RELATO DE SUSTENTABILIDADE NA CADEIA DE SUPRIMENTOS NO SUL GLOBAL: O PAPEL DO FINANCIAMENTO

Lins, Rodrigo Freire; Erthal, Alice; Marques, Leonardo

doi:10.1590/S0034-759020230204x

Acessibilidade / Reportar erro

Brasil

Revista de Administração de Empresas

Español English

Brasil

Español English

sumário « anterior atual seguinte »

Sumário

ARTIGOS • Rev. adm. empres. 63 (2) • 2023 • https://doi.org/10.1590/S0034-759020230204x copiar

RELATO DE SUSTENTABILIDADE NA CADEIA DE SUPRIMENTOS NO SUL GLOBAL: O PAPEL DO FINANCIAMENTO

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Empresas lidam com a crescente pressão de stakeholders diversos para divulgar não apenas suas práticas sustentáveis, mas também a sustentabilidade da sua cadeia de suprimentos (SCS). No entanto, a forma pela qual as pressões de stakeholders são moldadas no Sul Global – caracterizado por vazios institucionais (contratação, terceirização e frágil aplicação da legislação) – é um fenômeno que tem recebido menos atenção da literatura. O estudo mapeia quais pressões de stakeholders estão associadas à divulgação de relatórios de SCS analisando um painel de dados não balanceado de 220 relatórios de sustentabilidade corporativa de 2016 a 2018 por empresas brasileiras de capital aberto. Os resultados mostram que acionistas e credores orientados para o longo prazo, o porte da empresa e a adoção da estrutura do GRI estão associados a níveis mais altos de divulgação de relatórios de SCS, enquanto as pressões públicas e regulatórias não estão associadas da mesma forma, o que embasa a lógica de vazios institucionais. Na ausência de pressões regulatórias, fontes de financiamento de longo prazo e acesso a recursos parecem emergir em associação à divulgação de relatórios de SCS.

Palavras-chaves:
Sustentabilidade na cadeia de suprimentos; transparência; divulgação de relatórios; stakeholder; global reporting initiative

		Relatórios por Ano
Setor	Número de empresas	2016	2017	2018	Total de relatórios
Bancos, finanças diversas e seguros	17	14	15	16	45
Processamento de alimentos e bebidas	6	5	6	6	17
Petróleo e gás	5	5	5	4	14
Varejo	6	4	5	5	14
Produção de alimentos de origem agrícola e animal	4	4	4	4	12
Produtos florestais e de papel	5	4	5	3	12
Mineração	5	3	5	4	12
Serviços de telecomunicações	4	4	4	4	12
Automóveis e componentes	5	3	4	2	9
Produtos duráveis de consumo doméstico e pessoal	3	2	3	3	8
Serviços de educação	4	2	2	4	8
Biotecnologia farmacêutica e ciências da vida	3	3	3	2	8
Transporte terrestre por trilhos e rodovias	2	2	2	2	6
Produtos químicos	2	2	2	1	5
Engenharia de construção e construção de habitações	3	3	1	1	5
Materiais e produtos para construção	2	2	2	1	5
Transporte terrestre por caminhões	2	1	2	2	5
Equipamentos elétricos e usinagem	2	1	2	1	4
Varejo de alimentos e produtos básicos para consumidores	2	1	1	2	4
Defesa e aeroespacial	1	1	1	1	3
Companhias de transporte aéreo	1	1	1	1	3
Tecnologia de equipamentos e semicondutores	1	1	1	1	3
Empresas comerciais e distribuidoras de serviços e suprimentos	1	1	1	1	3
Têxtil, vestuário, calçados e artigos de luxo	1	1	1	-	2
Serviços profissionais	1	-	-	1	1
Total	88	70	78	72	220

Variável independente	Termo Utilizado	Nível da Análise	Proxy	Cálculo	Referência / Fonte
Pressão dos Clientes	Cliente	Setor da indústria	1 se setor de proximidade ao consumidor, 0 caso contrário	Setores de proximidade ao consumidor: serviços públicos de energia, serviços financeiros, saúde, produtos domésticos e pessoais, gerenciamento de resíduos, varejistas, telecomunicações, têxteis e vestuário, produtos de alimentos e bebidas e serviços públicos de água	Fernandez-Feijoo et al. (2014)Fernandez-Feijoo, B., Romero, S., & Ruiz, S. (2014). Effect of stakeholders’ pressure on transparency of sustainability reports within the GRI framework. Journal of Business Ethics, 122(1), 53-63. https://doi.org/10.1007/s10551-013-1748-5 https://doi.org/10.1007/s10551-013-1748-... ; Sweeney e Coughlan (2008)Sweeney, L., & Coughlan, J. (2008). Do different industries report corporate social responsibility differently? An investigation through the lens of stakeholder theory. Journal of Marketing Communications, 14(2), 113-124. https://doi.org/10.1080/13527260701856657 https://doi.org/10.1080/1352726070185665... ; Vitolla et al. (2019)Vitolla, F., Raimo, N., Rubino, M., & Garzoni, A. (2019). How pressure from stakeholders affects integrated reporting quality. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 26(6), 1591-1606. https://doi.org/10.1002/csr.1850 https://doi.org/10.1002/csr.1850...
Pressão de ONGs ambientais	ONGAmb	Setor da indústria	1 se setor ambientalmente sensível, 0 caso contrário	Setores da indústria passíveis de impacto ambiental: agricultura, automotiva, química, construção, materiais de construção, energia (petróleo e gás), serviços públicos de energia, produtos florestais e de papel, produtos metálicos, mineração, têxteis e vestuário e serviços públicos de água	Branco e Rodrigues (2008); Fernandez-Feijoo et al. (2014)Fernandez-Feijoo, B., Romero, S., & Ruiz, S. (2014). Effect of stakeholders’ pressure on transparency of sustainability reports within the GRI framework. Journal of Business Ethics, 122(1), 53-63. https://doi.org/10.1007/s10551-013-1748-5 https://doi.org/10.1007/s10551-013-1748-... ; Huang e Kung (2010)Huang, C. L., & Kung, F. H. (2010). Drivers of environmental disclosure and stakeholder expectation: Evidence from Taiwan. Journal of Business Ethics, 96(3), 435-451. https://doi.org/10.1007/s10551-010-0476-3 https://doi.org/10.1007/s10551-010-0476-... ; Kuzey e Uyar (2017)Kuzey, C., & Uyar, A. (2017). Determinants of sustainability reporting and its impact on firm value: Evidence from the emerging market of Turkey. Journal of Cleaner Production, 143, 27-39. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.12.153 https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.1... ; Okongwu et al. (2013)Okongwu, U., Morimoto, R., & Lauras, M. (2013). The maturity of supply chain sustainability disclosure from a continuous improvement perspective. International Journal of Productivity and Performance Management, 62(8), 827-855. https://doi.org/10.1108/IJPPM-02-2013-0032 https://doi.org/10.1108/IJPPM-02-2013-00... ; Sweeney e Coughlan (2008)Sweeney, L., & Coughlan, J. (2008). Do different industries report corporate social responsibility differently? An investigation through the lens of stakeholder theory. Journal of Marketing Communications, 14(2), 113-124. https://doi.org/10.1080/13527260701856657 https://doi.org/10.1080/1352726070185665... ; Vitolla et al. (2019)Vitolla, F., Raimo, N., Rubino, M., & Garzoni, A. (2019). How pressure from stakeholders affects integrated reporting quality. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 26(6), 1591-1606. https://doi.org/10.1002/csr.1850 https://doi.org/10.1002/csr.1850...
Pressão de ONGs sociais	ONGSoc	Setor da indústria	1 para indústrias com o maior número de pessoas resgatadas da escravidão moderna trabalhando, 0 caso contrário	Indústrias modernas com recorrentes casos de escravidão: agricultura, construção, produtos florestais e de papel, mineração, têxteis e vestuário	Repórter Brasil (n.d.); SmartLab MPT/OIT (2017)SmartLab MPT/OIT. (2017). Observatorio digital do trabalho escravo no Brasil (Vol. 1). Recuperado de https://smartlabbr.org/escravo-v1/ https://smartlabbr.org/escravo-v1/... ; The Minderoo Foundation (2018)The Minderoo Foundation. (2018). The global slavery index. Recuperado de https://www.globalslaveryindex.org/resources/downloads/ https://www.globalslaveryindex.org/resou...
Pressão dos Acionistas	Acionista	Empresa	1 se membro do ISE durante o ano, 0 caso contrário	Lista de índice ISE	B3 (n.d.)B3. (n.d.). O que é o ISE B3. Recuperado de http://iseb3.com.br/o-que-e-o-ise http://iseb3.com.br/o-que-e-o-ise...
Pressão dos Credores	Credor	Empresa	Dívida de longo prazo	Relação dívida de longo prazo/ patrimônio	Economática
Pressão Ambiental do Governo	GovAmb	Empresa	1 se a empresa sofreu alguma multa aplicada pelo IBAMA durante o ano, 0 caso contrário	O IBAMA é um instituto brasileiro responsável por monitorar e fiscalizar as atividades ambientais e exercer políticas nacionais sobre questões ambientais	Huang e Kung (2010)Huang, C. L., & Kung, F. H. (2010). Drivers of environmental disclosure and stakeholder expectation: Evidence from Taiwan. Journal of Business Ethics, 96(3), 435-451. https://doi.org/10.1007/s10551-010-0476-3 https://doi.org/10.1007/s10551-010-0476-... Data - IBAMA (n.d.)
Pressão Social do Governo	GovSoc	Setor da indústria	Logaritmo natural do número de multas aplicadas devido a penalidades trabalhistas por ano	Multas aplicadas devido a multas trabalhistas por ano	Ministério da Economia do Brasil (s.d.).
Pressão dos Colaboradores	Colaborador	Setor da indústria	Taxa de adesão ao sindicato (%) por ano	Informações fornecidas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD - 2018), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)	IBGE (2019)
Adoção GRI	GRI	Empresa	1 se relatório baseado em GRI, 0 caso contrário	Relatórios de sustentabilidade corporativa	Kuzey e Uyar (2017)Kuzey, C., & Uyar, A. (2017). Determinants of sustainability reporting and its impact on firm value: Evidence from the emerging market of Turkey. Journal of Cleaner Production, 143, 27-39. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.12.153 https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.1... ; Tran e Beddewela (2020)Tran, M., & Beddewela, E. (2020). Does context matter for sustainability disclosure? Institutional factors in Southeast Asia. Business Ethics, 29(2), 282-302. https://doi.org/10.1111/beer.12265 https://doi.org/10.1111/beer.12265...
Porte da empresa	Porte	Empresa	Logaritmo natural do total de colaboradores	Colaboradores no relatório	Gamerschlag et al. (2011)Gamerschlag, R., Möller, K., & Verbeeten, F. (2011). Determinants of voluntary CSR disclosure: Empirical evidence from Germany. Review of Managerial Science, 5(2), 233-262. https://doi.org/10.1007/s11846-010-0052-3 https://doi.org/10.1007/s11846-010-0052-... ; Lo et al. (2014)Lo, C. K. Y., Pagell, M., Fan, D., Wiengarten, F., & Yeung, A. C. L. (2014). OHSAS 18001 certification and operating performance: The role of complexity and coupling. Journal of Operations Management, 32(5), 268-280. https://doi.org/10.1016/j.jom.2014.04.004 https://doi.org/10.1016/j.jom.2014.04.00... Dados - Sites corporativos/ relatórios de sustentabilidade
Ano 2016	Ano_2016	Empresa	1 se a empresa reportou em 2016, 0 caso contrário	Ano da divulgação	Relatórios de sustentabilidade corporativa
Ano 2017	Ano_2017	Empresa	1 se a empresa reportou em 2017, 0 caso contrário	Ano da divulgação	Relatórios de sustentabilidade corporativa
Ano 2018	Ano_2018	Empresa	1 se a empresa reportou em 2018, 0 caso contrário	Ano da divulgação	Relatórios de sustentabilidade corporativa

Variáveis	Mínimo	Média	Mediana	Máxima	Desvio Padrão
MençõesCS	0,00	3,66	3,81	5,74	1,10
Cliente	0,00	0,50	0,50	1,00	0,50
ONGAmb	0,00	0,42	0,00	1,00	0,50
ONGSoc	0,00	0,27	0,00	1,00	0,45
Acionista	0,00	0,25	0,00	1,00	0,44
Credor	-23,70	1,92	0,92	110,96	7,96
GovAmb	0,00	0,25	0,00	1,00	0,44
GovSoc	7,50	9,32	9,27	11,18	1,28
Colaboradores	0,05	0,17	0,17	0,24	0,04
GRI	0,00	0,83	1,00	1,00	0,37
Porte	4,83	9,18	9,45	12,80	1,61

	MQO Agrupados			Efeitos Fixos			Efeitos Aleatórios
	Coeficiente	Erro Padrão	p-valor	Coeficiente	Erro Padrão	p-valor	Coeficiente	Erro Padrão	p-valor
Interceptador	0,652	0,67	0.333	-	-	-	0,75	0.92	0.415
Cliente	0,021	0,12	0.863	-	-	-	0,015	0.18	0.936
ONGSoc	0.390***	0,13	0.004	-	-	-	0.378*	0,2	0.060
Acionista	0.359***	0,14	0.010	0.468*	0,24	0.056	0.415**	0,16	0.011
Credor	0,006	0,01	0.400	0.007*	0.00	0.063	0.007*	0.00	0.069
GovAmb	0,061	0,13	0.644	0,041	0.10	0.686	0,048	0.09	0.600
GovSoc	0,007	0,05	0.878	-0.061	0,18	0.732	0,017	0,07	0.794
Colaboradores	-2.271	1.83	0.216	1,459	6.78	0.830	-1.573	2,38	0.508
GRI	1.484***	0,15	0.000	-0.217	0,47	0.643	1.196***	0.20	0.000
Porte	0.198***	0,04	0.000	0.046	0,28	0.868	0.188***	0,05	0.000
Ano_2016	0,07	0,15	0.632	-0,06	0,24	0.803	0,09	0.10	0.366
Ano_2017	0,034	0,14	0.810	-0,056	0.18	0.762	0,036	0,09	0.684
Adj R²	45,76%			0,00%			27,71%
F-estatístico (p-valor)	17.80 (0.000)			0.96 (0.477)			80.81 (0.000)

	Efeitos Aleatórios
	Coeficiente	Erro Padrão	p-valor
Interceptador	0,75	0,86	0.386
Cliente	0,015	0,17	0.931
ONGSoc	0.378**	0,17	0.023
Acionista	0.415**	0,17	0.015
Credor	0.007***	0.00	0.000
GovAmb	0,048	0,07	0.517
GovSoc	0,017	0,06	0.782
Colaboradores	-1.573	2.13	0.460
GRI	1.196***	0,32	0.000
Porte	0.188***	0,05	0.000
Ano_2016	0,09	0,09	0.319
Ano_2017	0,036	0,08	0.670
Adj R²	27,71%
F-estatístico (p-valor)	257.77 (0.000)

Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br

Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS

[1] *Autor correspondente