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O uso de indicadores nas diversas etapas do ciclo do sangue: uso de ferramenta de seleção

RESUMEN

Introducción

La hemoterapia es una especialidad médica estructurada con diversas acciones orientadas a la calidad del componente sanguíneo producido y la seguridad tanto para el donante como para el paciente, además de integrarse directamente en el proceso asistencial. Los primeros indicadores de hemoterapia se crearon para orientar la dirección del Programa de Calidad de la Sangre de Brasil, pero, en el escenario de la hemoterapia, debemos considerar no solo la calidad de la sangre sino también la seguridad del paciente y el donante y las acciones de hemovigilancia.

Objetivo

Basado en el análisis de los datos disponibles en los distintos informes y registros publicados por la Agencia Nacional de Vigilancia Sanitaria de Brasil (Anvisa), el Ministerio de Salud de Brasil (MS) y la Coordinación General de Sangre y componentes Hemoderivados (CGSH) en los últimos cinco años, nos propusimos identificar algunas debilidades y riesgos en el proceso de transfusión y proponer el uso de una herramienta llamada matriz de indicadores, para priorizar indicadores con un enfoque en seguridad de las transfusiones.

Metodología

La selección de indicadores se basó en la construcción de una matriz de priorización, utilizando los ejes estratégicos definidos por la OMS, cuyo objetivo es controlar todo el ciclo de la sangre, incluido el proceso de transfusión.

Resultados

La selección de indicadores tiene como objetivo mejorar los procesos involucrados a lo largo del ciclo de la sangre, y el uso de la herramienta apunta a facilitar la elección de estos indicadores según el escenario de cada institución, desde un servicio de hemoterapia hasta una agencia de transfusión.

Conclusión

Estos indicadores pueden mejorar las prácticas y procesos de la transfusión sanguínea, así como optimizar la capacidad de gestión de cada servicio, independientemente de su complejidad. Además, sirven para mejorar continuamente la calidad, seguridad y eficiencia de los centros de hemoterapia.

Palabras clave
sangre; seguridad del paciente; indicadores

INTRODUÇÃO

A transfusão sanguínea é uma intervenção que salva vidas. Embora haja muitos investimentos para se encontrar um substituto para o sangue, ainda não há um elemento que o supra. Portanto, a transfusão de sangue e de seus derivados até então é extremamente necessária.

A transfusão é um dos tratamentos mais utilizados na medicina moderna, com um custo de bilhões de dólares por ano; entretanto, apesar de ser um procedimento com custo elevado, não é isenta de riscos(11 Anthes E. Transfusions are one of the most overused treatments in modern medicine, at a cost of billions of dollars. Researchers are working out how to cut back. Nature. 2015; 520: 24–26.). Um sistema com hemovigilância ativo e controle informatizado antes da administração de hemocomponentes são algumas medidas adotadas nos serviços da União Europeia para aumentar a segurança transfusional.

Estudos estimam que a ocorrência de incidentes relacionados com a assistência à saúde, em particular os eventos adversos, afete de 4% a 16% dos pacientes hospitalizados em países desenvolvidos. Tais dados sensibilizaram os sistemas de saúde em todo o mundo a melhorar a segurança do paciente(22 Organização Mundial de Saúde. Política de bom procedimento para segurança e disponibilidade de sangue. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2008.).

Para melhor identificação dos eventos adversos de pacientes em transfusão, é necessária uma equipe treinada que reporte ao serviço de hemoterapia todas as questões pertinentes a esses eventos, sem prejudicar a qualidade da informação e dos dados reportados. Esse fato pode ser evidenciado por meio de uma análise dos relatórios de hemovigilância do Reino Unido, nos quais uma das estratégias de segurança transfusional fundamenta-se no treinamento das equipes em reações adversas à transfusão e correlaciona os eventos adversos com o percentual de equipes treinadas(33 Annual Shot Report 2017. Serious hazards of transfusion. 2018. Available at: https://www.shotuk.org/2017-annual-shot-report-published12-july-2018/ [Accessed on: Jun 20, 2019].
https://www.shotuk.org/2017-annual-shot-...
).

Países da União Europeia, como a Espanha, utilizam indicadores similares aos usados no Brasil; porém, a notificação dos eventos adversos e o controle do descarte dos materiais utilizados no procedimento mostram que ainda há muito a ser melhorado nos centros brasileiros.

No Brasil, por exemplo, são indicadores: distribuição percentual de aptidão e inaptidão clínica dos candidatos à doação; distribuição percentual das doações, segundo a periodicidade; percentual dos doadores de sangue em relação à faixa etária; e inaptidão laboratorial por marcadores de doenças transmissíveis pelos sangues testados. Na Espanha, alguns indicadores são: índice de doação a cada 1000 habitantes; distribuição percentual das doações, segundo a periodicidade; percentual dos doadores de sangue em relação à faixa etária; inaptidão laboratorial por marcadores de doenças transmissíveis pelos sangues testados; e taxa de transfusão de hemocomponentes a cada 1000 habitantes. No Reino Unido, a doação de sangue e a experiência do doador, bem como a manutenção dos estoques, os protocolos transfusionais e os eventos adversos à transfusão são alguns dos indicadores. Na França, a taxa de doação por ano e a taxa de doadores entre 18 e 19 anos são outros exemplos.

Ao compararmos alguns indicadores, percebemos que no Brasil, assim como na Espanha, os indicadores estão relacionados com a produção; contudo, os espanhóis realizam a análise dos dados por 1000 habitantes, enquanto os brasileiros fazem uma análise mais regional.

O Reino Unido concentra suas ações em hemovigilância, associando-a à experiência do paciente e do doador, dado importante para registro e avaliação dos serviços. Já a França prioriza a produção e a manufatura.

Nas décadas de 1980 e 1990, uma confluência de fatores despertou interesse em reduzir os riscos das transfusões. A descoberta da hepatite C e do vírus da imunodeficiência humana (HIV) transmitidos pelo sangue levantou questões acerca da segurança das transfusões. Nesse período, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já se preocupava com a qualidade nos serviços de saúde.

Com o aparecimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) em 1980, surgiu a necessidade de uma participação efetiva do Ministério da Saúde (MS) na formulação da política e da gestão da hemoterapia nacional, o que gerou um incentivo ao desenvolvimento e melhorias no setor e nos órgãos de vigilância sanitária(44 Junqueira PC, Rosenblit J, Hamerschlak N. História da hemoterapia no Brasil. Rev Bras Hematol Hemoter. 2005; 27(3): 201–07.). Dessa forma, observamos nos vários trabalhos que citam a história e a evolução da hemoterapia no Brasil, que as mudanças no sistema hemoterápico brasileiro não ocorreram por intervenção dos especialistas, nem por influência direta do governo, mas sim por causas aleatórias, como o advento da Aids e as razões econômicas(55 Santos LACS, Moraes C, Coelho VSA. Hemoterapia no Brasil de 60 a 80. Physis. 1992; 2(1).).

Diante desse cenário e das orientações da OMS, o Brasil, no ano de 1990, iniciou o Programa Brasileiro de Qualidade e

Produtividade (PBQP), criado para apoiar a modernização das empresas brasileiras e difundir o conceito de qualidade nos serviços de saúde(66 Serapioni M. Avaliação da qualidade em saúde. Reflexões teórico-metodológicas para uma abordagem multidimensional. Rev Crítica Ciências Sociais. 2009; 85: 65–82.). Em 1998, o MS introduziu esse processo na hemoterapia com o lançamento do programa “Sangue com Garantia de Qualidade em Todo o seu Processo até 2003”. A partir dessa data, surgiram os primeiros indicadores de hemoterapia no cenário brasileiro(77 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Brasil). Resolução RDC nº 73, de 3 de agosto de 2000. Dispõe sobre o Programa Nacional de Sangue e Hemoderivados, regula o uso e a disponibilidade do plasma fresco congelado excedente do uso terapêutico no Brasil e dá outras providências. Diário Oficial da União; 2000.), parâmetros utilizados com o objetivo de avaliar e acompanhar os dados da produção hemoterápica; entretanto, eles não refletiam o acompanhamento dos riscos e a monitorização da segurança transfusional em todo o ciclo do sangue(88 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Brasil). 8° Boletim de Produção Hemoterápica. Hemoprod, 2017. Available at: http://portal.anvisa.gov.br/hemovigilancia. [Accessed on: Jul 20, 2019].
http://portal.anvisa.gov.br/hemovigilanc...
).

Os indicadores, de acordo com a Rede Intergeracional de Informações para a Saúde (RIPSA), contêm informações relevantes sobre o sistema de saúde, devendo refletir a situação sanitária e servir para a vigilância das condições de saúde(99 Rede Interagencial de Informações para a Saúde. Indicadores de dados básicos para a saúde no Brasil (IDB): conceitos e critérios. Available at: http://www.ripsa.org.br/vhl/indicadores-e-dados-basicos-para-a-saude-no-brasil-idb/conceitos-e-criterios/. [Accessed on: Sep 18, 2019].
http://www.ripsa.org.br/vhl/indicadores-...
). Portanto, a elaboração de um indicador é um processo cuja complexidade pode variar desde a simples contagem direta até o cálculo de taxas ou índices mais sofisticados. No entanto, ele deve refletir o objetivo a ser mensurado, que, neste trabalho, é a segurança transfusional.

Como não é tarefa fácil escolher um indicador em segurança transfusional, visto que o objetivo do indicador escolhido pode não ser estimado, utilizamos uma ferramenta que permitiu estabelecer um sistema de escore por pontos, o que facilitou a seleção dos indicadores e contribuiu para uma análise sobre os demais avaliados, permitindo a elaboração de um conjunto de indicadores úteis na monitorização da segurança transfusional.

OBJETIVO

A partir de um direcionamento da OMS(1010 Organização Mundial de Saúde. Transfusão de sangue seguro. Genebra: Organização Mundial de Saúde; 1999.) sobre a segurança ao se doar sangue, várias ações foram definidas dentro de quatro eixos estratégicos para a segurança transfusional: legislação, doação, exames e transfusão. O objetivo deste estudo foi a seleção de um grupo de indicadores a partir da organização de ações em uma ferramenta denominada matriz de priorização. Ao final da aplicação da metodologia, um conjunto de indicadores foi selecionado de modo mais fundamentado e de acordo com os objetivos pretendidos.

METODOLOGIA

Estudo de caráter observacional, no qual foram empregados dados de fonte secundária por meio de pesquisa bibliográfica. Para selecionar e, posteriormente, pontuar os indicadores, foi utilizada uma ferramenta chamada matriz de priorização. Para sua construção, selecionamos e organizamos várias ações de acordo com as diretrizes da OMS(1010 Organização Mundial de Saúde. Transfusão de sangue seguro. Genebra: Organização Mundial de Saúde; 1999.); além disso, pesquisamos, nos diversos boletins nacionais, conceitos que apontem, com a maior proximidade possível, o objetivo do indicador, que é a segurança transfusional.

Na etapa de seleção de ações que poderiam ser utilizadas como indicadores, as recomendações da OMS que dividem as ações para segurança transfusional em quatro grandes áreas foram seguidas: mecanismos regulatórios; doação de sangue; testes executados no sangue; e uso clínico do sangue(1010 Organização Mundial de Saúde. Transfusão de sangue seguro. Genebra: Organização Mundial de Saúde; 1999.). Na construção dessa matriz, as ações foram sistematizadas em uma planilha Excel; em seguida, fizemos uma análise quantitativa da etapa de trade-off (1111 Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão. Indicadores de programas: Guia Metodológico. Brasília, DF, Brasil: MP; 2010.). Essa expressão denota um conflito de escolha entre diversas opções, realizando uma escolha quantitativa, seguida de uma qualitativa.

A primeira análise (quantitativa) baseou-se em critérios objetivos; a segunda (qualitativa), para escolha entre os indicadores candidatos, utilizou, como ponto de partida, o ranking estabelecido pela matriz de priorização. Após a aplicação da metodologia e a construção da matriz em uma planilha Excel, ações foram selecionadas para serem utilizadas como indicadores, de acordo com critérios eliminatórios e classificatórios.

Na primeira etapa da análise quantitativa, foram definidos quais critérios eliminatórios serviriam de base para a seleção de indicadores; posteriormente, eles foram dispostos na matriz de priorização por meio dos seguintes elementos: E0 ou E1, sendo 0 – não atende e 1 – atende.

Nessa fase, a seleção do indicador teve de preencher critérios objetivos, como ser relevante, agregar valor ao processo ou ao serviço, ser de fonte confiável e ser simples. Como os critérios eliminatórios foram, obrigatoriamente, atendidos pelo indicador candidato, todos os indicadores foram pontuados.

Os critérios classificatórios serviram para estabelecer um ranking dos indicadores candidatos, possibilitando uma análise qualitativa ponderada, que contribuiu para uma seleção menos intuitiva das medidas de desempenho.

Os critérios classificatórios selecionados estão elencados na Tabela 1.

TABELA 1
Critérios eliminatórios e classificatórios

Os dados foram dispostos em duas colunas que representam o grau de atendimento do indicador candidato ao critério estabelecido chamado de CA e classificado como: nenhum (0), pouco (1) ou muito (2), além do grau de importância do critério (peso), denominado CI, classificado como: baixo (3), médio (5), alto (7) e muito alto (9).

Os mesmos critérios foram utilizados e pontuados de acordo com o grau de atendimento CA e o grau de importância CI.

Na Tabela 2, temos as ações selecionadas e distribuídas nas quatro grandes áreas.

TABELA 2
Seleção dos indicadores

Após a seleção, esses indicadores foram distribuídos na matriz de priorização (Tabela 3), na qual é possível observar que as linhas representam os indicadores que são candidatos, e as colunas apresentam as informações da natureza do indicador, de acordo com os critérios eliminatórios e classificatórios. No final, obteve-se o total que representa o escore dos pontos adquiridos pelo indicador, a partir do atendimento ou não dos critérios estabelecidos.

TABELA 3
Matriz de indicadores

Após a aplicação da ferramenta nos indicadores selecionados, um número total de pontos foi gerado, resultado da multiplicação dos critérios eliminatórios – atribuído peso 1 – e dos critérios classificatórios, aos quais se aplicou a fórmula: (CA1*CI1) + (CA2*CI2) + (CA3*CI3) + (CA5*CI4) + (CA5*CI5), gerando, ao

final, um escore de pontos que corresponde ao grau de atendimento do indicador aos critérios estabelecidos.

Assim, por meio dessa ferramenta foi possível fazer um ranking dos indicadores candidatos em ordem decrescente de pontos obtidos, conforme o atendimento aos critérios escolhidos.

Após essa fase, nos casos em que os indicadores obtiveram o mesmo escore, o critério de seleção utilizado foi a simplicidade e a facilidade de mensuração do indicador pelo serviço de hemoterapia.

RESULTADOS

Do total de 25 indicadores inicialmente selecionados, conforme a Tabela 2, aplicamos a matriz de priorização, pontuando-os de acordo com os critérios eliminatórios e classificatórios. Na Tabela 4, obtivemos o escore de todos os indicadores selecionados após a realização da análise qualitativa. A partir de então, foi possível a aplicação da análise quantitativa, com seleção dos dois indicadores que alcançaram as maiores pontuações por área. Os oito indicadores selecionados são apresentados na Tabela 5.

TABELA 4
Escore de pontos dos indicadores por área
TABELA 5
Indicadores finais

Ao analisarmos os oito indicadores finais, observamos que na parte de legislação e processos regulatórios, o acompanhamento do risco sanitário e o índice de descarte foram os critérios mais pontuados, representando a necessidade de monitorização dos riscos sanitários como uma prática de garantia da segurança transfusional pelos serviços de hemoterapia.

A análise do descarte de hemocomponentes por validade ou por outros motivos podem indicar uma necessidade de readequação de estoque ou realinhamento de processo e serviria como uma ação estratégica sobre o gerenciamento do estoque.

No eixo que relata a captação e a doação de sangue, eventos adversos com o doador e o percentual de doadores de uma única vez representaram as ações mais pontuadas, o que demonstra o impacto desse indicador na segurança do atendimento e da manutenção dos estoques sanguíneos.

Quanto aos testes feitos no sangue, ações como controle de qualidade externo e monitorização da inaptidão sorológica foram as mais pontuadas. Tais ações refletem as orientações do serviço de hemovigilância do Reino Unido(1212 Unidade de Hemovigilância (Espanha). Área de hemoterapia. Ministério da Saúde. Serviços Sociais e Igualdade. 2016. Available at: https://www.mscbs.gob.es/profesionales/saludPublica/medicinaTransfusional/hemovigilancia/docs/Informe2016.pdf. [Accessed on: Aug 20, 2018].
https://www.mscbs.gob.es/profesionales/s...
) sobre exames de proficiência como uma estratégia para a segurança transfusional.

No cenário do uso clínico do sangue, o escore evidenciou que a existência e a adequação dos pedidos médicos aos protocolos transfusionais, bem como a existência de Comitê Transfusional atuante, foram os mais bem pontuados, medidas simples que conseguem garantir melhor atendimento e segurança transfusional, principalmente, após análise do trabalho da Nature, que descreve o uso indiscriminado da transfusão(11 Anthes E. Transfusions are one of the most overused treatments in modern medicine, at a cost of billions of dollars. Researchers are working out how to cut back. Nature. 2015; 520: 24–26.). Um comitê para análise das práticas transfusionais e a elaboração de protocolos clínicos estão entre as práticas citadas no relatório de hemovigilância SHOT como ações para a garantia da segurança transfusional(33 Annual Shot Report 2017. Serious hazards of transfusion. 2018. Available at: https://www.shotuk.org/2017-annual-shot-report-published12-july-2018/ [Accessed on: Jun 20, 2019].
https://www.shotuk.org/2017-annual-shot-...
).

Dessa forma, os oito indicadores mais bem pontuados, quando analisados e comparados com as práticas e os relatórios de hemovigilância de países como Reino Unido, França e Espanha(33 Annual Shot Report 2017. Serious hazards of transfusion. 2018. Available at: https://www.shotuk.org/2017-annual-shot-report-published12-july-2018/ [Accessed on: Jun 20, 2019].
https://www.shotuk.org/2017-annual-shot-...
), obtiveram correspondência com o que é descrito em termos de segurança transfusional e, de fato, refletem o objetivo a ser mensurado, fator crítico para um indicador.

DISCUSSÃO

Neste trabalho, o objetivo era a segurança transfusional e, após a realização da etapa de seleção dos indicadores, organizamos um quadro com 25 indicadores distribuídos pelos quatro processos selecionados com base nas diretrizes da OMS e nos dados nacionais, conforme a Tabela 4. Portanto, após a construção da matriz de priorização e do mapeamento dos indicadores, cada serviço ou gestor poderá analisar os dados pontuados e escolher, preferencialmente, entre as opções mais bem pontuadas, aquelas que melhor expressam seus objetivos.

Na pontuação desses indicadores, foram utilizados, além dos dados publicados nos boletins de hemoterapia no Brasil(88 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Brasil). 8° Boletim de Produção Hemoterápica. Hemoprod, 2017. Available at: http://portal.anvisa.gov.br/hemovigilancia. [Accessed on: Jul 20, 2019].
http://portal.anvisa.gov.br/hemovigilanc...
), dados de países como Espanha(1212 Unidade de Hemovigilância (Espanha). Área de hemoterapia. Ministério da Saúde. Serviços Sociais e Igualdade. 2016. Available at: https://www.mscbs.gob.es/profesionales/saludPublica/medicinaTransfusional/hemovigilancia/docs/Informe2016.pdf. [Accessed on: Aug 20, 2018].
https://www.mscbs.gob.es/profesionales/s...
) e Reino unido(33 Annual Shot Report 2017. Serious hazards of transfusion. 2018. Available at: https://www.shotuk.org/2017-annual-shot-report-published12-july-2018/ [Accessed on: Jun 20, 2019].
https://www.shotuk.org/2017-annual-shot-...
). Apresentamos ainda a experiência de uma mestranda especialista em Gestão da Qualidade e de Serviços de Hemoterapia(1313 Sá JWBM. Modelo de avaliação de desempenho da gestão pública, direcionado para a gestão organizacional [dissertation]. Ceará: Universidade Estadual do Ceará; 2004.).

É importante relatar que a matriz de priorização possui uma dupla finalidade: facilitar a seleção de indicadores, segundo o atendimento aos critérios ponderados estabelecidos, e explicitar por que alguns indicadores aparentemente já utilizados e consagrados não pontuaram bem na análise da segurança transfusional. Ao compararmos os eventos adversos de doador e pacientes, percebemos que o escore dos eventos associados a doadores pontuou mais do que o de pacientes. Isso ocorreu porque nos doadores esses episódios são percebidos, na maioria das vezes, ainda no serviço de hemoterapia, sendo então a fonte dos dados muito mais confiável. Cabe ressaltar que, na aplicação da metodologia, um dos critérios classificatórios para pontuação foi a confiabilidade dos dados; portanto, entendemos que a rastreabilidade das informações é uma estratégia para obter indicadores confiáveis.

CONCLUSÃO

Após a utilização da matriz de priorização, concluímos que ela pode ser utilizada para selecionar um grupo de indicadores a partir de uma determinada finalidade, desde que o gestor defina o objetivo a ser alcançado, as demandas que deverão ser mapeadas e as informações que serão necessárias para o monitoramento e a avaliação de resultados.

Nesse contexto, entendemos que a utilização da ferramenta foi útil na construção de um grupo de indicadores com maior escore para ser utilizado e permitiu, por meio de ranking obtido, uma reflexão sobre os outros 17 indicadores selecionados. Vale ressaltar que para uma melhor utilização da ferramenta é necessário definir os critérios que servirão de base para a seleção e os que deverão servir para a classificação e a pontuação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    24 Out 2019
  • Revisado
    28 Out 2019
  • Aceito
    12 Jun 2020
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