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Asian drama, an inquiry intó the poverty of nations

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Asian drama, an inquiry intó the poverty of nations

Raimar Richers

ASIAN DRAMA, AN INQUIRY INTÓ THE POVERTY OF NATIONS, Volumes I, II e III - Por GUNNAR MYRDAL, Middlesex, Inglaterra, 1968, XXX + 2284 páginas (75' -)). Publicação simultânea com Twentieth Century Fund (edição encadernada: US$ 25.00), Nova Iorque e Panhteon Books (brochura: US$ 8.50), Nova Iorque, 1968.

Apesar das substanciais diferenças étnicas, ecológicas e sobretudo culturais, a sociedade sul-asiática apresenta características surpreendentemente similares à estrutura social latino-americana. É esta uma das impressões que se impõem ao leitor do nosso hemisfério ao estudar esta obra fascinante: O Drama Asiático, de GUNNAR MYRDAL.

Fruto de um esforço decenal, Asian Drama não é apenas uma brilhante interpretação dos problemas econômicos que afligem os onze países da Ásia do Sul mas, sobretudo, uma tentativa de análise multidimensional aplicável, em tese, a qualquer região subdesenvolvida e que opera não só com instrumentos econômicos, mas também com dimensões sociológicas, antropológicas, políticas, históricas, semânticas, religiosas e filosóficas. No entanto, sua leitura não é pesada, graças ao estilo preciso e transparente do autor.

Presunçoso seria querer resumir uma obra dêsse vulto numa breve resenha. Preferimos expor sua principal tese e dela extrapolar algumas considerações.

MYRDAL afirma que a situação de qualquer país deve ser encarada como um sistema social, "composto de um grande número de condições de inter-relação causal no sentido de que a mudança de uma das condições provoque uma mudança nas outras" (p. 1859-60). Essas condições abrangem as seguintes seis categorias: produção e rendas; condições de produção; níveis de vida; atitudes frente à vida e ao trabalho; instituições e diretrizes. Uma mudança dinamizante de qualquer uma destas condições resulta num efeito tanto independente, quanto instrumental para o desenvolvimento. Assim, por exemplo, uma mudança para cima de atitudes frente ao trabalho beneficia não só o trabalho em si, mas provoca também uma mudança positiva nas condições de produção e em todos os outros componentes do sistema social. Todavia, nos países subdesenvolvidos, a estrutura vigente não muda espontáneamente em função de medidas isoladas aplicadas no setor econômico (como, por exemplo, um investimento), mas somente quando da introdução de medidas paralelas que visam também às mudanças institucionais e, particularmente, atitudinais da população, de grupos sociais e/ou do estado.

MYRDAL acredita que as principais barreiras ao desenvolvimento da Ásia do Sul não são tanto a baixa formação de capital mas, acima de tudo "o baixo grau de participação popular e uma rígida estratificação não igualitária" (p. 1863), bem como uma série de atitudes impeditivas ao estímulo desenvolvimentista, como a falta de disciplina, de perspicácia, de pontualidade, de ambição, de cooperação e de muitos outros fatores valorativos das sociedades geralmente denominadas tradicionais pelos sociólogos.

Compreensível é, pois, a intensa preocupação de MYRDAL para com o aproveitamento da mão-de-obra nos países subdesenvolvidos, a qual, na sua opinião, é uma função da eficiência qualitativa do trabalho, ou seja, do "vigor físico e mental" do operário, além da interrelação dos seguintes quatro fatores: a distribuição ocupacional da fôrça de trabalho, dos recursos naturais, dos recursos de capital e da tecnologia (p. 1012-16).

De acordo com MYRDAL, o principal dilema da fôrça de trabalho e do próprio desenvolvimento da Ásia do Sul, consiste na falta de participação ativa da população no processo de modernização, o que o leva a formular a seguinte recomendação: "O ponto essencial é que o âmbito do planejamento não seja limitado àqueles que reagem a uma oportunidade de trabalho,. .. mas que seja estendido de tal maneira ao levantamento dos níveis de vida, da saúde, da resistência humana e sobretudo às modificações das instituições e atitudes e ao aumento da mobilidade, que mais pessoas sejam preparadas a participar (da fôrça de trabalho)" (p. 1015).

Assim, despida de sua indumentária rica e altamente imaginativa, surge uma tese simples mas convincente: é preciso fazer com que o homem do mundo subdesenvolvido se torne capaz de se aproveitar racionalmente dos recursos em potencial que o rodeiam e sobretudo da sua capacidade ingénita de produzir. O problema é: como?

MYRDAL luta com êsse problema sem contudo encontrar uma solução satisfatória. Talvez seja esta a razão porque paira sôbre esta obra monumental uma nuvem de resignação e de pessimismo, que se reflete em repetidas tentativas de reformulação das idéias centrais e em ataques irredutíveis à quase que totalidade das teorias modernas do desenvolvimento.

Não que êsses ataques sejam infundados. Antes pelo contrário: possivelmente a maior contribuição de MYRDAL ao progresso das teorias do desenvolvimento, em geral, resulta da sua coragem e firmeza ao desmascarar as premissas das teorias existentes, precárias e incompatíveis com a realidade dos países em desenvolvimento, sobretudo quando diretamente derivadas de condições vigentes nos países altamente industrializados e secularizados, sem a devida base de investigação e pesquisa local.

No entanto, MYRDAL quase não ousa avançar além do discernimento crítico das teorias predominantes, procurando extrair-lhes conclusões que o levariam talvez não só a uma nova visão da problemática do subdesenvolvimento, mas também a algumas das suas chaves e alguns princípios de reformulação. Por exemplo, surpreende-nos o fato de que um autor tão sensível aos obstáculos sociais e culturais do subdesenvolvimento, não se aventure a formular uma tese interdisciplinar que se aproveite das noções, precárias que sejam, das múltiplas teorias hoje existentes sôbre o comportamento humano, conjugandoas aos seus profundos conhecimentos das condições sócio-econômicas vigentes nos países da Ásia do Sul.

Todavia, manifestar esta limitação à gigantesca obra de MYRDAL é incomparàvelmente mais fácil do que transformá-la em princípios e diretrizes e, sobretudo, num sistema integrado interdisciplinar de que tanto carece a teoria do desenvolvimento.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jul 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1969
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