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Representação Social e Identidade do(a) Profissional de Psicologia no Brasil

Social Representation and Identity of Psychologists in Brazil

Representación Social e Identidad del Profesional de la Psicología en Brasil

Resumo

Esta pesquisa buscou conhecer as concepções de profissionais de psicologia no Brasil em relação à sua identidade profissional e à especificidade da intervenção psicológica, explorando nuances da representação social em torno da sua própria atuação. Empregou-se método misto, de cunho exploratório e descritivo, tendo como amostra 670 psicólogos e psicólogas brasileiros(as) de diferentes faixas etárias e regiões do país. Foi aplicado questionário virtual contendo questões fechadas sobre dados sociodemográficos e questões abertas sobre a identidade profissional. O material produzido com as respostas foi submetido à análise de conteúdo, com o auxílio do software IRaMuTeQ. Os resultados apontam que a identidade profissional das(os) participantes aparece muito associada ao modelo clínico de intervenção, tendo como enfoque o cuidado diante do adoecimento psíquico, ainda que diversos elementos indiquem um gradativo movimento em prol de materializar o compromisso social da profissão no atendimento às demandas emergentes do país.

Palavras-chave:
Identidade; Profissional; Representação Social; Psicólogo

Abstract

This study investigates hoe Brazilian psychologists’ conceptualize their professional identity and the specificity of psychological intervention, exploring the nuances of social representation regarding their own performance. A descriptive, exploratory, mixed methods research was conducted with 670 Brazilian psychologists from different age groups and regions. Data was collected by means of a online questionnaire containing closed questions on sociodemographic variables, and open questions concerning professional identity. The material produced underwent content analysis, using the IRaMuTeQ software. Results show that the professionals’ identity appears to be closely associated with the clinical model of intervention, focused on care in face of a mental illness, although several elements indicate a gradual shift towards materializing the psychologist’s social commitment in meeting the country’s emerging demands.

Keywords:
Identity; Professional; Social Representation; Psychologist

Resumen

Esta investigación pretendió conocer las ideas de los profesionales de la psicología en Brasil sobre su identidad profesional y la especificidad de la intervención psicológica, explorando matices de la representación social de su propria actuación. Se utilizó el método mixto, exploratorio y descriptivo, con una muestra de 670 psicólogos y psicólogas brasileños/as de distintos grupos de edad y regiones del país. Se aplicó un cuestionario virtual, que contenía cuestiones cerradas sobre datos sociodemográficos y cuestiones abiertas acerca de la identidad profesional. El material producido a partir de las respuestas fue sometido a análisis de contenido, contando con la ayuda del software IRaMuTeQ. Los resultados apuntan a que la identidad profesional de las/los participantes estuvo muy asociada al modelo clínico de intervención, teniendo como enfoque el cuidado frente a la enfermedad psíquica, aunque diversos elementos indiquen un gradual movimiento por materializar el compromiso social de la profesión en la atención a las demandas emergentes del país.

Palabras clave:
Identidad; Professional; Representación Social; Psicólogo

Introdução

Rumo às suas “bodas de diamante”, paulatinamente a psicologia brasileira vem materializando seu compromisso perante a sociedade, preenchendo espaços e atendendo às complexas demandas emergentes e típicas de nosso país. Se historicamente a psicologia foi tida como elitista, por atuar de forma individualizada e dissociada da realidade social do Brasil (Pereira & Pereira Neto, 2003Pereira, F. M., & Pereira, A., Neto. (2003). O psicólogo no Brasil: Notas sobre seu processo de profissionalização. Psicologia em Estudo, 8(2), 19-27. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722003000200003
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), atualmente identificamos uma grande expansão de referenciais teórico-metodológicos e de campos de atuação em que as(os) profissionais de psicologia se fundamentam ou se situam no seu trabalho cotidiano.

Hoje, as(os) mais de 420 mil profissionais inscritas(os) no Sistema Conselhos de Psicologia (CFP, 2022Conselho Federal de Psicologia - CFP. (2022). A psicologia brasileira apresentada em números. Conselho Federal de Psicologia. http://www2.cfp.org.br/infografico/quantos-somos/
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) recebem demandas para atuarem em escolas, fóruns, empresas, indústrias, hospitais e numa série de outras instituições que passaram a reconhecer a necessidade de integrarem psicólogas e psicólogos em seu quadro. Durante a pandemia do Covid-19, foi observada intensificação da importância dessa área do conhecimento para a manutenção da saúde integral, juntamente ao desafio de se pensar a saúde mental e a atuação da(o) profissional de psicologia para além dos moldes tradicionalmente estabelecidos. Tal reconhecimento também tem repercutido no incremento da procura pela formação em psicologia, fazendo com que o curso de graduação nessa área se situe, atualmente, em sétimo lugar dentre os cursos de graduação mais procurados nas matrículas em cursos universitários (Brasil, 2019Brasil. (2019). Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep. Os 10 maiores cursos de graduação em relação ao número de matrículas, de ingressantes e de concluíntes. Gov.br. https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/censo-da-educacao-superior/resultados
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).

Apesar de vir acompanhada de aumento no leque de possibilidades de atuação e atrair um grande número de novos estudantes, essa expansão da psicologia no Brasil também complexifica o cenário da formação e da prática dessa(e) profissional, bem como o modo como se constitui sua identidade profissional, nos mais variados contextos. De fato, se considerarmos que, apesar dos grandes avanços na formação da(o) profissional de psicologia no Brasil, o conteúdo abordado e a estrutura da formação sofreram poucas alterações ao longo dos anos (Rudá, Coutinho, & Almeida Filho, 2019Rudá, C., Coutinho, D., & Almeida, N., Filho. (2019). Formação em psicologia: uma análise curricular de cursos de graduação no Brasil. e-Curriculum, 17(2), 419-440. http://dx.doi.org/10.23925/1809-3876.2019v17i2p419-440
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), é de se esperar que a inserção desses profissionais em novos contextos gere importantes impactos em sua constituição identitária.

Recente levantamento realizado por Piasson e Freitas (2020Piasson, D. L., & Freitas, M. H. (2020). A identidade do psicólogo brasileiro: Produções de 2008 a 2019. Boletim - Academia Paulista de Psicologia, 40(99), 271-284. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1415-711X2020000200011
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) indica que a literatura atual sobre a identidade da(o) profissional de psicologia no Brasil aponta possíveis confusões quanto à atuação e o papel dessa(e) profissional em diferentes contextos e públicos, e isso tanto entre usuários de serviços e integrantes de equipes multiprofissionais, como entre as(os) próprios estudantes e profissionais da área. Considerando que a identidade profissional se constitui num constante processo de identificações ao longo de uma carreira, devendo abarcar tanto as concepções dos próprios indivíduos quanto as experiências e representações desse trabalho (Schein, 1996Schein, E. H. (1996). Identidade profissional: Como ajustar suas inclinações a suas opções de trabalho. Nobel.), é de se esperar que algumas mudanças ocorram com o passar dos anos, repercutindo também no modo como a própria classe e a sociedade como um todo compreendem a atuação da(o) profissional.

Dentre as diversas possibilidades de leitura teórica do conceito de identidade profissional, consideramos que a Teoria das Representações Sociais melhor nos permite investigar tanto os elementos mais fluidos, como aqueles mais engendrados no que se refere à constituição identitária da(o) profissional de psicologia no Brasil. Moscovici (1978Moscovici, S. (1978). A representação social da psicanálise. Zahar.) apresenta as representações sociais como conjuntos dinâmicos que possuem, entre outros aspectos, a função de produzir comportamentos e proporcionar interação com o meio social. Ou, ainda, nas palavras de Jodelet (1989Jodelet, D. (1989). Représentations sociales: Um domaine en expansion. In D. Jodelet (Ed.), Les representations sociales (pp. 31-61). PUF.), são uma forma de conhecimento, com objetivo prático, que é formulado e difundido socialmente, possibilitando a construção de uma realidade social.

Leme (1995Leme, M. A. V. S. (1995). O impacto da teoria das representações sociais. In M. J. Spink (Ed.), O conhecimento no cotidiano: As representações sociais na perspectiva da psicologia social (pp. 46-57). Brasiliense.) argumenta que as representações sociais cumprem a importante função de tornar familiar o não familiar, e as experiências anteriores servem como base para a construção de novos modelos. Esse processo direciona as condutas e permite as comunicações sociais ao indicar os comportamentos e posturas desejados em determinado grupo. Contudo, em sua constituição, as representações sociais são marcadas por elementos que assumem posições mais centrais e rígidas e outros de natureza mais flexível e ajustados ao contexto em questão.

Com o intuito de realizar uma investigação de cunho mais estrutural das representações sociais, Abric (1994b)Abric, J. C. (1994b). Pratiques sociales et representations. Presses Universitaires de France. cunhou a Teoria do Núcleo Central, complementarmente à Teoria das Representações Sociais proposta por Moscovici (1978Moscovici, S. (1978). A representação social da psicanálise. Zahar.). Essa teoria parte da prerrogativa de que toda representação social possui um núcleo central estruturante, se configurando como elemento que proporciona união e estabilidade à representação (Abric, 2001Abric, J. C. (2001). O estudo experimental das representações sociais. In D. Jodelet (Ed.), As representações sociais (pp. 155-171). EdUERJ.), garantindo a homogeneidade do grupo, bem como sua identificação com a construção histórica da representação. De acordo com Andrade (1995Andrade, M. A. A. (1995). A identidade como representação social. Política & Trabalho, 11, 63-73. https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/politicaetrabalho/article/view/6370
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), esse núcleo se aglutina às características essenciais da representação, sem as quais não seria possível sua caracterização e compartilhamento, sendo responsável pela significação e consistência desta, favorecendo sua permanência e assimilando mudanças.

Contudo, essa representação também dispõe de um sistema periférico responsável pela heterogeneidade do grupo, que acomoda as contradições, adaptando-as ao núcleo, e acolhe as perspectivas individuais no coletivo (Sá, 1996Sá, C. P. (1996). Núcleo central das representações sociais. Vozes.). Conforme Abric (1994b)Abric, J. C. (1994b). Pratiques sociales et representations. Presses Universitaires de France., esse sistema periférico permite que a representação se ancore no momento atual, proporcionando seu caráter flexível e adaptável. É justamente nesse limiar entre os sistemas central e periférico que a representação social da identidade da(o) profissional de psicologia se constitui. Frente a um contexto profissional cada vez mais complexo e marcado pela inter-relação com outras profissões, torna-se cada vez mais urgente uma caracterização da profissão na psicologia, tornando claros seus procedimentos e objetivos, e evitando confusões por parte do público em geral (Costa-Lobo, Esteves, Almeida, Franco, & Ricou, 2017Costa-Lobo, C., Esteves, T., Almeida, L. S., Franco, A., & Ricou, M. (2017). Roadmap for a systematic review of the literature: The identity of psychology. Artigo apresentado no 11th annual International Technology, Education and Development Conference - INTED2017, Valencia, Spain. http://hdl.handle.net/11328/1774
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).

Considerando o exposto, o objetivo central deste estudo é conhecer as concepções de profissionais de psicologia brasileiras(os) em relação à sua identidade profissional e à especificidade da intervenção psicológica, buscando assim explorar as nuances da representação social constituída em torno do tema.

Método

Caracterizando-se essencialmente como uma pesquisa exploratória de cunho descritivo (Gil, 2002Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa (4a ed). Atlas.), este estudo buscou se aproximar do tema proposto a partir do relato das(os) próprias(os) profissionais de psicologia. Participaram do estudo 670 psicólogos e psicólogas, sendo 535 do sexo feminino e 135 do sexo masculino, tendo-se adotado os seguintes critérios para inclusão: a) ser profissional atuante em psicologia e com o devido registro no respectivo Conselho Regional de Psicologia; b) ter aceito o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por via eletrônica; c) ter respondido o questionário em formato virtual. Optou-se pela utilização de critérios de inclusão mais amplos e genéricos para abarcar um maior número de profissionais com diferentes distribuições sociodemográficas, visando assim apreender as diferentes concepções que poderiam abarcar as nuances da identidade profissional da categoria no país. Contudo, foram excluídos do estudo aquelas(es) que: a) possuíam registro profissional ativo, mas estavam atuando fora do Brasil, b) possuíam alguma limitação, física ou tecnológica, que impossibilitasse a resposta ao questionário de forma eletrônica; c) encaminharam o questionário respondido ao pesquisador fora do link previsto para envio.

A participação se deu por meio de respostas a um questionário virtual, cuja elaboração teve por base uma experiência portuguesa (Ricou, Cordeiro, Franco, & Costa-Lobo, 2018Ricou, M., Cordeiro, S. A., Franco, A., & Costa-Lobo, C. (2018). The identity of psychology. The Psychologist: Practice & Research Journal, 1(1), 1-15. https://doi.org/10.33525/pprj.v1i1.25
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). Com a devida autorização dos(as) autores(as) da versão original, o instrumento foi inicialmente adaptado para a língua portuguesa brasileira e, em seguida, acrescido de novas questões objetivas sobre dados sociodemográficos e três outras questões discursivas sobre a temática central do estudo. O questionário virtual foi organizado em quatro seções: apresentação da pesquisa e seus objetivos, TCLE com aceite virtual, catorze itens sobre dados sociodemográficos; e seis questões abertas sobre o tema proposto, sendo elas: a) Qual objetivo exclusivo da intervenção psicológica que a torna distinta de qualquer outra profissão ou intervenção?; b) Que funções exercidas pelas(os) psicólogas(os) você considera serem de exclusiva competência destas(es) profissionais?; c) Que funções exercidas pelas(os) psicólogas(os) você considera que podem ser realizadas por outras(os) profissionais que não são psicólogas(os)? d) Em sua percepção, qual é o papel da(o) psicóloga(o)?; e) Quais habilidades você considera que um(a) psicólogo(a) precisa desenvolver para atuar de forma eficaz? e f) Em sua percepção, qual é o perfil da(o) psicóloga(o) brasileira(o)? (Que características a(o) define?).

O instrumento foi divulgado simultaneamente por meio de quatro diferentes estratégias, nesta sequência: a) disponibilização e chamamento em diversas mídias sociais (Facebook, WhatsApp, Twitter, LinkedIn e Instagram); b) convite e envio do instrumento para listas de e-mails profissionais via mainlist; b) busca de apoio junto ao Sistema Conselhos, com cartas à presidência ou ao setor de comunicação de todos os Conselhos Regionais e ao Conselho Federal de Psicologia, sendo que apenas sete dentre as 24 autarquias consentiram em colaborar; d) envio de e-mails para 49 mil profissionais de psicologia cadastrados na plataforma OrientaPsi, convidando-as(os) a participar da pesquisa.

Os dados foram organizados e analisados de acordo com a proposta da análise de conteúdo (Bardin, 2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70. (Trabalho original publicado em 1995)./1995), e com o auxílio do software IRaMuTeQ (Ratinaud, 2009Ratinaud, P. (2009). Iramuteq (Versão 0.7 alpha 2) [Software de computador]. GNU. http://www.iramuteq.org
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). A ferramenta consiste num software gratuito e de fonte aberta para análise de dados textuais, permitindo o processamento de grandes volumes de textos com rigor estatístico, auxiliando tanto as análises quantitativas quanto qualitativas (Camargo & Justo, 2013Camargo, B. V., & Justo, A. M. (2013). Iramuteq: um software gratuito para Análise de dados textuais. Temas em Psicologia, 21(2), 513-518. http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.2-16
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). O corpus textual foi analisado na íntegra e de forma conjunta, não havendo segmentação em subcorpus. Foram utilizados cinco recursos de análise: a) Análise de estatísticas gerais, b) Apresentação da nuvem de palavras; c) Apresentação da análise advinda da classificação hierárquica descendente (Método Reinert); d) Apresentação dos resultados da análise de Similitude; e) Apresentação da análise de especificidades de acordo com a variável grupo (Grupos 01, 02 e 03).

Com o intuito de demarcar diferentes momentos da formação da(o) profissional de psicologia no Brasil e avaliar possíveis impactos disso na constituição identitária desses profissionais, distribuiu-se as(os) participante em três grupos em consonância com o tempo de formado: Grupo 1 - Formados de 1962 a 2003, correspondente à implementação do currículo mínimo no país e suas intercorrências; Grupo 2 - Formados de 2004 a 2010, correspondente à implementação e consolidação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Graduação em Psicologia (DCN-GP); Grupo 3 - Formados de 2011 a 2019, correspondente à atualização das DCN-GP, em cujo cerne está a formação por competências, habilidades e conhecimentos específicos à atuação em psicologia.

Resultados

Em termos de faixa etária, dentre os 670 participantes da pesquisa, predominaram os jovens-adultos: 239 do total da amostra se situam entre 31 e 40 anos de idade (35,7%), seguidos de 136 entre 41 e 50 (20,3%), e 130 entre 51 e 60 anos (19,4%). Outros 119 se situam entre 22 e 30 (17,8%). Apenas 46, dentre os(as) 239 participantes, têm entre 61 e 74 anos (6,8%). No que se refere às Regiões Administrativas de procedência das(os) participantes, destacaram-se as regiões Sudeste, com 224 participantes (33,4%), seguida da Nordeste, com 192 (28,6%), e a Centro-Oeste, com 170 (25,4%). Contou-se com apenas 66 respondentes da região Norte (9,9%) e 18 da região Sul (2,7%). Já com relação ao período em que se formaram, a distribuição dos(as) participantes foi bem similar entre os três grupos: 224 participantes do Grupo 3 (36,4%); 215 do Grupo 1 (32%); e 211 do Grupo 2 (31,6%).

Cerca de 94% das(os) participantes relataram possuir atualização profissional no campo da psicologia, totalizando 626 profissionais. Dentre as(os) 44 que não possuem, 24 são profissionais pertencentes ao Grupo 3, 16 ao Grupo 2 e apenas quatro ao Grupo 1. Em relação às especificidades da formação dessas(es) profissionais, foram identificadas, ao todo, 24 diferentes áreas de formação, com prevalência da psicologia clínica (54,1%), seguida pela psicologia da saúde/hospitalar (9,1%), psicologia organizacional e do trabalho (8,5%), psicologia social (8%), psicologia educacional/escolar (6,3%) e saúde mental (3,1%). Quanto às abordagens predominantes ao longo da formação, foram relatadas 31 diferentes perspectivas teóricas, com predominância da psicanálise (44,3%), seguida da comportamental /análise do comportamento (14,2%), cognitivo-comportamental (7,8%), humanismo (5,3%), Gestalt-terapia (4,3%) e generalista (4,2%). No que se refere aos campos de atuação, foram relatados 30 diferentes cenários, prevalecendo a psicologia clínica (46,9%), seguida da psicologia organizacional e do trabalho (9,7%), psicologia da saúde/hospitalar (9,3%), psicologia social (7,6%), psicologia educacional/escolar (6,7%) e saúde mental (4,8%).

Adentrando nos resultados obtidos por meio da análise das seis perguntas discursivas, a análise do corpus textual como um todo ressaltou o número total de 670 textos, 53.903 ocorrências, 3.291 formas e 1.310 hápax - casos com única ocorrência, com a média de 80,45% de ocorrências por texto. Ao analisarmos a frequência geral das principais palavras citadas, observa-se, por parte das(os) profissionais, a predominância de uso das palavras “psicológico” (738) e “escutar” (615). Também se mostraram frequentes as palavras “não” (418), “profissional” (401), “empatia” (337), “avaliação” (328), “humano” (323), “saúde” (313), “psicólogo” (302), “teste” (296), entre outras. Pontua-se que, devido ao recurso de lematização utilizado pelo software, palavras reconhecidas pelo programa como semelhantes são aglutinadas, por exemplo, as palavras “escuto”, “escuta” e “escutou” foram mescladas no termo “escutar”, entre outros casos. A Figura 1 traz a representação gráfica das principais palavras por meio de uma nuvem de palavras.

Figura 1
Nuvem de palavras.

Posteriormente às estatísticas gerais, foi realizada a análise advinda da Classificação Hierárquica Descendente (CHD), permitindo identificar as classes emergentes no texto e sua distribuição. Foi realizada uma análise por segmento de texto, sendo 3.764 segmentos classificados dos 4.348 totais (86,57%), gerando a Figura 2, com o dendrograma das classes identificadas.

Figura 2
Dendrograma da análise geral do corpus textual.

Foram identificadas quatro classes, sendo a Classe 4 a mais ampla, ramificando-se na Classe 3 e nas Classes 2 e 1, sendo as duas últimas decorrentes da Classe 4, cada uma com a seguinte frequência de ocorrência: Classe 4 (17,9%), em roxo; Classe 3 (22,3%), em azul; Classe 2 (27,6%), em verde; e Classe 1 (32,2%), em vermelho. Com o auxílio da análise do conteúdo (Bardin, 2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70. (Trabalho original publicado em 1995)./1995) e a partir da distribuição e frequência das palavras em cada classe, essas foram assim nomeadas: Classe 4 - Intervenções psicológicas; Classe 3 - Habilidades da(o) profissional de psicologia; Classe 2 - Objetivos da psicologia; e Classe 1 - Perfil da(o) profissional de psicologia.

A Classe 4 - Intervenções psicológicas - se caracterizou como a mais ampla, apontando as principais intervenções e práticas relatadas pelas(os) profissionais, tais como: teste psicológico, avaliação, psicoterapia, psicodiagnóstico, aconselhamento, laudo, seleção, orientação vocacional, entrevista, recrutamento, entre outras. Essa classe ilustra bem aquilo que as(os) profissionais relatam como sendo intervenções específicas da psicologia. Dessa classe mais abrangente, ramifica-se a Classe 3 - Habilidades da(o) profissional de psicologia, correspondente às características que as(os) respondentes consideram como sendo necessárias para atuar nesse campo, e composta pelas seguintes palavras mais recorrentes: empatia, escuta, acolhimento, ética, comunicação, paciência, sensibilidade, ouvir, sigilo, entre outras.

Advindo também da Classe 4, a Classe 2 - Objetivos da psicologia, indica alguns dos objetivos específicos da atuação da(o) profissional, aglutinando termos como indivíduo, sofrimento, vida, sujeito, auxiliar, pessoa, autoconhecimento, ajudar, bem-estar, entre outros. Em posição paralela a essa classe, a Classe 1 - Perfil da(o) profissional de psicologia - retrata o que as(os) participantes caracterizam como o perfil da profissão no país, prevalecendo o advérbio de negação “não”, associando-se às palavras “profissional”, “psicólogo”, “formação”, “atuação”, “ainda” e “clínica”.

Após a organização dessas informações, foi realizada a análise de similitude, buscando identificar as relações e conexões entre as palavras, conforme ilustra a Figura 3. Essa etapa foi organizada com os recursos do software de aglutinação por comunidade e halo, permitindo identificar a conexão entre as palavras e sua relação com as classes previamente identificadas.

Figura 3
Análise de similitude do corpus textual por comunidade e halo.

Nota-se que as quatro classes ilustradas no dendrograma aparecem novamente aqui. Entretanto, frisa-se que as cores da Classe 3 e Classe 4 foram trocadas automaticamente pelo software, de modo que temos a Classe 4 em azul, Classe 3 em roxo, Classe 2 em verde e Classe 1 em vermelho. Ao analisarmos a correlação entre as palavras, e partindo da parte superior para a inferior, percebe-se, na Classe 2 - Objetivos da psicologia, um núcleo formado pelas palavras “saúde” e “mental” ramificando-se nos termos “promover”, “bem-estar”, “psíquico”, “sofrimento”, “contexto” e “social”. Acima, advindo também do núcleo “saúde mental”, emerge a palavra “pessoa”, ramificando-se nas palavras “vida”, “indivíduo”, “auxiliar” e “ajudar”.

Na Classe 1 - Perfil da(o) profissional de psicologia, na parte superior, temos um núcleo com a palavra “humano”, que se ramifica nas palavras “comportamento” e “desenvolvimento”. No centro da classe, há também um núcleo formado pela palavra “profissional” ramificando-se, de um lado, nas palavras “psicólogo” e “prático” e, de outro, em “psicologia”, “formação” e “atuação”. Conectando-se à palavra “profissional”, ramifica-se outro núcleo decorrente da palavra “não”, associando-se à palavra “profissão”.

Na Classe 3 - Habilidades da(o) profissional de psicologia, o núcleo central é a palavra “escutar”, que se ramifica nas palavras “autoconhecimento”, “clínica”, “paciente”, “análise”, “acolher”, “acolhimento” e “qualificado”. Também, como outro núcleo advindo da palavra “escutar”, emerge o núcleo decorrente da palavra “empatia”, ramificando-se nas palavras “ética”, “ouvir” e “conhecimento”, sendo que a última se ramifica em “científico” e “teórico”.

Por fim, na Classe 4 - Intervenções psicológicas, observa-se o núcleo derivado da palavra “psicológico” ramificando-se nas palavras “psicoterapia”, “intervenção”, “avaliação” e “teste”. Nas extremidades, temos as palavras “técnica”, “processo” e “grupo”, advindos de “psicoterapia”, enquanto da palavra “avaliação” derivam-se “terapia”, “orientação” e “emocional”. Na extremidade inferior, a partir da palavra “teste”, ramificam-se as palavras “aplicação”, “atendimento” e “clínico”.

Após a identificação das classes textuais e da análise da conexão entre as palavras constantes em cada uma delas, foi realizada uma análise das especificidades textuais em cada um dos três grupos delimitados neste trabalho, buscando identificar as nuances de cada um deles frente ao corpus textual como um todo.

Constata-se que, no Grupo 1 - Formados de 1962 a 2003, comparativamente aos demais, prevalecem as palavras “favorecer”, “autoconhecimento”, “intervir”, “teórico”, “compaixão”, “regional” e “baixo”. Após uma análise mais detalhadas da inserção dessas palavras no corpus textual, verificou-se que a palavra “regional” se relaciona a “demandas”, enquanto a palavra “baixo” se associa a “salários”. No Grupo 2 - Formadas(os) de 2004 a 2010, foi possível constatar que as palavras “organizacional”, “mercado”, “paciência”, “clínica”, “atuar”, “mais” e “diverso” se mostraram mais frequentes quando comparadas com os demais grupos. Uma análise mais detalhada das palavras em seus respectivos contextos, permitiu identificar que o termo “mercado” se refere ao mercado de trabalho, e “clínica” refere-se ao contexto de atuação da(o) profissional de psicologia. Por fim, no Grupo 3 - Formadas(os) de 2011 a 2019, quando comparado com os demais dois grupos, identificou-se maior prevalência das palavras “mental”, “saúde”, “transtorno”, “acolhimento”, “foco” e “demanda”, além das palavras “empatia” e “palestra”. Uma análise mais detalhada da palavra “demanda” aponta para a correlação com outras palavras, como “profissional” e “paciente”, indicando que se refere àquilo que chega como objeto de trabalho à(ao) profissional de psicologia.

Discussão

Considerando a proposta central deste estudo, cabe iniciar discutindo as características sociodemográficas da amostra estudada. A prevalência do sexo feminino (cerca de 80%) entre as(os) participantes segue o padrão geral da realidade atual brasileira, pois as psicólogas correspondem a aproximadamente 84,9% do total de profissionais da área (CFP, 2022Conselho Federal de Psicologia - CFP. (2022). A psicologia brasileira apresentada em números. Conselho Federal de Psicologia. http://www2.cfp.org.br/infografico/quantos-somos/
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). Apesar de não ser o foco desta pesquisa, há de se considerar que as questões de gênero possam influenciar a constituição identitária da categoria, exigindo a realização de estudos específicos. Também a prevalência de profissionais da Região Sudeste, representando cerca de 33,4% da amostra estudada, está em consonância com a distribuição atual de profissionais no país, com cerca de 46,3% de todas(os) as(os) profissionais de psicologia no Brasil localizados nessa região (CFP, 2022Conselho Federal de Psicologia - CFP. (2022). A psicologia brasileira apresentada em números. Conselho Federal de Psicologia. http://www2.cfp.org.br/infografico/quantos-somos/
http://www2.cfp.org.br/infografico/quant...
). Tal prevalência pode ser explicada em função de diversos fatores, como proporção populacional, empregabilidade, visão da população sobre a atuação dessa(e) profissional, salários, instituições de ensino superior disponíveis, além do pioneirismo da Região Sudeste na formalização do curso de psicologia.

A participação efetiva dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) na divulgação da pesquisa parece também ter influenciado na adesão das(os) profissionais de psicologia de cada região. Com exceção da Região Sudeste, em que nenhum Conselho se prontificou a auxiliar na divulgação da pesquisa, obtendo-se um grande número de respondentes em decorrência do auxílio de pesquisadores do projeto residentes na região, todas as demais Regiões contaram com a colaboração de pelo menos um Conselho neste processo. Do exposto acima, deduz-se que a colaboração do Sistema Conselhos com o desenvolvimento de pesquisas que busquem compreender aspectos ligados à ciência e à profissão psicologia é fundamental para o avanço do campo no país.

Em termos da estratificação da amostra estudada, a prevalência de jovens-adultas(os) integrantes do Grupo 3 deve ser considerada nas análises que se seguem, indicando que as respostas aqui obtidas se situam, predominantemente, em um cenário recente e marcado por discussões e demandas ainda em vigor nos contextos acadêmicos e profissionais.

Verifica-se também a grande proporção de participantes que buscaram uma atualização profissional no âmbito da psicologia (cerca de 93,5%), indicando a necessidade de constante aperfeiçoamento e atualização na área. Esse dado pode indicar que o campo da psicologia no Brasil exige de suas/seus profissionais uma adaptabilidade às demandas emergentes no país e no mundo, incentivando a busca por conhecimentos atualizados que as(os) capacitem para novos desafios. Contudo, apesar desse aspecto prospectivo de avanço e desenvolvimento que a atualização profissional pode indicar, parte dessa busca por capacitação pode se relacionar, como refere Amendola (2014a)Amendola, M. F. (2014a). Formação em Psicologia, demandas sociais contemporâneas e ética: uma perspectiva. Psicologia: Ciência e Profissão, 34(4), 971-983. http://dx.doi.org/10.1590/1982-370001762013
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, ao fato de as responsabilidades pelas práticas exercidas pelas(os) profissionais de psicologia não recaírem sobre as instituições formadoras, mas sim, sobre as(os) próprias(os) profissionais, que encontram nessas atualizações recursos para atender às demandas do mercado ou preencherem lacunas da formação. Os dados parecem indicar que, à medida em que as(os) profissionais adquirem experiência prática e adentram o mercado de trabalho, passam também a buscar, com mais frequência, uma capacitação específica no campo da psicologia que as(os) habilite para as demandas emergentes.

Comparativamente, parece não haver diferenças significativas quanto à formação profissional das(os) participantes dentre os três grupos delimitados neste estudo. Ou seja, parece que, ao longo do tempo, pouco se modificou em termos do núcleo da formação das(os) profissionais participantes. Assim, ao analisarmos as características gerais dessa formação, observa-se a prevalência absoluta da psicologia clínica nos três grupos elencados, representando sozinha cerca de 54% das respostas emitidas. Além dessa área, outras também tradicionais emergiram como centrais, como a psicologia da saúde/hospitalar, organizacional e do trabalho, social e educacional/escolar, representando, juntamente com a clínica, cerca de 79,5% das respostas emitidas.

A identidade da(o) profissional de psicologia, nos mais variados contextos, atrelada essencialmente a um viés clínico, pode estar intrinsecamente associada aos conhecimentos e referenciais que são empregados na formação profissional. Viu-se que as abordagens teóricas predominantes na formação das(os) participantes ainda se fundam em referenciais clássicos, como a psicanálise e a psicologia comportamental/análise do comportamento, representando juntas cerca de 58,5% das respostas emitidas. Apesar de áreas tradicionais, e tipicamente associadas à representação que se tem sobre a intervenção dessa(e) profissional, há de se considerar o expresso por Rudá et al. (2019Rudá, C., Coutinho, D., & Almeida, N., Filho. (2019). Formação em psicologia: uma análise curricular de cursos de graduação no Brasil. e-Curriculum, 17(2), 419-440. http://dx.doi.org/10.23925/1809-3876.2019v17i2p419-440
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) ao afirmarem que, a despeito dos avanços proporcionados pelas DCNs, não houve significativa mudança na arquitetura acadêmica, mantendo-se inalterada a finalidade da formação ao longo dos anos. Os resultados desta pesquisa indicam que os mesmos referenciais de base e as perspectivas teóricas tradicionais prevaleceram nos três grupos deste estudo. Não é possível saber ao certo se houve mudança estrutural ou se essas perspectivas se alteraram para se ajustar às demandas contemporâneas da psicologia brasileira, mas essa constância também pode indicar um enrijecimento da formação e uma possível dificuldade de adaptação ao cenário nacional.

Apesar disto, algumas mudanças sutis podem ser identificadas, como a utilização de 31 diferentes nomenclaturas para retratar as abordagens empregadas, indicando a variedade teórico-metodológica empregada pelas(os) profissionais. Reiterando o expresso por Antunes (2012Antunes, M. A. M. (2012). A psicologia no Brasil: um ensaio sobre suas contradições. Psicologia: Ciência e Profissão , 32(spe.), 44-65. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932012000500005
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), essa diversidade se mostra como uma característica da própria psicologia no país, que permite mudanças e saltos de qualidade na área. Além disso, observa-se o aumento de relatos de formação profissional generalista, indicando que possivelmente as normativas previstas pelas DCNs estão repercutindo na graduação em psicologia, alterando o alvo da formação, antes direcionada a abordagens ou campos específicos, sendo agora mais voltada para o desenvolvimento de habilidades, competências e conhecimentos típicos da(o) profissional de psicologia.

Por outro lado, se essa variedade pode retratar avanços e significativas mudanças na área, a depender do modo como é ensinada ou assimilada pelas(os) estudantes, pode também caracterizar mais segmentação, dificultando a conexão integrada com a realidade profissional e social. Recente levantamento da literatura sobre a identidade da(o) profissional de psicologia no Brasil (Piasson & Freitas, 2020Piasson, D. L., & Freitas, M. H. (2020). A identidade do psicólogo brasileiro: Produções de 2008 a 2019. Boletim - Academia Paulista de Psicologia, 40(99), 271-284. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1415-711X2020000200011
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) constatou haver confusões, em diferentes públicos - estudantes, usuários de serviços, equipe multidisciplinar e as(os) próprias(os) psicólogas(os) - quanto ao papel dessa(e) profissional, que se iniciam na própria formação e repercutem, posteriormente, na sua constituição identitária.

Considerando que este estudo não tem como intuito principal propor novos modelos explicativos ou caracterizar, de forma definitiva ou estrutural, a representação social em torno da identidade do psicólogo brasileiro, mas sim explorar algumas características e concepções que advêm da própria classe sobre o assunto, é possível elaborar uma síntese dos principais resultados obtidos, organizando-os em termos de seu pertencimento ao sistema central ou periférico associado à identidade profissional explanada. Essa síntese fica representada na Figura 4, retratando-se os aspectos centrais e periféricos associados à concepção dos profissionais sobre a identidade da(o) profissional de psicologia e considerando-se a identidade profissional como permeada por objetivos, objetos, habilidades e práticas tidas como específicas desse campo de atuação.

Figura 4
Aspetos centrais e periféricos associados à identidade profissional das(os) participantes.

A concepção de objetivo central da psicologia estar associada ao ato de ajudar as pessoas ou à mudança do comportamento já é algo reiterado pela literatura (Magalhães, Straliotto, Keller, & Gomes, 2001Magalhães, M., Straliotto, M., Keller, M., & Gomes, W. B. (2001). Eu quero ajudar as pessoas: A escolha vocacional da psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão , 21(2), 10-27. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932001000200003
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; Ziliotto, Benvenutti, Matiello, & Peil, 2014Ziliotto, D. M., Benvenutti, J., Matiello, M., & Peil, S. (2014). Concepções e expectativas de estudantes de psicologia sobre sua futura profissão. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 7(1), 82-92. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/gerais/v7n1/v7n1a08.pdf
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). Isso fica evidenciado nos relatos das(os) participantes de forma reiterada (vide Figura 2), vinculando-os à saúde mental. Assim, também na Classe 2 da Figura 3, é possível identificar, por exemplo, que as atividades descritas como objetivos da psicologia se ramificam da palavra “saúde mental”, indicando que eles apresentam como enfoque geral a manutenção da saúde mental das pessoas que se encontram em sofrimento psíquico. Para que tais objetivos sejam cumpridos, as(os) participantes relatam se ancorar especialmente nas habilidades de escuta e empatia, o que se evidencia na alta prevalência dessas palavras no corpus textual (vide Figura 1) e na sua centralidade e recorrência na Classe 3 (vide Figura 2). Essas habilidades são desempenhadas, em geral, por meio de intervenções tidas como próprias dessa(e) profissional, como a psicoterapia, a avaliação psicológica e o psicodiagnóstico, conforme indica a centralidade de tais aspectos na Classe 4 da Figura 2.

Por meio das respostas dos participantes é possível identificar que tais características se vinculam, de forma preponderante, à clínica psicológica. Quando questionados a respeito do perfil do profissional de psicologia no Brasil, as(os) participantes relatam um perfil ainda muito clínico (vide Figura 2), sendo possível constatar também que as intervenções citadas como próprias desse profissional culminam na prática clínica (vide Figura 3). Considerando que o núcleo central de uma representação social aglutina aqueles elementos essenciais que permitem sua caracterização e compartilhamento (Andrade, 1995Andrade, M. A. A. (1995). A identidade como representação social. Política & Trabalho, 11, 63-73. https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/politicaetrabalho/article/view/6370
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), proporcionando união e estabilidade à representação (Abric, 2001Abric, J. C. (2001). O estudo experimental das representações sociais. In D. Jodelet (Ed.), As representações sociais (pp. 155-171). EdUERJ.), é possível inferir que a perspectiva clínica se apresenta como elemento central que agrega e vincula os objetivos, objetos, habilidades e práticas reconhecidas pelos participantes como próprios da(o) profissional de psicologia.

Após abordarmos esses aspectos centrais da representação, destacam-se aqui os elementos periféricos constituintes. Considerando que o sistema periférico em uma representação tem como funções principais a adaptação à realidade concreta, a diferenciação do conteúdo e a proteção do sistema central (Abric, 1994aAbric, J. C. (1994a). L’organisation interne des représentations sociales: système central etsystème périphérique. In C. Guimelle (Ed.), Structures et transformations desreprésentations sociales (pp. 73-84). Delachaux et Niestlé.), por meio da amostra analisada é possível conceber que tais aspectos são abarcados por meio da adaptação ao mercado de trabalho, do conhecimento científico, do compromisso social da profissão, das demandas sociais emergentes e da ética profissional.

Uma análise possível é de que a adaptação ao mercado de trabalho e às demandas sociais emergentes é possível graças a aspectos flexíveis e evolutivos, exigindo um constante aperfeiçoamento e adaptabilidade por parte das(os) profissionais, favorecendo o suporte às contradições existentes dentro da mesma classe profissional e impulsionando-as(os) à abertura do novo e imprevisível. Nessa direção, considerando que tais fatores poderiam estimular a adaptação ao contexto social, favorecendo a assimilação de elementos atuais aos centrais mais estáveis (Abric, 1994bAbric, J. C. (1994b). Pratiques sociales et representations. Presses Universitaires de France.), podemos inferir que assumiriam uma função de regulação da representação. O conhecimento científico se configura de forma semelhante, podendo evidenciar-se como uma base segura que sustenta as práticas emergentes e a expansão do campo, permitindo que esse núcleo se desenvolva em diferentes campos de atuação, adaptando-se à realidade concreta vivenciada.

Já a ética profissional e o compromisso social podem ser aspectos que cumprem funções tanto de regulação quanto de defesa desse sistema central. Considerando que a regulação é o processo de adaptação ao contexto que integra novos elementos e que a defesa é o processo que integra elementos individuais e subjetivos ao núcleo mais denso, protegendo-o e constituindo-o (Abric, 1994bAbric, J. C. (1994a). L’organisation interne des représentations sociales: système central etsystème périphérique. In C. Guimelle (Ed.), Structures et transformations desreprésentations sociales (pp. 73-84). Delachaux et Niestlé.), podemos supor que, por meio da ética profissional e do compromisso social, os elementos centrais são constituídos e validados em diferentes cenários profissionais, regulando a assimilação e a identificação de diferentes aspectos nucleares associados à identidade profissional. Por meio da análise da Classe 3, Figura 3, é possível inferir, pela própria disposição e inter-relação das palavras, que a ética se apresenta como elemento que vincula as habilidades próprias da(o) profissional de psicologia - em especial a empatia e a escuta - ao conhecimento científico, permeando uma atuação baseada na ciência psicológica e que se atualiza em decorrência dos seus avanços.

Em direção semelhante, Amendola (2014b)Amendola, M.F. (2014b). História da construção do código de ética profissional do psicólogo. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 14(2), 660-685. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812014000200016
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sustenta que o próprio Código de Ética Profissional do Psicólogo pode se configurar como coadjuvante na constituição identitária do profissional de psicologia, favorecendo a noção de pertencimento e legitimando a psicologia perante a sociedade. Justamente por voltar-se ao social, em um movimento dialético, esses dois elementos periféricos citados anteriormente podem permitir a manutenção da representação que se tem em torno do tema, realizando as atualizações necessárias à permanência do núcleo, mesmo com os avanços e novidades que se apresentam.

Nesse sentido, os elementos periféricos mencionados poderiam facilitar o processo de ancoragem da representação, transformando o estranho em familiar por meio da aproximação de constructos já existentes (Sá, 1995Sá, C. P. (1995). Representações sociais: O conceito e o estado atual da teoria. In M. J. Spink (Ed.), O conhecimento no cotidiano: As representações sociais na perspectiva da Psicologia Social (pp. 19-45). Brasiliense.). Desse modo, é possível inferir que tais elementos poderiam aproximar as novas demandas emergentes na psicologia às tradicionais, facilitando sua compreensão e assimilação por parte das(os) próprias(os) profissionais e de quem interage com eles. Ao mesmo tempo, tais elementos também podem ser responsáveis pelas confusões que emergem a respeito da atuação clínica da(o) profissional de psicologia em contextos diversos. É como se, por mais que esses elementos centrais sejam tão fortes e arraigados à representação da identidade do profissional, mesmo com tentativas de aproximação das demandas sociais e de mercado emergentes por parte desses elementos periféricos, os psicólogos e psicólogas realizassem algumas adaptações para continuarem a se reconhecer como pertencentes à categoria em um cenário atípico, recorrendo aos elementos centrais que caracterizam a representação da profissão.

De tal modo, reitera-se a necessidade apontada por Amendola (2014a)Amendola, M. F. (2014a). Formação em Psicologia, demandas sociais contemporâneas e ética: uma perspectiva. Psicologia: Ciência e Profissão, 34(4), 971-983. http://dx.doi.org/10.1590/1982-370001762013
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de a psicologia assumir seu papel como ciência comprometida com o social e preparar suas/seus profissionais para atuarem frente aos mais diversos cenários, realizando um diálogo teórico e epistemológico necessário para construir a ponte de ligação entre a teoria e a prática profissional. Aliás, os resultados desta pesquisa apontaram para a existência de uma negativa em relação à formação ainda muito clínica do profissional de psicologia no Brasil (e.g. Classe 1 da Figura 2), ratificando, por meio da resposta das(os) próprias(os) participantes, a necessidade de a psicologia se voltar às nuances e demandas do cenário nacional e preparar seus profissionais para adentrar os diversos cenários de atuação de forma eficaz e comprometida.

Conclusão

Considera-se que o objetivo geral deste estudo foi atingido, tornando possível conhecer as concepções de um conjunto de profissionais de psicologia sobre aspectos da identidade da categoria e especificidade da intervenção psicológica no Brasil, em interface com algumas influências da formação profissional. De fato, este estudo não teve como objetivo esgotar a discussão em torno do assunto, muito menos traçar um perfil definitivo da profissão no país, mas sim realizar uma exploração inicial que permita alcançar novos olhares atentos à questão para um aprofundamento necessário.

Os dados obtidos permitem reconhecer que as(os) profissionais participantes reconhecem a identidade da categoria muito associada ao modelo clínico de intervenção, tendo como enfoque principal o cuidado frente ao adoecimento mental. Contudo, fica evidente um movimento da categoria em assimilar, em sua identidade profissional, o compromisso com intervenções que abarquem demandas mais sociais e inclusivas, em consonância com necessidades típicas do cenário brasileiro. Apesar de ainda prevalecerem modelos tradicionais, que muitas vezes reproduzem formação deficitária e sem diálogo com a realidade do país, evidencia-se o esforço das(os) profissionais em buscarem se capacitar para além da formação básica. Tal movimento reflete o compromisso das(os) profissionais em, apesar das limitações constituintes, buscarem responder à altura as demandas que lhes são apresentadas. Todavia, é veemente a necessidade de analisarmos as relações entre a formação profissional em psicologia e a identidade profissional, permitindo compreender suas interlocuções e favorecendo o desenvolvimento do campo de forma integrada com as expectativas sociais quanto à profissão.

Como parte integrante do processo de pesquisa, reconhece-se possíveis limitações deste estudo. O uso de um questionário virtual limita a expressão aberta do participante sobre o tema abordado, restringindo a possibilidade de aprofundamento nas respostas fornecidas. Futuras pesquisas poderiam aprofundar a concepção das(os) profissionais a partir de entrevistas abertas, permitindo explorar nuances da fala que um questionário não permite. Além disso, como este estudo optou pela concepção da representação da classe de profissionais de psicologia e não propriamente da identidade do indivíduo, as perguntas visavam identificar como as(os) participantes compreendem e concebem a identidade da categoria e não essencialmente sua própria, apesar de se configurarem como elementos complementares e inter-relacionados no aporte teórico empregado. Considerando a multideterminação da identidade profissional, novos estudos poderiam investigar outros constructos para além dos aqui tratados, e.g., quais fatores ainda favorecem a manutenção da identidade profissional associada aos moldes tradicionais na psicologia em detrimento das demandas sociais, identificando como tais elementos se associam à representação social da profissão em termos de seus sistemas centrais e periféricos.

Por outro lado, a distribuição das(os) participantes em três grupos, tendo como parâmetro o tempo de formadas(os), e a respectiva correspondência genérica desse período de formação com as diretrizes curriculares em psicologia vigentes à época, não foi rigorosamente controlada. Isso só seria possível caso nos dados demográficos fossem contempladas outras informações mais detalhadas, como por exemplo, data de início de final do curso de graduação em psicologia. Entretanto, mesmo com essas limitações, e considerando que a pesquisa aqui desenvolvida se configura, em essência, como de cunho exploratório, por meio da amostra estudada foi possível ilustrar um panorama geral do modo como a identidade profissional tem sido apreendida pela classe de profissionais de psicologia. Todavia, buscando maior representatividade, estudos futuros poderiam abarcar um número maior de profissionais. Sugere-se também a busca de uma maior articulação com o Sistema Conselhos para a divulgação e implementação de novos estudos. O formulário aqui empregado permitiu abarcar um número maior de profissionais. Porém, participaram dela, possivelmente, aqueles que se afeiçoam à temática. Uma melhor articulação com os Conselhos poderia favorecer a abrangência de outros profissionais devido à credibilidade e importância que essas autarquias dispõem perante a classe.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    27 Abr 2022
  • Aceito
    27 Abr 2022
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