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Transportes: Brasil e Alemanha

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt Ernst Weil

Voigt, Fritz; Uelze, Reginald & Schoeps, Wolf gang. Transportes: Brasil e Alemanha. Trabalhos apresentados ao Simpósio Teuto-Brasileiro de Transportes. Trad. técnica, alemãoportuguês, Guilherme F. Naegeli. ed. no Brasil: Centro de Tecnologia e Transporte, São Paulo, 1981; Alemanha: Institut fuer Industrie - und Verkehrspolitik, Bonn, 1981. Brochura, 115 p. bibliografia, ilustrado.

A idéia da realização de um simpósio teuto-brasileiro de transportes foi posta em prática graças à dedicação dos autores do livro e ao apoio de uma grande indústria teuto-brasileira. Eles que conseguiram resultados extraordinários com um orçamento shoestring em inglês ou schnuersenkel em alemão. O simpósio se realizou em duas etapas, a primeira no Brasil e a segunda na Alemanha, sendo que o livro relativo à segunda reunião, publicado em alemão está sendo esperado para breve - com material interessantíssimo, como, por exemplo, sobre o transporte em Carajás.

O livro é dividido em sete capítulos, correspondendo a sete conferencistas - a saber:

1. Efeitos de crescimento e estruturação dos sistemas de transportes - Prof. Fritz Voigt.

2. Estrutura, organização e instituições de transporte no Brasil - Prof. Reginald Uelze.

3. Metas gerais e posição atual da pesquisa sobre transporte à curta distância na República Federal Alemã - Stefan Rommerskirchen.

4. Estrutura das instituições de transportes na Alemanha - Wolfgang Schoeps.

5. Conceitos para avaliação da qualidade dos efeitos de crescimento e estruturação de investimentos de transportes - Profs. Rommerskirchem e Witte.

6. Efeitos de concorrência e de substituição de sistemas de transporte -Peter Brock.

7. A privatização da operação do setor de transportes coletivos como objetivo nacional permanente - Prof. Daniel Soriani dos Santos.

Os professores brasileiros, Schoeps, Uelze e Soriani estão aparentemente muito mais ligados à prática, à execução e à realidade do transporte, enquanto os correspondentes alemães me parecem ser muito mais acadêmicos, isto é, voltados à abstração, à verdade pura e à conceituação. Desta maneira, torna-se fácil entender a dificuldade de se criticar um livro que reúne conferências e que trata de transportes de curta e, diremos no Brasil, média distâncias (o que é média distância no Brasil cobre a Alemanha de um extremo a outro). Minha observação acima é exemplificada pelo artigo do Prof. Rommerskirchen, que analisa o transporte à curta distância, caracterizando-o e esquematizando-o a partir de um gráfico de Frenzel - 1976 - com táxi, automóvel particular, ônibus, bonde, metrô e calçada deslizante (um sonho nosso do tempo do Prefeito Prestes Maia em São Paulo, salvo engano de época). O autor esquematiza, abstrai, mas não deixa de mostrar a linha suspensa já experimental na Alemanha, suas modalidades e seus detalhes. O artigo, portanto, é uma introdução ao sistema - contrário ao do Prof. Schoeps, que trata de custos, de distribuição intermodal entre caminhões, ferrovias etc, e finalmente de fretes e tarifas - enfim o lado prático.

Da mesma maneira, os dois primeiros capítulos são a introdução dessa teoria, pelo Prof. Voigt, uma das maiores autoridades no mundo atual dessa matéria, e a história do transporte no Brasil pelo Prof. Uelze, que na realidade tomou parte ativa nessa história nos dias atuais.

Uma análise das vantagens e desvantagens de privatizar as linhas de transporte e os transportes é realizada pelo Prof. Soriani que, além de economista, esteve sempre ligado ao meio empresarial no Banco do Estado de São Paulo e suas afiliadas. Suas demonstrações sobre o déficit da Cia. Municipal de Transportes Coletivos de São Paulo (CMTC), como exemplo da estatização, talvez pequem por serem óbvias demais, pois qual é a empresa estatal em transportes, no mundo, que não dá prejuízo? No entanto, ao lado da CMTC existem empresas particulares que têm lucro - mas não se especifica como foi conseguido esse lucro.

Finalmente, um artigo bem teórico, ao gosto dos alemães, é o dos Profs. Witte e Rommerskirchen sobre estruturação de investimentos de transportes, que trata da influência no custo do produto, do custo de transportes, em conseqüência dos investimentos feitos para barateá-lo. O artigo de concorrência do Prof. Brock é descritivo e moderno, tratando dos meios comuns de transportes (rodovia, ferrovia, curta e longa distância etc.) e seu desenvolvimento.

O livro não tem índice remissivo, pois isso é dificílimo em uma série de conferências - mas a bibliografia é boa - lamentando-se somente que uma pesquisa como a do Prof. Uelze, sobre a história do transporte no Brasil, tenha bibliografia especial só no rodapé e não separadamente para estudiosos. Quanto à utilidade do livro, basta verificar a enumeração dos capítulos. É uma ótima leitura correlata em cursos de transportes e tarifação do nível de graduação e pós-graduação no Brasil. Possui boa apresentação gráfica e está isento de erros de tradução. Muito interessante e recomendável.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1981
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