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A atuação de forças centrípetas e centrífugas no discurso religioso sobre a pessoa com deficiência: reflexões a partir de Bakhtin e o Círculo

RESUMO

Este artigo analisa a atuação das forças centrípetas e centrífugas em enunciados da esfera religiosa que evidenciam cosmovisões do segmento cristão evangélico acerca da deficiência. Para tanto, selecionamos um vídeo disponível na plataforma YouTube contendo enunciados dos apresentadores Tito Rocha e Leandro Quadros relativos à temática da deficiência, bem como a resposta de uma internauta acerca do posicionamento desses sujeitos. A reflexão teórico-metodológica fundamenta-se na orientação dialógica da linguagem, sobretudo nas considerações acerca das relações dialógicas, vozes e forças centrípetas e centrífugas. Também recorremos a estudos sobre cosmovisão, inclusão da pessoa com deficiência, discurso religioso e teologia cristã. Os resultados indicam que os discursos dos apresentadores refletem e refratam uma cosmovisão cristã que unifica o entendimento da deficiência como resultado da condenação divina ocasionada pelo pecado. O comentário da internauta, por sua vez, apresenta movimentos de centralização e dispersão dessa perspectiva cristã.

PALAVRAS-CHAVE:
Relações dialógicas; Forças centrípetas e centrífugas; Cosmovisão; Inclusão da pessoa com deficiência; Discurso religioso

ABSTRACT

This article analyzes the action of centripetal and centrifugal forces in utterances from the religious sphere, which reveal worldviews of the evangelical Christian segment regarding disability. For that, we selected a video available on YouTube, containing utterances by the hosts Tito Rocha and Leandro Quadros regarding disabilities, as well as the response of an internet user about the positioning of these individuals. The theoretical and methodological reflection is based on the dialogical orientation of language, considering dialogic relations, voices, and centripetal and centrifugal forces. Additionally, we drew upon studies on worldviews, the inclusion of people with disabilities, religious discourse, and Christian theology. The results reveal that the discourses of the hosts reflect and refract a Christian worldview that unifies the understanding of disability due to divine punishment caused by sin. While the internet user’s comment presents movements of centralization and dispersion of this Christian perspective.

KEYWORDS:
Dialogic relations; Centripetal and centrifugal forces; Worldview; Inclusion of people with disabilities; Religious discourse

Considerações iniciais

No decorrer da história, a trajetória das pessoas com deficiência tem sido marcada por diversas cosmovisões, materializadas em diferentes discursos no interior das mais variadas esferas da atividade humana, que reverberam as formas como esses sujeitos foram percebidos e tratados no decurso da humanidade. Compreendemos que tais cosmovisões estão diretamente imbricadas às práticas de exclusão, segregação, integração e inclusão, comuns à história da pessoa com deficiência, recorrentemente retomada por estudiosos que se propõem a discuti-la (Aranha, 2001ARANHA, Maria Salete Fábio. Paradigmas da relação entre a sociedade e as pessoas com deficiência. Revista do Ministério Público do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 21, p. 160-176, 2001.; Sassaki, 2005SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: o paradigma do século 21. INCLUSÃO - Revista da Educação Especial, out. 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf. Acesso em: 20 ago. 2023.
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/...
; Santiago, 2011SANTIAGO, Sandra Alves da Silva. A história da exclusão das pessoas com deficiência: aspectos socioeconômicos, religiosos e educacionais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.; Martins, 2015MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. História da educação de pessoas com deficiência: da Antiguidade ao início do século XXI. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015.; Costa, 2018COSTA, Dennis Souza da. Representações docentes sobre o ensino de línguas estrangeiras para alunos com deficiência visual: ressonâncias de um métier. 2018. 204f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018.). Excluir, segregar, integrar e incluir são, portanto, em última instância, valorações que podemos identificar na linguagem utilizada em todas as esferas discursivas, seja política, jornalística, científica, acadêmica, do trabalho, etc., não sendo diferente na esfera religiosa.

Nesse sentido, imbuídos do entendimento de que é necessário refletirmos sobre enunciados que veiculam e cristalizam práticas capacitistas1 1 O termo capacitismo tem sido utilizado para nomear atitudes discriminatórias em razão da deficiência tanto na literatura internacional quanto nacional (Goodley, 2011, 2021; Mello, 2014; Gesser, 2020). , objetivamos, no presente estudo, investigar a atuação das forças centrípetas e centrífugas em enunciados da esfera religiosa que evidenciam cosmovisões do segmento cristão evangélico acerca da deficiência e da inclusão. Para tanto, consideramos enunciados extraídos de um vídeo do professor e teólogo Leandro Quadros, disponível na plataforma YouTube, bem como a contrapalavra de um sujeito/internauta, que surge em comentários, e lida com questões relativas à deficiência em seu contexto familiar.

No que tange às reflexões que tecemos sobre a linguagem, recorremos essencialmente ao conjunto dos textos de Bakhtin e o Círculo (Bakhtin, 2015BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: A estilística. Tradução, posfácio, notas e glossário Paulo Bezerra. Organização da edição russa Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2015., 2018BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução direta do russo, notas e prefácio de Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2018.; Volóchinov, 2017VOLÓCHINOV, Valentin. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017.) e estudiosos que se debruçam sobre suas reflexões (Faraco, 2009FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.; Sobral, 2014SOBRAL, Adail. Ético e estético: na vida, na arte e na pesquisa em Ciências Humanas. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2014. p. 103-122.; Brait, 2015BRAIT, Beth. Problemas da poética de Dostoiévski e estudos da linguagem. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, dialogismo e polifonia. São Paulo: Contexto, 2015. p. 45-72.), compreendendo-a sob uma perspectiva dialógica em que a história e o entorno social são fatores prementes para o estudo das práticas discursivas que emergem da sociointeração entre os sujeitos. Além disso, nossa discussão está fundamentada nas considerações de estudiosos que refletem sobre o conceito de cosmovisão (Dilthey, 1992DILTHEY, Wilhelm. Teoria das concepções do mundo. Tradução Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1992.; Sire, 2012SIRE, James. Dando nome ao elefante: cosmovisão como um conceito. Tradução Paulo Zacharias e Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2012.; Naugle, 2017NAUGLE, David Keith. Cosmovisão: a história de um conceito. Apresentação de Arthur Holmes. Tradução Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2017.), bem como em literatura na área da inclusão das pessoas com deficiência (Aranha, 2001ARANHA, Maria Salete Fábio. Paradigmas da relação entre a sociedade e as pessoas com deficiência. Revista do Ministério Público do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 21, p. 160-176, 2001.; Sassaki, 2005SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: o paradigma do século 21. INCLUSÃO - Revista da Educação Especial, out. 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf. Acesso em: 20 ago. 2023.
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/...
; Santiago, 2011SANTIAGO, Sandra Alves da Silva. A história da exclusão das pessoas com deficiência: aspectos socioeconômicos, religiosos e educacionais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.; Martins, 2015MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. História da educação de pessoas com deficiência: da Antiguidade ao início do século XXI. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015.; Costa, 2018COSTA, Dennis Souza da. Representações docentes sobre o ensino de línguas estrangeiras para alunos com deficiência visual: ressonâncias de um métier. 2018. 204f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018.), do discurso religioso na perspectiva dialógica (Francelino, 2019FRANCELINO, Pedro Farias. Estilo e autoria em sermões religiosos: uma análise dialógica. In: BRAIT, Beth; PISTORI, Maria Helena Cruz; FRANCELINO, Pedro Farias (orgs.). Linguagem e conhecimento: Bakhtin, Volóchinov, Medviédev. Campinas, SP: Pontes Editores, 2019. p. 233-260.; Silva, 2017SILVA, Elias Coelho da. Hierofania discursiva: a objetivação do sagrado. In: COSTA, Julia Cristina de Lima; FRANCELINO, Pedro Farias (orgs.). Linguagem, discurso e religião: diálogos e interfaces. São Carlos: Pedro & João Editores, 2017. p. 67-81.; Leite, 2017LEITE, Francisco Benedito. A utilização do método socioideológico para estudos em ciências da religião e em teologia. In: COSTA, Julia Cristina de Lima; FRANCELINO, Pedro Farias (orgs.). Linguagem, discurso e religião: diálogos e interfaces. São Carlos: Pedro & João Editores, 2017. p. 9-29.; Nascimento, 2019NASCIMENTO, Ilderlândio Assis de Andrade. O discurso citado na carta de Paulo aos romanos: uma abordagem discursivo-enunciativa. 2019. 282f. Tese (Doutorado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2019.; Mueller, 2017MUELLER, Beatriz Gutiérrez. A palavra religiosa como uma variante da ‘palavra autoritária’ em Bakhtin. Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso. São Paulo, v. 12, n. 1, p. 91-112, jan./abr. 2017. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/27177/20954. Acesso em: 27 ago. 2023.
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) e da teologia cristã (Erickson, 2013ERICKSON, Millard. Christian Theology. 3. ed. Michigan: Baker Academic, 2013.; Grudem, 2012 [1999]GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática (1999). Tradução Norio Yamakami, Lucy Yamakami, Luiz A. T. Sayão, Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Vida Nova, 2012.).

A metodologia que empregamos advém da análise dialógica do discurso, oriunda das discussões linguístico-filosóficas de Bakhtin e o Círculo, sobretudo nos escritos que tratam das relações dialógicas entre os discursos, bem como na proposição de uma perspectiva de análise da linguagem, na qual as “formas e tipos de interação discursiva” são os primeiros aspectos a serem observados no estudo discursivo, seguidos das “formas dos enunciados” e das “formas da língua” (Volóchinov, 2017VOLÓCHINOV, Valentin. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017., p. 220).

Além dessa breve introdução, estruturamos o presente artigo da seguinte forma: primeiramente, tecemos discussões a partir dos escritos de Bakhtin e o Círculo sobre os conceitos explorados, traçando diálogos com estudos sobre cosmovisão e discurso religioso. Na sequência, lançamos o olhar para a trajetória das pessoas com deficiência ao longo da história. Posteriormente, apresentamos a metodologia, seguida da análise do corpus e, por fim, das considerações finais.

1 Cosmovisões sob a perspectiva dialógica da linguagem: forças centrípetas e centrífugas, relações dialógicas e vozes

As reflexões presentes nesta seção orientam-se pela perspectiva dialógica da linguagem e levam em consideração as premissas/colaborações de Leite (2017)LEITE, Francisco Benedito. A utilização do método socioideológico para estudos em ciências da religião e em teologia. In: COSTA, Julia Cristina de Lima; FRANCELINO, Pedro Farias (orgs.). Linguagem, discurso e religião: diálogos e interfaces. São Carlos: Pedro & João Editores, 2017. p. 9-29. e Nascimento (2019)NASCIMENTO, Ilderlândio Assis de Andrade. O discurso citado na carta de Paulo aos romanos: uma abordagem discursivo-enunciativa. 2019. 282f. Tese (Doutorado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2019., segundo as quais as reflexões do Círculo têm se mostrado produtivas na análise e interpretação de enunciados da esfera religiosa. Nesse sentido, em face do nosso objetivo, compreendemos que as cosmovisões do segmento cristão evangélico acerca da deficiência são materializadas em vozes, imbuídas de valorações e atravessadas por discursos de outrem. Tais discursos revelam relações dialógicas que viabilizam a atuação de forças (des)centralizadoras, a depender dos enunciados recuperados, bem como do propósito dos enunciadores envolvidos no processo comunicativo.

Antes de adentrarmos na discussão conceitual propriamente dita, é importante ressaltar que o projeto intelectual de Bakhtin e o Círculo considera a linguagem em sua dimensão dialógica, como um fenômeno estratificado e axiologicamente saturado, cujas relações de sentido se estabelecem entre enunciados, a partir das relações dialógicas, na interação discursiva.

Conforme exposto por Brait (2015)BRAIT, Beth. Problemas da poética de Dostoiévski e estudos da linguagem. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, dialogismo e polifonia. São Paulo: Contexto, 2015. p. 45-72., as relações dialógicas são o fenômeno tratado como objeto da metalinguística, proposta por Bakhtin (2018BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução direta do russo, notas e prefácio de Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2018., p. 207), ou do que hoje, no contexto brasileiro, convencionou-se chamar de análise dialógica do discurso. Como tal, elas atravessam todo e qualquer discurso e constituem a condição sem a qual não pode haver enunciado. Como expressa o filósofo russo, as relações dialógicas ocorrem fora da língua e são inseparáveis do campo discursivo, pois é na interação que os sujeitos entram em contato com diferentes vozes que mantêm as mais diversas relações entre si (concordância, discordância, polêmica, confronto etc.).

Nesse sentido, a teoria dialógica da linguagem considera simultaneamente o caráter social e individual das vozes, de modo que um determinado enunciado - por ser um espaço de lutas, aberto a diferentes significações - pode manifestar avaliações particulares do enunciador, bem como cosmovisões por ele compartilhadas de modo mais amplo. Por essa razão, faz-se premente mencionar que, de acordo com Volóchinov (2017VOLÓCHINOV, Valentin. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017., p. 129-130), “cada produto ideológico carrega consigo a marca da individualidade do seu criador ou de seus criadores, mas essa marca é tão social quanto todas as demais particularidades e características dos fenômenos ideológicos”.

Para Bakhtin (2018)BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução direta do russo, notas e prefácio de Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2018., cada voz ecoa uma posição social. Na visão do autor, o confronto de diferentes vozes faz ressoar distintos pontos de vista, acentos e refrações do mundo. Nesse sentido, cabe ressaltar que a voz de um enunciador molda a de um outro, uma vez que todo dizer efetivo se constitui ora como resposta, ora como material passível de ser respondido, retomado, refutado etc.

Nessa perspectiva, de acordo com Sobral (2014SOBRAL, Adail. Ético e estético: na vida, na arte e na pesquisa em Ciências Humanas. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2014. p. 103-122., p. 25), “todo enunciado cria o novo, mas só pode fazer a partir do já existente, sob pena de não ser compreendido”. Também cabe lembrar, como sugere Faraco (2009FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009., p. 52), que “o material semiótico pode ser o mesmo, mas sua significação no ato social concreto de enunciação, dependendo da voz social em que está ancorado”, pode adquirir outro sentido. Por essa razão, é preciso compreender que os discursos não são neutros, mas estão atravessados por posições axiológicas, sendo inseparáveis das esferas de atividade em que circulam.

Desse modo, de acordo com Bakhtin (2015)BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: A estilística. Tradução, posfácio, notas e glossário Paulo Bezerra. Organização da edição russa Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2015., a língua é permeada pela ação de duas forças contrárias em constante tensão. Uma, centralizando e unificando (força centrípeta), e outra, descentralizando e separando (força centrífuga) o mundo verboideológico. Em outras palavras, a primeira atua em favor da manutenção e da estabilização de instâncias ideológicas vigentes e tende ao silenciamento da diversidade, configurando-se como monologizante. O monologismo aqui constitui-se como um efeito de sentido, pois a própria natureza dialógica do discurso contraria tal visão homogeneizadora da língua, principalmente quando consideramos que “ao lado das forças centrípetas caminha o trabalho contínuo das forças centrífugas da língua, ao lado da centralização verbo-ideológica e da união caminham ininterruptos os processos de descentralização e desunificação” (Bakhtin, 2002BAKHTIN, Mikhail. O discurso no romance. In: BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução Aurora Fornoni Bernardini et al. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 2002. p. 71-210., p. 82). A segunda, portanto, desempenha papel de desestabilização, com vistas a desmantelar qualquer tentativa de unificação verboaxiológica. Sobre esse aspecto, Faraco (2009FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009., p. 69-70) destaca que as forças centrífugas “corroem continuamente as tendências centralizadoras”, evidenciando multiplicidades de vozes sociais e rompendo paradigmas dominantes.

No que tange ao discurso religioso, é importante ressaltar o desafio que envolve empreender uma discussão profícua a seu respeito sem passar por questões complexas, uma vez que a religião não pode ser considerada de um ponto de vista universalizante e homogêneo, o que também se aplica à compreensão dos discursos que compõem esse campo. Sob essa complexidade, Francelino (2019FRANCELINO, Pedro Farias. Estilo e autoria em sermões religiosos: uma análise dialógica. In: BRAIT, Beth; PISTORI, Maria Helena Cruz; FRANCELINO, Pedro Farias (orgs.). Linguagem e conhecimento: Bakhtin, Volóchinov, Medviédev. Campinas, SP: Pontes Editores, 2019. p. 233-260., p. 251) destaca que, semelhantemente a qualquer outra esfera discursiva, na religiosa “(...) há especificidades relacionadas à forma como os sujeitos refletem e refratam o mundo, suas cosmovisões, seus valores, crenças e convicções e todos esses aspectos permeiam os enunciados” nela produzidos.

Entretanto, mesmo considerando a heterogeneidade inerente ao discurso religioso, compreendemos que, de modo geral, ele se constitui a partir de uma palavra autoritária, no sentido outorgado por Bakhtin (2015)BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: A estilística. Tradução, posfácio, notas e glossário Paulo Bezerra. Organização da edição russa Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2015., pondo em movimento forças centrípetas (centralizadoras) numa tentativa de instituir uma verdade absoluta e inquestionável. A palavra autoritária apresenta uma composição enunciativo-discursiva que projeta um efeito de sentido monológico, objetivando tolher o diálogo intrínseco a todo evento comunicativo (Mueller, 2017MUELLER, Beatriz Gutiérrez. A palavra religiosa como uma variante da ‘palavra autoritária’ em Bakhtin. Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso. São Paulo, v. 12, n. 1, p. 91-112, jan./abr. 2017. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/27177/20954. Acesso em: 27 ago. 2023.
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).

No que diz respeito à cosmovisão religiosa, foco desta discussão, Dilthey (1992)DILTHEY, Wilhelm. Teoria das concepções do mundo. Tradução Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1992. considera que ela consistiria na interpretação da realidade a partir da interação do homem com o invisível, ou seja, ela se efetuaria na interface da experiência humana e espiritual. Residem, na cosmovisão religiosa, os conflitos entre seres bons e maus, a vivência humana pautada nos próprios sentidos e o entendimento de um mundo espiritual que transcende tais sentidos.

Nessa perspectiva, segundo Naugle (2017NAUGLE, David Keith. Cosmovisão: a história de um conceito. Apresentação de Arthur Holmes. Tradução Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2017., p. 61), “(...) em toda a história de ‘cosmovisão’ nenhuma escola filosófica ou comunidade religiosa tem dado atenção mais constante ou se beneficiado mais desse conceito do que os evangélicos protestantes”. O interesse dos sujeitos desse segmento religioso tem sua origem atribuída a dois teólogos, a saber, o presbiteriano escocês James Orr (1844-1913) e o neocalvinista holandês Abraham Kuyper (1837-1920), ambos influenciados pelas doutrinas teológicas de João Calvino (1509-1564), e corresponsáveis pela introdução da noção de cosmovisão no pensamento cristão atual (Naugle, 2017NAUGLE, David Keith. Cosmovisão: a história de um conceito. Apresentação de Arthur Holmes. Tradução Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2017.).

De acordo com Naugle (2017)NAUGLE, David Keith. Cosmovisão: a história de um conceito. Apresentação de Arthur Holmes. Tradução Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2017., Orr buscou apresentar, de maneira exaustiva, uma visão cristã de Deus e do mundo. Segundo o teólogo escocês, crer no Jesus Cristo presente na narrativa bíblica significaria aderir a outras convicções, comprometendo-se do mesmo modo com uma compreensão de Deus, do homem, do pecado, da redenção e do destino humano, assumidas somente pelo cristianismo.

Por sua vez, a cosmovisão cristã de Kuyper consiste em um entendimento holístico e espiritual sensível do cristianismo, que pressupõe uma ressignificação dos aspectos culturais e do pensamento humano em sua integralidade. Segundo Sire (2012SIRE, James. Dando nome ao elefante: cosmovisão como um conceito. Tradução Paulo Zacharias e Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2012., p. 29), este último pode ser considerado um dos mais influentes teólogos por ter ampliado a abordagem de Orr, assumindo uma cosmovisão cristã que concebe a doutrina calvinista “como uma cosmovisão abrangente”, em que todos os aspectos da vida humana estariam predeterminados pela onisciência de Deus.

Diante da flutuação de tal conceito, e buscando considerá-lo em sua interface com os estudos da linguagem, neste trabalho, a noção de cosmovisão que adotamos não pode se fundamentar fora do âmbito linguístico, sendo essencialmente por este constituída. É por meio da interação discursiva de sujeitos situados sócio-historicamente que se manifestam variadas visões de mundo, refletidas e refratadas em suas práticas discursivas, imbuídas de posicionamentos axiológicos do meio social em que estão circunscritos.

Nesse sentido, Bakhtin (2015)BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: A estilística. Tradução, posfácio, notas e glossário Paulo Bezerra. Organização da edição russa Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2015. compreende que a língua é atravessada por cosmovisões. Para o autor, é por meio de “enunciados concretos que a vida entra na língua” (Bakhtin, 2011BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. p. 261-306., p. 265), isto é, os discursos que produzimos sobre todos os aspectos da existência humana estão permeados por valorações dos sujeitos que os enunciam. Por essa razão, o filósofo entende que na interação discursiva há uma diversidade de cosmovisões que se materializam em vozes sociais. Logo, a escolha dos signos e os significados a eles atribuídos relacionam-se ao modo como cada grupo social compreende e interpreta a realidade em que está inserido.

Sob essa perspectiva axiológica, a visão de mundo partilhada pelos sujeitos, em uma dada comunidade, constitui-se como mola propulsora para o constante diálogo produzido no embate dessas vozes. Nesse sentido, ao considerar a centralidade da linguagem na materialização das cosmovisões, é possível observar como estas se constituem nas práticas discursivas.

Para concluir esta seção, é importante enfatizar que a análise da atuação das forças centrípetas e centrífugas possibilita que se observe o confronto das cosmovisões, considerando as relações dialógicas mobilizadas nos discursos, uma vez que a cosmovisão é refletida e refratada na voz de um sujeito situado num dado espaço e tempo.

2 A pessoa com deficiência ao longo da história: discursos e cosmovisões

O conceito de deficiência é complexo, dinâmico, multidimensional e discutível (World Health Organization; The World Bank, 2011WORLD HEALTH ORGANIZATION; THE WORLD BANK. World Report on Disability, 2011.), e, na atualidade, sua teorização se encontra no centro de vários empreendimentos científics e sociais, que lidam com o corpo, a subjetividade, a cultura e a sociedade (Goodley; Hughes; Davis, 2012GOODLEY, Dan; HUGHES, Bill; DAVIS, Lennard. Introducing Disability and Social Theory. In: GOODLEY, Dan; HUGHES, Bill; DAVIS, Lennard (orgs.). Disability and Social Theory: New Developments and Directions. New York, NY: Palgrave Macmillan, 2012. p. 1-14.). Logo, para se (re)discutir questões relativas à deficiência, faz-se necessário explicitar o ponto de vista que se pretende lançar sobre tal fenômeno, a fim de serem mitigadas quaisquer incompreensões.

Neste estudo, o olhar que lançamos para a materialidade discursiva, como veremos em sequência, assume a deficiência a partir de discussões que emergem de estudos pautados em teorias sociais com ancoragem nas reflexões pioneiras de Vigotski (2022VIGOTSKI, Lev Semionovitch. Obras Completas - Tomo Cinco: Fundamentos de Defectologia (1983). Cascavel, PR: EDUNIOESTE, 2022. [1983]). Fundamentado em postulados do materialismo histórico e dialético, o psicólogo bielorrusso promove um deslocamento, em seus trabalhos no domínio da defectologia, da ideia de deficiência marcada por aspectos biológicos inerentes ao ser humano. Em contrapartida, observa que tal condição é derivada das interações das pessoas com deficiência com as barreiras impostas pelo entorno social mediante suas particularidades psicológicas, orgânicas e individuais. Tal concepção representa uma guinada nas formas de conceber e tratar as pessoas com deficiência na sociedade, favorecendo o desenvolvimento da perspectiva de inclusão social.

Nesse devir, sob a égide do paradigma inclusivista e diante da natureza multifacetada da noção de deficiência, recorremos à definição contida na Lei Brasileira de Inclusão (LBI), cujo documento legal é resultado de amplo debate com a sociedade e órgãos/entidades representativas dessa parcela da população brasileira. De acordo com o texto da LBI,

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (Brasil, 2015BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 10 ago. 2023.
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, art. 2°).

O sentido de deficiência, portanto, atribuído no referido documento legal, alinha-se à perspectiva vigotskiana ao considerar o meio social nos processos interativos das pessoas com deficiência, do qual podem eclodir diversos impedimentos/obstáculos que restringem sua participação plena, colocando-as em profunda desvantagem social. Enquanto analistas do discurso, não podemos deixar de elucidar o fato de que também podem constituir-se como barreiras os diferentes discursos que atravessam as variadas atividades humanas, nos quais estão engendradas as mais heterogêneas cosmovisões sobre a pessoa com deficiência. Com isso, ocorre que “(...) tão determinante quanto as características corporais, com suas limitações, incapacidades, funcionalidades ou potencialidades, é a leitura social feita dessa condição, é o olhar do outro e o sentido atribuído a ela” (Meletti, 2013MELETTI, Silvia Márcia Ferreira. Diferenças e diferentes: aspectos psicossociais da deficiência. In: MELETTI, Silvia Márcia Ferreira; KASSAR, Mônica de Carvalho Magalhães (orgs.). Escolarização de alunos com deficiências: desafios e possibilidades. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2013. p. 13-31., p. 14).

Outro aspecto que devemos considerar, a partir da perspectiva dialógica da linguagem, é o entendimento de que a proposta de inclusão surge como resposta a um já dito, isto é, o paradigma inclusivista responde a enunciados de outrora, responsáveis pela constituição de cosmovisões que colocaram as pessoas com deficiências sob práticas de exclusão, segregação e integração, anteriores aos movimentos de inclusão.

A exclusão social das pessoas com deficiência aparece na história como a primeira resposta social dada a essa população, predominantemente na Idade Antiga (Costa, 2018COSTA, Dennis Souza da. Representações docentes sobre o ensino de línguas estrangeiras para alunos com deficiência visual: ressonâncias de um métier. 2018. 204f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018.; Hughes, 2012HUGHES, Bill. Civilising Modernity and the Ontological Invalidation of Disabled People. In: GOODLEY, Dan; HUGHES, Bill; DAVIS, Lennard (orgs.). Disability and Social Theory: New Developments and Directions. New York, NY: Palgrave Macmillan, 2012. pp. 17-32.), fruto das cosmovisões que permearam as formas de tratamento que lhes eram dispensadas. Em algumas sociedades ancestrais, devido às adversas condições de vida, a presença de membros vulneráveis, idosos, doentes, gravemente feridos e com deficiências frequentemente resultava em sua eliminação2 2 Tal fato ainda é uma realidade em pleno século XXI, por exemplo, em algumas aldeias indígenas no Brasil, como ressalta Martins (2015). , uma vez que eles não podiam contribuir para as atividades coletivas tidas como essenciais à sobrevivência e à proteção pessoal e comunitária (Martins, 2015MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. História da educação de pessoas com deficiência: da Antiguidade ao início do século XXI. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015.).

Do mesmo modo, o extermínio de pessoas com deficiência e/ou sua expulsão do convívio social esteve presente nas sociedades ocidentais da Antiguidade. Na civilização grega, buscava-se a formação de um padrão elevado do ser humano a partir do cultivo de certas virtudes heroicas, que se manifestavam no trabalho com o corpo e o espírito. A pessoa com deficiência, por não atender ao padrão de virtude designado, contrariando-o, não podia almejar uma vida humana em sua totalidade que servisse à pólis (Martins, 2015MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. História da educação de pessoas com deficiência: da Antiguidade ao início do século XXI. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015.).

Semelhantemente aos gregos, os romanos aderiram, de modo geral, a práticas de extermínio da pessoa com deficiência, com exceção daqueles que pertenciam a classes favorecidas economicamente, que poderiam ter suas vidas poupadas, embora fossem banidos do convívio social (Santiago, 2011SANTIAGO, Sandra Alves da Silva. A história da exclusão das pessoas com deficiência: aspectos socioeconômicos, religiosos e educacionais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.). A Lei das Doze Tábuas3 3 A Lei das XII Tábuas representou uma rica fonte de conhecimento para o direito romano, por um período de aproximadamente mil anos, e ainda hoje exerce grande influência na elaboração das legislações modernas (Meira, 2021). , por exemplo, na Tábua Quarta, que dispõe do pátrio poder e do casamento, na Lei I, concede direito ao pai de tirar a vida de seu próprio filho caso apresentasse alguma deficiência congênita (Meira, 2021MEIRA, Silvio. A Lei das XII Tábuas: fonte do Direito Público e Privado. 6. ed. São Paulo: Editora Madamu, 2021.). Quando não aniquilada, há indícios de que a criança com deficiência era abandonada à própria sorte, sendo colocada à margem do rio Tibre (Santiago, 2011SANTIAGO, Sandra Alves da Silva. A história da exclusão das pessoas com deficiência: aspectos socioeconômicos, religiosos e educacionais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.). Uma vez encontrada por algum plebeu ou escravo, tal criança era criada visando a possibilidade de lucro de seu proprietário, ao ser utilizada como meio de diversão em feiras de Roma ou como pedintes (Oliveira, 2010OLIVEIRA, Lilia Candella de. Visibilidade e participação política: um estudo no Conselho Municipal da Pessoa com deficiência em Niterói. 2010. 178f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.; Martins, 2015MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. História da educação de pessoas com deficiência: da Antiguidade ao início do século XXI. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015.).

Vê-se, portanto, que, seja em sociedades ancestrais ou em civilizações da Antiguidade Clássica, eliminar a pessoa com deficiência, causando-lhe a morte, constituiu-se como uma prática habitual durante tais períodos e, aparentemente, não representava um problema de ordem ética ou moral àquelas comunidades (Aranha, 2001ARANHA, Maria Salete Fábio. Paradigmas da relação entre a sociedade e as pessoas com deficiência. Revista do Ministério Público do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 21, p. 160-176, 2001.). Porém, com o surgimento do Cristianismo e sua expansão junto ao Império Romano, outras cosmovisões sobre as pessoas com deficiência começam a ganhar forças, sobretudo a partir do entendimento de que elas também são criaturas de Deus, merecedoras de compaixão e tolerância, o que contribuiu para a redução do seu extermínio.

Nesse cenário, atitudes de caridade-castigo e proteção-segregação entram em cena, coexistindo no tratamento dado à pessoa com deficiência durante a Idade Média. A caridade-castigo era uma prática adotada pela igreja, que utilizava punições a fim de corrigir quem não observasse suas doutrinas (Santiago, 2011SANTIAGO, Sandra Alves da Silva. A história da exclusão das pessoas com deficiência: aspectos socioeconômicos, religiosos e educacionais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.). O ser humano, feito à imagem e semelhança de Deus, não poderia apresentar nenhuma característica em seus corpos que desvirtuasse a noção de perfeição divina. Assim, a pessoa com deficiência era considerada imperfeita e pecaminosa, condenada por Deus. A fim de salvá-la, eram recomendadas atitudes de castigo “(...) por meio do aprisionamento e açoitamento, para expulsão do demônio” (Tomporoski; Lachman; Bortolin, 2019TOMPOROSKI, Alexandre Assis; LACHMAN, Vivian; BORTOLINI, Ernani. Educação especial, o longo caminho: da antiguidade aos nossos dias. Caderno Zygmunt Bauman, v. 9, n. 21, p. 21-36, 2019. Disponível em: http://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/bauman/article/view/12546/7003. Acesso em: 20 ago. 2023.
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, p. 25).

Por sua vez, a proteção-segregação está associada ao recolhimento das pessoas com deficiência em igrejas, asilos, hospícios e conventos, ambientes geralmente com condições subumanas. A sociedade, com seus valores religiosos, acreditava estar zelando pelo bem-estar desse estrato da população, enquanto mantinha a comunidade livre de situações adversas envolvendo a deficiência (Martins, 2015MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. História da educação de pessoas com deficiência: da Antiguidade ao início do século XXI. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015.). Tal prática reverberou no paradigma de segregação social, no qual as pessoas com deficiência eram enclausuradas em instituições assistencialistas, geralmente construídas à parte dos grandes centros urbanos, ficando incomunicáveis e privadas do convívio com os demais membros de sua comunidade.

A partir da ascensão da burguesia, com o fim da Idade Média, e das revoluções democráticas durante os séculos XVI, XVII e XVIII, a cosmovisão acerca da deficiência enquanto disfunção orgânica começa a ser delineada na Modernidade, lançando as bases para o que vem a ser conhecido mais tarde como o paradigma de integração social. Nesse contexto, a ciência é disponibilizada às pessoas com deficiência como um instrumento de recuperação e normatização de sua condição humana (Santiago, 2011SANTIAGO, Sandra Alves da Silva. A história da exclusão das pessoas com deficiência: aspectos socioeconômicos, religiosos e educacionais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.), partindo do pressuposto de que era possível tratá-las para serem integradas novamente ao convívio social, do qual haviam sido restringidas. É importante destacar que a cosmovisão que reverberou práticas de tratamento das pessoas com deficiência no âmbito da medicina para sua posterior integração na sociedade, implicava que tais sujeitos eram “o foco da mudança, embora se reconhecesse a necessidade de transformações na sociedade” (Costa, 2018COSTA, Dennis Souza da. Representações docentes sobre o ensino de línguas estrangeiras para alunos com deficiência visual: ressonâncias de um métier. 2018. 204f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018., p. 26).

O paradigma de inclusão surge nos anos 1980, e com maior expressividade na década de 1990 (Sassaki, 2005SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: o paradigma do século 21. INCLUSÃO - Revista da Educação Especial, out. 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf. Acesso em: 20 ago. 2023.
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), como resposta aos movimentos de integração, fundamentado na cosmovisão, conforme já mencionamos, de que é necessário um processo de reforma e reestruturação da sociedade, a fim de que as pessoas com deficiência possam participar de todas as atividades humanas em condições de igualdade. Nesse sentido, a transição entre as práticas de integração e inclusão representa mais do que uma mudança semântica de termos politicamente corretos. Embora tenham sido utilizados às vezes como sinônimos, há distinções essenciais de valores e de princípios que orientam tais práticas (Mittler, 2003MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003.).

Nesse sentido, alinhados à perspectiva de inclusão e movidos pelo interesse de construir uma sociedade mais justa, plural e inclusiva, dispomos a seguir os procedimentos do nosso estudo, desde a constituição, análise e interpretação do nosso corpus.

3 Procedimentos metodológicos: caminhos para a compreensão dos diálogos

Os enunciados concretos analisados foram extraídos de um vídeo4 4 É importante mencionar que, embora este corpus apresente uma dimensão verbo-visual e seja notável a importância de trabalhos que considerem tais semioses em suas análises (Brait, 2009, 2010, 2013), operamos, neste estudo, um recorte explorando a dimensão verbal, por se tratar de uma produção oral que, após o processo de transcrição, apresentou aspectos pertinentes em sua materialidade linguística diante do objetivo proposto. Nesse sentido, não é nosso intento empreender discussões sobre elementos visuais, tais quais: gestos, expressões faciais, ângulos de filmagem, entre outros, que compõem o todo enunciativo. Entendemos que a análise que ora apresentamos se configura como uma dentre diferentes possibilidades de leitura do nosso corpus, de modo que a ênfase no aspecto verbal também nos permite construir sentidos valiosos sobre a atuação de forças (des)centralizadoras reverberadas nos discursos dos sujeitos enunciadores ao refratarem, de um ponto de vista religioso, cosmovisões acerca da deficiência. Tal decisão teórico-metodológica, a nosso ver, mostra-se tão legítima quanto o percurso traçado em outros trabalhos como Assumpção et al. (2023), Josiowicz e Deusdará (2022), Azzari, Amarante e Andrade (2019) - que, mesmo diante de uma materialidade verbo-visual, não mobilizam, em sua discussão, aspectos que explorem orientações metodológicas e conceituais acerca da verbo-visualidade, operando recortes com ênfase na dimensão verbal, sem comprometer o plano expressivo e a produção de sentido de seus corpora. disponível na plataforma YouTube envolvendo discursos de temática religiosa proferidos pelo professor e teólogo Leandro Quadros. Para uma descrição mais precisa do perfil desse enunciador, coletamos informações disponíveis em seu portal eletrônico oficial5 5 https://leandroquadros.com.br/ , na aba “quem sou”, e na Plataforma Lattes. De acordo com essas informações, Leandro Quadros é professor, teólogo, escritor e apresentador dos programas de televisão e rádio Na Mira da Verdade e En La Mira de La Verdad, na rede Novo Tempo. É graduado em Comunicação Social pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP, 2002-2007) e Mestre em Teologia pela Universidad Adventista del Plata, Argentina (2010-2013)6 6 Como formação complementar, Leandro também possui especialização concluída em Jornalismo Científico (2008-2010) pela UNIVAP e duas especializações em andamento em Psicologia Positiva e Coaching, e Marketing Digital e Vendas, ambas pelo Centro Universitário União das Américas Descomplica, Uniamérica. Acesso em: 26 ago. 2023. .

Nosso corpus constitui-se de duas materialidades. A primeira consiste em enunciados do vídeo intitulado “Por que nascem crianças com deficiência? A BÍBLIA RESPONDE7 7 Ao longo do processo de avaliação realizado pela comissão editorial da revista, mais especificamente no dia 29/02/2024, constatou-se que o link do vídeo indicado na nota de rodapé 7 estava indisponível após encerramento da conta de usuário. No entanto, é possível localizar o vídeo com seu conteúdo preservado, em outro canal, sob o título “Por que existem crianças que nascem com deficiência física ou mental 360p H 264 AAC)” através do link: https://www.youtube.com/watch?v=owWYwTLne6g. Acesso em 29 de fevereiro de 2024. ”, com duração de 2 minutos e 14 segundos e com 41.048 visualizações8 8 Contabilizadas no dia 26 de agosto de 2023. . O vídeo foi publicado em 24 de março de 2012 no canal IgrejaOnline, com cerca de 38,4 mil inscritos. Trata-se de um recorte de um trecho do programa televisivo de temática religiosa cristã Na Mira da Verdade, apresentado por Tito Rocha e Leandro Quadros, no qual o primeiro exerce a função de mediar a interação, em forma de pergunta e resposta, entre os telespectadores e Quadros, durante exibição ao vivo do programa. A segunda materialidade, por sua vez, é composta por um comentário feito por uma internauta, cujo nome foi preservado9 9 Com vistas a resguardar a identidade da internauta, por observância a questões de ética envolvendo o fazer científico. , em resposta ao vídeo.

Para a seleção do vídeo, nosso critério de escolha levou em conta pesquisas realizadas na plataforma YouTube, utilizando-se o descritor “deficiência e religião” na ferramenta de busca. Entre os principais resultados, verificamos que o assunto vinha sendo explorado por Leandro Quadros em algumas postagens10 10 Alguns deles: Por que Deus permite que algumas crianças nascem com deficiência? Prof. Leandro Quadros; Por que Deus EXCLUIU os DEFICIENTES em levítico? É PRECONCEITO dEle? - Leandro Quadros; A BÍBLIA RESPONDE - Como Deus julgará um deficiente mental?. https://www.youtube.com/watch?v=RDD6gv_XepQ&t=107s Acesso em: 26 ago. 2023. . Portanto, para a análise, foi selecionado o vídeo anteriormente citado por discutir a temática de um modo mais abrangente, tematizando o nascimento de pessoas com deficiência a partir de um ponto de vista religioso particular. Por sua vez, no que diz respeito à escolha do comentário, consideramos os seguintes aspectos para sua seleção: primeiro, sua relevância e alcance na plataforma, totalizando 28 curtidas e 3 réplicas; segundo, a formulação do posicionamento enunciativo, tendo em vista certa extensão e elaboração11 11 Alguns comentários apresentavam extensão curta, com poucos subsídios para a análise. ; e, terceiro, o fato de a enunciadora se colocar como mãe de dois filhos com deficiência, revelando um embate de cosmovisões entre seus enunciados e o discurso de Leandro e Tito, no qual foi possível examinar a atuação das forças centrípetas e centrífugas.

Em relação ao processo de análise do corpus, para a transcrição integral dos enunciados do vídeo, pautamo-nos nos sinais para transcrição de conversação propostos por Marcuschi (2003)MARCUSCHI, Luiz Antônio. Análise da conversação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2003. por considerarmos, assim como Brait (1999)BRAIT, Beth. O processo interacional. In: PRETI, Dino (org.). Análise de textos orais. 4. ed. São Paulo: Humanitas Publicações FFLCH/USP, 1999. p. 189-214., que a conversação e a interação se apresentam como conceitos imbricados, visto que os participantes se engajam em uma dada conversação por estarem orientados pela finalidade de interagir. Neste corpus, especificamente, foram utilizados os sinais de pausas (+), hesitações (eh, ah), truncamentos (/), alongamento de vogal (:), repetições (ou ou), priorizando-se, conforme sugerido em Marcuschi (2003MARCUSCHI, Luiz Antônio. Análise da conversação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2003., p. 9), uma transcrição “limpa e legível, sem sobrecarga de símbolos complicados”. Além disso, foi incluído o uso de aspas dupla para indicar a presença de discursos citados (“ ”). Em seguida, realizada a transcrição, e a partir de leituras detidas, priorizamos os enunciados em que a posição dos sujeitos revelava suas cosmovisões acerca da deficiência.

No que tange ao comentário, seu deslocamento para a análise foi feito por meio de uma captura de tela, garantindo que se preservassem elementos tais quais: número de curtidas, indicação de que o comentário foi editado, bem como sua marcação temporal (disponível “há 4 anos”). Nesse sentido, discutimos os principais posicionamentos axiológicos identificados nos enunciados, considerando sua relação com outros discursos que circulam sobre a temática, cotejando-os. Além disso, buscamos destacar o contexto enunciativo em que se realiza a interação discursiva, ressaltando, nesse processo, quem são os sujeitos enunciadores, o espaço-tempo em que se situam, a quem se destinam os discursos proferidos, entre outros elementos pertinentes para a análise. Por fim, focalizamos os mecanismos enunciativos contidos nas formas linguísticas desses discursos.

4 (Des)centralizações em enunciados do segmento cristão evangélico sobre deficiência

A materialidade sob análise, conforme mencionamos, constitui-se de parte da transcrição do vídeo “Por que nascem crianças com deficiência? A BÍBLIA RESPONDE”, gravado durante exibição do programa Na Mira da Verdade, e pelo comentário de uma internauta em resposta ao referido vídeo. No momento inicial de interação entre os apresentadores do programa, Leandro Quadros e Tito Silva, temos a seguinte pergunta, lida por este último, enviada por um/a telespectador/a não identificado/a: “Na Palavra de Deus tem algo que explica o nascimento de pessoas com algum tipo de deficiência física ou mental?” Em continuidade à apresentação da pergunta, o apresentador Tito realiza uma espécie de contextualização:

Tito: Existe alguma coisa que a Bíblia pode eh:: nos confortar/ ou ou ou por que que nascem pessoas assim? Está relacionado com o pecado? Não está relacionado com o pecado? É Deus que dá algum tipo de condenação? Porque existe textos na Bíblia que fala que que:: seria::m seria::m eh: condenados até: (+) terceira, quarta, quinta, sexta, sétima geração. E o que que é isso? Tem alguma coisa/ tem alguma relação com o nascimento de pessoas assim?

Diante desse panorama, segue a resposta de Leandro:

Leandro Quadros: Então, na verdade Tito, aqui ah: as pessoas que nascem com defeitos físicos, isto é realmente uma consequência do pecado, né:? Quando nós lemos aqui os Salmos 51, (+) nós percebemos que o pecado é uma coisa tão séria que diz assim no Salmo 51 verso 5 ó “eu nasci na iniquidade e em pecado me concebeu a minha mãe”. Então nós nascemos pecadores e as doenças, num é:? as degenerações genéticas, os defeitos físicos são consequências do pecado. Agora, Deus promete em I Coríntios 15.51 a 55/ ele promete transformar o nosso corpo corrupto em um corpo incorrupto (+) transformar nosso corpo perfeito em um corpo/ nosso corpo imperfeito em um corpo perfeito. E aqui tem um texto que eu gosto muito, né:? que está em Isaías 35 verso 8, que tem uma promessa (+) para as famílias (+) que têm queridos com problemas mentais. Diz assim “e ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o caminho santo (+) o imundo não passará por ele, pois será somente para o seu povo (+) quem quer que por ele caminhe não errará nem mesmo o louco”. Ou seja, Deus criará um novo mundo em que até aqueles que foram loucos terão a possibilidade de serem felizes neste novo mundo. Então Deus, na volta de Cristo, vai tirar as consequências do pecado. Confie nisso, alimente essa esperança, porque a volta de Cristo é a solução pra todos os nossos problemas.

Tendo o propósito de compreender, à luz das Escrituras, a razão por que uma pessoa nasce com deficiência, a pergunta do/a telespectador/a não antecipa nem conduz a nenhum posicionamento. Por outro lado, considerando que os discursos não surgem ao acaso, pois constituem um elo na cadeia da comunicação verbal (Bakhtin, 2011BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. p. 261-306.) e mantêm relações dialógicas com outros discursos, faz-se necessário observar que o enunciado proferido por Tito não pode ser analisado como uma simples mediação da interação entre Quadros e o/a telespectador/a, nem como uma mera contextualização da pergunta realizada, isento de um posicionamento. É importante considerá-lo como um ato singular (Bakhtin, 2020BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução aos cuidados de Valdemir Montelo e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro & João Editores, 2020.), que carrega em si uma posição e uma avaliação. Por essa razão, é possível observar que, embora a pergunta do/a telespectador/a tenha um caráter abrangente, há um direcionamento na contextualização de Tito que vai guiar a resposta de Quadros.

Inicialmente, observando algumas marcas linguísticas12 12 É pertinente frisar que as marcas linguísticas são povoadas de sentido sociais, históricos e ideológicos. Elas podem estar presentes em escolhas sintáticas, semânticas e lexicais, oferecendo ao analista pistas que auxiliam na compreensão de sentidos velados no processo de análise e interpretação. Mergulhadas em relações dialógicas, bem como em um jogo tenso entre unificação e descentralização, as formas da língua são mobilizadas em diferentes discursos, a partir de diferentes vozes dentro do todo enunciativo. , podemos perceber que o uso do signo “conforto” revela certa cosmovisão do enunciador em relação à deficiência, seja ela física ou mental, refratada negativamente como uma espécie de aflição ou infortúnio que carece de consolo. Tal interpretação pode ser corroborada pelos signos “pecado” e “condenação”, que manifestam relações dialógicas com outros discursos da esfera religiosa em que a deficiência é vista como consequência hereditária do pecado13 13 Uma discussão detalhada sobre a doutrina do pecado na perspectiva cristã pode ser encontrada em Erickson (2013), mais precisamente na parte VI de sua obra. . Tal visão será retomada e reforçada por Quadros em sua resposta, revelando que essa consequência aparece no discurso dos apresentadores como uma condenação, que pode ser imputada a várias gerações seguintes. Nesse sentido, a cosmovisão partilhada por ambos mantém relações com a compreensão de deficiência como resultado de um castigo divino, comum durante o Medievo (Costa, 2018COSTA, Dennis Souza da. Representações docentes sobre o ensino de línguas estrangeiras para alunos com deficiência visual: ressonâncias de um métier. 2018. 204f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018.).

Sendo assim, o enunciado de Leandro Quadros não surge como uma resposta apenas à pergunta do/a telespectador/a14 14 Sua resposta não se dirige apenas ao/à telespectador/a que realiza a pergunta, mas também se encaminha ao seu auditório social: fiéis e demais telespectadores. , mas também como réplica à contextualização feita por Tito. No início da sua fala, é possível observar o uso do termo “defeitos físicos”, que também aparece em algumas traduções da Bíblia (como, por exemplo, a Bíblia de Jerusalém [defeito físico] e a Bíblia de Genebra15 15 Lv. 21,18-20. [defeito]), ou seja, Quadros dialoga com a cosmovisão bíblica acerca da deficiência, que a compreende como uma falha e/ou imperfeição.

Cabe lembrar que o emprego dos signos se dá por meio de um embate entre forças socioideológicas, e sua escolha e uso revelam posições axiológicas particulares. A esse respeito, Volóchinov (2017VOLÓCHINOV, Valentin. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017., p. 135, grifos no original) explica que “o signo e sua situação social estão fundidos de modo inseparável. O signo não pode ser isolado da situação social sem perder sua natureza sígnica”. Por essa razão, devemos considerar o contexto enunciativo de onde emerge a voz do teólogo que se manifesta como uma voz de autoridade, uma vez que ele fala do lugar de professor e apresentador, além de recorrer às Escrituras16 16 A Bíblia é uma voz de autoridade (considerada tradicionalmente como materialização da palavra de Deus) e, apesar de ser um texto que, em muitas situações, não pode ser considerado em sua literalidade e nem fora de contexto, encarna os sentidos mais estáveis no campo religioso. A apropriação da voz de Deus, nessa esfera, vem sendo estudada considerando-se formas de transmissão do discurso de outrem. Uma discussão voltada ao tema pode ser encontrada em Silva (2017). para justificar um posicionamento (Salmo 51,5; I Coríntios 15,51-55; Isaías 35,8).

Conforme discutido, o discurso religioso busca constituir-se em consonância com uma verdade absoluta e inquestionável, por essa razão, a palavra autoritária (Bakhtin, 2015BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: A estilística. Tradução, posfácio, notas e glossário Paulo Bezerra. Organização da edição russa Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2015.) é parte fundamental do seu desenvolvimento, possibilitando a atuação de forças centrípetas. Desse modo, ao travar relações dialógicas com discursos sobre questões relativas à deficiência, o enunciador põe em movimento forças centralizadoras que buscam estabilizar os sentidos e, consequentemente, as cosmovisões imbricadas nesses discursos. Também não podemos perder de vista que essa centralização silencia discursos de outras esferas, como, por exemplo, a científica, ao desconsiderar fatores que evidenciam a relação da deficiência com condições genéticas, causas adquiridas, entre outros.

Na sequência, percebemos o alinhamento do discurso de Quadros ao que já havia sido valorado por Tito, quando o primeiro confirma que a deficiência é uma condenação do pecado: “realmente consequência do pecado, né:?”. Observa-se nesse enunciado que o signo “né:?” atua como um elemento de concordância, passível de instigar o interlocutor a assumir um posicionamento convergente ao dos apresentadores. Nesse ponto, cabe salientar que, apesar de não haver um consenso na esfera religiosa, na voz de Quadros atua uma força centralizadora que busca uniformizar a cosmovisão cristã acerca da deficiência, ao se apoiar no texto bíblico. Recorrendo ao Salmo 51,5 (“eu nasci na iniquidade e em pecado me concebeu a minha mãe”), ele conclui: “nascemos pecadores e as doenças, num é:? as degenerações genéticas, os defeitos físicos são consequências do pecado”, reforçando as ideias da hereditariedade do pecado e da condenação, presentes historicamente em algumas cosmovisões acerca da pessoa com deficiência, dentre elas, o segmento cristão evangélico. Agrega-se a tais ideias, a cosmovisão na Modernidade de que a deficiência seria uma doença passível de cura, como é o caso da surdez, percebida na medicina como patologia, reverberando narrativas hegemônicas, geralmente de sujeitos ouvintes, de recuperação do surdo por meio de implantes cocleares e terapia de fala.

Em seguida, citando a primeira carta de Paulo aos Coríntios (“ele promete transformar o nosso corpo corrupto em um corpo incorrupto (+) transformar nosso corpo perfeito/ nosso corpo imperfeito em um corpo perfeito”), a voz do apresentador faz ecoar o discurso de reabilitação comum durante o paradigma médico-clínico, em que práticas de normatização do corpo deficiente se constituíram como uma das principais formas de tratamento desse estrato da população, visando sua reinserção nas comunidades de onde havia sido privado do convívio social (Santiago, 2011SANTIAGO, Sandra Alves da Silva. A história da exclusão das pessoas com deficiência: aspectos socioeconômicos, religiosos e educacionais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.). Esse movimento de resgate é imprescindível no processo de análise e interpretação, pois, de acordo com Volóchinov (2017VOLÓCHINOV, Valentin. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017., p. 220), é necessário considerar “o estudo do elo entre a interação concreta e a situação extraverbal mais próxima e, por meio desta, a situação mais ampla”.

A esse respeito, cabe destacar que dada cosmovisão não pode ser considerada de modo particular, pois associa-se a uma posição compartilhada por determinados grupos/períodos históricos. Leandro Quadros é um sujeito que enuncia sobre aspectos relacionados à pessoa com deficiência de um ponto de vista exterior a essa condição humana, e cujo discurso pertence a um tempo e espaço específicos que dialogam com outros posicionamentos acerca da deficiência.

Nesse sentido, quando pensamos em questões referentes à deficiência, compreendemos que em diferentes períodos e grupos, tal assunto foi compreendido e valorado levando-se em conta diversas cosmovisões que se desenvolveram ao longo da história. Também vale lembrar que a deficiência só passa a ser motivo de preocupação a partir do surgimento das primeiras organizações sociais e políticas que assumem poder sobre a vida dos sujeitos, pois, durante muitos milênios até o surgimento das primeiras civilizações, acreditava-se que as pessoas com deficiência teriam vivido de modo semelhante às demais pessoas (Santiago, 2011SANTIAGO, Sandra Alves da Silva. A história da exclusão das pessoas com deficiência: aspectos socioeconômicos, religiosos e educacionais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.).

Sendo assim, a resposta de Quadros se encerra retomando a ideia de conforto/consolo trazida por Tito na contextualização da pergunta, fazendo referência à volta de Cristo (“Deus, na volta de Cristo, vai tirar as consequências do pecado. Confie nisso, alimente essa esperança, porque a volta de Cristo é a solução pra todos os nossos problemas”). Desse modo, a deficiência é refratada como um problema a ser solucionado, recuperando duas cosmovisões: a primeira, associada a um entendimento comum da deficiência sob o paradigma médico-clínico; e a segunda, orientada pela perspectiva religiosa, que encara a solução do problema não sob a perspectiva humana, terrestre, mas em uma dimensão transcendental.

Diante dessas valorações evocadas no discurso de Tito e Leandro, temos como uma das respostas dos internautas/usuários o comentário a seguir, disponível na plataforma YouTube:

Embora o enunciador Leandro recorra a diferentes passagens do texto bíblico, a fim de corroborar sua cosmovisão acerca da deficiência como resultado da iniquidade (Salmo 51,5; Isaías 35,8; I Coríntios 15,51-55), é possível visualizar um enfrentamento diante da posição dos apresentadores no que diz respeito à temática a partir do comentário da internauta. Em seu discurso, a enunciadora - mãe de Daniel e Samira, filhos com deficiência física, e de outros dois filhos - instaura um posicionamento axiológico de negação, uma vez que se contrapõe ao ponto de vista elucidado por Leandro e Tito por meio de enunciados que, inaugurados com a negativa “Não concordo”, tentam se afastar dessas vozes dominantes, gerando descentralização.

Na sequência, após demonstrar discordância à fala dos apresentadores, a internauta se identifica como pertencente ao mesmo segmento religioso, “Sou cristã”, cujo pertencimento vai sendo reafirmado à medida que relata suas experiências religiosas, o que sugere aproximação entre sua vida cotidiana e a fé que diz professar: “Deus disse para mim”, “Por vezes questionei Deus”, “eu conheci verdadeiramente um Deus”, “Deus não me ‘castigou’” e “eu acredito firmemente que muitas coisas não são vontade de Deus”. É interessante notar que, ao contrariar o ponto de vista do apresentador, indicando um posicionamento axiológico de negação, fica evidente um movimento de descentralização do discurso religioso acerca da deficiência, revelando o quão heterogêneas podem ser as manifestações da cosmovisão dentro de um mesmo segmento religioso. Agrega-se a isso o fato de que o discurso da mãe, que não pode ser apreendido de maneira isolada, parece ressoar também a cosmovisão de outras mães/familiares de pessoas com deficiência, que, a partir do convívio com seus entes e de outras experiências, assumem valorações divergentes sobre tal condição humana, reacentuando o entendimento da deficiência enquanto consequência do pecado.

Há um embate entre os discursos dos apresentadores e o comentário da internauta, que cotidianamente convive com um filho e uma filha com deficiência física congênita. Nesse embate, é possível percebermos movimentos essencialmente de dispersão entre as vozes evidenciadas em tais discursos, apesar de haver momentos em que o enunciado da mãe parece conservar aspectos da cosmovisão partilhada por Tito e Leandro. Um desses momentos, em que tais vozes parecem se alinhar em uma direção de centralização, diz respeito à fala da mãe em “era a única maneira de Deus chamar minha atenção”, quando reflete sobre a condição da deficiência de seus filhos. Tal percepção da mãe aparece imbricada em uma relação de causalidade marcada pelo signo “pois”, seguido do enunciado “o meu coração era de pedra, eu fazia parte de seitas que não pregavam Jesus, levava a minha vida de forma errada”, o que evoca a cosmovisão sinalizada nos discursos de Tito e Leandro referente à deficiência como consequência hereditária do pecado.

Essa incidência da força centrípeta no enunciado é evidenciada não apenas na aproximação da compreensão da deficiência como resultado de práticas consideradas pecaminosas, mas também na ideia de que qualquer ensinamento fora dos preceitos apregoados por Jesus afastaria as pessoas da vontade de Deus, podendo ser compreendido como “seita”. Como nos lembra Naugle (2017)NAUGLE, David Keith. Cosmovisão: a história de um conceito. Apresentação de Arthur Holmes. Tradução Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2017., ao recuperar as reflexões de Orr sob a ótica cristã, crer em Jesus Cristo implicaria comprometer-se com as diversas doutrinas que constituem essa cosmovisão, entre elas a ideia de que Cristo seria a única forma de religar o homem a Deus (Grudem, 2012 [1999]GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática (1999). Tradução Norio Yamakami, Lucy Yamakami, Luiz A. T. Sayão, Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Vida Nova, 2012.). Ou seja, outros ensinamentos, que não sejam advindos de Jesus, em última instância, resultariam em desvio de conduta. Logo, aqueles que não observam as Escrituras seriam merecedores de punição, já que viveriam a “vida de forma errada”, o que para a internauta possivelmente justificou o nascimento dos seus filhos com deficiência.

Por outro lado, na medida em que a internauta direciona seu discurso para uma possível unificação com os enunciados dos apresentadores do programa, podemos perceber, em outro fragmento, a incidência de forças centrífugas no que diz respeito à temática do castigo/punição, em face ao embate discursivo que atravessa as cosmovisões engendradas. Ao proferir “Deus não me ‘castigou’ com eles, mas sim me salvou”, a mãe de Daniel e Samira reacentua o signo “castigo” atribuído à deficiência, dando-lhes novos contornos com tom valorativo de salvação. Em outras palavras, a perspectiva de deficiência como castigo/punição divina, proeminente sobretudo como reflexo de uma cosmovisão comum ao Medievo, sofre refrações diametralmente opostas, assumindo valoração salvífica do ponto de vista da enunciadora, provocando um movimento de desestabilização desses discursos. Nota-se também que esse enunciado mostra, de forma mais evidente, uma objeção direta ao discurso de Tito e Leandro, visto que o signo “castigou” aparece entre aspas, a fim de sinalizar a recuperação que a mãe faz dos discursos dos referidos apresentadores.

Outro aspecto no enunciado da internauta, em que podemos perceber tensões entre as forças centrípetas e centrífugas, refere-se ao trecho “Quando veio o Daniel, minha única saída foi Deus, pois os médicos dizem que a criança não vai poder fazer isso ou aquilo”. Há nesse enunciado um movimento de aproximação, novamente, dos discursos dos apresentadores, quando a mãe constrói a ideia de Deus como último recurso capaz de resolver o seu dilema (“minha única saída foi Deus”), isto é, o nascimento do seu filho com deficiência (“Quando veio o Daniel”). A partir dessa materialidade discursiva, evoca-se a percepção da deficiência enquanto problema, ou seja, algo que precisa ser sanado, tratado e/ou recuperado, conforme o paradigma médico-clínico, em que a ênfase de tal condição é atribuída aos aspectos biológicos do sujeito com deficiência, sem quaisquer mudanças significativas do meio social para sua inclusão (Costa, 2018COSTA, Dennis Souza da. Representações docentes sobre o ensino de línguas estrangeiras para alunos com deficiência visual: ressonâncias de um métier. 2018. 204f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018.).

No trecho final do discurso da mãe, em “(...) eu acredito firmemente que muitas coisas não são vontade de Deus, mas sim permissão dele para nos amadurecer espiritual e mentalmente”, encontramos também valorações da deficiência atreladas a doutrinas que constituem a cosmovisão cristã. Do ponto de vista axiológico da internauta, a deficiência é refratada como algo que constitui ou não a vontade/permissão de Deus, uma doutrina cara aos pressupostos que sustentam tal cosmovisão (Erickson, 2013ERICKSON, Millard. Christian Theology. 3. ed. Michigan: Baker Academic, 2013.; Grudem, 2012 [1999]GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática (1999). Tradução Norio Yamakami, Lucy Yamakami, Luiz A. T. Sayão, Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Vida Nova, 2012.).

Ao valorar a condição de deficiência de seus filhos como uma estratégia de Deus para amadurecê-la “espiritual e mentalmente”, ou seja, prepará-la na fé cristã, visando a sua possível redenção, vê-se no enunciado da mãe um esvaziamento da subjetividade da pessoa com deficiência, de seus valores, princípios e fé, mediante a refração de uma providência divina em que tal sujeito se apresenta despido de alma e de sua existência. Esse posicionamento axiológico assumido pela internauta evoca a noção de cuidado providencial de Deus, uma das doutrinas que fundamentam a cosmovisão cristã, em que todos os eventos da existência humana partiriam dele (Grudem, 2012 [1999]GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática (1999). Tradução Norio Yamakami, Lucy Yamakami, Luiz A. T. Sayão, Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Vida Nova, 2012.).

Considerações finais

A questão da deficiência, ao longo da história, tem sido compreendida a partir de diversas cosmovisões imbricadas nas formas como a pessoa com deficiência foi sendo discursivizada em diferentes culturas e épocas. Quando se trata de discursos que se manifestam na esfera religiosa a situação não é diferente, como pudemos perceber na investigação empreendida das forças centrípetas e centrífugas em enunciados do segmento cristão evangélico que abordam a temática da deficiência.

As relações dialógicas travadas pelos apresentadores, Tito e Leandro, a partir de discursos que circulam na esfera religiosa, manifestam uma cosmovisão cristã que tende a unificar a compreensão da deficiência como consequência da condenação motivada por algum pecado hereditário. Para tanto, os enunciadores se apropriam de uma palavra autoritária, materializada em diversos discursos bíblicos que supostamente justificariam tal visão, ignorando tensões que desestabilizam esses próprios enunciados.

No que tange ao comentário da internauta, são evidenciadas diferentes valorações sobre questões relativas à deficiência a partir de um processo ininterrupto de sucessivas aproximações e distanciamentos em face aos enunciados dos apresentadores sobre tal condição. De igual modo, é perceptível que essas diversas valorações, no comentário da mãe, surgem como resposta a uma gama de formas de tratar e conceber as pessoas com deficiência que atravessaram a sociedade ao longo do tempo. Em seus enunciados, encontram-se cristalizadas valorações que se configuram como um contradiscurso, uma outra cosmovisão acerca do tema, pondo em evidência, sobretudo, o entendimento da deficiência como uma providência divina, assim como uma reacentuação da ideia de castigo.

Nesse sentido, a análise revela a atuação de dois movimentos opostos através de um embate de vozes: um que busca estabilizar/unificar, e outro que busca desestabilizar/dispersar certa cosmovisão referente à deficiência no discurso religioso. Enquanto a força centrípeta naturaliza uma visão problemática acerca da temática, refratando a pessoa com deficiência destituída da sua singularidade e subjetividade, a força centrífuga desmantela tal homogeneidade, trazendo um acento diferente e evidenciando uma cosmovisão diversa sobre o assunto.

Por fim, acreditamos que, para ressignificar a situação das pessoas com deficiência, faz-se necessário combater toda forma de discriminação que se efetua nas mais variadas esferas da atividade humana, inclusive no campo religioso. Somente assim será possível dirimir práticas hostis e segregadoras que colocam esses sujeitos em desvantagem social.

  • 1
    O termo capacitismo tem sido utilizado para nomear atitudes discriminatórias em razão da deficiência tanto na literatura internacional quanto nacional (Goodley, 2011GOODLEY, Dan. Disability Studies: An Interdisciplinary Introduction. London: SAGE Publications Ltd., 2011., 2021GOODLEY, Dan. Disability and Other Human Questions. Emerald Publishing Limited, 2021.; Mello, 2014MELLO, Anahí Guedes de. Gênero, deficiência, cuidado e capacitismo: uma análise antropológica de experiências, narrativas e observações sobre violências contra mulheres com deficiência. 2014. 260f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014.; Gesser, 2020GESSER, Marivete. Por uma educação anticapacitista: contribuições dos estudos sobre deficiência para a promoção de processos educativos inclusivos na escola. In: OLTRAMARI, Leandro Castro; GESSER, Marivete; FEITOSA, Ligia Rocha Cavalcante (orgs.). Psicologia escolar e educacional: processos educacionais e debates contemporâneos. Florianópolis: Editora do Bosque, 2020. p. 93-113.).
  • 2
    Tal fato ainda é uma realidade em pleno século XXI, por exemplo, em algumas aldeias indígenas no Brasil, como ressalta Martins (2015)MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. História da educação de pessoas com deficiência: da Antiguidade ao início do século XXI. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015..
  • 3
    A Lei das XII Tábuas representou uma rica fonte de conhecimento para o direito romano, por um período de aproximadamente mil anos, e ainda hoje exerce grande influência na elaboração das legislações modernas (Meira, 2021MEIRA, Silvio. A Lei das XII Tábuas: fonte do Direito Público e Privado. 6. ed. São Paulo: Editora Madamu, 2021.).
  • 4
    É importante mencionar que, embora este corpus apresente uma dimensão verbo-visual e seja notável a importância de trabalhos que considerem tais semioses em suas análises (Brait, 2009BRAIT, Beth. A palavra mandioca do verbal ao verbo-visual. Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso. São Paulo, v. 1, n. 1, p. 142-160, 2009. Disponível em:https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/3004/1935. Acesso em: 20 jan. 2024.
    https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
    , 2010BRAIT, Beth. Tramas verbo-visuais da linguagem. In: BRAIT, Beth. Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010. p. 193-228., 2013BRAIT, Beth. Looking and Reading: Verbal-Visuality from a Dialogical Perspective. Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso. São Paulo, v. 8, n. 2, pp. 42-64, 2013. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568/12910. Acesso em: 20 jan. 2024.
    https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
    ), operamos, neste estudo, um recorte explorando a dimensão verbal, por se tratar de uma produção oral que, após o processo de transcrição, apresentou aspectos pertinentes em sua materialidade linguística diante do objetivo proposto. Nesse sentido, não é nosso intento empreender discussões sobre elementos visuais, tais quais: gestos, expressões faciais, ângulos de filmagem, entre outros, que compõem o todo enunciativo. Entendemos que a análise que ora apresentamos se configura como uma dentre diferentes possibilidades de leitura do nosso corpus, de modo que a ênfase no aspecto verbal também nos permite construir sentidos valiosos sobre a atuação de forças (des)centralizadoras reverberadas nos discursos dos sujeitos enunciadores ao refratarem, de um ponto de vista religioso, cosmovisões acerca da deficiência. Tal decisão teórico-metodológica, a nosso ver, mostra-se tão legítima quanto o percurso traçado em outros trabalhos como Assumpção et al. (2023)ASSUMPÇÃO, Georgia de Souza; SANTOS, Carolina Maia dos; ANDRADE, Raquel Figueira Lopes Cançado; HENRIQUES, Mayara Vieira; CASSTRO, Alexandre de Carvalho. Productive Organizations: The Human-Computer Interaction in Black Mirror. Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso. São Paulo, v. 18, n. 4, out./dez., 2023. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/61969/43495. Acesso em: 08 fev. 2024.
    https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
    , Josiowicz e Deusdará (2022), Azzari, Amarante e Andrade (2019)AZZARI, Eliane Fernandes; AMARANTE, Maria de Fátima Silva; ANDRADE, Eliane Righi de. “It’s True This Notte”: Dialogic Relations and/in Discourse in the Cyberspace. Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso. São Paulo, v. 15, n. 1, jan./mar., 2019. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/41595/30204. Acesso em: 08 fev. 2024.
    https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
    - que, mesmo diante de uma materialidade verbo-visual, não mobilizam, em sua discussão, aspectos que explorem orientações metodológicas e conceituais acerca da verbo-visualidade, operando recortes com ênfase na dimensão verbal, sem comprometer o plano expressivo e a produção de sentido de seus corpora.
  • 5
  • 6
    Como formação complementar, Leandro também possui especialização concluída em Jornalismo Científico (2008-2010) pela UNIVAP e duas especializações em andamento em Psicologia Positiva e Coaching, e Marketing Digital e Vendas, ambas pelo Centro Universitário União das Américas Descomplica, Uniamérica. Acesso em: 26 ago. 2023.
  • 7
    Ao longo do processo de avaliação realizado pela comissão editorial da revista, mais especificamente no dia 29/02/2024, constatou-se que o link do vídeo indicado na nota de rodapé 7 estava indisponível após encerramento da conta de usuário. No entanto, é possível localizar o vídeo com seu conteúdo preservado, em outro canal, sob o título “Por que existem crianças que nascem com deficiência física ou mental 360p H 264 AAC)” através do link: https://www.youtube.com/watch?v=owWYwTLne6g. Acesso em 29 de fevereiro de 2024.
  • 8
    Contabilizadas no dia 26 de agosto de 2023.
  • 9
    Com vistas a resguardar a identidade da internauta, por observância a questões de ética envolvendo o fazer científico.
  • 10
    Alguns deles: Por que Deus permite que algumas crianças nascem com deficiência? Prof. Leandro Quadros; Por que Deus EXCLUIU os DEFICIENTES em levítico? É PRECONCEITO dEle? - Leandro Quadros; A BÍBLIA RESPONDE - Como Deus julgará um deficiente mental?. https://www.youtube.com/watch?v=RDD6gv_XepQ&t=107s Acesso em: 26 ago. 2023.
  • 11
    Alguns comentários apresentavam extensão curta, com poucos subsídios para a análise.
  • 12
    É pertinente frisar que as marcas linguísticas são povoadas de sentido sociais, históricos e ideológicos. Elas podem estar presentes em escolhas sintáticas, semânticas e lexicais, oferecendo ao analista pistas que auxiliam na compreensão de sentidos velados no processo de análise e interpretação. Mergulhadas em relações dialógicas, bem como em um jogo tenso entre unificação e descentralização, as formas da língua são mobilizadas em diferentes discursos, a partir de diferentes vozes dentro do todo enunciativo.
  • 13
    Uma discussão detalhada sobre a doutrina do pecado na perspectiva cristã pode ser encontrada em Erickson (2013)ERICKSON, Millard. Christian Theology. 3. ed. Michigan: Baker Academic, 2013., mais precisamente na parte VI de sua obra.
  • 14
    Sua resposta não se dirige apenas ao/à telespectador/a que realiza a pergunta, mas também se encaminha ao seu auditório social: fiéis e demais telespectadores.
  • 15
    Lv. 21,18-20.
  • 16
    A Bíblia é uma voz de autoridade (considerada tradicionalmente como materialização da palavra de Deus) e, apesar de ser um texto que, em muitas situações, não pode ser considerado em sua literalidade e nem fora de contexto, encarna os sentidos mais estáveis no campo religioso. A apropriação da voz de Deus, nessa esfera, vem sendo estudada considerando-se formas de transmissão do discurso de outrem. Uma discussão voltada ao tema pode ser encontrada em Silva (2017)SILVA, Elias Coelho da. Hierofania discursiva: a objetivação do sagrado. In: COSTA, Julia Cristina de Lima; FRANCELINO, Pedro Farias (orgs.). Linguagem, discurso e religião: diálogos e interfaces. São Carlos: Pedro & João Editores, 2017. p. 67-81..
  • Pareceres

    Tendo em vista o compromisso assumido por Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso com a Ciência Aberta, a revista publica somente os pareceres autorizados por todas as partes envolvidas

Declaração de disponibilidade de conteúdo

Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito

REFERÊNCIAS

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  • WORLD HEALTH ORGANIZATION; THE WORLD BANK. World Report on Disability, 2011.

Parecer I

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer I

O texto apresenta clareza, organização, embasamento e coerência interna, temática e de proposição. A contribuição é importante para diferentes áreas do conhecimento e gera um espaço importante para a análise dialógica do discurso. APROVADO

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    28 Set 2023

Parecer II

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer II

O artigo em tela trata, de forma bem fundamentada, da “atuação de forças centrípetas e centrífugas no discurso religioso sobre a pessoa com deficiência”. O texto está bem escrito, bem fundamentado teoricamente e as análises vão ao encontro do que se espera de um trabalho que se propõe a ser bakhtiniano. Chamo atenção, apenas, para questões de ordem metodológica. Como o(s) autor(es) assume(m) a perspectiva dialógica de linguagem e incorrem sobre discursos como objeto de análise, sugiro rever as expressões “dados” e “análise de dados” que não correspondem, do ponto de vista metodológico, à perspectiva bakhtiniana, uma vez que nada é "dado", tudo é construído pelas relações dialógicas entre o(s) pesquisador(es) e seu(s) objeto(s). Um outro ponto foi a escolha de “apagar” elementos de hesitação dos enunciados orais, como se somente verbal significasse na análise. Diante dessa higienização do corpus, pode-se dizer que a análise teria sido mais próximo de uma análise do conteúdo? As formas não possuem efeito de sentido para a produção do discurso? Ao apagar hesitações, estão interferindo (embora inevitavelmente já estejam porque partem de uma transposição do oral para o escrito) em marcadores que também revelam, nesta perspectiva, posições e valores. Para Bakhtin o extralinguístico é primordial, às vezes até mais importante que o próprio linguístico (vide o texto “Os gêneros do discurso”). Somado a isso, fica o questionamento sobre qual foi o modelo de transcrição adotado para transpor os enunciados orais para o escrito, além de não ficar claro o “apagamento” de elementos dos enunciados dos apresentadores e o não apagamento de elementos do enunciado da telespectadora. Diante disso, recomendo que esses pontos sejam revistos para que o artigo seja publicado. No mais, o artigo apresenta grandes contribuições para os estudos do discurso de linha bakhtiniana, bem como para discussões acerca da deficiência e da religião. CORREÇÕES OBRIGATÓRIAS [Revisado]

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    07 Dez 2023

Parecer IV

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer IV

O(s) autor(es) fizeram as adequações sugeridas, o que permitiu maior alinhamento com a base teórica anunciada. Recomendo aprovação. APROVADO

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    16 Jan 2024

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2024

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2023
  • Aceito
    29 Fev 2024
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