Acessibilidade / Reportar erro

PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E PROFISSIONAL (POPPE), FACULDADE DE MEDICINA DA UFRJ.

Resumo:

Objetiva-se com este artigo a divulgação da sistematização do Programa de Orientação Psicopedagógica e Profissional (POPPE) da Faculdade de Medicina da UFRJ.

A sistematização do POPPE se fez em razão da problemática identificada entre os alunos, das atividades específicas, preventivas, de desenvolvimento e curativas desenvolvidas para a render à esta problemática e, dos resultados significativamente positivos obtidos quantitativa e qualitativamente.

Summary:

A better medical education can be approached towards the systematization of a program centered on psycho-pedagogic and professional aid implemented at the Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, named as POPPE.

The systematization of this program was due to the identification of problems among the students POPPE is a very flexible program in which are included prevention, cure and specific methods for evaluate both, quantitative and qualitative results.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo visa divulgar a sistematização do Programa de Orientação Psicopedagógica e Profissional (POPPE) da Faculdade de Medicina da UFRJ. O projeto de implantação de tal programa constou de artigo anterior, publicado nesta revista por Coura et alii, em 1984CAMILLO-COURA, Léa et alii, Programa de Orientação Psico-Pedagógica e Profissional (POPPE), Faculdade de Medicina da UFRJ.,

Julgamos oportuna a publicação deste artigo, em função de sua proposta inovadora, e de alta relevância para a otimização do processo ensino-aprendizagem não só na área médica, mas de todo o ensino superior.

Ressalta o fato de ter sido, esta sistematização, validada em cinco semestres letivos de atuação e atendimento à problemática ao alunado, com resultados efetivos, face à proposta inicial constante no Documento I, 1984I - Projeto de Implantação. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, 8(3): 182 - 187, set/dez. 1984..

2. JUSTIFICATIVAS

A sistematização do Programa de Orientação Psicopedagógica e Profissional (POPPE) se justifica na medida em que os problemas apontados pelos alunos, na época, se confirmaram, e as propostas iniciais de orientação, indicadas no Documento I de 1984, se concretizaram em atuações específicas de atendimento aos universitários.

A partir do projeto de implantação do Programa (POPPE) constatou-se uma complexidade de fatores intervenientes no processo de desenvolvimento efetivo dos alunos, dificultando o mesmo a nível pessoal acadêmico. As dificuldades se fazem sentir, sobretudo, para o aluno, no que se refere ao uso e desenvolvimento integral de recursos humanos, acadêmicos, técnicos e científicos.

Em razão dos problemas identificados se organizam e efetivam uma série de atividades de caráter preventivo, de desenvolvimento, e curativo com o objetivo de atender aos interesses, necessidades e problemas específicos.

Os resultados obtidos apontam a redução significativa e/ou a solução da problemática dos alunos e conseqüentemente reflexo positivo no processo de desenvolvimento integral e de aprendizagem dos mesmos.

Com estes resultados a justificativa da sistematização do Programa como um todo, e de suas atividades, se faz por si mesma e, ainda, pela importância da extensão deste processo de orientação aos demais universitários.

3. SISTEMATIZAÇÃO DO PROGRAMA (POPPE)

Identificação dos problemas dos alunos

Os problemas identificados através de dados apontados pelos alunos, se caracterizaram no que segue:

  • insegurança e instabilidade no que concerne à opção pela carreira médica;

  • dificuldades pessoais e acadêmicas (psicopedagógicas) de adaptação ao curso médico;

  • crises evolutivas decorrentes do curso médico identificadas nos seguintes momentos: (a) 1.o período ou 1.o ano - contato com o cadáver; (b) 5.o período ou 3.o ano - contato com o paciente; (c) 10.o período ou final do 5.o ano - ansiedade na assunção da responsabilidade clínica do paciente; (d) 12.o período ou final do 6.o ano - medo decorrente da perda do vínculo com a instituição e da situação profissional solitária frente ao paciente;

  • dúvidas avassaladoras quanto à vocação e identidade médica, principalmente entre alunos a partir do 5.o período (3.o a no), até a formatura;

  • dificuldades na consolidação da identidade sexual e profissional;

  • problemas existenciais decorrentes da contradição em sentir-se entre os limites da dependência familiar e das necessidades de realização pessoal e produtividade como adulto jovem;

  • problemas axiológicos decorrentes da vivência do confronto entre valores incorporados e a realidade social vigente;

  • crises emocionais diversas;

  • problemas de saúde interferindo na vida pessoal e acadêmica do aluno;

  • problemas pessoais mal resolvidos, que são reativados no ciclo clínico, pelo contato do aluno com paciente com problemas semelhantes;

  • envolvimento emocional do aluno com o paciente e/ou com a família do mesmo, interferindo no treinamento prático-profissional do estudante.

A partir da identificação destes dados o POPPE tem procurado minimizar os riscos da perda de uma força jovem de recursos humanos, científicos e tecnológicos decorrente da não-atenção e não-atuação adequadas dos responsáveis pelas instituições de ensino superior em tempo útil. Esta não-atenção e não-atuação adequadas às necessidades dos alunos, no momento oportuno, vêm ocasionando o desestimulo, a desesperança e a depressão entre os universitários, conduzindo, muitas vezes no abandono do curso. Além disso, avultam queixas características como, “cansaço constante”, “tensão”, “dores de cabeça”, “ansiedade permanente”, e a queixa freqüente de “fraqueza” ou “falta de energia."

No que diz respeito ao relacionamento professor-aluno, constata-se que a tarefa do POPPE tem sido dificultada pela atitude de descrença e resistência de alguns professores que revela amiúde, em seu conteúdo latente, a dificuldade de se adaptar a situações novas, bem como a de se ver exposto como agente causal de determinados problemas.

Porém, na medida em que os docentes são os primeiros que, no contato cotidiano, lidam com os diversos comportamentos de seus alunos, são também freqüentemente os que denunciam a existência de dificuldades pessoais em processo entre os mesmos, acontecendo até, por vezes, a eclosão de crises psicológicas ou de distúrbios mentais nas salas de aula.

Isto faz lembrar que, assim como médicos podem transformar-se em agentes nocivos a seus pacientes também podem por analogia, os professores transformarem-se em agentes prejudiciais a seus alunos.

Neste contexto há que considerar que os docentes, em geral, não têm formação específica para adotar uma ótica holística do aluno, nem tampouco para lidar com dificuldades maiores dos mesmos que transponham as questões estritamente acadêmicas. Em alguns casos não falta aos professores interesse para ampliar seus recursos pessoais e profissionais, cabendo no entanto à instituição a organização de programas e de recursos necessários.

4 - ATIVIDADES

A sistematização do programa implicou na definição e realização de atividades específicas para o atendimento à problemática dos usuários.

As atividades em curso são as seguintes:

  1. Cursos prioritários
    • Programa de integração dos novos alunos ao curso médico (recepção aos calouros)

    • Programa de integração dos alunos do 5.o período ao ciclo profissional.

  2. Cursos, simpósios, encontros
    • atividades organizadas a partir das necessidades e demanda da população-alvo

  3. c) Programa de reavaliação de cursos.

  4. Grupo de reflexão sobre a tarefa educacional, para professores.

  5. Programa de desenvolvimento do processo de aprendizagem.

  6. Grupos operativos para desenvolvimento de relação interpessoal, com temas específicos.

  7. Orientação psicopedagógica a grupos de alunos (micro ou macro grupo).

  8. Atendimento psicopedagógico individual a alunos e professores.

  9. Psicoterapia focal individual ou em grupo, em situações de emergência.

  10. Intercâmbio e assessoria a outras instituições de ensino superior.

  11. treinamento especializado de profissionais e supervisão de estágios.

  12. Desenvolvimento de pesquisas na área psico-pedagógica.

Obs.: Estas atividades constam da Tabela 1.

Tabela 1
Atividades Realizadas em 1986

5 - RECURSOS

De acordo com a realidade da Faculdade de Medicina da UFRJ, que possui uma população média de 1050 alunos de graduação, 651 de pós-graduação, 451 docentes e 137 funcionários técnico-administrativos, foi estimado um mínimo de recursos, sem os quais, a consecução e o bom êxito das atividades propostas ficariam efetivamente prejudicados.

  1. Recursos Humanos
    • Permanentes: profissionais especializados em educação, psicol., medicina

    • Temporários:
      • Profissionais-colaboradores

      • Monitores

      • Bolsistas por serviços prestados

      • Consultores

  2. Recursos Físicos - calculados segundo as necessidades e características próprias da Faculdade de Medicina, Centro de Ciências da Saúde e Hospital Universitário. Abrangem os aspectos espacial, mobiliário e de equipamentos.

  3. Recursos Temporais

  4. Necessidade de uma hora quinzenal em cada uma das turmas.

  5. Recursos Orçamentários

Como não tem dotação própria da UFRJ, os recursos do POPPE são oriundos da Faculdade de Medicina, devendo-se porém, receber recursos de órgãos financiadores de projetos, verbas de instituições e empresas privadas que se interessem em financiar este setor de pesquisas psicopedagógicas, e doações.

6 - RESULTADOS

Os resultados obtidos apontam a validade da sistematização do programa e de suas atividades de orientação psicopedagógica pela constatação direta e evidente de:

  • redução na dificuldade de adaptação dos alunos que ingressam no curso de medicina;

  • maior segurança na opção e permanência dos alunos no curso de medicina;

  • maior possibilidade do aluno na elaboração de dificuldades pessoais e acadêmicas ao longo do curso;

  • maior facilidade do aluno em lidar com situações-problema em diversas fases do curso;

  • maior facilidade do aluno na abordagem de dificuldades de identidade pessoal e profissional;

  • maior tranqüilidade do aluno na abordagem de seus conflitos existenciais e axiológicos; maior facilidade do aluno em procurar o apoio adequado (orientacional, psicológico ou psiquiátrico) quando em crises emocionais;

  • maior atencão do aluno e cuidados preventivos em termos de sua saúde;

  • maior facilidade do aluno em lidar com os pacientes nas enfermarias;

  • maior tranqüilidade do aluno diante de sua formatura iminente;

  • crescimento no interesse do desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem da parte de professores, principalmente dos participantes das atividades do POPPE.

Embora sistematizado em suas atividades, o POPPE se caracteriza por flexibilidade suficiente para reformulações e adequações contínuas a novas necessidades, solicitações, e demanda de seus usuários.

Obs.: A relação entre os problemas dos alunos, as atividades específicas desenvolvidas pelo POPPE, e os resultados obtidos constam do Quadro 1.

Quadro 1
Relação entre problemas dos alunos, atividades desenvolvidas e resultados obtidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • CAMILLO-COURA, Léa et alii, Programa de Orientação Psico-Pedagógica e Profissional (POPPE), Faculdade de Medicina da UFRJ.
  • I - Projeto de Implantação. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, 8(3): 182 - 187, set/dez. 1984.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1987
Associação Brasileira de Educação Médica SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023 | Asa Norte, Brasília | DF | CEP: 70712-903, Tel: (61) 3024-9978 / 3024-8013, Fax: +55 21 2260-6662 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: rbem.abem@gmail.com