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Plano de amostragem presença-ausência para Selenaspidus articulatus (Morg.) (Homoptera: Diaspididae) na cultura da laranja

Presence-absence sampling plan for Selenaspidus articulatus (Morg.) (Homoptera: Diaspididae) on citrus

Resumos

Estudou-se a confiabilidade do uso da amostragem binomial (presença-ausência) para Selenaspidus articulatus (Morg.) na cultura da laranja, tendo-se como unidade amostral a folha. A distribuição espacial da cochonilha foi agregada, pois os coeficientes da lei da potência de Taylor foram b = 1,636 e a = 5,772. A análise de regressão entre a proporção de folhas infestadas estimadas por modelo matemático, e a proporção de folhas infestadas observadas no campo, resultou num alto coeficiente de determinação, explicando em 85,4% a variação do modelo. O número de unidades amostrais (folhas) requeridas, em função da densidade de infestação, foi pequeno, permitindo o uso prático deste método de monitoramento de S. articulatus na citricultura.

Insecta; amostragem binomial; manejo de pragas


The efficiency of a binomial sampling (presence-absence) technique for Selenaspidus articulatus (Morg.) in citrus orchards was evaluated. The spatial distribution of scales was aggregated, according to Taylor's law power coefficients (b = 1,636; a = 5,772). Regression analysis between the estimated proportion of infected leaves, resulted in a high determination coefficient, explaining 85,4% of the model. The number of sample unities (leaves) required to estimate infestation density was low, allowing practical application of this metodology to monitor S. articulatus populations.

Insecta; binomial sampling; insect pest management


Plano de amostragem presença-ausência para Selenaspidus articulatus (Morg.) (Homoptera: Diaspididae) na cultura da laranja

Presence-absence sampling plan for Selenaspidus articulatus (Morg.) (Homoptera: Diaspididae) on citrus

Julio C. PerrusoI; Paulo C. R. CassinoII

ICIMP-DBV-IB, UFRRJ, Antiga Rodovia Rio-São Paulo, km 47, 23851-970,Seropédica-RJ

IIInstituto de Biologia - DBV, Área de Entomologia, UFRRJ, Antiga Rodovia Rio-São Paulo, km 47, 23851-970, Seropédica, RJ

RESUMO

Estudou-se a confiabilidade do uso da amostragem binomial (presença-ausência) para Selenaspidus articulatus (Morg.) na cultura da laranja, tendo-se como unidade amostral a folha. A distribuição espacial da cochonilha foi agregada, pois os coeficientes da lei da potência de Taylor foram b = 1,636 e a = 5,772. A análise de regressão entre a proporção de folhas infestadas estimadas por modelo matemático, e a proporção de folhas infestadas observadas no campo, resultou num alto coeficiente de determinação, explicando em 85,4% a variação do modelo. O número de unidades amostrais (folhas) requeridas, em função da densidade de infestação, foi pequeno, permitindo o uso prático deste método de monitoramento de S. articulatus na citricultura.

Palavras-chave: Insecta, amostragem binomial, manejo de pragas.

ABSTRACT

The efficiency of a binomial sampling (presence-absence) technique for Selenaspidus articulatus (Morg.) in citrus orchards was evaluated. The spatial distribution of scales was aggregated, according to Taylor's law power coefficients (b = 1,636; a = 5,772). Regression analysis between the estimated proportion of infected leaves, resulted in a high determination coefficient, explaining 85,4% of the model. The number of sample unities (leaves) required to estimate infestation density was low, allowing practical application of this metodology to monitor S. articulatus populations.

Key words: Insecta, binomial sampling, insect pest management.

Selenaspidus articulatus (Morgan) é um diaspidídeo que adaptou-se bem às condições brasileiras, após o seu primeiro registro no Brasil no Pará (Silva et al. 1968). O uso indiscriminado de agrotóxicos pode contribuir para a destruição dos inimigos naturais deste homóptero, com consequente proliferação da praga (Pinto et al. 1985, Gravena et al. 1988).

Uma das maiores dificuldades na implantação de programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a ineficácia dos métodos de monitoramento. Zalom et al. (1984) afirmam que a contagem de organismos pequenos e abundantes demanda excesso de tempo, e ainda pode resultar numa estimativa imprecisa da população. Wilson & Room (1983) sugerem que uma alternativa para o problema é a amostragem presença-ausência (binomial), a qual promove ganho de tempo. Conforme Wilson et al. (1984) a compreensão quantitativa do padrão de agregação de artrópodos, particularmente baseada em dados de proporção de infestação e densidade populacional, tem provado ser extremamente útil para programas de monitoramento de várias culturas. Por isso, justifica-se a busca de métodos de amostragem binomial, para insetos de importância agrícola, como o é a cochonilha em questão, contribuindo-se para a consolidação do MIP em citros.

Material e Métodos

O estudo foi conduzido em pomar com 100 laranjeiras da cv. Folha Murcha, no Campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. As plantas tinham 19 anos de idade, espaçadas em 6 X 4 m. Selecionou-se cinco plantas, através de uma pré-casualização,em cada levantamento, e examinou-se 40 folhas /planta em quatro ramos opostos (10 folhas/ramo), de acordo com metodologia adaptada de Perruso (1994). Cada folha (unidade amostral) foi avaliada anotando-se o número de indivíduos de S. articulatus vivos (de todos os ínstares), com auxílio de lupa de 10 X de aumento. Os ramos para avaliação estavam localizados entre 1,30 e 1,70 m acima do solo, alternando-se ramos internos com ramos externos em cada copa cítrica. As 10 folhas analisadas em cada ramo foram tomadas do ápice do ramo para a base. Portanto, 200 folhas foram observadas em cada levantamento. O estudo teve início em novembro de 1992 e término em outubro de 1993, realizando-se 24 amostragens no total.

Para avaliar a distribuição espacial de S. articulatus no pomar, visando-se à amostragem binomial (presença-ausência), calculou-se a variância e a média em cada data de amostragem. De posse desses dados, utilizou-se a lei da potência de Taylor (Taylor 1961, Wilson et al. 1983b, Ribeiro et al. 1990), que descreve a relação entre a variância e a média das densidades populacionais obtidas. Os coeficientes a e b da lei da potência (S2 = a.Xb), foram estimados pela análise de regressão dos dados da média e variância, transformados em logaritmo neperiano: ln (S2) = ln(a) + b.ln(X); onde a é um fator de amostragem, e b um índice de agregação da espécie. O passo seguinte foi a descrição da relação entre a proporção de folhas infestadas com pelo menos uma cochonilha, e o número médio de cochonilhas por folha. Para isso utilizou-se o modelo matemático de Wilson & Room (1983): P(I) = 1 - e-X. [ln(a.X(1-b) )] . [a.X(1-b) -1] -1 ; onde P(I) é a proporção de folhas infestadas com a cochonilha, X é o número médio de cochonilhas por folha, e a e b são os coeficientes de Taylor. Em seguida a curva prevista pelo modelo matemático, foi avaliada através da análise de regressão entre a proporção de folhas infestadas estimada, e a proporção de folhas infestadas observada no campo (Wilson et al. 1983a, Pickett & Gilstrap 1986). Por fim, determinou-se o número de amostras requeridas em função da densidade média, com um nível de precisão D = 0,1 e 0,2 e a = 0,2 , de acordo com a equação n = t2a/2 . D-2 . q . p-1 (Ribeiro et al. 1990); onde D é uma proporção fixa de p, p é a proporção de folhas infestadas com a cochonilha, e q = 1 - p .

Resultados e Discussão

O valor de b = 1.636 (Fig. 1), foi significativamente > 1, pelo teste t (Silveira Neto et al. 1976). O valor de a = 5.772 (anti ln 1.753) foi considerado elevado. Ambos coeficientes, desta forma, de acordo com Zalom et al. (1985) e Wilson (1985), indicaram que a distribuição espacial de S. articulatus foi agregada.


Os pontos de P(I) na curva (Fig. 2), estimados pelo modelo de Wilson & Room (1983), foram obtidos com base no número médio de cochonilhas por folha e a relação variância/média. Os valores de P(I) corroboram o comportamento de agregação de S. articulatus, pois verifica-se que estes crescem conforme eleva-se a densidade de cochonilhas por folha. Este padrão de distribuição agregado permite a utilização alternativa da amostragem binomial, na qual estima-se a densidade populacional do inseto, através da simples observação de sua presença/ausência.


Um aspecto interessante é que as proporções de folhas infestadas observadas no campo (pontos fora da curva, Fig. 2), localizaram-se sempre acima da curva formada pelas P(I) calculadas pelo modelo. Ou seja, os dados observados no campo foram subestimados pelo modelo matemático. Contudo ao testar-se o ajuste do modelo, pela análise de regressão entre a proporção de folhas infestadas estimadas e observadas (Fig. 3), constatou-se um alto coeficiente de correlação, explicando em 85.4% a variação do modelo.


O número de unidades amostrais (folhas) requeridas em função da densidade média foliar de S. articulatus, com nível de precisão D (0.1 e 0.2) e a= 0.2 (ta/2 = 1.282),em baixas densidades, foi elevado (Fig. 4). Porém, conforme o número de cochonilhas por folha aumente, o tamanho da amostra tendeu a estabilizar-se. A amostragem com D = 0.1, resultou em tamanhos de amostra elevados, sendo inviável a sua aplicabilidade prática. Porém com D = 0.2 houve uma queda substancial no número de unidades amostrais necessárias, sem perda significativa de eficácia, permitindo a utilização do método a nível de campo, com ganho de tempo, pois não é necessária a contagem do número de indivíduos por folha.


Na curva com D = 0.2, notou-se ainda que a partir de 2.65 cochonilhas por folha, o número de folhas necessário a ser amostrado tornou-se pequeno (200 folhas). Gravena (1990) sugere como nível de ação para controle de S. articulatus, a densidade de 20 indivíduos por folha e, portanto, esta metodologia tem possibilidades amplas de utilização também com esta finalidade. Acrescente-se a isso que gastando-se apenas 60 minutos para avaliar as 200 folhas a campo, pode-se implantar um sistema de monitoramento em áreas extensas, dividindo-as em talhões de 100 plantas, como o realizado. Não há necessidade de se reduzir o número de amostras (folhas), porque também a confiabilidade atingida seria menor. Quanto ao intervalo de tempo entre as amostragens pode-se manter a que foi realizada (quinzenal), já que o inseto tem um ciclo de ovo a adulto de 30 dias para machos e 45 dias para fêmeas (Beingolea 1969). Em regiões cujo clima favorece o encurtamento do ciclo biológico, este intervalo entre amostragens deve ser revisto.

No período de realização das amostragens, não se observou fatores de mortalidade que possam ter influenciado de forma isolada no padrão de agregação de S. articulatus, como alta densidade de predadores, ou grande percentual de parasitismo (Wilson et al. 1984). Portanto, o padrão de distribuição do inseto em outras regiões, pode apresentar variações de tal forma que isto deve ser verificado, evitando-se extrapolações errôneas.

Literatura Citada

Recebido em 20/09/96. Aceito em 11/07/97.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Out 2006
  • Data do Fascículo
    Ago 1997

Histórico

  • Aceito
    11 Jul 1997
  • Recebido
    20 Set 1996
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