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A reconstrução humana: o outro lado da comunicação de massas

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

A reconstrução humana - o outro lado da comunicação de massas

José Carlos Garcia Durand

A RECONSTRUÇÃO HUMANA - O OUTRO LADO DA COMUNICAÇÃO DE MASSAS

Por Murillo Nunes de Azevedo. Editôra Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1971.

N'O homem medíocre, José Ingenieros lastima a triste sina dos que sucumbem à rotina do cotidiano. Murillo Nunes de Azevedo, muitos anos depois, faz o mesmo. E daí? Será que ainda é necessário fazê-lo? Será que ainda comove a alguém a denúncia pura e simples dos efeitos alienadores dos meios de comunicação de massa a serviço do consumo ou da manutenção do poder político? O assunto fica bem, hoje em dia, como tema de música ou de poesia; mas, como assunto de análise crítica, convenhamos, há-de se ir adiante. E o autor não vai. Quando tenta, lança mão de princípios do budismo e defende a introspecção, praticada com base nas posições físicas da ioga, como meio de o homem livrar-se dos estímulos condicionantes ambientais, dos fatores de irritabilidade, e descobrir a paz interior; de encontrar-se, enfim, consigo próprio. Mas o budismo não é apresentado de forma sistemática, como filosofia. Dele ficamos sabendo apenas que não é "uma religião no sentido estreito do têrmo, e sim uma arte de viver, que pode ser aplicada por cada um dentro de sua religião particular" (p. 129); arte de viver que consiste em sentir o "aqui e agora". O autor não foge a preocupação prática - que tanto notabilizou Dale Carnegie nos círculos leigos - de Como evitar preocupações e começar a viver, e nem mesmo falta-lhe o arrolamento de regras para ser feliz, a que êle chama estágios da integração, a prática da compreensão correta, do pensamento correto, da palavra correta, da ação correta, do modo de vida correto, do esforço correto, da atenção correta, para finalizar na integração, em que a comunicação é possível pois o sujeito emissor e o sujeito receptor removeram as barreiras do condicionamento social e encontraram a paz interior.

Nosso desconhecimento da filosofia budista, que não é suprido na obra, não nos permite apreciar a fidelidade do autor à mesma, porém, é forçoso reconhecer que no ecletismo da sua formação intelectual (engenheiro de transportes, interessado em psicologia e comunicação de massas como revelam suas citações, e monge budista) acabou prevalecendo certo pragmatismo ingênuo do racionalismo ocidental, que supõe a felicidade suprema como um objetivo atingível por regras enunciáveis no discurso verbal.

Discordamos da apresentação de Mariano Torres, segundo a qual o autor, "valendo-se dos postulados básicos da filosofia oriental - ao expor, debater e criticar as teorias massificantes - defende a meditação budística como a única forma de resolver a angústia existencial e fazer reviver as criaturas humanas". Em verdade, não há críticas a teorias massificantes, mas apenas ao que há de mais visível na massificação, que é a manifestação da personalidade êstereotipada. A rigor, o que a obra não revela é o terceiro lado do processo de massificação, ou sejam os fatores estruturais e o jogo de interêsses que determinam, perspectiva necessária a quem pretenda hoje discutir comunicação. Além disso, o autor parece não dar conta de que a angústia existencial é emoção típica daquêles que fugiram ao padrão convencional de homem moderno a que o pessimista sociólogo Wright Mills chama robô alegre.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1972
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