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A PEDAGOGIA TRANSLÍNGUE E A ELABORAÇÃO DE TAREFAS NA FORMAÇÃO INTEGRAL DO EDUCANDO BRASILEIRO

TRANSLANGUAGING PEDAGOGY AND TASK DESIGN IN THE BRAZILIAN STUDENT’S INTEGRAL EDUCATION

Resumo

O presente artigo procura propor um modelo de aplicação prática da pedagogia translíngue e oferecer uma contribuição dirigida ao aluno da educação básica brasileira, oportunizando o desempenho de tarefas através do inglês e do português, de maneira decolonial, e vinculando os entendimentos linguísticos emergentes em sala de aula aos conhecimentos conceituais que surgem a partir de tarefas colaborativas. Partindo da noção de língua como repertório (GARCÍA; WEI, 2015; BUSCH, 2015), propomos uma reflexão sobre os encadeamentos da teoria translíngue (GARCÍA, 2009; GARCÍA; WEI, 2015; GARCÍA; JOHNSON; SELTZER, 2017) na educação linguística, buscando apresentar os pontos convergentes entre a translinguagem e o aprendizado com base em tarefas.

Palavras-chave
Relative Clause Processing; Referentiality; Complex Noun Phrases; Brazilian Portuguese

Abstract

The present paper proposes a model for the practical application of translanguaging pedagogy and offers a contribution for the Brazilian basic education student, by decolionally providing opportunities for task performance through English and Portuguese and linking emerging linguistic understandings in the classroom to conceptual knowledge arising from collaborative tasks. Drawing on the notion of language as a repertoire (GARCÍA; WEI, 2015; BUSCH, 2015), we propose a reflection on the implications of the translanguaging theory (GARCÍA, 2009; GARCÍA; WEI, 2015; GARCÍA; JOHNSON; SELTZER, 2017) for language education, and present the converging points between translanguaging and task-based learning.

Keywords
Language repertoire; Translanguaging Pedagogy; Language Education; Task-Based Learning

Introdução

Em um voo internacional, duas crianças de cerca de quatro anos, sentadas nos assentos das fileiras do meio, desenham, cada uma em sua folha de papel sobre sua mesinha de refeições. Ao seu lado, na ponta direita, está sua mãe, e, na ponta esquerda, seu avô. Quando as duas crianças se dirigem à mãe, usam o inglês; quando falam com o avô, o português; e, quando interagem entre si, o francês é a língua escolhida. A cena desperta a atenção de todos os passageiros à volta. Uma comissária de bordo, encantada com o que vê e ouve, se aproxima da família e, tomada pela curiosidade, puxa conversa com uma das crianças: “Que lindo! Fala alguma coisa para mim em francês, vai!”. A criança alvo da pergunta olha confusa para a comissária sem entender o que ela está pedindo. Não porque não entende a língua usada pela comissária, mas porque provavelmente não sabe o que ela quer dizer com aquele pedido.

A narrativa descrita acima, vivida por uma das autoras deste texto, é uma ilustração de como funciona a mente de uma pessoa bilíngue1 1 Em consonância com García (2009) e García, Johnson e Seltzer (2017), neste artigo, utilizaremos o termo bilíngue para nos referir a indivíduos que falam duas ou mais línguas. . Vistas de fora, as práticas de linguagem das duas crianças de nossa narrativa nos remetem à presença de línguas separadas: inglês, francês e português. Entretanto, do ponto de vista das crianças, não há essa separação. Na mente de nossos pequenos protagonistas, o que há é um repertório semiótico, que se ajusta e se adapta às exigências do contexto, permitindo a interação com outras pessoas em diferentes situações. Quando a comissária pede que a criança fale em francês, ela está vendo o bilinguismo de fora. A criança, por sua vez, não sabe dizer o que é “falar em francês”. Ela só sabe que, quando se dirige a sua mãe, seu irmão ou seu avô, sua fala deve se ajustar à interlocução.

Otheguy (2016, prefácio, p. x)OTHEGUY, R. Prefácio. In.: GARCÍA, O.; KLEYN, T. (Eds.) Translanguaging with multilingual students: learning from classroom moments. New York: Routledge, 2016. explica que pessoas bilíngues “têm duas línguas apenas do ponto de vista social. Do seu ponto de vista [individual], elas têm apenas uma”. O autor afirma que, quando vemos o prefixo bi-, de bilíngue, supomos a existência de duas línguas; quando nos deparamos com o prefixo multi-, de multilíngue, imaginamos várias línguas nomeadas2 2 As línguas nomeadas são uma construção social, que reflete a visão externa do repertório de um indivíduo bilíngue. Em contraste, na perspectiva do próprio falante bilíngue, há somente uma língua em seu repertório particular, sem divisões políticas ou hierárquicas. , como por exemplo, português, inglês, francês, etc. Em ambos os casos, pressupomos línguas separadas. Não nos ocorre que, na mente de uma pessoa bilíngue, as línguas não estão compartimentalizadas em “caixinhas” separadas, com fronteiras sociais e políticas claramente estabelecidas.

Como parte do projeto de pesquisa intitulado Investigação, análise e elaboração de tarefas pedagógicas para o ensino de línguas, desenvolvido em uma universidade pública do sul do Brasil, este artigo procura oferecer uma reflexão sobre a pedagogia translíngue e argumentar sobre seus encadeamentos no aprendizado com base em tarefas na educação linguística. Iniciamos descrevendo a perspectiva que vê a língua como repertório. Em seguida, introduzimos o conceito de translinguagem e apontamos suas implicações para a educação linguística. Então, explicamos como essa abordagem apresenta pontos convergentes com o aprendizado com base em tarefas. Por fim, apresentamos uma proposta de unidade didática contendo tarefas que se alinham à pedagogia translíngue. Nossa intenção é oferecer uma contribuição dirigida ao aluno da educação básica brasileira, oportunizando o trabalho através do inglês e do português e vinculando os entendimentos linguísticos emergentes aos conhecimentos conceituais que surgem a partir de tarefas colaborativas em sala de aula.

1. Os repertórios linguísticos e o linguar dos sujeitos bilíngues

Segundo García (2009)GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. Malden, MA: Blackwell, 2009., indivíduos bilíngues “lingueiam”3 3 García e Wei (2015, p. 8) utilizam o termo laguaging. A tradução do termo para o português é inexistente, portanto, as autoras optaram por utilizar “linguar” e flexionar como verbo regular da primeira conjugação. de diferentes formas e têm experiências diversas com cada língua. Entretanto, se olharmos o processo pela perspectiva interna da pessoa bilíngue, o que se observa é um repertório, que reflete todas as vivências e os contextos experimentados por essa pessoa e as práticas linguísticas que os perpassam em diferentes momentos de sua existência.

Gumperz (1964)GUMPERZ, John J. Linguistic and social interaction in two communities. American Anthropologist 66 (6): 1964, p.137-153. https://doi.org/10.1525/aa.1964.66.suppl_3.02a00100
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, o primeiro que conceituou o termo, explica que repertório linguístico consiste no conjunto de recursos, incluindo línguas, dialetos, registros e rotinas, que utilizamos para interagir nas diversas situações em que nos encontramos na vida diária. Inicialmente, Gumpertz (1964)GUMPERZ, John J. Linguistic and social interaction in two communities. American Anthropologist 66 (6): 1964, p.137-153. https://doi.org/10.1525/aa.1964.66.suppl_3.02a00100
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descreveu o fenômeno como algo relativamente estável, pertencente a uma comunidade discursiva. Entretanto, com as crescentes mudanças na vida contemporânea, fruto, entre outros fenômenos, da globalização, da expansão do acesso à tecnologia e dos movimentos migratórios, o conceito de repertório não mais cabe naquele cunhado pelo autor.

Alguns autores têm lançado mão de um conceito de repertório mais alinhado à contemporaneidade e adotado uma perspectiva biográfica, que leva em conta a trajetória de vida dos sujeitos (GARCÍA, 2009GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. Malden, MA: Blackwell, 2009.; BLOMMAERT; BACKUS, 2013BLOMMAERT, J.; BACKUS, A. Superdiverse repertoires and the individual. In: SAINT–JACQUES, I.; WEBER, J. (Eds.). Multilingualism and multimodality: current challenges for educational studies. Rotterdam: Sense Publishers, 2013, p. 11-32.; BUSCH, 2015BUSCH, B. Expanding the Notion of the Linguistic Repertoire: on the concept of spracherleben - the lived experience of language. Review of Applied Linguistics. Volume 38, Issue 3, Junho 2015, p. 340–358.; GARCÍA; WEI, 2015GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: language, bilingualism and education. Basingstoke, UK: Palgrave Macmillan, 2015.). Alinhados a essa noção, García e Wei (2015)GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: language, bilingualism and education. Basingstoke, UK: Palgrave Macmillan, 2015. afirmam que a linguagem não é um sistema simples de estruturas que independe das ações humanas em relação ao outro, de nosso existir em relação ao outro. Nesse sentido, o termo linguar é usado para se referir ao contínuo processo simultâneo de nos tornarmos nós mesmos e de, ao mesmo tempo, desenvolvermos nossas práticas linguísticas, à medida que interagimos e fazemos sentido no mundo.

A perspectiva de repertório linguístico de Busch (2015)BUSCH, B. Expanding the Notion of the Linguistic Repertoire: on the concept of spracherleben - the lived experience of language. Review of Applied Linguistics. Volume 38, Issue 3, Junho 2015, p. 340–358. ultrapassa o campo das ideologias de linguagem e reflete a experiência vivida através da linguagem. Assim, para a autora, a noção de repertório linguístico se constitui a partir da articulação de três frentes: interacional, pós-estruturalista e fenomenológica. Do ponto de vista interacional, a visão proveniente da antropologia da linguagem e da linguística interacional observa o sujeito a partir da interação linguística e social com os outros. Em uma perspectiva pós-estruturalista, examina o sujeito como constituído por discursos históricos e políticos. Enfim, o entendimento fenomenológico investiga o sujeito levando em conta os pré-requisitos corporais e emocionais para expressar e vivenciar a linguagem.

Portanto, se adotamos uma perspectiva de repertório linguístico para descrevermos as práticas de linguagem de pessoas bilíngues, não faz sentido falarmos em línguas nomeadas. Daí a explicação para o que ocorre na narrativa trazida na introdução deste artigo.

2. Do linguar ao translinguar

Partindo dos conceitos de repertório linguístico e linguar, chegamos a uma forma diferente de ver e descrever as práticas linguísticas de pessoas bilíngues. Nesse prisma, segundo García e Wei (2015)GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: language, bilingualism and education. Basingstoke, UK: Palgrave Macmillan, 2015., o termo translinguagem traduz as complexas práticas linguísticas de sujeitos bilíngues, as quais carregam aspectos corporais e vivenciais e expressam diferentes contextos sociais e semióticos, transformando-os em recursos móveis dinâmicos para se adaptarem a situações sociolinguísticas globais e locais.

Inicialmente cunhado por Cen Williams (GARCÍA; WEI, 2015GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: language, bilingualism and education. Basingstoke, UK: Palgrave Macmillan, 2015.), no País de Gales, para se referir às práticas linguísticas que ocorriam em salas de aula bilíngues de língua galesa/inglesa em que os alunos alternavam línguas para construir sentido, desde a década de 1980, o termo translinguagem vem crescendo em popularidade nos estudos sobre educação bilíngue (GARCÍA, 2009GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. Malden, MA: Blackwell, 2009.; CREESE; BLACKLEDGE, 2010CREESE, A.; BLACKLEDGE, A. Translanguaging in the bilingual classroom: a pedagogy for learning and teaching?. The Modern Language Journal, 94, i, 2010, p. 103- 115.; CENOZ; GORTER, 2020CENOZ, J.; GORTER, D. Teaching English through pedagogical translanguaging. World Englishes, 39(2), 2020, p. 300-311. https://doi.org/10.1111/weng.12462
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; TIAN et al., 2020TIAN, Z.; AGHAI, L; SAYER, P.; SCHISSEL, J. L. Envisioning TESOL through a translanguaging lens. Educational Linguistics 45, Switzerland: Springer, 2020, p. 275-292. https://doi.org/10.1007/978-3-030-47031-9_13
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). A concepção de translinguagem indica uma mudança na forma como o bilinguismo é considerado na pesquisa e no ensino.

García (2009, p. 45)GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. Malden, MA: Blackwell, 2009. entende translinguagem como “as práticas de linguagem dos sujeitos bilíngues na perspectiva dos próprios usuários, e não simplesmente (...) o uso da língua por sujeitos bilíngues ou o contato de sujeitos bilíngues da perspectiva da própria língua”. Hesson, Seltzer e Woodley (2014)HESSON, S.; SELTZER, K.; WOODLEY, H. H. Translanguaging in curriculum and instruction. New York, NY: CUNY-NYSIEB, 2014. definem o termo como qualquer circunstância em que o aluno bilíngue usa práticas linguísticas familiares para promover sua aprendizagem. Otheguy, García e Reid (2015)OTHEGUY, R.; GARCÍA, O.; REID, W. Clarifying translanguaging and deconstructing named languages: a perspective from linguistics. Applied Linguistics Review 6(3): 2015, p. 281-307. descrevem a translinguagem como o uso do repertório linguístico completo de um falante sem os limites políticos e sociais de línguas nomeadas.

Avançando e ampliando a discussão, García (2019)GARCÍA, O. Decolonizing foreign, second, heritage and first languages. In: MACEDO, D. (Ed.) Decolonizing foreign language education: The misleading of English and other imperial languages. (pp.152-168). New York: Routledge, 2019, p. 152-168. afirma que a divisão, ou separação, das línguas de um indivíduo bilíngue é uma construção social empreendida por potências ocidentais, uma herança histórica e cultural imposta pelas escolas idealizadas pelas classes dominantes, que têm por finalidade consolidar o poder e criar indivíduos governáveis, sujeitos a normas e costumes imperialistas e colonizadores. Em contraste, como um convite a questionar essa noção herdada e monolítica de língua, a translinguagem oferece uma visão que expressa o dinamismo das práticas linguísticas dos falantes. Tal noção traz implicações importantes para o ensino e aprendizagem de línguas.

3. A translinguagem e as implicações para a educação linguística

Até hoje, os estudos acerca da educação linguística têm se ancorado em uma perspectiva monoglóssica. Nesse entendimento, as línguas de um indivíduo bilíngue são consideradas isoladas umas das outras, como se estivessem armazenadas em compartimentos separados no cérebro (GARCÍA; SYLVAN, 2011GARCÍA, O.; SYLVAN, C. E. Pedagogies and practices in multilingual classrooms: singularities in pluralities. Modern Language Journal, 95(3), 2011, p. 385-400. https://doi.org/10.1111/j.1540-4781.2011.01208.x
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). Partindo-se da noção de língua como repertório, a translinguagem reflete uma visão heteroglóssica de língua.

Di Fanti (2003)DI FANTI, M. G. C. A linguagem em Bakhtin: pontos e pespontos. Veredas - Rev. Est. Ling, Juiz de Fora, v.7, n.1 e n.2, jan./dez. 2003, p. 95-111. explica que a heteroglossia é um termo utilizado por Bakhtin para falar do romance, mas também do discurso, que traduz a sua concepção de língua com um caráter dinâmico, que não se constitui unitariamente, mas sim como uma arquitetura de vozes discursivas/sociais. Assim, numa perspectiva heteroglóssica, as línguas são múltiplas e coexistentes, e a ideia de uma só possibilidade, como a de uma “língua padrão”, “culta”, que não considera as variedades, é rejeitada.

Uma das grandes vantagens da pedagogia translíngue vem do fato de se fazer uso das práticas que são naturalmente recorrentes entre pessoas bilíngues, dentro e fora de sala de aula, ou seja, no cotidiano ou nos contextos de ensino e aprendizagem. Dessa forma, tanto a teoria quanto à pedagogia translíngues partem da observação de tais práticas. Na educação linguística, a sala de aula translíngue contempla as várias formas pelas quais sujeitos bilíngues selecionam recursos de seus repertórios de forma estratégica para se fazer entender e para construir significados (GARCÍA, 2009GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. Malden, MA: Blackwell, 2009.). Nesse contexto, a translinguagem é uma teoria que parte da prática. Uma sala de aula translíngue é um espaço

em que os alunos usam todo o seu repertório linguístico e não somente a língua específica que é usada para propósitos instrucionais. Esse tipo de sala de aula pode ser ministrado em qualquer lugar onde se encontram alunos bilíngues ou que estão se tornando bilíngues

(GARCÍA; JOHNSON; SELTZER, 2017GARCÍA, O.; JOHNSON, S. I.; SELTZER, K. The translanguaging classroom: leveraging student bilingualism for learning. Philadelphia, PA: Caslon, 2017., p. 1).

A pedagogia translíngue, portanto, incentiva o aluno a se tornar mais consciente de seu potencial expressivo e de seu poder de escolhas sobre a língua. Ao permitir que o aluno use todas as características de seu repertório linguístico, “incluindo léxico (palavras), sintaxe (gramática) e discurso (agrupamentos maiores de texto) para fazer conexões e comparações, fazer perguntas profundas e praticar e brincar com a língua” (GARCÍA; JOHNSON; SELTZER, 2017GARCÍA, O.; JOHNSON, S. I.; SELTZER, K. The translanguaging classroom: leveraging student bilingualism for learning. Philadelphia, PA: Caslon, 2017., p. 11), a pedagogia translíngue permite que o aluno se engaje em atividades significativas. Dessa forma, segundo García (2019, p. 7)GARCÍA, O. Decolonizing foreign, second, heritage and first languages. In: MACEDO, D. (Ed.) Decolonizing foreign language education: The misleading of English and other imperial languages. (pp.152-168). New York: Routledge, 2019, p. 152-168., “o objetivo das práticas pedagógicas translíngues é libertar os sistemas de signos que foram restringidos pela dominação sociopolítica, tentando dar voz a todos e corrigir os diferenciais de poder entre os falantes”. Nesse contexto, ao contrário do que ocorre nas pedagogias monoglóssicas, que priorizam o que falta ao educando, por limitar suas práticas linguísticas ao uso de uma só língua ou de um só padrão, a pedagogia translíngue valoriza o que o educando tem, encorajando-o a usar toda a gama de seu repertório linguístico em sala de aula para construir sentido ou produzir textos de gêneros escolares/acadêmicos.

García, Johnson e Seltzer (2017)GARCÍA, O.; JOHNSON, S. I.; SELTZER, K. The translanguaging classroom: leveraging student bilingualism for learning. Philadelphia, PA: Caslon, 2017. afirmam que a pedagogia translíngue contém quatro propósitos: (1) apoiar os alunos enquanto eles se envolvem e compreendem conteúdos e textos complexos; (2) fornecer oportunidades para os alunos desenvolverem práticas linguísticas para contextos acadêmicos; (3) abrir espaço para o bilinguismo e as formas de conhecimento dos alunos; e (4) apoiar o desenvolvimento socioemocional e as identidades bilíngues dos alunos. Esses propósitos devem fazer parte das crenças do professor e formar o que as autoras denominam corriente: um constante fluxo no uso das práticas linguísticas presentes em sala de aula.

Ao se alinhar a essa perspectiva, o professor deve ter em mente as três vertentes da corriente translíngue: stance, design e shift4 4 Optamos por manter as palavras originais em espanhol - corriente - e em inglês - stance, design e shift - utilizadas pelas autoras para não correr o risco de perder seu sentido na tradução. . Stance diz respeito à crença do professor de que o aluno possui um repertório linguístico abrangente e à sua forte orientação voltada à justiça social. Design se refere ao planejamento cuidadoso da instrução, que permite que o professor trabalhe dentro da corriente translíngue e aborde os quatro propósitos dessa pedagogia. Shift concerne à adaptação momento a momento das práticas do professor para se adequar às práticas linguísticas dos seus alunos, mesmo que signifique sair do seu planejamento original para seguir a corriente translíngue mais livremente.

4. A translinguagem e o ensino por tarefas

Neste artigo, adotamos a seguinte definição de tarefa pedagógica: uma tarefa é uma motivação para usar a língua com um propósito social de maneira situada. Como tal, deve projetar um interlocutor, uma prática social e o uso adequado de recursos linguísticos. Assim como Van Den Branden (2006)VAN DEN BRANDEN, K. Task-based language teaching. In: HALL, G. (Ed.). The Routledge Handbook of English Language Teaching. London: Routledge, 2016, p. 238-251., é nosso entendimento que o aprendizado com base em tarefas consiste em uma abordagem estratégica de projetar e organizar a prática pedagógica para estimular e apoiar os alunos a atingir os objetivos de aprendizagem. Segundo Welp, Didio e Finkler (2019)WELP, A. K. S.; DIDIO, A. R.; FINKLER, B.. Questo?es contempora?neas no cinema e na literatura: o desenho de uma seque?ncia dida?tica para o ensino de ingle?s como li?ngua adicional. Brazilian English Language Teaching Journal, Porto Alegre, v. 10, n. 2, 2019, p. 1-25. DOI: https:// doi.org/10.15448/2178-3640.2019.2.35861
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,

o ensino por tarefas se configura como a abordagem mais sintonizada com o momento em que vivemos por dois motivos. Em primeiro lugar, (...) oferece oportunidades de aprendizado nas quais a complexidade total do uso da língua pode ser experimentada em condições reais. Em segundo, promove a interação em torno do trabalho exploratório compartilhado e a reflexão sobre as formas linguísticas a serem usadas para criar mensagens significativas.

(WELP; DIDIO; FINKLER, 2019WELP, A. K. S.; DIDIO, A. R.; FINKLER, B.. Questo?es contempora?neas no cinema e na literatura: o desenho de uma seque?ncia dida?tica para o ensino de ingle?s como li?ngua adicional. Brazilian English Language Teaching Journal, Porto Alegre, v. 10, n. 2, 2019, p. 1-25. DOI: https:// doi.org/10.15448/2178-3640.2019.2.35861
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, p. 5)

Conforme Van den Branden (2016), o aprendizado com base em tarefas promove a educação linguística através do uso da língua. Assim, entendemos que, por oferecer oportunidades de participação em diferentes práticas sociais e, portanto, de expansão dos repertórios dos educandos, essa abordagem se alinha à pedagogia translíngue. Ao desempenhar tarefas em uma aula translíngue, os alunos se sentem confiantes para ler, escrever, explorar temas, negociar significados, solucionar problemas e se expressar lançando mão de todo seu repertório linguístico.

Seals et al. (2020, p. 281)SEALS, C. A.; NEWTON, J.; ASH, M.; NGUYEN, B. T. T.. Translanguaging and task-based language teaching: crossovers and challenges. In: TIAN, Z.; AGHAI, L; SAYER, P.; SCHISSEL, J. L.. (Eds.) Envisioning TESOL through a translanguaging lens. Educational Linguistics 45, Switzerland: Springer, 2020, p. 275-292. https://doi.org/10.1007/978-3-030-47031-9_13
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fazem uma análise comparativa entre os princípios orientadores do aprendizado com base em tarefas e da pedagogia translíngue e indicam os pontos de convergência das duas abordagens. Entre os elementos assinalados pelos autores estão o trabalho colaborativo entre os alunos, a integração entre língua e conteúdo e o caráter experiencial e dinâmico do aprendizado. Podemos somar a isso a fluidez com que o trabalho pedagógico e as práticas linguísticas acontecem no desempenho das tarefas e, conforme García e Sylvan (2011)GARCÍA, O.; SYLVAN, C. E. Pedagogies and practices in multilingual classrooms: singularities in pluralities. Modern Language Journal, 95(3), 2011, p. 385-400. https://doi.org/10.1111/j.1540-4781.2011.01208.x
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, a atenção à singularidade das experiências individuais que constituem uma pluralidade em sala de aula.

5. O planejamento do trabalho pedagógico através das lentes da translinguagem

Nesta seção, apresentamos uma proposta de unidade didática contendo tarefas desenhadas sob a perspectiva translíngue. O trabalho proposto é voltado a jovens adolescentes que estejam cursando o ensino médio, sobretudo na rede pública de educação básica. Para dialogar com esse público, foi escolhido um tema que tem sido discutido em diversos contextos: mudanças climáticas. A escolha do tema se deu fundamentalmente em razão do ativismo da adolescente sueca Greta Thunberg, que tem ganhado o mundo a partir de seus discursos e de suas ações em defesa do meio ambiente. Além disso, jovens nessa etapa do ensino básico potencialmente se identificam com a adolescente ativista por serem da mesma geração e pelo fato de Greta utilizar a mesma linguagem de indivíduos dessa faixa etária. Além disso, o tema é consonante às orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018BRASIL. Base nacional comum curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018.), conforme as “Competências Específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o Ensino Médio” (p. 570), é indiscutivelmente relevante para o futuro do planeta e deve ser abordado entre as gerações mais jovens.

Cabe salientar que a proposta tem como foco principal estudantes da educação básica brasileira, falantes do português, que estão se tornando bilíngues e cujos repertórios se encontram em diferentes pontos do continuum do bilinguismo, o que é bastante comum em aulas de línguas e que normalmente representa um desafio para professores. A intenção é colocar o aluno em primeiro lugar, oferecendo uma contribuição que vai além da educação bilíngue, ou do ensino de uma língua adicional, ou até mesmo da integração de língua e conteúdo.

Ainda, a unidade didática não se destina ao ensino de somente um idioma ou de um componente curricular em específico, mas foi planejada segundo a teoria translíngue, para o trabalho pedagógico através do inglês e do português, sob uma perspectiva decolonial. Decolonial aqui é entendido como de natureza dialógica, que valoriza os repertórios diversos e os conhecimentos de todos os envolvidos no processo de aprendizagem. Ao valorizar as práticas linguísticas a partir dos sujeitos que as produzem, a translinguagem se configura como uma pedagogia decolonial, que humaniza e que promove o ‘fazer juntos’, buscando assim maneiras outras de ser, pensar e fazer a educação bilíngue. Como afirma Walsh (2018)WALSH, C. E. Interculturality and Decoloniality. In: MIGNOLO, Walter D.; WALSH, Catherine E. (Eds.) On decoloniality: concepts, analytics, praxis. Durham, NC: Duke University Press, 2018, p. 57-80.,

Estou pensando aqui em práticas, estratégias, metodologias e maneiras de fazer que se entrelaçam e que são construídas em resistência e oposição, bem como em insurgência, afirmação e reexistência (como reumanização), em imaginar e construir um mundo diferente.

(WALSH, 2018WALSH, C. E. Interculturality and Decoloniality. In: MIGNOLO, Walter D.; WALSH, Catherine E. (Eds.) On decoloniality: concepts, analytics, praxis. Durham, NC: Duke University Press, 2018, p. 57-80., p. 88).

Nesse sentido, a unidade didática proposta pretende que os alunos pensem além de componentes curriculares e que sejam educados em diferentes línguas e conteúdos para contextos interdisciplinares locais e globais. Nesse sentido, língua e conteúdo caminham juntos para uma formação integral do educando, num movimento dinâmico em que novos recursos da língua se desenvolvem juntamente com os já existentes no repertório do aluno e, ao mesmo tempo, com os entendimentos conceituais que emergem a partir do trabalho colaborativo.

Para o planejamento da proposta, adaptamos o Modelo de Planejamento de Unidade Translíngue sugerido por García, Johnson e Seltzer (2017, p. 175)GARCÍA, O.; JOHNSON, S. I.; SELTZER, K. The translanguaging classroom: leveraging student bilingualism for learning. Philadelphia, PA: Caslon, 2017. para o contexto da educação básica brasileira. Assim, a unidade está organizada conforme o Quadro 1 abaixo:

Quadro 1
Planejamento da Unidade Translíngue

A unidade inicia ativando o conhecimento prévio dos alunos em relação à Greta Thunberg. A primeira tarefa tem a finalidade de trazer à tona o que os alunos já conhecem sobre a ativista e descobrir outros fatos sobre ela através de sua biografia. Para tanto, são apresentadas biografias em inglês e em português para que os alunos tenham uma compreensão profunda dos textos, explorando-os através do uso de todo o seu repertório linguístico. Vale ressaltar que todas as tarefas da proposta apresentam suas instruções de forma bilíngue, fazendo uso da língua inglesa e da língua portuguesa lado a lado, alternadamente, para frisar que não há uma hierarquia entre as línguas a serem utilizadas em sala de aula. Além disso, as tarefas provocam a leitura dos textos nas duas línguas, promovendo assim o contraste entre elas e desenvolvendo a consciência linguística dos sujeitos bilíngues que estão emergindo em sala de aula.

5.1 A unidade didática “climate change awareness campaign/campanha de conscientização sobre mudanças climáticas”

Quadro 2
Tarefa I: Introducing the theme/Introduzindo o tema
Quadro 3
Tarefa II: Conhecendo Greta Thunberg / Meeting Greta Thunberg
Quadro 4
Tarefa III: Reacting to Greta’s biography/Reagindo à biografia de Greta

Após o término do trabalho com a biografia de Greta, é apresentada uma tarefa que introduz a próxima leitura: o discurso da ativista no Encontro de Cúpula sobre Ação Climática da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2019. A fala de Greta ganhou projeção internacional e irritou muitos líderes conservadores, que resistem a tomar medidas contra o aquecimento global, principalmente pela forma contundente com que ela se dirigiu a todos os chefes de nação.

Esta parte da unidade inicia mais uma vez com uma tarefa que evoca os conhecimentos prévios dos alunos sobre o famoso discurso para, em seguida, levá-los a ler e compreender com profundidade seu conteúdo e a se posicionar criticamente sobre a leitura. Novamente, a proposta procura explorar o repertório linguístico completo dos alunos para que eles tenham um entendimento pleno sobre os fatos apresentados por Greta em seu discurso. Para facilitar o trabalho, a leitura do discurso é dividida em duas partes: as questões IV e V exploram a primeira parte do discurso, e a VI e a VII trabalham a segunda parte5 5 Sugerimos que, ao trabalhar os textos em inglês e em português, o professor divida-os da seguinte forma: a primeira parte do texto em inglês deve ir até a linha 14, e a primeira parte do texto em português deve ir até a linha 17, conforme as versões aparecem em cada site; a segunda parte, portanto, deve conter o restante dos textos das duas versões. .

Quadro 5
Tarefa IV: Preparando-se para uma nova leitura /Preparing for a new reading
Quadro 6
Tarefa V: Understanding the text/Entendendo o texto
Quadro 7
Tarefa VI: Preparando-se para a leitura da segunda parte do discurso de Greta/Preparing to read the second part of Greta’s speech
Quadro 8
Tarefa VII: Reading the rest of Greta’s talk/Lendo o restante da fala de Greta

Nesta parte da unidade, o trabalho pedagógico encaminha os alunos à ação. Como forma de promover uma reação ao que leram e discutiram, os alunos são instigados a serem ativistas contra as mudanças climáticas e agirem em favor da preservação do meio ambiente. São então convidados a desenvolver uma campanha bilíngue a ser divulgada na comunidade escolar através da confecção de cartazes a serem expostos nos espaços da escola onde há bastante visibilidade.

Caso a escola disponha de recursos, como um laboratório de informática com conexão à Internet, como alternativa, o professor pode propor que a campanha circule no Instagram uma vez que, além de a rede social ser familiar à maioria dos jovens, é também utilizada por muitos com frequência. Além disso, a publicação na rede social leva a produção dos alunos para além dos muros da escola e abre possibilidades de interlocução com diferentes sujeitos, falantes das línguas utilizadas na tarefa. Cabe destacar que, durante as atividades desenvolvidas em sala de aula, os alunos são estimulados ao trabalho colaborativo, explorando o tema através da leitura, do debate, da construção de significados e da utilização de todo seu repertório linguístico através da atividade em grupos.

Quadro 9
Tarefa VIII: Acting for climate change awareness/Agindo para a conscientização sobre as mudanças climáticas

Cabe destacar que a proposta aqui apresentada tem o propósito de oferecer uma sugestão de unidade didática e não pretende esgotar a discussão e a reflexão sobre o tema abordado. Portanto, evidentemente, caso o professor deseje aprofundar o estudo sobre mudanças climáticas com seus alunos, pode ampliar a sequência didática através da inclusão de outros textos, como por exemplo o Acordo de Paris6 6 Disponível em diversas línguas em https://www.consilium.europa.eu/en/policies/climate-change/paris-agreement/ Acesso em 16 de maio de 2021. ou algum artigo publicado sobre as consequências do aquecimento global.

6. Considerações finais

Este artigo teve por finalidade propor uma reflexão sobre a pedagogia translíngue. Para tanto, buscou argumentar sobre suas implicações no aprendizado com base em tarefas na educação linguística. Partindo da noção de língua como repertório, procuramos mostrar nosso alinhamento à perspectiva biográfica de repertório (GARCÍA; WEI, 2015GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: language, bilingualism and education. Basingstoke, UK: Palgrave Macmillan, 2015.; BUSCH, 2015BUSCH, B. Expanding the Notion of the Linguistic Repertoire: on the concept of spracherleben - the lived experience of language. Review of Applied Linguistics. Volume 38, Issue 3, Junho 2015, p. 340–358.) e à visão heteroglóssica de língua, que prioriza o repertório linguístico dos sujeitos bilíngues, sem a separação das línguas que o compõem de forma hierárquica ou política.

Apresentamos também nosso entendimento de aprendizado com base em tarefas e de o que vem a ser uma tarefa pedagógica: uma motivação para usar a língua, com interlocutores definidos e com um propósito social, de maneira situada. Tentamos mostrar os aspectos em comum dessa abordagem e da pedagogia translíngue, entre eles, a natureza colaborativa das duas perspectivas, a integração entre língua e conteúdo, o caráter experiencial e dinâmico que ambas promovem (SEALS et al., 2020SEALS, C. A.; NEWTON, J.; ASH, M.; NGUYEN, B. T. T.. Translanguaging and task-based language teaching: crossovers and challenges. In: TIAN, Z.; AGHAI, L; SAYER, P.; SCHISSEL, J. L.. (Eds.) Envisioning TESOL through a translanguaging lens. Educational Linguistics 45, Switzerland: Springer, 2020, p. 275-292. https://doi.org/10.1007/978-3-030-47031-9_13
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), a fluidez das práticas linguísticas que oportunizam em sala de aula e a atenção à singularidade na pluralidade (GARCÍA; SYLVAN, 2011GARCÍA, O.; SYLVAN, C. E. Pedagogies and practices in multilingual classrooms: singularities in pluralities. Modern Language Journal, 95(3), 2011, p. 385-400. https://doi.org/10.1111/j.1540-4781.2011.01208.x
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), pois cada sujeito possui um repertório singular, mas os repertórios de todos se complementam no trabalho conjunto em uma sala de aula onde a diversidade é acolhida.

Da mesma forma, procuramos demonstrar, através de uma proposta de unidade didática, como é possível ir além da educação bilíngue, do ensino de uma língua adicional, ou até mesmo da integração de língua e conteúdo. Sob as lentes da teoria translíngue e alinhadas a uma perspectiva decolonial, partimos da língua para os sujeitos, buscando derrubar fronteiras entre componentes curriculares. Procuramos, assim, oferecer uma contribuição para a educação integral de jovens brasileiros, falantes de português, cursando a escola básica.

Reforçamos que, embora a unidade didática esteja pronta para ser aplicada pelo professor, em uma aula ministrada segundo a pedagogia translíngue, é imprescindível que a corriente (GARCÍA; JOHNSON; SELTZER, 2017GARCÍA, O.; JOHNSON, S. I.; SELTZER, K. The translanguaging classroom: leveraging student bilingualism for learning. Philadelphia, PA: Caslon, 2017.) esteja em atividade e que o professor tenha consciência de seu papel na condução das tarefas. Portanto, ele deve estar sensível às práticas linguísticas dos alunos ao desempenhar as tarefas e deve estar à vontade para mudar o curso ou adaptar trechos da unidade caso seja necessário. Assim, stance, design e shift devem estar em pleno funcionamento para permitir que a translinguagem aconteça de forma natural e exitosa, valorizando todas as práticas linguísticas presentes. Dessa forma, o repertório de cada aluno é bem-vindo e prestigiado, ao contrário do que ocorre em salas de aula onde determinados usos das línguas dos sujeitos são inibidos.

Notas

  • 1
    Em consonância com García (2009)GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. Malden, MA: Blackwell, 2009. e García, Johnson e Seltzer (2017)GARCÍA, O.; JOHNSON, S. I.; SELTZER, K. The translanguaging classroom: leveraging student bilingualism for learning. Philadelphia, PA: Caslon, 2017., neste artigo, utilizaremos o termo bilíngue para nos referir a indivíduos que falam duas ou mais línguas.
  • 2
    As línguas nomeadas são uma construção social, que reflete a visão externa do repertório de um indivíduo bilíngue. Em contraste, na perspectiva do próprio falante bilíngue, há somente uma língua em seu repertório particular, sem divisões políticas ou hierárquicas.
  • 3
    García e Wei (2015, p. 8)GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: language, bilingualism and education. Basingstoke, UK: Palgrave Macmillan, 2015. utilizam o termo laguaging. A tradução do termo para o português é inexistente, portanto, as autoras optaram por utilizar “linguar” e flexionar como verbo regular da primeira conjugação.
  • 4
    Optamos por manter as palavras originais em espanhol - corriente - e em inglês - stance, design e shift - utilizadas pelas autoras para não correr o risco de perder seu sentido na tradução.
  • 5
    Sugerimos que, ao trabalhar os textos em inglês e em português, o professor divida-os da seguinte forma: a primeira parte do texto em inglês deve ir até a linha 14, e a primeira parte do texto em português deve ir até a linha 17, conforme as versões aparecem em cada site; a segunda parte, portanto, deve conter o restante dos textos das duas versões.
  • 6
    Disponível em diversas línguas em https://www.consilium.europa.eu/en/policies/climate-change/paris-agreement/ Acesso em 16 de maio de 2021.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2022

Histórico

  • Recebido
    09 Jun 2021
  • Aceito
    08 Nov 2021
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