Acessibilidade / Reportar erro

SATISFAÇÃO NA APOSENTADORIA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE BRASIL E PORTUGAL

RESUMO

Objetivo:

O objetivo deste trabalho foi verificar a diferença nos níveis de satisfação entre aposentados residentes no Brasil e em Portugal.

Originalidade/valor:

O processo de envelhecimento mundial gera desafios no sentido de proporcionar bem-estar para aqueles que decidiram se aposentar, considerando a importância desse momento na vida das pessoas. Apesar disso, são muitas as lacunas existentes nos estudos sobre bem-estar na aposentadoria, especialmente os estudos transculturais.

Design/metodologia/abordagem:

Trata-se de um estudo transversal, de natureza quantitativa, do qual participaram 1.441 aposentados, sendo 997 brasileiros e 444 portugueses, que responderam ao Inventário de Satisfação na Aposentadoria (ISA) e a questões sociodemográficas. Para as análises de dados, foram realizadas análises fatoriais confirmatórias multigrupos, análises de consistência interna e de validade, verificação da invariância e comparação das médias latentes dos fatores do instrumento entre os dois países.

Resultados:

Os resultados apontaram para uma estrutura do instrumento consistente para os dois países, o que possibilitou a comparação entre eles. Não foram encontradas diferenças significativas entre os países nos fatores referentes à satisfação com os recursos individuais e com os relacionamentos sociais, porém, no terceiro fator do instrumento - satisfação com os recursos coletivos -, os participantes de Portugal apresentaram média significativamente superior aos participantes brasileiros. Ao final, conclui-se pelo avanço da medida de satisfação na aposentadoria e discutem-se as diferenças de ofertas de serviços públicos entre Brasil e Portugal, apontando para as necessidades específicas da população de aposentados.

PALAVRAS-CHAVE
Aposentadoria; Envelhecimento; Bem-estar; Satisfação; Estudo transcultural

ABSTRACT

Purpose:

The objective of this study was to verify the difference in levels of satisfaction among retirees residing in Brazil and Portugal.

Originality/value:

The world aging process creates challenges in the sense of providing well-being for those who have decided to retire, considering the importance of this moment in people’s lives. Despite this, there are many gaps in studies on well-being in retirement, especially cross-cultural studies.

Design/methodology/approach:

This is a cross-sectional, quantitative study involving 1,441 retirees, 997 Brazilians and 444 Portuguese, who responded to the Retirement Satisfaction Inventory (RSI) and sociodemographic issues. For the analyses of the data, we performed multi-group confirmatory factor analyses, internal consistency and validity analyses, invariance verification and comparison of latent means of the instrument factors between the two countries.

Findings:

The results pointed to a consistent instrument structure for the two countries, which made it possible to compare them. There were no significant differences between countries in the factors related to satisfaction with individual resources and social relationships. However, in the third factor of the instrument - satisfaction with collective resources - the participants in Portugal presented a mean significantly higher than the Brazilian participants. At the end, the conclusion of the measure of satisfaction in retirement is concluded, and the differences in public service offerings between Brazil and Portugal are discussed, pointing to the specific needs of the retired population.

KEYWORDS
Retirement; Aging; Well-being; Satisfaction; Cross-cultural study

1. INTRODUÇÃO

As quedas nas taxas de mortalidade e natalidade, em conjunto com as melhorias da qualidade de vida, geraram um aumento na taxa de longevidade populacional (World Health Organization, 2018World Health Organization (2018). World Health Statistics 2018. Retrieved from https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272596/9789241565585-eng.pdf?ua=1&ua=1
https://apps.who.int/iris/bitstream/hand...
). Esse processo de envelhecimento vem ocorrendo em escala mundial, aumentando a necessidade de investigações sobre o assunto de forma a potencializar esse privilégio.

Em Portugal, o envelhecimento da população ocorre há algum tempo. Segundo dados da Pordata (2018)Pordata (2018). População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado (%). Retrieved from https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente+com+15+e+mais+anos+por+n%C3%ADvel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884
https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C...
, a expectativa de vida do país em 1970 era de 67,1 anos e, em 2017, passou para 80,8 anos. Nesse país, há a expectativa de que, nos próximos anos, existam quase três pessoas idosas para cada jovem, o que representa mais do que o dobro do que foi observado em 2009 - 116 idosos para 100 jovens (Instituto Nacional de Estatística, 2009Instituto Nacional de Estatística (2009). Projeções de população residente em Portugal 2008-2060. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.).

No Brasil, o processo é similar, porém ocorre de maneira mais acelerada quando comparado aos países desenvolvidos. Os dados do The World Bank (2018)The World Bank. (2018). Emprego e crescimento: a agenda da produtividade (Portuguese). Washington, D.C.: World Bank Group. Retrieved from https://documents.worldbank.org/en/publication/documents-reports/documentdetail/203811520404312395/emprego-e-crescimento-a-agenda-da-produtividade
https://documents.worldbank.org/en/publi...
demonstram que, na década de 1970, a expectativa do país era de 59,15, passando para 75,15 em 2016. Entre 1940 e 2015, a expectativa de vida do brasileiro cresceu em 30 anos para ambos os sexos (Portal Brasil, 2016Portal Brasil (2016). Expectativa de vida no Brasil sobre para 75,5 anos em 2015. Retrieved from goo.gl/qAotla
goo.gl/qAotla...
).

Esse processo de envelhecimento tem modificado não apenas o mercado de trabalho, mas também o perfil dos trabalhadores mais velhos que permanecerão no mercado por mais tempo (França, Rosinha, Mafra, & Seidl, 2017França, L. H. F. P., Rosinha, A., Mafra, S., & Seidl, J. (2017). Aging in Brazil and Portugal and its impacto in the organizational context. In E. R. Neiva, C. V. Torres, & H. Mendonça (Orgs.), Organizational psychology and evidence-based management (pp. 81-102). Chan, Switzerland: Springer.). Aqueles que se aposentam também enfrentam desafios para alcançar o bem-estar nessa fase. Portanto, cada vez mais são necessários estudos e pesquisas voltados ao bem-estar dos trabalhadores mais velhos e, em especial, dos aposentados.

A satisfação na aposentadoria pode ser definida como uma avaliação de natureza subjetiva de bem-estar, representando o contentamento com a vida na aposentadoria (Solinge & Henkens, 2008Solinge, H. van, & Henkens, K. (2008). Adjustment to and satisfaction with retirement: Two of a kind? Psychology and Aging, 23(2), 422-434. doi:10.10 37/0882-7974.23.2.422
https://doi.org/10.10 37/0882-7974.23.2....
). O conceito considera mais as experiências de vida e a percepção de qualidade de vida na aposentadoria do que as condições reais de vida do aposentado, podendo representar um indicador de bem-estar e contentamento nessa fase da vida (Price & Joo, 2005Price, C. A., & Joo, E. (2005). Exploring the relationship between marital status and women’s retirement satisfaction. The International Journal of Aging and Human Development, 61(1), 37-55. doi:10.2190/TXVY-HAEB-X0PW-00QF
https://doi.org/10.2190/TXVY-HAEB-X0PW-0...
).

Esse conceito de satisfação é alicerçado na abordagem da psicologia positiva utilizando o construto de bem-estar subjetivo, que busca compreender as avaliações que as pessoas fazem da própria vida (Mendonça, Ferreira, Caetano, & Torres, 2014Mendonça, H., Ferreira, M. C., Caetano, A., & Torres, C. V. (2014). Cultura organizacional, coping e bem-estar subjetivo: Um estudo com professores de universidades brasileiras. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 14(2), 230-244. Retrieved from http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-66572014000200009
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
). Por esse viés, o bem-estar é entendido como a composição entre as emoções e os julgamentos globais ou de domínios importantes da vida, articulando uma perspectiva que considera uma teoria sobre afetos (positivos ou negativos) e outra que se sustenta na cognição e se operacionaliza por avaliações de satisfação (Diener, Emmons, Larsen, & Griffn, 2000Diener, E., Emmons, R. A., Larsen, R. J., & Griffn, S. (2000). The Satisfaction with life scale. Journal of Personality Assessment, 49(1), 71-74. doi:10.12 07/s15327752jpa4901_13
https://doi.org/10.12 07/s15327752jpa490...
; Diener, Eunkook, Richard, & Heidi, 1999Diener, E., Eunkook, M. S., Richard E. L., & Heidi L. S. (1999). Subjective well-being: Three decades of progress. Psychological Bulletin, 125(2), 276-302. doi:10.1037/0033-2909.125.2.276
https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2....
).

Assim, o bem-estar pode ser relacionado à vivência em condições adequadas diante da cultura, dos valores e das expectativas individuais, focando as virtudes e as qualidades humanas como contraponto à doença e ao sofrimento (Silva & Boehs, 2017Silva, N., & Boehs, S. T. M. (2017). Psicologia positiva: Historicidade, episteme, ontologia, natureza humana e método. In S. T. M. Boehs & N. Silva, N. (Orgs.), Psicologia positiva nas organizações e trabalho: Conceitos fundamentais e sentidos aplicados (pp. 22-41). São Paulo: Vetor.). É necessário, portanto, avançar no desenvolvimento de avaliações de satisfação com a vida para grupos específicos da população, considerando as crenças, os valores, os objetivos e as necessidades deles (Diener et al., 2000Diener, E., Emmons, R. A., Larsen, R. J., & Griffn, S. (2000). The Satisfaction with life scale. Journal of Personality Assessment, 49(1), 71-74. doi:10.12 07/s15327752jpa4901_13
https://doi.org/10.12 07/s15327752jpa490...
; Diener et al., 1999Diener, E., Eunkook, M. S., Richard E. L., & Heidi L. S. (1999). Subjective well-being: Three decades of progress. Psychological Bulletin, 125(2), 276-302. doi:10.1037/0033-2909.125.2.276
https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2....
).

Com base na teoria dos recursos na aposentadoria (Wang & Shultz, 2010Wang, M., & Shultz, K. S. (2010). Employee retirement: A review and recommendations for future investigations. Journal of Management, 36, 176-206. doi:10.1177/0149206309347957
https://doi.org/10.1177/0149206309347957...
), que considera a conservação dos recursos individuais como essencial para a redução do estresse e o aumento do bem-estar, é possível destacar alguns fatores tidos como relevantes para a percepção de bem-estar na aposentadoria por diferentes autores. Entre eles, salientam-se o acesso individual a certos recursos como a saúde, a situação financeira (Dingemans & Henkens, 2015Dingemans, E., & Henkens, K. (2015). How do retirement dynamics influence mental well-being in later life? A 10-year panel study. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, 41(1), 16-23. doi:10.5271/sjweh.3464
https://doi.org/10.5271/sjweh.3464...
) e a prática de atividades físicas (Earl, Gerrans, & Halim, 2015Earl, J. K., Gerrans, P., & Halim, V. A. (2015). Active and adjusted: Investigating the contribution of leisure, health and psychosocial factors to retirement adjustment. Leisure Sciences, 37, 354-372. doi:10.1080/01490400.2015.1021881
https://doi.org/10.1080/01490400.2015.10...
) que definem as condições da aposentadoria e influenciam as oportunidades e qualidade dessa experiência (Solinge & Henkens, 2008Solinge, H. van, & Henkens, K. (2008). Adjustment to and satisfaction with retirement: Two of a kind? Psychology and Aging, 23(2), 422-434. doi:10.10 37/0882-7974.23.2.422
https://doi.org/10.10 37/0882-7974.23.2....
).

Além disso, é importante considerar todos os fatores sociais relacionados ao momento da aposentadoria, como as relações familiares e conjugais (Dingemans & Henkens, 2015Dingemans, E., & Henkens, K. (2015). How do retirement dynamics influence mental well-being in later life? A 10-year panel study. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, 41(1), 16-23. doi:10.5271/sjweh.3464
https://doi.org/10.5271/sjweh.3464...
; Rafalski & Andrade, 2017Rafalski, J. C., & Andrade, A. L. de (2017). Desenvolvimento da Escala de Percepção de Futuro da Aposentadoria (EPFA) e correlatos psicossociais. Psico-USF, 22(1), 49-62. doi:10.1590/1413-82712017220105
https://doi.org/10.1590/1413-82712017220...
). Isso ocorre porque a decisão pela aposentadoria raramente é individual. Essa escolha, quase sempre, está inserida em um contexto familiar, que, por um lado, pode proporcionar acolhimento e suporte social e, por outro, gerar responsabilidades de cuidado (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.).

Para além dos fatores individuais e sociais, é importante avaliar o contexto em que os indivíduos estão inseridos (Dingemans & Henkens, 2019Dingemans, E., & Henkens, K. (2019). Working after retirement and life satisfaction: Cross-national comparative research in Europe. Research on Aging, 41(7), 648-669. doi:10.1177/0164027519830610
https://doi.org/10.1177/0164027519830610...
). A qualidade de vida pode ser definida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e no sistema de valores em que está inserido (The World Health Organization Quality of Life Group, 1994The World Health Organization Quality of Life Group (1994). The development of the World Health Organization quality of life assessment instrument (the WHOQOL). In J. Orley & E. Kuyken (Eds.), Quality of life assessment: International perspectives (pp.41-60). Heidelberg: Springer Verlag.). Nesse contexto, é fundamental considerar a própria condição de vida dos indivíduos e utilizar indicadores como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia os níveis de renda, saúde e educação de determinada população. Índices de qualidade de vida, como o lazer e a segurança oferecidos por um ambiente, são cruciais no momento da aposentadoria, sendo, inclusive, critérios para migração de muitos aposentados (Santos, França, & Pereira, 2018Santos, S. C., França, L. H. F. P., & Pereira, M. M. (2018). Propriedades psicométricas do Inventário de Motivos para Migração na Aposentadoria. Revista Kairós - Gerontologia, 21(2), 91-112. doi:10.23925/2176-901X.2018 v21i2p91-112
https://doi.org/10.23925/2176-901X.2018 ...
). De acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) (2017)Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (2017). Relatório de imigração, fronteiras e asilo. Retrieved from https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2017.pdf
https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2017.pdf...
de Portugal, a nacionalidade brasileira é a principal comunidade estrangeira residente no país, que a partir de 2016 voltou a ter um aumento, invertendo a tendência de diminuição do número de residentes brasileiros que se verificava desde 2011.

Considerando a importância dos fatores individuais e coletivos para a composição de uma dimensão cognitiva de satisfação na aposentadoria, ainda que a percepção das condições de vida represente também o bem-estar ou a satisfação (Mendonça et al., 2014Mendonça, H., Ferreira, M. C., Caetano, A., & Torres, C. V. (2014). Cultura organizacional, coping e bem-estar subjetivo: Um estudo com professores de universidades brasileiras. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 14(2), 230-244. Retrieved from http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-66572014000200009
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
), Amorim e França (2019b)Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
adaptaram para o Brasil o Retirement Satisfaction Inventory (Inventário de Satisfação na Aposentadoria [ISA]), desenvolvido por Floyd et al. (1992)Floyd, F. J., Haynes, S. N., Doll, E. R., Winemiller, D., Lemsky, C., Burgy, T. M., Werle, M., & Heilman, N. (1992). Assessing retirement satisfaction and perceptions of retirement experiences. Psychology and Aging, 4(2), 609-621. doi:10.1037/0882-7974.7.4.609
https://doi.org/10.1037/0882-7974.7.4.60...
. O instrumento original é composto por três subescalas: razões para aposentar, satisfação com a vida na aposentadoria e fontes de lazer. A subescala de satisfação com a vida na aposentadoria é composta por itens relacionados à satisfação com serviços e recursos, com a saúde e as atividades e com o casamento e a vida familiar (Floyd et al., 1992Floyd, F. J., Haynes, S. N., Doll, E. R., Winemiller, D., Lemsky, C., Burgy, T. M., Werle, M., & Heilman, N. (1992). Assessing retirement satisfaction and perceptions of retirement experiences. Psychology and Aging, 4(2), 609-621. doi:10.1037/0882-7974.7.4.609
https://doi.org/10.1037/0882-7974.7.4.60...
).

Na validação do instrumento da satisfação com a vida na aposentadoria para o Brasil, Amorim e França (2019b)Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
acrescentaram à versão original os indicadores sociais baseados na qualidade de vida coletiva e a avaliação dos recursos individuais, dos serviços e do ambiente em que se vive (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.). Nessa ocasião, as autoras encontraram bons índices de ajuste tanto do instrumento de razões para aposentar quanto do instrumento de satisfação na aposentadoria, além da confirmação da relação de causalidade entre as razões para aposentar e a satisfação na aposentadoria (Amorim & França, 2019bAmorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
).

Brasil e Portugal são países que possuem grandes laços e ao mesmo tempo grandes diferenças, considerando as várias outras influências culturais recebidas pelo Brasil. Apesar das relações existentes, não foram identificados estudos anteriores na perspectiva da psicologia com o objetivo de comparar a satisfação entre idosos e/ou aposentados desses dois países. Estudos nesse sentido são extremamente relevantes, considerando a contribuição que investigações transculturais podem gerar na compreensão sobre os componentes contextuais ou culturais dos fenômenos e sobre a consistência de modelos teóricos (Breslin, Lonner, & Thorndike, 1973Breslin, R. W., Lonner, W., & Thorndike, R. (1973). Crosscultural research methods. New York: Wiley.; Rodrigues & Carvalho-Freitas, 2016Rodrigues, A. C. A., & Carvalho-Freitas, M. N. (2016). Theoretical fragmentation: Origins and repercussions in work and organizational psychology. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 16(4), 310-315. doi:10.17652/rpot/2016.4.12630
https://doi.org/10.17652/rpot/2016.4.126...
).

Com base nos dados disponíveis sobre os dois países, é possível observar algumas similaridades e diferenças em relação à aposentadoria. Quanto à qualidade de vida coletiva, Portugal possui índices de pobreza, desigualdade e carência na assistência social aos aposentados, quando comparado a outros países da União Europeia (Rodrigues, 2003Rodrigues, C. (2003). Inequality and poverty in retirement age groups: An analysis for Portugal [Working Paper nº 32]. Lisbon, Economic Research and Forecasting Department, Ministry of Finances. Retrieved from http://www.gpeari.gov.pt/investigacao/working-papers/w-papers-dgep/w-paper32.pdf
http://www.gpeari.gov.pt/investigacao/wo...
), especialmente pela queda da renda familiar com o ingresso na aposentadoria (Albuquerque, Arcanjo, Escária, Nunes, & Pereirinha, 2010Albuquerque, P., Arcanjo, M., Escária, V., Nunes, F., & Pereirinha, J. (2010). Retirement and the poverty of the elderly: The case of Portugal. Journal of Income Distribution, 19(3-4), 41-64. Retrieved from https://ideas.repec.org/a/jid/journl/y2010v19i3-4p41-64.html
https://ideas.repec.org/a/jid/journl/y20...
; Valadas, Vilhena, & Fragoso, 2019Valadas, S. T., Vilhena, C. C., & Fragoso, A. (2019). Transitions to retirement: Perceptions of Portuguese older men. Studies in Adult and Education and Learning, 25(2), 37-51. doi:10.4312/as.25.2.37-51
https://doi.org/10.4312/as.25.2.37-51...
). Apesar disso, conforme apontam Loureiro, Mendes, Camarneiro, Silva e Pedreiro (2016)Loureiro, H. M. A. M., Mendes, A. M. O. C., Camarneiro, A. P. F., Silva, M. A. M., & Pedreiro, A. T. M. (2016). Percepções sobre a transição para a aposentadoria: Um estudo qualitativo. Texto & Contexto - Enfermagem, 25(1), 1-8. doi:10.1590/0104-070720160002260015
https://doi.org/10.1590/0104-07072016000...
, a aposentadoria, na Europa em geral, é percebida como uma fase para ser vivida de forma mais calma e aproveitando uma pensão descontada durante a vida de trabalho. Fonseca (2006)Fonseca, A. (2006). “Transição-adaptação” à reforma em Portugal. Psychologica, 42, 45-70. Retrieved from https://repositorio.ucp.pt/handle/10400.14/11739
https://repositorio.ucp.pt/handle/10400....
destaca que os aposentados portugueses vivem razoavelmente satisfeitos, especialmente nos primeiros anos após a aposentadoria.

No Brasil, a grande desigualdade de níveis socioeconômicos faz com que a aposentadoria seja vivenciada de diferentes formas (Pinto, Coleho-Junior, & Carreteiro, 2019Pinto, B. O. S., Coleho-Junior, J. B. L., & Carreteiro, T. C. O. C. (2019). Aposentadoria no Brasil: Uma reflexão sobre os horizontes da população produtiva. Brazilian Journal of Production Engineering, 5(2), 20-30. Retrieved from http://www.publicacoes.ufes.br/BJPE/article/view/V05N02_3/pdf
http://www.publicacoes.ufes.br/BJPE/arti...
). Enquanto trabalhadores com mais recursos financeiros percebem esse momento como positivo, de maior tempo com a família e lazer (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.), grande parcela de aposentados, especialmente homens, permanece trabalhando para continuar exercendo o papel de provedor familiar (Almeida, Silva, Freitas, Mafra, & Fonseca, 2015Almeida, A. V., Silva, E. P., Freitas, N. C., Mafra, S. C. T., & Fonseca, E. S. (2015). O envelhecimento nas diferentes regiões do Brasil. In E. P. Silva & S. C. T. Mafra (Orgs.), Envelhecimento no Brasil: O retrato da diversidade (pp. 19-34). Visconde do Rio Branco: Suprema.; Guerson, França, & Amorim, 2018Guerson, L. R. S. C., França, L. H. F. P., & Amorim, S. M. (2018). Satisfação com a vida em aposentados que permanecem trabalhando. Paidéia, 28, e2812. doi:10.1590/1982-4327e2812
https://doi.org/10.1590/1982-4327e2812...
; Valadas et al., 2019Valadas, S. T., Vilhena, C. C., & Fragoso, A. (2019). Transitions to retirement: Perceptions of Portuguese older men. Studies in Adult and Education and Learning, 25(2), 37-51. doi:10.4312/as.25.2.37-51
https://doi.org/10.4312/as.25.2.37-51...
).

A diferença entre os dois países pode ser confirmada se considerarmos o IDH, um indicador de comparação razoavelmente aceito pelo grau de aplicabilidade em realidades diversas, segundo o qual é possível observar a diferença e qualidade de vida entre 189 países de todos os continentes. Apesar de o IDH do Brasil ter aumentado seu índice nas últimas décadas, passando de 0,59 em 1990 para 0,76 em 2019, no ranking dos países ele encontra-se na 79ª posição (0,761 ponto). Por sua vez, Portugal ocupa a 40ª posição, com uma pontuação de 0,850 (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [Pnud], 2019Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2019). Relatório do desenvolvimento humano 2014. Retrieved from http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT_Complete.pdf
http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT...
).

Tendo em vista a necessidade de suprir as lacunas nos estudos sobre satisfação na aposentadoria, como a escassez de investigações transculturais (Amorim & França, 2019aAmorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019a). Bem-estar na aposentadoria: Uma revisão sistemática da literatura. Trends in Psychology, 27(1), 155-172. doi:10.9788/tp2019.1-12
https://doi.org/10.9788/tp2019.1-12...
), o objetivo deste trabalho foi verificar a diferença nos níveis de satisfação entre aposentados residentes no Brasil e em Portugal. Com base nos indicadores e na literatura apresentados, as seguintes hipóteses foram desenvolvidas:

  • Hipótese 1: Os aposentados residentes em Portugal teriam maiores níveis de satisfação com os recursos individuais na aposentadoria, em comparação aos aposentados residentes no Brasil, considerando o maior nível de qualidade de vida daquele país (Pnud, 2019Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2019). Relatório do desenvolvimento humano 2014. Retrieved from http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT_Complete.pdf
    http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT...
    ; Oliveira, Monteiro-Neto, Félix, Lima, & Almeida, 2017Oliveira, E. N., Monteiro-Neto, F. F., Félix, T. A., Lima, G. F., & Almeida, P. C. (2017). Qualidade de vida de imigrantes brasileiras vivendo em Portugal. Saúde em Debate, 41(114), 824-835. doi:10.1590/0103-1104201711412
    https://doi.org/10.1590/0103-11042017114...
    ).

  • Hipótese 2: Os aposentados residentes no Brasil teriam maiores níveis de satisfação com os relacionamentos na aposentadoria, em comparação aos aposentados residentes em Portugal. Ainda que o apoio social tenha sido considerado uma variável relevante para o bem-estar de aposentados de ambos os países (Loureiro et al., 2016Loureiro, H. M. A. M., Mendes, A. M. O. C., Camarneiro, A. P. F., Silva, M. A. M., & Pedreiro, A. T. M. (2016). Percepções sobre a transição para a aposentadoria: Um estudo qualitativo. Texto & Contexto - Enfermagem, 25(1), 1-8. doi:10.1590/0104-070720160002260015
    https://doi.org/10.1590/0104-07072016000...
    ; Rafalski & Andrade, 2017Rafalski, J. C., & Andrade, A. L. de (2017). Desenvolvimento da Escala de Percepção de Futuro da Aposentadoria (EPFA) e correlatos psicossociais. Psico-USF, 22(1), 49-62. doi:10.1590/1413-82712017220105
    https://doi.org/10.1590/1413-82712017220...
    ), estudos transculturais com os outros países destacaram a extrema relevância atribuída aos relacionamentos sociais pelos aposentados brasileiros (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.; França & Hershey, 2018França, L. H. F. P., & Hershey, D. A. (2018). Financial preparation for retirement in Brazil: A cross-cultural test of the interdisciplinary financial planning model. Journal of Cross-Cultural Gerontology, 33(1), 43-64. doi:10.1007/s10823-018-9343-y
    https://doi.org/10.1007/s10823-018-9343-...
    ) e o nível mediano de satisfação com o casamento e a família pelos aposentados portugueses (Fouquerau, Fernandez, Fonseca, Paul, & Uotinen, 2005Fouquerau, E., Fernandez, A., Fonseca, A. M., Paul, M. C., & Uotinen, V. (2005). Perceptions of and satisfaction with retirement: A comparision of six european union countries. Psychology and Aging, 20(3), 524-528. doi:10.1037/0882-7974.20.3.524
    https://doi.org/10.1037/0882-7974.20.3.5...
    ).

  • Hipótese 3: Os aposentados residentes em Portugal apresentariam maiores níveis de satisfação com a qualidade coletiva na aposentadoria, em comparação aos aposentados residentes no Brasil. Essa hipótese se pauta pela premissa de que países com maior distribuição de renda e menor desigualdade e corrupção nos negócios e no governo tendem a apresentar maiores índices de bem-estar (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.).

2. MÉTODO

Para cumprir o objetivo proposto, delineou-se um estudo de natureza transversal, cujas análises são de dados quantitativos de um questionário. A amostra foi selecionada utilizando o critério de região de moradia, a fim de abarcar participantes de todas as regiões em ambos os países. No cálculo do tamanho da amostra, consideraram-se a complexidade do modelo, a magnitude dos coeficientes e o número de variáveis mensuradas, buscando alcançar de cinco a dez participantes por parâmetro estimado (Bentler & Chou, 1987Bentler, P. M., & Chou, C. P. (1987). Practical issues in structural modeling. Sociological Methods & Research, 16(1), 78-117.). As análises dos dados foram realizadas por meio de modelagem por equações estruturais.

2.1 Participantes

A amostra da pesquisa foi de conveniência, com a participação de 1.441 aposentados, sendo 444 residentes de Portugal e 997 residentes do Brasil. No geral, a amostra foi composta por uma quantidade pouco maior de homens (51,2%) em comparação às mulheres (48,2%). A média de idade foi de 63,7 anos (DP = 7,0), variando de 44 a 90 anos, e a maior parte da amostra (73,2%) estava casada ou vivendo em parceria estável no momento da coleta. Com relação à escolaridade, mais de 70% da amostra cursou o ensino básico ou secundário (ou ensino fundamental ou médio) ou a graduação. A renda dos participantes, em sua maioria, se encontrava entre um e seis salários mínimos, com uma média de 2,6 dependentes (DP = 1,0) dessa renda familiar. No momento da coleta de dados, a maioria (77,1%) dos participantes estava aposentada definitivamente, pouco mais de 10% trabalhavam até 30 horas e percentual semelhante trabalhava mais de 30 horas.

A amostra portuguesa (n = 444) foi composta, em sua maioria, por homens, com média de idade de 68 anos (DP = 6,1), casados (73,0%), com escolaridade básica ou secundária (45,6%). A maior parte (76,9%) recebia renda de até seis salários mínimos, e 41,8% ganhavam menos de três salários mínimos; o valor do salário mínimo em Portugal, no momento da coleta, era de 557 euros (Pordata, 2018Pordata (2018). População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado (%). Retrieved from https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente+com+15+e+mais+anos+por+n%C3%ADvel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884
https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C...
). Os portugueses desta pesquisa tinham em média dois dependentes (DP = 1,0) e haviam optado pela aposentadoria definitiva. Coerente com a distribuição populacional portuguesa de aposentados (Pordata, 2018Pordata (2018). População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado (%). Retrieved from https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente+com+15+e+mais+anos+por+n%C3%ADvel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884
https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C...
), a maior parte dos participantes residia na região metropolitana de Lisboa, seguida das regiões Norte, Centro, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira.

A amostra brasileira (n = 997) obteve um percentual maior de mulheres (53,8%), com média de idade de 61,9 anos (DP = 6,7), majoritariamente casadas, com ensino secundário, graduação ou pós-graduação. A distribuição de renda da amostra apresentou-se mais equitativamente distribuída e um pouco diferente da realidade brasileira, e pouco mais da metade (67,0%) recebia uma renda de até nove salários mínimos. É importante ressaltar que o valor do salário mínimo no Brasil era de 937 reais no período da coleta de dados.

Os participantes brasileiros tinham em média 2,8 dependentes (DP = 1,4) e declararam estar aposentados definitivamente. Coerente com a dis tribuição populacional brasileira dos aposentados (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2017Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017). Síntese dos indicadores sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira. Brasília, DF: IBGE.) a maior parte dos participantes residia na Região Sudeste, seguida das regiões Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Norte. Os dados da amostra total e subamostras podem ser observados nas figuras 2.1.1 e 2.1.2.

Figura 2.1.1
CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA TOTAL E DAS SUBAMOSTRAS
Figura 2.1.2
REGIÃO DE MORADIA DOS PARTICIPANTES PORTUGUESES (N = 444) E BRASILEIROS (N = 997)

2.2 Instrumentos

2.2.1 Satisfação na aposentadoria

A satisfação na aposentadoria foi medida pelo ISA, desenvolvido por Floyd et al. (1992)Floyd, F. J., Haynes, S. N., Doll, E. R., Winemiller, D., Lemsky, C., Burgy, T. M., Werle, M., & Heilman, N. (1992). Assessing retirement satisfaction and perceptions of retirement experiences. Psychology and Aging, 4(2), 609-621. doi:10.1037/0882-7974.7.4.609
https://doi.org/10.1037/0882-7974.7.4.60...
como uma escala tipo Likert (variando de 1 a 6 em escala de satisfação) e adaptado para aposentados brasileiros por Amorim e França (2019b)Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
. Na adaptação brasileira, as autoras chegaram a um instrumento com boas características psicométricas (χ2(gl) = 507,62(74); CFI = 0,90; TLI = 0,88; RMSEA = 0,01). O instrumento demonstrou invariância para idade, escolaridade, renda e região de moradia, sendo composto por 15 itens distribuídos em três fatores: 1. satisfação com os recursos individuais; 2. satisfação com os relacionamentos; e 3. satisfação com os recursos coletivos (Amorim & França, 2019bAmorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
).

Para a adaptação do ISA ao português de Portugal, a escala na versão brasileira foi analisada e traduzida por dois psicólogos portugueses que atuavam com idosos e/ou aposentados. Na fase de adaptação da escala, todos os itens permaneceram no questionário, conforme a versão para aposentados brasileiros, porém os itens sofreram adaptação semântica para abarcar a linguagem dos aposentados portugueses, apresentando bons índices de ajuste (χ2(gl) = 337,14(87); CFI = 0,90; TLI = 0,98; RMSEA = 0,08).

2.3 Procedimentos

2.3.1 Coleta de dados

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê Ético de Pesquisa da Universidade Salgado de Oliveira (Universo) com Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) n. 51932015.5.0000.2589. Todos os participantes foram tratados de acordo com os procedimentos éticos especificados pela American Psychological Association (APA). A coleta de dados foi realizada on-line, por meio de um formulário na plataforma GoogleDocs. Tanto no Brasil quanto em Portugal, os aposentados foram convidados a participar por meio de mensagens e e-mails, localizados após a divulgação do formulário nas redes sociais, com a colaboração de empresas e associações, e da utilização do recurso da bola de neve, em que os próprios participantes encaminhavam o formulário a outros aposentados.

Os respondentes que aceitaram participar da pesquisa tiveram acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o assinaram, contendo todas as informações necessárias sobre o procedimento realizado e garantindo o sigilo das informações e o anonimato. O único critério de inclusão da pesquisa era ser aposentado e residir em um dos países em que a coleta estava sendo realizada.

2.4 Análise de dados

A análise de dados foi realizada por meio da modelagem por equações estruturais, utilizando os softwares R versão 3.5.3 e RStudio versão 1.1.463. Inicialmente, realizou-se a verificação de casos omissos e extremos. Consideraram-se os índices de ajuste qui-quadrado, comparative fit index (índice de ajuste comparativo [CFI]), Tuker Lewis index (índice de Tuker Lewis [TLI]), root-mean-square error of aproximation (erro de raiz quadrada média de aproximação [RMSEA]) e standardized root mean square residual (raiz quadrada média padronizada residual [SRMR]), avaliados de acordo com as recomendações de Byrne (2016)Byrne, B. M. (2016). Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications, and programming. New York: Routledge sobre modelos bem ajustados e adotados como critérios de ajuste satisfatório os valores de CFI e TLI próximos a 0,90, e RMSEA e SRMR próximos ou inferiores a 0,08. A AFCMG foi conduzida pelo pacote Lavaan, em que se utilizou o método de estimação weighted least squares means and variances (médias e variações dos mínimos quadrados ponderados [MVMQP]), levando em consideração o nível ordinal de mensuração dos itens.

Para verificar se as dimensões do instrumento não eram correlacionadas entre si, avaliaram-se os pressupostos de validade convergente e discriminante por meio da variância média extraída (VME). Valores de VME acima de 0,5 foram considerados indicativos de validade convergente e VME maiores do que o quadrado da correlação entre dois fatores foram considerados indicativos de validade discriminante (Marôco, 2014Marôco, J. (2014). Análise de equações estruturais: Fundamentos teóricos, software & aplicações. Pêro Pinheiro: ReportNumber.).

Os níveis de invariância entre os países foram calculados utilizando a estrutura categórica com a parametrização teta, por meio do pacote semTools. As amostras dos dois países foram comparadas com base nos modelos de invariância configural, métrica, escalar, residual e de médias latentes, considerando para análises as reduções nos valores do CFI e TLI, e que o elevado tamanho da amostra aumenta a chance de o qui-quadrado apresentar diferenças significativas. Por fim, para testar as diferenças dos níveis de satisfação na aposentadoria entre os países, compararam-se as médias latentes fixando os parâmetros, em que se utilizou o algoritmo de invariância parcial, por meio do pacote semTools (Sinval, Pasian, Queirós, & Marôco, 2018Sinval, J., Pasian, S. R., Queirós, C., & Marôco, J. (2018). Brazil-Portugal transcultural adaptation of the UWES-9: Internal consistency, dimensionality, and measurement invariance. Frontiers in Psychology, 9, 353. doi:10.3389/fpsyg.2018.00353
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.00353...
).

3. RESULTADOS

3.1 Propriedades dos itens

Inicialmente, verificaram-se os casos extremos e omissos, e os histogramas de cada um dos 15 itens avaliando as propriedades de distribuição e sensibilidade dos itens (Figura 3.1.1). Detectaram-se casos omissos apenas nos itens cinco e seis, em que os participantes que não possuíam um relacionamento estável foram orientados a não responder. No mais, as propriedades de distribuição dos itens foram indicativas de sensibilidade psicométrica apropriada.

Figura 3.1.1
ESTATÍSTICA DESCRITIVA DOS ITENS

3.2 Análises fatoriais confirmatórias multigrupos (AFCMG) e consistência interna

Para verificar a estrutura fatorial do instrumento, foi realizada uma análise de redes denominada exploratory graphic analysis (análise gráfica exploratória) incluindo todos os 15 itens do ISA sugeridos por Amorim e França (2019b)Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
, que apontou para a extração de três fatores (Figura 3.2.1). A partir dessa estrutura, realizaram-se as análises fatoriais confirmatórias que apresentaram bons índices de ajuste tanto para a amostra portuguesa (χ2(gl) = 324,12(87); CFI = 0,99; TLI = 0,98; RMSEA = 0,08; SRMR = 0,07) quanto para a brasileira (χ2(gl) = 776,01(87); CFI = 0,99; TLI = 0,98; RMSEA = 0,09; SRMR = 0,07).

Figura 3.2.1
EXPLORATORY GRAPHIC ANALYSIS DOS 15 ITENS DO ISA, SUGERIDOS POR AMORIM E FRANÇA (2019B)Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...

No que diz respeito à consistência interna, no modelo final, composto por três fatores (satisfação com recursos individuais, satisfação com relacionamento e satisfação com recursos coletivos), todos os itens apresentaram cargas fatoriais acima de 0,60 e os fatores apresentaram alfas elevados para as duas amostras, sendo o alfa total para o Brasil de 0,88 e para Portugal de 0,91. Esses resultados podem ser observados na Figura 3.2.2.

Figura 3.2.2
CARGAS FATORIAIS (STANDARDIZED) E ALFAS DOS TRÊS FATORES DO ISA PARA AS AMOSTRAS PORTUGUESA (N = 444) E BRASILEIRA (N = 997)

3.3 Validade convergente e discriminante

Para verificar os pressupostos de validade convergente e discriminante, calcularam-se os coeficientes de determinação e a VME. Conforme pode ser observado na Figura 3.3.1, os valores de VME dos três fatores foram acima de 0,5, além de serem superiores aos coeficientes de determinação. Os resultados apontam, então, para a validade convergente e discriminante, em que os fatores não são extremamente correlacionados entre si.

Figura 3.3.1
VARIÂNCIA MÉDIA EXTRAÍDA (VME), CORRELAÇÕES ENTRE FATORES DO ISA (ABAIXO DA DIAGONAL) E COEFICIENTES DE DETERMINAÇÃO (ACIMA DA DIAGONAL) (N = 1441)

3.4 Análises de invariância

Em seguida, buscou-se avaliar a invariância dos parâmetros dos itens entre os participantes do Brasil e de Portugal. Levando-se em conta o elevado tamanho da amostra que aumenta a chance de o qui-quadrado apresentar diferenças significativas, consideraram-se os valores do CFI e do RMSEA. Como as reduções nos valores desses índices não foram elevadas (< 0,01 entre as três primeiras comparações), concluiu-se que o modelo, as cargas fatoriais, os interceptos e os resíduos foram invariantes entre os grupos. No entanto, com relação às médias latentes, verificou-se uma elevada queda do CFI, indicando uma não equivalência entre as médias dos grupos (Figura 3.4.1).

Figura 3.4.1
INVARIÂNCIA CONFIGURAL, MÉTRICA, ESCALAR, RESIDUAL E DE MÉDIA LATENTE PARA O PAÍS (N = 1441)

3.5 Análises de médias latentes

Por fim, confirmados os pressupostos para comparação das médias latentes entre os grupos, tais análises foram realizadas fixando os parâmetros de cada fator. Encontraram-se diferenças significativas apenas no terceiro fator - relativo à satisfação com os recursos coletivos - em que Portugal apresenta maior média, considerando o valor do CFI e sua significância, além do elevado efeito do D’Cohen.

A Figura 3.5.1 apresenta esses resultados e as médias padronizadas para cada fator. Com base nesses resultados, foi possível concluir pela refutação da primeira e segunda hipóteses postuladas, bem como pela confirmação da terceira hipótese postulada.

Figura 3.5.1
ANÁLISES DAS MÉDIAS LATENTES (N = 1441)

4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Com o objetivo de verificar a diferença entre os níveis de satisfação entre aposentados residentes no Brasil e em Portugal, este estudo analisou uma amostra de 1.441 aposentados brasileiros e portugueses que responderam ao ISA e a questões sociodemográficas. Basicamente os resultados apontaram para uma estrutura do instrumento consistente para os dois países, o que possibilitou a comparação entre eles.

As AFCMG apresentaram uma versão do instrumento com os 15 itens propostos inicialmente por Amorim e França (2019b)Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
, diferente da estrutura de 14 itens que os mesmos autores encontraram anteriormente para os aposentados brasileiros. Apesar disso, essa estrutura mantém os três fatores encontrados e se mostrou consistente internamente, tanto para o Brasil quanto para Portugal. Além disso, os resultados das análises apontam para o cumprimento dos pressupostos de validade convergente e discriminante, além da invariância em quatro níveis de análise (configural, métrica, escalar e residual).

Esses resultados não apenas garantem a possiblidade de comparação das médias entre os grupos (Damásio, 2013Damásio, B. F. (2013). Contribuições da análise fatorial confirmatória multigrupo (AFCMG) na avaliação de invariância de instrumentos psicométricos. Psico-USF, 18(2), 211-220. doi:10.1590/S1413-82712013000200005
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201300...
), como também representam um avanço nas medidas de satisfação na aposentadoria, suprindo uma importante lacuna nas literaturas nacional e internacional (Amorim & França, 2019aAmorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019a). Bem-estar na aposentadoria: Uma revisão sistemática da literatura. Trends in Psychology, 27(1), 155-172. doi:10.9788/tp2019.1-12
https://doi.org/10.9788/tp2019.1-12...
). Os achados deste estudo parecem fortalecer a ideia de que a satisfação do aposentado, independentemente do país, seria composta pela satisfação com seus recursos individuais (Dingemans & Henkens, 2015Dingemans, E., & Henkens, K. (2015). How do retirement dynamics influence mental well-being in later life? A 10-year panel study. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, 41(1), 16-23. doi:10.5271/sjweh.3464
https://doi.org/10.5271/sjweh.3464...
; Earl et al., 2015Earl, J. K., Gerrans, P., & Halim, V. A. (2015). Active and adjusted: Investigating the contribution of leisure, health and psychosocial factors to retirement adjustment. Leisure Sciences, 37, 354-372. doi:10.1080/01490400.2015.1021881
https://doi.org/10.1080/01490400.2015.10...
; Solinge & Henkens, 2008Solinge, H. van, & Henkens, K. (2008). Adjustment to and satisfaction with retirement: Two of a kind? Psychology and Aging, 23(2), 422-434. doi:10.10 37/0882-7974.23.2.422
https://doi.org/10.10 37/0882-7974.23.2....
), com seus relacionamentos (Dingemans & Henkens, 2015Dingemans, E., & Henkens, K. (2015). How do retirement dynamics influence mental well-being in later life? A 10-year panel study. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, 41(1), 16-23. doi:10.5271/sjweh.3464
https://doi.org/10.5271/sjweh.3464...
; França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.; Rafalski & Andrade, 2017Rafalski, J. C., & Andrade, A. L. de (2017). Desenvolvimento da Escala de Percepção de Futuro da Aposentadoria (EPFA) e correlatos psicossociais. Psico-USF, 22(1), 49-62. doi:10.1590/1413-82712017220105
https://doi.org/10.1590/1413-82712017220...
) e com os recursos coletivos proporcionados pelo local onde ele reside (França, Leite, Simões, Garcia, & Ataliba, 2019França, L. H. F. P., Leite, S. V., Simões, F. P., Garcia, T., Ataliba, P. (2019). Análise dos programas de preparação para a aposentadoria (PPA) desenvolvidos por instituições públicas brasileiras. Revista Kairós: Gerontologia, 22(1), 59-80. doi:10.23925/2176-901X.2019v22ilp59-80
https://doi.org/10.23925/2176-901X.2019v...
).

Além de confirmar a importância dos recursos individuais, a estrutura encontrada consolida a inclusão dos recursos coletivos como uma dimensão da satisfação na aposentadoria (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.). De acordo com Dingemans e Henkens (2019)Dingemans, E., & Henkens, K. (2019). Working after retirement and life satisfaction: Cross-national comparative research in Europe. Research on Aging, 41(7), 648-669. doi:10.1177/0164027519830610
https://doi.org/10.1177/0164027519830610...
, os estudos sobre aposentadoria, em geral, negligenciam o fato de que essa transição ocorre em contextos específicos e muito diversos, o que pode afetar a satisfação com a vida. Segundo os autores, fatores específicos do país poderão ser particularmente importantes para a satisfação com a vida se a disponibilidade de recursos no nível do país for limitada (Dingemans & Henkens, 2019Dingemans, E., & Henkens, K. (2019). Working after retirement and life satisfaction: Cross-national comparative research in Europe. Research on Aging, 41(7), 648-669. doi:10.1177/0164027519830610
https://doi.org/10.1177/0164027519830610...
).

Além disso, a estrutura do instrumento amplia a dimensão de satisfação com os relacionamentos, que possuía apenas dois itens (Amorim & França, 2019bAmorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
) e agora contempla as relações familiares e a qualidade da residência. Essa ampliação é positiva por considerar o suporte oferecido pelas redes sociais em mudanças significativas da vida, como a aposentadoria, em que é essencial manter grupos sociais e criar novos (Wang & Matz-Costa, 2017Wang, Y., & Matz-Costa, C. (2017). Gender differences in the effect of social resources and social status on the retirement satisfaction and health of retirees. Journal of Gerontological Social Work, 62(1), 86-107. doi:10.1080/01634372.2018.1474156
https://doi.org/10.1080/01634372.2018.14...
).

Esses resultados são importantes à medida que ampliam os achados brasileiros para mais um país, ainda que necessitem de aplicação a países com características culturais mais diversas. O melhor entendimento do construto satisfação na aposentadoria pode aperfeiçoar práticas organizacionais e sociais, como os Programas de Preparação para a Aposentadoria (PPA), nas quais esse instrumento e outros podem ser utilizados para avaliação (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.; Amorim & França, 2019aAmorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019a). Bem-estar na aposentadoria: Uma revisão sistemática da literatura. Trends in Psychology, 27(1), 155-172. doi:10.9788/tp2019.1-12
https://doi.org/10.9788/tp2019.1-12...
).

Após as análises estruturais do constructo, foi possível comparar a média dos países com relação às três dimensões do instrumento, a fim de investigar as hipóteses formuladas. A primeira hipótese, de que os aposentados residentes em Portugal teriam maiores níveis de satisfação com os recursos individuais na aposentadoria quando comparados aos aposentados residentes no Brasil, foi refutada, uma vez que não se encontraram diferenças significativas entre os países nos níveis da primeira dimensão do instrumento.

Como a média dos itens desse fator foi de 3,7 a 4,4, numa escala de 1 a 7, pode-se considerar que foi encontrada uma satisfação mediana com relação aos recursos individuais tanto no Brasil quanto em Portugal. Esses resultados parecem corroborar a real situação do Brasil, que oferece poucos recursos aos aposentados em termos de saúde, segurança e lazer, tornando sua renda insuficiente para cobrir todos esses serviços (Guerson et al., 2018Guerson, L. R. S. C., França, L. H. F. P., & Amorim, S. M. (2018). Satisfação com a vida em aposentados que permanecem trabalhando. Paidéia, 28, e2812. doi:10.1590/1982-4327e2812
https://doi.org/10.1590/1982-4327e2812...
; Organização Mundial de Saúde [OMS], 2018Organização Mundial de Saúde (2018). World Health Statistics 2018. Retrieved from https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272596/9789241565585-eng.pdf?ua=1&ua=1
https://apps.who.int/iris/bitstream/hand...
). Com relação a Portugal, apesar de representar um grande avanço na prestação de serviços quando comparado ao Brasil, o país ainda possui alguns aspectos a melhorar, quando com parado aos países europeus (Pnud, 2019Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2019). Relatório do desenvolvimento humano 2014. Retrieved from http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT_Complete.pdf
http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT...
; OMS, 2018Organização Mundial de Saúde (2018). World Health Statistics 2018. Retrieved from https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272596/9789241565585-eng.pdf?ua=1&ua=1
https://apps.who.int/iris/bitstream/hand...
), o que pode ter contribuído para uma baixa satisfação nesse fator dos aposentados desse país.

Os resultados encontrados com relação a essa dimensão parecem corroborar a situação financeira declarada pelos participantes da pesquisa. Considerando os valores dos salários mínimos dos países e convertendo o valor do euro da época, pode-se concluir que o salário mínimo europeu equivalia a mais que o dobro do salário mínimo brasileiro na época da coleta de dados. Apesar disso, a renda das amostras brasileira e portuguesa foi razoavelmente equivalente, já que a maioria dos portugueses participantes declarou receber até seis salários mínimos e a maioria dos participantes brasileiros recebia seis salários mínimos ou mais.

É necessário, no entanto, considerar as condições de vida dos países em questão. O custo de vida em Portugal, apesar de ser um dos mais baixos da Europa, é mais elevado do que o Brasil (Numbeo, 2019Numbeo (2019). Indicador de custo de vida por país. Retrieved from https://pt.numbeo.com/custo-de-vida/p%C3%A1gina-inicial
https://pt.numbeo.com/custo-de-vida/p%C3...
), o que significa que a renda informada pode ser insuficiente para suprir as necessidades básicas, assim como ocorre com os aposentados brasileiros (Almeida et al., 2015Almeida, A. V., Silva, E. P., Freitas, N. C., Mafra, S. C. T., & Fonseca, E. S. (2015). O envelhecimento nas diferentes regiões do Brasil. In E. P. Silva & S. C. T. Mafra (Orgs.), Envelhecimento no Brasil: O retrato da diversidade (pp. 19-34). Visconde do Rio Branco: Suprema.; Guerson et al., 2018Guerson, L. R. S. C., França, L. H. F. P., & Amorim, S. M. (2018). Satisfação com a vida em aposentados que permanecem trabalhando. Paidéia, 28, e2812. doi:10.1590/1982-4327e2812
https://doi.org/10.1590/1982-4327e2812...
; Valadas et al., 2019Valadas, S. T., Vilhena, C. C., & Fragoso, A. (2019). Transitions to retirement: Perceptions of Portuguese older men. Studies in Adult and Education and Learning, 25(2), 37-51. doi:10.4312/as.25.2.37-51
https://doi.org/10.4312/as.25.2.37-51...
).

Esses dados corroboram os resultados de estudos sobre a aposentadoria que demonstram a necessidade de continuidade no trabalho para a sobrevivência em ambos os países. Em Portugal, Valadas et al. (2019)Valadas, S. T., Vilhena, C. C., & Fragoso, A. (2019). Transitions to retirement: Perceptions of Portuguese older men. Studies in Adult and Education and Learning, 25(2), 37-51. doi:10.4312/as.25.2.37-51
https://doi.org/10.4312/as.25.2.37-51...
destacaram que a maioria dos que se aposentam tem baixo capital financeiro por causa de uma vida com baixos salários e poucas possibilidades de poupar para a aposentadoria, de maneira que a única possibilidade de garantir o status de saúde e sociabilidade é continuar trabalhando. No Brasil, de maneira semelhante, Guerson et al. (2018)Guerson, L. R. S. C., França, L. H. F. P., & Amorim, S. M. (2018). Satisfação com a vida em aposentados que permanecem trabalhando. Paidéia, 28, e2812. doi:10.1590/1982-4327e2812
https://doi.org/10.1590/1982-4327e2812...
encontraram a satisfação com a renda como uma das principais influências da satisfação com a vida de aposentados que continuaram trabalhando após a aposentadoria. Esses fatores em comum da aposentadoria entre os países, aliados à situação financeira semelhante, podem ter contribuído para a diferença não ter sido significativa na dimensão de satisfação com os recursos individuais.

A segunda hipótese, assim como a primeira, foi refutada, uma vez que os aposentados residentes no Brasil não apresentaram maiores níveis de satisfação com os relacionamentos na aposentadoria do que os residentes em Portugal. Neste estudo, as médias do Brasil e de Portugal foram semelhantes, variando de 4,2 a 5 nos itens correspondentes a essa dimensão, o que pode ser considerado um índice de médio para alto. Isso significa que, em ambos os países, os aposentados se encontravam relativamente satisfeitos com seus relacionamentos em termos de cônjuge, familiares e residência.

A semelhança nesse fator parece apontar para o fato de a família ser a principal fonte de apoio social na aposentadoria (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.; Fonseca, 2006Fonseca, A. (2006). “Transição-adaptação” à reforma em Portugal. Psychologica, 42, 45-70. Retrieved from https://repositorio.ucp.pt/handle/10400.14/11739
https://repositorio.ucp.pt/handle/10400....
). No Brasil, a importância atribuída aos relacionamentos pela sociedade parece influenciar na associação dos aposentados à família (Rafalski & Andrade, 2017Rafalski, J. C., & Andrade, A. L. de (2017). Desenvolvimento da Escala de Percepção de Futuro da Aposentadoria (EPFA) e correlatos psicossociais. Psico-USF, 22(1), 49-62. doi:10.1590/1413-82712017220105
https://doi.org/10.1590/1413-82712017220...
). Em Portugal, apesar de os aposentados possuírem uma rede familiar mais restrita do que em outros países, ela, ainda assim, representa a principal fonte de apoio social e emocional (Paúl, 2005Paúl, C. (2005). Envelhecer em Portugal: Psicologia, saúde e prestação de cuidados. Forte da Casa: Climepsi Editores.).

Essas semelhanças também podem ser percebidas na medida em que autores de ambos os países vêm destacando o impacto que a aposentadoria tem nos arranjos familiares. Segundo esses autores, a aposentadoria pode ser um evento positivo no ambiente familiar, uma vez que a convivência se torna mais relaxada e com tempo disponível, porém pode ser um momento de conflitos. Ou seja, no âmbito familiar, assim como em outros aspectos da vida, a aposentadoria pode ser vista como um momento de significados relacionados a perdas e ganhos (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.; Loureiro, Angelo, Silva, & Pedreiro, 2015Loureiro, H. M. A. M., Angelo, M., Silva, M. A., & Pedreiro, A. T. (2015). How Portuguese families perceive transition to retirement. Revista de Enfermagem Referência, 4(6), 45-53. doi:10.12707/RIV14073
https://doi.org/10.12707/RIV14073...
).

Dessa forma, ainda que no Brasil pareça haver uma maior relevância atribuída aos relacionamentos sociais do que em outros países (França, 2008França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco.), esses resultados não se refletiram no grau de satisfação com o suporte social recebido na amostra participante. Tais resultados corroboram os resultados de investigações da qualidade de vida de idosos tanto no Brasil (Chachamovich, 2005Chachamovich, E. (2005). Qualidade de vida em idosos: Desenvolvimento e aplicação do módulo do WHOQOL-Old e teste do desempenho do instrumento WHOQOL-Brief em uma amostra de idosos brasileiros (Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil).) quanto em Portugal (Vilar, 2015Vilar, M. M. P. (2015). Avaliação da qualidade de vida em adultos idosos: Estudos de adaptação, validação e normalização do WHOQOL-Old para a população portuguesa (Tese de doutorando, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal).), porém não são suficientes para fornecer explicações aprofundadas, considerando a inexistência de estudos transculturais com esse objetivo.

A hipótese três foi confirmada, uma vez que os aposentados residentes em Portugal apresentaram maiores níveis de satisfação com a qualidade coletiva na aposentadoria, em comparação aos aposentados residentes no Brasil. A confirmação dessa hipótese corrobora outros indicadores que demonstram a diferença de oferta das condições que podem proporcionar uma melhor qualidade de vida entre Brasil e Portugal, como demonstra o IDH (Pnud, 2019Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2019). Relatório do desenvolvimento humano 2014. Retrieved from http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT_Complete.pdf
http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT...
). Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organization for Economic Cooperation and Development, 2017Organization for Economic Cooperation and Development (2017). Pensions at a glance 2017: OECD and G20 indicators. France: OECD.) indicam que o ganho médio do trabalhador português é mais que o dobro do ganho do trabalhador brasileiro, formal ou informal, em diferentes setores. Essas diferenças podem ser confirmadas pelo aumento do fluxo migratório de brasileiros para Portugal, principalmente após a crise econômica de 2008, que gerou impactos negativos nos empregos (Pereira & Esteves, 2017Pereira, S., & Esteves, A. (2017). Os efeitos da crise económica na situação laboral dos imigrantes: o caso dos brasileiros em Portugal. Remhu: Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, 25(49), 135-152. doi:10.1590/1980-85852503880004908
https://doi.org/10.1590/1980-85852503880...
), tendo como justificativa para a migração a busca por melhores condições de vida, especialmente de saúde (Oliveira et al., 2017Oliveira, E. N., Monteiro-Neto, F. F., Félix, T. A., Lima, G. F., & Almeida, P. C. (2017). Qualidade de vida de imigrantes brasileiras vivendo em Portugal. Saúde em Debate, 41(114), 824-835. doi:10.1590/0103-1104201711412
https://doi.org/10.1590/0103-11042017114...
; SEF, 2017Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (2017). Relatório de imigração, fronteiras e asilo. Retrieved from https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2017.pdf
https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2017.pdf...
).

Os resultados deste estudo nos permitem avançar nos estudos sobre bem-estar na aposentadoria à medida que discute as similaridades e diferenças da percepção de satisfação entre aposentados de realidades distintas. De maneira geral, os resultados apontaram para similaridades no acesso aos recursos individuais, como a saúde, a segurança, as atividades físicas e a situação financeira, e aos relacionamentos, incluindo as relações sociais, familiares e afetivas. As diferenças maiores parecem estar na oferta de recursos coletivos, como disponibilização de serviços de saúde, educação, lazer e preocupação com a dignidade do cidadão, nos quais Portugal demonstrou estar mais avançado.

Apesar dos resultados encontrados, algumas limitações devem ser consideradas. Primeiramente é necessário apontar que a amostra foi de conveniência, o que a leva à não representatividade dos dados. Embora conte uma amostra de todas as regiões nos dois países, não representa a população, especialmente em termos de escolaridade e renda (IBGE, 2017Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017). Síntese dos indicadores sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira. Brasília, DF: IBGE.; Pordata, 2018Pordata (2018). População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado (%). Retrieved from https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente+com+15+e+mais+anos+por+n%C3%ADvel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884
https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C...
). Além disso, apesar de os resultados apresentarem indícios de como a satisfação na aposentadoria se comportaria em diferentes países, são necessários estudos que contemplem outros países a fim de aprofundar melhor a avaliação do construto. Estudos futuros poderiam ainda incluir outras variáveis na comparação entre os países, com a finalidade de contemplar a complexidade psicossocial da aposentadoria.

Ainda que a diferença entre a qualidade de vida entre Brasil e Portugal já tenha sido relatada em estudos que consideraram as populações de forma geral (Pnud, 2019Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2019). Relatório do desenvolvimento humano 2014. Retrieved from http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT_Complete.pdf
http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT...
; Oliveira et al., 2017Oliveira, E. N., Monteiro-Neto, F. F., Félix, T. A., Lima, G. F., & Almeida, P. C. (2017). Qualidade de vida de imigrantes brasileiras vivendo em Portugal. Saúde em Debate, 41(114), 824-835. doi:10.1590/0103-1104201711412
https://doi.org/10.1590/0103-11042017114...
; Pereira & Esteves, 2017Pereira, S., & Esteves, A. (2017). Os efeitos da crise económica na situação laboral dos imigrantes: o caso dos brasileiros em Portugal. Remhu: Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, 25(49), 135-152. doi:10.1590/1980-85852503880004908
https://doi.org/10.1590/1980-85852503880...
), os resultados encontrados são de grande contribuição, pois levaram em conta a repercussão das mudanças no sistema previdenciário e a elevação da idade de acesso em ambos países, bem como a discussão quanto aos fatores de satisfação na aposentadoria. Por se tratar de um momento diferenciado da vida, com motivações, necessidades, preferências e experiências específicas, é essencial que os espaços propiciem condições dignas de sobrevivência, bem como oportunidades de vivenciar o bem-estar (Santos et al., 2018Santos, S. C., França, L. H. F. P., & Pereira, M. M. (2018). Propriedades psicométricas do Inventário de Motivos para Migração na Aposentadoria. Revista Kairós - Gerontologia, 21(2), 91-112. doi:10.23925/2176-901X.2018 v21i2p91-112
https://doi.org/10.23925/2176-901X.2018 ...
).

Em Portugal, são inexistentes programas e políticas voltados especificamente para a preparação para a aposentadoria, e pouca preocupação é destinada ao assunto por parte dos profissionais da saúde (Loureiro et al., 2015Loureiro, H. M. A. M., Angelo, M., Silva, M. A., & Pedreiro, A. T. (2015). How Portuguese families perceive transition to retirement. Revista de Enfermagem Referência, 4(6), 45-53. doi:10.12707/RIV14073
https://doi.org/10.12707/RIV14073...
). No Brasil, a situação não é muito diferente, já que as políticas e ações para os trabalhadores mais velhos são apenas aquelas que os vinculam à população idosa (Brasil, 1994Brasil (1994). Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Retrieved from https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/le...
, 2003Brasil. (2003). Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF.). Apesar de a legislação ter dado passos importantes, como a obrigatoriedade da preparação para a aposentadoria para aqueles que desejam se aposentar, os trabalhadores mais velhos carecem de outras intervenções, como a flexibilidade de horários, os treinamentos, as medidas ergonômicas e o combate ao ageísmo (França et al., 2017França, L. H. F. P., Rosinha, A., Mafra, S., & Seidl, J. (2017). Aging in Brazil and Portugal and its impacto in the organizational context. In E. R. Neiva, C. V. Torres, & H. Mendonça (Orgs.), Organizational psychology and evidence-based management (pp. 81-102). Chan, Switzerland: Springer.). A rea lidade das organizações é comprovada por meio de estudos como de França et al. (2014)França, L. H. F. P., Nalin, C., Brito, A. R. S., Amorim, S. M., Rangel, T., & Ekman, N. (2014). A percepção dos gestores brasileiros sobre os pro gramas de preparação para a aposentadoria. Estudos Interdisciplinares sobre Envelhecimento, 19(3), 879-898. Retrieved from https://seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/article/view/50434
https://seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/arti...
em que, dos 207 gestores entrevistados de empresas públicas e privadas brasileiras, apenas um quarto adotava os PPA, um terço adotava medidas ergonômicas e flexibilização de horários, cerca de 7% realizavam treinamentos e menos de 5% adotavam possibilidades de aposentadoria parcial e redução de status hierárquico.

Além disso, ressalta-se a necessidade de práticas voltadas para os aposentados, em diferentes níveis, independentemente do local onde residem. São necessárias ações educativas que estimulem os cuidados com a saúde e a preparação financeira para a aposentadoria. Ações em nível grupal devem contribuir para a construção de uma rede social mais ampla, que pode ser desenvolvida em PPA a serem propostos pelas empresas, universidades e/ou secretarias municipais e estaduais aos futuros aposentados. Por fim, o poder público tem o dever de proporcionar ambientes de qualidade e segurança, com acesso à saúde, à educação e aos serviços de lazer para sua população, incluindo os idosos e aposentados.

REFERENCES

  • Albuquerque, P., Arcanjo, M., Escária, V., Nunes, F., & Pereirinha, J. (2010). Retirement and the poverty of the elderly: The case of Portugal. Journal of Income Distribution, 19(3-4), 41-64. Retrieved from https://ideas.repec.org/a/jid/journl/y2010v19i3-4p41-64.html
    » https://ideas.repec.org/a/jid/journl/y2010v19i3-4p41-64.html
  • Almeida, A. V., Silva, E. P., Freitas, N. C., Mafra, S. C. T., & Fonseca, E. S. (2015). O envelhecimento nas diferentes regiões do Brasil. In E. P. Silva & S. C. T. Mafra (Orgs.), Envelhecimento no Brasil: O retrato da diversidade (pp. 19-34). Visconde do Rio Branco: Suprema.
  • Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019a). Bem-estar na aposentadoria: Uma revisão sistemática da literatura. Trends in Psychology, 27(1), 155-172. doi:10.9788/tp2019.1-12
    » https://doi.org/10.9788/tp2019.1-12
  • Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019b). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(1), 1-11. doi:10.1590/0102.3772e3558
    » https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558
  • Bentler, P. M., & Chou, C. P. (1987). Practical issues in structural modeling. Sociological Methods & Research, 16(1), 78-117.
  • Brasil (1994). Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Retrieved from https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm
    » https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm
  • Brasil. (2003). Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF.
  • Breslin, R. W., Lonner, W., & Thorndike, R. (1973). Crosscultural research methods New York: Wiley.
  • Byrne, B. M. (2016). Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications, and programming New York: Routledge
  • Chachamovich, E. (2005). Qualidade de vida em idosos: Desenvolvimento e aplicação do módulo do WHOQOL-Old e teste do desempenho do instrumento WHOQOL-Brief em uma amostra de idosos brasileiros (Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil).
  • Damásio, B. F. (2013). Contribuições da análise fatorial confirmatória multigrupo (AFCMG) na avaliação de invariância de instrumentos psicométricos. Psico-USF, 18(2), 211-220. doi:10.1590/S1413-82712013000200005
    » https://doi.org/10.1590/S1413-82712013000200005
  • Diener, E., Emmons, R. A., Larsen, R. J., & Griffn, S. (2000). The Satisfaction with life scale. Journal of Personality Assessment, 49(1), 71-74. doi:10.12 07/s15327752jpa4901_13
    » https://doi.org/10.12 07/s15327752jpa4901_13
  • Diener, E., Eunkook, M. S., Richard E. L., & Heidi L. S. (1999). Subjective well-being: Three decades of progress. Psychological Bulletin, 125(2), 276-302. doi:10.1037/0033-2909.125.2.276
    » https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2.276
  • Dingemans, E., & Henkens, K. (2015). How do retirement dynamics influence mental well-being in later life? A 10-year panel study. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, 41(1), 16-23. doi:10.5271/sjweh.3464
    » https://doi.org/10.5271/sjweh.3464
  • Dingemans, E., & Henkens, K. (2019). Working after retirement and life satisfaction: Cross-national comparative research in Europe. Research on Aging, 41(7), 648-669. doi:10.1177/0164027519830610
    » https://doi.org/10.1177/0164027519830610
  • Earl, J. K., Gerrans, P., & Halim, V. A. (2015). Active and adjusted: Investigating the contribution of leisure, health and psychosocial factors to retirement adjustment. Leisure Sciences, 37, 354-372. doi:10.1080/01490400.2015.1021881
    » https://doi.org/10.1080/01490400.2015.1021881
  • Floyd, F. J., Haynes, S. N., Doll, E. R., Winemiller, D., Lemsky, C., Burgy, T. M., Werle, M., & Heilman, N. (1992). Assessing retirement satisfaction and perceptions of retirement experiences. Psychology and Aging, 4(2), 609-621. doi:10.1037/0882-7974.7.4.609
    » https://doi.org/10.1037/0882-7974.7.4.609
  • Fonseca, A. (2006). “Transição-adaptação” à reforma em Portugal. Psychologica, 42, 45-70. Retrieved from https://repositorio.ucp.pt/handle/10400.14/11739
    » https://repositorio.ucp.pt/handle/10400.14/11739
  • Fouquerau, E., Fernandez, A., Fonseca, A. M., Paul, M. C., & Uotinen, V. (2005). Perceptions of and satisfaction with retirement: A comparision of six european union countries. Psychology and Aging, 20(3), 524-528. doi:10.1037/0882-7974.20.3.524
    » https://doi.org/10.1037/0882-7974.20.3.524
  • França, L. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia Rio de Janeiro: Rocco.
  • França, L. H. F. P., & Hershey, D. A. (2018). Financial preparation for retirement in Brazil: A cross-cultural test of the interdisciplinary financial planning model. Journal of Cross-Cultural Gerontology, 33(1), 43-64. doi:10.1007/s10823-018-9343-y
    » https://doi.org/10.1007/s10823-018-9343-y
  • França, L. H. F. P., Leite, S. V., Simões, F. P., Garcia, T., Ataliba, P. (2019). Análise dos programas de preparação para a aposentadoria (PPA) desenvolvidos por instituições públicas brasileiras. Revista Kairós: Gerontologia, 22(1), 59-80. doi:10.23925/2176-901X.2019v22ilp59-80
    » https://doi.org/10.23925/2176-901X.2019v22ilp59-80
  • França, L. H. F. P., Nalin, C., Brito, A. R. S., Amorim, S. M., Rangel, T., & Ekman, N. (2014). A percepção dos gestores brasileiros sobre os pro gramas de preparação para a aposentadoria. Estudos Interdisciplinares sobre Envelhecimento, 19(3), 879-898. Retrieved from https://seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/article/view/50434
    » https://seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/article/view/50434
  • França, L. H. F. P., Rosinha, A., Mafra, S., & Seidl, J. (2017). Aging in Brazil and Portugal and its impacto in the organizational context. In E. R. Neiva, C. V. Torres, & H. Mendonça (Orgs.), Organizational psychology and evidence-based management (pp. 81-102). Chan, Switzerland: Springer.
  • Guerson, L. R. S. C., França, L. H. F. P., & Amorim, S. M. (2018). Satisfação com a vida em aposentados que permanecem trabalhando. Paidéia, 28, e2812. doi:10.1590/1982-4327e2812
    » https://doi.org/10.1590/1982-4327e2812
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017). Síntese dos indicadores sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira Brasília, DF: IBGE.
  • Instituto Nacional de Estatística (2009). Projeções de população residente em Portugal 2008-2060 Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
  • Loureiro, H. M. A. M., Angelo, M., Silva, M. A., & Pedreiro, A. T. (2015). How Portuguese families perceive transition to retirement. Revista de Enfermagem Referência, 4(6), 45-53. doi:10.12707/RIV14073
    » https://doi.org/10.12707/RIV14073
  • Loureiro, H. M. A. M., Mendes, A. M. O. C., Camarneiro, A. P. F., Silva, M. A. M., & Pedreiro, A. T. M. (2016). Percepções sobre a transição para a aposentadoria: Um estudo qualitativo. Texto & Contexto - Enfermagem, 25(1), 1-8. doi:10.1590/0104-070720160002260015
    » https://doi.org/10.1590/0104-070720160002260015
  • Marôco, J. (2014). Análise de equações estruturais: Fundamentos teóricos, software & aplicações Pêro Pinheiro: ReportNumber.
  • Mendonça, H., Ferreira, M. C., Caetano, A., & Torres, C. V. (2014). Cultura organizacional, coping e bem-estar subjetivo: Um estudo com professores de universidades brasileiras. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 14(2), 230-244. Retrieved from http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-66572014000200009
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-66572014000200009
  • Numbeo (2019). Indicador de custo de vida por país. Retrieved from https://pt.numbeo.com/custo-de-vida/p%C3%A1gina-inicial
    » https://pt.numbeo.com/custo-de-vida/p%C3%A1gina-inicial
  • Oliveira, E. N., Monteiro-Neto, F. F., Félix, T. A., Lima, G. F., & Almeida, P. C. (2017). Qualidade de vida de imigrantes brasileiras vivendo em Portugal. Saúde em Debate, 41(114), 824-835. doi:10.1590/0103-1104201711412
    » https://doi.org/10.1590/0103-1104201711412
  • Organização Mundial de Saúde (2018). World Health Statistics 2018. Retrieved from https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272596/9789241565585-eng.pdf?ua=1&ua=1
    » https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272596/9789241565585-eng.pdf?ua=1&ua=1
  • Organization for Economic Cooperation and Development (2017). Pensions at a glance 2017: OECD and G20 indicators France: OECD.
  • Paúl, C. (2005). Envelhecer em Portugal: Psicologia, saúde e prestação de cuidados Forte da Casa: Climepsi Editores.
  • Pereira, S., & Esteves, A. (2017). Os efeitos da crise económica na situação laboral dos imigrantes: o caso dos brasileiros em Portugal. Remhu: Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, 25(49), 135-152. doi:10.1590/1980-85852503880004908
    » https://doi.org/10.1590/1980-85852503880004908
  • Pinto, B. O. S., Coleho-Junior, J. B. L., & Carreteiro, T. C. O. C. (2019). Aposentadoria no Brasil: Uma reflexão sobre os horizontes da população produtiva. Brazilian Journal of Production Engineering, 5(2), 20-30. Retrieved from http://www.publicacoes.ufes.br/BJPE/article/view/V05N02_3/pdf
    » http://www.publicacoes.ufes.br/BJPE/article/view/V05N02_3/pdf
  • Pordata (2018). População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado (%). Retrieved from https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente+com+15+e+mais+anos+por+n%C3%ADvel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884
    » https://www.pordata.pt/Portugal/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente+com+15+e+mais+anos+por+n%C3%ADvel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884
  • Portal Brasil (2016). Expectativa de vida no Brasil sobre para 75,5 anos em 2015. Retrieved from goo.gl/qAotla
    » goo.gl/qAotla
  • Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2019). Relatório do desenvolvimento humano 2014. Retrieved from http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT_Complete.pdf
    » http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_PT_Complete.pdf
  • Price, C. A., & Joo, E. (2005). Exploring the relationship between marital status and women’s retirement satisfaction. The International Journal of Aging and Human Development, 61(1), 37-55. doi:10.2190/TXVY-HAEB-X0PW-00QF
    » https://doi.org/10.2190/TXVY-HAEB-X0PW-00QF
  • Rafalski, J. C., & Andrade, A. L. de (2017). Desenvolvimento da Escala de Percepção de Futuro da Aposentadoria (EPFA) e correlatos psicossociais. Psico-USF, 22(1), 49-62. doi:10.1590/1413-82712017220105
    » https://doi.org/10.1590/1413-82712017220105
  • Rodrigues, A. C. A., & Carvalho-Freitas, M. N. (2016). Theoretical fragmentation: Origins and repercussions in work and organizational psychology. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 16(4), 310-315. doi:10.17652/rpot/2016.4.12630
    » https://doi.org/10.17652/rpot/2016.4.12630
  • Rodrigues, C. (2003). Inequality and poverty in retirement age groups: An analysis for Portugal [Working Paper nº 32]. Lisbon, Economic Research and Forecasting Department, Ministry of Finances Retrieved from http://www.gpeari.gov.pt/investigacao/working-papers/w-papers-dgep/w-paper32.pdf
    » http://www.gpeari.gov.pt/investigacao/working-papers/w-papers-dgep/w-paper32.pdf
  • Santos, S. C., França, L. H. F. P., & Pereira, M. M. (2018). Propriedades psicométricas do Inventário de Motivos para Migração na Aposentadoria. Revista Kairós - Gerontologia, 21(2), 91-112. doi:10.23925/2176-901X.2018 v21i2p91-112
    » https://doi.org/10.23925/2176-901X.2018 v21i2p91-112
  • Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (2017). Relatório de imigração, fronteiras e asilo. Retrieved from https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2017.pdf
    » https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2017.pdf
  • Silva, N., & Boehs, S. T. M. (2017). Psicologia positiva: Historicidade, episteme, ontologia, natureza humana e método. In S. T. M. Boehs & N. Silva, N. (Orgs.), Psicologia positiva nas organizações e trabalho: Conceitos fundamentais e sentidos aplicados (pp. 22-41). São Paulo: Vetor.
  • Sinval, J., Pasian, S. R., Queirós, C., & Marôco, J. (2018). Brazil-Portugal transcultural adaptation of the UWES-9: Internal consistency, dimensionality, and measurement invariance. Frontiers in Psychology, 9, 353. doi:10.3389/fpsyg.2018.00353
    » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.00353
  • Solinge, H. van, & Henkens, K. (2008). Adjustment to and satisfaction with retirement: Two of a kind? Psychology and Aging, 23(2), 422-434. doi:10.10 37/0882-7974.23.2.422
    » https://doi.org/10.10 37/0882-7974.23.2.422
  • The World Bank. (2018). Emprego e crescimento: a agenda da produtividade (Portuguese) Washington, D.C.: World Bank Group. Retrieved from https://documents.worldbank.org/en/publication/documents-reports/documentdetail/203811520404312395/emprego-e-crescimento-a-agenda-da-produtividade
    » https://documents.worldbank.org/en/publication/documents-reports/documentdetail/203811520404312395/emprego-e-crescimento-a-agenda-da-produtividade
  • The World Health Organization Quality of Life Group (1994). The development of the World Health Organization quality of life assessment instrument (the WHOQOL). In J. Orley & E. Kuyken (Eds.), Quality of life assessment: International perspectives (pp.41-60). Heidelberg: Springer Verlag.
  • Valadas, S. T., Vilhena, C. C., & Fragoso, A. (2019). Transitions to retirement: Perceptions of Portuguese older men. Studies in Adult and Education and Learning, 25(2), 37-51. doi:10.4312/as.25.2.37-51
    » https://doi.org/10.4312/as.25.2.37-51
  • Vilar, M. M. P. (2015). Avaliação da qualidade de vida em adultos idosos: Estudos de adaptação, validação e normalização do WHOQOL-Old para a população portuguesa (Tese de doutorando, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal).
  • Wang, Y., & Matz-Costa, C. (2017). Gender differences in the effect of social resources and social status on the retirement satisfaction and health of retirees. Journal of Gerontological Social Work, 62(1), 86-107. doi:10.1080/01634372.2018.1474156
    » https://doi.org/10.1080/01634372.2018.1474156
  • Wang, M., & Shultz, K. S. (2010). Employee retirement: A review and recommendations for future investigations. Journal of Management, 36, 176-206. doi:10.1177/0149206309347957
    » https://doi.org/10.1177/0149206309347957
  • World Health Organization (2018). World Health Statistics 2018 Retrieved from https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272596/9789241565585-eng.pdf?ua=1&ua=1
    » https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272596/9789241565585-eng.pdf?ua=1&ua=1

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Set 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    31 Maio 2019
  • Aceito
    27 Maio 2020
Editora Mackenzie; Universidade Presbiteriana Mackenzie Rua da Consolação, 896, Edifício Rev. Modesto Carvalhosa, Térreo - Coordenação da RAM, Consolação - São Paulo - SP - Brasil - cep 01302-907 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.adm@mackenzie.br