Acessibilidade / Reportar erro

Contribuição para o estudo da cultura do tungue

Contribuição para o estudo da cultura do tungue

Carivaldo Godoy Júnior

Assistente de Agricultura Especial da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"

OBJETO

O nosso trabalho visa o estudo do exgotamento produzido pela cultura do tungue e a possibilidade do emprego da torta como fonte reparadora.

MATERIAL

O material por nós utilizado foi fornecido pela Companhia Industrial e Agrícola "Boyes", de Piracicaba, e constava de frutos maduros e sêcos, ao natural, provenientes da safra de 1946. Foram eles divididos em três partes distintas, analisadas separadamente, uma vez determinadas as proporções porcentuais de : 1) amêndoa, 2) tegumento, 3) pericarpo.

MÉTODOS DE ANÁLISE

Foram os seguintes os métodos de análise por nós utilizados:

AZOTO TOTAL .................................... Kjeldahl

ACIDO FOSFÓRICO (P205).......Ataque pelos ácidos sulf. e nit.

POTÁSSIO E SÓDIO (K20 e Na20) ...... Scholoesing-Wense.

CALCIO (CaO) ......... ....................... Lemmerman.

MAGNESIO (MgO)................................. Schmitz.

ÓLEO ............................... Éter etílico, no Soxhlet

RESULTADOS ANALÍTICOS

Os resultados analíticos que apresentamos representam a média de no mínimo três análises, sendo suas porcentagens expressas em relação á substância natural. São eles os seguintes:

Dêstes dados resultam a seguinte composição centesimal para os frutos inteiros:

E para a semente:

CÁLCULO DO EXGOTAMENTO

Para êste cálculo elevemos saber antes qual é a produção média na cultura do tungue.

Armando Leal ("Tungue") fala em 2 a 3 kgs por árvore, aos quatro anos; em 15 a 35 kgs. aos 8-10 anos e finalmente, como média, cita 15 a 25 kgs., o que correspondería a uma produção de 8.540 a 10.900 kgs. por alqueire, numa plantação a 8m por 8m, em quinconcio.

Para nossos cálculos vamos tomar como base uma produção de 20 kgs. por árvore, porque si ha árvores de produções excecionais de mais de 50 kgs. ("Tungue", A. Leal), também as há de produções bem inferiores àquele número,

Vinte quilos de frutos correspondem, aproximadamente a:

9,537 kgs. de pericarpo

4,313 kgs. de tegumento,

6,150 kgs. de amêndoa.

Traduzindo esses pesos em kgs. de elementos minerais, temos o quadro seguinte que representa o exgotamento anual de uma planta.

O exgotamento por superficie vai variar com os afastamentos adotados. Assim sendo, apresentamos o quadro abaixo, que mostra o exgotamento em kgs. por alqueire para as diferentes distâncias adotadas na cultura do tungue.

Façamos a comparação do exgotamento no caso da cultura em quadrado de 8m x 8m o que dá um número mínimo de plantas por superfície, com o ocasionado por uma colheita de 150 arrobas de algodão, por alqueire, baleados em análises de R. Bolliger (Citação de Gustavo R. D'Utra, em "Cultura do al godoeiro").

CONCLUSÕES

1) Em relação a todos os elementos, o tungue é mais exgotante que o algodão (cultura considerada eminentemente exgotante).

2) O tungue exporta nove vezes mais potássio que o algodão.

3) O tungue deve ser considerado como uma das culturas mais exgotantes do nosso Estado.

4) A questão da adubação desta cultura deve, portanto, merecer especial atenção, principalmente, pelo seu maior exgotamento em P2O5 e CaO, e pelo fato de nossas terras já serem na sua maioria, originariamente pobres desses elementos.

MEDIDAS PARA ATENUAR O EXGOTAMENTO NA CULTURA DO TUNGUE

Vejamos em primeiro lugar o que se passa com os frutos uma vez nas fabricas de óleo : primeiro, são descascados mecanicamente, e as sementes, depois de quebradas, sao submetidas ao trabalho das prensas, daqui resultando o óleo de um lado e a torta de outro. Esta, no caso da extração num "Expeller", sai continuamente sob a forma de finas placas, o que torna mais fácil sua moagem caso desejemos usá-la como adubo, uma vez que como alimento não é preconizada em consequência de ser venenosa.

Si fosse possível o retorno das cascas e da torta às culturas, teríamos praticamente reduzido a zero o exgotamento; contudo, isto não acontece na prática por dois motivos : primeiro, a questão de transporte, principalmente para a casca; segundo, esta e a torta representam ótimos combustíveis.

A medida que sugerimos é a seguinte : importar da América do Norte descascadoras portáteis, que descaroçam os frutos de tungue na própria cultura, à medida que são recolhidos. As vantagens seriam tais que compensariam a aquisição de tal maquina, porque :

a) As cascas ficariam na própria cultura como adubo, o que importaria numa redução do exgotamento, mais ou menos, nas seguintes proporções: de 1/5 para o azoto, de 1/3 para o ácido fosfórico, de 5/6 para o potássio, de 1/2 para o cálcio e de 2/5 para o magnésio, como podemos avaliar no quadro abaixo.

b) Baratearíamos de, praticamente, 50% o transporte do produto, o que seria de grande alcance no presente momento em que há falta de transporte e os fretes são bastante elevados.

c) Pelo fato acima e mais a dispensa de uma máquina e consequentemente de uma operação na fabricação, teríamos uma grande redução no preço de custo do óleo.

Si a medida atraz preconizada for completada pela adubação com a torta de tungue teríamos praticamente alcançado o máximo na questão da restauração do exgotamento.

TORTA DE TUNGUE. COMPOSIÇÃO. CÁLCULO PARA ADUBAÇÃO

A torta de tungue é, na prática, o resíduo que se obtém da extração do óleo das sementes, pois estas, em operação preliminar, foram destituidas do pericarpo.

Submetendo á análise uma amostra de torta, da Companhia Industrial e Agrícola "Boyes" (Piracicaba), onde a extração do óleo, se faz num "Expeller", concluimos ser ela muito semelhante, na sua composição, às demais existentes no mercado.

É a seguinte a sua composição centesimal:

CÁLCULO DE ADUBAÇÃO

Vamos calcular a adubação baseados no exgotamento de P205, elemento mínimo em nossos solos, levando em conta que as cascas dos frutos não voltam para o campo.

Recorrendo ao quadro n. 7 (exgotamento por planta), vemos que para reparar a perda de 0,1027 kgs. de P2O5, devemos empregar 6,131 kgs. de torta por árvore, o que seria viável na prática, si nao ocorressem outros obstáculos, porque em uma produção de 20 quilos por pé, teríamos 10 de casca (50%), 5 de óleo (25%), e 5 de torta (25%).

No caso de calcularmos na base do azoto, necessitamos de 4 quilos de torta, o que seria mais viável.

Em relação ao K20, o cálculo nos mostra ser impossível porque cada planta deveria receber 23 quilos de torta, quando apenas rende 5 quilos. Aqui se evidencia a importância da devolução da casca e, portanto, da vantagem da máquina descascadora portátil, americana. Com o uso desta, 4 quilos de torta reparariam o exgotamento de um planta.

Portanto, a adubação do tungue, com sua própria torta, deve estar ao redor de, no mínimo, 5 quilos por planta, o que corresponde a 1.890 quilos, ou melhor, duas toneladas por alqueire

NOTA : Para maiores detalhes sobre a máquina descascadora referida ver o artigo de J. P. Reed e R. E. Jezek, na revista "A Fazenda", de Junho de 1946. ("A nova descascadora portátil para o fruto do tungue").

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Fev 2013
  • Data do Fascículo
    1946
Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura Av.Páduas Dias, 11, C.P 9 / Piracicaba - São Paulo, Brasil, tel. (019)3429-4486, (019)3429-4401 - Piracicaba - SP - Brazil
E-mail: scientia@esalq.usp.br