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A COBERTURA TELEVISIVA SOBRE ATLETAS TRANSGÊNERO: O CASO DO ESPORTE ESPETACULAR

COBERTURA TELEVISIVA DE DEPORTISTAS TRANSGÉNERO: EL CASO DEL ESPORTE ESPETACULAR

Resumo

Hoje em dia, o cenário esportivo, sobretudo retratado pelas mídias, vem apresentando novas perspectivas em relação às práticas atlético-esportivas LGBTI+. O objetivo desta pesquisa foi analisar a cobertura televisiva sobre a participação de atletas trans no esporte, com base no programa Esporte Espetacular. Metodologicamente, a pesquisa caracteriza-se como qualitativa e exploratória, utilizando a etnografia de tela como ferramenta de produção dos dados. Foram analisadas 4 reportagens produzidas de 2017 a 2019, totalizando aproximadamente 35 minutos. Os achados permitem inferir que todas as narrativas televisivas apresentam equívocos conceituais e uma abordagem que tende ao sensacionalismo, além de enfocarem um tipo específico de identidade transgênero, no discurso biomédico da vantagem e da testosterona e de episódios de negação, constrangimento e não-reconhecimento do corpo trans no Esporte.

Palavras-chave:
Esportes; Mídia Audiovisual; Pessoas Transgênero.

Resumen

En la actualidad, el escenario deportivo, el escenario deportivo, tal como es retratado por los medios de comunicación, presenta nuevas perspectivas con respecto a las prácticas atlético-deportivas LGBTI+. El objetivo de esta investigación fue analizar la cobertura televisiva sobre la participación de atletas trans en el deporte, basándose en el programa "Esporte Espetacular". La metodología empleada en esta investigación se caracteriza como cualitativa y exploratoria, y utiliza la Etnografía de Pantalla como herramienta para la producción de datos.. Se analizaron 4 reportajes, producidos desde 2017 hasta 2019, con una duración total de aproximadamente 35 minutos. Los hallazgos sugieren que todas las narrativas televisivas analizadas presentan errores conceptuales y muestran un enfoque que tiende hacia el sensacionalismo, centrándose en un tipo particular de identidad transgénero, en el discurso biomédico de la ventaja y la testosterona, así como en episodios de negación, vergüenza y no reconocimiento del cuerpo trans en el deporte.

Palabras clave:
Deportes; Medios Audiovisuales; Personas Transgénero.

Abstract

Nowadays, the sports scenario, particularly portrayed by the media, is presenting new perspectives regarding LGBTI+ athletic-sport practices. The objective of this research was to analyze television coverage of the participation of transgender athletes in sports, based on the program "Esporte Espetacular". Methodologically, the research is characterized as qualitative and exploratory, using screen ethnography as a data production tool. Four reports produced from 2017 to 2019 were analyzed, totaling approximately 35 minutes. The findings allow us to infer that all episodes’ narratives present conceptual mistakes and an approach that tends towards sensationalism, focusing on a particular type of transgender identity, on the biomedical discourse of advantage and testosterone, as well as instances of denial, embarrassment, and non-recognition of the transgender body in sports.

Keywords:
Sports; Video-Audio Media; Transgender Persons.

1 INTRODUÇÃO

A população transgênero1 1 Iremos operar ora com “transgênero”, ora com “trans”, para sinalizar uma identidade que perturba as normas cisheteronormativas de gênero, marcando, cruzando e retornando por entre fronteiras e ampliando as inúmeras formas de se compreender as identidades de gênero não-cis. historicamente tem lutado por direitos civis básicos como o direito ao nome, ao respeito à sua identidade e à inclusão social (SILVA, 2019SILVA, Maria Eduarda Aguiar da. A divisão no esporte deve ser separada por sexo ou gênero. Revista Docência e Cibercultura, v. 3, n. 1, p. 236-249, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.12957/redoc.2019.39707
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). A luta pelos seus direitos revela que, a cada dia, exacerba-se mais a exclusão desse público da sociedade brasileira, que apresenta altos índices de violência direcionados a comunidade LGBTI+2 2 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, Intersexo e mais. A sigla é sugerida pela Aliança Nacional LGBTI+ para aglutinar todas as identidades de gênero e orientação sexual divergentes da cisheteronormatividade. (BENEVIDES, 2022BENEVIDES, Bruna G. Dossiê assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2021. Brasília: Distrito Drag, ANTRA, 2022. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2022/01/dossieantra2022-web.pdf. Acesso em: 26 jan. 2023.
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; GGB, 2023GGB - GRUPO GAY DA BAHIA. Mortes violentas de LGBT+ Brasil: Observatório do Grupo Gay da Bahia 2022. 2023. Disponível em https://cedoc.grupodignidade.org.br/2023/01/19/mortes-violentas-de-lgbt-brasil-observatorio-do-grupo-gay-da-bahia-2022/. Acesso em 26 jan. 2023.
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).

Como possibilidade de inclusão social, há de se ressaltar que o Esporte é compreendido como um importante fenômeno promotor de inclusão, potencializador de habilidades físicas, mentais e sociais, além da promoção de habilidades de indivíduos e grupos. O Esporte é tido como um fenômeno de manifestação social da população e difundido por entre muitas de suas modalidades ao longo da história (MELO; FORTES, 2010MELO, Victor Andrade de; FORTES, Rafael. História do esporte: panorama e perspectivas. Fronteiras, v. 12, n. 22, p. 11-35, 2010. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/1180. Acesso em: 28 ago. 2023.
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), sendo o acesso a ele tratado como um direito de todos/as cidadãos brasileiros/as, garantido por lei na Constituição Federal, e com status prioritário de direitos humanos a cenário internacional (MACHADO; TURATTI JUNIOR, 2018MACHADO, Edinilson Donisete; TURATTI JUNIOR, Marco Antonio. O papel do estado na inclusão de atletas transexuais no esporte à luz da teoria do reconhecimento social. Revista de Gênero, Sexualidade e Direito, v. 4, n. 1, p. 22-42, jan./jun. 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.26668/2525-9849/index_law_journals/2018.v4i1.4038
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).

Neste interim, a participação de pessoas transgênero como atletas incluídas nas competições esportivas tem importância simbólica na representação desses/as sujeitos/as incorporados/as ao ambiente social, uma vez que esses espaços podem ser interpretados como inclusivos e possíveis para o processo de socialização e visibilidade deste público, embora nem sempre seja contemplado (COELHO; MOURÃO, 2018COELHO, Fernanda Dias; MOURÃO, Ludmila. As (trans)formações das representações sociais de gênero no esporte. In: SEMINÁRIO CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE, 7, 2018, Porto Alegre. Anais... Rio Grande: FURG, 2018. Disponível em: https://7seminario.furg.br/images/arquivo/131.pdf. Acesso em: 20 jul. 2021.
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; PEREIRA; GARCIA; PEDROSA, 2020PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa; GARCIA, Rafael Marques; PEDROSA, Gabriel Frazão Silva. Análise bibliométrica sobre atletas transgênero no esporte. Gênero, v. 21, n. 1, p. 112-138, 2020. DOI: https://doi.org/10.22409/rg.v21i1.46609
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).

No entanto, há uma inclinação de entidades internacionais à temática, inclusive do Comitê Olímpico Internacional (COI), que estimula o desenvolvimento de novas políticas para a inclusão e promoção das diferenças no Esporte, tais como as recomendações de 2015 e 2021 sobre hiperandrogenismo, transgeneridade, inclusão e justiça em competições esportivas chanceladas pelo referido comitê.

Nas mídias, esse tema vem sendo apresentado por fatos e eventos que postulam novas perspectivas em relação às práticas atléticas e esportivas, como por exemplo, a atuação de Tifanny Abreu na Superliga Brasileira de Voleibol e a primeira participação transgênero nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, da halterofilista neozelandesa Laurel Hubbard. Além disso, já é perceptível uma maior atenção às narrativas trans do que nos anos anteriores, muito embora algumas abordagens ainda sejam inadequadas ou conceitualmente não apropriadas (LOVE, 2019LOVE, Adam. Media framing of transgender athletes: contradictions and paradoxes in coverage of MMA fighter Fallon Fox. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 207-226.).

A repercussão de abordagens midiáticas sobre atletas trans já foi motivo de investigação por Grespan e Goellnner (2014), Chaves (2019)CHAVES, Paula Nunes. Corpos queer no esporte: uma leitura a partir de Game Face. In: PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa; SILVA, Alan Camargo (org.). Educação Física, Esporte e Queer: sexualidades em movimento. Curitiba/PR: Appris, 2019. p. 129-152. e Love (2019)LOVE, Adam. Media framing of transgender athletes: contradictions and paradoxes in coverage of MMA fighter Fallon Fox. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 207-226., a respeito de Fallon Fox, e Garcia e Pereira (2020)GARCIA, Rafael Marques; PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa. A opinião de atletas e treinadores de voleibol sobre a participação de mulheres trans. Movimento, v. 26, p. e26068, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.101993
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e Nascimento (2020)NASCIMENTO, Rodrigo Henrique de Jesus. Transexualidade e esporte: uma análise dos discursos midiáticos jornalísticos. 95f. 2020. Dissertação (Mestrado em Tecnologia e Sociedade) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba/PR, 2020., acerca de Tifanny Abreu. Esses estudos, realizados com ênfase em mídias virtuais, apontam a predominância de uma linguagem que enfatiza a primazia do gênero conforme atribuído no nascimento, em que a narrativa da mídia acaba por reforçar a identidade trans como marginal e patológica. Além disso, os comentários tecidos em reportagens e por internautas estabelecem um quadro de comparação entre o antes e depois da transição que, por vezes, não ilustra, adequadamente, os efeitos do processo de hormonização cruzada, além de ratificar o binarismo de gênero.

Todavia, por mais que estejamos imersos/as nas redes digitais, com uma crescente na produção de conteúdos e informações pelas mídias virtuais, pesquisa recente divulgada pela Kantar IBOPE Media3 3 Divisão latino-americana da Kantar Media, líder global em inteligência de mídia e maior grupo de publicidade mundial. Sua principal especialidade é auferir a audiência televisiva, além de realizar pesquisas de comunicação, mídia e consumo. Para mais informações, vide https://kantaribopemedia.com/brazil/. em 2022 revela que a televisão continua tendo maior alcance de público no território brasileiro, atingindo 93% da população, permanecendo como lugar de referência do público expectador. Lolla, Martinelli e Pasquim (2010)LOLLA, Daiane Machado; MARTINELLI, Kátia Mirella Amadeu; PASQUIM, Roberta Cristina. A televisão como veículo de informação: uma linguagem de imagens e sons. 45f. 2010. Monografia (Graduação em Letras) - Centro Universitário Católico Salesiano, Lins/SP, 2010. tecem uma análise crítica da televisão, demonstrando que, geralmente, ela desempenha um papel potencialmente influenciador na vida do/a telespectador/a. As personagens de vários programas tendem a influenciar os/as espectadores/as, através de uma linguagem popular e de fácil acesso. Segundo as autoras, a televisão se faz extremamente relevante à medida em que é capaz de transmitir informações e formar sujeitos.

Com relação ao tratamento da mídia apresentado às temáticas LGBTI+ de modo geral, percebe-se um aumento na abordagem de reportagens sobre tal, porém internamente as discussões sobre as transgeneridades ainda estão aquém se comparadas às identidades "lésbica" e '"gay" (BILLARD, 2016BILLARD, Thomas J. Writing in the margins: Mainstream news media representations of transgenderism. International Journal of Communication, v. 10, p. 4193-4218, ago. 2016. Disponível em: https://ijoc.org/index.php/ijoc/article/view/3461. Acesso em: 28 ago, 2023.
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). Cientes disso, o objetivo principal deste estudo foi analisar a cobertura televisiva sobre a participação de atletas trans no Esporte. Para nortear a pesquisa, emerge a seguinte pergunta: como é tratada a participação de atletas trans na televisão esportiva brasileira?

Inclinaremos nossa atenção ao programa tele-esportivo intitulado Esporte Espetacular (EE), conhecido como um informativo semanal que contextualiza o Esporte com o meio social. É exibido nas manhãs de domingo pela Rede Globo de Televisão desde 1973, com uma proposta de divulgar a espetacularização esportiva e divulgação de demais modalidades pouco difundidas na mídia, além de abordar com mais profundidade determinados acontecimentos no cenário das práticas corporais institucionalizadas que pudessem influenciar no meio do/a telespectador/a (SOUZA, 2006SOUZA, Flaviana de Cerqueira. Função social do jornalismo esportivo: uma análise dos programas Globo Esporte e Esporte Espetacular. 48f. 2006. Monografia (Graduação em Comunicação Social) - Centro Universitário de Brasília, Brasília/DF, 2006.).

2 METODOLOGIA

Este estudo se caracteriza como sendo qualitativo de Minayo (2013)MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2013. e exploratório de Gil (2002)GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002., utilizando a Etnografia de Tela (RIAL, 1995RIAL, Carmen Sílvia. Por uma antropologia do visual contemporâneo. Horizontes Antropológicos, ano 1, n. 2, p. 119-128, jul./set. 1995.) como ferramenta produção dos dados. O percurso metodológico baseou-se sob a perspectiva de uma Etnografia de Tela que, segundo Balestrin (2013)BALESTRIN, Patrícia Abel. Le fate ignoranti: a sexualidade levada a sério. Bagoas, v. 7, n. 10, p. 73-89, dez. 2013. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/5376. Acesso em: 28 ago. 2023.
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, experencia-se por entre o uso de imagens em movimento, como as do cinema e televisão, como telas a serem etnografadas, permitindo a partir de um recurso metodológico, articular os estudos de gênero e de sexualidade numa perspectiva pós-estruturalista.

A perspectiva pós-estruturalista é uma abordagem teórica que questiona e critica as estruturas de poder, e as noções fixas de identidade e conhecimento. Ela surge a partir da influência de filósofos como Michel Foucault, Jacques Derrida e Judith Butler, considerando que as estruturas sociais e as identidades são construídas através de relações de poder e de linguagem. Esta perspectiva é importante para desafiar noções fixas de identidade, questionar as estruturas de poder e incentivar a reflexão sobre como as categorias sociais e as relações de poder influenciam as nossas vidas (WILLIAMS, 2012WILLIAMS, James. Pós-estruturalismo. Petrópolis: Vozes, 2012.).

Para produzir nossos dados, realizamos um percurso etnográfico sobre a tela com um maior investimento de tempo no olhar de diversos ângulos, para que assim fosse percebida a estratégia de discurso adotada no objeto, e a possibilidade de se apresentar e constituir o que se denomina realidade (BALESTRIN, 2013BALESTRIN, Patrícia Abel. Le fate ignoranti: a sexualidade levada a sério. Bagoas, v. 7, n. 10, p. 73-89, dez. 2013. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/5376. Acesso em: 28 ago. 2023.
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). Utilizamos a plataforma de streaming GloboPlay, pelo fácil acesso à comunicação para visualização das gravações das reportagens. Nas buscas, utilizamos o critérios de inclusão: gravações exibidas de 2015 a 2021 que abordassem a temática “transgênero e Esporte”. Os critérios de exclusão foram relacionados à indisponibilidade de acesso aos vídeos. Após a filtragem, foram enquadradas e analisadas 4 reportagens.

Para análise, tomamos os seguintes passos: a) um longo período de contato com a tela; b) uma observação sistemática e variada (assistir ao programa de diferentes modos, sem interrupção, com pausa para anotações e extras); c) registro em caderno de campo (tanto da descrição das cenas televisivas, como questões que podem vir a ser pertinentes para posterior análise e discussão). Posteriormente, foram selecionadas/transcritas as passagens por conveniência, apresentadas no programa televisivo que contava com produção e apresentação de conteúdo exibidos em canal aberto, facilitando o acesso democrático do/a telespectador/a.

Depois de transcritas as reportagens, organizamo-los através de cenas. Para além da transcrição das falas, organizamos no caderno de campo os elementos icônicos que contém em cada cena, além de todas as impressões que decorreram desta análise, tais como as vestimentas das personagens, o comportamento perante as filmagens, o cenário no entorno e suas devidas impressões. O quadro 1 (abaixo) resume o processo:

Quadro 1
Reportagens do Esporte Espetacular que abordam “Transgênero e Esporte”

Os resultados e sua devida discussão foram interligados no que nomeamos “points” ou subseções, que evidenciaram determinados pontos em comum encontrados ao longo do estudo. São apresentadas quatro subseções (points), cada uma contendo cenas oriundas do caderno de campo. Embora tenhamos analisado um número muito maior de cenas, realizamos uma filtragem para trazer aqui aquelas que mais se destacaram, apresentando, por conseguinte, uma discussão acerca da temática que retrate a cena.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, gostaríamos de refletir sobre os títulos das reportagens, uma vez que fazem parte do conteúdo ao enunciá-lo e direcionam o público a uma espécie de entendimento8 8 Cabe ressaltar que não houve presença de jornalistas trans conduzindo as reportagens; todos/as eram cis. Embora tenhamos identificado aspectos positivos na tentativa de retratar as narrativas, como dar protagonismo e voz às/aos atletas transgênero apresentados, este trabalho foca-se, sobretudo, nas entrelinhas do discurso e de como tais narrativas foram processadas para apresentação ao público. . Em “EE1: Jogadoras de vôlei que nasceram homens superam preconceitos e se estabelecem”, destaca-se o equívoco da produção em registrar que as atletas nasceram homens, quando na verdade a designação de uma identidade é atribuída socioculturalmente de acordo com marcadores específicos de dado grupo ou sociedade (WILLIAMS, 2012WILLIAMS, James. Pós-estruturalismo. Petrópolis: Vozes, 2012.). A falha representa um severo equívoco ao representar a discussão em tela, pois reforça discursos biologizantes que podem, em maior grau, justificar exclusões ou preconceitos.

Em “EE2: Polêmica - primeira atleta transgênero do torneio divide opiniões no esporte”, ao utilizarem a terminologia da palavra polêmico, os/as repórteres contribuem e estabelecem comprometimento com a surpresa, juntamente com o drama, a provocação e o interesse humano como forma de conquistar grandes números de audiências (COELHO; SILVA, 2018COELHO, Pedro; SILVA, Marisa Torres da. O lucro social e financeiro do jornalismo de investigação. Media & Jornalismo, v. 18, n. 32, p. 73-94, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.14195/2183-5462_32_6
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), beirando a um chamamento sensacionalista.

Em “EE3: A atleta transexual Andraya Yearwood luta pelo direito de disputar provas de atletismo” temos o único enunciado que identifica uma atleta, conferindo-lhe destaque no chamamento da reportagem, porém, conforme veremos adiante, denota-se o marcador da transgeneridade para situar Andraya como pessoa transgênero, de modo a categorizá-la à luz do sistema médico-legal e, intrinsicamente, entendê-la como transgressora.

Em “EE4: Homens trans competem em igualdade com outros homens”, a estruturação do enunciado remonta-nos questionamentos acerca do significado de “outros homens”. (In)voluntariamente, o título já demarca condições “outras” que estimulam um olhar de estranhamento, uma vez que “homens trans” divergem de “outros homens”, e o dúbio sentido se traduz em estigma àqueles que, assim como em EE3, seriam os transgressores.

Dito isso, podemos dizer que os títulos apresentam equívocos e reforçam confusões conceituais, fortalecem estigmas e contribuem para criar, inicialmente, certo viés ao/à telespectador/a, além de consolidar o binarismo de gênero e demarcar aqueles/as que seriam transgressores/as e, portanto, perturbadores/as ao que se entende como Esporte convencional.

3.1 POINT 01 - REPRESENTATIVIDADE/PASSABILIDADE

Nesta subseção, será discutida a capacidade de passabilidade e representatividade das pessoas transgênero perante o contexto social, seja ele no campo esportivo ou não. Para tanto, faz-se necessário apontar que, em termos de representação midiática, já existe um enquadramento tradicionalmente proeminente sobre pessoas trans envolvendo patologização, marginalização e disciplinamento da identidade transgênero com a inconformidade de gênero (LOVE, 2019LOVE, Adam. Media framing of transgender athletes: contradictions and paradoxes in coverage of MMA fighter Fallon Fox. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 207-226.). Ao discutirmos sobre passabilidade, salientaremos uma performatividade de gênero, um conjunto de atos regulados e repetidos que reafirmam uma imagem substancial de gênero perante uma fonte cisheteronormativa (PONTES; SILVA, 2018PONTES, Júlia Clara de; SILVA, Cristiane Gonçalves da. Cisnormatividade e passabilidade: deslocamentos e diferenças nas narrativas de pessoas trans. Revista Periódicus, v. 1, n. 8, p. 396-417, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.9771/peri.v1i8.23211
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).

“A pedido de Isabelle [atleta mulher trans], evitamos a exibição de fotos e vídeos antigos” [Repórter homem cis narra filmagem com imagens de Isabelle].

Fonte: Caderno de Campo - EE1-C12 (Autoria, 2021)

“Assim como Isabelle, a Tifanny também pediu que evitássemos o uso de fotos e vídeos antigos na reportagem” [Repórter homem cis narra filmagem com imagens de Tifanny].

Fonte: Caderno de Campo - EE1-C17 (Autoria, 2021)

Ao mostrar a Isabelle [atleta trans] em quadra e a Tifanny em um momento de beleza, ao se maquiar e se vendo no espelho, o repórter narra que Tifanny, a inspiração de Isabelle, passa por cima das desconfianças e gosta muito, do que hoje, ela vê no espelho.

Fonte: Caderno de Campo - EE1-C39 (Autoria, 2021)

Ao tratarmos da representatividade, Carvalho (2021)CARVALHO, Deivid Nascimento de. Representatividade no relato de si e reconhecimento do outro: transativismo e humanização multimídia transmasculina. Revista Sociologias Plurais, v. 7, n. 3, p. 352-374, jul. 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/sclplr.v7i3.82261
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chama a atenção para o fato de que ela surge como uma manifestação de que pessoas trans são capazes de falar sobre si, bem como, são capazes para, e devem ocupar espaços cujo direito lhes é assegurado, por sua vez, permeiam caminhos para que outras pessoas transgêneros sigam conquistando seus locais de fala. Principalmente, reconstruindo suas histórias ao desconfigurar a subalternidade que há muito lhes é imposta. Quando em (EE1-C12) e (EE1-C17) são requeridos pedidos para que não sejam transmitidas imagens que não condizem ao atual corpo das atletas, têm-se uma relação com o fato de que em se tratando de mulheres trans, a busca por um determinado estilo é motivada pelo desejo de ser aceita socialmente como mulher e/ou de ser reconhecida pelos familiares como tal. Isso as motiva a procurar formas de personificação do corpo feminino. Essa busca visa não somente o alcance da condição de mulher trans, mas o máximo possível de características consideradas por elas como femininas (SERRANO; CAMINHA; GOMES, 2019SERRANO, Jessica Leite; CAMINHA, Iraquitan de Oliveira; GOMES, Isabelle Sena. Homens trans e atividade física: a construção do corpo masculino. Movimento, v. 25, p. e25007, 2019. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.83494
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).

Quando destacado na (EE1-C39), sobre o que Tifanny vê no espelho, corrobora-se ao entendimento de que Barros, Lemos e Ambiel (2019)BARROS, Leonardo de Oliveira; LEMOS, Carolina Rodrigues Bueno; AMBIEL, Rodolfo Augusto Matteo. Qualidade de vida e satisfação com a imagem corporal de transexuais. Arquivos Brasileiro de Psicologia, v. 71, n. 1, p. 184-195, 2019. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672019000100014&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 28 ago. 2023.
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levantam sobre as alterações da imagem corporal como decisivas para a feminilidade e autoestima, influenciando na qualidade de vida, já que as alterações estéticas podem contribuir significativamente para a promoção de saúde e qualidade de vida deste segmento populacional.

Para Álvaro e Garrido (2007)ÁLVARO, José Luis; GARRIDO, Alicia. Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill, 2007., o grau de sensação de pertencimento de um/a sujeito/a em um determinado grupo influenciará a visão que ele/a tem de si, dos/as outros/as e de como será seu papel perceptível perante a sociedade que lhe observa, contribuindo para a sensação de pertencimento de determinados grupos sociais. O suporte social, a autoaceitação e a integração deste segmento populacional podem contribuir para amenizar os prejuízos psiquiátricos vivenciados pelas minorias de poder. Uma comunidade de pares admite um meio social no qual a identidade variante não se torne estigmatizada, onde a autoavaliação geralmente tende a ocorrer em comparação com outros/as, e não com membros da cultura majoritária (BOCKTING et al., 2013BOCKTING, Walter O. et al. Stigma, mental health, and resilience in an online sample of the us transgender population. American Journal of Public Health, v. 103, n. 5, p. 943-951, May 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2013.301241
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; MEYER, 2003MEYER, Ilan H. Prejudice, social stress, and mental health in lesbian, gay, and bisexual populations: conceptual issues and research evidence. Psychological Bulletin, v. 129, n. 5, p. 674-697, 2003. DOI: https://doi.org/10.1037/0033-2909.129.5.674
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).

3.2 POINT 02 - DESEMPENHO ATRELADO À PARTICIPAÇÃO

Nesta subseção serão apresentados alguns pontos pertinentes ao desempenho e à forma de participação de pessoas transgênero no esporte, bem como explorar o contexto de sujeitos participantes nas entrevistas das reportagens que tecem comentários acerca desta participação.

Com a aparição de Tifanny em quadra, mostram-se suas vitórias com posterior comparação à sua principal adversária, colocando-se em voga o rendimento da jogadora perante as demais atletas. Ainda na mesma cena é suscitado um questionamento, oriundo de redes sociais, sobre possíveis vantagens da jogadora trans.

Fonte: Caderno de Campo - EE2-C2 (Autoria, 2021)

Traz-se a recomendação do COI sobre a participação de atletas transgênero em competições femininas, além de comentarem sobre possíveis divergências que diferentes especialidades médicas têm sobre o tema. Durante a mesma cena é possível compreender os efeitos promovidos pela hormonização.

Fonte: Caderno de Campo - EE2-C8 (Autoria, 2021)

Apresenta-se a figura de um médico [homem cis] afirmando a possibilidade de vantagens em decorrência de um possível processo tardio de hormonização cruzada preconizado pelo COI, intitulando ainda tal processo como sendo um "legado" da testosterona, como sendo prova cabal para a aquisição de vantagens.

Fonte: Caderno de Campo - EE2-C9 (Autoria, 2021)

A jogadora Aline [atleta cis] reverbera sobre sua percepção quanto à força física empregada pela atleta Tifanny e uma de suas principais adversárias. Pondera ainda que a quantidade de pontos no rendimento obtido pela atleta é sempre proporcional ao número de condições e recepções que a mesma adquire durante uma competição.

Fonte: Caderno de Campo - EE2-C18 (Autoria, 2021)

Damasceno (2018)DAMASCENO, Renan. Com poucos estudos sobre desempenho, polêmica em torno da transexual Tiffany na Superliga não deve ter fim tão cedo. 2018. Disponível em: https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/volei/2018/01/22/noticia_volei,453889/transexual-tiffany-gera-polemica-na-superliga-feminina-de-volei.shtml. Acesso em: 11 jun. 2021.
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relembra que os estudos que versam sobre desempenho físico de atletas transgêneros ainda são incipientes, inconclusivos e a Medicina do Esporte encontra-se distante de um possível veredicto que seja dado sem atos de injustiça social. Reeser (2005)REESER, Jonathan C. Gender identity and sport: is the playing field level? British Journal of Sports Medicine, v. 39, p. 695-699, 2005. DOI: http://dx.doi.org/10.1136/bjsm.2005.018119
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complementa que a frequência com que se espera que os atletas transgênero tenham um significativo impacto em um determinado esporte deve ser igualmente baixa. Também se é possível antever que mutações genéticas que, de forma espontânea poderiam vir a desenvolver vantagens quanto ao desempenho atlético, ocorrem com baixíssimas taxas de frequência.

Entretanto, Vaz et al. (2020VAZ, Alexandre Fernandez et al. De Bruce a Caitlyn Jenner: esporte, celebridade, transgeneridade. Gênero, v. 21, n. 1, p. 167-189, jul./dez. 2020. DOI: https://doi.org/10.22409/rg.v21i1.46979
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, p. 185) nos atentam para um aspecto anterior ao rendimento do/a atleta transgênero. A preocupação não deveria estar focada em validar uma participação com base nos índices apresentados, mas sim reconhecer a presença desses corpos no campo esportivo.

Quando uma mulher trans, membro de uma equipe de esporte coletivo ou atleta em qualquer modalidade individual, tiver o respeito à sua presença em locais de prática esportiva (de competição ou não), daí sim partiríamos para avaliar seu desempenho. Não é dessa forma que procedemos na prospecção de talentos esportivos de pessoas cisgênero?

Essa forma de leitura dos corpos transgênero resulta em tentativas (in)conscientes de negação e exclusão da participação deles enquanto sujeitos/as ativos/as de uma sociedade e cultura, tentando atrelar sua existência a uma condição servil de sua própria identidade, por meio de um artifício que não os/as reconhece enquanto pessoas iguais, mas sim como sujeitos/as inferiorizados/as, ou também, perturbantes (LUCAS; NEWHALL, 2019LUCAS, Cathryn B.; NEWHALL, Kristine E. Out of the frame: how sports media shapes trans narratives. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 99-124.; CASTRO; GARCIA; PEREIRA, 2020CASTRO, Pedro Henrique Zubcich Caiado de; GARCIA, Rafael Marques; PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa. O voleibol e a participação de atletas trans: outro ponto de vista. Motrivivência, v. 32, n. 61, p. 01-22, 2020. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e62806
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). Nascimento (2020)NASCIMENTO, Rodrigo Henrique de Jesus. Transexualidade e esporte: uma análise dos discursos midiáticos jornalísticos. 95f. 2020. Dissertação (Mestrado em Tecnologia e Sociedade) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba/PR, 2020. infere, após análise de matérias jornalísticas acerca do caso Tifanny, que inúmeras são as formas acionadas para justificar a exclusão das atletas trans entre as cis, com base em discursos conservadores cristão e políticos: desde homens travestidos de mulheres à; covardia esportiva com base na injustiça biomolecular hormonal; comparações indevidas entre atletas cis homens e mulheres; ignorância e desconhecimento sobre o processo de hormonização cruzada de atletas trans e; disseminação de informações falsas ou que visam a propagar desentendimento e confusão ao invés de esclarecimento e informação.

Na (EE2-C2), por exemplo, em que eram mostradas as vitórias de Tifanny, com posterior comparação à sua principal adversária, é colocado em voga o rendimento da jogadora com especial atenção para a prospecção de palavras usadas durantes a reportagem. Franciscato (2003)FRANCISCATO, Carlos Eduardo. A atualidade no jornalismo: bases para sua delimitação teórica. 336f. 2003. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas) - Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador/BA, 2003. comenta que a mídia tende a enunciar de maneira a dar evidência a determinadas características de um certo evento como ela o visualiza e, assim, orientar efeitos de sentidos por meio do uso de recursos verbais e não verbais, até mesmo utilizando-se de maneira metafórica, permitindo ao/à telespectador/A perceber algo do mundo empírico mencionado no discurso que foi disposto pelo/a apresentador/a, e assim, construir argumentações diretivas sobre determinada questão. Conforme se vê em (EE2-C8), por exemplo, discursos como os apresentados contribuem por ratificar estranhamentos a determinados grupos sociais, podendo reforçar e serem reforçados por preconceitos existentes e disseminados na sociedade.

Na (EE2-C9), no que diz respeito aos fatores relacionados aos processos de hormonização cruzada, Harper et al. (2021)HARPER, Joanna et al. How does hormone transition in transgender women change body composition, muscle strength and haemoglobin? Systematic review with a focus on the implications for sport participation. British Journal of Sports Medicine, v. 55, n. 15, p. 1-9, mar. 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.1136/bjsports-2020-103106
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sinalizam a grande controvérsia científica que beira a decisão de como e quando permitir a autorização de mulheres transgênero para competir na categoria feminina. Estudos longitudinais e transversais já identificaram que a hormonização cruzada em mulheres transgênero diminui consideravelmente: a área transversal muscular, a massa corporal magra, a força e os níveis de hemoglobina, sendo o tempo de intervenção um fator que influencia na magnitude dessas alterações (HARPER et al., 2021HARPER, Joanna et al. How does hormone transition in transgender women change body composition, muscle strength and haemoglobin? Systematic review with a focus on the implications for sport participation. British Journal of Sports Medicine, v. 55, n. 15, p. 1-9, mar. 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.1136/bjsports-2020-103106
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).

Os níveis de hemoglobina, por exemplo, diminuem para aqueles sinalizados em mulheres cisgênero após 4 meses. Embora essa mudança possa influenciar o rendimento esportivo, percebeu-se que, embora também ocorram reduções significativas na área de seção transversal muscular, massa corporal magra e força após 1 a 3 anos de hormonização cruzada, os valores permanecem mais altos do que em mulheres cisgênero, sugestionando a possibilidade de que mulheres transgênero possam reter legados biofisiológicos mesmo após 3 anos de intervenção - o que poderia significar uma vantagem (HARPER et al., 2021HARPER, Joanna et al. How does hormone transition in transgender women change body composition, muscle strength and haemoglobin? Systematic review with a focus on the implications for sport participation. British Journal of Sports Medicine, v. 55, n. 15, p. 1-9, mar. 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.1136/bjsports-2020-103106
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). Entretanto, a autoria enfatiza que esses achados não esgotam as necessárias pesquisas que precisam ser desenvolvidas para compreendermos melhor o impacto da hormonização cruzada, especialmente a longo prazo.

Na (EE2-C18), é relatado o fato da jogadora Tifanny ter um número expressivo de rendimento e pontuações em razão das suas jogadas em quadra. Mas, assim como apresentado no estudo de Castro, Garcia e Pereira (2020)CASTRO, Pedro Henrique Zubcich Caiado de; GARCIA, Rafael Marques; PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa. O voleibol e a participação de atletas trans: outro ponto de vista. Motrivivência, v. 32, n. 61, p. 01-22, 2020. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e62806
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, a supremacia técnica apontada por outras jogadoras no que se refere ao desempenho de Tifanny é meramente ocasional, não propondo nem mínimas, nem extremas garantias que a jogadora pudesse continuar com o mesmo desempenho a todo momento. Para melhor contemplar, Vaz et al. (2020VAZ, Alexandre Fernandez et al. De Bruce a Caitlyn Jenner: esporte, celebridade, transgeneridade. Gênero, v. 21, n. 1, p. 167-189, jul./dez. 2020. DOI: https://doi.org/10.22409/rg.v21i1.46979
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, p. 169) sinalizam que dentre o padrão de competição referente à Superliga, a jogadora Tifanny apresenta um desempenho equivalente às outras boas atletas, "a despeito de uma suposta superioridade em relação ao desempenho de mulheres cisgênero".

Ao buscarmos um posicionamento teórico acerca da representatividade promovida pela televisão perante o público transgênero, percebe-se um problema de representação e da maneira com a qual é tratada a temática e, mais do que isso, uma situação de silenciamento ou estranheza, demarcada, em alguns momentos, pela negligência em tratar sobre a temática (NASCIMENTO, 2020NASCIMENTO, Rodrigo Henrique de Jesus. Transexualidade e esporte: uma análise dos discursos midiáticos jornalísticos. 95f. 2020. Dissertação (Mestrado em Tecnologia e Sociedade) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba/PR, 2020.).

Em adição, corroborando com Love (2019)LOVE, Adam. Media framing of transgender athletes: contradictions and paradoxes in coverage of MMA fighter Fallon Fox. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 207-226., percebe-se relevante atenção à figura da "ciência" e da "testosterona" através da figura de autoridade do médico homem cis, resumindo a narrativa a uma questão de legitimidade pautada no discurso da vantagem. Conforme pontua Love (2019LOVE, Adam. Media framing of transgender athletes: contradictions and paradoxes in coverage of MMA fighter Fallon Fox. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 207-226., p. 218, tradução nossa) "[...] a cobertura da mídia focada em preocupações sobre 'vantagens injustas' tende a reforçar uma compreensão binária do sexo que posiciona as mulheres como biologicamente destinadas à inferioridade", perdendo uma potente possibilidade de investigar a complexidade que envolve a discussão de sexo e gênero no Esporte, bem como sua divisão binária, excludente e limitante.

Por fim, cabe dizer que não se nega a validade do discurso biológico, que pode ser aplicável a muitos casos envolvendo a temática, porém essa aplicabilidade não pode se resumir unicamente a isto, ou ainda, a supostos representantes da área sem a devida expertise sobre o assunto. Conforme pontua Chaves (2019CHAVES, Paula Nunes. Corpos queer no esporte: uma leitura a partir de Game Face. In: PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa; SILVA, Alan Camargo (org.). Educação Física, Esporte e Queer: sexualidades em movimento. Curitiba/PR: Appris, 2019. p. 129-152., p. 139) "[...] muitas vezes, as pessoas não possuem uma opinião formada a respeito ou são desinformadas como se percebe em alguns discursos de pessoas entrevistadas sobre o assunto". Aqui devemos indagar: o médico entrevistado trabalha com pessoas transgênero, estudou sobre hormonização cruzada para pessoas trans ou se debruça a atender, acompanhar e monitorar esse público? Se não, o que se evidencia é mais uma representação midiática que comprova - e propaga - que "[...] a própria cultura esportiva sabe pouco sobre o que é ser transgênero" (CHAVES, 2019CHAVES, Paula Nunes. Corpos queer no esporte: uma leitura a partir de Game Face. In: PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa; SILVA, Alan Camargo (org.). Educação Física, Esporte e Queer: sexualidades em movimento. Curitiba/PR: Appris, 2019. p. 129-152., p. 139).

3.3 POINT 03 - CERCEAMENTO E CONSTRANGIMENTO

Nesta subseção, trataremos acerca das questões que envolvem polêmicas sobre a participação in loco de atletas transgêneros, tomando como base as percepções de casos legislativos, de assédio, transfobia, dentre outras formas de tentativa de evitar a participação de tais atletas em competições diversas.

Nomeia-se um Projeto de Lei da Câmara de Deputados de São Paulo como polêmico, pois visava a proibição de atletas transgênero em disputas competições esportivas no estado. À época, uma das principais atletas afetadas seria a jogadora de voleibol Tifanny.

Fonte: Caderno de Campo - EE3-C1 (Autoria, 2021).

É descrito o caso de Andraya Yearwood, uma jovem transgênero negra, de 18 anos, que era até então considerada como uma aposta no atletismo estadunidense. Mas que, no entanto, era considerada uma ameaça à prática esportiva de outras meninas cisgênero.

Fonte: Caderno de Campo - EE3-C3 (Autoria, 2021)

Três adolescentes que participaram das provas de corrida com Andraya, decidiram tornar pública a insatisfação com a presença dela em disputas femininas, estas garotas entraram com uma ação na justiça para tentar mudar a regra de competição no estado de Connecticut, que hoje permite que um atleta participe de uma prova no gênero no qual se identifica. Na ocasião, uma dessas garotas chegou a participar de programas de televisão pra divulgar sua história de descontento.

Fonte: Caderno de Campo - EE3-C12 (Autoria, 2021)

Em (EE-C1), retrata-se um projeto de lei em São Paulo que entende as mulheres transgênero como uma ameaça ao naipe feminino (composto por mulheres cis). Esse entendimento da corporificação transgênero como “ameaça” ou que gera “insatisfação” baseia-se no sistema médico-legal, de modo que as pessoas sejam compreendidas e categorizadas, principalmente, através de molduras dos marcadores sociais da diferença, tais como raça, gênero, classe social, entre outros9 9 Recomendamos leitura do trabalho de Camargo (2020). . A pessoa trans pode alterar ou reforçar esses enquadramentos ao promover mudanças complexas em seu corpo, tornando-se ameaça ao sistema, onde a partir daí é que se expressam as maneiras como ela é enquadrada, compreendida e utilizada não apenas pelo Esporte, mas também pela mídia (LUCAS; NEWHALL, 2019LUCAS, Cathryn B.; NEWHALL, Kristine E. Out of the frame: how sports media shapes trans narratives. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 99-124.).

Harper (2015)HARPER, Joanna. Race times for transgender athletes. Journal of Sporting Cultures and Identities, v. 6, n. 1, p. 1-9, fev. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.18848/2381-6678/CGP/v06i01/54079
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destaca que a atleta transgênero sofre resistência em decorrência de uma linhagem de raciocínio deturpada que afirma que o homem cis possui vantagens físicas devido ao seu biotipo corporal, e que a atleta transgênero apresentaria vantagens quando competindo dentro da sua identidade de gênero, o que é ilustrado pelo descontentamento de atletas em (EE3-C1210 10 Na extensão da cena, dá-se voz à Ana Paula Henkel, ex-jogadora de voleibol contrária à participação trans por alegar injustiças esportivas. Todavia, ela não possui expertise sobre a temática, incutindo ideais que mencionam a uma possível trapaça esportiva, como se o fato da inserção de mulheres trans no esporte competitivo figurassem uma ação imoral/antiética com vistas a um melhor desempenho no campo em questão (CASTRO; GARCIA; PEREIRA, 2020). Em síntese, trazê-la para o debate estimula confusão, propagação de informações falsas e estimula o sensacionalismo. ). Em adição, Silva (2019)SILVA, Maria Eduarda Aguiar da. A divisão no esporte deve ser separada por sexo ou gênero. Revista Docência e Cibercultura, v. 3, n. 1, p. 236-249, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.12957/redoc.2019.39707
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ressalta as polêmicas que envolvem esse tema, que geralmente se dão em decorrência da pouca quantidade de literatura acadêmica e pesquisas científicas sobre esse tópico.

Harper (2015)HARPER, Joanna. Race times for transgender athletes. Journal of Sporting Cultures and Identities, v. 6, n. 1, p. 1-9, fev. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.18848/2381-6678/CGP/v06i01/54079
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bem como Silva e Carlos (2019)SILVA, Regis Fernando Freitas; CARLOS, Paula Pinhal de. Transexuais: reconhecimento social e legitimação de direitos através do esporte. In: SEFIC 2019, Universidade La Salle. Disponível em: https://www.academia.edu/41705776/Transexuais_Reconhecimento_social_e_legitima%C3%A7%C3%A3o_de_direitos_atrav%C3%A9s_do_esporte. Acesso em: 3 mar. 2021.
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dissertam que a introdução de atletas transgêneros nas modalidades de alto rendimento vem a ser uma oportunidade para visibilidade desse grupo populacional. Entretanto, devido ao fato de o preconceito ainda ser enraizado em várias camadas sociais, isso não gera o devido reconhecimento que tais atletas merecem, salientando, apenas, implicações que fundamentam discursos preconceituosos.

Na (EE3-C3), quando contemplada a situação de preconceito à atleta Andraya, tem-se em questão a prática de assédio, que pode ser entendido como uma atitude ou comportamento intrusivo, que é praticado por aqueles/as que acreditam deter poder sobre outrem que consideram como sendo subordinados/as, incluindo ações e comentários insultuosos, intimidantes, humilhantes, maliciosos e/ou ofensivos11 11 Para mais informações, conferir matéria da Controladoria-Geral da União da República Federativa do Brasil. Disponível em: https://www.gov.br/cgu/pt-br/centrais-de-conteudo/campanhas/integridade-publica/assedio-moral-e-sexual#:~:text=No%20site%20do%20Conselho%20Nacional,ou%20f%C3%ADsica%20de%20um%20trabalhador%E2%80%9D. Acesso em: 23 jun. 2023. . Quando uma pessoa sofre assédio, acaba por criar-se um ambiente desconfortável para aqueles/as a quem são alvo desta prática, com o intuito de sua autoexclusão. Concordamos com Lucas e Newhall (2019)LUCAS, Cathryn B.; NEWHALL, Kristine E. Out of the frame: how sports media shapes trans narratives. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 99-124. quando pontuam que a ausência de políticas de identidade e subjetividades representadas no meio esportivo acaba por naturalizar as hegemonias esportivas, mantendo atletas trans sempre sub-representados, subnotificados, silenciados, de modo que, metaforicamente, não existam.

Por conta da rede de apoio por trás de uma organização esportiva é que os/as atletas podem permanecer no Esporte. Se não for pela capacidade de adaptabilidade dos/as atletas em evitar interferências em suas vidas decorrentes de comentários depreciativos constantes, dificilmente eles/as poderiam competir em jogo nas mais diversas modalidades, por mais que seu meio não apresente tantos casos de discriminação (GARCIA; PEREIRA, 2020GARCIA, Rafael Marques; PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa. A opinião de atletas e treinadores de voleibol sobre a participação de mulheres trans. Movimento, v. 26, p. e26068, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.101993
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).

É de extrema importância garantir ao/à atleta transgênero que este/a se sinta seguro/a e seja bem recebido/a ao participar de competições esportivas de acordo com sua identidade de gênero. Assim, é imperativo que os órgãos, sejam eles internacionais, nacionais ou regionais, adotem políticas inclusivas visando a participação de todos/as os/as atletas.

3.4 POINT 04 - AFIRMAÇÃO E (IN)VISIBILIDADE

Nesta subseção, temos em voga o sentimento de reconhecimento da identidade aliado ao de pertencimento. Neste ponto, as pessoas transgênero que foram fontes das reportagens trazem consigo a sensação de autorrealização, conseguindo externalizá-la em suas palavras e permitir a elaboração deste tópico. Quando tratamos sobre sensação de reconhecimento do gênero, tem-se em questão um ponto primordial acerca da maneira com a qual se percebe o sujeito.

Apesar de ser um homem trans, na reportagem é exemplificado o desrespeito que é acometido contra estes corpos. Chris Mosier relata sua decepção com a veiculação de que, ao vencer sua primeira prova de triatlo competindo como um homem trans, ele seria uma “mulher de ferro”.

Fonte: Caderno de Campo - EE4-C4 (Autoria, 2021)

Retrata-se o contexto histórico de Pat Manuel, que relata que na adolescência não tinha muito diálogo sobre pessoas trans, sentindo que tinha algo errado com seu corpo.

Fonte: Caderno de Campo - EE4-C10 (Autoria, 2021)

Após ter sua participação em uma competição de duatlo aprovada, Chris Mosier relata que sua presença na seleção estadunidense poderia começar uma discussão nacional sobre as pessoas trans no esporte.

Fonte: Caderno de Campo - EE4-C11 (Autoria, 2021)

“Foi uma conquista incrível, não apenas pra mim, mas também eu já pensava no impacto que isso causaria na comunidade, porque a minha presença em uma seleção americana poderia começar uma discussão nacional sobre as pessoas trans no esporte” [Chris Mosier, homem trans].

Fonte: Caderno de Campo - EE4-C14 (Autoria, 2021)

Quando se discute sobre a decepção em não ser reconhecido com o gênero com o qual se identifica, conforme relatado nos excertos acima, recai-se aí sobre o processo de invisibilidade12 12 O exercício de tornar invisível a existência de homens trans é latente em inúmeros espaços sociais. Na mídia esportiva, são poucos os casos que se aprofundam adequadamente em retratar a temática. Conforme registra Prado (2021, p. 248), “na mídia esportiva brasileira, quando a transexualidade ganha visibilidade é a participação de mulheres transexuais no esporte que pauta os debates”. que, para alguns/as, é dado aos corpos que transcendem uma normatividade. Quando se trata do caminho da transição para um homem transgênero, tal percurso é entendido como um passo bem menos polêmico se comparação à transição para uma mulher transgênero (CHAVES, 2019CHAVES, Paula Nunes. Corpos queer no esporte: uma leitura a partir de Game Face. In: PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa; SILVA, Alan Camargo (org.). Educação Física, Esporte e Queer: sexualidades em movimento. Curitiba/PR: Appris, 2019. p. 129-152.).

Talvez este entendimento decorra do fato de que homens trans não têm restrição para participar em competições esportivas porque ainda se acredita que uma pessoa que foi designada como mulher ao nascer, não teria condições anátomo-fisiológicas para vencer uma pessoa designada como homem ao nascer. Subentende-se nisso, a permanência da noção biológica que afirmava que qualquer homem pudesse ser mais forte do que uma mulher, já que “Mosier compete com outros homens e narra que as pessoas não acreditavam que ele pudesse vencer, ser competitivo, ou se igualar em termos de performance esportiva aos ‘homens naturais’” (CHAVES, 2019CHAVES, Paula Nunes. Corpos queer no esporte: uma leitura a partir de Game Face. In: PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa; SILVA, Alan Camargo (org.). Educação Física, Esporte e Queer: sexualidades em movimento. Curitiba/PR: Appris, 2019. p. 129-152., p. 137).

Prado (2021PRADO, Vagner Matias. Patrício Manuel: uma masculinidade queer no boxe para “homens”. Revista Punto Género, n. 16, p. 241-265, dez. 2021. DOI: https://doi.org/10.5354/0719-0417.2021.65894
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, p. 249) adiciona que a ausência da focalização em casos de homens transgênero instaura silêncio e omissões, culminando na “ideia de inexistência desses corpos no cenário esportivo de rendimento”. Como resultado, ratifica que a noção de masculinidades continuaria sendo um privilégio de homens cis.

Na reportagem em que o atleta Chris Mosier fora retratado como mulher, é importante observar que, em relação ao homem trans, para que ele tenha respeito e seja visto mais próximo dos homens cis, a um mesmo nível de igualdade, ele precisa se superar em vários fatores, não somente a nível esportivo, mas também de sua vida social (GIRARDI; EDRAL, 2018GIRARDI, Nicolau Jordan; EDRAL, Adriana. S. Bassini. O homem trans na publicidade: uma análise do anúncio unlimited courage, da marca Nike. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 41, 2018, Joinville. Anais... Joinville: Intercom, 2018. Disponível em: https://www.portalintercom.org.br/anais/nacional2018/resumos/R13-1534-1.pdf. Acesso em: 7 jul. 2021.
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).

Além da força física, podemos englobar também dentro desses fatores uma série de técnicas, condicionamentos, características psicológicas, dentre outras que formam um mosaico complexo, o que permite, por exemplo, Chris Mosier enquanto homem trans tornar-se um atleta tão competitivo quanto os outros homens considerados “naturais” (CHAVES, 2019CHAVES, Paula Nunes. Corpos queer no esporte: uma leitura a partir de Game Face. In: PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa; SILVA, Alan Camargo (org.). Educação Física, Esporte e Queer: sexualidades em movimento. Curitiba/PR: Appris, 2019. p. 129-152., p. 137).

Inerente a isso, percebe-se que as modalidades esportivas são caracterizadas como mais um instrumento social binário que se encontra proliferado na consciência social coletiva. Elas marcam e fortalecem socialmente as divisões de gênero, ao mesmo tempo que as subverte e as desloca, recriando as desigualdades entre representações de masculinidades e feminilidades (GRESPAN; GOELLNER, 2014GRESPAN, Carla Lisboa; GOELLNER, Silvana Vilodre. Fallon Fox: um corpo queer no octógono. Movimento, v. 20, n. 4, p. 1265-1282, out./dez. 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.46216
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; LOVE, 2019LOVE, Adam. Media framing of transgender athletes: contradictions and paradoxes in coverage of MMA fighter Fallon Fox. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 207-226.; LUCAS; NEWHALL, 2019LUCAS, Cathryn B.; NEWHALL, Kristine E. Out of the frame: how sports media shapes trans narratives. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 99-124.).

4 CONSIDERAÇÕES

Embora tenhamos constatado uma ligeira relação entre o desenvolvimento e a produção deste tipo de conteúdo de enredo telejornalístico, e o seu processo de difusão em massa por meio da apresentação do tópico “transgênero e Esporte” ao público telespectador, ainda assim as narrativas apresentam equívocos conceituais e uma abordagem que tende ao sensacionalismo, além de focar-se demasiadamente em um tipo de identidade transgênero, no discurso biomédico da vantagem e da testosterona, e de episódios de negação, constrangimento e não reconhecimento do corpo trans no Esporte.

Percebemos, à luz de Lucas e Newhall (2019)LUCAS, Cathryn B.; NEWHALL, Kristine E. Out of the frame: how sports media shapes trans narratives. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 99-124., que a preocupação midiática em saber se um atleta é trans ou não diz mais sobre um exercício de categorização como “corpo ameaçador”, de julgar se sua participação é justa ou trapaça. A maneira como as discussões são apresentadas na mídia televisiva sobre determinado assunto, tende a levar a produção de pensamento crítico de quem escuta e vê a tela. Algumas técnicas de apresentação, também, em muito influenciam o comportamento do/a telespectador/a, podendo ser um campo futuro de mais discussões sobre questões pertinentes abordadas na mídia tele-esportiva sobre a temática

Entretanto, conforme elencado por Lucas e Newhall (2019LUCAS, Cathryn B.; NEWHALL, Kristine E. Out of the frame: how sports media shapes trans narratives. In: MAGRATH, Rory (org.). LGBT athletes in the sports media. Basingstoke: Palgrave, 2019. p. 99-124., p. 120, tradução nossa), o discurso televisivo apresentado inclina-se mais a “[...] manter o sistema sexo/gênero do que proporcionar acesso ao esporte e à atividade física” para esse público de maneira adequada. Embora possa passar a ideia de que esse tipo de retratamento e narrativa seja favorável, como se buscasse asseverar um acesso igualitário, muitas vezes acaba por reforçar um tipo de visibilidade e definição de transgênero que nem sempre é aceitável para o/a atleta retratado ou outros/as atletas trans.

Esta pesquisa, em consonância com as demais discussões na área da Educação Física, não exaure a complexidade das situações discutidas neste contexto, mas contribui para a ampliação do debate e apresentação de novas formas de discussão, que é fundamental para mudança de paradigmas sociais.

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    Iremos operar ora com “transgênero”, ora com “trans”, para sinalizar uma identidade que perturba as normas cisheteronormativas de gênero, marcando, cruzando e retornando por entre fronteiras e ampliando as inúmeras formas de se compreender as identidades de gênero não-cis.
  • 2
    Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, Intersexo e mais. A sigla é sugerida pela Aliança Nacional LGBTI+ para aglutinar todas as identidades de gênero e orientação sexual divergentes da cisheteronormatividade.
  • 3
    Divisão latino-americana da Kantar Media, líder global em inteligência de mídia e maior grupo de publicidade mundial. Sua principal especialidade é auferir a audiência televisiva, além de realizar pesquisas de comunicação, mídia e consumo. Para mais informações, vide https://kantaribopemedia.com/brazil/.
  • 4
    Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/5788637/. Acesso em: 28 ago. 2023.
  • 5
    Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/6421019/. Acesso em: 28 ago. 2023.
  • 6
    Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8038455/. Acesso em: 28 ago. 2023.
  • 7
    Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8056909/. Acesso em: 28 ago. 2023.
  • 8
    Cabe ressaltar que não houve presença de jornalistas trans conduzindo as reportagens; todos/as eram cis. Embora tenhamos identificado aspectos positivos na tentativa de retratar as narrativas, como dar protagonismo e voz às/aos atletas transgênero apresentados, este trabalho foca-se, sobretudo, nas entrelinhas do discurso e de como tais narrativas foram processadas para apresentação ao público.
  • 9
    Recomendamos leitura do trabalho de Camargo (2020)CAMARGO, Eric Seger de. “Pessoas trans no esporte”: os jogos da cisnormatividade. 155f. 2020. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020..
  • 10
    Na extensão da cena, dá-se voz à Ana Paula Henkel, ex-jogadora de voleibol contrária à participação trans por alegar injustiças esportivas. Todavia, ela não possui expertise sobre a temática, incutindo ideais que mencionam a uma possível trapaça esportiva, como se o fato da inserção de mulheres trans no esporte competitivo figurassem uma ação imoral/antiética com vistas a um melhor desempenho no campo em questão (CASTRO; GARCIA; PEREIRA, 2020CASTRO, Pedro Henrique Zubcich Caiado de; GARCIA, Rafael Marques; PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa. O voleibol e a participação de atletas trans: outro ponto de vista. Motrivivência, v. 32, n. 61, p. 01-22, 2020. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e62806
    https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e6...
    ). Em síntese, trazê-la para o debate estimula confusão, propagação de informações falsas e estimula o sensacionalismo.
  • 11
    Para mais informações, conferir matéria da Controladoria-Geral da União da República Federativa do Brasil. Disponível em: https://www.gov.br/cgu/pt-br/centrais-de-conteudo/campanhas/integridade-publica/assedio-moral-e-sexual#:~:text=No%20site%20do%20Conselho%20Nacional,ou%20f%C3%ADsica%20de%20um%20trabalhador%E2%80%9D. Acesso em: 23 jun. 2023.
  • 12
    O exercício de tornar invisível a existência de homens trans é latente em inúmeros espaços sociais. Na mídia esportiva, são poucos os casos que se aprofundam adequadamente em retratar a temática. Conforme registra Prado (2021PRADO, Vagner Matias. Patrício Manuel: uma masculinidade queer no boxe para “homens”. Revista Punto Género, n. 16, p. 241-265, dez. 2021. DOI: https://doi.org/10.5354/0719-0417.2021.65894
    https://doi.org/10.5354/0719-0417.2021.6...
    , p. 248), “na mídia esportiva brasileira, quando a transexualidade ganha visibilidade é a participação de mulheres transexuais no esporte que pauta os debates”.
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.
  • COMO REFERENCIAR

    PEDROSA, Gabriel Frazão Silva; GARCIA, Rafael Marques; PEREIRA, Erik Giuseppe Barbosa. A cobertura televisiva sobre atletas transgênero: o caso do Esporte Espetacular. Movimento, v. 29, p. e29045, jan./dez. 2023. DOI: https://doi. org/10.22456/1982-8918.129681

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Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, André Luiz dos Santos Silva*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*
*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    02 Mar 2023
  • Aceito
    23 Ago 2023
  • Publicado
    01 Nov 2023
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