MARTIN, V. L. R. (Org.). A língua portuguesa no mundo. São Paulo: FFLECH-USP, 2008. p. 1-20.) ressaltam que é através da medioestrutura que se evidencia o viés normativo da obra lexicográfica.

Em relação às partes do dicionário, as remissivas podem levar o consulente (1) de uma acepção para outra no interior do mesmo verbete; (2) de um verbete para outro verbete; (3) de um verbete para uma ilustração; (4) de um verbete para um quadro de conjugações ou uma lista de abreviaturas nos textos externos; e (5) de um verbete para uma fonte externa ao dicionário, um corpus, por exemplo. Devido a todas essas possibilidades, existem algumas classificações para esse fenômeno. Gelpí Arroyo (2000GELPÍ ARROYO, C. La lexicografía. Barcelona: Santillana, 2000.) identifica três tipos de remissivas. O primeiro tipo se manifesta quando o leitor é remetido de uma acepção a outra no interior de um mesmo verbete, e é chamado pela autora de remissiva horizontal, pois se restringe a uma movimentação no interior da microestrutura. O segundo tipo de remissiva é observado quando o usuário é levado de um verbete para outro, precisando proceder uma nova consulta. Este tipo é denominado remissiva vertical, pois o consulente é levado a se movimentar no nível da macroestrutura e procurar outro verbete. O último tipo de remissiva ocorre quando o consulente é levado de um verbete para alguma informação nos textos externos, como um quadro de conjugação verbal ou uma lista de abreviaturas. Este último tipo é chamado de remissiva transversal, pois o leitor precisa se movimentar para fora do conjunto de verbetes.

Welker (2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.) apresenta três possibilidades diferentes de classificação das remissivas. Em relação à primeira possibilidade, o autor distingue entre as remissões internas e externas diferenciadas sob a perspectiva do nível estrutural envolvido na remissão. As remissivas que levam o consulente de um ponto a outro do dicionário seriam chamadas de remissões internas. Dessa forma, os três primeiros tipos propostos por Gelpí Arroyo (2000GELPÍ ARROYO, C. La lexicografía. Barcelona: Santillana, 2000.) seriam classificados como remissivas internas. Já as remissões externas seriam aquelas que conduzem o consulente a outras obras. Isso acontece quando o dicionário indica as referências de seu corpus de base, como ocorre nos exemplos de uso utilizados no Dicionário de usos do português do Brasil, de Borba (2002BORBA, F. S. Dicionário de usos do Português do Brasil. São Paulo: Ática, 2002.).

A segunda classificação apresentada por Welker (2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.) é a de Wiegand (1996), para quem as remissivas são classificadas em obrigatórias e facultativas. As remissivas obrigatórias, como o próprio nome informa, são aquelas que o consulente precisa seguir para obter as informações que busca. As remissivas facultativas seriam aquelas que o consulente decide se segue ou não. Essa diferenciação é feita tendo por base a atitude que se espera que o consulente tenha diante das informações constantes no dicionário.

Em relação à terceira classificação, Welker (2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.) usa os termos remissiva explícita e remissiva implícita para se referir às remissões. Esses mesmos termos podem ser encontrados em Pontes (2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009.); no entanto, os dois autores não creditam essa classificação a nenhum teórico. Pontes (2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009.) esclarece que as remissivas explícitas são aquelas em que há indicações como as abreviaturas V. e Cf., enquanto as implícitas seriam as que não apresentam indicações, mas o leitor sente a necessidade de fazer uma nova consulta para compreender alguma palavra da definição, por exemplo. Esta última nos remete à remissiva facultativa de Wiegand (1996 apudWELKER, 2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.); contudo, a nosso ver, a facultatividade da consulta pode ocorrer mesmo com a presença de uma remissiva explícita.

Dentre essas classificações, elegemos a última como fonte das nossas categorias de análise, tendo em vista que, como nosso objetivo é analisar o fluxo de sentidos entre os verbetes, todas as nossas remissivas seriam internas (WELKER, 2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.), uma vez que não há indicação de consulta a outras obras. Quanto à classificação em obrigatórias e facultativas (WELKER, 2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.), como ressaltamos, pode haver um fator subjetivo da parte do consulente, que não abordamos em nossa pesquisa. Por sua vez, a classificação de Gelpí Arroyo (2000GELPÍ ARROYO, C. La lexicografía. Barcelona: Santillana, 2000.) também não atenderia aos nossos objetivos, uma vez que ela nos indicaria para que estrutura lexicográfica o consulente está sendo levado, se para outro verbete ou para outra parte do dicionário.

Já a categorização em remissivas implícitas ou explícitas consiste em uma indicação direta de consulta. Assim, a opção por uma remissiva explícita indica que o dicionarista, por conhecer os possíveis sentidos da palavra que motivou a busca, aconselha o usuário a continuar sua busca para que possa compreender melhor seus sentidos e suas relações com outras palavras. Por outro lado, a opção por uma remissiva implícita pode revelar que o dicionarista deseja ocultar ou silenciar a relação entre os verbetes, atrasando a compreensão da palavra consultada. Tendo em vista que, provavelmente, os usuários potenciais dos dicionários aqui analisados, alunos do 6º ao 9º anos do ensino fundamental, ainda não têm tanta experiência em consultar obras de referência, marcar ou não as remissões pode ser a diferença entre seguir a consulta ou não, uma vez que a compreensão de que é possível continuar a busca de sentidos a partir de uma palavra da definição do verbete consultado que não está clara se dá através do nível de experiência de consulta, da frequência de contato com o dicionário e, na maioria das vezes, da instrução formal no ambiente escolar sobre o assunto específico das remissivas.

3 Metodologia

Como nosso objetivo é investigar como se constrói o fluxo de sentidos entre os verbetes relacionados a homossexuais masculinos em dicionários escolares tipo 3 através das remissivas implícitas e explícitas presentes no conjunto de entradas que formam nosso corpus, este trabalho pode ser caracterizado como uma pesquisa descritiva de caráter qualitativo. Os dicionários que serviram de fonte para a extração do corpus foram os seguintes: (1) Dicionário escolar da Academia Brasileira de Letras (DABL - BECHARA, 2011BECHARA, E. C. (Org.). Dicionário escolar da Academia Brasileira de Letras. 3. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2011.); (2) Aurélio Júnior - dicionário escolar da língua portuguesa (AJ - FERREIRA, 2011FERREIRA, A. B. H. Aurélio Júnior: dicionário escolar da língua portuguesa. 2. ed. Curitiba: Positivo, 2011.); (3) Caldas Aulete - minidicionário contemporâneo da língua portuguesa (CA - GEIGER, 2011GEIGER, P. (Org.). Caldas Aulete: minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2011.); (4) Dicionário didático da língua portuguesa (DDLP - RAMOS, 2011RAMOS, R. A. (Ed.). Dicionário didático de língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: SM, 2011.); e (5) Saraiva jovem - dicionário da língua portuguesa ilustrado. (SJ - SARAIVA; OLIVEIRA, 2010SARAIVA, K. S. A.; OLIVEIRA, R. C. G. Saraiva jovem: dicionário da língua portuguesa ilustrado. São Paulo: Saraiva, 2010.)

O corpus principal é composto por quarenta ocorrências de verbetes referentes a onze entradas, cujos critérios de seleção foram: (1) ser substantivo; e (2) apresentar ao menos uma acepção relacionada a homossexuais masculinos. O Quadro 1 apresenta um panorama de nosso corpus.

Quadro 1
Corpus principal

A partir das definições dos verbetes do corpus principal, observamos que há remissões entre os verbetes da lista e, em alguns casos, ocorre a remissão a verbetes que não estão na listagem inicial, por não serem substantivos ou por se referirem a possíveis características das pessoas homossexuais. Dessa forma, sentimos a necessidade de elaborar um corpus complementar para observar o fluxo de sentidos proposto em cada dicionário por meio de uma rede medioestrutural. Os verbetes que compõem o corpus complementar são: “afeminado”, “efeminado”, “heterossexual”, “homossexualidade”, “homossexualismo” e “pederastia”.

Tendo em vista que, em tese, todas as palavras usadas nas definições e nos exemplos de uso podem ser consideradas como remissivas implícitas, é necessário o estabelecimento de critérios para sua seleção. Estabelecemos dois critérios: referência ao campo de sexualidade e gênero social (critério semântico); e restrição de uma remissiva por definição tanto no corpus principal quanto no corpus complementar (critério quantitativo).

Quanto ao critério semântico, optamos por desconsiderar palavras que poderiam levar à constituição de redes medioestruturais para além do campo da sexualidade, tais como “pessoa” e “indivíduo”, que poderiam levar a “pessoa gramatical” ou “ser humano”, por exemplo. Também optamos por não incluir a palavra homem como remissiva implícita, tanto pela possibilidade de levar a outros campos lexicais quanto por estar subentendida na caracterização de “masculino”, presente em vários verbetes. Dessa forma, incluímos substantivos e adjetivos relacionados ao campo do gênero social e da sexualidade.

Quanto ao critério quantitativo, a limitação a uma remissiva implícita por definição se justifica porque, em algumas definições, por exemplo, encontramos expressões como “roupa feminina” e “modo efeminado”; assim, deveríamos ter quatro remissivas “roupa”, “feminino”, “modo” e “efeminado”: incluir todas deixaria a rede muito densa, o que poderia dificultar a compreensão do campo lexical objeto de estudo. Contudo, cabe destacar que as acepções de “bicha” do CA e “baitola” do SJ foram consideradas como sequências de definições sinonímicas. Por exemplo, na acepção de “bicha” do CA, temos: “Homossexual masculino, homem efeminado”. Essas duas expressões são tratadas na teoria lexicográfica (PONTES, 2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009.; PORTO DAPENA, 2002PORTO DAPENA, J. A. Manual de técnica lexicográfica. Madrid: Arcos Libros S. L., 2002.) como duas definições sinonímicas colocadas em sequência. Por isso, cada expressão levou a uma remissiva implícita, “Homossexual masculino” levou a “homossexual” e “homem efeminado” levou a “efeminado”. Então, embora apareçam juntas, cada definição sinonímica apresenta sua própria remissiva implícita.

Os procedimentos de análise adotados nesta pesquisa foram os seguintes: (1) identificação das acepções em cada verbete que se referem a homossexuais masculinos; (2) categorização das remissivas explícitas e das possíveis remissivas implícitas; (3) consulta ao corpus complementar, quando necessário, para observar o fluxo de sentidos entre verbetes do corpus principal que não apresentam remissão direta; (4) elaboração das redes medioestruturais de cada obra; (5) análise dos percentuais encontrados por dicionário e por verbete; e (6) discussão das possíveis implicações dos resultados obtidos. A seguir, partimos para a apresentação da análise dos dados.

4 Resultados

Iniciamos a discussão de nossos achados com a apresentação das acepções selecionadas do corpus principal, seguidas da classificação da remissiva, quando presente, e do verbete para o qual a remissiva aponta. O primeiro grupo de verbetes, no Quadro 2, foi retirado do DABL:

Quadro 2
Dados DABL (corpus principal)

Como é possível perceber, os verbetes “bicha”, “gay”, “pederasta” e “veado” levam o consulente, mesmo que implicitamente, para o verbete “homossexual”, no qual há uma definição mais elaborada e informativa sobre o homem de orientação homossexual. É interessante destacar que o verbete “pederasta” apresenta, em sua definição, quase as mesmas informações que o verbete “homossexual”; no entanto, este último representa a palavra mais usual, na atualidade, para se referir às pessoas homossexuais.

Já os verbetes “boneca” e “maricas” apresentam remissivas para o verbete “efeminado”, que não faz parte de nosso corpus principal. Como afirmamos, a partir de casos como esse, em todos os conjuntos de verbetes, sentimos a necessidade de compor o corpus complementar. A seguir, apresentamos as acepções do verbete “efeminado”, seguidas da classificação de suas remissivas e do verbete para o qual elas apontam.

Quadro 3
Dados DABL (corpus complementar)

Como ocorreu com a maioria dos verbetes do DABL, temos uma ligação entre o verbete “efeminado” e o verbete “homossexual”. Todas as remissivas encontradas no DABL são implícitas; então, se representarmos essas remissões em uma imagem, temos a formação de uma rede de sentidos que convencionamos chamar de rede medioestrutural. Através da rede, apresentada na Figura 1, é possível perceber que há um fluxo de sentidos entre as entradas, no qual os verbetes situados à margem apresentam menos informações em suas definições, conduzindo o leitor para o verbete “homossexual”, situado no centro da rede.

Figura 1
Rede medioestrutural do DABL

Vemos, na Figura 1, a centralidade do verbete “homossexual” quanto ao fluxo das remissões apresentadas nesse conjunto de verbetes. Como afirmamos, o verbete “pederasta” poderia ocupar o centro da rede, juntamente com o verbete “homossexual”; no entanto, não se trata de uma palavra frequente ou usual na atualidade e, por isso, apresenta uma remissiva. Outro detalhe que possivelmente influencie a posição de “pederasta” é o fato de ser uma entrada marcada como “pejorativo”. (SANTOS; PONTES; PRAXEDES FILHO, 2019SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Marcas de uso e redes medioestruturais de verbetes sobre homossexual masculino em dicionários escolares. Domínios da lingu@gem, Uberlândia, v. 12, n. 4, p. 2384-2410, 2019.) Partimos agora, no Quadro 4, para o conjunto de verbetes do AJ.

Quadro 4
Dados AJ (corpus principal)

Como ocorreu no conjunto anterior, o verbete “gay” apresenta remissão implícita para o verbete “homossexual”, no qual há uma definição mais elaborada e informativa sobre o indivíduo homossexual. Há também uma remissiva que conduz a leitura da segunda acepção do verbete homossexual para a primeira, simbolizada por (1) no final da definição. Essas características tornam essa remissiva interna e explícita.

Já o verbete “maricas” apresenta uma remissiva implícita para o verbete “efeminado”, que faz parte de nosso corpus complementar. Por fim, o verbete “pederasta” faz remissão implícita para o verbete “pederastia” de nosso corpus complementar que, por sua vez, conduz o leitor a outro verbete do corpus complementar, “homossexualismo”. Vejamos os verbetes no Quadro 5:

Quadro 5
Dados AJ (corpus complementar)

Diferentemente do que vimos no DABL, o verbete “efeminado” apresenta uma remissão para ele mesmo, não havendo ligação entre essa entrada e o verbete “homossexual”. A remissiva encontrada em “homossexualismo” aponta para o verbete “homossexual”, enquanto a encontrada em “pederastia” leva o leitor para “homossexualismo”. Dessa forma, temos uma ligação distante entre “pederasta” e “homossexual”. Todas as remissivas encontradas neste conjunto são implícitas; então, ao elaborarmos a rede, teríamos algo semelhante ao que é apresentado na Figura 2.

Figura 2
Rede medioestrutural do AJ

A rede medioestrutural do AJ apresenta uma organização diferente do que vimos no DABL. É possível observar que não há um, mas dois, conjuntos de relações. O primeiro tem seu centro em “homossexual” e apresenta mais verbetes, enquanto o segundo, formado apenas por “maricas” e “efeminado”, tem seu centro em “efeminado”. É interessante destacar que, ao formar dois fluxos de sentido separados, o dicionário afasta os sentidos de “homossexual” e de “efeminado”.

De fato, as pessoas do sexo masculino que são efeminadas não são obrigatoriamente homossexuais. No entanto, não podemos negar que existem homossexuais masculinos que expressam sua sexualidade para o mundo social se utilizando de atributos tidos como femininos. Inclusive, das homossexualidades masculinas, o efeminado é quem sofre mais preconceito até no meio LGBTQIA+. Então, o fato de o dicionário não estabelecer relação entre “efeminado” e “homossexual”, nem ao menos implicitamente, pode ser uma tentativa de evitar a elaboração, por parte do consulente, da relação direta entre a homossexualidade e a feminilidade.

Vamos agora, no Quadro 6, para o conjunto de verbetes extraídos do CA.

Quadro 6
Dados CA (corpus principal)

Neste conjunto de verbetes, temos as primeiras ocorrências de remissivas explícitas em verbetes diferentes na nossa amostra. O verbete “baitola” indica que o leitor deve consultar o verbete “boiola” que, por sua vez, indica, por meio do uso de maiúsculas, que o verbete baitola deve ser consultado. No entanto, apenas “boiola” apresenta remissão implícita para o verbete “homossexual”. É provável que “boiola” (e não “baitola”) seja escolhido para remeter a “homossexual”, devido à ausência de marca de regionalismo.

Continuando a relação de remissivas explícitas, o verbete “homossexual” indica que o leitor deve conferir o verbete “heterossexual”, provavelmente, para comparação e ampliação do vocabulário do consulente. O verbete “mariquinhas” remete para o verbete “maricas” e o verbete “pederasta”, usando o mesmo recurso da remissão entre “boiola” e “baitola”, as letras maiúsculas, remete o consulente a “homossexual”.

Sobre as remissivas implícitas, as entradas “bicha”, “boiola”, “gay” e “veado” conduzem o leitor para o verbete “homossexual”. Os verbetes “bicha” e “boneca” apresentam remissivas para o verbete “efeminado” e, por fim, “maricas” remete o leitor para “afeminado”. Então, para completar o fluxo de sentidos entre esses verbetes é necessário consultar “afeminado”, “efeminado” e “heterossexual” do corpus complementar (Quadro 7).

Quadro 7
Dados CA (corpus complementar)

O verbete “afeminado”, por meio de uma remissiva explícita, conduz o leitor para “efeminado”, estabelecendo uma relação de sinonímia entre essas entradas. O verbete “efeminado” aponta para o verbete “homossexual” através de uma remissão implícita. A entrada “heterossexual” também apresenta uma remissiva explícita para o verbete “homossexual”. Essas remissões explícitas entre “homossexual” e “heterossexual” reforçam a interpretação de que a opção pela indicação de outro verbete tem por objetivo expandir o conhecimento do consulente.

Ao organizar esses dados para visualizar a rede de remissões, temos a Figura 3.

Figura 3
Rede medioestrutural do CA

Inicialmente, é importante perceber a complexidade da rede medioestrutural elaborada pelo dicionário. Novamente, a relação entre os verbetes que constituem o conjunto com núcleo em “efeminado” (os verbetes “afeminado”, “bicha”, “boneca”, “maricas” e “mariquinhas”) é expressa por uma remissiva implícita com a entrada “homossexual”.

Partimos agora para os verbetes extraídos do DDLP, apresentados no Quadro 8.

Quadro 8
Dados DDLP (corpus principal)

Nesse conjunto de verbetes, temos apenas uma remissão explícita, do verbete “homo” para “homossexual”, indicada pelo símbolo “>”. Esta remissão deve ter sido proposta para conduzir o leitor entre sinônimos, tendo em vista que a primeira entrada seria uma abreviação da segunda, como indicado pela segunda nota de uso do verbete “homossexual”, que se configura, por sua vez, como uma remissão implícita.

As remissivas implícitas são a maior parte das ocorrências verificadas. Os verbetes “baitola”, “boiola”, “gay”, “pederasta” e “veado” apresentam indicações para o verbete “homossexual”. As entradas “bicha”, “boneca” e “maricas” remetem ao verbete “afeminado”. Os verbetes “gay” e “homossexual” levam o consulente para “homossexualidade” e, novamente, observamos uma remissão entre os verbetes “homossexual” e “heterossexual”. Consultando os verbetes de nosso corpus complementar, encontramos, no Quadro 9, as seguintes remissivas:

Quadro 9
Dados DDLP (corpus complementar)

O verbete “afeminado” leva para o verbete “efeminado” por meio de uma remissão explícita e, por sua vez, o verbete “efeminado” remete implicitamente para o verbete “afeminado”. Esse fenômeno é chamado de circularidade por vários teóricos - tais como Pontes (2009PONTES, A. L. Dicionário para uso escolar: o que é como se lê. Fortaleza: EdUECE, 2009.) e Welker (2004WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.) -, e contribui para a viabilidade econômica da obra, mas pode se configurar como um empecilho para a compreensão dos sentidos das palavras pelo consulente.

Em “heterossexual”, temos duas remissões, a primeira leva o consulente para o verbete “heterossexualidade” e a segunda conduz o consulente de volta para o verbete “homossexual”. Novamente, a circularidade dessas remissões, apesar de às vezes não facilitar a compreensão, pode, numa ocorrência como esta, contribuir para a ampliação dos conhecimentos linguísticos do usuário, expandindo seu repertório lexical. O mesmo ocorre com o verbete “homossexualidade”, que remete o leitor aos verbetes “homossexualismo” e “heterossexualidade”. Aqui cabe um comentário sobre a palavra “homossexualismo”, tida como pejorativa pela comunidade LGBTQIA+, devido ao fato de relacionar a concepção de homossexualidade com patologia do instinto sexual, adotada no século XIX e boa parte do século XX. (PRETES; VIANNA, 2008PRETES, E.; VIANNA, T. História da criminalização da homossexualidade no Brasil: da sodomia ao homossexualismo. In: LOBATO, W.; SABINO, C.; ABREU, J. F. Iniciação científica: destaques 2007. Belo Horizonte: PUC Minas, 2008. v. 1. p. 313-392.)

Com os dados levantados nas análises relativas ao DDLP, elaboramos a Figura 4.

Figura 4
Rede medioestrutural do DDLP

Sobre a organização do fluxo de remissões, é importante perceber que “homossexual” mantém o maior número de relações medioestruturais da figura. No entanto, é interessante destacar também que aumentou a quantidade de remissivas que partem desse verbete, mostrando que a rede não é constituída de um fluxo de sentido único. Ao estabelecer remissões recíprocas entre os verbetes “homossexual”, “homo” e “heterossexual”, o dicionário torna mais complexos os sentidos construídos em suas definições e verbetes, ampliando o repertório do consulente.

Outra relação interessante a destacar está centrada no verbete “homossexualidade”, uma vez que tanto “gay” quanto “homossexual” apontam para esse verbete, construindo um outro ponto de convergência. Novamente, temos outra ocorrência das possibilidades de relações entre os verbetes que pode contribuir para a ampliação dos conhecimentos do consulente. Partimos agora, no Quadro 10, para o conjunto de verbetes extraídos do SJ.

Quadro 10
Dados SJ (corpus principal)

Como é possível observar, temos três remissões explícitas. Entre os verbetes “baitola” e “boiola”, temos as duas primeiras, indicando a leitura dos dois verbetes ao consulente e ampliando a compreensão e o repertório do usuário. A terceira remissiva explícita leva o consulente da entrada “homossexual” para “heterossexual”, relação já estabelecida no CA e no DDLP.

Sobre as remissivas implícitas, novamente, o verbete “homossexual” se configura como ponto de convergência de sentidos. Para ele, apontam os verbetes “bicha”, “boiola”, “boneca”, “gay”, “pederasta” e “veado”. O verbete “boiola” leva para o verbete “gay”, e o verbete “maricas” conduz o leitor para “afeminado”. Assim, faz-se necessário consultar “afeminado” e “heterossexual”, em nosso corpus complementar, o que pode ser visto no Quadro 11.

Quadro 11
Dados SJ (corpus complementar)

O verbete “afeminado” apresenta duas remissivas, a primeira, categorizada como implícita, leva o consulente para o verbete “homossexual”; já a segunda, explícita, aponta para a entrada “efeminado”. O verbete “efeminado”, incluído após a leitura de “afeminado”, também apresenta uma remissão explícita conduzindo o leitor de volta para “afeminado”. Essa circularidade já foi observada e comentada anteriormente. Por sua vez, a entrada “heterossexual” remete o consulente para o verbete “homossexual” através de uma remissiva explícita também. Com esses dados, elaboramos a rede medioestrutural do SJ (Figura 5).

Figura 5
Rede medioestrutural do SJ

Diferentemente do que ocorreu no DDLP, essa figura mostra que há um fluxo de sentidos conduzindo, na maioria das vezes, ao verbete “homossexual”. Outro detalhe interessante que a figura deixa mais evidente está relacionado ao verbete “boiola”, que pode levar o consulente para três entradas diferentes.

Feitos esses comentários e descrições, é necessário observar os dados de forma geral para compreendermos as implicações desses achados. O Quadro 12 apresenta as ocorrências dos tipos de remissiva por dicionário.

Quadro 12
Visão geral por dicionário (corpus principal)

Para esse quadro, foram consideradas apenas as remissivas presentes nas entradas do corpus principal, tendo em vista que a consulta ao corpus complementar ocorreu de forma diferente em cada obra. No entanto, é visível a tendência à utilização de remissões implícitas em todos os dicionários, totalizando 81,8% das ocorrências na nossa amostra. Nesse sentido, o DABL se destaca por apresentar 100% de remissivas implícitas. O dicionário que apresentou mais remissivas explícitas, com 5 ocorrências (36%), foi o CA.

Considerando que a utilização das remissivas implícitas pelo consulente depende da sua intimidade com as estruturas lexicográficas e de seu contato com essas obras, fica evidente que os dicionários em análise buscam “esconder” as relações léxico-semânticas entre essas entradas. Para compreendermos as implicações dessa escolha por remissões implícitas, vamos comparar a rede medioestrutural do CA apresentada na Figura 3 com a sua versão sem os dados referentes às remissivas implícitas, tal como apresentada na Figura 6.

Figura 6
Rede medioestrutural do CA sem remissivas implícitas

Na Figura 6, fica claro que, retiradas as remissivas implícitas, o conjunto de verbetes em análise forma uma nuvem de palavras sem coesão. Mesmo sendo o dicionário que apresentou mais remissivas explícitas, as palavras aqui parecem independentes e sem relações entre si. Essa imagem reforça nossa interpretação de que a opção por remissivas implícitas parece silenciar as relações entre entradas.

Sobre as redes medioestruturais, é interessante notar a flutuação das relações entre os verbetes relacionados à entrada “efeminado”, como “bicha”, “boneca” e “maricas”. Esses verbetes aparecem ora ligados ao verbete central, “homossexual”, ora isolados. Essas possibilidades de representação das relações entre as entradas evidenciam como as opções dos dicionaristas podem influenciar em nossas percepções sobre o léxico da língua.

Outro dado importante pode ser encontrado tomando as entradas como ponto de partida, como está no Quadro 13.

Quadro 13
Visão geral por entrada (corpus principal)

Vistas sob a ótica das entradas, algumas relações podem ser elucidadas. É interessante destacar que os verbetes “homo” e “mariquinhas”, juntamente com “baitola”, quebram a tendência geral observada na amostra de utilização de remissões implícitas. Contudo, carecem de mais ocorrências para que possamos tecer comentários mais bem embasados sobre eles. É provável que isso se deva ao fato de esses verbetes não apresentarem definições, sendo, então, necessário operar outra consulta para encontrar os significados dessas palavras.

No caso de “homo” e “mariquinhas”, os dicionaristas optaram por não apresentar definições para essas entradas devido a serem, respectivamente, uma abreviação de “homossexual” e o diminutivo de “maricas”. Quanto à entrada “baitola”, é provável que a ausência de definições no SJ e no CA levou ao uso de remissivas explícitas. Por outro lado, no DDLP, em que há definição, foi encontrada uma remissiva implícita.

Sobre “boiola”, as remissões observadas nessa entrada dizem respeito à sua relação com a entrada “baitola”, marcada como regionalismo e, por isso, ocupando região mais afastada do centro da rede (SANTOS; PONTES; PRAXEDES FILHO, 2019SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Marcas de uso e redes medioestruturais de verbetes sobre homossexual masculino em dicionários escolares. Domínios da lingu@gem, Uberlândia, v. 12, n. 4, p. 2384-2410, 2019.), como visto nas Figuras 1 a 5. Entretanto, ambas têm seus usos marcados como “pejorativo” e, por isso, não podem ocupar o centro do fluxo de sentidos.

Os verbetes de nossa amostra que apresentam 100% de remissões implícitas são: “bicha”, “boneca”, “gay”, “maricas” e “veado”. As entradas “bicha” e “boneca” levam aos verbetes “homossexual” e “efeminado”, evidenciando a possibilidade de essas entradas se referirem aos homossexuais masculinos que expressam sua sexualidade através da feminilidade.

Outro verbete que apresenta essa mesma relação é “maricas”. Entretanto, além da possibilidade de expressão de modos femininos, também é estabelecida, nas definições, a relação dessa entrada com o “sentir medo”. Em nossas análises, não encontramos relação entre essa possível característica de “maricas” e a homossexualidade, mas - em Santos, Pontes e Praxedes Filho (2020SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Transitividade em definições de dicionários escolares: análise dos tipos de processos em verbetes sobre homossexuais masculinos. (Con)Textos Linguísticos, Vitória, v. 14, n. 28, p. 218-237, 2020.) -, discutimos essa relação sob o ponto de vista da gramática sistêmico-funcional. Possivelmente, essa relação seja fruto de uma visão estereotipada e preconceituosa que associa “sentir medo” à feminilidade.

Já os verbetes “gay” e “veado” conduzem o leitor para a entrada “homossexual”; no entanto, “veado” se trata de uma forma marcada, enquanto “gay” não o é. O verbete “gay” também apresenta remissão para “homossexualidade”, evidenciando, talvez, seu caráter não marcado.

O verbete “pederasta” aponta, na maioria dos casos, para a leitura do verbete “homossexual”. Entretanto, também há uma remissão implícita para “pederastia”, que seria sua característica. Como afirmamos anteriormente - com base em Santos, Pontes e Praxedes Filho (2019SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Marcas de uso e redes medioestruturais de verbetes sobre homossexual masculino em dicionários escolares. Domínios da lingu@gem, Uberlândia, v. 12, n. 4, p. 2384-2410, 2019.; 2020) -, parece haver elementos na definição de “pederastia”, bem como nos próprios usos linguísticos registrados pelos dicionários, que levam à marcação dessa entrada como “pejorativa”. Portanto, não há espaço para ela no centro da rede medioestrutural.

O verbete “homossexual”, para o qual convergem a maioria das remissivas encontradas, aponta também para os verbetes “homo”, “homossexualidade” e “heterossexual”. Essas remissivas, a nosso ver, são elaboradas no intuito de ampliar os conhecimentos linguísticos do consulente. Mesmo a maior parte das remissões encontradas nessa entrada sendo classificadas como implícitas, a existência de duas remissivas explícitas ao verbete “heterossexual” cumpre esse papel.

5 Considerações finais

Nessa pesquisa, elegemos como objetivo a investigação da construção do fluxo de sentidos entre os verbetes relacionados a homossexuais masculinos em dicionários escolares tipo 3 por meio da análise do sistema de remissivas dessas obras. Inicialmente, acreditávamos que haveria maior quantidade de remissivas implícitas, devido ao recorte temático selecionado: a referência a homossexuais masculinos.

Essa nossa hipótese inicial foi confirmada, tendo em vista a tendência geral observada em cada obra e no corpus como um todo para expressar as relações léxico-semânticas entre as entradas de forma implícita. A opção por esse tipo de remissiva, a nosso ver, pode implicar que o dicionarista evita aconselhar o consulente a buscar, em outros verbetes, informações que poderiam sanar suas dúvidas, utilizando-se de uma remissão implícita para deixar a cargo do consulente se segue em sua busca ou não.

Essa opção dos autores dos dicionários pode ser reflexo da resistência, observada em diversos setores da sociedade, em discutir questões relacionadas a gênero social e sexualidade. O esclarecimento dessa questão só será possível com o desenvolvimento de outras pesquisas que abordem a organização de redes de remissivas de outros campos lexicais relacionados à sexualidade e ao gênero, expandindo a discussão para outros tipos de dicionários, por exemplo.

A discussão desses temas, importante para a desconstrução dos preconceitos sofridos pela população LGBTQIA+ e para a desconstrução do machismo, é vista como “sexualização da criança” ou “incentivo à homossexualidade”. (CASTRO, 2020CASTRO, R. Bolsonaro distorce publicação e acusa OMS de incentivar masturbação e homossexualidade em crianças. Época, Rio de Janeiro, 30 abr. 2020. Disponível em: Disponível em: https://epoca.globo.com/brasil/bolsonaro-distorce-publicacao-acusa-oms-de-incentivar-masturbacao-homossexualidade-em-criancas-1-24403161 . Acesso em: 12 nov. 2020.
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) No entanto, a orientação sexual, incluída nos temas transversais da educação básica, não visa nada além da construção da consciência corporal e identitária do cidadão e do cultivo de hábitos saudáveis de cuidado pessoal e com os outros, colaborando para a formação cidadã e o respeito às diferenças. (BRASIL, 1997BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997.)

Além de observar essa tendência por meio dos percentuais, também foi possível, por meio da elaboração das redes medioestruturais, visualizar essa tendência. As redes auxiliaram ainda a compreender como se dá o fluxo de informações entre os verbetes da amostra, permitindo reconhecer e discutir as relações entre as entradas. Essa metodologia se mostra bastante eficiente e produtiva, como vemos em Santos (2016SANTOS, H. L. G. Verbetes lexicográficos e processos: uma abordagem metalexicográfica e sistêmico-funcional de dicionários escolares. 2016. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.) e Santos, Pontes e Praxedes Filho (2019SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Marcas de uso e redes medioestruturais de verbetes sobre homossexual masculino em dicionários escolares. Domínios da lingu@gem, Uberlândia, v. 12, n. 4, p. 2384-2410, 2019.; 2020SANTOS, H. L. G.; PONTES, A. L.; PRAXEDES FILHO, P. H. L. Transitividade em definições de dicionários escolares: análise dos tipos de processos em verbetes sobre homossexuais masculinos. (Con)Textos Linguísticos, Vitória, v. 14, n. 28, p. 218-237, 2020.), trazendo à tona dados para discussão que poderiam não ser explorados pela simples descrição da medioestrutura.

Por fim, cabe ressaltar ainda que nossos dados revelam a multifuncionalidade das remissivas. O sistema de relações de que tratamos em nossas análises não se limita a questões de forma ou grafia das palavras ou mesmo da indicação de sinônimos e antônimos, mas evidencia também as relações semântico-discursivas que envolvem o léxico da língua, situando as entradas em complexas redes que refletem as estruturas sociais e as nuances de sentidos imbricadas nos usos da língua.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2022

Histórico

  • Recebido
    16 Out 2020
  • Aceito
    28 Out 2021
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