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“HOJE EU SEI”: EXPERIÊNCIAS RACIALIZADAS COM DOCENTES E PESQUISADORES DA PSICOLOGIA SOCIAL

“HOY LO SÉ”: EXPERIENCIAS RACIALIZADAS CON DOCENTES E INVESTIGADORAS DE PSICOLOGÍA SOCIAL

NOW I KNOW”: RACIALIZED EXPERIENCES WITH SOCIAL PSYCHOLOGY PROFESSORS AND RESEARCHERS

Resumo

Neste estudo tivemos como objetivo investigar experiências racializadas com docentes e/ou pesquisadoras/es que atuam ou atuaram com Psicologia Social. O enfoque metodológico foi colaborativo com o apoio de elementos da pesquisa narrativa, o que implica um tipo de relação de pesquisa em que as pessoas entrevistadas e a pesquisadora se tornam cocontadoras de histórias em busca de compreender como construíram a experiência racial. Foram realizadas 15 entrevistas narrativas sem restrições de gênero, raça/etnia, idade, com o objetivo de alcançar maior diversidade de histórias. A análise dialógico-performativa foi utilizada como ferramenta para interpretação do material empírico das entrevistas. As experiências narradas são racializadas, entretanto, existem nuances, que se relacionam à singularidade da vida das/os participantes. As narrativas expuseram que aspectos como território, classe, gênero, idade refletem na experiência com a raça. A mestiçagem ainda é um território em construção, ambíguo, mas com potencial de expansão para além da binaridade negro/branco.

Palavras-chave:
Experiência de vida; Raça; Pesquisa narrativa; Narrativas pessoais

Resumen

En este estudio tuvimos como objetivo investigar experiencias racializadas con profesoras e investigadoras que trabajan o han trabajado con Psicología Social. El enfoque metodológico fue colaborativo, apoyado en elementos de investigación narrativa, o que implica un tipo de relación de investigación en la que las personas entrevistadas y el investigador se convierten en co-narradores de historias. Se realizaron quince entrevistas narrativas sin restricción de género, raza/etnia, edad, para lograr una mayor diversidad de relatos. Se utilizó como herramienta de interpretación del material empírico de las entrevistas el análisis dialógico-performativo. Las experiencias narradas son racializadas, sin embargo, existen matices, que se relacionan con la singularidad de la vida de los participantes. Las narrativas expusieron que aspectos como el territorio, la clase, el género, la edad reflexionan sobre la experiencia con la raza. El mestizaje es todavía un territorio ambiguo en construcción, pero con el potencial de expandirse más allá del binario blanco/negro.

Palabras clave:
Experiencia de vida; Raza; Investigación narrativa; Narrativas personales

Abstract

In this study we aimed to investigate racialized experiences with professors and/or researchers who work or have worked with Social Psychology. The methodological approach was collaborative, supported by elements of narrative research, which implies a type of research relationship in which the people interviewed and the researcher become co-tellers of stories, seeking to understand how they built the racial experience. Fifteen narrative interviews were carried out with no restriction on gender, race/ethnicity, age, to achieve greater diversity of stories. Dialogic-performative analysis was used as a tool for interpreting the empirical material of the interviews. The narrated experiences are racialized, however, there are nuances, which are related to the singularity of the participants' life. The narratives exposed that aspects such as territory, class, gender, age reflect on the experience with race. Moreover, miscegenation is an ambiguous territory under construction, but with the potential to expand beyond the black/white binary.

keywords:
Life experience; Race; Narrative research; Personal narratives

Introdução

Os estudos sobre as questões raciais no Brasil, em sua grande maioria, têm enfatizado como as discussões sobre raça estão sempre voltadas à população negra ou à indígena, demonstrando a necessidade de que a branquitude componha este debate. Pretendemos desconstruir a ideia de que o racismo é um problema apenas de pessoas negras e indígenas, seguindo autoras que, antes de nós, se debruçaram sobre a problematização das posições dos brancos nas relações de poder que são histórica e socialmente constitutivas do racismo (Cardoso, 2010Cardoso, L. (2010). Branquitude acrítica e crítica: A supremaciaracial e o branco anti-racista. Revista Latinoamericana De Ciencias Sociales, Niñez Y Juventud, 8(1), 607-630. https://revistaumanizales.cinde.org.co/rlcsnj/index.php/Revista-Latinoamericana/article/view/70
https://revistaumanizales.cinde.org.co/r...
; Carone & Bento, 2014Carone, I. & Bento, M. A. S. (2014). Breve história de uma pesquisa psicossocial sobre a questão racial brasileira. In Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil (pp. 13-24). Vozes.; Carreira, 2018Carreira, D. (2018). O lugar dos sujeitos brancos na luta antirracista. Provocações e pautas para conversas. SUR 28, 15(28), 127-137. https://sur.conectas.org/wp-content/uploads/2019/05/sur-28-portugues-denise-carreira.pdf
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; Schucman, 2014Schucman, L.V. (2014). Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial da branquitude paulistana. Psicologia & Sociedade, 26(1), 83-94.).

Na prática científica, à princípio, o branco é quem observa o outro e não a si, estando sempre como um sujeito oculto, como uma “não questão-acadêmica”. (Cardoso, 2014Cardoso, L. (2014). O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre a branquitude no Brasil [Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara/SP]. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/115710/000809900.pdf?sequence=1&isAl
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). Nas produções em Psicologia Social, identifica-se que o diálogo sobre branquitude é debatido no livro Psicologia Social do Racismo, considerado um empreendimento científico significativo com relação à compreensão das relações raciais no Brasil. (Carone, 2014Carone, I. & Bento, M. A. S. (2014). Breve história de uma pesquisa psicossocial sobre a questão racial brasileira. In Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil (pp. 13-24). Vozes.). Como prática profissional, regulada pelo Sistema Conselhos de Psicologia, a área só incorporou as questões raciais de forma explícita a partir de 2007 (Arruda, Lemos, Lima, Assunção, & Silva, 2022Arruda, B., Lemos, F. C. S., Lima, B. J. M., Assunção, L. L., & Silva, L. S. P. (2022). Psicologia na América Latina e a questão do racismo como governamentalidade: pistas iniciais de uma pesquisa documental. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP, Macapá, 15(1)1-19. https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs
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).

Mesmo sendo um tema que se associa à Psicologia Social, não é comum encontrá-lo de forma explícita nas ementas de cursos, como disciplina obrigatória, sendo a formação dos psicólogos centrada na ideia de que a constituição do psiquismo se faz para todos os sujeitos da mesma forma. Ao longo de sua trajetória como ciência e profissão, é nítido o esforço da Psicologia Social brasileira de desconstruir práticas dominantes, questionando o lugar do sujeito universal. Entretanto, como nos aponta Carreira (2018Carreira, D. (2018). O lugar dos sujeitos brancos na luta antirracista. Provocações e pautas para conversas. SUR 28, 15(28), 127-137. https://sur.conectas.org/wp-content/uploads/2019/05/sur-28-portugues-denise-carreira.pdf
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, p. 31), é importante “o deslocamento da problematização dos oprimidos para os opressores”, o que já vem acontecendo desde 1990 como uma virada epistemológica, no que se refere aos estudos de gênero, promovidos por pesquisadoras feministas e LGBTs. Portanto, destacamos que a baixa produção sobre o branco como parte integrante das relações raciais talvez possa evidenciar o que aponta Maia Aparecida Bento (2014Bento, M. A. S. (2014) Branqueamento e branquitude no Brasil. In I. Carone & Maria A. Bento (Orgs.), Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil (pp. 25-58). Vozes.) sobre como a imaginação intelectual ainda se encontra respaldada pelo poder masculino e europeu branco.

Fruto do processo histórico social brasileiro, as tensões raciais ficaram subjugadas ao mito da democracia racial, delimitação que funcionou como pano de fundo para o projeto econômico-político de branqueamento da população. Desde então, um processo de purificação étnica veio sendo construído, por meio da ideologia do branqueamento, e instalada para atender aos interesses liberais de uma economia industrial capitalista, cujo objetivo era abolir as relações escravistas para integrá-las à mão de obra para a industrialização do país (Carone, 2014Carone, I. & Bento, M. A. S. (Orgs.). (2014). Psicologia social do racismo. Vozes.). No domínio estrutural de poder, refletimos como somos posicionadas quanto às “estruturas fundamentais das instituições sociais, como mercado de trabalho, moradia, educação e saúde” (Collins & Bilge, 2021Collins, Patricia Hill & Bilge, Sirma (2021). Interseccionalidade. Boitempo., p. 20).

Um importante marco, quanto ao campo das relações étnico-raciais, fruto das lutas do Movimento Negro, foi a Lei n° 10.639/2003 que implementou como obrigatoriedade o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas grades curriculares em instituições públicas e privadas do país. Posteriormente, essa lei foi modificada pela Lei n° 11.645/2008, que incluiu a história e a cultura indígena. No ensino superior, as diretrizes curriculares para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana foram instituídas pelo Parecer nº 3/2004 e pela Resolução nº 1/2004 do Conselho Nacional de Educação (CNE). Estas mudanças têm funcionado na construção de aportes teóricos relacionados ao racismo e a suas implicações para os sujeitos, bem como uma forma de aproximação com os movimentos de luta contra o preconceito racial. Entretanto, como apurado, no que se refere à Psicologia, a sua produção de conhecimento acerca das relações étnico-raciais e a inserção desse conteúdo nas matrizes curriculares brasileiras ainda está aquém, sendo disciplinas oferecidas, geralmente, como optativas, com pouca expressão nos currículos (Carvalho, Souza, & Macedo, 2020Carvalho, A., Souza, C., & Macedo, J. P. (2020). Relações de gênero e étnico raciais nos currículos de psicologia: aproximações e desafios. Psicologia Ciência e Profissão, 40, 1-14. https://doi.org/10.1590/1982-3703003201972
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).

Como pesquisadoras brancas, ocupando espaços de formação em Psicologia Social, nos indagamos: como racializamos nossas experiências para pensar nossos posicionamentos na prática docente frente ao tema raça? Inspiradas na pesquisa situada e nas reflexões que os discursos racializados nos convidam a fazer, buscamos, através da “pesquisa com”, compreender as experiências racializadas em contextos de formação em Psicologia Social. Partimos da noção de posicionamento como estratégia discursiva em que as pessoas colocam a si mesmas e as outras em determinados lugares no contexto das interações. Como a interação é um processo dinâmico, essas posições podem ser aceitas, negociadas e/ou rejeitadas (Harré & van Langenhove, 1999Harré, R & Van Langenhove, L. (1999). Positioning Theory: moral contexts of intentional action. Blackwell Publishers.).

Na pesquisa disparada por este questionamento das nossas próprias experiências, buscamos, nos métodos narrativos, recursos teórico-metodológicos para aprofundar o debate sobre branquitude e formação em Psicologia Social. O objetivo geral do estudo foi investigar experiências racializadas com docentes e/ou pesquisadoras/es que atuam ou atuaram com Psicologia Social. Partimos do pressuposto de que são muitos os encontros que se abrem no ofício de pesquisar. Em um trabalho que antecedeu a interlocução com outras/os pesquisadoras/os, fizemos um exercício de pesquisar a nós mesmas, sustentando nossa posicionalidade com relação à experiência racializada na atuação como psicólogas sociais de modo bem próximo ao que viríamos a produzir em campo (Carone & Bento, 2014Carone, I. (2014). Breve história de uma pesquisa psicossocial sobre a questão racial brasileira. In I. Carone & Maria A. Bento (Orgs.), Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil (pp. 13-24). Vozes.).

Metodologia: entrevista como troca de experiências

Neste artigo, apresentamos a participação de 15 pesquisadoras/es, com experiência como formadoras/es em Psicologia social, em entrevistas narrativas colaborativas. A amostra foi composta em bola de neve, se utilizando de redes de referência para acessar as/os participantes. Os procedimentos éticos deste estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética da Instituição Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

A dimensão colaborativa na produção de narrativas implica um tipo de relação de pesquisa em que nós, pessoas entrevistadas e pesquisadoras, nos tornamos cocontadoras de histórias ao discutir e escrever colaborativamente fragmentos narrativos em busca de compreender como construímos nossa experiência racial. As entrevistas foram conduzidas pela primeira autora, utilizando-se de um aplicativo de videoconferência com gravação audiovisual autorizada pelas/os participantes para fins da pesquisa.

Com relação ao contexto de relevo das/os entrevistadas/os, oito delas/es têm ou tiveram vínculo com instituições de ensino superior públicas e sete com instituições privadas. Do ponto de vista geográfico sete são da região Sul, três da região Sudeste, quatro da região Nordeste e uma da região Norte, sendo a maioria, 11 participantes, mulheres.

Tabela 1
Caracterização das/os entrevistados

Na entrevista narrativa, a entrevistadora apresenta uma questão gerativa que estimula a narração e não respostas pontuais. Esta técnica busca gerar uma narração autobiográfica, sendo trazido aquilo que é considerado relevante, do ponto de vista da pessoa que narra (Jovchelovitch & Bauer, 2005Jovchelovitch, S. & Bauer, M. (2005). Entrevista narrativa. In M. Bauer & G. Gaskell (Orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático (pp. 90-112). Vozes.). Para desencadear a narração, a proposta geradora da narrativa foi: “conte-me sobre como a raça tem aparecido em sua trajetória de vida pessoal e profissional.” A partir desse momento inicial de narração, outras indagações iam se tecendo nas entrevistas, de modo a aprofundar alguns pontos, mas também como forma de trocar experiências e de produzir compreensões conjuntas desde esse momento de entrevista.

Na construção da análise, o ponto de partida deu-se com a familiarização e a ampliação do olhar na relação com a interpretação do material empírico coconstruído nas entrevistas. Para tal, na primeira etapa foi feita a escuta, leitura e edição textual das transcrições automáticas das entrevistas geradas pelo aplicativo de gravação utilizado. Esta etapa consistiu em ajustar o texto, corrigindo e acrescentando palavras, pontuações, já que nem todo o conteúdo da entrevista foi captado durante a gravação. Em algumas entrevistas foi necessário fazer toda a transcrição, já que a plataforma não gerou o texto escrito. Esse momento foi essencial para entrar em contato novamente com as histórias, deixando-me afetar por elas. Na segunda etapa, cada uma das entrevistas foi organizada em micro-histórias, a partir da identificação dos conteúdos e temas explícitos e que se apresentavam com maior ênfase nas narrativas. A terceira etapa consistiu da análise dialógico-performativa, em que foram identificados o self preferido e os outros recursos linguísticos de performance. Finalmente, reunimos os temas frequentes mapeados e os selves preferenciais que foram identificados na análise das entrevistas. A análise dialógico-performativa de Catherine Riessman (2008Riessman, C. K. (2008). Narrative methods for the human sciences. Sage.) foi utilizada como ferramenta para interpretação do material empírico das entrevistas, de modo que, nesse processo, os recursos linguísticos de performance auxiliaram no mapeamento das intenções presentes nas narrativas, e no modo como as/os entrevistadas/os utilizam-nos para sustentarem suas performances.

Resultados e discussões

Experiências racializadas

Apresentamos as narrativas coconstruídas com as/os entrevistadas/os, analisadas a partir da perspectiva dialógico-performática, como abordada por Riessman (2008Riessman, C. K. (2008). Narrative methods for the human sciences. Sage.). Na exposição dos fragmentos narrativos apresentados neste texto, os nomes das/os participantes são fictícios. Através da análise foi possível acessarmos os vários modos de expressão, a identificação do self preferido, entendido como posição dialógica por meio da qual as/os participantes sintetizam sua experiência singular com os temas que narram. Com relação à performance preferencial, as principais formas como as/os participantes se apresentaram expõem selves conectados com a experiência de se perceberem racializadas/o.

As principais formas de se apresentar destacou a racialização tardia em pessoas brancas, ao relatarem que tomaram consciência de suas raças ao chegarem na pós-graduação, diferentemente de pessoas negras, que narram experiências desde a infância. Em sua maioria, as/os participantes se esforçaram por se apresentarem engajados e conscientes das discussões étnico-raciais. A pós-graduação é o momento em que, em grande parte, pessoas brancas se depararam com a temática racial. Em sintonia com a discussão histórico-analítica sobre raça no âmbito da formação em Psicologia, tomada como ciência e profissão, é a partir dos anos 2000 que a discussão sobre os privilégios brancos começa a ser debatida (Arruda, Lemos, Lima, Assunção, & Silva, 2022Arruda, B., Lemos, F. C. S., Lima, B. J. M., Assunção, L. L., & Silva, L. S. P. (2022). Psicologia na América Latina e a questão do racismo como governamentalidade: pistas iniciais de uma pesquisa documental. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP, Macapá, 15(1)1-19. https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs
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; Carone & Bento, 2014Carone, I. & Bento, M. A. S. (2014). Breve história de uma pesquisa psicossocial sobre a questão racial brasileira. In Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil (pp. 13-24). Vozes.). Nos fragmentos narrativos que se seguem vemos a emergência desse processo.

Eu ainda não tinha caído a ficha, sabe, da questão da racialização. Não tinha caído de verdade e quando decidi fazer o doutorado, em 2010, o doutorado, a gente tem que achar alguma coisa não tão, não tão debatida já, né? E aí na hora da banca lá, né, de avaliação depois do projeto ... o professor tinha me dito o seguinte, que ele achava superinteressante, né, o tema, mas que ele não sabia nada. Só tinha branco na época, não se discutia nada em 2010. E ele disse, ‘olha, eu acho bem legal. Não sei nada, tu vais ter que ir atrás’ e aí eu disse, ‘tá, eu vou né, então vamos’. E aí entrei e comecei a estudar, óbvio que eu comecei estudar para escrever. (Maria Bonita)

Eu venho de um curso, por exemplo, eu fiz psicologia na [instituição privada], né. Era um curso muito, com um currículo muito elitizado, né. Eram, era um currículo voltado para clínica psicanalítica branca, né, para quem podia pagar. A gente aprende a fazer clínica de consultório, né. Aí, lá no fim da minha graduação, que daí coincidiu com a reforma da luta antimanicomial, da reforma psiquiátrica, a gente começou a falar de saúde, de clínica ampliada, de saúde pública, né, e começou a ver que a clínica, né, que o exercício da clínica não é algo de consultório, só para um tipo de pessoa, né. Mas é ... durante toda a minha, minha formação, eu não vi isso, eu te diria assim, noventa por cento dos meus colegas tiveram formação como psicólogos clínicos, né, e são psicólogos de consultório ou alguns são psicólogos organizacionais, né. Eu acho que da minha turma, somos duas ou três que somos, fomos para essa questão na época da comunitária, né. Quem ia, para quem se interessava pela social ia para comunitária. Tô te falando em meados dos anos 90. (Atena)

Na graduação e no mestrado eu estava na [universidade privada]. É, nesse... durante esse itinerário de sete anos e meio não havia discussão racial e não havia... e hoje eu fico muito passada porque eu fico pensando ‘nossa, mas os nossos alunos de graduação têm acesso a muito mais coisas do que eu tive lá na época da graduação’. Não havia em 2013. Quando eu resolvi fazer o trânsito institucional aí começou a me dar um certo cansaço que eu não sei do quê, aí eu pensei assim, ‘não, eu vou fazer o doutorado na federal que é para eu dar uma circulada institucional, porque eu acho que eu tô muito viciada na discussão aqui’ que, inclusive, tem uma discussão esquizoanalítica e que eu gosto até hoje. Inclusive, não me divorciei. Eu não acho que não ouso abandonar, eu acho que me ajudou e ajudou na minha formação. Sou muito grata por isso, mas, em 2013, quando eu fui para o doutorado na federal, que eu fiz o trânsito, aí eu acho que eu senti um pouco esse tensionamento. (Iara)

Diferentemente, quando se trata de pesquisadores que se autodeclararam como negras/os e pardas/os, o encontro com a temática em questão acontece na infância, como apresentado por Xangô, Fênix, Maria Firmina e Exu.

E aí se eu for (risos) é... pensar assim, é... de como, de como... quando começam essas experiências racializadas para mim, elas começam bastante cedo, assim, desde muito cedo (risos). Ou seja, é... poderia dizer que desde que eu entrei (risos) no... no mundo educacional, ou seja, desde o ensino fundamental entendeu, eu tenho lembranças e experiências racializadas na minha vida. Não é... assim, eu tô dizendo experiências positivas e negativas, né, ou seja, eu não acho que experiências são somente negativas, né. Eu acho que existem experiências positivas que a gente pode pelo menos assim ressignificar como positivas. (Xangô)

É interessante porque é... eu não tenho o que as pessoas colocarem como traços indígenas, também não tem aquilo que as pessoas colocam como traços de negros, dependendo do lugar onde eu esteja porque a minha pele é clara, mas se eu tiver no espaço das pessoas brancas eu também não sou lida como branca. E essas questões para mim aparecem desde a minha infância, assim. A minha família, minha mãe é branca, loira e meu pai é negro, são dois lugares completamente diferentes, mas na fala da minha mãe ele nunca aparece como um negro, moreno claro... aquela coisa do embranquecimento e essa fala ela também reproduz pros filhos, assim, de como se todos fossem brancos. E aí, eu lembro muito da escola, coisas da escola de meu cabelo, problema que ele era ruim. Como eu era bolsista numa escola tradicional, de pessoas com grana, eu era, eu não era colocada nesse meio das pessoas que ali estavam, né. Eu era diferente ali, então ali eu não era branca, claro que não tinha... essa fala é.... de hoje, né, na infância não era essa percepção. Na infância só sabia que tinha uma diferença de tratamento. (Fenix)

Acho que parte de muitas questões, né, é eu sou uma mulher negra, assim, né, pra poder entender como é que é... a experiência de raça, né, chega para mim, né. Eu sou uma mulher negra de uma família de pai negro e mãe branca e eu e minhas irmãs somos negras, meu pai negro e, assim, a questão de raça sempre teve presente, assim, na minha família como algo, digamos assim, um tanto quanto natural. Assim, a gente não teve uma criação digamos, assim, que invisibilizasse a questão da raça. A nossa família sempre entendeu, a gente sempre se entendeu como pessoas negras. (Maria Firmina)

Eu e um irmão meu, a gente estudou um ano, numa escola particular lá em [estado que morou]. E foi horrível! Foi horrível. Uma experiência horrorosa. De muita violência, muita violência. Tipo bullying pesado, quase todo dia, tinha dia que eu não queria ir, é... de chegar em casa chorando, mas de não identificar muito isso. Tanto pela questão racial quanto pela questão… que aí foi o momento em que eu fui identificando, eu fui percebendo, me percebendo mais também como gay, como homossexual, né, não me identificava com os campeonatos, com essas coisas que a escola puxava muito. Então... e, as diversas violências que hoje eu vejo como violência epistêmica, né, de não me identificar com as leituras, né, enfim. É isso que eu me lembro desse tempo de infância, de adolescência, do tempo de graduação em diante acho que já te falei bastante, assim, construindo o tempo que eu fiquei apartado, fiquei e ainda que estou porquê... tem muita aqui, aqui tem uma prateleira de livros, muita coisa ainda que eu comprei e não li (risos). Que eu ainda não me apropriei, mas que eu estou exercitando, aprofundando. (Exu)

Há contraste entre o efeito “hoje eu vejo”, de que Exu fala e a percepção de si racializada com algo “um tanto quanto natural” na expressão de Maria Firmina. Esse contraste mostra que, embora, para pessoas que se apresentam como negras ou pardas, a experiência racial chegue mais cedo do que para aquelas que se apresentam como brancas, ela não é pressuposta à flor da pele. A diversidade racial na própria família ou o ingresso na escola são cruciais na construção da experiência racial.

A raça tem sido abordada em Psicologia Social brasileira, porém, por muito tempo sem problematizar a branquitude. A lei que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de relações étnico-raciais nas instituições educativas do Brasil é dos anos 2000 (Dias & Almeida, 2020Dias, A. L & Almeida, C. H. F. P. (2020). A Educação das Relações Étnico-Raciais nos Cursos de Licenciatura na UFS/Campus São Cristóvão. In Anais do III Seminário Nacional de Sociologia - Distopias dos Extremos: Sociologias Necessárias 08 a 16 de outubro de 2020. Universidade Federal de Sergipe. https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/13854/2/EducacaoRelacoesEtnicoRaciaisUFS.pdf
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). Quando se trata do ensino superior, a realidade é que a questão da raça ainda é tratada como opcional nas ementas dos cursos, como foi identificado nas falas de entrevistadas/os ou de disciplinas optativas (Oliveira, Rodrigues, Battistelli, & Cruz, 2019Oliveira, E., Rodrigues, L., Battistelli, B. M., & Cruz, L. R. (2019). Raça e Política de Assistência Social: Produção de Conhecimento em Psicologia Social. Psicol., Ciênc. Prof., 39(nspe.2), 141-152. https://doi.org/10.1590/1982-3703003225556
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).

Em relação às/aos entrevistadas/os que não se identificaram como brancas ou pretas, suas identidades de fronteiras marcaram as narrativas.

Eu, por exemplo, uma saída racial para mim seria o pardo. Quem é branco e não é preto, né, é pardo. Eu tenho muitas amigas que vão sustentar que são pardas para pensar mesmo nessa fronteira que são aqueles que estão numa fronteira, nem são os brancos branquíssimos, nem são os pretos. Só que para mim, pensar o pardo foi muito difícil também, porque o pardo é o que é o branco sujo, né. E qual é o significado de pardo? É branco sujo, o próprio nome não me parece adequado, como mestiço, também, não me parece adequado, considerando se a gente for pensar etimologia de mestiço. (Iara)

Eu lembro que eu fazia sempre uma brincadeira com o termo parda porque eu olho para os passarinhos, o pardal que ele é marronzinho né, então eu fazia sempre essa associação de quem são os pardos, né? Quem são esses pardais aí? Que ficam voando no meio do caminho? Aí, hoje a gente já tem toda uma discussão sobre colorismo, enfim, a necessidade do embranquecimento como uma forma de higienização social, a falsa noção de branquitude, né. (Fenix)

Para Alessandra Devulsky (2021Devulsky, Alessandra (2021). Colorismo. Jandaíra.), a experiência que Iara e Fenix narram está diretamente relacionada com os efeitos que o colorismo tem em pessoas negras de pele clara. O colorismo como forma de hierarquização racial repercute nesses sujeitos, segundo a autora, de forma ambígua. Como sentir-se pertencente a uma raça depende do modo como somos identificados, mais do que como nos identificamos, é possível que uma pessoa mestiça seja percebida como branca, quando ela não é, de toda forma, podem serem hostilizadas e excluídas por pessoas que entendam que não podem se passar por brancos, ainda que o mestiço não se considere pertencente a nenhuma categoria racial.

Segundo Kabengele Munanga (2019Munanga, K. (2019). Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil [Tese de Livre-Docência em Antropologia, Universidade de São Paulo, São Paulo/SP].), a mestiçagem e a transculturação, do ponto de vista biológico e sociológico, é um fato consumado. Entretanto, “a identidade é um processo sempre negociado e renegociado, de acordo com os critérios ideológicos-políticos e as relações de poder” (p. 111). A miscigenação no Brasil, enquanto projeto político, tinha como proposta o branqueamento da população e a desmemória das origens étnico-raciais. A imagem da escravidão deveria ser apagada com o branqueamento da população, assim como a imagem do guerreiro viria para transpor àquela do índio selvagem. Nesse sentido, o mestiço foi transformado em patrimônio imaterial do Brasil, com uma dupla função, usada de acordo com a conveniência para causar a ilusão de uma mistura harmoniosa, mas demarcando as distâncias sociais, através do discurso de que não é possível saber quem é negro no Brasil. Portanto, para Munanga (2019), a identidade nacional pode funcionar como forma de anular as particularidades nacionais.

Stuart Hall (2003Hall, S. (2003). Da Diáspora. Identidades e mediações culturais. Editora UFMG.), porém, faz a ressalva que é um equívoco a compreensão de que o processo colonizador ocorreu de modo passivo, pois ele se deu em meio a muita resistência. Ainda para este autor, na contemporaneidade, é necessário que consideremos aquilo que ele denomina como descentramento de identidades, processo no qual o sujeito que se reconhecia como tendo uma identidade unificada e estável vê-se composto de várias identidades, sendo elas, algumas vezes, contraditórias e não resolvidas. Outros autores problematizam se não seria contraditória “a tese defendida da garantia e valorização da diversidade étnica e cultural na sociedade brasileira com a negação do mestiço como mais uma realidade étnica a conviver em um espaço cada vez mais marcado pela hibridização?” (Abib, s/dAbib P. R. J. (s/d). A mestiçagem como um processo de re-significação de identidades. Grupo MEL. Faculdade de Educação- Universidade Federal da Bahia. https://grupomel.ufba.br/sites/grupomel.ufba.br/files/a_mesticagem_como_um_processo_de_resignificacao_de_identidades.pdf
https://grupomel.ufba.br/sites/grupomel....
, p. 8).

Segundo Priscila Martins Medeiros e Paulo Vieira (2015Medeiros, P. M. & Vieira, P. A. S (2015). Da mestiçagem à reconstrução diaspórica do pertencimento étnico-racial. Plural, 22(2), 161-181. https://www.revistas.usp.br/plural/article/view/112455/110407
https://www.revistas.usp.br/plural/artic...
), o discurso de igualdade racial através da mestiçagem passa a ser tensionado por meio da recolocação da categoria raça pelo Movimento Negro brasileiro e com as políticas afirmativas, deslocando-se desse discurso para uma perspectiva diaspórica dos processos de racialização. Na narrativa de Iara parece que está presente este salto, quando ela se posiciona como latina. Ela reconhece a importância política que o uso da identidade racial tem tido no processo de construção da identidade de pessoas negras e indígenas, o que demonstra que não está alheia ao projeto político de apagamento étnico que a ideia de mestiçagem cumpriu. Contudo, ela indaga sobre a experiência de deslocamento subjetivo produzida, por estar no entrelugar das identidades raciais. Assim, o self que performa - de deslocada - parece surgir como possibilidade de reconfiguração de uma identidade de fronteira. Se essa posição entre foi o lugar marcado pelo não pertencimento, agora ela passa a ser ressignificado como lugar de encontro. Ser latina, é se reconhecer no entre.

Um contraste aparente é que, apesar da racialização tardia narrada pela/os participantes brancas/os, suas performances sustentaram posturas de engajamento e consciência racial. Em fragmentos de Temis e Lotus vê-se uma performance narrativa sustentada pelo argumento de que raça é um tema com o qual se deparam no dia a dia, quando se atua com Psicologia Social, sendo, portanto, questões que se “impõem”, como forma de dizer que é impossível não as perceber.

Na verdade, assim, não é um tema meu de estudo né... não é uma temática que eu me dediquei diretamente como agora, como se tem como estudos étnico-raciais. Mas desde o início da minha trajetória profissional essa questão sempre apareceu, sempre esteve presente pelo, pela escolha que eu fiz do com o que trabalhar. Eu sempre trabalhei com... na psicologia, né, na Psicologia Social numa perspectiva... nessa perspectiva crítica da Psicologia Social, em contextos comunitários, em instituições educacionais, em contextos voltados ao atendimento da população de baixa renda, e a gente sabe que, predominantemente, a população de baixa renda aqui, no Brasil, a questão de classe ela tá interseccionada com a questão de raça, né, dos corpos racializados. Quais são os corpos racializados? Os negros, né. (Temis)

Já há algum tempo que eu sou do campo da Psicologia Comunitária, né, então não tem como a gente não se deparar com essas questões, não é mesmo? Antes desse debate, né, estar assim colocado, né, é... nas universidades e, tal, já era algo que eu me parava e pensava, mas muito, muito solitariamente. ..., eu entrei na universidade pública em 2014, aí, aos poucos eu fui percebendo essa importância, até que porque muitos alunos, né, que é uma universidade interiorizada, são negros e negras e aí você percebe que você precisa falar uma outra linguagem, né, mas foi assim, foi muito, foi muito complexo. (Lotus)

Os selves que as/os entrevistadas/os elegeram para se apresentarem carregam recortes que são importantes para pensarmos as performances narrativas que foram coconstruídas ao longo da entrevista. Hipotetizamos que esses recortes sejam reflexos da perspectiva que considera as interseccionalidades e que tem sido incluída como campo de análise da Psicologia Social. Território, classe e gênero foram recortes comumente usados para sustentarem a performance de consciência racial, conforme se lê nos fragmentos narrativos.

Eu acho que tem uma coisa do agreste né, que é a região que eu dou aula, existe uma efervescência cultural. Então é a terra do mestre Vitalino, é a terra do... então tem o barro que é muito forte, mas tem também a cultura popular do cordel que é muito forte. Então, eu acho que tem uma certa efervescência cultural que acontece ali no interior, que facilitava também a entrada desses autores, porque aqui na...e vai ter, por exemplo, às vezes, eu dou aula aqui na federal a convite, né, de algum colega, então vejo na aula uma novidade quando a gente traz uma bell hooks, Memórias da Plantação com Grada Kilomba, quando trabalho algo nesse... há uma espécie de novidade. Quando você vai para o agreste isso já não faz mais parte de um repertório de novidade para os alunos, eu não sei se por uma necessidade de sobrevivência da gente, também, né. (Iara)

No meu caso eu acho que a questão da região é relevante, justamente por ser é... uma região em que exalta esse sujeito colonizador e invisibiliza outras vidas, assim como uma coisa super naturalizada, sabe, então, talvez isso se tornou, para mim, mais difícil; perceber a minha posição, o dano que se produz para a utilidade das vozes desses outros sujeitos que eu não ouvia. Então, para mim, teve um impacto significativo, assim, esse grupo familiar cultural, enfim, foi problemático nesse sentido, me privou de uma análise mais crítica sobre a minha própria posição. (Homero)

Gênero foi um recorte que emergiu nas narrativas para sustentar performances de sujeitos conscientes de suas posições, especialmente entre as/os entrevistadas/os brancas/os.

Um pouco no abismo não vai deixar de acontecer, né, sem que você também faça esse exercício de abertura, entregando suas narrativas, também, né. Tô falando de lutas diferentes, mas de lutas de dimensões... de lutas, dimensões de existência. Eu, por exemplo, sou lésbica, né, então eu tenho uma dimensão de luta aí, né. Então, você vai falando disso, e aí a relação vai se dando, né. E algumas diferenças vão se desmanchando. Alguns consensos vão se estabelecendo, algumas aproximações vão se estabelecendo, né. Inclusive a gente vai vendo que algumas lutas são mais confluentes do que a gente pensava, né. (Atena)

Classe, em certa medida, é ainda, um recorte que tem sido usado para minimizar a condição de privilégio e para analisar o racismo. A literatura aponta como as discussões sobre racismo ficam disfarçadas sob o argumento da pobreza, sendo comum que se justifique o preconceito de classe quando se trata do racismo. Porém, quando tomamos os dados sobre a condição de vida da população brasileira, a raça é determinante para a análise da desigualdade social. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) (2020), tendo como referência os indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2020). Indicadores IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Terceiro Trimestre. Autor. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/2421/pnact_2020_3tri.pdf
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualiza...
) publicou um documento sobre diferentes campos da vida social que datam de 1995 a 2015, demonstrando as desigualdades raciais.

É que eu acho que aqui na nossa região, eu já vou falar desse, desse lugar né! A gente primeiro tem a mudança de um curso diurno para o curso noturno, né, quando eu comecei a dar aula era um curso diurno. E aí, é um curso diurno com 94% do seu corpo discente feminino, né, com pouquíssimas situações de pessoas que trabalhavam em outros turnos, né, para poder estudar, então era uma maioria mulher branca, de classe média, média alta, né ou alguns bolsistas, algumas, né, era a maior parte, era mulher, né. Eu sou oriunda da segunda turma do curso, onde hoje eu trabalho, né. Eu me formei na segunda turma do curso, e eu lembro que nós bolsistas éramos, nós bolsistas éramos muito, muito poucos, assim, na turma. (Ganesha)

Isso é uma... eu chego na psicologia mais tarde eu sou uma pessoa... sou uma trabalhadora desde os 17 anos, né. Não sou alguém que fez a carreira acadêmica. Começo a trabalhar, primeiro, na minha vida e depois vai indo e eu chego na universidade mais tarde, né. Então, sou uma mulher branca nascida em 68, ou seja, antes, né, da Constituição Federal e da igualdade das mulheres, né. (Maria Bonita)

O fato de mudar muito e conviver com muitas pessoas, assim, de amizades, mas eu lembro de também uma oportunidade que era muito interessante que a gente morava no pátio dos Departamentos de Estrada e Rodagem, no pátio, no lugar em que você tava lá, junto, e a gente brincava. O filho do engenheiro brincava junto com o filho do tratorista, o filho do cara que fazia, sei lá, manutenção, o cara que (pausa curta) ... das pessoas que tinham outros cargos de diferentes lugares, das hierarquias, do trabalho, daquele contexto e isso era muito interessante. Foram situações muito, muito, muito extremamente ricas. (Temis)

Notamos que várias foram as formas que as/os participantes performaram suas narrativas, sobre como conduzem suas práticas, fossem elas engajadas no cotidiano, fossem outras tensões vividas em sala, com os próprios colegas de trabalho, com conflitos que refletem os desafios de se pensarem brancos.

Bom, então eu acho que é um movimento de introduzir esse tema das relações raciais e aqui eu acho importante dizer, esse tema, na minha opinião, ele deveria estar em todas as disciplinas. Quando eu entendi a violência epistêmica que era ter bebido de uma mesma fonte durante toda graduação e durante boa parte do mestrado, eu entendi que a gente precisava tá sempre fazendo um retorno para o coração das coisas e tentar equilibrar um pouco mais também essas influências, né. Então, hoje, independente da disciplina que eu lecione, independente da iniciação científica que eu esteja orientando, mais de cinquenta por cento das leituras, na minha opinião, elas precisam ser negras porque a gente vive num país que é de maioria negra. Então não faz sentido compor as ementas das disciplinas sem esse equilíbrio epistêmico, sem esse equilíbrio racial. No começo eu tinha, eu, eu sentia um enorme desafio e depois eu fui entendendo. (Iara)

Quando eu viro professor de uma universidade pública federal, aí eu consigo já, no primeiro ano, já assim que eu entro, no meu departamento, na universidade, eu proponho uma disciplina sobre isso, sobre psicologia e questão racial. Eu já venho desenvolvendo há mais de dez anos, já venho dando, há mais de dez anos disciplinas que abordam esse tema é... ou seja, variando, é, discutindo, mas assim, há mais de dez anos eu venho tentando levar essa discussão para os meus alunos. É algumas vezes mais... de maneira mais exitosa, outras vezes (risos) menos exitosas .... Como eu disse para você, há mais de dez anos, não é tema recente para mim, de fato tenho me dedicado a ele já a bastante tempo. E aí eu vou já, entrar aqui nesse bate-papo, né. É engraçado porque quando eu comecei a propor essa discussão, quando entrei na... quando eu comecei a dar a disciplina eu falei assim, ‘não vou dar’. Disse que durante os dois anos, e aí, é claro que eu vou me dedicar a outro tema, mas eu vi que, de fato, o tema era pouco discutido e acabei ficando repetindo a disciplina. E a temática, continuo pesquisando, né, até hoje, eu continuo pesquisando nesse campo. É que hoje eu vejo, felizmente, que o campo tem muito mais gente pesquisando, muito mais gente discutindo, mas é isso, assim, dentro da psicologia, ainda é um tema menor, é, ainda, um tema é... bastante marginal, mas que tem ganhado espaço. (Xangô)

Talvez foi a experiência mais difícil que eu vivi como professor, assim, que aconteceu essa semana, quarta-feira, anteontem. Foi uma aluna, pensando nisso que você falou, dessa experiência da mulher que te fala que queria ser muito feliz como você, né. Eu acho que eu tô num momento muito irritado com esse modelo remoto, né. Eu dou 28 horas de aula por semana, então 28 aulas na semana, no remoto, coisa assim, começo a ficar meio perdido mesmo e tem uma turma que eu tenho dificuldade de comunicação, eu não consigo comunicar por questões minhas, mas também da turma, de um processo de formação que eu acho que tem déficits importantes. Então essa turma, eu comecei a ficar meio irritado e fazendo caras e bocas. E aí teve uma aluna, que não é uma mulher, não sei como que ela se identifica, nunca falou, né, mas ela é uma mulher mais velha de origem rural, experiência social muito diferente da minha e ela ficou e falou uma coisa que nunca tinha ouvido, que eu devia desprezá-la, que eu não a escutava, é... que eu estava tratando ela mal, que ela ia para a aula com muita sofrimento. Então foi bem forte, e de fato eu estava irritado com a turma. Não era com ela, com ela, acho que aparecia essa mesma irritação de não sentir que eu não estava sendo escutado e, enfim, mas me colocou para pensar muito nessa, nesse lugar do professor que é um professor branco, que teve todas as oportunidades de formação. (Narciso)

As narrativas das/os participantes que se declararam brancas/os corroboram o que a literatura tem tratado acerca de como se dá o processo de racialização em pessoas brancas. Robin DiAngelo discute sobre a fragilidade branca, na qual ela identifica que o status e os privilégios raciais acumulados pela branquidade criam “expectativas brancas de conforto racial ao mesmo tempo em que diminu[em] a capacidade de lidar com o estresse racial” (DiAngelo, 2018DiAngelo, R. (2018). Fragilidade branca. Dossiê Racismo. Eco-Pós, 2(13), 32-57. https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_pos/article/view/22528/12626
https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_po...
, p. 37).

Existe um deslocamento que vem sendo feito, no sentido da reflexão sobre as práticas antirracistas, sejam elas pessoas que se autodeclaram negras, pardas ou brancas, entretanto, ainda parece estar sendo construída a consciência racial, de fato, quando analisamos alguns fragmentos de narrativa. O estilo narrativo heroico ainda é presente como performance das/os participantes brancas/os, expondo o que Cida Bento aponta em relação à branquitude, a qual permiti a brancos “ver o trabalho antirracista como um ato de compaixão pelo outro, um projeto esporádico, externo, opcional, pouco ligado às suas próprias vidas” (Bento, 2002Bento, Maria Aparecida Silva (2002). Racialidade e produção de conhecimento. Racismo no Brasil. ABONG, p. 49).

Eu lembro de trabalhar, eu trabalho num projeto desde 2017, com mulheres, e aí tinham também as... uma filha...eu lembro que uma vez a gente veio com elas para trabalhar, pra apresentar isso aqui... para trazer o trabalho delas ali na universidade, a gente fez... ‘vamos, vamos para a universidade’, para articular nesse contexto e veio uma filha, a filha de uma delas, né, uma, uma jovem, que tava grávida naquela época, jovem mesmo, ela devia ter 17 anos, 16, 17 anos, jovem grávida veio junto com a mãe. E, e aí, elas perguntaram assim ‘como é que ele faz para chegar aqui, para, para vir para a universidade?’. Daí a gente contando assim, ‘a universidade, a universidade pública é, em princípio, para todo mundo, agora tem políticas de cotas.’ .... E ela fica muito surpresa porque ela nunca pensou que aquele lugar pudesse ser um espaço que ela também pudesse vir a frequentar, a vir a ter direito. E eu encontrei a professora, conversei com a professora dela, que é da educação quilombola, ela voltou, ela era uma menina que tinha parado de estudar, daí ela voltou, teve a filha agora, né. E ela... e ela comentando isso, que ela voltou para, para educação quilombola depois para ver se tira o ensino fundamental, ensino médio, consegue fazer aquelas provas para depois poder pensar... Então, acho que isso é importante como vão se apresentando essas situações mesmo no cotidiano, mesmo nos projetos, que a gente tem, que alguma coisa e como é possível como acaba... Nesse caso ela me disse ‘nossa foi super importante porque acho que agora’ ... isso que motivou a menina a voltar, voltar para a escola, para pensar que o acesso a uma universidade é possível para ela também, uma jovem mulher negra mãe, mas que pode chegar esse, tipo... a ter direito à universidade. (Temis)

Aí eu lembro quando eu entrei na questão da de uma perspectiva africana, tinha... eu vi quatro pessoas, que eu entendi, pessoas pretas na sala de aula. Primeira aula que eu tinha com aquela turma, era o primeiro tema, né, de odontologia e eu pedi ‘quem é que é preto?’ É... uma menina levantou a mão e, assim, é claro, né, é... isso coloca uma questão também, eu tô vendo-as pretas, pretas, pretas, não morenas, não caboclas, esses eufemismos que a gente fica usando aqui para não se reconhecer preta e uma das meninas ela me olhou e disse ‘não, eu sou branca’, mas ela era preta. E aí eu travei, eu não consegui mais, porque, nós...e tem a coisa da autoidentificação, assim, e eu tentei chamar esse lugar entendendo que eu iria estar abrindo o espaço para se posicionar a partir de um corpo, né, mas elas não queriam tá naquele corpo, não queriam estar naquele lugar, sabe? Isso me causou um desconforto muito grande, de eu, pensei ‘que que eu faço agora? eu digo, você não é branca’, sabe? É... então tem situações que ao tratar dessas questões elas nos colocam em situações muito delicadas que têm a ver com a maneira como a gente nega essa discussão racial há muito tempo. Então, esse não é um problema só de pessoas brancas, sabe, eu tenho visto isso nos alunos, ‘eu não quero me identificar com esse lugar dessa pessoa que é menos humana’. Sabe, em vez de problematizar esse lugar e conseguir desmontar na sua própria experiência é... essa, essa identidade que te subalterniza, sabe, que eu vejo uma negação muitas vezes, ‘não, eu não sou isso, isso é um outro que tá lá na periferia’ que, sabe, essa coisa territorial de, enfim...só quis contar esse causo aí porque eu acho que é...aí parei ali então, a turma tinha uns cinquenta alunos e ninguém da turma também falou nada...nem eu , nem ninguém, nem ela falou, ‘não sou branca’ eu, tá... então continuei com que eu tava fazendo porque eu, enfim,...não consegui entender aquele momento. (Homero)

Transversalizando narrativas

Situando o público entrevistado, podemos dizer que os posicionamentos adotados refletem os sentidos do que significa ser professores e professoras que falam a partir de uma perspectiva crítica em Psicologia Social.

É interessante observar, ainda, a forma com que a pesquisadora responsável pelas entrevistas foi sendo posicionada de várias formas, ora como mulher branca, que, portanto, tem o dever de reconhecer seus privilégios, ora como educadora decolonial, por problematizar seu ponto de vista de pesquisadora branca, ora como latina, com experiência de diáspora, cujo passado de colonização a identifica racialmente como diaspórica.

Como temas transversais abordados nas narrativas, a racialização tardia em pessoas brancas foi relatada como um processo que aconteceu na pós-graduação, através do contato com autores negros, indígenas ou que estavam problematizando a branquitude como elemento central no racismo.

Os sentimentos produzidos nas relações com pessoas brancas e não brancas nas instituições de ensino, também, foi outro aspecto que se sobressaiu nas narrativas. O medo e a intimidação foram afetos narrados, devido ao posicionamento antirracista adotado, em espaços acadêmicos, em outras instituições, que corroboram a literatura sobre a dificuldade que pessoas brancas têm com situações de estresse que envolvem as relações raciais, já que raramente tivemos que lidar com este tipo de assunto. Além disso, o desgaste com o próprio grupo de pertença e o medo da exclusão, por apontar o racismo, o que, também, já foi mencionado na literatura como pacto narcísico.

O modo de lidar com as situações de tensões decorrentes das relações étnico-raciais, de modo geral, que apareceu através do uso de recursos como, o contato com referências negras, indígenas, as alianças com os grupos tidos como minorias, o incentivo ao diálogo aberto sobre as diferenças, reconhecendo as implicações da branquitude, ou seja, situando-se como pessoas brancas, com privilégios.

A desconstrução da branquitude, como um processo fruto do tensionamento pela presença de pessoas negras e indígenas em espaços outrora, majoritariamente, frequentado por brancos, devido às políticas afirmativas. Mas, também, um processo mais sensível às pessoas que tiveram vivências na infância e na adolescência com situações de pobreza, vários tipos de vulnerabilidades sociais; e/ou com a cultura negra, indígena e com uniões interraciais na família; o fato de estarem filiadas ao campo de conhecimento mais crítico na Psicologia, como a Psicologia Social e Comunitária, Psicologia Institucional e, consequentemente, o engajamento com práticas em que estas questões são mais problematizadas. Embora, tenha sido apontado, de forma quase unânime, que a Psicologia Social nem sempre problematizou o conceito de raça, diretamente falando. Sobretudo, estar filiado a este campo de saber trouxe um elemento curioso de performance que foi o de se apresentarem sempre conscientes e engajados nas discussões étnico-raciais por se considerarem psicólogos sociais.

Considerações finais

As aproximações com o campo empírico na pesquisa realizada a partir das narrativas coconstruídas com docentes e/ou pesquisadores da Psicologia Social mostrou que as experiências são racializadas, entretanto, existem nuances, que se relacionam à singularidade da vida das/os participantes e, que, portanto, não é possível universalizá-las. As narrativas expuseram que recortes como território, classe e gênero se refletem na experiência com a raça e, consequentemente, na prática docente. Contudo, a mestiçagem ainda é um território em construção, ambíguo.

Refletindo sobre os quatro domínios de poder que Patricia H. Collins e Sirma Bilge (2021Collins, Patricia Hill & Bilge, Sirma (2021). Interseccionalidade. Boitempo.) propõem para analisar como certos contextos se organizam, nos situamos em relação ao domínio estrutural, cultural, disciplinar e interpessoal de poder. Ponderamos como as experiências são moldadas em determinada sociedade, em determinado período, por esses domínios. Ao mesmo tempo, como Lélia González já nos alertava, não seria possível pensar, de fato, em uma democracia racial, “enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo, negros e brancos, e juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma práxis de conscientização da questão da discriminação racial neste país (Gonzalez, 2020Gonzalez, L. (2020). Por um feminismo afro-latino-americano. In Heloisa Buarque de Hollanda (Org.), Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais (pp. 36-49). Bazar do Tempo., p. 310). Nos discursos culturalmente disponíveis, e nas relações de poder que são produtoras de posicionamentos múltiplos, vimos, ao longo do estudo, apoio em conceitos e discussões contemporâneas como pontos de conforto e confronto com nossas próprias experiências racializadas. A ampliação do debate se faz presente nas narrativas, cujos efeitos de se romper com o pacto narcísico da branquitude acompanhamos, inclusive no espaço acadêmico. Ao mesmo tempo, as/os entrevistadas/os dão pistas de que a construção de políticas de solidariedade e proximidade nestes espaços, com os grupos de insurgência, aparece como estratégia de luta.

Nesta pesquisa, que envolveu participantes majoritariamente brancos ou pardos, com apenas três das/os quinze narradoras/es sendo autodeclaradas pretas/negras, toma forma um retrato de outro ponto de desigualdade racial que foi possível perceber. Para serem docentes do ensino superior, pressupõe-se que psicólogas/os sociais sejam, no mínimo, mestres. Esta é uma limitação do estudo, o baixo envolvimento de pessoas que se declaram negras/pretas nesse contexto, mas indica também um cenário social no qual ainda há muito a avançar: enegrecer o sistema nacional de pós-graduação. Ainda que esses argumentos finais não pretendam generalizar o que se encontra neste estudo de delimitação narrativa, percebemos um indicativo de novos investimentos das políticas científicas, a fim de os próprios pares, psicólogas/os sociais, também majoritariamente brancas/os, à frente de espaços decisórios na área da Psicologia, participem de processos de racialização das suas experiências.

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  • Financiamento

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 - PROSUC Modalidade I. L.K. é Bolsista PQ, nível 2.
  • Aprovação, ética e consentimento

    O estudo foi aprovado pelo CEP da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Jul 2023
  • Revisado
    28 Set 2023
  • Aceito
    28 Set 2023
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