Acessibilidade / Reportar erro

TRABALHO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR: ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA PUBLICADA NO BRASIL (2010-2019)

TEACHING WORK IN HIGHER EDUCATION: ANALYSIS OF SCIENTIFIC PRODUCTION PUBLISHED IN BRAZIL (2010-2019)

TRABAJO DOCENTE EN EDUCACIÓN SUPERIOR: ANÁLISIS DE LA PRODUCCIÓN CIENTÍFICA PUBLICADA EN BRASIL (2010-2019)

RESUMO

Este artigo tem por objetivo mapear e analisar o estado da arte da produção acadêmica sobre trabalho docente no Ensino Superior publicada no Brasil na última década (2010-2019), em artigos científicos indexados na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO). Por meio de uma revisão sistemática, foram analisados aspectos quantitativos e qualitativos da literatura, com uso de técnicas bibliométricas e de análise de conteúdo. Os resultados indicam predomínio de pesquisas sobre formação e avaliação da docência universitária; saberes e práticas docentes; precarização, condições e relações de trabalho docente. Esse panorama contribui para a identificação de tendências e lacunas teóricas e para a proposição de uma agenda potencial para avanço da pesquisa brasileira.

Palavras-clave
Trabalho docente; Educação superior; Revisão sistemática da literatura

ABSTRACT

This paper aims to map and analyze the state of the art in studies on teaching work in higher education published in Brazil in the last decade (2010-2019) through scientific articles indexed in the Scientific Eletronic Library Online (SciELO) database. A systematic review has been carried out in order to analyze quantitative and qualitative aspects of the literature using bibliometric techniques, and content analysis. The results indicate the predominance of research on training and evaluation of university teaching; teaching knowledge and practices; and precarization, conditions, and teaching work relations. This panorama contributes to identify theoretical trends and gaps, as well as to propose a potential agenda to advance Brazilian research.

Keywords
Teaching work; Higher education; Systematic review

RESUMEN

Este artículo tiene por objetivo mapear y analizar el estado del arte de la producción académica sobre trabajo docente en la enseñanza superior publicada en Brasil en la última década (2010-2019), por medio de artículos científicos indexados en la base de datos Scientific Electronic Library Online (SciELO). A partir de una revisión sistemática, se analizaron aspectos cuantitativos y cualitativos de la literatura, con uso de técnicas bibliométricas y de análisis de contenido. Los resultados indican predominio de investigaciones sobre formación y evaluación de la docencia universitaria; saberes y prácticas docentes; y precarización, condiciones y relaciones de trabajo docente. Este panorama contribuye a la identificación de tendencias y lagunas teóricas y a la propuesta de una agenda potencial para avanzar en la investigación brasileña.

Palabras-chave
Trabajo docente; Educación superior; Revisión sistemática

Introdução

O cenário de trabalho docente na educação superior é complexo e multidimensional, já que nele coexistem discussões e demandas que incluem os âmbitos social, político e econômico (HOFFMANN et al., 2019HOFFMANN, C. et al. Prazer e sofrimento no trabalho docente: Brasil e Portugal. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 45, e187263, p. 1-20 2019. https://doi.org/10.1590/s1678-4634201945187263
https://doi.org/10.1590/s1678-4634201945...
), entre outros elementos demograficamente localizados. A atuação na educação superior envolve práticas que se relacionam com a docência em outros níveis de ensino, mas inclui especificidades inerentes à docência universitária, com especial destaque para a pesquisa e a extensão. Tais peculiaridades assinalam os saberes múltiplos e interligados que essa profissão requer (CUNHA, 2019CUNHA, M. I. A formação docente na universidade e a ressignificação do senso comum. Educar em Revista, Curitiba, v. 35, n. 75, p. 121-133, 2019. https://doi.org/10.1590/0104-4060.67029
https://doi.org/10.1590/0104-4060.67029...
).

Compreende-se o trabalho docente como uma forma de intervir na realidade social e, portanto, como uma prática social. Por conseguinte, ele só pode ser apreendido e compreendido se analisado em sua relação com o contexto institucional no qual está inserido (PIMENTA; ANASTASIOU, 2010PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2010.). Como consequência, faz-se fundamental pesquisar o trabalho docente de Ensino Superior em suas singularidade e multiplicidade, considerando suas particularidades no contexto brasileiro.

Nesta pesquisa, entende-se o campo de estudos sobre trabalho docente como dinâmico e multidisciplinar, o qual abarca tanto os sujeitos em suas complexas definições, experiências e identidades quanto as condições em que suas atividades são realizadas (DUARTE, 2010DUARTE, A. A produção acadêmica sobre trabalho docente na educação básica no Brasil: 1987-2007. Educar em Revista, Curitiba, n. esp. 1, p. 101-117, 2010. https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400005
https://doi.org/10.1590/S0104-4060201000...
). A docência inclui atividades, responsabilidades e relações que se realizam dentro e fora do espaço educacional, para além da regência de classe.

Pesquisas que sistematizam a produção de um campo científico são relevantes por permitirem mapear o conhecimento já produzido e traçar perspectivas para discussões futuras (GEMELLI; FRAGA; PRESTES, 2019GEMELLI, C. E.; FRAGA, A. M.; PRESTES, V. A. Produção científica em relações de trabalho e gestão de pessoas (2000/2017). Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão, Fortaleza, v. 10, n. 2, p. 222-248, 2019. https://doi.org/10.19094/contextus.v17i2.41214
https://doi.org/10.19094/contextus.v17i2...
). Estudos nacionais anteriores realizaram esforços de sistematização e/ou análise das publicações científicas sobre a docência no Ensino Superior, demonstrando o amplo potencial de contribuição dessa categoria de trabalhos para os campos teórico e empírico acerca dessa temática. Araújo, Batista e Gerab (2011)ARAUJO, E. C.; BATISTA, S. H.; GERAB, I. F. A produção científica sobre docência em saúde: um estudo em periódicos nacionais. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 35, n. 4, p. 486-492, 2011. https://doi.org/10.1590/S0100-55022011000400007
https://doi.org/10.1590/S0100-5502201100...
, por exemplo, em revisão sistemática da literatura nacional sobre docência em saúde, ofereceram subsídios para a construção de um programa de formação docente.

Nos últimos cinco anos, o campo profissional e as saúdes individual e coletiva de docentes foram temas constantes, a exemplo de Davoglio, Lettnin e Baldissera (2015)DAVOGLIO, T. R.; LETTNIN, C. C.; BALDISSERA, C. G. Avaliação da qualidade de vida em docentes brasileiros: uma revisão sistemática. Pro-Posições, Campinas, v. 6, n. 3, p. 145-166, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-7307201507807
https://doi.org/10.1590/0103-73072015078...
, que, fundamentando-se nas pesquisas empíricas publicadas sobre o tema, evidenciaram a percepção negativa sobre a qualidade de vida de considerável parcela de professores(as) brasileiros(as). A revisão integrativa de Lazzari, Martini e Busana (2015)LAZZARI, D. D.; MARTINI J. G.; BUSANA, J. A. Docência no ensino superior em enfermagem: revisão integrativa de literatura. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 36, n. 3, p. 93-101, 2015. http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2015.03.4967
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.0...
sobre docência no Ensino Superior em enfermagem indicou que existem inúmeros hiatos para a compreensão dessa profissionalidade. Com metodologia similar, Oliveira, Pereira e Lima (2017)OLIVEIRA, A. S. D.; PEREIRA, M. S.; LIMA, L. M. Trabalho, produtivismo e adoecimento dos docentes nas universidades públicas brasileiras. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 609-619, 2017. https://doi.org/10.1590/2175-353920170213111132
https://doi.org/10.1590/2175-35392017021...
investigaram as formas de adoecimento e os sintomas que acometem docentes universitários(as) do ensino público. As autoras identificaram o predomínio de doenças consideradas psicossomáticas, seguidas por patologias psíquicas e por adoecimentos e sintomas físicos. Souza et al. (2017)SOUZA, K. R. et al. A nova organização do trabalho na universidade pública: consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 11, p. 3667-3676, 2017. https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
https://doi.org/10.1590/1413-81232017221...
pesquisaram sobre a saúde docente em Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e mostraram como a nova organização do trabalho produz sobrecarga e menor disponibilidade de tempo para o lazer.

Cintra (2018)CINTRA, P. R. A produção científica sobre docência no ensino superior: uma análise bibliométrica da SciELO Brasil. Avaliação, Campinas, v. 23, n. 2, p. 567-585, 2018. https://doi.org/10.1590/S1414-40772018000200016
https://doi.org/10.1590/S1414-4077201800...
, em estudo bibliométrico, analisou a produção científica sobre a docência no Ensino Superior e destacou a importância crescente dessa discussão pela comunidade científica. A revisão integrativa de Oliveira et al. (2018)OLIVEIRA, T. et al. Preparação pedagógica para médicos e sua atuação no curso de medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 42, n. 3, p. 171-177, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42n3RB2017066.r2ING
https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42...
acerca da formação pedagógica de médicos(as) no contexto da docência evidenciou a necessidade de programas de educação continuada na formação docente. A revisão sistemática de Silva e Pinto (2019)SILVA, V. O. S.; PINTO, I. C. M. P. Produção científica sobre docência em saúde no Brasil. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. esp., p. 134-147, 2019. https://doi.org/10.1590/0103-11042019S112
https://doi.org/10.1590/0103-11042019S11...
investigou a docência em saúde no Brasil, concluindo que a temática apresenta inúmeras lacunas e reafirmando a necessidade de investimento em pesquisas que exponham soluções para os desafios da educação superior na contemporaneidade.

Os trabalhos anteriores convergem quanto à importância de novas pesquisas e discussões para compreender a docência acadêmica no país (CINTRA, 2018CINTRA, P. R. A produção científica sobre docência no ensino superior: uma análise bibliométrica da SciELO Brasil. Avaliação, Campinas, v. 23, n. 2, p. 567-585, 2018. https://doi.org/10.1590/S1414-40772018000200016
https://doi.org/10.1590/S1414-4077201800...
; LAZZARI; MARTINI; BUSANA, 2015; SILVA; PINTO, 2019SILVA, V. O. S.; PINTO, I. C. M. P. Produção científica sobre docência em saúde no Brasil. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. esp., p. 134-147, 2019. https://doi.org/10.1590/0103-11042019S112
https://doi.org/10.1590/0103-11042019S11...
). Os estudos sinalizam a necessidade de desenvolvimento de programas de formação docente (ARAÚJO; BATISTA; GERAB, 2011; OLIVEIRA et al., 2018OLIVEIRA, T. et al. Preparação pedagógica para médicos e sua atuação no curso de medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 42, n. 3, p. 171-177, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42n3RB2017066.r2ING
https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42...
). Essa lacuna decorre, possivelmente, de uma formação metodológica e didática insuficiente para a atuação em sala de aula (GENTILI; ALENCAR, 2001GENTILI, P.; ALENCAR, C. Educar na esperança em tempos de desencanto. Petrópolis: Vozes: 2001.), oriunda da crise na docência acadêmica, causada pelo desenvolvimento desordenado de políticas públicas para a pós-graduação no país nas últimas décadas (OLIVEIRA; LOURENÇO; CASTRO, 2015OLIVEIRA, A. L.; LOURENÇO, C. D. S.; CASTRO, G. C. Ensino de administração nos EUA e no Brasil: uma análise histórica. Revista Pretexto, v. 16, n. 1, p. 11-22, 2015.). As pesquisas ressaltam um aspecto preocupante relativo à perda de qualidade de vida e à presença de doenças psicossomáticas e de patologias psíquicas entre os(as) docentes (DAVOGLIO; LETTNIN; BALDISSERA, 2015DAVOGLIO, T. R.; LETTNIN, C. C.; BALDISSERA, C. G. Avaliação da qualidade de vida em docentes brasileiros: uma revisão sistemática. Pro-Posições, Campinas, v. 6, n. 3, p. 145-166, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-7307201507807
https://doi.org/10.1590/0103-73072015078...
; OLIVEIRA; PEREIRA; LIMA, 2017OLIVEIRA, A. S. D.; PEREIRA, M. S.; LIMA, L. M. Trabalho, produtivismo e adoecimento dos docentes nas universidades públicas brasileiras. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 609-619, 2017. https://doi.org/10.1590/2175-353920170213111132
https://doi.org/10.1590/2175-35392017021...
; SOUZA et al., 2017SOUZA, K. R. et al. A nova organização do trabalho na universidade pública: consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 11, p. 3667-3676, 2017. https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
https://doi.org/10.1590/1413-81232017221...
).

O trabalho docente na concepção teórico-metodológica dinâmica e multidisciplinar esteve escassamente presente na literatura investigada. Em vista dessa lacuna, o presente estudo tem como objetivo mapear e analisar o estado da arte dos estudos sobre trabalho docente no Ensino Superior publicados no Brasil na última década (2010-2019) em artigos científicos indexados na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO). A pesquisa apresenta avanços teórico-metodológicos, tanto ao abordar a temática de forma abrangente quanto ao aliar técnicas quantitativas e qualitativas para análise da literatura.

Trabalho Docente na Educação Superior

Por seu caráter imaterial, o trabalho docente concebe, em seu exercício, a investidura de afeto e de intelecto (MANCEBO, 2013MANCEBO, D. Trabalho docente e produção de conhecimento. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 25, n. 3, p. 519-526, 2013. https://doi.org/10.1590/S0102-71822013000300006
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201300...
) e articula informação, conhecimento e comunicação (HOFFMANN et al., 2018HOFFMANN, C. et al. Relações entre autoconceito profissional e produtivismo na pós-graduação. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 30, e167961, p. 1-10, 2018. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30167961
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v3...
). Decorre disso a transmissão de impressões pessoais às tarefas docentes, “o que torna único o fazer laboral, assim como os graus de dispêndio físico e emocional” (HOFFMANN et al., 2019HOFFMANN, C. et al. Prazer e sofrimento no trabalho docente: Brasil e Portugal. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 45, e187263, p. 1-20 2019. https://doi.org/10.1590/s1678-4634201945187263
https://doi.org/10.1590/s1678-4634201945...
, p. 4) inerentes a essa profissão, em que se incluem a troca de ideias com os pares, o trabalho em equipe e o contato com discentes.

Em seu exercício, a profissão docente exige um repertório de saberes e conhecimentos que estimulem estratégias e técnicas pedagógicas para contemplar sua complexidade (CUNHA, 2019CUNHA, M. I. A formação docente na universidade e a ressignificação do senso comum. Educar em Revista, Curitiba, v. 35, n. 75, p. 121-133, 2019. https://doi.org/10.1590/0104-4060.67029
https://doi.org/10.1590/0104-4060.67029...
). Quando se trata da docência na educação superior, a questão ganha contornos específicos, tendo em vista as funções atribuídas a esse nível de ensino nos campos político, econômico e social, como a produção do conhecimento e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia (MAUÉS, 2010MAUÉS, O. A reconfiguração do trabalho docente na educação superior. Educar em Revista, Curitiba, n. esp., p. 141-160, 2010. https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400007
https://doi.org/10.1590/S0104-4060201000...
). As configurações do papel docente são produzidas socialmente em um tempo e lugar (CUNHA, 2013CUNHA, M. I. O tema da formação de professores: trajetórias e tendências do campo na pesquisa e na ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 609-625, 2013. https://doi.org/10.1590/S1517-97022013005000014
https://doi.org/10.1590/S1517-9702201300...
) e abrangem condições específicas de exercício, próprias do espaço e do tempo em que se estabelecem (CUNHA, 2019CUNHA, M. I. A formação docente na universidade e a ressignificação do senso comum. Educar em Revista, Curitiba, v. 35, n. 75, p. 121-133, 2019. https://doi.org/10.1590/0104-4060.67029
https://doi.org/10.1590/0104-4060.67029...
), disso decorrendo a necessidade de situar as análises sobre esse campo de estudos.

Na última década, a educação superior brasileira tem sido objeto de uma transição paradigmática e de constantes mudanças que impõem novas exigências às IES e implicam, consequentemente, novos desafios para o trabalho docente (MAUÉS, 2010MAUÉS, O. A reconfiguração do trabalho docente na educação superior. Educar em Revista, Curitiba, n. esp., p. 141-160, 2010. https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400007
https://doi.org/10.1590/S0104-4060201000...
; LOCATELLI, 2017LOCATELLI, C. Os professores no ensino superior brasileiro: transformações do trabalho docente na última década. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 98, n. 248, p. 77-93, 2017. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.98i248.2815
https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep....
; SOUZA et al., 2017SOUZA, K. R. et al. A nova organização do trabalho na universidade pública: consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 11, p. 3667-3676, 2017. https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
https://doi.org/10.1590/1413-81232017221...
; SANTOS; PEREIRA; LOPES, 2018SANTOS, C. C.; PEREIRA, F.; LOPES, A. Experiências da gestão acadêmica da docência universitária. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n. 3, p. 898-1008, 2018. https://doi.org/10.1590/2175-623674106
https://doi.org/10.1590/2175-623674106...
; HOFFMANN et al., 2018HOFFMANN, C. et al. Relações entre autoconceito profissional e produtivismo na pós-graduação. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 30, e167961, p. 1-10, 2018. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30167961
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v3...
; RODRIGUES; SOUZA, 2018RODRIGUES, A. M. S.; SOUZA, K. R. Trabalho e saúde de docentes de universidade pública: o ponto de vista sindical. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 221-242, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00104
https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol001...
; GEMELLI; CLOSS; FRAGA, 2020GEMELLI, C. E.; CERDEIRA, L. Covid-19: impactos e desafios para a educação superior brasileira e portuguesa. In: GUIMARÃES, L. V. M.; CARRETEIRO, T. C.; NASCIUTTI, J. R. Janelas da pandemia. Belo Horizonte: Editora Instituto DH, 2020. p. 115-124.). Além de ser afetado pelas crises econômicas e políticas, recai sobre esse nível de educação a responsabilidade imposta pelo sistema produtivo de criar e disseminar conhecimentos considerados úteis ao desenvolvimento da economia global (VASCONCELLOS; SORDI, 2016VASCONCELLOS, M. M. M.; SORDI, M. R. L. Formar professores universitários: tarefa (im)possível? Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 20, n. 57, p. 403-414, 2016. https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0450
https://doi.org/10.1590/1807-57622015.04...
) e propulsores da competitividade dos países, situando as IES no centro do processo de produção de ciência, tecnologia e inovação (SOUZA et al., 2017SOUZA, K. R. et al. A nova organização do trabalho na universidade pública: consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 11, p. 3667-3676, 2017. https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
https://doi.org/10.1590/1413-81232017221...
).

Quando a educação é entendida sob a perspectiva mercadológica, o ensino também se torna um produto/serviço de valor agregado, em IES tanto públicas quanto privadas. Nesse sentido, a atividade docente transforma-se em prestação de serviços sujeita à avaliação de resultados e transpassada pela adoção de princípios gerencialistas que criam uma cultura performativa nas IES, com um padrão de excelência sempre mutável, a qual atribui à docência novas responsabilizações (GEMELLI; CLOSS; FRAGA, 2020GEMELLI, C. E.; CERDEIRA, L. Covid-19: impactos e desafios para a educação superior brasileira e portuguesa. In: GUIMARÃES, L. V. M.; CARRETEIRO, T. C.; NASCIUTTI, J. R. Janelas da pandemia. Belo Horizonte: Editora Instituto DH, 2020. p. 115-124.). O modelo de gestão das universidades e a expansão do Ensino Superior têm contribuído para a aceleração do ritmo de trabalho docente das IES públicas, além da adaptação desse trabalho aos novos padrões da lógica de mercado (RODRIGUES; SOUZA, 2018RODRIGUES, A. M. S.; SOUZA, K. R. Trabalho e saúde de docentes de universidade pública: o ponto de vista sindical. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 221-242, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00104
https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol001...
).

O desenvolvimento do trabalho docente de Ensino Superior posiciona os(as) docentes em uma rede de múltiplos relacionamentos: com colegas, nem sempre estabelecidos com o mesmo regime contratual; com discentes; com saberes disciplinares; com as IES de exercício (WALKER, 2019WALKER, V. S. O trabalho docente universitário como prática relacional: disciplinas, saberes e instituições. Education, Language and Society, Florianópolis, v. 14, n. 14, p. 1-35, 2019. https://doi.org/10.5965/25944630312019009
https://doi.org/10.5965/2594463031201900...
). Considerar o contexto institucional no qual ocorre o trabalho docente é de extrema importância para a compreensão de sua dinâmica (OLIVEIRA; VASCONCELLOS, 2011OLIVEIRA, C. C.; VASCONCELLOS, M. M. M. A formação pedagógica institucional para a docência na Educação Superior. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 15, n. 39, p. 1011-1024, 2011. https://doi.org/10.1590/S1414-32832011005000024
https://doi.org/10.1590/S1414-3283201100...
).

Pontua-se que há similaridades e especificidades nas relações de trabalho da docência em IES públicas e privadas. Para Locatelli (2017)LOCATELLI, C. Os professores no ensino superior brasileiro: transformações do trabalho docente na última década. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 98, n. 248, p. 77-93, 2017. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.98i248.2815
https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep....
, há necessidade de análises mais aprofundadas de como essas relações se estabelecem em cada uma das formas de organização administrativa e acadêmica do Ensino Superior brasileiro. Gemelli, Closs e Fraga (2020)GEMELLI, C. E.; CLOSS, L. Q.; FRAGA, A. M. Multiformidade e pejotização: (re)configurações do trabalho docente no ensino superior privado sob o capitalismo flexível. Revista Eletrônica de Administração, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 409-438, 2020. https://doi.org/10.1590/1413-2311.289.101464
https://doi.org/10.1590/1413-2311.289.10...
consideram que, na contemporaneidade, o trabalho docente de Ensino Superior em IES privadas brasileiras é afetado por dupla complexidade, que se refere ao alastramento da racionalidade neoliberal – a qual altera o sentido social da educação e aproxima a docência da noção de prestação de serviços – e à precarização das relações trabalhistas, provocada pela atual crise do capitalismo e por reformas político-econômicas.

A discussão sobre a mercantilização da educação superior e seus impactos no trabalho docente é global (JESSOP, 2018JESSOP, B. On academic capitalism. Critical Policy Studies, Abingdon, v. 12, n. 1, p. 104-109, 2018. https://doi.org/10.1080/19460171.2017.1403342
https://doi.org/10.1080/19460171.2017.14...
; NASCIMENTO; CABRITO, 2017NASCIMENTO, A.; CABRITO, B. G. A autonomia do Ensino Superior Português entre a lei e a prática – estudo de caso múltiplo. Revista Educação em Questão, Natal, v. 55, n. 45, p. 42-73, 2017. https://doi.org/10.21680/1981-1802.2017v55n45ID12745
https://doi.org/10.21680/1981-1802.2017v...
; CERDEIRA; CABRITO, 2020CERDEIRA, L.; CABRITO, B. G. Os professores do ensino superior público em Portugal: Uma carreira em perigo? Revista Educação, Cultura e Sociedade, v. 10, n. 1, p. 6-22, 2020.; GEMELLI; CERDEIRA, 2020CERDEIRA, L.; CABRITO, B. G. Os professores do ensino superior público em Portugal: Uma carreira em perigo? Revista Educação, Cultura e Sociedade, v. 10, n. 1, p. 6-22, 2020.; GILDERSLEEVE, 2017GILDERSLEEVE, R. E. The neoliberal academy of the anthropocene and the retaliation of the lazy academic. Cultural Studies – Critical Methodologies, v. 17, n. 3, p. 286-293, 2017. https://doi.org/10.1177/1532708616669522
https://doi.org/10.1177/1532708616669522...
; ROSS; SAVAGE; WATSON, 2019ROSS, S.; SAVAGE, L.; WATSON, J. University teachers and resistance in the neoliberal university. Labor Studies Journal, Morgantown, p. 1-23, 2019. https://doi.org/10.1177/0160449X19883342
https://doi.org/10.1177/0160449X19883342...
). Ainda que inseridas em países com economias e aspectos sócio-históricos distintos, as IES foram mundialmente afetadas, de forma mais ou menos intensa, pelo avanço neoliberal e pela reestruturação capitalista (GEMELLI; CERDEIRA, 2020GEMELLI, C. E.; CERDEIRA, L. Covid-19: impactos e desafios para a educação superior brasileira e portuguesa. In: GUIMARÃES, L. V. M.; CARRETEIRO, T. C.; NASCIUTTI, J. R. Janelas da pandemia. Belo Horizonte: Editora Instituto DH, 2020. p. 115-124.). No contexto de Portugal, por exemplo, cada vez mais docentes universitários(as) ensinam e pesquisam tendo vínculos temporários, em detrimento de vínculos contratuais mais fortes e menos precários de dedicação exclusiva e tempo integral (CERDEIRA; CABRITO, 2020CERDEIRA, L.; CABRITO, B. G. Os professores do ensino superior público em Portugal: Uma carreira em perigo? Revista Educação, Cultura e Sociedade, v. 10, n. 1, p. 6-22, 2020.). A precarização resultante do avanço neoliberal incita diferentes reações, como no caso do Canadá, em que se observou crescimento da mobilização coletiva e maior politização dos sindicatos que representam docentes universitários(as) (ROSS; SAVAGE; WATSON, 2019ROSS, S.; SAVAGE, L.; WATSON, J. University teachers and resistance in the neoliberal university. Labor Studies Journal, Morgantown, p. 1-23, 2019. https://doi.org/10.1177/0160449X19883342
https://doi.org/10.1177/0160449X19883342...
).

Metodologia

A presente pesquisa fundamentou-se em uma revisão sistemática de literatura, com análise de aspectos quantitativos, sob a perspectiva bibliométrica (GEMELLI; FRAGA; PRESTES, 2019GEMELLI, C. E.; FRAGA, A. M.; PRESTES, V. A. Produção científica em relações de trabalho e gestão de pessoas (2000/2017). Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão, Fortaleza, v. 10, n. 2, p. 222-248, 2019. https://doi.org/10.19094/contextus.v17i2.41214
https://doi.org/10.19094/contextus.v17i2...
), e qualitativos, baseados na análise de conteúdo (MINAYO, 2009MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2009.). Ao incluir componentes quantitativos e qualitativos, as revisões de literatura avançam por possibilitar a identificação de novas estruturas conceituais, revelar inconsistências no corpo de pesquisa existente, sintetizar diversos resultados e oferecer subsídios para novos estudos (PALMATIER; HOUSTON; HULLAND, 2018PALMATIER, R. W.; HOUSTON, M. B.; HULLAND, J. Review articles: purpose, process, and structure. Journal of the Academy of Marketing Science, Thousand Oaks, v. 46, n. 1, p. 1-5, 2018. https://doi.org/10.1007/s11747-017-0563-4
https://doi.org/10.1007/s11747-017-0563-...
; FRAGA et al., 2021FRAGA, A. M. et al. As diversidades da diversidade: revisão sistemática da produção científica brasileira sobre diversidade na administração (2001-2019). Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, Early View, 2021.).

Para a consecução da presente revisão sistemática, as seguintes etapas foram desenvolvidas: 1) elaboração do objetivo da pesquisa; 2); definição do corpus de análise; 3) construção e validação da estratégia de busca; 4) coleta dos documentos; 5) leitura dos resumos dos documentos e limpeza dos dados conforme os critérios de exclusão; 6) elaboração do quadro de análise para a construção dos indicadores da produção científica; 7) leitura completa dos artigos; e 8) análise quantitativa e qualitativa dos dados.

O corpus dessa investigação é composto pelos artigos sobre “trabalho docente” indexados na base de dados SciELO no período de 2010 a 2019. Tal base de dados foi selecionada por suas representatividade e multidisciplinariedade, permitindo acesso aberto a centenas de periódicos brasileiros de diversas áreas do conhecimento. Seus critérios de indexação conferem confiabilidade e visibilidade às publicações disponibilizadas.

A coleta de dados foi realizada no dia 11 de novembro de 2020, baseada em estratégia de busca que incluiu os descritores para “trabalho docente” adaptados de Duarte (2010)DUARTE, A. A produção acadêmica sobre trabalho docente na educação básica no Brasil: 1987-2007. Educar em Revista, Curitiba, n. esp. 1, p. 101-117, 2010. https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400005
https://doi.org/10.1590/S0104-4060201000...
: trabalho docente; atividade docente; carreira docente; docência; magistério; profissão de professor(a); profissão docente; trabalho de professor(a). Os descritores relacionados à “educação superior”, utilizados em conjunto com os anteriores, foram: graduação; Ensino Superior; educação superior; faculdade; universidade; bacharelado; licenciatura; tecnólogo. Utilizaram-se os operadores booleanos AND, OR, a busca por todos os índices e a seleção do filtro de coleção por país (Brasil).

Na primeira fase, foram coletados 454 artigos cujos resumos foram lidos e cuja avaliação foi feita de acordo com os critérios de exclusão: aderência ao tema e corpus de investigação; formato de artigos, excluindo-se entrevistas e relatos de experiência; e relação com o contexto brasileiro, sendo excluídos estudos internacionais publicados no Brasil. Após a leitura dos resumos, restaram 189 artigos, que seguiram para a etapa de leitura completa e análise dos aspectos constitutivos e do conteúdo.

As análises de cunho bibliométrico observaram: distribuição temporal; distribuição por periódicos; frequência de autorias; distribuição de autorias por sexo; aspectos metodológicos dos estudos; e frequência de palavras-chave. Para a etapa qualitativa, o texto completo dos artigos foi analisado à luz de Minayo (2009)MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2009.. Realizaram-se: 1) organização do material, decompondo-o em partes; 2) distribuição das partes em categorias a priori – contexto institucional dos estudos – e a posteriori – núcleos temáticos; 3) descrição do resultado da categorização; e 4) realização das inferências dos resultados fundamentadas no suporte teórico adotado. As análises foram realizadas com auxílio do Microsoft Excel e dos softwares IBM SPSS Statistics e NVivo.

Resultados das Análises Bibliométricas

A distribuição temporal dos 189 artigos ao longo dos dez anos analisados foi o primeiro passo realizado relativo às análises bibliométricas. A Fig. 1 apresenta essa distribuição.

Figura 1
Distribuição temporal do número de publicações

Sublinha-se que, para análise do cenário de expansão ou declínio das publicações em um campo científico, é preciso considerar a influência de diversos fatores, tais como: surgimento de novos periódicos e eventos; aumento da produção científica e da cobrança por produtividade; maior distribuição das pesquisas científicas; e aumento do número de periódicos indexados nas bases de dados (FRAGA; GEMELLI; ROCHA-DE-OLIVEIRA 2019FRAGA, A. M.; GEMELLI, C. E.; ROCHA-DE-OLIVEIRA, S. Cenário das publicações científicas em carreira e gênero. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 158-178, 2019. https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.27973
https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.2797...
). Constatou-se que não houve, na última década, crescimento acentuado das publicações sobre a temática, embora o ano de 2017 se destaque como o de maior número de publicações, com 27 artigos.

Os artigos foram analisados pela distribuição em periódicos de publicação. A Tabela 1 apresenta o ranking dos quinze periódicos com maior número de artigos publicados sobre o tema. No que tange à representatividade das áreas desses periódicos, observa-se a predominância da Educação, seguida pelas áreas da Saúde – especialmente Medicina e Enfermagem – e da Psicologia.

Em pesquisa bibliométrica sobre a docência no Ensino Superior, com recorte temporal até o ano de 2016, Cintra (2018)CINTRA, P. R. A produção científica sobre docência no ensino superior: uma análise bibliométrica da SciELO Brasil. Avaliação, Campinas, v. 23, n. 2, p. 567-585, 2018. https://doi.org/10.1590/S1414-40772018000200016
https://doi.org/10.1590/S1414-4077201800...
já havia verificado a presença dos periódicos dos campos da Medicina e Enfermagem como os mais producentes sobre esse campo teórico, afora os periódicos da área de Educação. Ressalta-se que muitos dos artigos publicados em revistas cujo escopo não era o ensino e/ou a docência são oriundos de dossiês. Eles destacam-se, portanto, como forma de incentivar a realização e a publicização de pesquisas sobre o trabalho docente nas mais diversas áreas.

Tabela 1
Ranking dos periódicos com maior número de publicações

As autorias dos artigos foram analisadas por número de autores(as), conforme apresentado pela Tabela 2.

Tabela 2
Distribuição por número de autores(as)

Verifica-se que os artigos foram produzidos, majoritariamente, em coautoria (78,8%). O ranking de autores e autoras que mais contribuíram com publicações sobre a temática do trabalho docente está apresentado na Tabela 3.

Acentua-se que apenas a pesquisadora Maria Isabel Cunha, primeira colocada no ranking (com cinco artigos publicados), é vinculada diretamente à área de Educação. Os(as) demais pesquisadores(as) indicam afiliações a outras áreas acadêmicas, com destaque para as áreas de Ensino em Saúde (dezoito artigos) e Administração (doze trabalhos). Salienta-se que a área da Saúde é também representativa no ranking de periódicos; no entanto, nenhum periódico da Administração figura na lista dos mais producentes sobre o tema. Assim, infere-se que pesquisadores(as) de outras áreas, tais como a de Administração, busquem periódicos da Educação para a publicação de seus estudos sobre a temática da docência no Ensino Superior, o que pode indicar ausência de interesse sobre o tema e, consequentemente, uma lacuna a ser sanada.

Tabela 3
Ranking de autores e autoras com maior número de publicações

Ainda com relação à autoria, sua distribuição foi também analisada por sexo, conforme apresenta a Fig. 2.

Figura 2
Distribuição de autoria por sexo

É interessante analisar a proeminência das mulheres como autoras das pesquisas acerca do tema, sendo possíveis duas considerações que envolvem o contexto sócio-histórico do país: 1) a docência no campo da Pedagogia e focada nos anos escolares iniciais passou por um processo de feminização no Brasil (FURLIN, 2016FURLIN, N. Cruzando fronteiras de gênero: a docência feminina em campos profissionais “masculinos”. Cadernos Pagu, Campinas, v. 48, e164816, 2016. https://doi.org/10.1590/18094449201600480016
https://doi.org/10.1590/1809444920160048...
) – nesse sentido, o ensino infantil seria uma continuidade do ofício da maternagem; e 2) as áreas das pesquisadoras com maior destaque, relativas à saúde – Enfermagem, Nutrição, Psicologia – são espaços notadamente feminizados (APERIBENSE; BARREIRA, 2008APERIBENSE, P. G. G. S.; BARREIRA, I. A. Nexos entre Enfermagem, Nutrição e Serviço Social, profissões femininas pioneiras na área da Saúde. Revista Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 42, n. 3, p. 474-482, 2008. https://doi.org/10.1590/S0080-62342008000300009
https://doi.org/10.1590/S0080-6234200800...
; LOPES; LEAL, 2005LOPES, M. J. M.; LEAL, S. M. C. A feminização persistente na qualificação profissional da enfermagem brasileira. Cadernos Pagu, Campinas, v. 24, n. 1, p. 105-125, 2005. https://doi.org/10.1590/S0104-83332005000100006; FRAGA; GEMELLI; ROCHA-DE-OLIVEIRA, 2019FRAGA, A. M.; GEMELLI, C. E.; ROCHA-DE-OLIVEIRA, S. Cenário das publicações científicas em carreira e gênero. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 158-178, 2019. https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.27973
https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.2797...
). Ademais, das matrículas nos cursos de licenciatura registradas no Brasil em 2019, 72,2% foram de mulheres (INEP, 2020).

No que se refere aos aspectos metodológicos dos artigos publicados no período analisado, houve predomínio de abordagens qualitativas, com destaque para estudos baseados na realização e na análise de entrevistas (principalmente semiestruturadas e narrativas), representando 36% do total de artigos pesquisas documentais, ensaios teóricos e estudos baseados em questionários qualitativos. Quanto às pesquisas quantitativas (10,5%), a maioria fez uso de questionários como instrumento de coleta de dados. Observou-se que 9,5% dos estudos aliaram métodos quantitativos e qualitativos, com destaque para o uso de questionários quantitativos em conjunto com entrevistas.

As palavras-chave dos trabalhos avaliados foram extraídas e analisadas por frequência. A Fig. 3 apresenta o mapa com as 45 palavras-chave mais mencionadas nos artigos.

Figura 3
Mapa de frequência de palavras-chave

Além dos descritores centrais da pesquisa – trabalho docente, Ensino Superior, educação superior e docência –, sobressaem os termos pós-graduação; docente de enfermagem; educação médica; formação de professores; educação em enfermagem; formação docente; universidade; aprendizagem; saúde do trabalhador; trabalho. Em específico sobre questões de saúde, além da própria palavra “saúde”, de modo isolado, há uma série de termos relacionados que se destacam no mapa, entre os quais adoecimento, psicodinâmica do trabalho e qualidade de vida (DAVOGLIO; LETTNIN; BALDISSERA, 2015DAVOGLIO, T. R.; LETTNIN, C. C.; BALDISSERA, C. G. Avaliação da qualidade de vida em docentes brasileiros: uma revisão sistemática. Pro-Posições, Campinas, v. 6, n. 3, p. 145-166, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-7307201507807
https://doi.org/10.1590/0103-73072015078...
; OLIVEIRA; PEREIRA; LIMA, 2017OLIVEIRA, A. S. D.; PEREIRA, M. S.; LIMA, L. M. Trabalho, produtivismo e adoecimento dos docentes nas universidades públicas brasileiras. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 609-619, 2017. https://doi.org/10.1590/2175-353920170213111132
https://doi.org/10.1590/2175-35392017021...
; SOUZA et al., 2017SOUZA, K. R. et al. A nova organização do trabalho na universidade pública: consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 11, p. 3667-3676, 2017. https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
https://doi.org/10.1590/1413-81232017221...
). Encerrada a seção de análises quantitativas do estudo, apresentam-se, a seguir, os resultados elaborados pela análise qualitativa dos temas explorados nos trabalhos pesquisados.

Resultados e Discussões a Partir das Análises de Conteúdo

Partindo-se da premissa de que a compreensão do trabalho docente como uma prática social precisa considerar, em sua análise, o contexto institucional no qual está inserido (PIMENTA; ANASTASIOU, 2010PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2010.; WALKER, 2019WALKER, V. S. O trabalho docente universitário como prática relacional: disciplinas, saberes e instituições. Education, Language and Society, Florianópolis, v. 14, n. 14, p. 1-35, 2019. https://doi.org/10.5965/25944630312019009
https://doi.org/10.5965/2594463031201900...
), os artigos que especificaram seu contexto de estudo e/ou discussão foram categorizados em: IES públicas; IES privadas; IES públicas e privadas. A Fig. 4 apresenta o resultado dessa categorização.

Figura 4
Contexto institucional dos artigos

Observa-se que a discussão brasileira sobre trabalho docente no Ensino Superior concentra-se, majoritariamente, no cenário das IES públicas (51%), com predomínio das discussões sobre e desde Universidades Federais (22,22%), seguidas pelas Estaduais (7,94%). Alguns estudos mencionam envolver o contexto de IES ou universidades públicas, sem especificá-lo. Apenas um artigo teve como foco uma IES municipal e dois abordaram a docência superior em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

Os contextos das IES públicas e privadas foram debatidos concomitantemente em 17% dos artigos. A atividade docente em IES privadas foi objeto de estudo de apenas 10% dos trabalhos, embora esse segmento empregue o maior número de professores no país, tendo o último relatório do censo nacional da educação superior indicado que 88,4% das IES brasileiras são privadas. De acordo com o mesmo censo, o Brasil possuía, em 2019, 386.073 professores(as) de nível superior registrados(as), sendo 176.435 (45,7%) em instituições públicas (federais, estaduais e municipais) e 206.638 (54,3%) em instituições privadas (INEP, 2020INEP [INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA]. Censo da Educação Superior 2019: notas estatísticas. Brasília, DF: Inep, 2020.). Ou seja, a maior parte dos(as) docentes brasileiros(as) de Ensino Superior atua no setor privado, no entanto apenas 10% dos estudos mapeados concentram-se nesse contexto.

Esse achado revela a carência de estudos que investiguem o trabalho docente inseridos nesse setor, sobretudo considerando-se que o processo de reestruturação produtiva, com todas as suas implicações para as relações laborais, é determinante para a configuração do trabalho docente (LOCATELLI, 2017LOCATELLI, C. Os professores no ensino superior brasileiro: transformações do trabalho docente na última década. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 98, n. 248, p. 77-93, 2017. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.98i248.2815
https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep....
). A fragilização das relações de trabalho é evidenciada quando os(as) docentes atuam como horistas ou como pessoas jurídicas, situação característica do setor privado brasileiro (GEMELLI; CLOSS; FRAGA, 2020GEMELLI, C. E.; CERDEIRA, L. Covid-19: impactos e desafios para a educação superior brasileira e portuguesa. In: GUIMARÃES, L. V. M.; CARRETEIRO, T. C.; NASCIUTTI, J. R. Janelas da pandemia. Belo Horizonte: Editora Instituto DH, 2020. p. 115-124.).

Após a leitura completa dos 189 artigos, eles foram organizados em núcleos temáticos, buscando-se reunir estudos que compreendessem assuntos similares, ainda que adotassem objetivos e abordagens teórico-metodológicas distintas. Os núcleos temáticos foram adaptados de Silva e Pinto (2019) e Duarte (2010)DUARTE, A. A produção acadêmica sobre trabalho docente na educação básica no Brasil: 1987-2007. Educar em Revista, Curitiba, n. esp. 1, p. 101-117, 2010. https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400005
https://doi.org/10.1590/S0104-4060201000...
, buscando aproximações do trabalho atual com anteriores em um esforço para contribuir para a consolidação desse corpo teórico. Eles ficaram assim definidos: 1) aspectos teóricos, históricos e epistemológicos do trabalho docente; 2) saberes e práticas docentes; 3) formação docente; 4) perfil, identidade e profissionalidade docente; 5) motivação, sentidos e significados do trabalho docente; 6) impacto das reformas políticas, econômicas e educacionais no trabalho docente; 7) precarização, condições e relações de trabalho docente; 8) qualidade de vida, saúde e adoecimento docente; 9) novas tecnologias e trabalho docente; 10) gênero e trabalho docente; e 11) gestão do trabalho docente. A Fig. 5 apresenta a concentração dos trabalhos analisados nos temas identificados.

Figura 5
Núcleos temáticos dos trabalhos pesquisados

Ressalta-se que a distribuição por núcleos temáticos contemplou a discussão central de cada artigo; no entanto, considerando-se que se trata de um campo multifacetado, os temas se inter-relacionaram. Houve predominância de estudos que abordam a formação e a avaliação da docência universitária (32,8%), especialmente pelo entendimento de que a formação implica diagnosticar as necessidades de uma instituição e de sua comunidade, bem como o desenvolvimento de programas e atividades para atenderem a essas necessidades (OLIVEIRA; VASCONCELLOS, 2011OLIVEIRA, C. C.; VASCONCELLOS, M. M. M. A formação pedagógica institucional para a docência na Educação Superior. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 15, n. 39, p. 1011-1024, 2011. https://doi.org/10.1590/S1414-32832011005000024
https://doi.org/10.1590/S1414-3283201100...
).

Sobressai a discussão sobre a formação didática de docentes-bacharéis, visto que a docência universitária emerge como possível área de atuação para profissionais sem formação para o ensino – como ocorre nas licenciaturas –, oriundos de cursos de bacharelado (BARROS; DIAS; CABRAL, 2019BARROS, C. M. P.; DIAS, A. M. I.; CABRAL, A. C. A. Ações de formação docente institucionais: quais as contribuições para a constituição do docente-bacharel? Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, v. 27, n. 103, p. 317-339, 2019. https://doi.org/10.1590/S0104-40362019002701476
https://doi.org/10.1590/S0104-4036201900...
). Ademais, a carreira universitária não contempla dispositivos formais para uma preparação pedagógica prévia, fortalecendo a necessidade de construção de projetos institucionais de pedagogia universitária (MELO; CAMPOS, 2019MELO, G. F.; CAMPOS, V. T. B. Pedagogia universitária: por uma política institucional de desenvolvimento docente. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 49, n. 173, p. 44-62, 2019.).

As discussões centram-se, primordialmente, nas universidades, que tradicionalmente constituem um espaço de formação para a docência no Ensino Superior por meio dos programas de pós-graduação stricto sensu (VASCONCELLOS; SORDI, 2016VASCONCELLOS, M. M. M.; SORDI, M. R. L. Formar professores universitários: tarefa (im)possível? Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 20, n. 57, p. 403-414, 2016. https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0450
https://doi.org/10.1590/1807-57622015.04...
). Nesse cenário, o estágio docente assume importante papel e é foco de estudos em diferentes áreas de formação, como Direito (FINCATO, 2010FINCATO, D. Estágio de docência, prática jurídica e distribuição da justiça. Revista Direito GV, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 29-38, 2010. https://doi.org/10.1590/S1808-24322010000100002
https://doi.org/10.1590/S1808-2432201000...
), Administração (JOAQUIM et al., 2011JOAQUIM, N. F. et al. Estágio Docência: um Estudo no Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Lavras. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 15, n. 6, p. 1137-1151, 2011. https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000600010
https://doi.org/10.1590/S1415-6555201100...
; JOAQUIM; VILAS BOAS; CARRIERI, 2013JOAQUIM, N. F.; VILAS BOAS, A. A.; CARRIERI, A. P. Estágio docente: formação profissional, preparação para o ensino ou docência em caráter precário? Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 2, p. 351-365, 2013. https://doi.org/10.1590/S1517-97022013000200005
https://doi.org/10.1590/S1517-9702201300...
; ROCHA-DE-OLIVEIRA; DELUCA, 2017ROCHA-DE-OLIVEIRA, S.; DELUCA, G. Aprender e ensinar: o dueto do estágio docente. Cadernos EBAPE-BR, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 974-989, 2017. https://doi.org/10.1590/1679-395155011
https://doi.org/10.1590/1679-395155011...
), Nutrição (SOUZA et al., 2014SOUZA, L. K. C. S. et al. “Eu queria aprender a ser docente”: sobre a formação de mestres nos programas de pós-graduação do campo da alimentação e nutrição no Brasil. Revista de Nutrição, Campinas, v. 27, n. 6, p. 725-734, 2014. https://doi.org/10.1590/1415-52732014000600007
https://doi.org/10.1590/1415-52732014000...
) e Enfermagem (ALVES et al., 2019ALVES, L. R. et al. Reflexões sobre a formação docente na pós-graduação. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, p. 1-7, 2019. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2018-0366
https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-20...
). Os artigos abordam ainda o papel das monitorias (NATÁRIO; SANTOS, 2010NATÁRIO, E. G.; SANTOS, A. A. A. Programa de monitores para o Ensino Superior. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 27, n. 3, p. 355-364, 2010. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2010000300007
https://doi.org/10.1590/S0103-166X201000...
) e do pós-doutorado (CALVOSA; REPOSSI; CASTRO, 2011CALVOSA, M. V. D.; REPOSSI, M. G.; CASTRO, P. M. R. Avaliação de resultados da capacitação docente: o pós-doutorado na universidade federal fluminense sob a ótica da produção científica e bibliográfica. Avaliação, Campinas, v. 16, n. 1, p. 99-122, 2011.; CASTRO; PORTO; KANNEBLEY JÚNIOR, 2013CASTRO, P. M. R.; PORTO, G. S.; KANNEBLEY JÚNIOR, S. Pós-doutorado, essencial ou opcional? Uma radiografia crítica no que diz respeito às contribuições para a produção científica. Avaliação, Campinas, v. 18, n. 3, p. 773-801, 2013. https://doi.org/10.1590/S1414-40772013000300013
https://doi.org/10.1590/S1414-4077201300...
), sendo esse último diretamente relacionado à formação para a atividade de pesquisa. Diversos estudos indicam déficits da efetiva formação docente nos programas stricto sensu, especialmente do ponto de vista de pós-graduandos(as) (RIBEIRO; CUNHA, 2010RIBEIRO, M. L.; CUNHA, M. I. Trajetórias da docência universitária em um programa de pós-graduação em saúde coletiva. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 14, n. 32, p. 55-68, 2010. https://doi.org/10.1590/S1414-32832010000100005
https://doi.org/10.1590/S1414-3283201000...
).

No processo de formação, são desenvolvidos os saberes a serem mobilizados durante a prática profissional da docência (FREITAS et al., 2016FREITAS, D. A. et al. Saberes docentes sobre processo ensino-aprendizagem e sua importância para a formação profissional em saúde. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 20, n. 57, p. 437-448, 2016. https://doi.org/10.1590/1807-57622014.1177
https://doi.org/10.1590/1807-57622014.11...
). Saberes e práticas docentes (18%) constituem o segundo eixo mais debatido nos artigos analisados. A didática docente e a pedagogia universitária são analisadas, especialmente, em estudos de áreas específicas, como Medicina (CARABETTA JÚNIOR, 2010CARABETTA JÚNIOR, V. Rever, pensar e (re)significar: a importância da reflexão sobre a prática na profissão docente. Revista Brasileira de Educação Médica, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 580-658, 2010. https://doi.org/10.1590/S0100-55022010000400014
https://doi.org/10.1590/S0100-5502201000...
) e Contabilidade (MIRANDA; CASA NOVA; CORNACCHIONE JUNIOR, 2012MIRANDA, G. J.; CASA NOVA, S. P. C.; CORNACCHIONE JUNIOR, E. B. Os saberes dos professores-referência no ensino de contabilidade. Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 23, n. 59, p. 142-153, 2012. https://doi.org/10.1590/S1519-70772012000200006
https://doi.org/10.1590/S1519-7077201200...
). Os saberes e práticas docentes de Ensino Superior envolvem também a pesquisa, a extensão e a orientação, além de outras atividades, como a elaboração de pareceres para agências de fomento (MUNIZ-OLIVEIRA, 2010MUNIZ-OLIVEIRA, S. Um estudo sobre o trabalho de elaboração de parecer do professor de pós-graduação. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 26, n. 2, p. 289-317, 2010. https://doi.org/10.1590/S0102-44502010000200003
https://doi.org/10.1590/S0102-4450201000...
).

Ressaltam-se o estudo de Carmo e Franco (2019)CARMO, R. O. S.; FRANCO, A. P. Da docência presencial à docência online: Aprendizagens de professores universitários na educação a distância. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 35, n. 1, p. 1-29, 2019. https://doi.org/10.33448/rsd-v10i16.23667
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i16.2366...
– que teve como foco a aprendizagem e a prática de docentes com experiência no ensino presencial, quando passaram a atuar na educação a distância (EaD) – e o de Cassundé, Mendonça e Barbosa (2017)CASSUNDÉ, F. R. S. A.; MENDONÇA, J. R. C.; BARBOSA, M. A. C. A influência das condições institucionais no desenvolvimento de competências eletrônicas dos professores para o ensino na EAD: proposição de um modelo analítico. Avaliação, Campinas, v. 22, n. 2, p. 469-493, 2017. https://doi.org/10.1590/S1414-40772017000200012
https://doi.org/10.1590/S1414-4077201700...
– que propôs um modelo analítico sobre a influência das condições institucionais no desenvolvimento de competências eletrônicas, na docência para o ensino na EaD –, visto que poucos artigos abordaram o trabalho docente nessa perspectiva. Como salientado por Alonso e Silva (2018)ALONSO, K. M.; SILVA, D. G. A educação a distância e a formação online: o cenário das pesquisas, metodologias e tendências. Educação & Sociedade, Campinas, v. 39, n. 143, p. 499-514, 2018. https://doi.org/10.1590/ES0101-73302018200082
https://doi.org/10.1590/ES0101-733020182...
, presencia-se, nos últimos anos, uma vertiginosa expansão da oferta de formação por meio da EaD, dispondo das inúmeras possibilidades que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) engendram nos processos formativos, em especial os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) e, mais recentemente, as redes sociais.

A terceira temática de maior foco nos artigos disse respeito a precarização, condições e relações de trabalho docente (12,2%). Os artigos convergem quanto ao advento do avanço da racionalidade mercadológica para o campo educacional, sua imposição de novas exigências às IES e, consequentemente, de novos desafios para o trabalho docente (MAUÉS, 2010MAUÉS, O. A reconfiguração do trabalho docente na educação superior. Educar em Revista, Curitiba, n. esp., p. 141-160, 2010. https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400007
https://doi.org/10.1590/S0104-4060201000...
; LOCATELLI, 2017LOCATELLI, C. Os professores no ensino superior brasileiro: transformações do trabalho docente na última década. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 98, n. 248, p. 77-93, 2017. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.98i248.2815
https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep....
; SOUZA et al., 2017SOUZA, K. R. et al. A nova organização do trabalho na universidade pública: consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 11, p. 3667-3676, 2017. https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
https://doi.org/10.1590/1413-81232017221...
, SANTOS; PEREIRA; LOPES, 2018; HOFFMANN et al., 2018HOFFMANN, C. et al. Relações entre autoconceito profissional e produtivismo na pós-graduação. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 30, e167961, p. 1-10, 2018. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30167961
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v3...
; RODRIGUES; SOUZA, 2018RODRIGUES, A. M. S.; SOUZA, K. R. Trabalho e saúde de docentes de universidade pública: o ponto de vista sindical. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 221-242, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00104
https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol001...
). Diversas pesquisas denunciam a intensificação do trabalho docente, ancorado no crescimento do produtivismo acadêmico, que tem como mote a ênfase na quantidade de produções bibliográficas (BERNARDO, 2014BERNARDO, M. H. Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: o desgaste mental dos docentes. Psicologia & Sociedade, Recife, v. 26, n. esp., p. 129-139, 2014. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000500014
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201400...
), principalmente no contexto da pós-graduação (HOFFMANN et al., 2018HOFFMANN, C. et al. Relações entre autoconceito profissional e produtivismo na pós-graduação. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 30, e167961, p. 1-10, 2018. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30167961
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v3...
). Há ainda o crescimento da relação matrícula/função docente, que se tornou ainda mais acentuado nos centros universitários e nas faculdades, locais de maior incidência do setor privado (LOCATELLI, 2017LOCATELLI, C. Os professores no ensino superior brasileiro: transformações do trabalho docente na última década. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 98, n. 248, p. 77-93, 2017. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.98i248.2815
https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep....
).

Os artigos que discutem o impacto das reformas políticas, econômicas e educacionais no trabalho docente (2,6 %) salientam, em geral, a fragilização das relações e a piora das condições para esse trabalho. Por isso, as temáticas são complementares na literatura. As condições do trabalho docente são permeadas pela política educacional, que tem como determinante a reformulação das diretrizes para o ensino superior, no sentido de adequar a educação às exigências do mercado e da competitividade global (PINTO, 2014PINTO, M. B. Condições sócio-ocupacionais do trabalho docente e a formação profissional. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 120, p. 662-676, 2014. https://doi.org/10.1590/0101-6628.003
https://doi.org/10.1590/0101-6628.003...
).

Motivação, sentido e significados do trabalho docente (7,9%) e qualidade de vida, saúde e adoecimento docente (7,4 %) são núcleos temáticos que se inter-relacionam e se aproximam da discussão sobre a precarização do trabalho docente. O regime de flexibilização, percebido principalmente na última década, altera a percepção dos sentidos e significados da docência (D’ARISBO et al., 2018D’ARISBO, A. et al. Regimes de flexibilização e sentidos do trabalho para docentes de ensino superior em instituições públicas e privadas. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 495-517, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00125
https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol001...
). A precariedade subjetiva resultante desse processo leva a um desgaste mental, que pode ter como consequência o sofrimento psíquico e o adoecimento (BERNARDO, 2014BERNARDO, M. H. Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: o desgaste mental dos docentes. Psicologia & Sociedade, Recife, v. 26, n. esp., p. 129-139, 2014. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000500014
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201400...
). As condições de trabalho dos docentes, a infraestrutura das universidades, a intensificação do trabalho, e a produtividade acadêmica despontam como aspectos negativos que têm contribuído para a configuração do quadro de adoecimento docente nas universidades públicas (RODRIGUES; SOUZA, 2018RODRIGUES, A. M. S.; SOUZA, K. R. Trabalho e saúde de docentes de universidade pública: o ponto de vista sindical. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 221-242, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00104
https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol001...
).

Nos artigos sobre perfil, identidade e profissionalidade docente (5,3%), é frequente a busca por identificar quais as competências que compõem o perfil de docentes de referência em áreas como Administração (SOUZA-SILVA et al., 2018SOUZA-SILVA, J. C. et al. Competências docentes para o ensino superior em administração: a ótica dos graduandos de três universidades da Bahia. Organizações & Sociedade, Salvador, v. 25, n. 86, p. 457-484, 2018. https://doi.org/10.1590/1984-9250866
https://doi.org/10.1590/1984-9250866...
) e Enfermagem (CONTIM; SANNA, 2011CONTIM, D.; SANNA, M. C. Ensino de administração de serviços de saúde: perfil de enfermeiras que exerceram a docência. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 24, n. 6, p. 756-761, 2011. https://doi.org/10.1590/S0103-21002011000600004
https://doi.org/10.1590/S0103-2100201100...
). Nas discussões dos aspectos teóricos, históricos e epistemológicos do trabalho docente (4,8%), sobressaem-se as reflexões ancoradas nas concepções de Pierre Bourdieu e Paulo Freire.

Em contraponto à identificação da predominância feminina nas autorias dos artigos sobre trabalho docente no Ensino Superior, o tema gênero e trabalho docente (4,2%) é incipiente nas discussões. Salienta-se que, em diversas áreas acadêmicas, a docência feminina de nível superior tem sido uma conquista recente que vem se afirmando em meio a desafios. Esse fenômeno sobressai, sobretudo, nos campos de saberes que se estruturaram, ao longo de muitos séculos, como espaços exclusivamente masculinos (FURLIN, 2016FURLIN, N. Cruzando fronteiras de gênero: a docência feminina em campos profissionais “masculinos”. Cadernos Pagu, Campinas, v. 48, e164816, 2016. https://doi.org/10.1590/18094449201600480016
https://doi.org/10.1590/1809444920160048...
). De acordo com o Inep (2020), tanto na rede privada quanto na rede pública, os(as) docentes mais frequentes são homens. Outrossim, como exposto por Warde e Rocha (2018)WARDE, M. J. W.; ROCHA, A. C. S. M. Feminização do magistério e masculinização do comando educacional: estudos no Teachers College da Universidade de Columbia (1927-1935). Educar em Revista, Curitiba, v. 34, n. 70, p. 35-50, 2018. https://doi.org/10.1590/0104-4060.58725
https://doi.org/10.1590/0104-4060.58725...
, merece atenção a escassez de discussões com destaque para o processo de masculinização da direção política e intelectual do campo educacional, concomitante ao processo de feminização do magistério.

A gestão docente (3,7%), núcleo temático pouco abordado, relaciona-se tanto com a gestão do trabalho docente (MENDONÇA NETO; ANTUNES; VIEIRA, 2015MENDONCA NETO, O. R.; ANTUNES, M. T. P.; VIEIRA, A. M. Controle do trabalho docente: provocações foucaultianas para análise da gestão universitária. Avaliação, Campinas, v. 20, n. 3, p. 665-683, 2015. https://doi.org/10.1590/S1414-40772015000300006
https://doi.org/10.1590/S1414-4077201500...
) quanto com a gestão universitária na perspectiva de docentes que assumem essa função. Há baixa incidência de artigos que abordem a relação novas tecnologias e trabalho docente (1,1%), outra lacuna na literatura, considerando que a educação vem sofrendo modificações com a introdução de novas mídias nos processos educativos (PEREIRA et al., 2016PEREIRA, T. A. et al. Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação por Professores da Área da Saúde da Universidade Federal de São Paulo. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p. 59-66, 2016. https://doi.org/10.1590/1981-52712015v40n1e01482015
https://doi.org/10.1590/1981-52712015v40...
).

Nenhum dos artigos coletados centrou-se na discussão da temática sobre sindicalismo e resistência no trabalho docente de Ensino Superior, núcleo temático sugerido por Dutra (2010). Apenas o estudo de Rodrigues e Souza (2018)RODRIGUES, A. M. S.; SOUZA, K. R. Trabalho e saúde de docentes de universidade pública: o ponto de vista sindical. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 221-242, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00104
https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol001...
aproximou-se do eixo, ao elencar como objetivo analisar o adoecimento de docentes de universidades públicas do ponto de vista sindical. As autoras indicam a necessidade de discussões que aprofundem os modos de resistência e de defesa da saúde, diante da precarização e da intensificação do trabalho docente de Ensino Superior no contexto brasileiro.

Considerações Finais

Com base no trabalho empreendido, mapeou-se e analisou-se o estado da arte das pesquisas acadêmicas sobre o trabalho docente de Ensino Superior publicadas no país na última década e indexadas na base de dados SciELO. Entre as principais contribuições do presente estudo estão: 1) categorização e síntese dos principais achados dessa produção, sob uma abordagem multidisciplinar e abrangente, aliando técnicas quantitativas e qualitativas de análise, o que favorece a consolidação da literatura sobre o tema e subsidia novas investigações, suprindo a lacuna de pesquisa anteriormente mencionada (CINTRA, 2018CINTRA, P. R. A produção científica sobre docência no ensino superior: uma análise bibliométrica da SciELO Brasil. Avaliação, Campinas, v. 23, n. 2, p. 567-585, 2018. https://doi.org/10.1590/S1414-40772018000200016
https://doi.org/10.1590/S1414-4077201800...
; LAZZARI; MARTINI; BUSANA, 2015LAZZARI, D. D.; MARTINI J. G.; BUSANA, J. A. Docência no ensino superior em enfermagem: revisão integrativa de literatura. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 36, n. 3, p. 93-101, 2015. http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2015.03.4967
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.0...
; SILVA; PINTO, 2019SILVA, V. O. S.; PINTO, I. C. M. P. Produção científica sobre docência em saúde no Brasil. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. esp., p. 134-147, 2019. https://doi.org/10.1590/0103-11042019S112
https://doi.org/10.1590/0103-11042019S11...
); 2) proposição de uma categorização por núcleos temáticos para análise da produção científica sobre trabalho docente em Ensino Superior, que poderá ser replicada em outras revisões sistemáticas; 3) esboço de questionamentos e reflexões pautados nas análises dos achados do presente estudo, visando provocar novos debates e avanços nesses campos teórico e empírico; e 4) delineamento de uma agenda de pesquisa decorrente das reflexões feitas e das lacunas identificadas no estudo.

Como principais resultados do estudo, destaca-se que, na última década, não houve crescimento das publicações sobre a temática do trabalho docente superior, além de essa produção concentrar-se nas áreas de Educação e Ciências da Saúde, aspecto corroborado por Cintra (2018)CINTRA, P. R. A produção científica sobre docência no ensino superior: uma análise bibliométrica da SciELO Brasil. Avaliação, Campinas, v. 23, n. 2, p. 567-585, 2018. https://doi.org/10.1590/S1414-40772018000200016
https://doi.org/10.1590/S1414-4077201800...
, o que indica haver baixa representatividade na discussão sobre o tema em outras áreas de conhecimento. Apesar da crescente sobrecarga de trabalho, da perda de qualidade de vida e da presença de doenças psicossomáticas e patologias psíquicas entre os(as) docentes (DAVOGLIO; LETTNIN; BALDISSERA, 2015DAVOGLIO, T. R.; LETTNIN, C. C.; BALDISSERA, C. G. Avaliação da qualidade de vida em docentes brasileiros: uma revisão sistemática. Pro-Posições, Campinas, v. 6, n. 3, p. 145-166, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-7307201507807
https://doi.org/10.1590/0103-73072015078...
; OLIVEIRA et al., 2017OLIVEIRA, A. S. D.; PEREIRA, M. S.; LIMA, L. M. Trabalho, produtivismo e adoecimento dos docentes nas universidades públicas brasileiras. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 609-619, 2017. https://doi.org/10.1590/2175-353920170213111132
https://doi.org/10.1590/2175-35392017021...
; SOUZA et al., 2017SOUZA, K. R. et al. A nova organização do trabalho na universidade pública: consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 11, p. 3667-3676, 2017. https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
https://doi.org/10.1590/1413-81232017221...
), poucos estudos enfocaram aspectos relativos à precarização, às condições e às relações de trabalho docente (12,2%). As pesquisas quantitativas, com amostras representativas, estão sub-representadas (10,5%). Outro ponto crítico é que – embora haja literatura comportando a afirmação de que a fragilização das relações do trabalho docente ocorre de forma intensificada no contexto do ensino privado (GEMELLI; CLOSS; FRAGA, 2020GEMELLI, C. E.; CERDEIRA, L. Covid-19: impactos e desafios para a educação superior brasileira e portuguesa. In: GUIMARÃES, L. V. M.; CARRETEIRO, T. C.; NASCIUTTI, J. R. Janelas da pandemia. Belo Horizonte: Editora Instituto DH, 2020. p. 115-124.) e de que o contexto institucional interfere na prática docente (PIMENTA; ANASTASIOU, 2010PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2010.; WALKER, 2019WALKER, V. S. O trabalho docente universitário como prática relacional: disciplinas, saberes e instituições. Education, Language and Society, Florianópolis, v. 14, n. 14, p. 1-35, 2019. https://doi.org/10.5965/25944630312019009
https://doi.org/10.5965/2594463031201900...
) – apenas 10% dos estudos foram realizados tendo como campo de análise IES privadas, em contraste com os 51% dedicados ao contexto de IES públicas. Esse apontamento corrobora o estudo de Ferreira, Nascimento e Salvá (2014)FERREIRA, P. C. A. S.; NASCIMENTO, R. P.; SALVÁ, M. N. R. Professor: profissão de risco. Uma análise do impacto da gestão de IES privadas sobre o trabalho docente. Sociedade, Contabilidade & Gestão, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 152-171, 2014. https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v9i2.13326
https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v9i2.1...
, que destacaram a predominância das pesquisas voltadas à abordagem de docentes de ensino público, indicando a carência de estudos sobre a docência em IES privadas.

Ainda entre os resultados do presente trabalho, salienta-se que, apesar da concentração de estudos nos núcleos temáticos de avaliação e formação docente (32,8%), bem como de saberes e práticas docentes (18%), verificou-se a carência de pesquisas sobre a relação entre as novas tecnologias e o trabalho docente (1,1%). Esse fator merece atenção, dado o expressivo crescimento no número de matrículas na modalidade EaD – operacionalizada primordialmente com o uso de tecnologias – registrado nos últimos censos, havendo variação positiva de 15,9% entre 2018 e 2019, enquanto os cursos presenciais tiveram decréscimo de 1,5%. Considera-se tal lacuna especialmente importante, haja vista que a educação sofre modificações com a introdução de novas mídias nos processos educativos (PEREIRA et al., 2016PEREIRA, T. A. et al. Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação por Professores da Área da Saúde da Universidade Federal de São Paulo. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p. 59-66, 2016. https://doi.org/10.1590/1981-52712015v40n1e01482015
https://doi.org/10.1590/1981-52712015v40...
). A modalidade de EaD exige formas particulares de interagir, aprender e ensinar, bem como o desenvolvimento de competências profissionais adicionais (BEHAR, 2013BEHAR, P. A. (org.). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013.). A pandemia da Covid-19 fez com que atividades presenciais migrassem para o ensino remoto emergencial. Aspectos e condições que, em tempos de aulas predominantemente presenciais, já dificultavam a qualidade da atuação docente tornaram-se mais desafiadores nesse contexto (GUSSO et al., 2020GUSSO, H. L. et al. Ensino superior em tempos de pandemia: diretrizes à gestão universitária. Educação & Sociedade, Campinas, v. 41, e238957, 2020. https://doi.org/10.1590/ES.238957
https://doi.org/10.1590/ES.238957...
). Tal situação acentuou ainda mais a precarização do trabalho docente outrora denunciada, principalmente nas IES privadas (GEMELLI; CERDEIRA, 2020GEMELLI, C. E.; CERDEIRA, L. Covid-19: impactos e desafios para a educação superior brasileira e portuguesa. In: GUIMARÃES, L. V. M.; CARRETEIRO, T. C.; NASCIUTTI, J. R. Janelas da pandemia. Belo Horizonte: Editora Instituto DH, 2020. p. 115-124.).

O presente estudo também evidenciou que a temática de gênero é incipiente na literatura do campo, embora haja predomínio de mulheres como autoras nas pesquisas e de publicações sobre o tema em áreas historicamente feminizadas (APERIBENSE; BARREIRA, 2008APERIBENSE, P. G. G. S.; BARREIRA, I. A. Nexos entre Enfermagem, Nutrição e Serviço Social, profissões femininas pioneiras na área da Saúde. Revista Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 42, n. 3, p. 474-482, 2008. https://doi.org/10.1590/S0080-62342008000300009
https://doi.org/10.1590/S0080-6234200800...
; LOPES; LEAL, 2005LOPES, M. J. M.; LEAL, S. M. C. A feminização persistente na qualificação profissional da enfermagem brasileira. Cadernos Pagu, Campinas, v. 24, n. 1, p. 105-125, 2005. https://doi.org/10.1590/S0104-83332005000100006; FRAGA; GEMELLI; ROCHA-DE-OLIVEIRA, 2019FRAGA, A. M.; GEMELLI, C. E.; ROCHA-DE-OLIVEIRA, S. Cenário das publicações científicas em carreira e gênero. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 158-178, 2019. https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.27973
https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.2797...
). As parcas discussões mantêm, ainda, o caráter binário, focadas nos aspectos exclusivamente de mulheres na docência, sem a menção de outras identidades ou expressões de gênero. Nesse sentido, observou-se a relevância tanto de novas pesquisas como de avanço conceitual, no que se refere às abordagens de gênero (FRAGA; GEMELLI; ROCHA-DE-OLIVEIRA, 2019FRAGA, A. M.; GEMELLI, C. E.; ROCHA-DE-OLIVEIRA, S. Cenário das publicações científicas em carreira e gênero. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 158-178, 2019. https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.27973
https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.2797...
). Por conseguinte, não foram identificados estudos cuja abordagem do trabalho docente de Ensino Superior trouxesse a perspectiva de sexualidade, raça/etnia, classe e pessoas com deficiência. Como categorização para análises futuras dos eixos temáticos das publicações sobre trabalho docente no Ensino Superior, sugere-se que a categoria 10 – gênero e trabalho docente – seja ampliada para “gênero e marcadores sociais de diferença”.

Com base nos resultados obtidos e nas lacunas detectadas, elabora-se uma sugestão de agenda para avanço das pesquisas brasileiras sobre trabalho docente na educação superior.

  • Estudos quantitativos com amostras representativas sobre o trabalho docente no contexto das IES privadas brasileiras, especialmente devido ao crescimento da atuação de conglomerados educacionais na educação superior brasileira (BIELSCHOWSKY, 2020BIELSCHOWSKY, C. E. Tendências de precarização do Ensino Superior privado no Brasil. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Brasília, DF, v. 36, n. 1, p. 241- 271, 2020. https://doi.org/10.21573/vol36n12020.99946
    https://doi.org/10.21573/vol36n12020.999...
    );

  • Discussões sobre o trabalho docente no contexto da EaD, sobretudo considerando o crescimento vertiginoso dessa modalidade de ensino conforme dados do último censo da educação superior;

  • Análises dos impactos das reformas política, econômica e educacional no trabalho docente, como a fragilização das relações de trabalho advinda da reforma trabalhista de 2017 (GEMELLI; CLOSS; FRAGA, 2020GEMELLI, C. E.; CERDEIRA, L. Covid-19: impactos e desafios para a educação superior brasileira e portuguesa. In: GUIMARÃES, L. V. M.; CARRETEIRO, T. C.; NASCIUTTI, J. R. Janelas da pandemia. Belo Horizonte: Editora Instituto DH, 2020. p. 115-124.);

  • Estudos sobre a gestão docente, que também representa um dos campos de atuação da profissão;

  • ‘Debates sobre sindicalismo e resistência no trabalho docente de Ensino Superior;

  • Pesquisas sobre trabalho docente e marcadores sociais de diferença – gênero, sexualidade, raça/etnia, classe, pessoas com deficiência etc.;

  • Investigações sobre as implicações da pandemia da Covid-19 – e das consequências pós-pandemia – no trabalho docente de Ensino Superior, principalmente no que se refere às questões digitais, como debatido por Nóvoa e Alvim (2021)NÓVOA, A.; ALVIM, Y. C. Os professores depois da pandemia. Educação & Sociedade, Campinas, v. 42, e249236, p. 1-16, 2021. https://doi.org/10.1590/ES.249236
    https://doi.org/10.1590/ES.249236...
    .

Sugere-se, igualmente, a replicação da atual pesquisa no encerramento do próximo quinquênio (2020-2025) e/ou da próxima década (2020-2029), possibilitando a análise temporal comparativa do estado da arte da produção acadêmica sobre trabalho docente no Ensino Superior publicada no Brasil e indexada na base de dados SciELO. Outrossim, a replicação da pesquisa em outras bases de dados que indexem periódicos com extrato qualis mais baixos trará maior amplitude de análise ao campo de estudos.

Como limitação da pesquisa, salienta-se que há periódicos brasileiros que não estão indexados na base de dados SciELO, assim como nem todos os resultados de teses e dissertações estão publicados em artigos. Há, portanto, pesquisas de interesse para o tema que não estão contempladas na presente pesquisa. No entanto, dada a representatividade e a interdisciplinaridade da base de dados, é possível inferir que os resultados aqui expostos apresentam uma radiografia válida do campo abordado.

Referências

  • ALONSO, K. M.; SILVA, D. G. A educação a distância e a formação online: o cenário das pesquisas, metodologias e tendências. Educação & Sociedade, Campinas, v. 39, n. 143, p. 499-514, 2018. https://doi.org/10.1590/ES0101-73302018200082
    » https://doi.org/10.1590/ES0101-73302018200082
  • ALVES, L. R. et al. Reflexões sobre a formação docente na pós-graduação. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, p. 1-7, 2019. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2018-0366
    » https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2018-0366
  • APERIBENSE, P. G. G. S.; BARREIRA, I. A. Nexos entre Enfermagem, Nutrição e Serviço Social, profissões femininas pioneiras na área da Saúde. Revista Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 42, n. 3, p. 474-482, 2008. https://doi.org/10.1590/S0080-62342008000300009
    » https://doi.org/10.1590/S0080-62342008000300009
  • ARAUJO, E. C.; BATISTA, S. H.; GERAB, I. F. A produção científica sobre docência em saúde: um estudo em periódicos nacionais. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 35, n. 4, p. 486-492, 2011. https://doi.org/10.1590/S0100-55022011000400007
    » https://doi.org/10.1590/S0100-55022011000400007
  • BARROS, C. M. P.; DIAS, A. M. I.; CABRAL, A. C. A. Ações de formação docente institucionais: quais as contribuições para a constituição do docente-bacharel? Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, v. 27, n. 103, p. 317-339, 2019. https://doi.org/10.1590/S0104-40362019002701476
    » https://doi.org/10.1590/S0104-40362019002701476
  • BEHAR, P. A. (org.). Competências em educação a distância Porto Alegre: Penso, 2013.
  • BERNARDO, M. H. Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: o desgaste mental dos docentes. Psicologia & Sociedade, Recife, v. 26, n. esp., p. 129-139, 2014. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000500014
    » https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000500014
  • BIELSCHOWSKY, C. E. Tendências de precarização do Ensino Superior privado no Brasil. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Brasília, DF, v. 36, n. 1, p. 241- 271, 2020. https://doi.org/10.21573/vol36n12020.99946
    » https://doi.org/10.21573/vol36n12020.99946
  • CALVOSA, M. V. D.; REPOSSI, M. G.; CASTRO, P. M. R. Avaliação de resultados da capacitação docente: o pós-doutorado na universidade federal fluminense sob a ótica da produção científica e bibliográfica. Avaliação, Campinas, v. 16, n. 1, p. 99-122, 2011.
  • CARABETTA JÚNIOR, V. Rever, pensar e (re)significar: a importância da reflexão sobre a prática na profissão docente. Revista Brasileira de Educação Médica, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 580-658, 2010. https://doi.org/10.1590/S0100-55022010000400014
    » https://doi.org/10.1590/S0100-55022010000400014
  • CARMO, R. O. S.; FRANCO, A. P. Da docência presencial à docência online: Aprendizagens de professores universitários na educação a distância. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 35, n. 1, p. 1-29, 2019. https://doi.org/10.33448/rsd-v10i16.23667
    » https://doi.org/10.33448/rsd-v10i16.23667
  • CASSUNDÉ, F. R. S. A.; MENDONÇA, J. R. C.; BARBOSA, M. A. C. A influência das condições institucionais no desenvolvimento de competências eletrônicas dos professores para o ensino na EAD: proposição de um modelo analítico. Avaliação, Campinas, v. 22, n. 2, p. 469-493, 2017. https://doi.org/10.1590/S1414-40772017000200012
    » https://doi.org/10.1590/S1414-40772017000200012
  • CASTRO, P. M. R.; PORTO, G. S.; KANNEBLEY JÚNIOR, S. Pós-doutorado, essencial ou opcional? Uma radiografia crítica no que diz respeito às contribuições para a produção científica. Avaliação, Campinas, v. 18, n. 3, p. 773-801, 2013. https://doi.org/10.1590/S1414-40772013000300013
    » https://doi.org/10.1590/S1414-40772013000300013
  • CERDEIRA, L.; CABRITO, B. G. Os professores do ensino superior público em Portugal: Uma carreira em perigo? Revista Educação, Cultura e Sociedade, v. 10, n. 1, p. 6-22, 2020.
  • CINTRA, P. R. A produção científica sobre docência no ensino superior: uma análise bibliométrica da SciELO Brasil. Avaliação, Campinas, v. 23, n. 2, p. 567-585, 2018. https://doi.org/10.1590/S1414-40772018000200016
    » https://doi.org/10.1590/S1414-40772018000200016
  • CONTIM, D.; SANNA, M. C. Ensino de administração de serviços de saúde: perfil de enfermeiras que exerceram a docência. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 24, n. 6, p. 756-761, 2011. https://doi.org/10.1590/S0103-21002011000600004
    » https://doi.org/10.1590/S0103-21002011000600004
  • CUNHA, M. I. O tema da formação de professores: trajetórias e tendências do campo na pesquisa e na ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 609-625, 2013. https://doi.org/10.1590/S1517-97022013005000014
    » https://doi.org/10.1590/S1517-97022013005000014
  • CUNHA, M. I. A formação docente na universidade e a ressignificação do senso comum. Educar em Revista, Curitiba, v. 35, n. 75, p. 121-133, 2019. https://doi.org/10.1590/0104-4060.67029
    » https://doi.org/10.1590/0104-4060.67029
  • D’ARISBO, A. et al. Regimes de flexibilização e sentidos do trabalho para docentes de ensino superior em instituições públicas e privadas. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 495-517, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00125
    » https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00125
  • DAVOGLIO, T. R.; LETTNIN, C. C.; BALDISSERA, C. G. Avaliação da qualidade de vida em docentes brasileiros: uma revisão sistemática. Pro-Posições, Campinas, v. 6, n. 3, p. 145-166, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-7307201507807
    » https://doi.org/10.1590/0103-7307201507807
  • DUARTE, A. A produção acadêmica sobre trabalho docente na educação básica no Brasil: 1987-2007. Educar em Revista, Curitiba, n. esp. 1, p. 101-117, 2010. https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400005
    » https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400005
  • FERREIRA, P. C. A. S.; NASCIMENTO, R. P.; SALVÁ, M. N. R. Professor: profissão de risco. Uma análise do impacto da gestão de IES privadas sobre o trabalho docente. Sociedade, Contabilidade & Gestão, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 152-171, 2014. https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v9i2.13326
    » https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v9i2.13326
  • FINCATO, D. Estágio de docência, prática jurídica e distribuição da justiça. Revista Direito GV, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 29-38, 2010. https://doi.org/10.1590/S1808-24322010000100002
    » https://doi.org/10.1590/S1808-24322010000100002
  • FRAGA, A. M. et al. As diversidades da diversidade: revisão sistemática da produção científica brasileira sobre diversidade na administração (2001-2019). Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, Early View, 2021.
  • FRAGA, A. M.; GEMELLI, C. E.; ROCHA-DE-OLIVEIRA, S. Cenário das publicações científicas em carreira e gênero. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 158-178, 2019. https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.27973
    » https://doi.org/10.12712/rpca.v13i3.27973
  • FREITAS, D. A. et al. Saberes docentes sobre processo ensino-aprendizagem e sua importância para a formação profissional em saúde. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 20, n. 57, p. 437-448, 2016. https://doi.org/10.1590/1807-57622014.1177
    » https://doi.org/10.1590/1807-57622014.1177
  • FURLIN, N. Cruzando fronteiras de gênero: a docência feminina em campos profissionais “masculinos”. Cadernos Pagu, Campinas, v. 48, e164816, 2016. https://doi.org/10.1590/18094449201600480016
    » https://doi.org/10.1590/18094449201600480016
  • GEMELLI, C. E.; CERDEIRA, L. Covid-19: impactos e desafios para a educação superior brasileira e portuguesa. In: GUIMARÃES, L. V. M.; CARRETEIRO, T. C.; NASCIUTTI, J. R. Janelas da pandemia Belo Horizonte: Editora Instituto DH, 2020. p. 115-124.
  • GEMELLI, C. E.; CLOSS, L. Q.; FRAGA, A. M. Multiformidade e pejotização: (re)configurações do trabalho docente no ensino superior privado sob o capitalismo flexível. Revista Eletrônica de Administração, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 409-438, 2020. https://doi.org/10.1590/1413-2311.289.101464
    » https://doi.org/10.1590/1413-2311.289.101464
  • GEMELLI, C. E.; FRAGA, A. M.; PRESTES, V. A. Produção científica em relações de trabalho e gestão de pessoas (2000/2017). Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão, Fortaleza, v. 10, n. 2, p. 222-248, 2019. https://doi.org/10.19094/contextus.v17i2.41214
    » https://doi.org/10.19094/contextus.v17i2.41214
  • GENTILI, P.; ALENCAR, C. Educar na esperança em tempos de desencanto Petrópolis: Vozes: 2001.
  • GILDERSLEEVE, R. E. The neoliberal academy of the anthropocene and the retaliation of the lazy academic. Cultural Studies – Critical Methodologies, v. 17, n. 3, p. 286-293, 2017. https://doi.org/10.1177/1532708616669522
    » https://doi.org/10.1177/1532708616669522
  • GUSSO, H. L. et al. Ensino superior em tempos de pandemia: diretrizes à gestão universitária. Educação & Sociedade, Campinas, v. 41, e238957, 2020. https://doi.org/10.1590/ES.238957
    » https://doi.org/10.1590/ES.238957
  • HOFFMANN, C. et al. Relações entre autoconceito profissional e produtivismo na pós-graduação. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 30, e167961, p. 1-10, 2018. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30167961
    » https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30167961
  • HOFFMANN, C. et al. Prazer e sofrimento no trabalho docente: Brasil e Portugal. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 45, e187263, p. 1-20 2019. https://doi.org/10.1590/s1678-4634201945187263
    » https://doi.org/10.1590/s1678-4634201945187263
  • INEP [INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA]. Censo da Educação Superior 2019: notas estatísticas. Brasília, DF: Inep, 2020.
  • JESSOP, B. On academic capitalism. Critical Policy Studies, Abingdon, v. 12, n. 1, p. 104-109, 2018. https://doi.org/10.1080/19460171.2017.1403342
    » https://doi.org/10.1080/19460171.2017.1403342
  • JOAQUIM, N. F. et al. Estágio Docência: um Estudo no Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Lavras. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 15, n. 6, p. 1137-1151, 2011. https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000600010
    » https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000600010
  • JOAQUIM, N. F.; VILAS BOAS, A. A.; CARRIERI, A. P. Estágio docente: formação profissional, preparação para o ensino ou docência em caráter precário? Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 2, p. 351-365, 2013. https://doi.org/10.1590/S1517-97022013000200005
    » https://doi.org/10.1590/S1517-97022013000200005
  • LAZZARI, D. D.; MARTINI J. G.; BUSANA, J. A. Docência no ensino superior em enfermagem: revisão integrativa de literatura. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 36, n. 3, p. 93-101, 2015. http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2015.03.4967
    » https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.03.4967
  • LOCATELLI, C. Os professores no ensino superior brasileiro: transformações do trabalho docente na última década. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 98, n. 248, p. 77-93, 2017. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.98i248.2815
    » https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.98i248.2815
  • LOPES, M. J. M.; LEAL, S. M. C. A feminização persistente na qualificação profissional da enfermagem brasileira. Cadernos Pagu, Campinas, v. 24, n. 1, p. 105-125, 2005. https://doi.org/10.1590/S0104-83332005000100006
  • MANCEBO, D. Trabalho docente e produção de conhecimento. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 25, n. 3, p. 519-526, 2013. https://doi.org/10.1590/S0102-71822013000300006
    » https://doi.org/10.1590/S0102-71822013000300006
  • MAUÉS, O. A reconfiguração do trabalho docente na educação superior. Educar em Revista, Curitiba, n. esp., p. 141-160, 2010. https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400007
    » https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000400007
  • MELO, G. F.; CAMPOS, V. T. B. Pedagogia universitária: por uma política institucional de desenvolvimento docente. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 49, n. 173, p. 44-62, 2019.
  • MENDONCA NETO, O. R.; ANTUNES, M. T. P.; VIEIRA, A. M. Controle do trabalho docente: provocações foucaultianas para análise da gestão universitária. Avaliação, Campinas, v. 20, n. 3, p. 665-683, 2015. https://doi.org/10.1590/S1414-40772015000300006
    » https://doi.org/10.1590/S1414-40772015000300006
  • MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2009.
  • MIRANDA, G. J.; CASA NOVA, S. P. C.; CORNACCHIONE JUNIOR, E. B. Os saberes dos professores-referência no ensino de contabilidade. Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 23, n. 59, p. 142-153, 2012. https://doi.org/10.1590/S1519-70772012000200006
    » https://doi.org/10.1590/S1519-70772012000200006
  • MUNIZ-OLIVEIRA, S. Um estudo sobre o trabalho de elaboração de parecer do professor de pós-graduação. D.E.L.T.A, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 289-317, 2010. https://doi.org/10.1590/S0102-44502010000200003
    » https://doi.org/10.1590/S0102-44502010000200003
  • NASCIMENTO, A.; CABRITO, B. G. A autonomia do Ensino Superior Português entre a lei e a prática – estudo de caso múltiplo. Revista Educação em Questão, Natal, v. 55, n. 45, p. 42-73, 2017. https://doi.org/10.21680/1981-1802.2017v55n45ID12745
    » https://doi.org/10.21680/1981-1802.2017v55n45ID12745
  • NATÁRIO, E. G.; SANTOS, A. A. A. Programa de monitores para o Ensino Superior. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 27, n. 3, p. 355-364, 2010. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2010000300007
    » https://doi.org/10.1590/S0103-166X2010000300007
  • NÓVOA, A.; ALVIM, Y. C. Os professores depois da pandemia. Educação & Sociedade, Campinas, v. 42, e249236, p. 1-16, 2021. https://doi.org/10.1590/ES.249236
    » https://doi.org/10.1590/ES.249236
  • OLIVEIRA, A. L.; LOURENÇO, C. D. S.; CASTRO, G. C. Ensino de administração nos EUA e no Brasil: uma análise histórica. Revista Pretexto, v. 16, n. 1, p. 11-22, 2015.
  • OLIVEIRA, A. S. D.; PEREIRA, M. S.; LIMA, L. M. Trabalho, produtivismo e adoecimento dos docentes nas universidades públicas brasileiras. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 609-619, 2017. https://doi.org/10.1590/2175-353920170213111132
    » https://doi.org/10.1590/2175-353920170213111132
  • OLIVEIRA, C. C.; VASCONCELLOS, M. M. M. A formação pedagógica institucional para a docência na Educação Superior. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 15, n. 39, p. 1011-1024, 2011. https://doi.org/10.1590/S1414-32832011005000024
    » https://doi.org/10.1590/S1414-32832011005000024
  • OLIVEIRA, T. et al. Preparação pedagógica para médicos e sua atuação no curso de medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 42, n. 3, p. 171-177, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42n3RB2017066.r2ING
    » https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42n3RB2017066.r2ING
  • PALMATIER, R. W.; HOUSTON, M. B.; HULLAND, J. Review articles: purpose, process, and structure. Journal of the Academy of Marketing Science, Thousand Oaks, v. 46, n. 1, p. 1-5, 2018. https://doi.org/10.1007/s11747-017-0563-4
    » https://doi.org/10.1007/s11747-017-0563-4
  • PEREIRA, T. A. et al. Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação por Professores da Área da Saúde da Universidade Federal de São Paulo. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p. 59-66, 2016. https://doi.org/10.1590/1981-52712015v40n1e01482015
    » https://doi.org/10.1590/1981-52712015v40n1e01482015
  • PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no Ensino Superior São Paulo: Cortez, 2010.
  • PINTO, M. B. Condições sócio-ocupacionais do trabalho docente e a formação profissional. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 120, p. 662-676, 2014. https://doi.org/10.1590/0101-6628.003
    » https://doi.org/10.1590/0101-6628.003
  • RIBEIRO, M. L.; CUNHA, M. I. Trajetórias da docência universitária em um programa de pós-graduação em saúde coletiva. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 14, n. 32, p. 55-68, 2010. https://doi.org/10.1590/S1414-32832010000100005
    » https://doi.org/10.1590/S1414-32832010000100005
  • ROCHA-DE-OLIVEIRA, S.; DELUCA, G. Aprender e ensinar: o dueto do estágio docente. Cadernos EBAPE-BR, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 974-989, 2017. https://doi.org/10.1590/1679-395155011
    » https://doi.org/10.1590/1679-395155011
  • RODRIGUES, A. M. S.; SOUZA, K. R. Trabalho e saúde de docentes de universidade pública: o ponto de vista sindical. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 221-242, 2018. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00104
    » https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00104
  • ROSS, S.; SAVAGE, L.; WATSON, J. University teachers and resistance in the neoliberal university. Labor Studies Journal, Morgantown, p. 1-23, 2019. https://doi.org/10.1177/0160449X19883342
    » https://doi.org/10.1177/0160449X19883342
  • SANTOS, C. C.; PEREIRA, F.; LOPES, A. Experiências da gestão acadêmica da docência universitária. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n. 3, p. 898-1008, 2018. https://doi.org/10.1590/2175-623674106
    » https://doi.org/10.1590/2175-623674106
  • SILVA, V. O. S.; PINTO, I. C. M. P. Produção científica sobre docência em saúde no Brasil. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. esp., p. 134-147, 2019. https://doi.org/10.1590/0103-11042019S112
    » https://doi.org/10.1590/0103-11042019S112
  • SOUZA, L. K. C. S. et al. “Eu queria aprender a ser docente”: sobre a formação de mestres nos programas de pós-graduação do campo da alimentação e nutrição no Brasil. Revista de Nutrição, Campinas, v. 27, n. 6, p. 725-734, 2014. https://doi.org/10.1590/1415-52732014000600007
    » https://doi.org/10.1590/1415-52732014000600007
  • SOUZA, K. R. et al. A nova organização do trabalho na universidade pública: consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 11, p. 3667-3676, 2017. https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
    » https://doi.org/10.1590/1413-812320172211.01192016
  • SOUZA-SILVA, J. C. et al. Competências docentes para o ensino superior em administração: a ótica dos graduandos de três universidades da Bahia. Organizações & Sociedade, Salvador, v. 25, n. 86, p. 457-484, 2018. https://doi.org/10.1590/1984-9250866
    » https://doi.org/10.1590/1984-9250866
  • VASCONCELLOS, M. M. M.; SORDI, M. R. L. Formar professores universitários: tarefa (im)possível? Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 20, n. 57, p. 403-414, 2016. https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0450
    » https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0450
  • WALKER, V. S. O trabalho docente universitário como prática relacional: disciplinas, saberes e instituições. Education, Language and Society, Florianópolis, v. 14, n. 14, p. 1-35, 2019. https://doi.org/10.5965/25944630312019009
    » https://doi.org/10.5965/25944630312019009
  • WARDE, M. J. W.; ROCHA, A. C. S. M. Feminização do magistério e masculinização do comando educacional: estudos no Teachers College da Universidade de Columbia (1927-1935). Educar em Revista, Curitiba, v. 34, n. 70, p. 35-50, 2018. https://doi.org/10.1590/0104-4060.58725
    » https://doi.org/10.1590/0104-4060.58725
Editor de Seção: Nelson Cardoso do Amaral

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Mar 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    12 Dez 2020
  • Aceito
    06 Out 2021
Centro de Estudos Educação e Sociedade - Cedes Av. Berttrand Russel, 801 - Fac. de Educação - Anexo II - 1 andar - sala 2, CEP: 13083-865, +55 12 99162 5609, Fone / Fax: + 55 19 3521-6710 / 6708 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: revistas.cedes@linceu.com.br