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A CONSTRUÇÃO SOCIORRETÓRICA DA SEÇÃO DE INTRODUÇÃO EM ARTIGOS ACADÊMICOS DA CULTURA DISCIPLINAR DA ÁREA DE HISTÓRIA

RESUMO

Este estudo tem como objetivo descrever como a área de História produz e compreende a seção de Introdução de artigos acadêmicos. Para tanto, apoiamo-nos em estudos de Swales (1990), no que se refere à sua concepção de gêneros e à sua proposta metodológica CARS (Create a Research Space). No que tange ao estudo sobre cultura disciplinar, contamos com as contribuições teóricas de Hyland (2000, 2009) e Bhatia (2004). Nossa pesquisa, de natureza exploratório-descritiva, apresenta um corpus de trinta artigos acadêmicos, distribuídos em quatro periódicos da área de História, com estratificação A1 conforme WebQualis Capes, vigência 2013-2016. De acordo com a investigação, percebemos que a Introdução de artigos acadêmicos da área em estudo se configura como uma seção extensa na qual os autores apresentam a contextualização do objeto de análise, a exposição de pesquisas prévias, a indicação dos objetivos do estudo e a apresentação dos aspectos metodológicos que viabilizaram a realização da pesquisa.

Análise sociorretórica; Cultura disciplinar; Área de História; Artigo Acadêmico; Seção de Introdução

ABSTRACT

This study aims to describe how the History area produces and understands the Introduction section of academic articles. For this, we rely on studies by Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., regarding his conception of genres and his methodological proposal CARS (Create a Research Space). Regarding the study of disciplinary culture, we have the theoretical contributions of Hyland (2000HYLAND, K. Disciplinary discourse: social interactions in academic writing. Singapura: Pearson, 2000., 2009HYLAND, K. Academic discourse: English in a global context. London: Continuum, 2009.) and Bhatia (2004)BHATIA, V. K. Worlds of written discourse: a genre-based view. London: Continuum, 2004.. Our research, of an exploratory-descriptive nature, presents a corpus of thirty academic articles, distributed in four journals in the History area, with stratification A1 according to WebQualis Capes, valid for 2013-2016. According to the investigation, we noticed that the Introduction of academic articles in the area under study is configured as an extensive section in which the authors present the context of the object of analysis, the exposure of previous research, the indication of the objectives of the study and the presentation of methodological aspects that made the research feasible.

Socio-Rhetorical analysis; Disciplinary culture; History Area; Academic article; Introduction section

Introdução

Pesquisas em torno dos gêneros acadêmicos em contextos disciplinares particulares vêm ganhando destaque nos últimos anos no Brasil. No escopo dos gêneros pertencentes ao universo acadêmico, o artigo recebe destaque entre as produções científicas. Isso se deve ao fato de que o artigo acadêmico, conforme aponta Hyland (2009)HYLAND, K. Academic discourse: English in a global context. London: Continuum, 2009., é considerado o gênero de maior status no que se refere à divulgação do saber científico, haja vista ser ele o meio principal de veiculação de informação e de resultados de pesquisas. Além disso, é importante ressaltar que os órgãos de fomento exigem dos programas de pós-graduação um consistente fluxo de publicações de artigos acadêmicos.

Considerando a relevância do gênero artigo para a manutenção e credibilidade de comunidades acadêmicas, muitas pesquisas têm-se debruçado sobre o estudo do referido gênero. Desse modo, Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., a partir da descrição da configuração retórica da seção de Introdução de artigos acadêmicos, propõe o percurso metodológico CARS (Create a Research Space) que possibilitou o estudo dos mais variados gêneros nas diversas esferas discursivas.

Aqui no Brasil, muitos pesquisadores se fundamentam na perspectiva retórica de análise de gêneros de Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. a fim de investigar os diversos gêneros que permeiam a academia. Dentre algumas investigações, podemos citar os trabalhos de Motta-Roth (1995)MOTTA-ROTH, D. Rhetorical features and disciplinary cultures: a genre-based study of academic book reviews in linguistics, chemistry and economics.1995. 358 f. Tese (Doutorado em Letras) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1995. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/157910/102608.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 07 abr. 2021.
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que analisa o gênero resenha acadêmica nas áreas de Linguística, Economia e Química; de Biasi-Rodrigues (1998)BIASI-RODRIGUES, B. Estratégias de condução de informações em resumos de dissertações. 1998. 307 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998. v. 1. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/77763. Acesso em: 07 nov. 2018.
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que descreve o gênero resumo em Dissertações; de Bezerra (2002)BEZERRA, B. G. A organização retórica de resenhas acadêmicas. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 1, p. 37-68, jul./dez. 2002. que investiga o gênero resenha na área de Teologia; de Silva (2015)SILVA, C. R. B. Movimentos retóricos da seção de justificativa de projetos de pesquisa da área de história. Revista Ininga, Teresina, v. 2, n. 1, p. 33-53, jan./jun. 2015. Disponível em: http://www.ojs.ufpi.br/index.php/ininga/article/view/5954/3605. Acesso em: 12 abr. 2021.
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que analisa a seção de justificativa em projetos de pesquisa da área de História; de Andrade e Mesquita (2016)ANDRADE, V.; MESQUITA, E. A introdução do relatório de estágio supervisionado: uma análise retórica. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 10, n. 1, p. 68-88, mar. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.14393/DL21-v10n1a2016-4. Acesso em: 12 abr. 2021.
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que identificam a organização retórica da seção de Introdução do gênero relatório de estágio supervisionado, produzido por alunos dos cursos de Letras e de Agronomia, entre outros estudos.

No tocante ao gênero artigo, em âmbito internacional, destacamos os trabalhos de Nwogu (1997)NWOGU, K. N. The Medical research paper: structure and functions. English for Specific Purposes, New York, v. 16, n. 2, p. 119-138, 1997. que descreve todas as seções retóricas que compõem o gênero artigo acadêmico na área de Medicina; de Holmes (1997)HOLMES, R. Genre Analysis, and the social sciences: an investigation of the structure of research article Discussion section in three disciplines. English for Specific Purposes, New York, v. 16, n. 4, p. 321-337, 1997. que examina a estrutura das seções de Discussão em artigos acadêmicos das áreas de História, Ciência Política e Sociologia; de Yang e Allison (2003)YANG, R.; ALLISON, D. Research articles in Applied Linguistics: moving from Results to Conclusions. English for Specific Purposes, New York, v. 22, p. 365-385, 2003. que descrevem as seções de Resultados, Discussões e Conclusão de artigos pertencentes à área de Linguística Aplicada; de Puebla (2008)PUEBLA, M. M. Analysis of the Discussion section of Research Articles in the field of Psychology. English for Specific Purposes World, New York, v. 7, n. 5(21), p. 1-10, nov. 2008. Disponível em: http://www.esp-world.info/Articles_21/Docs/Psychology.pdf. Acesso em: 12 abr. 2021.
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, que realiza uma análise da seção de Discussão em artigos no campo da Psicologia; de Basturkmen (2012)BASTURKMEN, H. A genre-based investigation of discussion sections of research articles in Dentistry and disciplinary variation. Journal of English for Academic Purposes, Bangor, v.11, n.2, p. 134-144, 2012. que investiga a seção de Discussão em artigos da área de Odontologia; de Kanoksilapatham (2015)KANOKSILAPATHAM, B. Distinguishing textual features characterizing structural variation in research articles across three engineering sub-discipline corpora. English for Specific Purposes, New York, v.37, p. 74-86, 2015. que realiza um trabalho comparativo entre as seções de Introdução nas áreas de Engenharias Civil, de Software e de Biomédica; de Zhang e Wannaruk (2016)ZHANG, B.; WANNARUK, A. Rhetorical Structure of Education Research Article Methods Sections. PASAA, v. 51 jan./jun. 2016. Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1112248.pdf. Acesso em: 12 abr. 2021.
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que abordam a seção de Metodologia em artigos produzidos pela área de Educação; e de Öztürk (2018)ÖZTÜRK, İ. Rhetorical Organisation of the Subsections of Research Article Introductions in Applied Linguistics. Novitas-ROYAL: Research onYouthand Language, Ankara, v.12, n.1, p. 52-65, 2018. que analisa a seção de Introdução de artigos produzidos no âmbito da Linguística Aplicada.

Em âmbito nacional, apontamos as pesquisas de Silva (1999)SILVA, L. F. Análise de gênero: uma investigação da seção de Resultados e Discussão em artigos científicos de Química. 1999. 111 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1999. Disponível em: http://w3.ufsm.br/desireemroth/images/admin/dissertacoes/dissertacao_lisane.pdf. Acesso em: 12 abr. 2021.
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, que oferece uma análise retórica para a seção de Resultados e Discussão de artigos da área de Química; de Hendges (2001)HENDGES, G. R. Novos contextos, novos gêneros: a seção de Revisão da Literatura em artigos acadêmicos eletrônicos. 2001. 138 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2001. que analisa a seção de Revisão de Literatura dos artigos em língua inglesa das áreas de Economia e Linguística; de Dias e Bezerra (2013)DIAS, F. G. R.; BEZERRA, B. G. Análise retórica de introduções de artigos científicos da área da saúde pública. Horizontes de Linguística Aplicada, Brasília, ano 12, n. 1, p. 163-182, 2013. que analisam e propõem uma proposta de configuração retórica para a seção de Introdução dos artigos vinculados a área de Saúde pública; de Costa (2015)COSTA, R. L. S. Culturas disciplinares e artigos acadêmicos experimentais: um estudo comparativo da descrição sociorretórica. 2015. 242f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2015., que investiga e compara a estrutura sociorretórica de artigos acadêmicos das áreas de Linguística e Medicina; de Abreu (2016)ABREU, N. O. O artigo acadêmico na cultura disciplinar da área de psicologia: um estudo sociorretórico. 2016. 214 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016. que descreve sociorretoricamente artigos da área de Nutrição; de Silva (2019)SILVA, A. P. N. A construção sociorretórica do gênero artigo acadêmico na linguística aplicada: um estudo sobre escrita acadêmica a partir da compreensão de culturas disciplinares. 2019. 217f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2019. Disponível em: http://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=94539. Acesso em: 12 abr. 2021.
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que investiga a construção sociorretórica dos artigos acadêmicos nas áreas de Linguística e de Linguística Aplicada, dentre outros trabalhos.

É importante destacar que o olhar para as variações disciplinares no que diz respeito ao gênero artigo acadêmico não é algo recente. No entanto, grande parte de pesquisas que visa à compreensão de áreas disciplinares se limita tão somente a informações que se fazem presentes no gênero em análise, não levando em consideração as informações sobre o contexto disciplinar em que esse gênero se realiza. Em outras palavras, muitos estudos destacam as áreas em que os gêneros foram produzidos, mas ainda não se vê, com clareza, um diálogo mais estreito entre as informações da cultura disciplinar sobre a concepção do gênero e os dados identificados na análise textual dos exemplares do próprio gênero.

Conforme aponta Hyland (2000)HYLAND, K. Disciplinary discourse: social interactions in academic writing. Singapura: Pearson, 2000., a escrita acadêmica é uma prática situada socialmente em que cada disciplina é caracterizada por normas, conteúdo, nomenclatura, conjunto de conhecimentos e particularidades que constituem uma cultura disciplinar distinta. Assim, faz-se necessário compreender os gêneros como ações intrinsecamente ligadas aos processos sociais das comunidades nas quais estão inseridos.

A partir da compreensão de que os gêneros são sensíveis às variações disciplinares (BHATIA, 2004BHATIA, V. K. Worlds of written discourse: a genre-based view. London: Continuum, 2004.) e de que o estudo do gênero deve estar atrelado aos aspectos culturais que compreendem uma dada área disciplinar, este artigo1 1 Nesta pesquisa, todos os participantes envolvidos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, garantindo-nos o uso legal dos dados obtidos por meio das entrevistas e dos questionários, de acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da UECE – Universidade Estadual do Ceará, processo nº 2.856.892. , ancorado na proposta sociorretórica2 2 Com base em Pacheco, Bernardino e Freitas (2018, p. 128), compreendemos como proposta sociorretórica os pressupostos teórico-metodológicos que possibilitam “explicar a configuração retórica prototípica do gênero à luz das crenças, dos valores e dos propósitos do grupo social que usa o gênero”. de Swales (1990SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., 2004SWALES, J. M. Research genres: explorations and applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.) e na concepção de cultura disciplinar de Hyland (2000)HYLAND, K. Disciplinary discourse: social interactions in academic writing. Singapura: Pearson, 2000., propõe3 3 Este estudo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa maior, em que são descritas todas as unidades retóricas de exemplares do gênero artigo acadêmico da área de História; no entanto, devido à necessidade de um espaço maior para a apreciação desses dados, limitamo-nos à seção de Introdução. uma descrição sociorretórica da seção de Introdução em artigos acadêmicos da área de História, por meio do cruzamento de informações dessa cultura disciplinar com os dados que emanam dos exemplares do gênero em estudo.4 4 Vale ressaltar que esta pesquisa está vinculada ao Grupo de Pesquisa em Discurso, Identidade e Letramento Acadêmicos (DILETA) e ao Projeto de Pesquisa Práticas Discursivas em Comunidades Disciplinares Acadêmicas, tendo como propósito investigar de que forma as diferentes culturas disciplinares constroem sociorretoricamente os gêneros acadêmicos.

Para tanto, consideramos pertinente indicar a organização retórica desse manuscrito, o qual é constituído de nove seções. Inicialmente, a Introdução delineia as questões e os objetivos que justificam a realização de nosso empreendimento investigativo. As seções 2, 3 e 4 são reservadas para a discussão teórica dos fundamentos que sustentaram nossa pesquisa, assim, a seção 2 põe em evidência o gênero artigo acadêmico, abordando os seus conceitos e as suas subcategorizações, ao passo que a seção 3 lança o olhar para os pressupostos conceituais sobre cultura disciplinar no âmbito da análise de gêneros. Já a quarta seção se caracteriza pela apresentação da proposta metodológica CARS (Criando um Espaço de Pesquisa) de Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., a qual orienta a descrição do gênero empreendido no presente estudo. O quinto tópico traz informações sobre o tipo de pesquisa, participantes envolvidos, tamanho do corpus, bem como todo o percurso metodológico que viabilizou e norteou essa empreitada investigativa. As seções 6 e 7 são destinadas à apresentação e discussão de resultados, de modo que a seção 6 tem por propósito fazer um apanhado geral acerca de aspectos pertinentes à cultura disciplinar da área de História no Brasil e a seção 7 traz a descrição da configuração sociorretórica da seção de Introdução de artigos acadêmicos produzidos no âmbito da cultura disciplinar da área de História. Na oitava seção, são apresentadas as considerações finais do trabalho, bem como as implicações práticas que a pesquisa pode trazer para área. E, por fim, as Referências apontam para as citações que sustentaram teórica e metodologicamente a pesquisa.

O gênero artigo acadêmico

Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. conceitua o gênero artigo como um texto escrito para a divulgação de alguma investigação de cunho científico, realizada por um ou mais autores. Para o teórico, o artigo deve estar relacionado a descobertas científicas e pode também examinar questões teóricas e/ou metodológicas. Tais textos devem ser publicados em jornais de pesquisas ou em periódicos especializados. Conforme o autor, o gênero artigo acadêmico, ao longo da sua história, passou por várias transformações em termos de organização retórica, características sintáticas e lexicais, extensão, formas de citação e inserção de notas, entre outras mudanças.

Ao analisar a estrutura dos artigos acadêmicos, Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. reconhece a configuração IMRD – Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão - bastante empregada em artigos produzidos, principalmente, nas áreas das ciências exatas e da natureza. No entanto, conforme o próprio autor alerta, a referida configuração é passível de variações, conforme as particularidades das áreas do conhecimento que produzem o gênero. Swales (2004)SWALES, J. M. Research genres: explorations and applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2004., ao rediscutir o padrão IMRD, constatou a fluidez dessa configuração, principalmente, na área das Ciências Humanas. Em outros termos, a configuração IMRD poderá variar em conformidade com as regras das variadas culturas disciplinares.

Swales (2004)SWALES, J. M. Research genres: explorations and applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. propõe ainda três categorias para o artigo acadêmico: artigo teórico, artigo experimental e artigo de revisão de literatura, embora não conceitue explicitamente cada um desses tipos. Conforme pontua Swales (2004)SWALES, J. M. Research genres: explorations and applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2004., o artigo teórico caracteriza-se por realizar uma discussão teórica sem, necessariamente, levantar uma análise de dados. A respeito disso, Bernardino (2007)BERNARDINO, C. G. O metadiscurso interpessoal em artigos acadêmicos: espaço de negociações e construção de posicionamentos. 2007.243f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007. acrescenta que, em artigos teóricos, o uso de dados para exemplificações está tão somente a serviço de uma construção teórica, e não de uma análise dos dados. Já o artigo experimental, segundo Motta-Roth e Hendges (2010)MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010., possui como objetivo central apresentar e debater dados de determinados experimentos, realizando interpretações na forma de resultados de pesquisa. Em relação ao artigo de revisão, Swales (2004)SWALES, J. M. Research genres: explorations and applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. propõe que seu principal objetivo é promover uma discussão da literatura prévia, dispondo de uma avaliação global do estado da arte de um campo de conhecimento em particular. Passemos a seguir à discussão teórica sobre o conceito de Cultura Disciplinar.

Cultura Disciplinar

Conforme aponta Bhatia (2004)BHATIA, V. K. Worlds of written discourse: a genre-based view. London: Continuum, 2004., a análise de gênero tem sido convencionalmente vista como o estudo do comportamento linguístico situado em contextos institucionalizados, acadêmicos ou profissionais, no qual, muitas vezes, se tem a impressão de que as distinções disciplinares não desempenham um papel significativo. Em estudos recentes sobre o discurso disciplinar e profissional, tem-se verificado que as distinções disciplinares desempenham um papel importante, especialmente, na produção dos gêneros profissionais e/ou acadêmicos.

Nessa mesma perspectiva, Hyland (2000)HYLAND, K. Disciplinary discourse: social interactions in academic writing. Singapura: Pearson, 2000. sinaliza que as disciplinas são também definidas por meio de sua escrita, ou seja, a diferença crucial entre elas consiste na forma como os membros dessas disciplinas escrevem, mais do que simplesmente o que eles escrevem. Assim, o discurso acadêmico não é uniforme nem monolítico, em outras palavras, suas diferenças não dizem respeito apenas à temática e ao vocabulário específico. Esse discurso é o resultado de um conjunto de práticas e estratégias, em que o argumento convincente e tom apropriado são cuidadosamente administrados para um público em particular. Nesse sentido, a escrita acadêmica é o produto de forças institucionais e interacionais, que resultam de diversas práticas sociais de escritores dentro de suas culturas disciplinares. Essas culturas diferem ao longo das dimensões sociais e cognitivas, oferecendo contrastes em seus objetivos, comportamentos sociais, relações de poder, interesses políticos, modos de falar e estruturas de argumentação.

Nesse sentido, conforme Bhatia (2004)BHATIA, V. K. Worlds of written discourse: a genre-based view. London: Continuum, 2004., as disciplinas têm suas características particulares, as quais são primariamente compreendidas em termos de conhecimentos específicos, metodologias e práticas compartilhadas por membros de uma comunidade. Nesses termos, a construção disciplinar ocorre, por meio, especialmente, de seus modos de pensar, construir e consumir o conhecimento, de suas normas e epistemologias específicas e, acima de tudo, de seus objetivos específicos, bem como de práticas disciplinares para atingir esses objetivos.

No que diz respeito à comunidade acadêmica, Hyland (2000)HYLAND, K. Disciplinary discourse: social interactions in academic writing. Singapura: Pearson, 2000. ressalta que as produções escritas na academia são representações de discursos legitimados que ajudam a definir e manter epistemologias específicas e limites acadêmicos. Assim, Hyland (2000)HYLAND, K. Disciplinary discourse: social interactions in academic writing. Singapura: Pearson, 2000. salienta a importância da análise de gêneros para a compreensão dessa comunidade, uma vez que os textos são escritos para serem entendidos dentro de certos contextos culturais. Nesse contexto, Bhatia (2004)BHATIA, V. K. Worlds of written discourse: a genre-based view. London: Continuum, 2004. aponta que qualquer compreensão do discurso acadêmico precisa ser vista à luz de variações disciplinares, o que, segundo o autor, levará à percepção, à compreensão, à construção, à interpretação e ao uso mais apropriado dos discursos acadêmicos. Ainda conforme Hyland (2000)HYLAND, K. Disciplinary discourse: social interactions in academic writing. Singapura: Pearson, 2000., a análise de gêneros deve promover um olhar para as culturas acadêmicas, em que os gêneros se realizam. Assim, analisar os gêneros acadêmicos é aprender algo de como cada disciplina vê e define o conhecimento.

Depois dessas breves considerações sobre culturas disciplinares, apresentamos a metodologia CARS proposta por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. que nos conduziu em nossa análise.

A Metodologia CARS

Para a análise e descrição sociorretórica da seção de Introdução de artigos acadêmicos produzidos pela cultura disciplinar da área de História, tomamos como norte a proposta metodológica CARS (Create a Research Space), de Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990..

Preocupado em oferecer uma proposta de configuração retórica para que auxiliasse estudantes de inglês na produção de seus trabalhos, Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., a partir da análise da seção de Introdução de artigos científicos, propõe um caminho metodológico para descrever gêneros, o qual foi denominado de CARS.

Segundo Biasi-Rodrigues, Hemais e Araújo (2009), a proposta teórico-metodológica CARS, começou a ser elaborada por Swales em 1984 a partir de um corpus constituído por 48 introduções de artigo de pesquisa. Posteriormente, em 1987, o autor estende o corpus para 110 introduções de artigos de três áreas distintas: Física, Educação e Psicologia. Os resultados dessas duas pesquisas apontaram para uma regularidade de movimentos retóricos na composição textual das Introduções dos artigos. Apesar de inicialmente o CARS ser considerado um modelo para descrição de introduções de artigos, sua aplicação a diversos gêneros diferenciados proporcionou ao modelo a condição de metodologia para análise de gêneros. A metodologia CARS permite o reconhecimento de como os gêneros são construídos e caracterizados retoricamente a partir da identificação dos movimentos (moves) que, segundo Swales (2004)SWALES, J. M. Research genres: explorations and applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2004., correspondem a unidades retóricas que realizam uma função comunicativa no discurso articulada aos propósitos de uso do gênero, e dos passos (steps), considerados como unidades informacionais menores que compõem os movimentos. Os movimentos e passos retóricos constituem a configuração composicional dos gêneros. Vejamos, a seguir, como é organizada a referida descrição de Introduções de artigos acadêmicos por meio de seus movimentos e passos:

Conforme a Figura 1, as Introduções de artigos acadêmicos são constituídas por 3 movimentos. O movimento 1 é responsável por apresentar a área em que o estudo se insere, com o objetivo de estabelecer uma delimitação temática e a importância da pesquisa. O movimento 2 procura estabelecer o nicho teórico. O terceiro e último movimento tem como propósito ocupar o nicho de pesquisa, apresentando ao leitor o objeto e os objetivos da pesquisa.

Figura 1
– Proposta Metodológica CARS (Create a Research Space)

O movimento 1, Estabelecer o território, é constituído por três passos, os quais são responsáveis por estabelecer a relevância da pesquisa, fazer generalizações quanto ao tópico da pesquisa e por fazer um levantamento das pesquisas já realizadas sobre a temática abordada no atual trabalho. Como pontuam Biasi-Rodrigues, Hemais e Araújo (2009), no primeiro passo, Estabelecer a importância da pesquisa, o autor chama a atenção da comunidade discursiva para uma área de pesquisa significativa e bem estabelecida. No segundo passo, Fazer generalizações quanto ao tópico, o autor da pesquisa realiza declarações generalizadas quanto à temática abordada no trabalho, preparando o território para a apresentação do objeto de investigação da própria pesquisa. No terceiro passo, Revisar a literatura, o autor faz referência a resultados de pesquisas anteriormente relatadas.

O movimento 2, Estabelecer o nicho, se caracteriza por dialogar com o conhecimento prévio construído em torno do objeto investigado. No passo 1A, Contra argumentar, os autores polemizam com pesquisas anteriores. Já no passo 1B, Indicar lacuna(s) no conhecimento, é considerado por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. o mais prototípico entre os quatro passos do segundo movimento e se caracteriza por apontar uma lacuna a ser preenchida na área de conhecimento escolhida, ou conforme pontuam Biasi-Rodrigues, Hemais e Araújo (2009), esse passo tem como propósito ressaltar algumas limitações detectadas em trabalhos anteriores. Este passo é designado por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. como o mais prototípico entre os quatro passos do segundo movimento. No passo 1C, Provocar questionamento, os autores dialogam de forma polêmica com pesquisas anteriores, provocando questionamento que podem alicerçar o estudo em questão. No passo 1D, Continuar a tradição,os autores se apropriam de estudos prévios para alicerçar a pesquisa em andamento.

O movimento 3, Ocupar o nicho, conforme Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., tem a função de ocupar o nicho determinado no movimento 2, ocupando, assim, um território de pesquisa estabelecido. Esse movimento caracteriza-se primeiramente pela apresentação dos objetivos da pesquisa. No passo 1A, Delinear os objetivos, os autores apresentam os principais propósitos da pesquisa. No passo 1B, Apresentar a pesquisa, os autores apresentam a pesquisa e suas principais características. No passo 2, Apresentar os principais resultados, há uma descrição dos principais resultados da pesquisa e, por último, no passo 3, Indicar a estrutura do artigo, os autores mostram como o artigo está estruturado. Conforme os autores, os dois últimos passos que são utilizados para expor os principais resultados das pesquisas ou indicar a estrutura do artigo são menos frequentes do que os dois primeiros, por isso o terceiro e o quarto passos são considerados opcionais.

A partir da análise do modelo de configuração retórica apresentado na Metodologia CARS, percebemos o quanto cada movimento e seus respectivos passos são essenciais para o reconhecimento da configuração composicional própria da introdução de artigos científicos. Vale ressaltar que essa configuração proposta no modelo CARS (1990) não se realiza de forma homogênea, uma vez que os gêneros sofrem variações de acordo com seu contexto disciplinar. No entanto, mesmo considerando essas variações disciplinares, a proposta metodológica CARS constitui-se, ainda, em importante ferramenta de análise de gêneros. Ainda segundo Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., o intuito da descrição da configuração composicional não é criar modelos estanques para a produção e compreensão dos gêneros, mas, facilitar a compreensão e aplicação desses gêneros pelos membros menos experientes. Desse modo, com base na proposta da Metodologia CARS (1990), investigamos e descrevemos sociorretoricamente 30 exemplares do gênero artigo acadêmico da área de História.

Depois da discussão dos fundamentos teóricos, vejamos o percurso metodológico adotado para a realização desse estudo.

Metodologia

A nossa pesquisa se define como um estudo de natureza exploratório-descritiva, cuja análise dos dados é de base qualitativa e quantitativa, tendo em vista que temos como propósito investigar como a cultura disciplinar da área de História compreende a produção do gênero artigo acadêmico, percebendo a recorrência/prototipicidade dos movimentos e passos retóricos caracterizadores do referido gênero e explicando como essa prototipicidade está relacionada aos comportamentos e propósitos dos membros experientes5 5 Consideramos membros experientes aqueles professores/pesquisadores que fazem parte do corpo docente de algum Programa de Pós-Graduação na área de História e que apresentam um significativo fluxo de publicações de artigos acadêmicos em periódicos relevantes para a referida área. da área.

No que concerne à etapa qualitativa, realizamos um levantamento da cultura disciplinar da área de História em busca de compreender o conjunto de valores e práticas dessa área no que se refere à escrita acadêmica do gênero artigo. Quanto ao caráter quantitativo da pesquisa, descrevemos 30 exemplares do gênero artigo da referida cultura disciplinar no que tange à configuração sociorretórica, levando em consideração a recorrência dos movimentos e passos retóricos que caracterizam o referido gênero.

Os artigos do corpus foram coletados no portal de Periódicos da CAPES e no portal Scielo entre os meses de junho e agosto de 2017, em revistas Qualis A1. As revistas envolvidas nessa amostra foram selecionadas em virtude da representatividade da área, por isso optamos por aquelas com estratificação A1, como base no período 2013-2016. Ademais, escolhemos aquelas com fluxo intenso de publicações em 2017, uma vez que buscamos dispor de um corpus o mais atualizado possível. Os exemplares de artigos são provenientes de quatro periódicos brasileiros da área de História, a saber: Revista Brasileira de História, Revista de História, Revista Estudos Históricos e Revista Tempo.

No que concerne aos procedimentos de análise, adotamos o percurso metodológico proposto por Pacheco, Bernardino e Freitas (2018), o qual tem buscado viabilizar a análise sociorretórica de gêneros acadêmicos a partir da descrição de culturas disciplinares. Nessa perspectiva metodológica, busca-se inicialmente uma compreensão mais acurada da cultura disciplinar investigada no que se refere à produção de gêneros acadêmicos, e, a partir disso, promove-se um diálogo entre essas informações e os resultados obtidos pela análise linguística nos exemplares do gênero do corpus em análise.

No que diz respeito à descrição da cultura disciplinar, buscamos orientações em fontes teóricas (artigos e livros) que pudessem esclarecer o trajeto da pesquisa científica na área de História, observamos também as instruções dos periódicos que compõem a nossa amostra sobre como os autores devem conduzir a construção dos manuscritos. Além disso, dispusemos de informações de documentos que revelam como os órgãos de fomento veem a área. Realizamos, ainda, uma contextualização histórica da referida área no Brasil, traçando o percurso trilhado pela área ao longo dos anos.

Após a compreensão do percurso histórico que permitiu a consolidação da área, passamos a investigar como a cultura compreende, utiliza e organiza sociorretoricamente o gênero em análise.

Para entender como a cultura disciplinar compreende o gênero em análise, lançamos mão, entre agosto e setembro de 2018, de 6 entrevistas e 4 questionários aos membros experientes dos Programas de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Ceará e da Universidade Federal do Ceará, buscando informações mais precisas no que diz respeito à escrita do gênero artigo acadêmico. As perguntas realizadas ao longo desses questionários e entrevistas estavam vinculadas à escrita acadêmica, especialmente, à configuração composicional do gênero artigo acadêmico.

Quanto à escolha dos membros experientes que compuseram a nossa amostra, priorizamos os professores pesquisadores vinculados a programas de pós-graduação sediados no Ceará, para que pudesse viabilizar o nosso contato, diretamente, com esses pesquisadores. Nesse sentido, descartamos a possibilidade de entrevistar os autores dos manuscritos, já que os exemplares de nosso corpus foram constituídos de artigos produzidos por autores de diversas partes do país. Ademais, a representatividade da cultura disciplinar da área de História poderia ficar restrita, tão somente, às vozes desses pesquisadores.

Com base nos dados da cultura disciplinar, passamos para a análise sociorretórica das unidades informacionais que compõem os artigos por nós compilados. Depois de uma análise preliminar do corpus, em que identificamos os movimentos e passos prototípicos do gênero em estudo, retornarmos à cultura disciplinar, através das entrevistas aos membros experientes, para confirmar ou não o reconhecimento das ações retóricas recorrentes que se fizeram presentes nos exemplares analisados. Para finalizar a descrição sociorretórica, retornamos aos exemplares do gênero investigado e articulamos os dados levantados na cultura disciplinar com os dados encontrados nos textos, explicando aquilo que Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. chama de razão subjacente ao gênero.

Vale pontuar que, para a identificação dos passos e movimentos retóricos recorrentes nos artigos acadêmicos produzidos pela área de História que compõem nosso corpus, lançamos mão do reconhecimento da função retórica, descrita pelos membros da cultura disciplinar participantes desse estudo, atrelada à análise do conteúdo descrito no texto e aos elementos lexicais que nos auxiliaram no reconhecimento dessas funções retóricas.

Ressaltamos ainda que, com o intuito de apresentar de forma clara as análises realizadas, sinalizamos, através da utilização do negrito, as pistas lexicais que nos auxiliaram na identificação das unidades informacionais que compõem os movimentos e passo retóricos. Assim, com base na análise dos exemplares do corpus e nas informações fornecidas pelos membros experientes, apresentamos uma proposta de configuração sociorretórica para a compreensão e produção do gênero artigo acadêmico na área investigada.

Após o delineamento metodológico seguido nessa pesquisa, vejamos, agora, uma breve contextualização da área disciplinar de História no Brasil.

Descrevendo a cultura disciplinar da área de História no Brasil

Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em História (BRASIL, 2001BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia. Brasília, abr. 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0492.pdf. Acesso em: 12 abr. 2021.
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pd...
), o historiador é o profissional que estuda o passado humano em seus vários aspectos: economia, sociedade, cultura, ideias, cotidiano, entre outras perspectivas. Assim, o historiador investiga e interpreta criticamente os acontecimentos, buscando resgatar a memória da humanidade e ampliar a compreensão da condição humana. Dessa forma, seu trabalho se baseia, principalmente, na investigação de fontes historiográficas.

Conforme os estudos de Falcon (1996)FALCON, F. J. C.A identidade do historiador. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p. 7-30, jul. 1996. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2014. Acesso em: 7 abr. 2021.
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/inde...
, os cursos de graduação em História das Faculdades de Filosofia formaram os primeiros profissionais da área, licenciados e/ou bacharéis em História. Nesse viés, Ferreira (2013)FERREIRA, M. M. A História como ofício: a constituição de um campo disciplinar. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 2013. pontua que a criação dos cursos universitários de História na década de 1930 teve como objetivo principal a formação de professores para a educação básica. No que tange aos cursos de Pós-Graduação, atualmente a área conta com 71 programas, sendo nove de mestrado profissional, 23 de mestrado acadêmico e 39 de mestrado e de doutorado acadêmicos. (BRASIL, 2016BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento de área 2016. Área de avaliação: História. 2016. Disponível em: http://uab.capes.gov.br/images/documentos/Documentos_de_area_2017/40_hist_docarea_2016.pdf. Acesso em: 07 abr. 2021.
http://uab.capes.gov.br/images/documento...
, 2017BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Relatório de Avaliação Quadrienal 2017. Área de avaliação: História. Brasília, 2017. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/20122017-historia-relatorio-de-avaliacao-quadrienal-2017-final-pdf. Acesso em: 07 abr. 2021.
https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-...
).

No que tange ao objeto de análise desse estudo, a seção de Introdução dos artigos acadêmicos da área de História, os historiadores Barros (2015)BARROS, J. D. O projeto de pesquisa em História: da escolha do tema ao quadro teórico.10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. e Salis e Costa (2011)SALIS, C. L. G.; COSTA, M. P. Pesquisa e ensino em História: da elaboração do projeto à prática docente. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2011. que estudam o gênero Projeto de Pesquisa apontam que a seção de Introdução tem a função de conduzir o leitor pelos caminhos percorridos pelo historiador rumo à sistematização do trabalho, apresentando, assim, o tema, as principais fontes investigadas, os aspectos metodológicos, os recortes temporal e espacial, a importância do tema a ser abordado e sua contextualização, a viabilidade da pesquisa e os objetivos a serem alcançados.

Corroborando esse raciocínio, para um dos participantes entrevistados, a seção de Introdução é essencial para o artigo, pois todas as informações primordiais que subjazem ao trabalho devem estar presentes no texto introdutório, além disso, nessa seção, o autor deve informar “o que pensa sobre o objeto em análise, as estratégias utilizadas para dar conta desse objeto e os problemas que dele emergem.” Ainda segundo esse participante, a Introdução “funciona como um roteiro de viagem”, que apontará a metodologia, as questões e os conceitos empregados pelo autor em torno de seu objeto. Nesse espaço, o autor deve descrever o objeto que será analisado ao longo do artigo e esboçar as razões que o levaram a pesquisar tal objeto, como também deve “indicar o que já foi pesquisado em torno do objeto e apontar a ideia e pergunta que irão fundamentar o trabalho” (Participante 6).

Concordando com esse pensamento, o participante 1 aponta que, na seção de Introdução, o historiador deve “apresentar o objeto que será analisado, a trajetória da pesquisa, a metodologia e inserir a historiografia ou bibliografia” relacionada ao tema do artigo. Nesse mesmo viés, o participante 5 acrescenta que, no texto introdutório, o historiador deve apresentar “a delimitação do período que será estudado” e analisado ao longo do artigo. Do mesmo modo, o participante 2 afirma que, na Introdução, deve haver “uma exposição clara do objeto de pesquisa” e, assim como os participantes 3 e 9 indicaram, ressalta que, nesse tópico, a prioridade é “situar o tema que será trabalhado no artigo”.

Assim, a partir do olhar dos membros experientes da cultura disciplinar da área de História (participantes entrevistados), podemos compreender a seção retórica de Introdução como um texto introdutório que contextualiza e apresenta o objeto a ser investigado delimitando-o no tempo e espaço, que expõe as pesquisas prévias relacionadas à temática a ser abordada, inserindo o trabalho no campo da historiografia, que pontua os objetivos do estudo e que indica os aspectos metodológicos que alicerçaram a produção do manuscrito.

A partir dessas considerações sobre a cultura disciplinar da área de História no que diz respeito, especialmente, à produção do artigo acadêmico, realizamos uma descrição sociorretórica do gênero em análise, tendo em vista que é a cultura disciplinar que melhor esclarece a razão subjacente à configuração composicional do gênero (SWALES, 1990SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.). Desse modo, vejamos o resultado dessa análise sociorretórica para a seção de Introdução de artigos acadêmicos da área de História.

Descrevendo a seção retórica de Introdução em artigos acadêmicos da área de História

Destoando de outras culturas disciplinares, tais como Linguística e Medicina (COSTA, 2015COSTA, R. L. S. Culturas disciplinares e artigos acadêmicos experimentais: um estudo comparativo da descrição sociorretórica. 2015. 242f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2015.) e Nutrição (PACHECO, 2016PACHECO, J. T. S. O artigo acadêmico na cultura disciplinar da área de nutrição: uma investigação sociorretórica. 2016. 201 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.), a área de História apresenta longas introduções. No corpus analisado, a média de páginas dedicadas a essa seção é de quatro páginas. Embora as revistas investigadas nesse estudo não mencionem informações sobre a obrigatoriedade dessa seção em artigos a serem submetidos para publicação, apenas três artigos, em um universo de 30 exemplares, não apresentaram essa seção, o que pode justificar sua importância para a produção do gênero artigo na referida área. Dessa forma, vejamos como se organizam as unidades informacionais da seção de Introdução do corpus analisado, com base no aporte teórico-metodológico CARS de Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990..

Com base nas orientações da cultura disciplinar sobre as unidades informacionais que podem compor a configuração sociorretórica da seção de Introdução de artigos acadêmicos da área de Historia, realizamos uma comparação entre as unidades de informação por nós identificadas no corpus em análise e a configuração retórica proposta por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. por meio do modelo CARS. Conforme ilustra a Figura 2, cinco passos do modelo original sugerido pelo autor estão presentes nas introduções dos artigos investigados, a saber: Fazer generalizações quanto ao tópico; Revisar a literatura; Indicar lacunas no conhecimento; Delinear os objetivos e Indicar a estrutura do artigo. Salientamos que adaptamos as nomenclaturas dos movimentos e passos de acordo com as características disciplinares da área em análise, no entanto, a função retórica e informacional é similar à proposta de Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990..

Figura 2
– Frequência de unidades informacionais em Introduções de artigos da cultura disciplinar da área de História

Seguindo o critério de prototipicidade proposto por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., para o reconhecimento do gênero pela comunidade que o utiliza, consideramos unidades informacionais prototípicas da seção de Introdução de artigos acadêmicos da cultura disciplinar da área de História os movimentos e passos que apresentaram ocorrência igual ou superior a 50%, conforme sugerem Bernardino e Pacheco (2017)BERNARDINO, C. G. PACHECO, J.T.S. Uma análise sociorretórica de introduções em artigos originais da cultura disciplinar da área de Nutrição. Fórum linguístico, Florianópolis, v. 14, n. 1, p.1749-1766, jan./mar. 2017. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/1984-8412.2017v14n1p1749/33784. Acesso em: 12 abr. 2021.
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. Diante disso, temos: Movimento 1, Estabelecendo o território, e Movimento 3, Ocupando o nicho. O Movimento 2, Estabelecendo o nicho, não alcançou a margem de recorrência no corpus, portanto, ele não estará presente na nossa descrição final para a seção de Introdução.

Seguindo esse critério de recorrência, apresentamos, na figura 3, um possível padrão para a seção retórica de Introdução de artigos acadêmicos da área de História. Cabe aqui ressaltar que temos como intuito apresentar a configuração sociorretórica que a própria cultura disciplinar nos aponta a partir da análise realizada ao longo do presente estudo e que está refletida na configuração prototípica dos artigos acadêmicos produzidos pela área.

Figura 3
– Descrição retórica da seção de Introdução

Para a elaboração dessa descrição, buscamos uma terminologia que identificasse com maior clareza a função retórica das unidades informacionais (movimentos e passos) que compõe a seção em análise. Para efeito de apresentação dessa descrição, consideramos a ordem mais recorrente dos movimentos e passos presentes nos artigos analisados.

Compreendemos que, de forma geral, a seção de Introdução da cultura disciplinar da área de História contextualiza historicamente o tema que será investigado, aponta pesquisas já realizadas que tenham alguma relação com a temática a ser discutida ao longo do artigo, apresenta os objetivos da investigação e expõe o percurso metodológico escolhido pelo autor para a realização do manuscrito. Depois dessas assertivas mais gerais, vejamos, a seguir, cada movimento que compõe a seção de Introdução em artigos acadêmicos na área.

O primeiro movimento, Apresentando a pesquisa, tem como intuito situar o leitor acerca da temática que será trabalhada ao longo do artigo. Esse movimento conta com três passos para sua efetiva realização: Contextualizando historicamente o objeto de análise, Apresentando pesquisas anteriores e Apresentando os objetivos da pesquisa.

O primeiro passo, Contextualizando historicamente o objeto de análise, diz respeito à demarcação do espaço e tempo em que a temática trabalhada no artigo está inserida. Em nossas análises, observamos que o objeto de investigação da área de História é demasiadamente amplo, uma vez que “toda ação humana no decorrer do tempo pode ser objeto de análise para o historiador”, conforme apontou o participante 3. Assim, diante de tal amplitude de possibilidades, o primeiro passo adotado pelo historiador, ao se debruçar sobre a pesquisa, a escrita ou a investigação em História é delimitar o espaço e o tempo em que o objeto de análise está imerso. Para tanto, o historiador contextualiza o seu objeto de análise apresentando o momento em que o evento ocorreu ou o período ao qual a fonte está relacionada, citando, muitas vezes, a data, o local, os fatos históricos que marcaram aquele período, personagens históricos que foram importantes para a época em análise, entre outras informações que auxiliem na delimitação da temática que será trabalhada (excertos 1 a 3).

Excerto (01) - Em 30 de dezembro de 1830 D. Pedro I, com a imperatriz D. Amélia e sua comitiva, saiu em viagem à província de Minas Gerais com o objetivo de reduzir as tensões com os líderes regionais liberais e angariar apoio para o embate político na Corte. Durante quase 2 meses, visitou várias vilas como Barbacena, São João Del Rey, São José Cachoeira, Sabará, Caeté e Mariana, até chegar a seu destino final – a capital Ouro Preto. O fato de D. Pedro ter abdicado menos de um mês após seu retorno mostra que a viagem não foi bem-sucedida em termos dos objetivos pretendidos, mas isso não implica que ela tenha sido completamente destituída de importância. Ao contrário, parece que a jornada do Imperador por Minas, por concentrar temporalmente uma série de eventos que adquirem um significado próprio nesse contexto, pode ser considerada como um momento de singular importância para se analisar o papel das províncias na configuração e viabilização do Estado monárquico-constitucional, tema este de interesse crescente na historiografia (Silva, 2005; Slemian, 2006; Oliveira, 2009) [...]. (AAH02)6 6 Etiquetamos os 30 artigos que compõem o corpus de análise com a sigla AAH (Artigo Acadêmico de História) seguida dos números cardinais 1 ao 30. ,7 7 Destacamos, através de negrito, as pistas lexicais que nos auxiliaram na identificação dos passos retóricos.

Excerto (02) - Na Boêmia da primeira metade do século XV, o embate tradicionalmente conhecido como Guerras Hussitas marcou o espaço das disputas religiosas e políticas nesse reino do Sacro Império Romano. O imperador Venceslau IV (Václav IV) estava morto enquanto seu irmão Sigismundo (Zikmund Lucemburský) buscava se estabelecer no poder nessa região. Passado o Concílio de Constança (1414-1418) e resolvido o Cisma Papal, era hora de extirpar a heresia hussita das terras tchecas. Martinho V, o novo papa, com apoio de Sigismundo, envia exércitos de cruzados para a batalha contra os taboritas, guerreiros tchecos com amplo fervor religioso. Liderados por Jan Žižka, apesar de estarem em menor número, os taboritas vencem cinco diferentes incursões do inimigo. Os tchecos são mais fortes, Sigismundo, o “raposa vermelha”, continua rejeitado em Praga e o reino dos céus está prestes a se instaurar na Terra [...]. (AAH08)

Excerto (03) - O estabelecimento do exclusivo metropolitano do comércio colonial, ou seja, o fim do regime de livre comércio na colônia, que vigorava desde a criação das chamadas capitanias hereditárias, deve ser entendido como um processo. Iniciado no final do XVI, a partir do alvará de 1591, reforçado pelo de 1605, ter-se-ia consolidado durante a segunda década do XVII e concluído no período das invasões holandesas da Bahia em 1624 e de Pernambuco em 1630, sem que isso signifique que licenças, fraudes e contrabando tenham deixado completamente de existir [...]. (AAH14)

O segundo passo, Apresentando pesquisas anteriores, realiza uma revisão bibliográfica da temática investigada, apontando as pesquisas e estudos já realizados em torno do tema. Segundo os participantes 3 e 4, a revisão bibliográfica “permite compreender a historicidade do objeto histórico em estudo”. Os participantes ressaltaram ainda que para a boa realização de um artigo faz-se necessária a apresentação de fontes bibliográficas relevantes.

Esse passo possui caráter essencial, visto que não identificamos nos artigos produzidos pela área de História uma seção voltada exclusivamente para a revisão da literatura, em que os autores pudessem discutir trabalhos e teorias prévias. Conforme o participante 9, “é a partir do levantamento de pesquisas anteriores que o historiador traça um diálogo entre o objeto em estudo e a literatura existente, a fim de apontar os novos resultados ou descobertas”. Segundo os participantes desta pesquisa, não é comum, na área de História, discutir teorias. Desse modo, o autor de um artigo tenta estabelecer um diálogo entre a análise das fontes históricas e as pesquisas e teorias existentes que mantêm relação estreita com o que está sendo investigado. Nesse sentido, o diálogo com a revisão de literatura faz parte do processo investigativo como um todo e, portanto, está diluído ao longo do artigo e não somente na Introdução.

A ocorrência desse passo se deu, principalmente, pela citação das referências de trabalhos anteriores relacionados à temática abordada no artigo. As citações se deram pela nominalização dos autores. Em 70% do corpus analisado, as referências estavam entre parênteses, no entanto, também observamos citações diretas no corpo do texto, principalmente, quando o autor do artigo explorava, mais detidamente, determinada obra ou autor (excertos 4 e 5).

Excerto (04) - Portanto, identificar e deslindar indícios relacionados à sua vida enseja revisitar os debates historiográficos atinentes à explosão do biográfico na contemporaneidade, especificamente, à composição da biografia histórica (Dosse, 2009; Levi,in Ferreira; Amado, 1998, p.167-182; Levillain, in Rémond, 1996, p.141-184;Loriga, 2011). (AAH03)

Excerto (05) - Há décadas sociólogos e historiadores o enxergam como a peça-chave de grandes transformações: da “reabertura do Mar Mediterrâneo”, da “vanguarda do movimento comunal”, da “difusão do capitalismo mercantil” (Nicholas, 2014, p.54-168; Holton, 2013, p.33-115). (AAH07)

O passo 3, Apresentando os objetivos da pesquisa, caracteriza-se por apresentar os propósitos da investigação, como pontuam Motta-Roth e Hendges (2010)MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. sobre a importância em estabelecer, na Introdução, a designação dos objetivos do estudo. Esse passo não ultrapassou o limite de um parágrafo. E em 57% dos artigos que apresentaram esse passo, a apresentação dos objetivos era realizada de forma sucinta, não tomando mais que duas linhas do texto. Assim como nas áreas de Medicina, Linguística, Psicologia e Nutrição, o referido passo, na área de História, é geralmente marcado pela expressão “objetivo”, a qual vem acompanhada de verbos no infinitivo.

A maioria dos participantes investigados corroborou o pensamento do participante 8 no que tange à importância desse passo para a seção de Introdução dos artigos. Assim, conforme o referido participante, a Introdução deve “apresentar de forma clara os objetivos a que o estudo se propõe para que o leitor compreenda a pesquisa em sua totalidade”. Observamos que os artigos que apresentaram esse passo não o subdividem em objetivo geral e objetivos específicos, tendo em vista que os manuscritos analisados apresentaram apenas um único objetivo que engloba todos os propósitos que a investigação pretende alcançar.

De forma geral, os manuais de metodologia de pesquisa, assim como os membros experientes participantes desse estudo, caracterizam esse passo como responsável por apresentar a finalidade do trabalho, a meta a ser alcançada, assim como o que o pesquisador deseja de fato realizar (excertos 6, 7 e 8).

Excerto (06) - O presente artigo tem como objetivo descrever as disputas entre esses dois modelos distintos de patrimonialização em áreas protegidas, discutindo um caso específico: o do Parque Estadual da Pedra Branca. (AAH20)

Excerto (07) - [...] e que tem como objetivo compreender como e o que tem sido considerado pelo poder público como bem patrimonial da população afro-brasileira e o que pensam os (as) moradores (as) sobre os bens patrimoniais dessa população. (AAH21)

Excerto (08) - Nessa linha, interessa-nos evidenciar a utilização da escrita por quem não teve acesso ao aprendizado sistematizado das primeiras letras. (AAH16)

No que concerne ao último movimento que compõe a seção de Introdução de artigos acadêmicos produzidos na área de História, Indicando informações metodológicas, observamos que o referido movimento está relacionado à metodologia empregada pelo autor para a produção do trabalho. Todos os participantes desse estudo destacaram a importância desse movimento na composição da seção de Introdução dos artigos acadêmicos. Nesse sentido, o participante 8 ressalta que “a parte metodológica deve ser sucinta”, mas deve estar presente no artigo, “mesmo que seja em uma nota de rodapé”. Este movimento apresenta dois passos: Indicando informações sobre as fontes historiográficas e Indicando procedimentos metodológicos para a análise do objeto histórico investigado.

O passo 1, Indicando informações sobre as fontes historiográficas, é caracterizado por apresentar informações acerca das fontes investigadas que serão analisadas ao longo do artigo.Nesse passo, o historiador disponibiliza informações referentes aos procedimentos de seleção e composição da fonte, ao contexto que envolve a coleta da fonte, entre outras informações que o autor julgue pertinente para o trabalho. Conforme o participante 10, “atualmente o objeto de investigação da História são as fontes historiográficas. E toda ação humana pode ser uma fonte passível de análise para o historiador”. Assim, o participante sublinha a importância de delimitar e apresentar a fonte investigada de forma clara e coerente a fim de que o leitor compreenda o que de fato será analisado e discutido ao longo do manuscrito.

Excerto (09) - [...] selecionamos os testamentos femininos registrados no cartório do 1º ofício da então comarca do Rio das Velhas, capitania de Minas Gerais, no período de 1780 a 1822. (AAH09)

Excerto (10) - Neste trabalho, a partir da análise dos tratados, da legislação e de outros textos da época, vamos procurar rastrear a compreensão sobre as colônias que embasavam a discussão em curso, bem como avaliar o impacto dos referidos tratados no comércio com o Brasil, aprofundando as considerações de Fernando Novais e Evaldo Cabral de Mello. (AAH14)

No passo 2, Indicando procedimentos metodológicos para a análise do objeto histórico investigado, o autor indica os procedimentos adotados para a análise dos dados levantados a partir das fontes investigadas e do debate historiográfico realizado. Nesse passo, o autor indica o trajeto metodológico percorrido o qual tornou possível a realização do trabalho. Grande parte dos membros experientes da área destacou a importância de expor o caminho metodológico percorrido pelo autor a fim de que se compreenda a pesquisa em sua totalidade, facilitando, dessa forma, a compreensão acerca das discussões apresentadas.

Excerto (11) - Para isso, analisa a história do banco considerando a economia política internacional em que operou e sua interface com o pensamento econômico. O banco é abordado como um ator político, intelectual e financeiro, ancorado na condição singular de emprestador, articulador de políticas e indutor de ideias e prescrições em matéria de desenvolvimento capitalista, em clave anglo-saxônica. (AAH10)

Excerto (12) - O presente texto pretende trazer à luz parte do material epistolar coligido nas latas de polícia do Arquivo Público do Estado de São Paulo entre os anos de 1870 e 1915, analisando-o sob uma perspectiva dupla: observando a prática epistolar em si mesma, que subsome o realce personalíssimo do “eu” – melhor dizendo, da “escrita de si” (Gomes, 2004) – num âmbito cerradamente institucional (a polícia de inclinação militar), e ao mesmo tempo lançando mão das sensibilidades de uma “história biográfica” que funciona como instrumento para realçaras subjetividades do homem comum, decalcando as individualidades da massa anônima, à qual costumam ser relegadas “as classes subalternas” nos estudos correspondentes (Loriga, 2007: 209). (AAH16)

Consideramos esse movimento, Indicando informações metodológicas, relevante, uma vez que os artigos produzidos pela referida área não apresentam uma seção dedicada aos aspectos metodológicos utilizados para a realização do trabalho. Na área de História, segundo os membros experientes participantes, o artigo acadêmico deve apresentar em algum momento a descrição acerca das fontes, dos documentos e dos vestígios históricos utilizados, assim como descrever de que forma essas fontes foram utilizadas e quais perspectivas de análise foram adotadas para a realização do trabalho. Ressaltamos que esse movimento é contemplado em apenas um parágrafo ou algumas linhas, tendo em vista seu caráter sucinto e objetivo, conforme apontaram os membros experientes participantes.

Após a análise da configuração sociorretórica da seção de Introdução de artigos acadêmicos produzidos pela área de História, verificamos que a área apresenta um modelo retórico que se aproxima ao proposto por Swales (1990)SWALES, J. M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., uma vez que, em nossa análise, a maioria dos movimentos e passos descritos se aproxima à configuração retórica proposta pelo autor. Portanto, a seção de Introdução é, geralmente, iniciada pela contextualização histórica da temática que será trabalhada no artigo, levando o autor a situar o leitor acerca do tempo, espaço, contexto, entre outras informações que auxiliem na compreensão e delimitação do tema. Concomitante à contextualização histórica, são apresentadas as pesquisas, os trabalhos, as obras e os autores relacionados à temática que será desenvolvida ao longo do artigo. Por fim, o autor do manuscrito apresenta os objetivos de sua investigação e o percurso metodológico que viabilizou o estudo, apontando todas as informações e abordagens relevantes acerca das fontes que foram utilizadas na pesquisa.

Para finalizar a apreciação da seção de Introdução em artigos acadêmicos na área de História, passemos às considerações teórico-práticas advindas dessa descrição sociorretórica.

Considerações Finais

Levando em consideração que a proposta sociorretórica de estudo de gêneros visa estabelecer uma compreensão acerca das práticas, dos valores, dos propósitos, das metodologias e dos objetos de estudo de uma dada cultura disciplinar e sua relação com a configuração dos gêneros, esse estudo investigou, a partir do olhar da cultura disciplinar da área de História, como a seção retórica de Introdução de artigos acadêmicos é concebida e praticada pela referida área.

Em face do exposto, constatamos que essa seção se mostrou relevante para área não apenas por sua recorrência significativa, mas, sobretudo, pelo grande volume de informações que apresenta, sendo considerada por muitos membros da área como o microcosmo do trabalho, uma vez que contempla a contextualização histórica que envolve a temática a ser discutida, o levantamento do estado da arte, a exposição clara dos objetivos do manuscrito, como também a apresentação dos aspectos metodológicos da pesquisa. É relevante destacar que, em outras culturas disciplinares, informações sobre aspectos metodológicos, por exemplo, nem sempre merecem destaque nessa seção, como nas áreas de Nutrição (PACHECO, 2016PACHECO, J. T. S. O artigo acadêmico na cultura disciplinar da área de nutrição: uma investigação sociorretórica. 2016. 201 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.) e Psicologia (ABREU, 2016ABREU, N. O. O artigo acadêmico na cultura disciplinar da área de psicologia: um estudo sociorretórico. 2016. 214 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.), considerando que informações sobre as escolhas e o percurso metodológicos empreendidos em uma investigação são detalhadas na seção de Metodologia, e não na seção que introduz o manuscrito

Salientamos, ainda, que a nossa pesquisa se mostra relevante para o estudo sobre gêneros acadêmicos, uma vez que visamos compreender o gênero artigo acadêmico à luz dos propósitos comunicativos que subjazem à sua realização. Não nos limitamos à descrição da configuração retórica do artigo acadêmico de uma área disciplinar específica, buscamos, antes, compreender e explicar como as práticas e os valores dessa cultura disciplinar influenciam essa configuração retórica. Assim, para que isso se tornasse possível, buscamos construir um diálogo entre as informações fornecidas pela cultura disciplinar da área de História com os dados textuais presentes nos exemplares do gênero em análise. Em outros termos, realizamos uma descrição sociorretórica do gênero artigo acadêmico na cultura disciplinar da área de História.

Acreditamos que o presente estudo pode fornecer subsídios a professores e estudantes da cultura disciplinar da área de História no que diz respeito à compreensão da escrita do gênero artigo acadêmico, tendo em vista que desenvolvemos uma sistematização em relação à forma como a seção retórica de Introdução do referido gênero é compreendida, organizada e produzida pela área disciplinar investigada.

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  • 1
    Nesta pesquisa, todos os participantes envolvidos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, garantindo-nos o uso legal dos dados obtidos por meio das entrevistas e dos questionários, de acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da UECE – Universidade Estadual do Ceará, processo nº 2.856.892.
  • 2
    Com base em Pacheco, Bernardino e Freitas (2018, p. 128), compreendemos como proposta sociorretórica os pressupostos teórico-metodológicos que possibilitam “explicar a configuração retórica prototípica do gênero à luz das crenças, dos valores e dos propósitos do grupo social que usa o gênero”.
  • 3
    Este estudo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa maior, em que são descritas todas as unidades retóricas de exemplares do gênero artigo acadêmico da área de História; no entanto, devido à necessidade de um espaço maior para a apreciação desses dados, limitamo-nos à seção de Introdução.
  • 4
    Vale ressaltar que esta pesquisa está vinculada ao Grupo de Pesquisa em Discurso, Identidade e Letramento Acadêmicos (DILETA) e ao Projeto de Pesquisa Práticas Discursivas em Comunidades Disciplinares Acadêmicas, tendo como propósito investigar de que forma as diferentes culturas disciplinares constroem sociorretoricamente os gêneros acadêmicos.
  • 5
    Consideramos membros experientes aqueles professores/pesquisadores que fazem parte do corpo docente de algum Programa de Pós-Graduação na área de História e que apresentam um significativo fluxo de publicações de artigos acadêmicos em periódicos relevantes para a referida área.
  • 6
    Etiquetamos os 30 artigos que compõem o corpus de análise com a sigla AAH (Artigo Acadêmico de História) seguida dos números cardinais 1 ao 30.
  • 7
    Destacamos, através de negrito, as pistas lexicais que nos auxiliaram na identificação dos passos retóricos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    27 Jun 2019
  • Aceito
    17 Jun 2020
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