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Sínteses da apropriação do conceito de Educação Estética de Vigotski no Ensino de Arte brasileiro (2006-2020) 1 1 Editor responsável: Cesar Donizetti Pereira Leite https://orcid.org/0000-0001-8889-750X 2 2 Normalização, preparação e revisão textual: Camila Pires de Campos Freitas camilacampos.revisora@gmail.com 3 3 Apoio: Programa Institucional de Apoio à Pesquisa PAPq e Bolsa de Produtividade em Pesquisa PQ - Universidade do Estado de Minas Gerais (Grant / Award Number: 'Edital PAPq 05/2020/UEMG; Edital PAPq 01/2022/UEMG'), integrando os estudos dos Grupos de Pesquisa Laboratório de Estudos sobre a Docência (LEDoc) da UEMG e História da Psicologia e Contexto Sociocultural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Resumo

A teoria histórico-cultural, criada pelos pesquisadores russos Vigotski, Leontiev e Luria entre 1920 e 1930, alcança os pesquisadores de Psicologia e Educação no Brasil a partir de 1980, apresentando uma nova dimensão para a formação e atuação desses profissionais. Com base nesse pressuposto, realizou-se revisão sistemática da literatura científica brasileira entre 2006-2020 em busca de artigos publicados em áreas de interseção entre a Psicologia da Educação e a Arte Educação, visando a identificar a circulação, recepção e apropriação do conceito de educação estética de Vigotski. Os resultados encontrados coadunam com estudos de teóricos que consideram os conceitos de “vivência” e “meio” como essenciais para a compreensão da teoria histórico-cultural.

Palavras-chave
Educação estética; Ensino de Arte; Vigotski; Vivência; Experiência

Abstract

The cultural-historical theory on human cognition, elaborated by the Russian researchers Vygotsky, Leontiev, and Luria between 1920 and 1930, reached psychology and education in Brazil from 1980 onwards, presenting a new dimension for the formation and performance of these professionals. Based on these assumptions, a systematic review of the Brazilian scientific literature between 2006 and 2020 was conducted, in search of articles published in areas of intersection between the psychology of education and art education, aiming to identify the circulation, reception, and appropriation of Vygotsky’s concept of aesthetic education. The results found are in line with studies that consider the concepts of “experience” and “environment” as essential for the understanding of cultural-historical theory.

Keywords
Aesthetic education; Art teaching; Vygotsky; Lived experience; Experience

1. Introdução

A temática educação estética tem se mostrado de relevante interesse para pesquisadores dedicados à História da Educação em Arte no contexto brasileiro, especialmente em suas relações com a teoria histórico-cultural4 4 A nomenclatura histórico-cultural foi a denominação adotada para mencionar a teoria de Vigotski, e não “sócio-histórica ou sociocultural, ou socioconstrutivista, ou ainda sociointeracionista”, adotada por outros grupos de estudiosos (Gomes, 2020). . Conforme Smolka (2009)Smolka, A. L. (2009). Apresentação e comentários. In L. S. Vigotski, Imaginação e Criação na Infância: ensaio psicológico. Ática., esta última — desenvolvida na Universidade de Moscou, durante as décadas de 1920 e 1930, pelo grupo de pesquisadores russos formado por Lev Semenovitch Vigotski (1896-1934), Alexei Nikolaevich Leontiev (1903-1979) e Alexander Romanovich Luria (1902-1977) — fundamenta-se na constituição social do psiquismo e no materialismo histórico-dialético. À medida que os estudos do grupo de pesquisadores russos foram alcançando notabilidade entre os pesquisadores brasileiros das áreas da Psicologia e da Educação, a teoria histórico-cultural apresentou uma nova dimensão para a formação e atuação desses profissionais (Barroco & Superti, 2014Barroco, S. M. S., & Superti, T. (2014). Vigotski e o estudo da psicologia da arte: contribuições para o desenvolvimento humano. Psicologia & Sociedade, 26(1), 22-31. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000100004
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; Martineli & Almeida, 2017Martineli, T. A. P., & Almeida, E. M. (2017). Contribuições da concepção vigotskiana de arte para o ensino da cultura corporal. Psicol. Esc. Educ. 21(3), 523-531. https://doi.org/10.1590/2175-35392017021311194
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).

Muitas das produções de Vigotski ainda carecem de estudos, especialmente as que têm relação com a Arte. Nessa perspectiva, desenvolveu-se a pesquisa O Conceito de Educação Estética de Vigotski nos debates sobre Educação em Arte no Brasil com o objetivo de identificar a circulação, a recepção e a apropriação do conceito de educação estética na literatura científica brasileira. O recorte para o levantamento de um corpus de estudo, determinado entre 2006 e 2020, resultou em um conjunto de publicações de artigos com temáticas que confluem áreas da Psicologia da Educação em suas relações com a Educação em Arte.

Tendo como pressuposto que as traduções dos originais russos ou publicações estadunidenses das teorias de abordagem histórico-cultural passaram a ser amplamente divulgadas entre os psicólogos e educadores brasileiros a partir de 1980, levou-se em consideração aspectos de nossa legislação educacional ao determinar o recorte para a seleção das fontes analisadas. Com a implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n.º 9 394, promulgada em 1996, regulamentou-se a obrigatoriedade da Arte no currículo escolar como área de conhecimento, envolvendo suas diferentes linguagens: Artes Visuais, Música, Dança e Teatro. Desde então, houve uma ampliação das discussões da Arte na Educação, com maior oferta de cursos para a formação de professores especialistas em Artes Visuais, tendo crescido também, gradativamente, a oferta de licenciaturas nas áreas de Música, Dança e Teatro.

É importante destacar ainda a aprovação das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Pedagogia, em 15 de maio de 2006 que oficializa a inclusão da Arte como área de conhecimento fundamental na formação dos Pedagogos. A legislação propiciou a ampliação das discussões do Ensino de Arte no Brasil na formação docente para além das licenciaturas em áreas especializadas, atentando para a relevância da presença de uma educação estética pela arte nos currículos dos cursos de Pedagogia, destinados aos futuros professores que atuam na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

2. Vigotski na interseção com seus estudos sobre a Educação e a Arte

Para Vigotski (1931/1935, citado em Gomes, 2020Gomes, M. F. C. (2020). Memorial trajetórias de uma pesquisadora e suas apropriações da Psicologia Histórico-cultural e da Etnografia em Educação. Brazil Publishing.), as teorias da “velha” psicologia empírica subjetiva (estudo da introspecção) e da “nova” psicologia objetiva (Behaviorismo estadunidense e Reflexologia russa), desenvolvidas em fins do século XIX e início do XX, pouco avançaram na compreensão do que seria especificamente humano no desenvolvimento da criança, bem como em pesquisas educacionais. Sua visão materialista dos fenômenos psicológicos indica que as teorias psicológicas apresentavam problemas na formulação do conceito de desenvolvimento infantil por considerarem-no natural em seus processos e formulações. Assim, seria fundamental interpretar os fatos, atentando-se para seus movimentos históricos, considerar o natural e o cultural, o natural e o histórico, o biológico e o social sem confundi-los (Vigotski como citado em Gomes, 2020Gomes, M. F. C. (2020). Memorial trajetórias de uma pesquisadora e suas apropriações da Psicologia Histórico-cultural e da Etnografia em Educação. Brazil Publishing.).

Na busca de superar a visão dicotômica de mundo, Vigotski (2004)Vigotski, L. S. (2004). Psicologia Pedagógica(2ª ed.). Martins Fontes. adota o método da unidade de análise numa perspectiva de história do desenvolvimento humano, tendo como referência o “método histórico e dialético” (p. 67). Para ele, este seria o que melhor poderia “contribuir para se estudar o desenvolvimento humano, que se pauta pela compreensão da formação das funções psíquicas superiores, que são funções de origem cultural e especificamente humanas” (Vigotski, 2004Vigotski, L. S. (2004). Psicologia Pedagógica(2ª ed.). Martins Fontes., p. 67). Sobre o método da unidade de análise, deter-se-á mais adiante.

Considera-se problematização central da pesquisa O Conceito de Educação Estética de Vigotski nos debates sobre Educação em Arte no Brasil as perspectivas conceituais de Vigotski sobre educação estética. Tem-se como pressuposto que o autor se dedicou ao estudo das relações entre Psicologia e Pedagogia, Psicologia e Arte, dando destaque à importância da criatividade e imaginação no desenvolvimento cognitivo humano. Tratam dessa temática, por exemplo, os estudos do autor que deram origem aos livros Psicologia Pedagógica, Psicologia da Arte, Imaginação e criação na Infância, entre outros.

Ao mesmo tempo, situar-se-á o contexto de elaboração das obras citadas trazendo uma breve biografia de Vigotski para localizar seu interesse pela Arte. Uma análise inicial de publicações em português de obras de Vigotski ligadas ao tema educação estética apontou duas edições brasileiras do livro Psicologia Pedagógica: uma publicada pela Martins Fontes em 2001, traduzida do russo por Paulo Bezerra, e a outra, intitulada Psicologia Pedagógica – edição comentada, publicada pela Artmed em 2003, tradução de Claudia Schilling, tendo como base a edição argentina organizada e traduzida por Guillermo Blanck. Em ambas, o capítulo XIII é intitulado “Educação Estética” (Martins, 2010Martins, J. B. (2010). A importância do livro Psicologia Pedagógica para a teoria histórico-cultural de Vigotski. Aná Psicológica, 28(2), 343-357. http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S087082312010000200009&lng=pt&nrm=iso
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; Prestes & Tunes, 2012Prestes, Z., & Tunes, E. (2012). A trajetória de obras de Vigotski: um longo percurso até os originais. Estudos de Psicologia, 29(3), 327-340. https://doi.org/10.1590/S0103166X2012000300003
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).

Prestes e Tunes (2012)Prestes, Z., & Tunes, E. (2012). A trajetória de obras de Vigotski: um longo percurso até os originais. Estudos de Psicologia, 29(3), 327-340. https://doi.org/10.1590/S0103166X2012000300003
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apontam que a primeira edição de Psicologia Pedagógica (Pedagoguitcheskaia psirrologuia) foi publicada em russo em 1926. Wedekin e Zanella (2016)Wedekin, L. M., & Zanella, A. V. (2016). L. S. Vigotski e o ensino de arte: "A educação estética" (1926) e as escolas de arte na Rússia 1917-1930. Pro-Posições, 27(2), 155-176. https://doi.org/10.1590/1980-6248-2014-0124
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reafirmam a importância para a Pedagogia e para a divulgação científica da publicação, referendando-se em Toassa (2013)Toassa, G. A. (2013). “Psicologia Pedagógica” de Vigotski: considerações introdutórias. Nuances: estudos sobre Educação, 24(1), 64-72. http://dx.doi.org/10.14572/nuances.v24i1.2155
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e em Blanck (2003)Blanck, G. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia Pedagógica (pp. 15-32). Artmed., ressaltam ser a obra “Psicologia pedagógica, de Vigotski, (. . .) dirigida a professores, um texto de divulgação científica”, como se observa no trecho a seguir:

O capítulo “A educação estética”, escrito, segundo Blanck, entre 1921 e início de 1924, pode ser compreendido como resultado das atividades de Vigotski como professor de disciplinas ligadas à arte. O livro Psicologia pedagógica, por sua vez, resulta do interesse de Vigotski pela pedagogia e, de modo mais amplo, faz parte dos esforços empreendidos pela administração soviética para capacitação de professores

(pp. 156-157).

As informações de Delari (2010, p. 11, citado em Toassa, 2013Toassa, G. A. (2013). “Psicologia Pedagógica” de Vigotski: considerações introdutórias. Nuances: estudos sobre Educação, 24(1), 64-72. http://dx.doi.org/10.14572/nuances.v24i1.2155
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) confirmam e complementam as notas anteriores sobre o livro Psicologia Pedagógica, pontuando as influências da reflexologia na produção de Vigotski:

Sua edição integral em russo, conforme Prestes (2010, p. 122)Prestes, Z. (2010). Quando não é quase a mesma coisa: análise das traduções de LevSemenovitch Vigotski: no Brasil repercussões no campo educacional [Tese de Doutorado]. Faculdade de Educação da Universidade de Brasília]. https://repositorio.unb.br/handle/10482/9123
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, realizou-se apenas na década de 1980. A “Psicologia Pedagógica” teve [...] fins didáticos, foi escrita em conexão com a experiência docente do autor em Gomel. Ele a teria apresentado para publicação em 1924 à editora estatal (GIZ), sem sucesso. Em 1926 é publicada pela “Rabotnik prosveshtcheniia” (Trabalhadores da educação [ou “esclarecimento”]). No livro há claras influências da reflexologia de Pavlov, vista como perspectiva progressista

(p. 6).

Blanck (2003)Blanck, G. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia Pedagógica (pp. 15-32). Artmed. sugere que, para conhecer Vigotski, há que se desfazer lendas referentes à vida do autor russo e relacionar sua origem judaica para interpretar aspectos definidores de sua formação e carreira. Percebem-se divergências na biografia do autor, tanto quanto em sua bibliografia, censurada por 20 anos (1936-1956) na Rússia, quando entra em vigor o decreto de 4 de julho de 1936, e suas obras, e de outros pesquisadores dedicados aos estudos sobre desenvolvimento humano, ficam proibidas de serem publicadas pelo regime totalitário de Josef Stalin (1878-1953). Em artigo que reconstrói um panorama sobre a vida e obra do autor, baseado no estudo de duas fontes pouco divulgadas no Brasil, a biografia escrita pela filha, Guita Vigodskaya e T. M. Lifanova (1996, 1999)Vigodskaya, G. I., & Lifanova, T. M. (1999). Lev Semenovich Vygotsky: Life and Works Part I. Journal of Russian and East European Psychology, 37(2), 23-81., publicada em russo e em inglês, e outra, escrita por Iarochevski (2007)Iarochevski, M. G. (2007). L. S. Vigotski: v poiskarh novoi psirrologii. Moskva: URSS., publicada em russo, Prestes e Tunes (2011)Prestes, Z., & Tunes, E. (2011). Notas biográficas e bibliográficas sobre L. S. Vigotski. Universitas: Ciências da Saúde, 9(1), 101-135. https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/view/7
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afirmam que “o estudioso de Vigotski vê-se diante de informações, por vezes, até contraditórias e a melhor alternativa é a realização de exames comparativos das diferentes biografias disponíveis, na busca de um quadro mais coerente da vida e obra do autor” (pp. 102-103).

Com base no estudo das referidas autoras, em interlocução com outros estudiosos de Vigotski, delineia-se uma breve biografia contextualizada do autor. Pontua-se aspectos relevantes para compreender seu interesse em relação aos estudos sobre Arte.

2.1. Breve biografia de Vigotski: a cronologia de suas publicações

Segundo filho de Semion Lvovitch (1869-1931) e Cecília Moiseevna (1874-1935), Lev Semenovitch Vigotski5 5 Serão encontradas diferentes grafias nas publicações brasileiras para o sobrenome do autor, aqui se opta por Vigotski em referência às orientações de Prestes, tradutora e estudiosa dos originais russos. Nas citações diretas, manter-se-á a grafia usada pelos autores, conforme a fonte consultada. nasceu em 17 de novembro de 1896, pelo calendário antigo, 5 de novembro de 1896, em Orcha, pequena vila da Bielorrússia, Região Vitebskaia, ex-Moguilevskaia, tendo se mudado com a família para Gomel em 1897. Morreu jovem, de tuberculose, em 11 de junho de 1934, perto de completar seus 37 e 6 meses de idade (Blanck, 2003Blanck, G. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia Pedagógica (pp. 15-32). Artmed.; Prestes & Tunes, 2011Prestes, Z., & Tunes, E. (2011). Notas biográficas e bibliográficas sobre L. S. Vigotski. Universitas: Ciências da Saúde, 9(1), 101-135. https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/view/7
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).

Por uma década, Vigotski passou como um raio pela construção da teoria histórico-cultural, em colaboração, principalmente, com Alexei Nikolaevich Leontiev e Alexander Romanovich Luria, atuando em instituições de ensino e pesquisa, entre elas a Universidade de Moscou. Nesse curto período, e talvez por ter consciência de que teria uma vida curta pela doença, Vigotski produziu vertiginoso número de trabalhos científicos em diversas áreas, da Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Neuropsicologia à Crítica Literária, passando pela deficiência física e mental, além de explorar aspectos teóricos e metodológicos relativos às Ciências Humanas (Blanck, 2003Blanck, G. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia Pedagógica (pp. 15-32). Artmed.; Ivic, 2010Ivic, I. (2010). Levi Semiovich Vygotsky. Massangana.; Oliveira & Rego, 2010Oliveira, M. K., & Rego, T. C. (2010). Revolucionário inquieto - Lev Vigotski: Biografia intelectual. Revista Educação - Lev Vigotski, 2, 6-19.; Prestes & Tunes, 2011Prestes, Z., & Tunes, E. (2011). Notas biográficas e bibliográficas sobre L. S. Vigotski. Universitas: Ciências da Saúde, 9(1), 101-135. https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/view/7
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).

Entre 1913 e 1914, Vigotski ingressou, ao mesmo tempo, na Faculdade de Medicina da Universidade Imperial de Moscou e no Departamento Acadêmico da Faculdade de História e Filosofia da Universidade Popular Chaniavski (Prestes & Tunes, 2011Prestes, Z., & Tunes, E. (2011). Notas biográficas e bibliográficas sobre L. S. Vigotski. Universitas: Ciências da Saúde, 9(1), 101-135. https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/view/7
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). Antes mesmo de completar um mês estudando na Faculdade de Medicina, transferiu-se para o curso de Direito da mesma universidade, quando se ocupou dos estudos em Psicologia, que perseguiu por toda sua vida. Em 1915, em período de férias em Gomel, Vigotski escreveu seus primeiros esboços da análise de Hamlet, de William Shakespeare (1564-1616). Em 1916, a monografia de conclusão de seu curso de graduação foi utilizada para escrever o livro Psicologia da Arte, somente publicado em 1925, com segunda edição publicada em 1968, quando nela foi incluído o texto sobre Hamlet (Prestes & Tunes, 2011Prestes, Z., & Tunes, E. (2011). Notas biográficas e bibliográficas sobre L. S. Vigotski. Universitas: Ciências da Saúde, 9(1), 101-135. https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/view/7
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).

Em 1917, no despertar da Revolução Socialista, liderada por Vladimir Ilitch Lenin (1870-1924), Vigotski retornou à Gomel, onde começou a lecionar aulas particulares. Entre 1916 e 1922, iniciou as publicações de inúmeros artigos e resenhas dedicados à crítica literária, especialmente sobre literatura russa. De 1919 a 1921, ao assumir o cargo de diretor do subdepartamento teatral do Departamento de Gomel de Instrução do Povo; e depois o de diretor do departamento artístico do Órgão Regional para a Instrução Política, Vigotski se aproximou mais do mundo do teatro, participando da escolha do repertório e acompanhando a produção de peça teatrais. Nesse período, circulou por Moscou, Kiev, Saratov e Petrogrado com o objetivo de convidar artistas e grupos teatrais para se apresentarem em Gomel, que não contava com um corpo permanente de teatro. Essas experiências o estimularam a escrever várias resenhas teatrais para jornais. Nesse período, proferiu também palestras sobre História da Arte e Estética. Em Gomel, Vigotski permaneceu até 1924, quando retornou para Moscou, juntamente com a esposa, Roza Smiejova [ou Smerrova]. Konstantin Kornilov6 6 De acordo com Richebächer (2019), Konstantin Kornilov foi cofundador da Escola Reflexológica na Rússia, pretendia sustentar a Psicologia em uma base materialista, fundamentando-a nas doutrinas de Marx e Engels. Kornilov formou-se pela Universidade de Moscou em 1910, onde foi diretor do Instituto de Pesquisa Científica em Psicologia entre 1923 e 1930 e 1938 e 1941. (1879-1957) convidou-o para integrar sua equipe de pesquisadores no Instituto de Psicologia Experimental de Moscou, onde Vigotski teve a oportunidade de ampliar seus estudos nas áreas de Neuropsicologia, Deficiência Física e Mental, relacionando-os à Educação. No período entre 1919 e 1924, Vigotski dedicou-se às pesquisas na área de Psicologia, Pedagogia e Psicologia da Arte, aliando esses estudos aos trabalhos experimentais realizados por ele no gabinete de Psicologia da Escola Técnica de Pedagogia de Gomel. A escrita da série de textos que compuseram suas primeiras grandes obras, Psicologia da Arte e Psicologia Pedagógica, resultou de reflexões como professor e pesquisador no período mencionado (Blanck, 2003Blanck, G. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia Pedagógica (pp. 15-32). Artmed.; Oliveira & Rego, 2010Oliveira, M. K., & Rego, T. C. (2010). Revolucionário inquieto - Lev Vigotski: Biografia intelectual. Revista Educação - Lev Vigotski, 2, 6-19.; Prestes & Tunes, 2011Prestes, Z., & Tunes, E. (2011). Notas biográficas e bibliográficas sobre L. S. Vigotski. Universitas: Ciências da Saúde, 9(1), 101-135. https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/view/7
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).

No prefácio da versão comentada de Psicologia Pedagógica, Blanck (2003)Blanck, G. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia Pedagógica (pp. 15-32). Artmed. pontua a importância de compreender esse texto como um elo para mostrar o trânsito de Vigotski da área da Psicologia da Arte para a Psicologia. Em 1919, o jovem russo dedicado aos estudos sobre a Psicologia da Arte (que percorre sua obra por toda a vida, como os temas ligados à criação, à estética, à imaginação, por exemplo) já sabia bastante sobre as teorias psicológicas, tanto as clássicas quanto as contemporâneas ao início do século XX, indicando que tal passagem não ocorrera de modo abrupto.

Ao analisarem a vasta produção escrita de Vigotski, Prestes e Tunes (2012)Prestes, Z., & Tunes, E. (2012). A trajetória de obras de Vigotski: um longo percurso até os originais. Estudos de Psicologia, 29(3), 327-340. https://doi.org/10.1590/S0103166X2012000300003
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informam serem poucas as produções teóricas do autor escritas com intenção de se constituírem como livros. Entre as produções citadas pelas referidas autoras, destaca-se Psicologia da Arte e Psicologia Pedagógica como textos que podem apontar a perspectiva de educação estética vigotskiana, este último, em especial, por trazer discussões de um Vigotski preocupado com a formação docente. As autoras destacam que o texto de Psicologia Pedagógica foi enviado por Vigotski para publicação depois de tê-lo apresentado no II Congresso Nacional de Psiconeurologia realizado em Petrogrado, em 1924. Sua primeira versão teria sido preparada entre 1917 e 1923, ainda em Gomel, onde trabalhou com formação de professores. René Van der Veer (2003)Van der Veer, R. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch [Apresentação]. Psicologia pedagógica (pp. v-vi). Artmed., na apresentação da edição comentada de Psicologia Pedagógica, conclui:

Embora só tenha aparecido em 1926, diversos motivos levam a crer que o livro já estava totalmente terminado em 1924. Foi concebido como livro de texto para estudantes que aspiravam a lecionar em colégios secundários. Por isso, a obra trata de tantos temas significativos para os professores. Vigotski fala da educação moral e estética, da necessidade de instruir as crianças sobre questões sexuais, da vantagem dos colégios mistos e de muitos outros temas afins

(p. V).

Decorre daí a importância do livro, nascido da vasta experiência de Vigotski com os problemas educacionais, escrito por alguém que pensava a Psicologia a partir da Educação, e não de modo contrário, em um momento histórico por ele denominado “crise da psicologia” (Carretero, 2003Carretero, M. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia pedagógica(pp. 11-13). Artmed.; Gomes, 2020Gomes, M. F. C. (2020). Memorial trajetórias de uma pesquisadora e suas apropriações da Psicologia Histórico-cultural e da Etnografia em Educação. Brazil Publishing.; Ivic, 2010Ivic, I. (2010). Levi Semiovich Vygotsky. Massangana.; Martins, 2010Martins, J. B. (2010). A importância do livro Psicologia Pedagógica para a teoria histórico-cultural de Vigotski. Aná Psicológica, 28(2), 343-357. http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S087082312010000200009&lng=pt&nrm=iso
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). Os escritos que deram origem ao livro foram assim registrados por Vigotski na aba Publicações do formulário de inscrição da Universidade de Moscou, em 1924: “Um breve manual de psicologia pedagógica, no prelo pela Editora Estatal” (Blanck, 2003Blanck, G. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia Pedagógica (pp. 15-32). Artmed., p. 15).

Carretero (2003)Carretero, M. (2003). VIGOTSKI, Lev Semenovitch. In L. S. Vigotski, Psicologia pedagógica(pp. 11-13). Artmed. assinala que em todo o livro se percebe uma preocupação e discussão dos problemas cotidianos e reais da escola, com linguagem amena, dirigida aos professores interessados nessas discussões, não apenas pela perspectiva da Psicologia, de uma ou outra tendência, mas sim de um contexto cultural amplo e geral, no qual estão incluídas a Literatura, a Filosofia e a Política. Psicologia Pedagógica se mostra atual no sentido de apontar aos profissionais da Psicologia e da Educação a necessidade de considerarem as perspectivas teóricas mais amplas em que tais áreas se fundamentam, e não apenas os avanços científicos desses campos de conhecimento.

O Significado Histórico da Crise na Psicologia: uma investigação metodológica, escrito em 1926/1927, e publicado somente em 1982, seria o texto que mais representa as preocupações de Vigotski com os fundamentos da ciência psicológica (Lordelo, 2011Lordelo, L. R. (2011). A crise na Psicologia: análise da contribuição histórica e epistemológica de L. S. Vigotski. Psic.: Teor. e Pesq., 27(4), 537-544. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722011000400019
https://doi.org/10.1590/S0102-3772201100...
). Esse texto já adota uma visão materialista dos fenômenos psicológicos, apontando “os alicerces filosóficos e metodológicos do projeto de psicologia científica proposto por Vigotski, conhecido posteriormente como Psicologia Histórico-Cultural” (Costa & Martins, 2018Costa, E. M., & Martins, J. B. (2018). O projeto Vigotskiano para uma psicologia científica: anotações sobre “O Significado Histórico da Crise da Psicologia”.Avances en Psicología Latinoamericana, 36(3), 537-551., p. 538).

Ana Luiza Smolka (2009)Smolka, A. L. (2009). Apresentação e comentários. In L. S. Vigotski, Imaginação e Criação na Infância: ensaio psicológico. Ática. confirma que os textos que compõem o livro Psicologia da Arte (1925) foram escritos entre 1915 e 1922, período em que Vigotski manteve-se apaixonadamente envolvido em seus trabalhos voltados à Literatura e à Arte, conforme mencionado anteriormente. Ele teria escrito a primeira versão de A tragédia de Hamlet (1915) aos 19 anos, versão, mais tarde, retomada e revisada para integrar o conjunto de textos de Psicologia da Arte, constituído em sua tese de doutoramento. No livro, o autor “problematiza a arte como conhecimento, como procedimento, como catarse; discute o estatuto da obra de arte, a reação emocional, a recepção estética; argumenta sobre a arte como técnica social do sentimento” (Smolka, 2009Smolka, A. L. (2009). Apresentação e comentários. In L. S. Vigotski, Imaginação e Criação na Infância: ensaio psicológico. Ática., p. 134).

Já o livro Imaginação e criação na Infância, publicado em russo em 1930, constitui-se de textos baseados em palestras proferidas para pais e professores. A coletânea revela o conhecimento e a percepção aguçada de Vigotski sobre o processo criativo infantil. Ao apresentá-lo na versão traduzida para o português, Smolka (2009)Smolka, A. L. (2009). Apresentação e comentários. In L. S. Vigotski, Imaginação e Criação na Infância: ensaio psicológico. Ática. afirma que, naquele pequeno livro, a imaginação é enfocada e analisada como uma especificidade da formação humana, como atividade criadora, e que a experiência estética poderia ser proposta pelo trabalho pedagógico orientado. Smolka (2009)Smolka, A. L. (2009). Apresentação e comentários. In L. S. Vigotski, Imaginação e Criação na Infância: ensaio psicológico. Ática. destaca ser a publicação uma demonstração da persistência do autor em estudar e compreender os processos psíquicos, tendo como pressuposto a natureza social do desenvolvimento humano, em que operam, de maneira especial, a emoção e a Arte. O fato de Vigotski ter sido professor de Literatura pode ter influenciado profundamente seu modo de estudar a Psicologia e de conceber o psiquismo humano, tendências que atravessaram toda a produção do cientista russo. Diante das considerações elencadas nesse panorama, vislumbra-se nas obras de Vigotski relacionadas às discussões sobre Arte um campo promissor para pesquisas em Educação e Psicologia.

3. Metodologia e desenvolvimento da pesquisa

Em uma primeira fase da pesquisa, realizaram-se dois processos: um primeiro7 7 Os detalhes das análises iniciais da pesquisa podem ser consultados em Almeida et al. (2021). , com foco no rastreamento, na leitura dos resumos e na pré-seleção dos textos disponíveis em repositórios on-line, cujo corpus de estudo constituiu-se de 139 artigos de anais de eventos e artigos de periódicos científicos. A busca foi referendada nos seguintes descritores: educação estética” Vigotski; “Psicologia da Arte” Vigotski. Foram consultados os seguintes repositórios: Scielo, Anais da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (Anpap) e da Federação de Arte Educadores do Brasil (Faeb), Anais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), Grupo de Trabalho de Psicologia da Educação (GT 20) e Grupo de Trabalho Educação e Arte (GT 24). Das 139 publicações, cinco foram desconsideradas por distanciarem-se da discussão proposta, e 29 artigos foram determinados com base na localização do termo “educação estética” no corpo de seus textos completos. Os resultados alcançados na primeira fase demonstraram que a circulação e recepção do conceito de educação estética de Vigotski permeou as publicações no período recortado, com expressiva maioria de artigos publicados em Anais de dois eventos ligados à arte e ao Ensino de Arte, quais sejam: Confaeb e Anpap. Aponta-se para uma interdisciplinaridade entre as áreas de Psicologia e Educação em Arte nas publicações analisadas.

Na segunda fase da pesquisa, adotou-se como método o estudo do conteúdo dos 29 artigos para identificar as sínteses de possíveis apropriações do conceito de educação estética de Vigotski na produção de conhecimento sobre o Ensino de Arte no contexto brasileiro entre 2006 e 2020. Um banco de dados foi organizado para a categorização temática dos conceitos de educação estética vigotskiana presentes nas publicações contendo dados como: descrição do tipo de estudo, objetivos, citações diretas e indiretas, referencial teórico, método, conclusões, obras de Vigotski e de demais autores com os quais os pesquisadores estabeleceram diálogo, observando o referencial teórico do autor russo citado na seção Referências.

Optou-se por realizar uma análise por contagem quantitativa com o aplicativo Voyant Tools8 8 O Voyant Tools,segundo o próprio sítio que abriga a ferramenta, é um ambiente web de leitura e análise de textos digitais. Disponível em: https://voyant-tools.org/. . Esse desvio metodológico contribuiu para novas possibilidades de categorizações temáticas em confrontação com a teoria histórico-cultural. Com as informações levantadas e o uso do aplicativo mencionado, procedeu-se à construção de uma síntese das apropriações dos conceitos de educação estética que têm vigorado nas publicações estudadas, verificando possíveis inovações no campo da Psicologia da Arte e do Ensino em Arte no Brasil. Discorre-se a seguir sobre os dados indicativos encontrados nos artigos analisados.

3.1. Dados indicativos para categorização

O perfil transdisciplinar nas discussões sobre educação estética presentes nas publicações brasileiras, representado no corpus selecionado, demonstra haver um viés de interlocução entre Educação e Arte em suas diferentes linguagens artísticas. A prevalência nas discussões encontradas nos textos é das Artes Visuais (11), seguida pela Literatura (3), pelo Teatro (2), pela Dança (1) e pela Música (1). Os resultados indicam ainda a interseção entre 2 ou mais linguagens, delineadas por: Artes Visuais e Música (2), Música, Literatura, Artes visuais e Teatro (1) e Literatura e Teatro (1). Por fim, uma menção de pesquisa em Arte contemporânea (1), totalizando 23 ocorrências. As demais publicações (6) privilegiam as discussões em torno das obras e conceitos de Vigotski, tais como: vivência, experiência, criação e imaginação e educação estética, sobre os quais se discorrerá adiante.

Pressupõe-se ser elemento essencial para o objeto de estudo em questão a identificação do tipo de pesquisa adotado nas publicações analisadas. Para tanto, determinou-se um roteiro de análise para o desenho inicial da pesquisa, com os seguintes tipos de estudos e instrumentos para construção dos dados: lente teórico-conceitual; viés experimental; olhar quase-experimental; perspectiva etnográfica; observação; observação participante; análise do discurso, com levantamento de dados por meio de entrevistas abertas; análise quantitativa e qualitativa, com levantamento de dados por meio de questionários.

Contudo, uma primeira leitura dos textos possibilitou perceber que grande parte deles envolvia mais de uma abordagem de estudo, sendo possível classificá-los por aproximações em três categorias principais. Na primeira, lente teórico-conceitual ou levantamento bibliográfico, os textos discutem processos de formação e ensino sem apresentar relato de experiência. Na segunda, relato de experiência ou experimental, predominam estudos com ou sem observação participante. Na terceira, viés teórico-conceitual ou revisão bibliográfica, reúnem-se os textos que discutem, sobretudo, as obras e os conceitos de Vigotski.

Assim, os resultados demostraram equilíbrio entre a primeira e a segunda categorias, sendo quantificados, com tais alinhamentos, 12 e 11 artigos, respectivamente. Os 6 textos identificados na terceira categoria podem ser subcategorizados em 2 vertentes: a) 3 deles defendem processos formativos sob a ótica vigotskiana; e b) 3 refletem sobre experiências de Ensino em Arte na relação direta com a cultura, extrapolando as abordagens teóricas e os conceitos desenvolvidos pelo autor russo.

Com vistas a obter um quadro-síntese dos autores que sustentaram as discussões, foi realizado um rastreamento dos teóricos referenciados nos estudos analisados. No topo dos autores, encontra-se Mikhail Bakhtin, referenciado seis vezes, sendo Marxismo e Filosofia da Linguagem9 9 As obras do autor encontradas nas referências dos textos são todas da Ed. Hucitec, porém apresentam diferentes anos de publicação, a saber: 1992, 2004, 2010 e 2014. a obra mais citada. Em seguida, destacam-se com cinco citações: Adolfo Sánchez Vázquez, com a obra Um convite à estética10 10 A obra referenciada é da Ed. Civilização Brasileira (1999). ; Ana Mae Barbosa, com A imagem no ensino da arte11 11 As obras constam nas referências dos artigos em diversas editoras e anos de publicação, tais como: C/Arte, 1988; Fund. IOCHPE, 1991, e Perspectiva, 1991 e 2004. ; e Walter Benjamin, com diversas obras. Entre os autores com quatro menções, estão: Zoia Prestes, Angel Pino, João Francisco Duarte Júnior. Com três referências, elencam-se os seguintes autores: Donis A. Dondis, Herbert Read, Jorge Bondía Larrosa, Friedrich Schiller, Paulo Freire, Alexei Leontiev, Guita Ivovna Vigodskaya e Tamara Mirrailovna Lifanova.

A interlocução com os autores mencionados apresenta um cenário em que as discussões sobre educação estética foram privilegiadas, abrindo-se diálogos com a teoria ou com conceitos de Vigotski, como em Vázquez, Pino, Duarte Júnior, Read, Schiller e Leontiev. Em outro viés, ainda amparados na ideia de formação estética, podem ser alocados Benjamin, Freire e Larrosa. Barbosa e Dondis refletem a dominância das discussões voltadas para as Artes Visuais.

Prestes e Vigodskaya e Lifanova abrangem os escritos sobre textos originais de Vigotski, discussões em torno das traduções e da vida do autor. Os trabalhos mais citados, respectivamente, são: Quando não é quase a mesma coisa (2012), quatro menções; e Lev Semenovich Vygotsky (1999), três.

Chamam atenção os artigos em que são estabelecidos diálogos entre a teoria de Vigotski e de Bakhtin, indicando que as discussões, por vezes, voltam-se para os processos de significação imbricados nos signos forjados pela cultura. Essa tendência reforça o entendimento de que é na interação social, por meio da (língua) linguagem, que está fundado o desenvolvimento cognitivo. Os indícios sobre a ligação entre as teorias dos dois pensadores russos, indicados pelos autores dos artigos, apontam para a necessidade de aprofundamento dessas discussões.

Dessa maneira, os resultados alcançados em nossas análises evidenciam que sejam intensificados os estudos que se debrucem sobre a educação estética e sua relação com o desenvolvimento cognitivo. Esse aspecto apresenta-se reforçado quando se verifica que, dentre as obras de Vigotski mais citadas no corpus dos artigos selecionados, o referencial predominante abrange as seguintes obras: Psicologia Pedagógica (16 ocorrências), Psicologia da Arte (14), A formação social da mente (9), Imaginação e criação na infância (7), A construção do pensamento e da linguagem (5), A tragédia de Hamlet (5), Manuscrito de 1929 (4) e Pensamento e linguagem (3).

Outro ponto relevante a se considerar nas discussões teóricas apresentadas nos resultados desta pesquisa é o predomínio das noções de “vivência” e “experiência” nos corpos dos 29 textos estudados, assim como de termos relacionados a esses conceitos. Tais indicações permitem considerar os conceitos e termos a eles relacionados como fundamentais para a compreensão das apropriações da ideia de educação estética de Vigotski presentes na amostra analisada que resultou em: 11 ocorrências para “vivência”; 10 para “experiência”, sendo identificados 8 textos em que as discussões sobre “criação e imaginação” e “educação estética” prevaleceram, com 4 ocorrências cada.

Numa contagem de cunho quantitativo, para experimentação da performance do aplicativo livre e on-line Voyant Tools como ferramenta de análise dos termos predominantes nos artigos, obteve-se os seguintes termos: “arte” (1 394 menções); “educação” (1 001 menções) e “estética” (646 menções). Entre os termos ligados aos anteriores, houve maior destaque para as seguintes palavras: “criação” (310 menções), “meio” (210 menções), “experiência” (226 menções), “imaginação” (207 menções) e “vivência” (86 menções).

A Tabela 1 reúne os resultados da contagem dos termos prevalecentes nos 29 textos realizada com o aplicativo Voyant Tools.

Tabela 1
Resultados das análises realizadas pelo aplicativo Voyant Tools

É curioso observar que o instrumento possibilita um exame dos três termos predominantes (em fontes maiores) e dos demais a eles relacionados para a construção de uma “árvore de palavras”. Para os outros termos, o tamanho da fonte varia, de maior para menor, proporcionalmente ao número de menções detectado nos textos do corpus de artigos selecionados, como é possível visualizar na Figura 1:

Figura 1
Árvore de palavras gerada pelo Voyant Tools

Como pode ser visto, destacam-se como termos mais referenciados as palavras nas cores azul, violeta e laranja, por ordem de tamanho decrescente (“arte”, “educação” e “estética”). O resultado validado na segunda checagem corrobora os da primeira fase da pesquisa, na qual se evidenciou, pelo rastreamento dos artigos e leitura dos resumos, que o conceito de educação estética transita em diferentes áreas, mas está localizado, sobretudo, no campo da Arte Educação. Pode-se verificar, pelos mapas conceituais apresentados nas Figuras 2 e 3, ligações diretas entre os três principais termos contabilizados na imagem gerada pela árvore de palavras. Os demais termos gerados, correlatos aos três eixos centrais da discussão sobre Ensino de Arte, apontados na Figura 1, compõem os cenários de discussão (teóricos e contextuais) nos quais os artigos estão inseridos.

Figura 2
Relações entre os três principais termos em destaque (azul), análise gerada pelo Voyant Tools
Figura 3
Relações entre os termos arte e demais termos, análise gerada pelo Voyant Tools

Ainda se verifica na Figura 2 o termo “arte”, em destaque, em relação à “educação” e à “estética”, e os demais termos, ligados aos três anteriores mencionados, da esquerda para a direita: “infantil”; “vida”; “obra”; “pesquisa”; artística”; “ensino”; “formação” e “Vigotski”. Percebe-se, para além da ligação entre os três termos destacados, que o vocábulo “educação” se relaciona aos termos “infantil” e “pesquisa”, e o termo “estética” às palavras “artística”, “formação” e “Vigotski”. A Figura 3 exibe os termos diretamente ligados à “arte”, a saber, “vida”, “obra” e “ensino”, conforme se pode observar a seguir:

Reitera-se haver uma multiplicidade de leituras para as correlações geradas pelo Voyant Tools, tendo como escopo os termos e conceitos que se destacam e se aproximam no conjunto de textos analisados, conforme se observa nas Figuras 1, 2 e 3. Confirma-se, portanto, a potencialidade do instrumento no sentido de proporcionar múltiplas análises e interpretações sobre as sínteses da apropriação do conceito de educação estética de Vigotski nas publicações sobre o Ensino de Arte brasileiro entre 2006 e 2020. Reconhecemos a necessidade de um estudo mais aprofundado dos conceitos que têm permeado a concepção de educação estética de Vigotski, análise que se pretende elaborar detidamente em uma próxima publicação.

4. Discussão dos conceitos vigotskianos e dos resultados da pesquisa

É importante destacar o que os dados têm nos apontado ao longo dos estudos sobre educação estética em Vigotski. Os conceitos de “vivência” [em russo perejivanie] e de “meio” são considerados centrais na compreensão da teoria histórico-cultural elaborada por Vigotski e seus colaboradores. Estão estreitamente relacionados ao método de interpretação denominado “unidade de análise”, que se compreende como “uma parte de um todo que contém, mesmo que de forma embrionária, todas as características fundamentais próprias do todo” (Vigotski, 2018Vigotski, L. S. (2018). 7 Aulas de L. S. Vigotski:sobre os fundamentos da Pedologia. E-papers., p. 40). Gomes (2020)Gomes, M. F. C. (2020). Memorial trajetórias de uma pesquisadora e suas apropriações da Psicologia Histórico-cultural e da Etnografia em Educação. Brazil Publishing. observa que

essa concepção tem suas raízes no materialismo histórico-dialético e na visão monista de mundo de Espinosa. Teorias que fizeram com que Vigotski buscasse a superação da visão cartesiana de mundo que pressupõe a divisão entre corpo e mente e, portanto, instaura a análise de elementos nas investigações

(p. 44).

A educação estética, para Vigotski (2004)Vigotski, L. S. (2004). Psicologia Pedagógica(2ª ed.). Martins Fontes., abarca o significado de “vivência” em suas relações com a vida. Prestes (2012)Prestes, Z., & Tunes, E. (2012). A trajetória de obras de Vigotski: um longo percurso até os originais. Estudos de Psicologia, 29(3), 327-340. https://doi.org/10.1590/S0103166X2012000300003
https://doi.org/10.1590/S0103166X2012000...
afirma que o termo perejivanie, na obra do autor, diz respeito à relação entre o ambiente social e às particularidades do indivíduo. A referida autora pontua que, para se

compreender e estudar o desenvolvimento humano, é preciso conhecer o ambiente na sua relação com as especificidades de cada indivíduo. Não existe ambiente social sem o indivíduo que o perceba e o interprete. O ambiente social é uma realidade que envolve o ambiente e a pessoa, é o entre

(Prestes, 2012Prestes, Z. (2012). Quando não é quase a mesma coisa: Traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil. Autores Associados., pp. 129-130)

Jerebtsov (2014)Jerebtsov, S. (2014). GOMEL: A cidade de L. S. Vigotski – pesquisas científicas contemporâneas sobre instrução no âmbito da teoria histórico-cultural de L. S. Vigotski. Veresk - Cadernos Acadêmicos Internacionais: Estudos sobre a perspectiva histórico-cultural de Vigotski, 1, 7-27. também considera o conceito de vivência como elemento-chave na compreensão da teoria de Vigotski, pois o autor consegue traduzir nele diversos fenômenos psicológicos. O termo perejivanie foi definido por Vigotski da seguinte maneira no livro Sete aulas de L. S. Vigotski: sobre os fundamentos da pedologia, traduzido por Zoia Prestes e Elizabeth Tunes:

Vivência é uma unidade na qual se representa, de modo indivisível, por um lado, o meio, o que se vivencia – a vivência está sempre relacionada a algo que está fora da pessoa –, e, por outro lado, como eu vivencio isso. Ou seja, as especificidades da personalidade e do meio estão representadas na vivência: o que foi selecionado do meio, os momentos que têm relação com determinada personalidade e foram selecionados desta, os traços do caráter, os traços constitutivos que têm relação com certo acontecimento. Dessa forma, sempre lidamos com uma unidade indivisível das particularidades da personalidade e das particularidades da situação que está representada na vivência

(Vigotski, 2018Vigotski, L. S. (2018). 7 Aulas de L. S. Vigotski:sobre os fundamentos da Pedologia. E-papers., p. 78).

Prestes (2010)Prestes, Z. (2010). Quando não é quase a mesma coisa: análise das traduções de LevSemenovitch Vigotski: no Brasil repercussões no campo educacional [Tese de Doutorado]. Faculdade de Educação da Universidade de Brasília]. https://repositorio.unb.br/handle/10482/9123
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destaca ainda que, quando Vigotski afirma ser a Arte o social em nós, ele se refere à função própria da Arte de proporcionar a “superação do sentimento individual”, possibilitando “a transferência de uma vivência comum” (p. 117). A autora, que tem se dedicado às traduções dos originais russos nos últimos anos, percebe como problemáticas as diferenças de tradução para o termo perejivanie na versão em português do livro Psicologia da Arte, realizada por Paulo Bezerra. Nele, o termo aparece traduzido com significados como emoção, sentimento ou vivência, como se fossem conceitos equivalentes. Prestes (2010)Prestes, Z. (2010). Quando não é quase a mesma coisa: análise das traduções de LevSemenovitch Vigotski: no Brasil repercussões no campo educacional [Tese de Doutorado]. Faculdade de Educação da Universidade de Brasília]. https://repositorio.unb.br/handle/10482/9123
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lembra ainda que, nas traduções de textos de Vigotski para o inglês, o termo perejivanie é traduzido como experiência, palavra que também não contemplaria seu significado, principalmente quando se sabe da existência da palavra opit em russo para referir-se ao termo “experiência”.

Diante das possibilidades de interpretações dos dados presentes nas discussões dos artigos selecionados e analisados no percurso desta pesquisa publicados entre 2006 e 2020, destaca-se que tanto o termo “vivência” (86) como o termo “meio” (210) apresentaram-se com certa frequência e inter-relacionados aos termos “arte”, “educação” e “estética”. Esses resultados corroboram as análises de Gomes (2020)Gomes, M. F. C. (2020). Memorial trajetórias de uma pesquisadora e suas apropriações da Psicologia Histórico-cultural e da Etnografia em Educação. Brazil Publishing., Prestes (2010)Prestes, Z. (2010). Quando não é quase a mesma coisa: análise das traduções de LevSemenovitch Vigotski: no Brasil repercussões no campo educacional [Tese de Doutorado]. Faculdade de Educação da Universidade de Brasília]. https://repositorio.unb.br/handle/10482/9123
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e Jerebtsov (2014)Jerebtsov, S. (2014). GOMEL: A cidade de L. S. Vigotski – pesquisas científicas contemporâneas sobre instrução no âmbito da teoria histórico-cultural de L. S. Vigotski. Veresk - Cadernos Acadêmicos Internacionais: Estudos sobre a perspectiva histórico-cultural de Vigotski, 1, 7-27., que consideram os conceitos centrais na compreensão da teoria histórico-cultural. A seguir, mediante análise qualitativa, ater-se-á a condensar as sínteses sobre educação estética presentes nos 29 artigos selecionados para este estudo.

4.1. Sínteses das apropriações e articulações teórico-práticas do conceito de educação estética presentes nos artigos analisados

Em paralelo ao panorama apurado na Tabela 1, resultado da análise com o aplicativo Voyant Tools, realizou-se a categorização conceitual das discussões presentes nos 29 textos e a identificação de seus autores, em grande maioria estudiosos de Vigotski. Os dados indicaram o predomínio das noções de “vivência” e “experiência” nos textos analisados, coadunando com as perspectivas trazidas no item anterior. Conforme mencionado, entende-se como essencial para a compreensão da teoria histórico-cultural de Vigotski a noção de “vivência” (perejivanie) e de “meio”, movimento que permitiu considerar as noções de “vivência” e “experiência” fundamentais para definir as apropriações do conceito de educação estética neste estudo.

Dos 29 artigos analisados, o conceito de “vivência” foi destaque em 11; o de “experiência” evidenciou-se em 10. Já as discussões sobre “criação e imaginação” e “educação estética” prevaleceram nos 8 textos restantes.

Nas discussões realizadas pelos 11 trabalhos em que prevalece o conceito de “vivência”, Barbosa (2018)Barbosa, M. A. C. (2018). A cidade vivenciada em aquarelas. [Comunicação]. XXVIII Congresso Nacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil [e] VI Congresso Internacional da Federação de Arte/Educadores, Brasília, DF, Brasil. e Reis e Zanella (2014)Reis, A. C., & Zanella, A. V. (2014). Arte e vida, vida e (em) arte: entrelaçamentos a partir de Vygotsky e Bakhtin. Psicol. Argum., 32, 97-107. http://dx.doi.org/10.7213/psicol.argum.32.S01.AO09
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articulam as relações do termo com o meio cultural. Os estudos sobre a formação estética do professor ou práticas pedagógicas são debatidos por Stein e Chaves (2018)Stein, V., & Chaves, M. (2018). Formação Artística e Estética: Reflexões para Atuação de Professores na Educação Infantil. Poiésis, 12(21), 204-215. http://dx.doi.org/10.19177/prppge.v12e212018204-215
https://doi.org/10.19177/prppge.v12e2120...
, Peixoto (2009)Peixoto, M. C. S. (2009). Caminhos Investigativos na Formação Estética de Professores (as) [Comunicação]. XXXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, MG, Brasil., Magalhães e Fernandes (2017)Magalhães, V. S., & Fernandes, V. L. P. (2017). Uma abordagem histórico-cultural da educação estética e a prática pedagógica em artes visuais [Comunicação]. XXVII Congresso Nacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil, Campo Grande, MS, Brasil., Paes (2008)Paes, P. C. D. (2008). História da arte para adolescentes internos autores de atos infracionais [Comunicação]. XVIII Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil [e] Congresso Latino-americano e Caribenho de Arte Educação [e] Encontro Nacional de Arte Educação, Cultura e Cidadania, Crato, CE, Brasil. e Micarello e Baptista (2018)Micarello, H., & Baptista, M. C. (2018). Literatura na educação infantil: pesquisa e formação docente. Educar em Revista, 34(72), 169-186. https://doi.org/10.1590/0104-4060.62731
https://doi.org/10.1590/0104-4060.62731...
. A potencialidade da educação estética no desenvolvimento humano é examinada por Dias e Pereira (2016)Dias, C. N., & Pereira, E. R. (2016). Hip Hop na ONG: os sentidos produzidos por crianças e adolescentes em oficinas de danças. Horizonte Científico, 10(1), 1-18. http://200.19.146.79/index.php/horizontecientifico/issue/view/1350
http://200.19.146.79/index.php/horizonte...
, Pederiva (2019)Pederiva, P. L. M. (2019). A educação estético-musical e o desenvolvimento da musicalidade humana. Revista Eixo, 18(2), 54-60. http://revistaeixo.ifb.edu.br/index.php/RevistaEixo/article/view/775/468
http://revistaeixo.ifb.edu.br/index.php/...
e Silva e Urt (2016)Silva, J. P., & Urt, S. C. (2016). O valor da Arte Literária na construção do sentido estético da criança. Nuances: estudos sobre Educação, 27(1), 225-246. http://dx.doi.org/10.14572/nuances.v27i1.3692
https://doi.org/10.14572/nuances.v27i1.3...
. Já o debate sobre a atualidade da obra de Vigotski para o Ensino de Arte é articulado por Wedekin e Zanella (2016)Wedekin, L. M., & Zanella, A. V. (2016). L. S. Vigotski e o ensino de arte: "A educação estética" (1926) e as escolas de arte na Rússia 1917-1930. Pro-Posições, 27(2), 155-176. https://doi.org/10.1590/1980-6248-2014-0124
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.

As 10 publicações que privilegiam o termo “experiência” apresentam discussões sobre a formação estética de professores, sendo os principais autores dedicados à temática: Fernandes (2012)Fernandes, S. R. (2012). Conscientização das experiências pessoais com a arte para a formação do professor nos cursos de licenciatura: justificativa no tcc [Comunicação]. XXII Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil, São Paulo, SP, Brasil., Soares (2007)Soares, M. L. P. (2007). Estética e Formação de Professores: construindo significados e sentidos [Comunicação]. XXX Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, MG, Brasil. http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3224--Int.pdf
http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estu...
e Rausch et al. (2019)Rausch, R. B., Carvalho, C., Paulo, S., & Radwanski, E. (2019). Formação Estética de Professores: O que revelam as pesquisas em Educação no Brasil? Atos de Pesquisa em Educação, 14(1), 29-56. http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2019v14n1p29-56
https://doi.org/10.7867/1809-0354.2019v1...
. Paes (2009)Paes, P. C. D. (2009). Vigotski: fundamentos e procedimentos para o ensino de arte[Comunicação]. XIX Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil [e] Congresso Latino-americano e Caribenho de Arte Educação [e] Encontro Nacional de Arte Educação, Cultura e Cidadania, Belo Horizonte, MG, Brasil. e Nannini (2012)Nannini, P. B. R. (2012). Descobrindo a arte por meio da ilustração [Comunicação]. XXII Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil, São Paulo, SP, Brasil. refletem teoricamente sobre procedimentos de Ensino de Arte, juntamente com Christov (2011)Christov, L. H. S. (2011). Psicologia e ensino de artes. [Comunicação]. XX Encontro Nacional da ANPAP, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. e Feldman e Bertoletti (2019)Feldman, M., & Bertoletti, A. (2019). Vivenciar a arte na Educação Infantil. Poiésis Pedagógica, 17, 97-110. https://gmepae.com.br/wp-content/uploads/2021/12/Artigo-Vivenciar-a-arte-Andrea-Bertoletti.pdf
https://gmepae.com.br/wp-content/uploads...
. As escritas de Zanella et al. (2019)Zanella, A. V., Mattos, L. K., & Assis, N. (2019). Crianças cegas e seus encontros com a cidade: Paisagem sonora e educação musical em foco. Cad. Cedes, 39(107), 87-98. https://doi.org/10.1590/cc0101-32622019213253
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e Kirst e Silva (2009)Kirst, A. C., & Silva, M. C. R. F. (2009). Arte contemporânea e público cego: quais as relações possíveis? [Comunicação]. XVIII Encontro Nacional da ANPAP, Salvador, BA, Brasil. problematizam a inclusão do público cego; e Morales et al. (2017)Morales, R. S., & Ramiro, J. F., & Maggi, N. R. (2017). Experiência estética como forma de internalização das relações de poder. Revista Desenredo, 13(2), 437-451. https://doi.org/10.5335/rdes.v13i2.7271
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interrogam sobre questões de gênero.

Embora abordem diversas temáticas do campo da Arte, oito artigos concentram suas discussões em torno das noções de “criação e imaginação” e “educação estética”. Sampaio (2014)Sampaio, J. C. C. (2014). A imaginação em Vigotski: o ensino de teatro nas séries iniciais do ensino fundamental [Comunicação]. XXIV Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil [e] II Congresso Internacional da Federação dos Arte/Educadores, Ponta Grossa, PR, Brasil. enfoca os termos “criação e imaginação” para refletir sobre a função do Ensino de Teatro nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A. Silva (2012)Silva, A. R. (2012). Atividade de aprendizagem de leitura de imagens em artes visuais: contribuições da teoria do ensino desenvolvimental [Comunicação]. XXII Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil, São Paulo, SP, Brasil. propõe avaliar o Experimento Didático Formativo de V. V. Davydov, atentando para as vantagens, os limites e as possibilidades dessa abordagem teórica para a área de Arte. M. Silva (2014)Silva, M. C. R. F. (2014). Formação de professores nas licenciaturas de artes visuais: o processo de criação na docência [Comunicação]. XXIII Encontro Nacional da ANPAP, Belo Horizonte, MG, Brasil. problematiza a inserção da criação, tendo como referência a análise das matrizes curriculares de cursos de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Marques (2018)Marques, P. N. (2018). O “jovem” Vygótski: inéditos sobre arte e o papel da criação artística no desenvolvimento infantil. Educ. Pesqui., 44, 1-15. https://doi.org/10.1590/s1678-4634201844183267
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apresenta a produção sobre Arte e Crítica Teatral de Vigotski como potente campo para estudos relacionados à obra do autor russo. Wedekin (2018)Wedekin, L. M. (2018). Ensino da arte no limiar da censura: uma defesa da autonomia da educação estética em Vigotski. Pol. Cult. Rev., 11(1), 145-167. discorre sobre educação estética ao levantar questões sobre a mediação educativa da exposição de gravuras Lasar Segall, Poesia da Linha e do Corte, no Serviço Social do Comércio (Sesc), Unidade Bauru. Schlichta (2011)Schlichta, C. A. B. D. (2011). Mediação: modos de articulação entre maneiras de fazer, dar visibilidade e pensar essas maneiras de fazer [Comunicação]. XXI Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil [e] XI Encontro Humanístico, São Luís, MA, Brasil. debate o papel do mediador cultural como agente na construção da autonomia para a recepção da produção artístico-cultural. Petersen e Fernandes (2016)Petersen, A. S. F., & Fernandes, V. L. P. (2016). O trabalho pedagógico do professor de Artes Visuais no sul do Mato Grosso a partir do olhar de ex-alunos. [Comunicação]. XXVI Confaeb – Congresso da Federação de Arte/Educadores do Brasil, Boa Vista, RR, Brasil. analisam a trajetória histórica do ensino de Artes Visuais no estado do Mato Grosso do Sul (1970-1990). Pozza e Magiolino (2018)Pozza, L. P., & Magiolino, L. L. S. (2018). Vigotski e a Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca: a crítica e o Leitor como leitura dissonante. Linha Mestra, 12(36), 805-809. discorrem sobre a Literatura e a leitura no âmbito da educação escolar.

Conclui-se que a análise de conteúdo do corpus selecionado possibilitou a construção de uma síntese das discussões e perspectivas teórico-conceituais de Arte e Ensino de Arte fundamentadas na teoria histórico-cultural de Vigotski, na qual se percebeu como o conceito de educação estética, discutido em grande parte dos artigos, está entremeado pela noção de vivência, em suas relações com a imaginação, a criação e o meio cultural. Barbosa (2018)Barbosa, M. A. C. (2018). A cidade vivenciada em aquarelas. [Comunicação]. XXVIII Congresso Nacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil [e] VI Congresso Internacional da Federação de Arte/Educadores, Brasília, DF, Brasil. ancora-se na conexão entre a vivência e o meio cultural para compreender os processos de criação e imaginação de crianças nos diferentes tempos e espaços da cidade, por meio de desenhos e aquarelas, que combinam “elementos vividos com elaborações da realidade presente” (p. 3117). Stein e Chaves (2018)Stein, V., & Chaves, M. (2018). Formação Artística e Estética: Reflexões para Atuação de Professores na Educação Infantil. Poiésis, 12(21), 204-215. http://dx.doi.org/10.19177/prppge.v12e212018204-215
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sublinham a necessidade de o professor compreender os mecanismos psicológicos da criação vivenciando-os. Essa competência torna-se essencial para que o docente considere as necessidades das crianças e os valores culturais próprios do local onde elas estão inseridas na organização de intervenções educativas, a fim de potencializar a atividade criadora, “pois a imaginação se constitui a partir daquilo que já foi vivenciado” (p. 212). Os resultados apurados reafirmam que o professor necessita ampliar suas próprias referências estéticas, saber e conhecer arte para valorizar o “conhecimento prévio que o aluno traz de suas vivências, de sua história” como elementos para a imaginação e criação em arte, conforme destacado por Magalhães e Fernandes (2017, p. 2978)Magalhães, V. S., & Fernandes, V. L. P. (2017). Uma abordagem histórico-cultural da educação estética e a prática pedagógica em artes visuais [Comunicação]. XXVII Congresso Nacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil, Campo Grande, MS, Brasil..

Peixoto (2009)Peixoto, M. C. S. (2009). Caminhos Investigativos na Formação Estética de Professores (as) [Comunicação]. XXXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, MG, Brasil. considera que a formação estética do professor proporcionada por vivências criativas, em diversas linguagens artísticas, fortalece e amplia conhecimentos existentes, mas, principalmente, estimula o autoconhecimento, pois a “vivência estética cria um estado muito sensível, deixando marcas em ações/comportamentos posteriores” (p. 5). Micarello e Baptista (2018)Micarello, H., & Baptista, M. C. (2018). Literatura na educação infantil: pesquisa e formação docente. Educar em Revista, 34(72), 169-186. https://doi.org/10.1590/0104-4060.62731
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12 12 As autoras adotam o mesmo sentido para “experiência” e “vivência estética”. , assim como Silva e Urt (2016)Silva, J. P., & Urt, S. C. (2016). O valor da Arte Literária na construção do sentido estético da criança. Nuances: estudos sobre Educação, 27(1), 225-246. http://dx.doi.org/10.14572/nuances.v27i1.3692
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, corroboram o entendimento de que a dimensão formativa do professor potencializa a mediação estética de qualidade entre o conhecimento e a criança. Pondera-se ser essencial não atribuir valor moral às obras literárias, por exemplo. Micarello e Baptista (2018)Micarello, H., & Baptista, M. C. (2018). Literatura na educação infantil: pesquisa e formação docente. Educar em Revista, 34(72), 169-186. https://doi.org/10.1590/0104-4060.62731
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destacam também a importância de se proporcionar a apropriação da linguagem e da cultura, abrindo margem para que a criança e o adolescente possam “recriar o mundo dado por meio de elaboração de outros mundos imaginados” (p. 184). Silva e Urt (2016)Silva, J. P., & Urt, S. C. (2016). O valor da Arte Literária na construção do sentido estético da criança. Nuances: estudos sobre Educação, 27(1), 225-246. http://dx.doi.org/10.14572/nuances.v27i1.3692
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afirmam que se conquista autonomia e emancipação na medida em que se compreende que “qualquer ato imaginativo se constitui de elementos adquiridos das vivências pregressas. Destarte, a fantasia surge por meio dos materiais capturados da vida real” (p. 229).

Ao discorrer sobre a escolarização da educação musical para o desenvolvimento da musicalidade humana, Pederiva (2019)Pederiva, P. L. M. (2019). A educação estético-musical e o desenvolvimento da musicalidade humana. Revista Eixo, 18(2), 54-60. http://revistaeixo.ifb.edu.br/index.php/RevistaEixo/article/view/775/468
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reafirma que a vivência estética, como atividade humana, tem fim em si mesma. Alerta que atividades de educação musical necessitam ser baseadas em princípios educativos e estéticos engendrados a processos criadores na relação com os elementos específicos dessa linguagem e com o contexto social vivenciado. Esse processo ocorre de forma singular na relação entre o ser humano e seu cotidiano. Reis e Zanella (2014)Reis, A. C., & Zanella, A. V. (2014). Arte e vida, vida e (em) arte: entrelaçamentos a partir de Vygotsky e Bakhtin. Psicol. Argum., 32, 97-107. http://dx.doi.org/10.7213/psicol.argum.32.S01.AO09
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tratam da potência da arte para o desenvolvimento humano e para a reinvenção da própria vida. Mediante suas vivências estéticas, as pessoas reelaboram o que as sensibiliza, essas vivências oportunizam transfigurar a realidade na Arte e criar consciência sobre sua atuação ativa na transformação cultural da sociedade.

Dias e Pereira (2016)Dias, C. N., & Pereira, E. R. (2016). Hip Hop na ONG: os sentidos produzidos por crianças e adolescentes em oficinas de danças. Horizonte Científico, 10(1), 1-18. http://200.19.146.79/index.php/horizontecientifico/issue/view/1350
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demonstram a potencialidade da Arte como transformação social ao apresentarem a Oficina de Hip Hop, ministrada por arte educadores de uma ONG, em contraturno escolar, com público vulnerável, que “configurou como um espaço de troca, e manutenção de relações potentes, onde foi possível exercitar, com liberdade, o ser de outro jeito” (p. 14). As autoras apontam que, ao vivenciar a Arte atrelada aos objetos ou fenômenos do cotidiano, possibilita-se a elaboração de novas formas de se relacionar com o mundo. Para Paes (2008)Paes, P. C. D. (2008). História da arte para adolescentes internos autores de atos infracionais [Comunicação]. XVIII Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil [e] Congresso Latino-americano e Caribenho de Arte Educação [e] Encontro Nacional de Arte Educação, Cultura e Cidadania, Crato, CE, Brasil.13 13 O autor opera com a noção de Educação Estética em Herbert Read. , o desenvolvimento da consciência estética pode contribuir no aprimoramento de medidas socioeducativas para jovens internos em privação de liberdade. Torna-se condição necessária para a alfabetização estética e social, fundada na experiência estética da humanidade, a apropriação estética das obras de arte.

Por fim, Wedekin e Zanella (2016)Wedekin, L. M., & Zanella, A. V. (2016). L. S. Vigotski e o ensino de arte: "A educação estética" (1926) e as escolas de arte na Rússia 1917-1930. Pro-Posições, 27(2), 155-176. https://doi.org/10.1590/1980-6248-2014-0124
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apresentam como “a educação estética” (1926) foi forjada na experiência prática de Vigotski em diálogo com a arte e a ciência de sua época. Ao fazê-lo, ampliam o entendimento do conceito e demonstram a atualidade e a potência da obra do autor russo para refletir sobre o Ensino de Arte.

Considerações finais

Espera-se que os resultados alcançados com a pesquisa ampliem as possibilidades de discussão sobre as repercussões, inovações e reinterpretações do conceito de educação estética de Vigotski que reverberam na literatura brasileira entre 2006 e 2020. De acordo com Vladimir Tovievitch Kudriavtsev, em entrevista de 2014 concedida a Zoia Prestes (2021)Prestes, Z. (2021). L. S. Vigotski: presença e atualidade em entrevistas (1ª ed.). Lavrapalavra., publicada juntamente com outras entrevistas realizadas com pesquisadores russos, a obra de Vigotski precisa de escavação. Segundo o entrevistado, há uma linha de maturidade que acompanha a obra desse autor, demonstrada na elaboração de alguns conceitos-chave aprimorados por ele ao longo dos dez anos de sua intensa produção teórica, como no caso de “vivência”, tratado em seus escritos iniciais como reação estética.

Tal perspectiva abre caminho para que análises mais aprofundadas possam, em breve, iluminar novas interpretações sobre as apropriações do conceito de educação estética de Vigotski para além das sínteses apresentadas neste artigo. Conforme alertado por pesquisadores de sua obra, bem como percebido em nossa caminhada durante esta pesquisa, considera-se que a complexidade que envolve a produção teórica de Vigotski, e os conceitos por ele elaborados, situa-o em um promissor campo de pesquisa em Arte Educação na atualidade.

  • 2
    Normalização, preparação e revisão textual: Camila Pires de Campos Freitas camilacampos.revisora@gmail.com
  • 3
    Apoio: Programa Institucional de Apoio à Pesquisa PAPq e Bolsa de Produtividade em Pesquisa PQ - Universidade do Estado de Minas Gerais (Grant / Award Number: 'Edital PAPq 05/2020/UEMG; Edital PAPq 01/2022/UEMG'), integrando os estudos dos Grupos de Pesquisa Laboratório de Estudos sobre a Docência (LEDoc) da UEMG e História da Psicologia e Contexto Sociocultural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
  • 4
    A nomenclatura histórico-cultural foi a denominação adotada para mencionar a teoria de Vigotski, e não “sócio-histórica ou sociocultural, ou socioconstrutivista, ou ainda sociointeracionista”, adotada por outros grupos de estudiosos (Gomes, 2020Gomes, M. F. C. (2020). Memorial trajetórias de uma pesquisadora e suas apropriações da Psicologia Histórico-cultural e da Etnografia em Educação. Brazil Publishing.).
  • 5
    Serão encontradas diferentes grafias nas publicações brasileiras para o sobrenome do autor, aqui se opta por Vigotski em referência às orientações de Prestes, tradutora e estudiosa dos originais russos. Nas citações diretas, manter-se-á a grafia usada pelos autores, conforme a fonte consultada.
  • 6
    De acordo com Richebächer (2019)Richebächer, S. (2019). Uma ligação perigosa com o poder: a psicanálise na Rússia bolchevique. Lacuna: uma revista de psicanálise, 7(1). https://revistalacuna.com/2019/08/07/n-7-1/
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    , Konstantin Kornilov foi cofundador da Escola Reflexológica na Rússia, pretendia sustentar a Psicologia em uma base materialista, fundamentando-a nas doutrinas de Marx e Engels. Kornilov formou-se pela Universidade de Moscou em 1910, onde foi diretor do Instituto de Pesquisa Científica em Psicologia entre 1923 e 1930 e 1938 e 1941.
  • 7
    Os detalhes das análises iniciais da pesquisa podem ser consultados em Almeida et al. (2021)Almeida, M. O., Campos, R. H., & Silva, B. J. (2021). Análises preliminares da circulação do conceito de educação estética de Vigotski nas publicações sobre o ensino de arte no Brasil. [Comunicação]. XXX Congresso Nacional da Federação de Arte Educadores do Brasil, Pelotas, RS, Brasil. https://faeb.com.br/wp-content/uploads/2023/01/anais-XXX-ConFAEB-Pelotas-2021.pdf
    https://faeb.com.br/wp-content/uploads/2...
    .
  • 8
    O Voyant Tools,segundo o próprio sítio que abriga a ferramenta, é um ambiente web de leitura e análise de textos digitais. Disponível em: https://voyant-tools.org/.
  • 9
    As obras do autor encontradas nas referências dos textos são todas da Ed. Hucitec, porém apresentam diferentes anos de publicação, a saber: 1992, 2004, 2010 e 2014.
  • 10
    A obra referenciada é da Ed. Civilização Brasileira (1999).
  • 11
    As obras constam nas referências dos artigos em diversas editoras e anos de publicação, tais como: C/Arte, 1988; Fund. IOCHPE, 1991, e Perspectiva, 1991 e 2004.
  • 12
    As autoras adotam o mesmo sentido para “experiência” e “vivência estética”.
  • 13
    O autor opera com a noção de Educação Estética em Herbert Read.

Referências

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Editor responsável: Cesar Donizetti Pereira Leite https://orcid.org/0000-0001-8889-750X

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    07 Mar 2023
  • Aceito
    12 Maio 2023
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