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Publicação e recepção das obras do Círculo de Bakhtin no Brasil: a consolidação da análise dialógica do discurso

RESUMO

Neste artigo, busca-se, a partir da análise das publicações e das recepções das obras que compõem o referencial da análise dialógica do discurso (ADD) no Brasil e de uma retomada da trajetória já traçada por pesquisadoras(es) brasileiras(os), discorrer sobre o percurso que levou à consolidação da ADD no país. Desse modo, listam-se quatro fases da ADD no Brasil. Na primeira fase da recepção, identificam-se leituras esparsas, realizadas a partir de publicações de algumas obras do Círculo de Bakhtin em russo, francês, inglês, espanhol e italiano. Já a segunda fase foi marcada pela publicação das primeiras edições brasileiras de obras do Círculo. Na terceira fase, procurou-se sistematizar os conceitos e metodologias presentes nas obras do Círculo. Por fim, na última fase, na qual nos encontramos atualmente, busca-se consolidar e contextualizar cada vez mais a ADD, através, principalmente, da publicação de obras traduzidas por pesquisadores da ADD, com notas críticas e históricas.

PALAVRAS-CHAVE:
Análise Dialógica do Discurso; História da Linguística; Periodização

ABSTRACT

In this article, we seek, based on the analysis of publications and receptions of works that comprise the referential of Dialogic Discourse Analysis (DDA) in Brazil and a resumption of the trajectory already traced by Brazilian researchers, discuss the path that led to the consolidation of DDA in the country. Thus, four phases of DDA in Brazil are listed. At the first reception phase, scattered readings were identified, based on publications of some works from the Bakhtin Circle in Russian, French, English, Spanish and Italian. The second phase, on its turn, was marked by the publication of the first Brazilian editions of the Circle’s works. At the third phase, Brazilian scholars sought to systematize the concepts and methodologies present in the Circle’s works. Finally, at the last phase, in which we currently are, we seek to consolidate and contextualize DDA more and more through, mainly, the publication of works translated by DDA’s researchers, with critical and historical notes.

KEYWORDS:
Dialogic Discourse Analysis; History of Linguistics; Periodization

Considerações iniciais

A análise dialógica do discurso, chamada também de translinguística (TODOROV, 1981TODOROV, T. Os gêneros do discurso. Trad. Ana M. Leite. Lisboa: Edições 70, 1981.), “(...) metalinguística, perspectiva dialógica ou teoria/análise dialógica do discurso, ou, ainda, estudos bakhtinianos” (BRAIT, 2020BRAIT, B. Perspectiva dialógica: um percurso brasileiro. In: BAGNO, Marcos; VIEIRA, Francisco Eduardo (orgs.). História das línguas, história da linguística: homenagem a Carlos Alberto Faraco. São Paulo: Parábola, 2020. p.41-60., p.42; grifos no original) pelas(os) pesquisadoras(es) que a estudam e a utilizam em suas análises, foi formulada a partir dos/nos escritos dos membros do grupo hoje chamado Círculo de Bakhtin1 1 A expressão “Círculo de Bakhtin” foi criada pelas(os) leitoras(es) da análise dialógica do discurso para se referir ao grupo de pensadores de diferentes áreas do conhecimento que se reuniam com Mikhail Bakhtin entre 1919 e 1929 para discutir questões da sua contemporaneidade. A existência do Círculo fora confirmada por Mikhail Bakhtin em suas entrevistas a Viktor Duvakin, em 1973 (BAKHTIN; DUVAKIN, 2008). O Círculo era formado por Mikhail Bakhtin, Pável Medviédev, Valentin Volóchinov, Matvei I. Kagan, Liev. V. Pumpiánski, Ivan I. Sollertínski, Maria Iúdina, K. Váguinov, Borís Zubákin e I. Kanaev. Para o nosso trabalho, consideramos os autores Mikhail Bakhtin, Pável Medviédev e Valentin Volóchinov, que tinham uma estreita parceria que se refletia no pensamento sobre linguagem, central na nossa pesquisa. Também consideramos como produção do Círculo os trabalhos produzidos antes e após o término dos encontros do grupo, tendo em vista o aparente diálogo entre as concepções ao longo das produções de cada autor. : os estudiosos russos Mikhail Bakhtin2 2 Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975), de acordo com a Oxford Bibliographies (2018, n.p., tradução nossa): “foi um teórico literário cuja obra permaneceu obscura até a última década de sua vida. Os primeiros trabalhos publicados de Bakhtin surgiram durante os anos de censura e repressão stalinista (...). O grupo de acadêmicos com o qual Bakhtin estava associado começou a se reunir em 1918, em Nevel, e depois em Vitebsk, com a mudança de Bakhtin para lá em 1920. Bakhtin foi preso em 1928, mas a intervenção de associados o salvou de ser enviado para um campo de trabalho; assim, ele e sua esposa foram extraditados para o Cazaquistão. (...) Bakhtin foi contratado pelo Instituto Pedagógico Mordoviano de Saransk, onde se tornou Professor de Literatura Russa e Mundial. Bakhtin voltou para Moscou no final dos anos 1960, para tratamento médico. (...) Muitos dos termos usados por Bakhtin - carnavalesco, cronotopo, dialogismo, voz, monologismo, gênero e endereçamento - entraram no léxico dos campos das artes, humanidades e ciências sociais”. , Pável Medviédev3 3 Pável Nikoláevitch Medviédev (1891-1938), conforme Grillo (2020, p.248), foi “um teórico e historiador da literatura e um crítico eminente. Membro ativo do ‘Renascimento cultural’ de Vítebsk, anos 1910-1920, e do ‘Círculo - científico-filosófico - de Bakhtin’, formou-se como filólogo e passou a maior parte de sua vida em São Petersburgo-Leningrado, onde teve contato com muitos ativistas culturais expressivos do Século de Prata”. É autor de O método formal nos estudos literários (2012 [1928]). e Valentin Volóchinov4 4 Valentin Volóchinov (1895-1936) foi um dos principais integrantes do Círculo de Bakhtin. Conforme Sheilla Grillo e Ekaterina Volkova Américo (2017), Volóchinov foi aceito como professor-colaborador do ILIAZV - Institút Sravnítelnoi Istórii literatúr i iazykóv Západa i Vostóka, em 1925, cargo que exerceu até, quando o Instituto foi reformulado. Nesse ano, Volóchinov “passou a dar aulas no Instituto Pedagógico A. I. Guértsen e no Instituto de Elevação da Qualificação dos Trabalhadores da Arte até 1934, quando teve de parar de trabalhar devido ao agravamento de sua tuberculose, vindo a falecer em 13 de junho de 1936” (GRILLO; VOLKOVA, 2017, p.278). É autor dos livros O freudismo (1927) e Marxismo e filosofia da linguagem (1929), obras por vezes atribuídas a Bakhtin, e de ensaios como “A palavra na vida e a palavra na poesia” e “A construção do enunciado”. . Os escritos do Círculo começaram a ser lidos no Brasil no final dos anos 1960 (BRAIT, 2012bBRAIT, B. A chegada de Voloshinov/Bakhtin ao Brasil na década de 1970. In: ZANDWAIS, A. (org.). História das ideias: diálogos entre linguagem, cultura e história. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2012b. p.216-243.), e, nesses mais de 50 anos de recepção, observamos um grande movimento por parte de pesquisadoras e pesquisadores do país, que buscaram sistematizar, esmiuçar e complementar as questões teóricas e metodológicas presentes nas obras de Bakhtin, Volóchinov e Medviédev, consolidando a análise dialógica do discurso.

Sobre a teoria surgir a partir da leitura dos textos dos membros do Círculo ou nos próprios escritos desses, cabe explicarmos duas questões. A primeira diz respeito à nomenclatura da teoria aqui abordada. No Brasil, de acordo com Adail Sobral (2019)SOBRAL, A. Entrevista especial VI - Adail Sobral (FURG). Entrevistado por Flaviane Moraes, Neil Franco, Rafael Alves e Tiago Guimarães. O Consoante, 9 de abr. de 2019. Disponível em: http://oconsoante.com.br/2019/04/09/entrevista-especial-vi/. Acesso em: 29 mar. 2021.
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, a nomenclatura “análise dialógica do discurso” foi utilizada pela primeira vez pela pesquisadora Beth Brait5 5 Não localizamos em nossa pesquisa a data exata em que o termo fora utilizado pela primeira vez. Todavia, encontramos, no Prefácio escrito por Beth Brait para o livro Introdução à teoria do enunciado concreto do Círculo Bakhtin/Volochinov/Medvedev, de Geraldo Tadeu de Souza, publicado em 1999, fruto de sua dissertação de mestrado, orientada por Brait e defendida em 1997, a menção à análise dialógica do discurso: “Como conseqüência dessa perseguição teórica, desse verdadeiro trabalho de detetive que tanto pode colaborar para a discussão dos trabalhos assinados por Bakhtin e por outros componentes do círculo, a reflexão sobre a metalingüística ou translinguística aparece como uma espécie de análise dialógica do discurso, sem que essa expressão tenha sido mencionada, nem pelos pensadores estudados e nem por Geraldo, para caracterizar a natureza da investigação e a construção dos princípios conceituais que hoje, das mais diferentes maneiras, têm penetrado os estudos sobre a linguagem” (BRAIT, 1999, p.12). , sendo adotada pela comunidade brasileira de pesquisadoras(es) de estudos bakhtinianos por uma questão de necessidade de se destacar “que havia uma proposta de estudo de discurso de cunho dialógico que se diferenciava de todas as outras, logo, uma Análise Dialógica do Discurso” (SOBRAL, 2019SOBRAL, A. Entrevista especial VI - Adail Sobral (FURG). Entrevistado por Flaviane Moraes, Neil Franco, Rafael Alves e Tiago Guimarães. O Consoante, 9 de abr. de 2019. Disponível em: http://oconsoante.com.br/2019/04/09/entrevista-especial-vi/. Acesso em: 29 mar. 2021.
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, n.p.).

Luciane de Paula, estudiosa da ADD, em seu artigo “Círculo de Bakhtin: uma Análise Dialógica de Discurso”, afirma que atualmente, nas pesquisas da área, considerase “Bakhtin como ADD exatamente para distingui-lo de outros pensadores de outras perspectivas teóricas (como Pêcheux, Foucault, Maingueneau, Charaudeau, Amossy na AD francesa, por exemplo), sem apagar a singularidade de suas posições teóricas” (PAULA, 2013PAULA, L. de. Círculo de Bakhtin: uma análise dialógica de discurso. Revista de Estudos da Linguagem, v. 21, n. 1, p.239-257, 2013. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/125169. Acesso em: 09 set. 2020.
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, p.249). As nomenclaturas análise dialógica do discurso e teoria dialógica do discurso, perspectiva dialógica, estudos bakhtinianos e teoria bakhtiniana surgem, então, a partir da leitura dos trabalhos do Círculo de Bakhtin. Já metalinguística foi uma nomeação dada por Bakhtin nos textos “O problema do texto na lingüística, na filologia e em outras ciências humanas” (2003bBAKHTIN, M. O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. [1959-1961] In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003b. p.307-336. [1979]. [1959-1961]) e “O discurso em Dostoiévski” (2002bBAKHTIN, M. O discurso em Dostoiévski. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002b. p.181-272. [1963] [1963]).

A segunda questão diz respeito à recepção das obras do Círculo de Bakhtin no Brasil ter tido até então quatro fases distintas, o que gerou, certamente, leituras diferentes da obra6 6 A pesquisadora Luciane de Paula, em entrevista à revista Consoante (2021, n.p.), mostra que “O Círculo teve uma repercussão, não só no Brasil, mas no mundo todo, a conta-gotas e de certa forma caótica, porque não se tinha o acesso a seus textos. Os arquivos foram abertos depois [da morte dos autores] e os textos do Círculo acabaram chegando a nós conforme foi possível”. Na entrevista, a estudiosa divide a recepção em três fases, de forma bastante organizada: a primeira recepção, entre os anos de 1970 e 1990, tinha como características a) autorias trocadas, b) acesso ao material de forma não cronológica, c) traduções indiretas, d) acesso aos textos através de alguns intelectuais que tiveram acesso àquilo que estava sendo discutido na Europa, e) Ditadura Militar no Brasil, “momento em que nas escolas estudava-se comunicação e expressão, ainda longe de se refletir sobre língua e linguagem”; a segunda recepção, entre 2000 e 2010 caracterizada pelo “processo de traduções diretas e separações de autorias”, e início “daquilo que Beth Brait chama de Análise Dialógica de Discurso como uma forma de marcar o nosso lugar, o jeito que a gente olha o discurso, já que aqui os estudos de Bakhtin fazem parte da seara discursiva”; a terceira recepção, dos anos 2010 a 2020, na qual temos acesso maior “a traduções diretas com críticas, por exemplo, de Paulo Bezerra, Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, que além de tradutores, são estudiosos que pensam criticamente aquilo que traduzem”. Embora concordemos com a divisão feita pela autora, acrescentamos, à sua análise, mais uma fase, dos primeiros contatos de leitoras e leitores brasileiros com as obras ainda não traduzidas no país. . Como mostra Beth Brait (2012bBRAIT, B. A chegada de Voloshinov/Bakhtin ao Brasil na década de 1970. In: ZANDWAIS, A. (org.). História das ideias: diálogos entre linguagem, cultura e história. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2012b. p.216-243., p.216), a tendência que observamos de serem feitas novas ou diferentes reflexões sobre as obras do Círculo “(...) está respaldada pelas descobertas feitas a partir de arquivos, dos quais as Obras reunidas (BOTCHARÓV et al., 1997, 2000, 2002, 2003, 2012; POPOVA, 2008) são produto essencial”. Também a respeito da recepção das ideias do Círculo no Brasil, Carlos Alberto Faraco em Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin, afirma que

Além da confusão em torno da autoria de certos textos publicados nos anos 1920, a recepção da obra do Círculo de Bakhtin, quando de sua reentrada em cena de meados da década de 1960 em diante, foi, para dizer o menos, bastante tumultuada. (...)

No Brasil, a recepção das ideias do Círculo teve também suas peculiaridades. Além de não poucos problemas de tradução, o pensamento do Círculo, com bastante frequência e durante muitos anos, foi identificado quase exclusivamente ao livro Marxismo e filosofia da linguagem, o primeiro a ser publicado em português (em 1979) (FARACO, 2009FARACO, C. A. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009., p.14-15).

Desse modo, entendemos que traçar um percurso da recepção das obras do Círculo de Bakhtin no Brasil pode ser um passo para organizarmos o caos acerca da recepção do pensamento de bakhtiniano no país, embora defendamos a importância e validade das leituras realizadas em todas as fases de que aqui trataremos. Essa trajetória vem sendo tratada por inúmeros(as) pesquisadores(as) do Brasil, como Beth Brait, Clara Ornellas, Carlos Alberto Faraco, Luciane de Paula, Adail Sobral, Sheila Grillo entre outros(as). Desse modo, neste artigo buscamos traçar o percurso brasileiro da análise dialógica do discurso (ADD) a partir da análise das publicações e das recepções das obras que compõem o referencial da ADD no país, e a partir de uma retomada da trajetória já traçada por pesquisadoras(es) brasileiras(os).

Com a finalidade de contextualizar nossas leituras e vislumbrar o percurso realizado pelas pesquisadoras e pesquisadores de nosso país, buscamos discorrer sobre as fases da recepção das obras do Círculo de Bakhtin no Brasil, as quais, a nosso ver, contribuíram para a consolidação da análise dialógica do discurso no país. Entendemos que historicizar a teoria por nós utilizada seja condizente com a proposta da própria teoria, uma vez que a compreensão dialógica ativa exige a inserção do objeto a ser compreendido em um contexto dialógico, o qual se estende ao passado e ao futuro sem limites (BAKHTIN, 2017bBAKHTIN, M. Por uma metodologia das ciências humanas [1975]. In: BAKHTIN, M. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas [1970-1975]. Organização, tradução e notas de Paulo Bezerra; Notas da edição russa de Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2017b.).

O artigo está divido em quatro seções, nas quais abordaremos as quatro fases da recepção das obras do Círculo de Bakhtin no país identificadas em nossa pesquisa. A primeira fase, compreendida entre os anos 1960 e 1978, na qual foram realizadas leituras esparsas das obras, feitas a partir de edições em espanhol, italiano, francês e inglês; a segunda fase, iniciada com a publicação de Marxismo e filosofia da linguagem, primeiro livro do Círculo traduzido no país, em 1979, na qual foram publicadas as primeiras edições brasileiras de algumas obras de Bakhtin e Volóchinov; a terceira, iniciada em 2001 com a publicação de O freudismo, na qual observamos o aumento de edições inéditas das obras do Círculo no Brasil, bem como, nos trabalhos subsidiados pela teoria do Círculo, o esboço de uma análise dialógica do discurso; e a quarta fase, na qual nos encontramos atualmente, iniciada em 2012 com a publicação de O método formal nos estudos literários, na qual percebemos uma tentativa de consolidar e contextualizar a análise dialógica do discurso, seja a partir de edições críticas das obras do Círculo, nas quais percebemos um esforço para fornecer às/aos leitoras(es) o contexto de produção das obras e explicações sobre os termos traduzidos, seja a partir de estudos teóricos, que buscam sistematizar, esmiuçar e complementar questões teóricas e metodológicas presentes nos escritos dos autores do Círculo.

1 Primeira fase de recepção: leituras esparsas

A primeira fase de recepção da obra bakhtiniana no Brasil é relativa à recepção inicial da obra, ainda sem tradução no país, nos anos 1960. Sobre essa fase, no artigo “Mikhail Bakhtin no Brasil: primeiras repercussões”, Ornellas (2010)ORNELLAS, C. A. Mikhail Bakhtin no Brasil: primeiras repercussões. Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid. Madri, n. 43, nov. 2009- fev. 2010. Disponível em: https://webs.ucm.es/info/especulo/numero43/brabaj.html. Acesso em: 03 maio 2021.
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afirma que o professor de língua e literatura russa da Universidade de São Paulo (USP), Boris Schnaiderman, foi um dos precursores das ideias de Bakhtin no Brasil. De acordo com Ornellas (2010ORNELLAS, C. A. Mikhail Bakhtin no Brasil: primeiras repercussões. Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid. Madri, n. 43, nov. 2009- fev. 2010. Disponível em: https://webs.ucm.es/info/especulo/numero43/brabaj.html. Acesso em: 03 maio 2021.
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, n.p.), Boris Schnaiderman “teve seu primeiro contato com o pensamento bakhtiniano através da leitura de Problemas da poética de Dostoiévski na edição italiana7 7 De acordo com Adriana Pucci Penteado de Faria e Silva (2011, p.10), “O livro PPD, em sua versão de 1963, foi traduzido para o italiano por G. Garritano e publicado pela Einaudi em 1968”. ”, e passou a utilizá-lo como referência em suas disciplinas, comprovadamente8 8 De acordo com as ementas das disciplinas da USP consultadas por Clara Ávila Ornellas. após 1971, em suas aulas de literatura na graduação e pós-graduação.

Schnaiderman (1997SCHNAIDERMAN, B. Os escombros e o mito: a cultura e o fim da União Soviética. São Paulo: Companhia das Letras, 1997., p.16) assinala como essa primeira fase foi difícil, uma vez que o Brasil estava sob regime militar: “Em 1964, as livrarias russas em nosso país tiveram todos os seus livros retirados para ‘exame’, numa verdadeira operação militar, que acabaria em incineração pura e simples”. De acordo com Ornellas (2010ORNELLAS, C. A. Mikhail Bakhtin no Brasil: primeiras repercussões. Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid. Madri, n. 43, nov. 2009- fev. 2010. Disponível em: https://webs.ucm.es/info/especulo/numero43/brabaj.html. Acesso em: 03 maio 2021.
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, n.p.),

Atesta-se neste trecho a dificuldade de acesso às obras do pensador russo no Brasil da ditadura e, ironicamente, o precursor do dialogismo “chega” ao país quando o discurso monológico-autoritário impunha o silêncio e a subserviência do povo aos comandos militares opressores. As idéias de Bakhtin causaram impacto nos pesquisadores do Brasil ditatorial, na medida em que seus textos permitiram perceber a importância do dialogismo para entender não apenas o texto verbal, mas também o contexto extra-verbal e, a partir daí, construir uma nova visão do homem como ser eminentemente social e, portanto, produto de suas relações ideológicas.

Destacamos, contudo, que, nessa primeira fase, as leituras bakhtinianas centravam-se principalmente nas questões literárias presentes nas obras, como, por exemplo, a defesa de se levar em conta nas análises as condições históricas em que os textos literários são escritos (SCHNAIDERMAN, 1983SCHNAIDERMAN, B. Turbilhão e semente: ensaios sobre Dostoiévski e Bakhtin. São Paulo: Duas Cidades, 1983.), mesmo que se percebessem aspectos de linguagem, como a questão de que toda palavra pressupõe um interlocutor. Não se utilizava a teoria para a análise de discursos de outra espécie, como hoje fazemos para discursos cotidianos, midiáticos, acadêmicos etc. No entanto, nesse período, temos algumas notícias de estudos publicados no Brasil utilizando conceitos bakhtinianos, como a obra Saudades do carnaval: introdução à crise da cultura, publicada em 1972 pelo crítico literário e sociólogo José Guilherme Merquior. Em seu prefácio à obra Problemas da poética de Dostoiéviski, intitulado “Uma obra à prova do tempo”, Paulo Bezerra (2013, p.XII) defende que as “primeiras contribuições para a divulgação de Bakhtin para nós no campo específico da reflexão sobre literatura e cultura vieram de José Guilherme Merquior e do mestre Boris Schnaiderman”.

Considerando relatos que lemos, como os de Boris Schnaiderman, Paulo Bezerra, Beth Brait, Carlos Alberto Faraco e de Adail Sobral, que afirmam ter tido o primeiro contato “com os escritos do Círculo de Bakhtin ainda na graduação, no início da década de 1970, na Universidade Federal da Bahia, na disciplina Sociolinguística” (SOBRAL, 2019SOBRAL, A. Entrevista especial VI - Adail Sobral (FURG). Entrevistado por Flaviane Moraes, Neil Franco, Rafael Alves e Tiago Guimarães. O Consoante, 9 de abr. de 2019. Disponível em: http://oconsoante.com.br/2019/04/09/entrevista-especial-vi/. Acesso em: 29 mar. 2021.
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, n.p.), verificamos que as obras do Círculo já estavam presentes, mesmo que de forma indireta e pouco difundida, nas discussões acadêmicas linguísticas brasileiras. De acordo com Sobral (2019SOBRAL, A. Entrevista especial VI - Adail Sobral (FURG). Entrevistado por Flaviane Moraes, Neil Franco, Rafael Alves e Tiago Guimarães. O Consoante, 9 de abr. de 2019. Disponível em: http://oconsoante.com.br/2019/04/09/entrevista-especial-vi/. Acesso em: 29 mar. 2021.
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, n.p.), o seu primeiro contato foi por meio do “livro de Marcellesi e Gardin, Introdução à Sociolinguística, edição portuguesa, que trazia a ideia de uma linguística social e mencionava Bakhtin”9 9 Salientamos, contudo, que a edição portuguesa da obra Introdução à sociolinguística data de 1975, e que, desta forma, o contato do professor Adail Sobral deve ter ocorrido nos anos finais da década de 1970, o que é possível, tendo ele cursado graduação entre 1974 e 1977, o que não invalida a importância da informação dada pelo professor para a nossa sistematização. Salientamos, também, que a obra citada menciona apenas Volochinov, atribuindo a ele obra Marxismo e Filosofia da Linguagem fato incomum na época, que pode ter levado o professor Adail Sobral a crer que os autores se referiam a Bakhtin. Marcellesi e Gardin referenciam a edição inglesa: VOLOCHINOV, V. N. Marxism and the philosophy of language; Seminar Press Inc. Berkley Square House, London, 1973 (Tradução de Markizm i filosofija jazyka, Leningrad, 1930). .

Sobre a chegada de Volóchinov e Bakhtin ao Brasil na década de 1970, Brait (2012bBRAIT, B. A chegada de Voloshinov/Bakhtin ao Brasil na década de 1970. In: ZANDWAIS, A. (org.). História das ideias: diálogos entre linguagem, cultura e história. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2012b. p.216-243., p.219) afirma que “(...) três textos chegaram ao Brasil naquele momento, motivando leituras e discussões em cursos e encontros”: a edição italiana de 1968 de Problemas da poética de Dostoiévski (Dostoievsk: poética e stilística), a edição francesa da mesma obra, de 1970, (Problèmes de la poétique de Dostoïevski e La poétique de Dostoïevski) e também a edição francesa, de 1970, de A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (L’ouvre de François Rabelais et la culture populaire au Moyen Age et sous la Renaissance). De acordo com Brait, “(...) antes que a década acabasse, chegava ao Brasil Esthétique et théorie du roman”, edição francesa de 1978.

Beth Brait (2020BRAIT, B. Perspectiva dialógica: um percurso brasileiro. In: BAGNO, Marcos; VIEIRA, Francisco Eduardo (orgs.). História das línguas, história da linguística: homenagem a Carlos Alberto Faraco. São Paulo: Parábola, 2020. p.41-60., p.42) assinala a chegada ao Brasil, em 1976, da obra El signo ideológico y la filosofía del lenguaje, de Valentín N. Voloshinov, “um dos marcos epistemológicos para o surgimento (futuro) do que hoje se convencionou denominar, como afirmado anteriormente, metalinguística, perspectiva dialógica ou teoria/análise dialógica do discurso ou, ainda, estudos bakhtinianos”. De acordo com Brait (2020)BRAIT, B. Perspectiva dialógica: um percurso brasileiro. In: BAGNO, Marcos; VIEIRA, Francisco Eduardo (orgs.). História das línguas, história da linguística: homenagem a Carlos Alberto Faraco. São Paulo: Parábola, 2020. p.41-60., entre os primeiros leitores dessa obra estavam Carlos Alberto Faraco, Carlos Vogt, João Wanderley Geraldi e Sírio Possenti. Assinala também que Faraco, a partir da leitura dessa obra e de Produzione linguistica e ideologia sociale, de Augusto Ponzio (1973), apresentou, em 1978, na UFPR, um de seus primeiros trabalhos sobre a teoria bakhtiniana.

Através dos relatos encontrados, observamos que as leituras nessa primeira fase de recepção eram feitas de forma restrita e esparsa, principalmente a partir de traduções para o italiano, francês, espanhol e inglês, sendo propostas nos cursos de graduação e pósgraduação apenas em algumas poucas disciplinas em universidades brasileiras, como as ministradas pelo professor Boris Schnaiderman e outras disciplinas da USP, como da Profa. Dra. Terezinha A. P. A. Lopes (ORNELLAS, 2010ORNELLAS, C. A. Mikhail Bakhtin no Brasil: primeiras repercussões. Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid. Madri, n. 43, nov. 2009- fev. 2010. Disponível em: https://webs.ucm.es/info/especulo/numero43/brabaj.html. Acesso em: 03 maio 2021.
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). Porém, mesmo considerando as poucas leituras realizadas na época, as exposições de Clara Ávila Ornellas sobre o fato de as ideias de Bakhtin terem causado impacto nas(os) pesquisadoras(es) do Brasil ditatorial nos parecem legítimas, uma vez que, ainda sob a ditadura militar, foram realizadas as primeiras traduções e edições de suas obras no país, que, ao nosso ver, marcaram o início da segunda fase de recepção das obras do Círculo de Bakhtin no país.

2 Segunda fase: primeiras edições brasileiras

Na segunda fase da recepção das obras do Círculo de Bakhtin no Brasil, temos a edição brasileira de algumas de suas obras10 10 Todas as primeiras edições das obras do Círculo publicadas no Brasil nesta e nas próximas fases aqui apresentadas podem ser observadas no quadro resumitivo presente no Anexo 1 deste artigo. . A primeira obra publicada no país foi Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem (MFL), em 1979, pela Hucitec, na coleção “Linguagem”, dirigida por Carlos Vogt. A obra foi traduzida a partir da edição francesa de 1977 e complementada a partir da tradução americana de 197311 11 Cf. “Nota dos tradutores”. . De acordo com a professora Adriana Pucci Penteado de Faria e Silva (2011)SILVA, A. P. P. de F e. 0,5 mm: a nova edição brasileira de problemas da poética de Dostoiévski. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso, São Paulo, v. 6, n. 1, p.7-23, dez. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S217645732011000200002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 03 maio 2021.
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, em seu artigo “0,5 mm: a nova edição brasileira de Problemas da poética de Dostoiévski”, publicado na revista Bakhtiniana, o fato de a publicação de MFL ter ocorrido no Brasil antes da publicação das demais obras do Círculo, o que inverte a ordem de publicações no restante do Ocidente, “faz com que Bakhtin (Volochinov) seja conhecido [no Brasil] antes como filósofo da linguagem” (SILVA, 2011SILVA, A. P. P. de F e. 0,5 mm: a nova edição brasileira de problemas da poética de Dostoiévski. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso, São Paulo, v. 6, n. 1, p.7-23, dez. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S217645732011000200002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 03 maio 2021.
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, p.10).

Em seu artigo “Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil”, as pesquisadoras Beth Brait e Maria Helena Cruz Pistori apresentam o estudo aqui já mencionado de Ornellas, o qual, de acordo com as autoras, revela que “as menções a Bakhtin - unicamente a ele -, nas disciplinas ministradas na USP, à época, aconteciam na literatura, literatura comparada e na teoria literária” (BRAIT; PISTORI, 2020, p.38). Já nas disciplinas ministradas na PUC-SP, conforme as pesquisadoras, “as referências a Bakhtin e Volochínov aparecem especialmente na bibliografia de disciplinas da área de Comunicação e Semiótica, ampliando o escopo de interesse pela obra do Círculo no momento da primeira tradução” (BRAIT; PISTORI, 2020, p.39).

O fato de existirem menções a Bakhtin em disciplinas no campo literário antes das primeiras edições brasileiras de obras do Círculo, ou seja, na época que defendemos ser a primeira fase de recepção da obra, segundo as pesquisadoras Brait e Pistori (2020BRAIT, B.; PISTORI, M. H. C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso, São Paulo, v. 15, n. 2, p.33-63, jun. 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-45732020000200033&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 03 maio 2021.
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, p.38), “pode indiciar a gênese de certo imaginário de que Bakhtin só tratou da literatura, aspecto que, em certa medida, permanece até hoje em alguns meios”. No entanto, o fato de, logo no início da segunda fase de recepção, MFL aparecer na bibliografia de disciplinas da área de Comunicação e Semiótica na PUC-SP pode ser indício daquilo que Adriana Pucci Penteado de Faria e Silva apontou, de que a ordem das edições brasileiras das obras do Círculo foi diversa da ordem do restante do Ocidente, fato que pode ter originado a relevância que hoje damos às obras de Bakhtin, Volóchinov e Medviédev nos campos linguístico e discursivo. Relevância essa que motivou, inclusive, a criação/definição de uma nova teoria, realizada a partir do conjunto teórico-metodológico presente nos textos do Círculo, chamada, atualmente, análise/teoria dialógica do discurso.

Sobre o contexto da época da primeira edição de MFL no Brasil, as autoras destacam que

De um ponto de vista político, aqui radicalmente simplificado, em 1979 o Brasil era governado por João Figueiredo, 30º presidente do Brasil e último da era militar. Sua marca foi a continuidade da abertura política “lenta, gradual e segura” do governo anterior, evidenciada em alguns acontecimentos: fundação da Associação Nacional de Jornais, com o objetivo de defender a liberdade de imprensa; sanção da lei da anistia geral e irrestrita para todos os que cometeram crimes políticos e tiveram seus direitos políticos cassados durante a ditadura; volta de exilados políticos; forte crise política e econômica (BRAIT; PISTORI, 2020, p.37-38).

Desse modo, o Brasil da época era marcado por uma “ampliação” da liberdade de pensamento, fato que justifica a publicação da obra russa ainda durante o período da ditadura militar (1964-1985).

A edição de Marxismo e filosofia da linguagem contava com uma nota dos tradutores de um parágrafo, na qual informavam a partir de qual texto-fonte havia sido realizada a tradução, e agradeciam a Lucy Seki por auxiliar na consulta à obra em russo, e a Modesto Carone Netto, por auxiliar nas passagens em alemão. O livro possui um breve prefácio do linguista russo Roman Jakobson e uma apresentação da linguista francesa Marina Yaguello, que, embora fosse reconhecida em contexto europeu devido à sua obra Les mots et les femmes (1978), ainda era pouco conhecida no Brasil (BRAIT; PISTORI, 2020). Na capa dessa primeira edição, temos a imagem de uma mão aberta, vazada em cor branca, sobre um círculo verde, a qual, nas edições posteriores da mesma editora, foi sendo desconfigurada, conforme assinalam Brait e Pistori (2020)BRAIT, B.; PISTORI, M. H. C. Marxismo e filosofia da linguagem: a recepção de Bakhtin e o Círculo no Brasil. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso, São Paulo, v. 15, n. 2, p.33-63, jun. 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-45732020000200033&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 03 maio 2021.
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.

A segunda obra do Círculo publicada no Brasil foi Problemas da poética de Dostoiévski (PPD), em 1981, pela editora Forense Universitária, “traduzida da terceira edição russa [...] com tradução de Paulo Bezerra, sem prefácio ou apresentação dos editores ou do tradutor no corpo de livro” (SILVA, 2011SILVA, A. P. P. de F e. 0,5 mm: a nova edição brasileira de problemas da poética de Dostoiévski. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso, São Paulo, v. 6, n. 1, p.7-23, dez. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S217645732011000200002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 03 maio 2021.
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, p.13). Contudo, embora não contasse com prefácio ou apresentação, a edição contava com uma orelha escrita por Paulo Bezerra; ela funcionava, segundo Beth Brait (2021)BRAIT, B. Problemas da poética de Dostoiévski: a recepção brasileira. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso [online], São Paulo, v. 16, n. 2, pp.70-89, 2021. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/48770/35074. Acesso em: 01 fev. 2022.
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, como uma espécie de textoemoldurador da obra, o que, além de sua tradução direta do russo, marca sua diferenciação da edição de MFL, traduzida do francês, que contava com textos críticos de autores estrangeiros.

No mesmo ano (1981), MFL teve sua segunda edição publicada. Em 1987, foi publicada A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (CPIMR), de Mikhail Bakhtin (traduzida do francês), e, em 1988, Questões de literatura e de estética: a teoria do romance (QLE), traduzida do russo.

Também teve sua primeira edição nessa fase a obra Estética da criação verbal (ECV), de Mikhail Bakhtin, em 1992, com tradução de Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira a partir do francês. A obra foi editada pela Martins Fontes.

Salientamos que as obras do Círculo publicadas nessa fase ainda possuíam poucas (ou nenhuma) notas de tradução e careciam de prefácios críticos substantivos, talvez devido ao fato de ainda não existir um estudo aprofundado da teoria pelas(os) tradutoras(es), o que justifica o fato de termos alguns trechos traduzidos de forma diferente das traduções hoje existentes e de, por exemplo, a autoria de Marxismo e filosofia da linguagem ter sido conferida a Mikhail Bakhtin, e não a Valentin Volóchinov12 12 A autoria de V. Volóchinov é quase incontestável atualmente, tanto que, na última edição da obra, realizada em 2017 pela Editora 34, observamos apenas a atribuição de autoria a Valentin Volóchinov. , seguindo os apontamentos feitos por Roman Jakobson no Prefácio, traduzidos da edição francesa na edição brasileira.

As obras foram, também, publicadas fora da ordem de escrita original. A saber: Marxismo e filosofia da linguagem, a primeira obra do Círculo com edição brasileira, foi publicada originalmente em 1929. A segunda obra, Problemas da poética de Dostoiévski, data de 1963. A terceira, A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, é de 1965. A quarta, Questões de literatura e de estética: a teoria do romance, reúne textos de 1924 a 1975. Já Estética da criação verbal reúne textos de 1919 a 1971 e Freudismo foi escrito em 1927.

Nessa fase, foram escritas teses e dissertações e publicadas muitas obras críticas ou embasadas no pensamento do Círculo. Também foram organizados os primeiros eventos sobre o pensamento bakhtiniano, sendo o primeiro deles realizado na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba13 13 Em nossas pesquisas, não encontramos como o evento foi chamado. No entanto, sabemos que fora organizado por pesquisadoras e pesquisadores de renome nos estudos bakhtinianos, como Beth Brait, Carlos Alberto Faraco, Cristóvão Tezza, Luís Roncari e Rosse Marye Bernardi. , em 1987 (ORNELLAS, 2010ORNELLAS, C. A. Mikhail Bakhtin no Brasil: primeiras repercussões. Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid. Madri, n. 43, nov. 2009- fev. 2010. Disponível em: https://webs.ucm.es/info/especulo/numero43/brabaj.html. Acesso em: 03 maio 2021.
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). Como resultado do encontro, de acordo com Clara Ávila Ornellas, foi publicado o livro Uma introdução a Bakhtin, em 1988, com textos de Carlos Alberto Faraco, Cristovão Tezza, Beth Brait, Luiz Dagobert de Aguirra Roncari e Rosse Marye Bernardi.

Cristovão Tezza, no artigo “Bakhtin - uma memória pessoal” (2021, p.37-38), defende que

na passagem dos anos 1970 para 1980, o horizonte acadêmico brasileiro da área de Letras, sob o influxo da modernização dos estudos linguísticos, estava positivamente imergindo nas teorias formais da linguagem, em geral fundamentadas em pressupostos estruturalistas de grande prestígio, numa ampla confluência de muitas vertentes.

Desse modo, as pesquisas na época no Brasil eram marcadas, na Literatura, pelas propostas do Formalismo Russo e, na Linguística, pela sua consolidação como uma ciência de ponta, encontrando “um território fértil e receptivo, coincidente com a grande expansão do nosso ensino superior, e em boa medida atualizando o nosso repertório crítico bem antes que o próprio país estruturalmente se modernizasse, o que vem sendo até hoje a nossa regra” (TEZZA, 2021, p.39). De acordo com o autor, foi nesse cenário que chegou às suas mãos a cópia de uma edição francesa de um texto de Mikhail Bakhtin: “O discurso na poesia e o discurso no romance”.

Tezza mostra como, na época de suas primeiras leituras, ocorridas na fase que aqui denominamos como segunda fase de recepção, houve a tentativa de definir Bakhtin: até que ponto ele era marxista, até que ponto ele era formalista. Essa tentativa servia, na academia, tanto para exaltar a obra de Mikhail Bakhtin quanto para demonizá-lo.

Entendemos que tanto o interesse pelos textos, quanto a curiosidade oriunda da indefinição do contexto de escrita do autor (e dos demais autores do Círculo) e da falta de acesso aos manuscritos e a muitos textos ainda sem tradução, fez com que pesquisadoras e pesquisadores do país buscassem cada vez mais compreender as obras, organizando seus pressupostos, esboçando os caminhos para uma análise dialógica do discurso. Assim, passamos para a terceira fase de recepção das obras do Círculo de Bakhtin no Brasil.

3 Terceira fase: o esboço de uma ADD

Na terceira fase de recepção da obra do Círculo de Bakhtin no Brasil, temos o aumento dos estudos do discurso utilizando as obras do Círculo como embasamento teórico e as traduções e publicações sistemáticas das obras do Círculo de Bakhtin no país, entre os anos de 2002 a 2011, com aumento da prevalência de prefácios e notas de tradução escritos por pesquisadoras e pesquisadores “nacionais” da área. No Departamento de Linguística da USP, por exemplo, temos a dissertação de mestrado de Geraldo Tadeu Souza, orientada por Beth Brait. A dissertação originou a obra Introdução à teoria do enunciado concreto do círculo Bakhtin/Volochinov/Medvedev, publicada pela Humanitas em 1999. A obra procura sistematizar e organizar, teórica e metodologicamente, o que Geraldo Tadeu Souza chama de teoria do enunciado concreto. Em seu prefácio à obra, Beth Brait (1999BRAIT, B. Prefácio. In: SOUZA, G. T. Introdução a teoria do enunciado concreto do Círculo Bakhtin/Volochinov/Medevedev. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1999., p.12; grifo nosso) assinala que

Como conseqüência dessa perseguição teórica, desse verdadeiro trabalho de detetive que tanto pode colaborar para a discussão dos trabalhos assinados por Bakhtin e por outros componentes do círculo, a reflexão sobre a metalingüística ou translinguística aparece como uma espécie de análise dialógica do discurso, sem que essa expressão tenha sido mencionada, nem pelos pensadores estudados e nem por Geraldo, para caracterizar a natureza da investigação e a construção dos princípios conceituais que hoje, das mais diferentes maneiras, têm penetrado os estudos sobre a linguagem.

Observamos, a partir das considerações de Brait (1999)BRAIT, B. Prefácio. In: SOUZA, G. T. Introdução a teoria do enunciado concreto do Círculo Bakhtin/Volochinov/Medevedev. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1999., que a nomenclatura “análise dialógica do discurso” já estava em uso em pesquisas realizadas na USP que buscavam traçar um esboço da ADD.

Também no Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da PUC-SP, muitas pesquisas foram realizadas tendo obras do Círculo como embasamento teórico, inclusive, utilizando as denominações teoria/análise dialógica do discurso, como é visto, por exemplo, em teses de doutorado orientadas por Maria Cecilia Pérez de Souza-e-Silva, como a de Marcos A. Moura-Vieira, intitulada A atividade, o discurso e a clínica: uma análise dialógica do trabalho médico, defendida em 2002VIEIRA, M. A atividade, o discurso e a clínica: uma análise dialógica do trabalho médico. 2002. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) - LAEL, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002., a qual já trazia em seu título a expressão “análise dialógica”, e a de Maria da Glória Corrêa di Fanti, intitulada Discurso, trabalho & dialogismo: a atividade jurídica e o conflito trabalhador/patrão, defendida em 2004, em que, no primeiro capítulo da parte III, a autora apresenta “Notações teórico-metodológicas: para uma análise dialógica do trabalho / discurso” (DI FANTI, 2004DI FANTI, M. G. C. Discurso, trabalho & dialogismo: a atividade jurídica e o conflito trabalhador / patrão. 2004. 385 f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) - LAEL, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004., p.127).

A publicação sistemática das obras do Círculo de Bakhtin nesse período pode ser conferida no Anexo 1. No entanto, buscaremos mostrar como, na terceira fase de recepção, tivemos uma ampliação significativa do acesso a essas obras no país, principalmente através de edições brasileiras, publicadas em língua portuguesa (muitas, ainda, traduzidas indiretamente, a partir de edições europeias e estadunidenses).

A primeira obra a ser publicada nessa fase foi O freudismo: um esboço crítico, em 2001, pela editora Perspectiva. A obra foi traduzida por Paulo Bezerra e conta com a fotografia de Mikhail Bakhtin e Sigmund Freud na capa, mesclando-se em um só rosto. A autoria foi conferida a Mikhail Bakhtin, embora, atualmente, seja quase indiscutível a autoria de Valentin Volochínov. Em 2002, a obra Questões de literatura e de estética: a teoria do romance, de Mikhail Bakhtin, já estava em sua 5ª edição, sendo publicada pela editora da Unesp e pela Hucitec. Em 2010, no final deste período da recepção, foi publicada a 6ª edição. Em 2002 também foi publicada a 3ª edição da obra Problemas da poética de Dostoiévski [1963] também de Mikhail Bakhtin, pela editora Forense Universitária. A tradução revisada dessa edição foi feita por Paulo Bezerra a partir do russo. Em 2008, a mesma editora publicou a 4ª edição da obra. A obra Estética da criação verbal [1919-1971], de Mikhail Bakhtin, em 2003, estava em sua 4ª edição, pela editora Martins Fontes. A tradução foi realizada por Paulo Bezerra a partir do russo. Em 2010, a obra estava em sua 5ª edição. Também em 2010, a obra A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais [1965]de Mikhail Bakhtin, teve sua 7ª edição publicada pela editora Hucitec. Todas essas edições e reedições corroboram a nossa defesa de que nessa fase temos o aumento dos estudos do discurso utilizando as obras do Círculo como embasamento teórico, fato observável pela demanda por novas edições e por maiores tiragens de livros escritos pelos autores do Círculo.

Em 2006, Marxismo e filosofia da linguagem [1929] já estava em sua 12ª edição pela editora Hucitec. A mesma tradução feita por Michel Lahud e Yara Frateschi, ainda a partir da edição francesa (Paris, Les Editions de Minuit, 1977) e, como nas edições anteriores, havia menção de autoria de Mikhail Bakhtin e, entre parênteses, Volochínov. Em 2010, foi publicada a 14ª edição.

As três únicas obras cujas primeiras edições foram publicadas na terceira fase foram O freudismo: um esboço crítico e Para uma filosofia do ato responsável (PFA). Em 2001, O freudismo foi publicado pela editora Perspectiva. A obra foi traduzida por Paulo Bezerra. Mikhail Bakhtin em diálogo: conversas de 1973 com Viktor Duvakin foi publicada em 2008 pela Pedro & João Editores, com tradução de Daniela Miotello Mondardo, a partir da edição italiana. Em 2010, foi publicada a 1ª edição de Para uma filosofia do ato responsável [1920-1924], de Mikhail Bakhtin, pela Pedro & João Editores. A tradução foi supervisionada por Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco, a partir do italiano (Per una filosofia dell'atto responsabile. Pensa Multimedia, Lecce, 2010).

Nessa fase, os estudos críticos e embasados no Círculo de Bakhtin multiplicavamse pelo país14 14 Contudo, não citaremos as obras publicadas, para não cometermos nenhuma injustiça por esquecimento. . Passou-se a discutir, por exemplo, se a teoria aqui utilizada para a análise de discursos foi proposta pelo Círculo de Bakhtin ou se os pressupostos teóricos presentes nelas apenas motivaram a criação de uma análise dialógica do discurso. Assim temos, por um lado, os argumentos de Beth Brait no capítulo “Análise e teoria do discurso”, presente na obra por ela organizada, Bakhtin: outros conceitos-chave, que se propõem “a sustentar que o conjunto das obras do Círculo motivou o nascimento de uma análise/teoria dialógica do discurso” (BRAIT, 2006BRAIT, B. Análise e teoria do discurso. In: BRAIT, B. (org.) Bakhtin: outros conceitoschave. São Paulo: Contexto, 2006. p.9-31., p.9). De acordo com a autora,

Ninguém, em sã consciência, poderia dizer que Bakhtin tenha proposto formalmente uma teoria e/ou análise do discurso, no sentido em que usamos a expressão para fazer referência, por exemplo, à Análise do Discurso Francesa. Entretanto, também não se pode negar que o pensamento bakhtiniano representa, hoje, uma das maiores contribuições para os estudos da linguagem, observada tanto em suas manifestações artísticas como na diversidade de sua riqueza cotidiana (BRAIT, 2006BRAIT, B. Análise e teoria do discurso. In: BRAIT, B. (org.) Bakhtin: outros conceitoschave. São Paulo: Contexto, 2006. p.9-31., p.9).

Por outro lado, temos os argumentos da pesquisadora Sheila Grillo, em seu artigo “A metalingüística: por uma ciência dialógica da linguagem”, no qual a autora afirma que “Bakhtin formulou, nos textos de sua última fase, uma disciplina de estudo da linguagem com objeto próprio, método de análise e o esboço de um conjunto de fenômenos a pesquisar” (GRILLO, 2006GRILLO, S. V. C. A metalinguística: por uma ciência dialógica da linguagem. Horizontes, v. 24, n. 2, p.121-128, jul./dez. 2006., p.121). Dessa forma, concordando com Grillo, a partir das leituras que realizamos sobre a metalinguística nos escritos de Mikhail Bakhtin, julgamos injusto não frisar que o autor propôs formalmente uma disciplina15 15 Para a utilização do termo “disciplina”, partimos do artigo escrito por Sheila Grillo, já citado, e da argumentação de Paulo Bezerra, no “Prefácio” de Problemas da poética de Dostoiévski (2013, p.XV): “Como Bakhtin acalentava o projeto de criar, nas fronteiras da linguística, da antropologia filosófica e dos estudos literários (ou teoria) uma nova disciplina das ciências humanas com a denominação de metalinguística (e não translinguística, tradução inadequada que Kristeva faz do conceito de Bakhtin com a finalidade nada disfarçada de reduzir-lhe o pensamento a mais uma corrente da linguística), e esta seria uma interação dialógica daquelas disciplinas, o discurso literário, com as relações dialógicas que o sedimentam, seria objeto de estudo de uma nova teoria da cultura, assentada em fundamentos interdisciplinares e capaz de contemplar um vasto leque de formas humanas de pensar e agir. Tal teoria seria um antídoto aos reducionismos de que tem sido vítima o pensamento do próprio Bakhtin”. limítrofe, entendida como conjunto teórico-metodológico que analisasse as relações dialógicas entre os discursos, uma vez que o próprio autor a nomeou e a delimitou, aparecendo, pela primeira vez, conforme a autora indica, em “O problema do texto”, escrito por Bakhtin entre 1959 e 1961.

Assim, de acordo com a autora, a “metalingüística, enquanto disciplina diversa da linguística, tem objeto e método próprio para abordá-lo. O objeto são as relações dialógicas” (GRILLO, 2006GRILLO, S. V. C. A metalinguística: por uma ciência dialógica da linguagem. Horizontes, v. 24, n. 2, p.121-128, jul./dez. 2006., p.122). Mikhail Bakhtin afirma, em “O texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas” (2016, p.87-88), que as “relações dialógicas entre os enunciados, que atravessam por dentro também enunciados isolados, pertencem à metalinguística”16 16 Na tradução anterior de “O problema do texto”: “A relação dialógica entre os enunciados, cujo percurso também passa por dentro do enunciado considerado isoladamente, compete à metalingüística” (BAKHTIN, 2003b, p.342). .

Talvez não sejam as proposições de Bakhtin sobre a metalinguística responsáveis pela utilização dos muitos conceitos do Círculo pela ADD brasileira, mas não podemos deixar de considerá-las ao delimitar/apresentar nosso campo de estudo, uma vez que há, nos textos de Mikhail Bakhtin, apontamentos teóricos e metodológicos sobre a metalinguística, existindo, também, questões teóricas e metodológicas nos textos de Valentin Volóchinov e de Pavel Medviédev convergentes. Tanto que a pesquisadora Beth Brait, em seu ensaio “Perspectiva dialógica”, presente no livro Texto ou discurso, organizado por Brait e Maria Cecília Souza-e-Silva (2012, p.15; grifos no original), considera que há, nos escritos do Círculo, e, principalmente, na obra Problemas da poética de Dostoiévski, de Mikhail Bakhtin, “uma série de definições e caracterizações de metalinguística e de relações dialógicas”.

No entanto, consideramos que não assinalar os esforços das(os) pesquisadoras(os) brasileiras(os) para sistematizar os conceitos do chamado Círculo de Bakhtin, tendo tido, principalmente nas primeiras recepções das obras, um acesso fragmentado, descontínuo, descontextualizado e descontemporalizado aos textos, seja tão injusto quanto não frisar que Bakhtin propôs formalmente uma disciplina limítrofe. Por esse motivo, defendemos aqui que as leituras realizadas por estudiosas e estudiosos também são parte importante das formulações teóricas e metodológicas basilares da ADD no percurso brasileiro.

Na terceira fase da recepção das obras do Círculo de Bakhtin no país, temos, também, a tradução de obras críticas importantes, como Mikhail Bakhtin, de Katerina Clark e Michael Holquist (1998), Os cem primeiros anos de Mikhail Bakhtin, de Caryl Emerson (2003)EMERSON, C. Os cem primeiros anos de Mikhail Bakhtin. Trad. Pedro Jorgensen Jr. Rio de Janeiro: DIFEL, 2003. e Mikhail Bakhtin: criação de uma prosaística, de Gary Morson e Caryl Emerson (2008). As duas primeiras obras tratam do debate sobre a autoria das obras do Círculo de Bakhtin, a saber: Clark e Holquist defendiam que Mikhail Bakhtin era autor de todas as obras do Círculo, Morson e Emerson acreditavam no diálogo entre os autores do Círculo.

Compreendemos que essas obras foram cruciais para o entendimento da biografia e da autoria das obras da análise dialógica do discurso, de forma que, na quarta fase de recepção, a qual vivemos atualmente, muitos estudos vêm percebendo a importância do contexto de produção dos escritos, das biografias dos autores e das autorias de cada obra para o entendimento adequado da teoria. Essa concepção é que faz com que atualmente compreendamos melhor as relações existentes entre a vida e o conhecimento científico, vezes apontadas pelos autores do Círculo (BAKHTIN, 2010aBAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução aos cuidados de Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010a. [1920-1924].; 2016BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução e notas de Paulo Bezerra; Notas da edição russa de Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016.).

4 Quarta fase: contextualizando a AAD

Na quarta fase de recepção da obra do Círculo no Brasil, que vivemos atualmente, temos as “traduções diretas com críticas, por exemplo, de Paulo Bezerra, Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, que além de tradutores, são estudiosos” (PAULA, 2021PAULA, L. de. Entrevista especial XI - Luciane de Paula (Unesp). Entrevistada por Larissa Rodrigues, Bruno Barra, Edson Romualdo (part. especial), Geysa Barbosa, Jennifer Marinho, Laís Mikeyla, Neil Franco e Thaís Schoffen. O Consoante, 17 mar. 2021. Disponível em: http://oconsoante.com.br/2021/03/14/entrevista-especial-xi/. Acesso em: 29 mar. 2021.
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, n.p.), a consolidação de pressupostos teórico-metodológicos para os estudos da área, baseados tanto nas obras traduzidas quanto nos estudos teóricos e críticos e a contextualização das obras do Círculo de Bakhtin, tanto de seu contexto de produção, quanto de seu contexto de recepção.

Tal consolidação faz com que, teoricamente, já tenhamos convencionado, por exemplo, as diferenças entre conceitos antes muitas vezes confundidos ou apresentados de forma errônea, como heterodiscurso, polifonia, ideologia, entre outros. Também faz com que observemos, nas pesquisas embasadas na ADD, o uso de pressupostos teóricos e metodológicos presentes nas obras do Círculo de forma cada vez mais organizada e perceptível, o que tem garantido o rigor científico dos trabalhos embasados na análise dialógica do discurso.

Um marco importante para essa fase é a publicação, em 2012, pela editora Contexto, de O método formal nos estudos literários [1928], de Pável Nikoláievitch Medviédev, com tradução das pesquisadoras Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. A edição contém uma extensa apresentação, escrita por Beth Brait, e um detalhado prefácio, escrito por Grillo, com contextualização da obra e detalhes do original consultado, além de notas das tradutoras.

Tivemos, também, em 2013, a primeira publicação de A construção da enunciação e outros ensaios [1925-1930], de Valentin Nikolaevich Volochínov, com organização, tradução e notas do pesquisador João Wanderley Geraldi e edição e supervisão da tradução de Valdemir Miotello. A tradução foi realizada a partir do italiano, do inglês e do espanhol (obras elencadas nas páginas 25-26 do livro). A edição foi feita pela Pedro & João Editores.

A Editora 34 vem publicando várias edições inéditas de obras dos autores do Círculo, assim como retraduções das obras antes traduzidas indiretamente, de edições europeias e estadunidenses. As capas das obras frisam a autoria. A primeira obra, publicada em 2013, foi Questões de estilística no ensino da língua [1940], de Mikhail Bakhtin, traduzida do original russo por Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. A edição da Editora 34 conta com posfácio e notas das tradutoras, que também são estudiosas das obras do Círculo, e com apresentação da pesquisadora Beth Brait. Em 2015, de Mikhail Bakhtin, foi publicada a obra Teoria do romance I: a estilística [19301936 e 1972], com tradução do russo, prefácio, notas e glossário de Paulo Bezerra. Em 2016, também de Mikhail Bakhtin, foi publicado Os gêneros do discurso [1952-1953], com organização, tradução do russo, posfácio e notas de Paulo Bezerra.

Em 2017, a Editora 34 publicou, de Valentin Volóchinov, Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem [1929], traduzido por Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo a partir do original russo. Nesse mesmo ano, foi editada a obra de Mikhail Bakhtin Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas [1970-1975], com organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra.

Em 2018, de Mikhail Bakhtin, foi publicada a Teoria do romance II: as formas do tempo e do cronotopo [1937-1939], com tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. Em 2019, também de Mikhail Bakhtin, foi editado o livro Teoria do romance III: o romance como gênero literário [1965-1975], também com tradução de Paulo Bezerra, pela Editora 34, e O homem ao espelho: apontamentos dos anos 1940, pela Pedro & João Editores. Também em 2019, de Valentin Volóchinov, foi publicada a obra A palavra na vida e a palavra na poesia, com tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo direta do russo, pela Editora 34.

As obras já publicadas seguiram sendo reeditadas. Em 2013, temos a 5ª edição de Problemas da poética de Dostoiévski [1963], de Mikhail Bakhtin, edição feita pela editora Forense Universitária. Em 2014, MFL teve sua 16ª edição publicada pela editora Hucitec, ainda com a indicação de autoria como de Mikhail Bakhtin (Volochínov), com tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi a partir da edição francesa.

A Editora 34 planeja lançar17 17 As informações foram recebidas da editora via e-mail em 2020. Ainda não sabemos quando a obra será lançada. Problemas da criação de Dostoiévski, a primeira versão do livro Problemas da poética de Dostoiévski, de Mikhail Bakhtin, com tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Conforme informações da editora, a obra contará com notas críticas e textos introdutórios escritos pelas pesquisadoras. Segundo informações das tradutoras, no momento, elas também estão realizando a tradução da obra A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais.

Nesse contexto, percebemos a importância das retraduções e das traduções de escritos ainda não publicados para a consolidação da análise dialógica do discurso no Brasil. Assim, como pontua a pesquisadora Beth Brait (2017BRAIT, B. Orelha do livro. In: VOLÓCHINOV, Valentin. Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017., s.p.) na orelha da nova edição de Marxismo e filosofia da linguagem:

No estágio atual dos estudos bakhtinianos, as (re)traduções, no Brasil e no exterior, devem-se à consciência de que o pensamento dialógico exige o conhecimento dos contextos de produção e de reprodução, para melhor situar os trabalhos, sua originalidade, seu diálogo polêmico ou não com outras vertentes do conhecimento. Nessa busca, a acessibilidade das fontes russas, arquivos e bibliotecas, possibilita a descoberta de primeiras edições, trabalhos não publicados, esboços preparatórios, documentos que atestam a vida profissional e acadêmica dos autores. Na confluência entre esses dois elementos está o fato de que hoje os (re)tradutores são especialistas que se debruçam sobre as fontes primárias não apenas para divulgar obras e autores, mas para esclarecer a gênese e o alcance do pensamento. E as leituras se ampliam, enveredando por novos caminhos.

Desse modo, sem desmerecer as primeiras edições das obras do Círculo de Bakhtin no Brasil, notamos que três fatores das novas traduções devem possivelmente influenciar a leitura das obras da análise dialógica do discurso atualmente: a) a defesa de que a tradução foi realizada da língua-fonte, seja a partir dos manuscritos ou de edições russas, ou a defesa de que a tradução, mesmo que indireta, seja sempre uma nova voz, uma nova leitura da obra do Círculo de Bakhtin; b) as notas de tradução, que nos fazem compreender melhor os conceitos utilizados; e c) os textos críticos contidos nas obras, que são capazes de orientar nossa leitura e/ou de contextualizar as obras.

Para melhor visualização do período entre a publicação original (ou produção, no caso de manuscritos) (PO) das obras e a publicação no Brasil (PB) e das/dos tradutoras(es), apresentamos, no Anexo 1, um quadro-resumitivo do levantamento realizado.

Ressaltamos que, na fase de recepção atual, com as novas edições em língua portuguesa, as quais trouxeram uma visão mais organizada e contextualizada da obra do Círculo, as questões teórico-metodológicas da ADD têm ficado cada mais observáveis, uma vez que temos à nossa disposição variadas obras do Círculo, traduzidas com bastante rigor, e também obras de sua fortuna crítica. Observamos a publicação de diversas obras com o intuito de organizar a metodologia e a teoria utilizada pela análise dialógica do discurso, como a presente na obra Pensadores da análise do discurso, de autoria de Anderson Salvaterra Magalhães e João Kogawa (2019)MAGALHÃES, A. S.; KOGAWA, J. Pensadores da análise do discurso: uma introdução. São Paulo: Paco Editorial, 2019., a qual possui, inclusive, um capítulo sobre como analisar discursos a partir da ADD.

É, assim, a partir desse espaço-tempo teórico, que nos situamos e podemos situar nossas pesquisas.

Considerações finais

Ao longo deste artigo, defendemos que a recepção das obras do Círculo de Bakhtin no Brasil contou com quatro fases distintas. Compreendemos que a primeira fase de recepção é relativa à recepção inicial de algumas obras do Círculo, ainda sem tradução no país, nos anos 1960. Entendemos que tal fase foi crucial para que fosse despertado o interesse teórico em torno do Círculo. No entanto, apesar de tal interesse, nesse primeiro momento, quando foram realizadas leituras esparsas de algumas obras, a partir de traduções em italiano, francês, espanhol e inglês, no Brasil, as pesquisadoras e pesquisadores ainda não se aventuravam a embasar pesquisas de fôlego na teoria dialógica.

A segunda fase de recepção, conforme observamos, compreende as primeiras traduções realizadas para o português brasileiro, primeiramente, a partir de outras traduções (do italiano, do francês, do espanhol, do inglês), após a primeira tradução, realizada em 1979 de Marxismo e filosofia da linguagem, a partir do francês. Nessa segunda fase, verificamos a escrita e publicação de artigos, dissertações e teses embasadas nas obras do Círculo, bem como a realização dos primeiros eventos acadêmicos destinados à discussão da teoria.

A terceira fase de recepção diz respeito ao aumento dos estudos do discurso com embasamento teórico nas obras do Círculo e às retraduções e reedições (com as traduções revisadas e com um maior número de notas de tradução) das obras do Círculo de Bakhtin no país, nos anos de 2002 a 2010. Compreendemos que nessa fase foram iniciadas as tentativas de sistematizar, nomear e esmiuçar o arcabouço teórico-metodológico de uma análise dialógica do discurso no país, tratando-se de uma das fases principais da recepção das obras bakhtinianas no Brasil.

Já na quarta fase, a qual vivemos atualmente, temos as “traduções diretas com críticas, por exemplo, de Paulo Bezerra, Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, que além de tradutores, são estudiosos” (PAULA, 2021PAULA, L. de. Entrevista especial XI - Luciane de Paula (Unesp). Entrevistada por Larissa Rodrigues, Bruno Barra, Edson Romualdo (part. especial), Geysa Barbosa, Jennifer Marinho, Laís Mikeyla, Neil Franco e Thaís Schoffen. O Consoante, 17 mar. 2021. Disponível em: http://oconsoante.com.br/2021/03/14/entrevista-especial-xi/. Acesso em: 29 mar. 2021.
http://oconsoante.com.br/2021/03/14/entr...
, n.p.). Na fase atual de recepção do pensamento do Círculo de Bakhtin no Brasil, temos, à nossa disposição, inúmeras pesquisas e obras, que nos oferecem importantes subsídios para compreender as concepções teórico-metodológicas da ADD de forma contextualizada e organizada.

A partir da análise desse percurso, composto por quatro fases distintas, observamos o movimento que levou à consolidação de pressupostos teóricometodológicos para os estudos da área, a uma análise dialógica do discurso, baseada tanto nas obras traduzidas quanto nos estudos teóricos e críticos. Esse movimento foi marcado pela recepção fragmentada da obra, mas, também, pela busca das pesquisadoras e pesquisadores brasileiros pelas obras do Círculo, pelo seu contexto de produção e pela consolidação da teoria nos estudos linguísticos e discursivos brasileiros.

Essa trajetória, no entanto, não se encerra neste artigo. Ainda há textos que precisam ser traduzidos, ainda há leituras a serem feitas. Com Bakhtin, podemos dizer que este artigo é apenas um elo no grande diálogo acerca do percurso brasileiro da análise dialógica do discurso.

  • 1
    A expressão “Círculo de Bakhtin” foi criada pelas(os) leitoras(es) da análise dialógica do discurso para se referir ao grupo de pensadores de diferentes áreas do conhecimento que se reuniam com Mikhail Bakhtin entre 1919 e 1929 para discutir questões da sua contemporaneidade. A existência do Círculo fora confirmada por Mikhail Bakhtin em suas entrevistas a Viktor Duvakin, em 1973 (BAKHTIN; DUVAKIN, 2008). O Círculo era formado por Mikhail Bakhtin, Pável Medviédev, Valentin Volóchinov, Matvei I. Kagan, Liev. V. Pumpiánski, Ivan I. Sollertínski, Maria Iúdina, K. Váguinov, Borís Zubákin e I. Kanaev. Para o nosso trabalho, consideramos os autores Mikhail Bakhtin, Pável Medviédev e Valentin Volóchinov, que tinham uma estreita parceria que se refletia no pensamento sobre linguagem, central na nossa pesquisa. Também consideramos como produção do Círculo os trabalhos produzidos antes e após o término dos encontros do grupo, tendo em vista o aparente diálogo entre as concepções ao longo das produções de cada autor.
  • 2
    Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975), de acordo com a Oxford Bibliographies (2018, n.p., tradução nossa): “foi um teórico literário cuja obra permaneceu obscura até a última década de sua vida. Os primeiros trabalhos publicados de Bakhtin surgiram durante os anos de censura e repressão stalinista (...). O grupo de acadêmicos com o qual Bakhtin estava associado começou a se reunir em 1918, em Nevel, e depois em Vitebsk, com a mudança de Bakhtin para lá em 1920. Bakhtin foi preso em 1928, mas a intervenção de associados o salvou de ser enviado para um campo de trabalho; assim, ele e sua esposa foram extraditados para o Cazaquistão. (...) Bakhtin foi contratado pelo Instituto Pedagógico Mordoviano de Saransk, onde se tornou Professor de Literatura Russa e Mundial. Bakhtin voltou para Moscou no final dos anos 1960, para tratamento médico. (...) Muitos dos termos usados por Bakhtin - carnavalesco, cronotopo, dialogismo, voz, monologismo, gênero e endereçamento - entraram no léxico dos campos das artes, humanidades e ciências sociais”.
  • 3
    Pável Nikoláevitch Medviédev (1891-1938), conforme Grillo (2020GRILLO, S. MEDVEDEV, P. N. Собрание сочинений в 2 х томах [P.N. MEDVIÉDEV. Obras reunidas em dois volumes. São Petersburgo: Rostok, 2018]. Bakhtiniana, Revista de Estudos do Discurso, v. 15, n. 2, 2020. p.248-249. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/44412. Acesso em: 1 jun. 2021.
    https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
    , p.248), foi “um teórico e historiador da literatura e um crítico eminente. Membro ativo do ‘Renascimento cultural’ de Vítebsk, anos 1910-1920, e do ‘Círculo - científico-filosófico - de Bakhtin’, formou-se como filólogo e passou a maior parte de sua vida em São Petersburgo-Leningrado, onde teve contato com muitos ativistas culturais expressivos do Século de Prata”. É autor de O método formal nos estudos literários (2012 [1928]).
  • 4
    Valentin Volóchinov (1895-1936) foi um dos principais integrantes do Círculo de Bakhtin. Conforme Sheilla Grillo e Ekaterina Volkova Américo (2017GRILLO, S. V. C.; AMÉRICO, E. V. Valentín Nikoláievitch Volóchinov: detalhes da vida e da obra encontrados em arquivos. Alfa, rev. linguista. (São José Rio Preto), São Paulo, v. 61, n. 2, pág. 255-281, agosto de 2017. Disponível em: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-57942017000200255&lng=en&nrm=iso. Acesso em 09 abr. 2022.
    http://old.scielo.br/scielo.php?script=s...
    ), Volóchinov foi aceito como professor-colaborador do ILIAZV - Institút Sravnítelnoi Istórii literatúr i iazykóv Západa i Vostóka, em 1925, cargo que exerceu até, quando o Instituto foi reformulado. Nesse ano, Volóchinov “passou a dar aulas no Instituto Pedagógico A. I. Guértsen e no Instituto de Elevação da Qualificação dos Trabalhadores da Arte até 1934, quando teve de parar de trabalhar devido ao agravamento de sua tuberculose, vindo a falecer em 13 de junho de 1936” (GRILLO; VOLKOVA, 2017GRILLO, S. V. C.; AMÉRICO, E. V. Valentín Nikoláievitch Volóchinov: detalhes da vida e da obra encontrados em arquivos. Alfa, rev. linguista. (São José Rio Preto), São Paulo, v. 61, n. 2, pág. 255-281, agosto de 2017. Disponível em: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-57942017000200255&lng=en&nrm=iso. Acesso em 09 abr. 2022.
    http://old.scielo.br/scielo.php?script=s...
    , p.278). É autor dos livros O freudismo (1927) e Marxismo e filosofia da linguagem (1929), obras por vezes atribuídas a Bakhtin, e de ensaios como “A palavra na vida e a palavra na poesia” e “A construção do enunciado”.
  • 5
    Não localizamos em nossa pesquisa a data exata em que o termo fora utilizado pela primeira vez. Todavia, encontramos, no Prefácio escrito por Beth Brait para o livro Introdução à teoria do enunciado concreto do Círculo Bakhtin/Volochinov/Medvedev, de Geraldo Tadeu de Souza, publicado em 1999, fruto de sua dissertação de mestrado, orientada por Brait e defendida em 1997, a menção à análise dialógica do discurso: “Como conseqüência dessa perseguição teórica, desse verdadeiro trabalho de detetive que tanto pode colaborar para a discussão dos trabalhos assinados por Bakhtin e por outros componentes do círculo, a reflexão sobre a metalingüística ou translinguística aparece como uma espécie de análise dialógica do discurso, sem que essa expressão tenha sido mencionada, nem pelos pensadores estudados e nem por Geraldo, para caracterizar a natureza da investigação e a construção dos princípios conceituais que hoje, das mais diferentes maneiras, têm penetrado os estudos sobre a linguagem” (BRAIT, 1999, p.12).
  • 6
    A pesquisadora Luciane de Paula, em entrevista à revista Consoante (2021, n.p.), mostra que “O Círculo teve uma repercussão, não só no Brasil, mas no mundo todo, a conta-gotas e de certa forma caótica, porque não se tinha o acesso a seus textos. Os arquivos foram abertos depois [da morte dos autores] e os textos do Círculo acabaram chegando a nós conforme foi possível”. Na entrevista, a estudiosa divide a recepção em três fases, de forma bastante organizada: a primeira recepção, entre os anos de 1970 e 1990, tinha como características a) autorias trocadas, b) acesso ao material de forma não cronológica, c) traduções indiretas, d) acesso aos textos através de alguns intelectuais que tiveram acesso àquilo que estava sendo discutido na Europa, e) Ditadura Militar no Brasil, “momento em que nas escolas estudava-se comunicação e expressão, ainda longe de se refletir sobre língua e linguagem”; a segunda recepção, entre 2000 e 2010 caracterizada pelo “processo de traduções diretas e separações de autorias”, e início “daquilo que Beth Brait chama de Análise Dialógica de Discurso como uma forma de marcar o nosso lugar, o jeito que a gente olha o discurso, já que aqui os estudos de Bakhtin fazem parte da seara discursiva”; a terceira recepção, dos anos 2010 a 2020, na qual temos acesso maior “a traduções diretas com críticas, por exemplo, de Paulo Bezerra, Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, que além de tradutores, são estudiosos que pensam criticamente aquilo que traduzem”. Embora concordemos com a divisão feita pela autora, acrescentamos, à sua análise, mais uma fase, dos primeiros contatos de leitoras e leitores brasileiros com as obras ainda não traduzidas no país.
  • 7
    De acordo com Adriana Pucci Penteado de Faria e Silva (2011, p.10), “O livro PPD, em sua versão de 1963, foi traduzido para o italiano por G. Garritano e publicado pela Einaudi em 1968”.
  • 8
    De acordo com as ementas das disciplinas da USP consultadas por Clara Ávila Ornellas.
  • 9
    Salientamos, contudo, que a edição portuguesa da obra Introdução à sociolinguística data de 1975, e que, desta forma, o contato do professor Adail Sobral deve ter ocorrido nos anos finais da década de 1970, o que é possível, tendo ele cursado graduação entre 1974 e 1977, o que não invalida a importância da informação dada pelo professor para a nossa sistematização. Salientamos, também, que a obra citada menciona apenas Volochinov, atribuindo a ele obra Marxismo e Filosofia da Linguagem fato incomum na época, que pode ter levado o professor Adail Sobral a crer que os autores se referiam a Bakhtin. Marcellesi e Gardin referenciam a edição inglesa: VOLOCHINOV, V. N. Marxism and the philosophy of language; Seminar Press Inc. Berkley Square House, London, 1973 (Tradução de Markizm i filosofija jazyka, Leningrad, 1930).
  • 10
    Todas as primeiras edições das obras do Círculo publicadas no Brasil nesta e nas próximas fases aqui apresentadas podem ser observadas no quadro resumitivo presente no Anexo 1 deste artigo.
  • 11
    Cf. “Nota dos tradutores”.
  • 12
    A autoria de V. Volóchinov é quase incontestável atualmente, tanto que, na última edição da obra, realizada em 2017VOLÓCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017. pela Editora 34, observamos apenas a atribuição de autoria a Valentin Volóchinov.
  • 13
    Em nossas pesquisas, não encontramos como o evento foi chamado. No entanto, sabemos que fora organizado por pesquisadoras e pesquisadores de renome nos estudos bakhtinianos, como Beth Brait, Carlos Alberto Faraco, Cristóvão Tezza, Luís Roncari e Rosse Marye Bernardi.
  • 14
    Contudo, não citaremos as obras publicadas, para não cometermos nenhuma injustiça por esquecimento.
  • 15
    Para a utilização do termo “disciplina”, partimos do artigo escrito por Sheila Grillo, já citado, e da argumentação de Paulo Bezerra, no “Prefácio” de Problemas da poética de Dostoiévski (2013BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013. [1963]., p.XV): “Como Bakhtin acalentava o projeto de criar, nas fronteiras da linguística, da antropologia filosófica e dos estudos literários (ou teoria) uma nova disciplina das ciências humanas com a denominação de metalinguística (e não translinguística, tradução inadequada que Kristeva faz do conceito de Bakhtin com a finalidade nada disfarçada de reduzir-lhe o pensamento a mais uma corrente da linguística), e esta seria uma interação dialógica daquelas disciplinas, o discurso literário, com as relações dialógicas que o sedimentam, seria objeto de estudo de uma nova teoria da cultura, assentada em fundamentos interdisciplinares e capaz de contemplar um vasto leque de formas humanas de pensar e agir. Tal teoria seria um antídoto aos reducionismos de que tem sido vítima o pensamento do próprio Bakhtin”.
  • 16
    Na tradução anterior de “O problema do texto”: “A relação dialógica entre os enunciados, cujo percurso também passa por dentro do enunciado considerado isoladamente, compete à metalingüística” (BAKHTIN, 2003bBAKHTIN, M. O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. [1959-1961] In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003b. p.307-336. [1979]., p.342).
  • 17
    As informações foram recebidas da editora via e-mail em 2020. Ainda não sabemos quando a obra será lançada.
  • 18
    Siglas - PB: Ano da primeira publicação no Brasil; PO: ano de escrita do manuscrito e/ou primeira publicação.
  • 19
    Trata-se de um livro de entrevistas feitas por Viktor Duvakin a Mikhail Bakhtin, em 1973. Apesar de a obra não ter sido escrita por Bakhtin, incluímola ao nosso quadro, por compreendermos que o texto da entrevista faz parte da bibliografia de autoria bakhtiniana publicada no Brasil.
  • 20
    Trata-se de uma organização inédita, que contém os seguintes textos: Os gêneros do discurso, escrito entre 1952 e 1953, e publicado pela primeira vez em 1978; O texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas, escrito entre 1959 e 1961 e publicado em 1976 e Diálogo I. A questão do discurso dialógico e Diálogo II, escritos respetivamente em 1950 e 1952 e publicados pela primeira vez em 1997. Ver “Nota à edição brasileira”.
  • 21
    A obra também é uma organização inédita, reunindo os textos A ciência da literatura hoje (Reposta a uma pergunta da revista Novi Mir), escrito em 1970 e publicado no mesmo ano, Fragmentos dos anos 1970-1971, escrito entre 1970 e 1971 e publicado em 1979, e Por uma metodologia das ciências humanas, esboçado entre 1930 e 1940 e publicado em 1975. Ver Nota à edição brasileira.
  • 22
    A obra é uma organização inédita, e “reúne ensaios, artigos, resenhas e poemas” (GRILLO; AMÉRICO, 2017GRILLO, S. V. C.; AMÉRICO, E. V. Valentín Nikoláievitch Volóchinov: detalhes da vida e da obra encontrados em arquivos. Alfa, rev. linguista. (São José Rio Preto), São Paulo, v. 61, n. 2, pág. 255-281, agosto de 2017. Disponível em: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-57942017000200255&lng=en&nrm=iso. Acesso em 09 abr. 2022.
    http://old.scielo.br/scielo.php?script=s...
    , p.7) escritos entre 1921 e 1930, publicados no mesmo período.
  • 23
    A obra reúne os textos A violência da palavra e da imagem em ausência, O homem ao espelho e Sobre as questões da autoconsciência e da autoavaliação.
  • 24
    Trata-se de uma tradução inédita no Brasil.

Agradecimentos

Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de doutorado concedida durante o período de realização desta pesquisa.

  • Pareceres

    Tendo em vista o compromisso assumido pela Bakhtinina. Revista de Estudos do Discurso com a Ciência Aberta, a revista publica somente os pareceres autorizados por todas as partes envolvidas.

Anexo

Quadro-resumitivo das obras do Círculo de Bakhtin publicadas no Brasil18 18 Siglas - PB: Ano da primeira publicação no Brasil; PO: ano de escrita do manuscrito e/ou primeira publicação.

PO PB/ Editora Autor Obra Tradução 1929 1979 Hucitec Mikhail Bakhtin (Volochínov) Marxismo e filosofia da linguagem: problemas do método sociológico na ciência da linguagem Michel Lahud e Yara Frateschi a partir da edição francesa. 1963 1981 Forense Universitária Mikhail Bakhtin Problemas da poética de Dostoiévski Paulo Bezerra a partir do original russo. 1965 1987 Hucitec Mikhail Bakhtin A cultura popular na Idade Média e noRenascimento: o contexto de François Rabelais Yara Frateschi e outros a partir da edição francesa. 1924 [1975] 1988 Unesp/ Hucitec Mikhail Bakhtin Questões de literatura e de estética: a teoria do romance Aurora Fornoni Bernadini e outros a partir do russo. 1919 [1979] 1992 Martins Fontes Mikhail Bakhtin Estética da criação verbal Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira a partir do francês. A partir de 2003, as edições contaram com tradução de Paulo Bezerra, a partir do original russo. 1927 2001 Perspectiva Mikhail Bakhtin [Volóchinov] O Freudismo Paulo Bezerra a partir do original russo. 197319 2008 Pedro & Mikhail Bakhtin Mikhail Bakhtin em diálogo: conversas de 1973 com Viktor Duvakin Daniela Miotello Mondardo, a partir da edição italiana. João Editores 19201924 [1986] 2010 Pedro & João Editores Mikhail Bakhtin Para uma filosofia do ato responsável Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco a partir do italiano. 1928 2012 Contexto Pável Medviédev O método formal nos estudos literários:Introdução crítica a uma poética sociológica Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo a partir do original russo. 1940 2013 Editora 34 Mikhail Bakhtin Questões de estilística no ensino da língua Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo do original russo. 1925-1930 2013 Pedro & João Editores Valentin Nikolaevich Volochínov A construção da Enunciação e outros ensaios João Wanderley Geraldi do inglês, do espanhol e do italiano com supervisão de Valdemir Miotello. 19301936 [1972] 2015 Editora 34 Mikhail Bakhtin Teoria do romance I: A estilística Paulo Bezerra do original russo. 19501961 [19761997]20 2016 Editora 34 Mikhail Bakhtin Os gêneros do discurso Paulo Bezerra do original russo. 1929 2017 Editora 34 Valentin Volóchinov Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo do original russo. 1930-1971 2017 Editora 34 Mikhail Bakhtin Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas Paulo Bezerra. Notas do original russo. [1970-1979]21 1937-1939 2018 Editora 34 Mikhail Bakhtin Teoria do romance II: As formas do tempo e do cronotopo Paulo Bezerra do original russo. 19401941 (1965, 1970, 1975) 2019 Editora 34 Mikhail Bakhtin Teoria do romance III: O romance como gênero literário Paulo Bezerra do original russo. 1921-193022 2019 Editora 34 Valentin Volóchinov A palavra na vida e a palavra na poesia Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo do original russo. 1943-194?23 2019 Pedro & João Editores Mikhail Bakhtin O homem ao espelho: apontamentos dos anos 1940 Marisol Barenco Mello e Maria Letícia Miranda do italiano. 1920-192424 2021 Pedro & João Editores Mikhail Bakhtin Lendo Razlúka de Púchkin: a voz do outro na poesia lírica Marisol Barenco Mello do italiano. Fonte: Elaborado pela autora.

Conforme Marisol Barenco de Mello e Maria Letícia Miranda, os três textos “não compõem um texto sequencial, mas foram escritos na mesma época aproximada, que deduzimos ser o final de 1943, já que um deles vem assim datado” (2019, p.17).

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Out 2022
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    16 Nov 2021
  • Aceito
    29 Ago 2022
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