Como parte das comemorações de seu centenário no Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) prestou urna homenagem especial à Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), durante seu XL Congresso, ressaltando a importância do trabalho desenvolvido por esta instituição e, sobretudo, a singularidade da parceria que com ela foi possível desenvolver durante quatro décadas.
Essa reação começou, com apoio das Fundação Millbank e Kellogg, no processo de criação da Federação Pan-Americana de Associações de Faculdades de Medicina (Fepafem). As negociações para a criação da Abem tiveram início durante a m Conferencia Latino-Americana de Escolas Médicas, realizada no Chile em 1960, e chegaram a bom termo em agosto de 1962, quando se reuniram em Belo Horizonte os representantes de 26 das 34 escolas então existentes. Na ocasião, lavrou-se a ata de fundação da Associação Brasileira de Escolas Médicas, tendo sido eleito presidente o diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, Oscar Versiani Caldeira, que havia convocado a reunião. Desse ato participou Ramon Villareal, então diretor do Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Opas. A partir de então, a Organização abrigou em sua própria sede, Rua Paissandu, no Rio de Janeiro, a primeira Diretoria Executiva da Abem, a cargo de José Roberto Ferreira.
Logo no início de sua existência, a Abem publicou o primeiro relatório técnico sobre a Educação Médica no Brasil, no momento em que se iniciava o processo de expansão acelerada do número de escolas. Desenvolveu-se a partir daí uma orientação que, além da preocupação com o currículo mínimo estabelecido pelo Conselho Federal de Educação, buscava considerar aspectos relativos à oferta e demanda de vagas, ao aprimoramento pedagógico e à modernização de instalações e equipamentos.
Em 1974, foram modificados os Estatutos da Abem, que deixou de ser apenas de Escolas Médicas para abranger toda a Educação Médica, ampliando suas possibilidades de participação neste campo educacional. Expressão disso é a publicação de sua Revista Brasileira de Educação Médica, que desde 1977 mantém edições quadrimestrais, sendo um dos poucos periódicos do género na América Latina.
A Abem participou do processo de escolha da sede da Biblioteca Regional de Medicina (Bireme), que a Opas implantou na Escola Paulista de Medicina, atual Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e, nos anos subseqocntes, acompanhou o impacto dessa iniciativa - ampliação significativa do acesso à informação bibliográfica, com o avanço até os dias atuais representado pela Biblioteca Virtual em Saúde.
Igualmente, a Associação foi partícipe do desenvolvimento do Programa de Livros de Tecnologia da Organização (Paltex) mediante designação de seus membros para os comitês de seleção de livros e, inclusive, a incorporação de livros autores brasileiros, mais ajustados à realidade do País.
A parceria com a Opas ocorreu também no apoio à realização de suas reuniões anuais, bem como de um número significativo de seminários e grupos de trabalho sobre temas selecionados, incluindo, em muitos casos, a publicação conjunta dos respectivos documentos técnicos ou relatórios finais. Quando seu primeiro diretor executivo foi convidado a integrar o quadro da Organização, tendo assumido em 1974 a Dircção do Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos, em Washington, esta colaboração fez-se ainda mais ampla. Nessa época, foi criado, na Representação da Opas no Brasil, o Programa de Preparação de Pessoal Estratégico para a Saúde (Preps), sob a coordenação de Carlyle Guerra de Macedo, e, nesse âmbito, fortaleceu-se a cooperação com a Associação e com suas escolas filiadas.
Durante a década de 90, a Abem liderou um importante esforço de articulação entre diversas entidades nacionais, dentre as quais a Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina, com o objetivo de avaliar em toda a sua amplitude o ensino Médico no País: a Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliaçao da Educação Médica (Cinaem). Essa Comissão promoveu a avaliação do processo formativo e a caracterização das instituições e recursos envolvidos, discutindo o ensino e a profissão médica com representantes docentes e discentes das próprias escolas e com diversos segmentos da sociedade civil. No início de seus trabalhos, a Cinaem tomou como referência documentos e propostas de avaliação da Educação Médica publicados pela Opas.
Vale ainda destacar que a Abem vem participando ativamente em programas desenvolvidos pelo Ministério da Saúde com apoio da Opas, que incluem componentes que visam ajustar a formação médica às necessidades dos serviços públicos de saúde: o Programa de Saúde da Família (PSF), o Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde (Pits) e, mais recentemente e de forma mais destacada, o Programa de Incentivos às Mudanças Curriculares nas Escolas Médicas (Promed).
Este sumário de realizações conjuntas representa apenas parte da história que aproxima as duas instituições. Esperemos que o eco dessa homenagem prestada pela Organização Pan-Americana da Saúde à sua parceira brasileira no campo da Educação Médica se faça ouvir nos congressos vindouros, com a apresentação de trabalhos de pesquisa histórica que resgatem as origens, os determinantes e as implicações dos movimentos que têm marcado o passado da Educação Médica no Brasil e que, certamente, orientarão seu futuro.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
25 Jun 2021 -
Data do Fascículo
Sep-Dec 2002
