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Migración y marginalidad en la republica Argentina

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Migración y marginalidad en la republica Argentina

Por MÁRIO MARGULIS. Buenos Aires, Editorial Paidós, 1968, 207 páginas.

O processo de urbanização que vem ocorrendo na América Latina, nos últimos trinta anos é produto: a) do crescimento demográfico e b) de movimentos imigratórios intra-nacionais.

Entretanto, nem esses fenômenos causais nem os efeitos da urbanização têm sido objeto de numerosos estudos sociológicos.

O trabalho de MARGULIS vem, portanto, ajudar a preencher essa lacuna, pois é, ao mesmo tempo, um estudo sobre as causas da emigração campo-cidade e das conseqüências de tal processo.

MARGULIS demonstra, em primeiro lugar, que o processo de emigração campo-cidade, na Argentina, é produto da falta de trabalho no meio rural combinada com um profundo desalento, desvalorização da vida comunal e idealização da cidade. Esta última causa da emigração é basicamente produzida pelo acesso a meios de comunicação de massas, como o rádio, jornais e revistas. Além disso, contatos entre parentes e amigos, muitos dos quais vivem em cidades grandes, colaboram para tal idealização.

Em segundo lugar, MARGULIS investiga os efeitos da emigração e demonstra que os emigrantes são pessoas pobres, cujo nível econômico melhora consideravelmente com a vinda para a cidade. Essa melhoria se traduz sobretudo em uma renda monetária regular, em um melhor nível alimentar, no vestuário e na possibilidade de participar de certas comodidades que a vida urbana proporciona.

Do ponto de vista econômico, portanto, o estudo de MARGULIS serve para demonstrar que não há marginalidade no processo de urbanização . Muito pelo contrário, quem fica no campo, tende a se marginalizar econômicamente.

Entretanto, segundo MARGULIS, OS emigrantes para a cidade grande tendem a se segregar ecòlogicamente, permanecendo em favelas, na periferia da cidade. A essa segregação ecológica corresponde outra, social, que se evidencia por uma grande freqüência de integração intragrupal e pouco contato com os nativos da grande cidade.

Em outras palavras, os emigrantes reconstroem parcialmente na cidade a vida comunal característica do meio rural. Assim, as relações familiares, as visitas entre amigos e a ausência de idas ao centro da cidade, ao cinema e ao teatro ilustram essa tendência a uma vida endogânica.

Segundo MARGULIS, êste processo de reconstrução comunal é um mecanismo que mitiga o saldo normativo realizado pelo emigrante. Para defender-se do impacto desorganizador do meio urbano em sua personalidade, o emigrante afirma a sua identidade provinciana, conservando os laços efetivos, estabelecendo vínculos primários com grupos de camponeses, enquistando-sc em relação aos grupos propriamente urbanos e tendo como grupo de referência a comunidade rural de origem.

É nesse sentido que MARGULIS afirma que o emigrante é marginal. Mas o leitor atento fica em dúvida sôbre o significado dessa palavra tal como ela É empregada por MARGULIS . A não marginalidade ou a integração na sociedade urbana significaria, segundo o próprio MARGULIS, uma desintegração (e, portanto, marginalização) da personalidade do emigrante. Êle, para evitar tal desintegração segrega-se e reorganiza-se. Tais mecanismos constituem, na realidade, um processo adaptativo eficiente ao sistema urbano. Marginalização, por sua vez, significa desadaptação. Como resolver essas contradições? O sociólogo argentino não fornece pistas para a resolução desse problema.

O livro de MARGULIS vem, entretanto, demonstrar, mais uma vez, que formulações teóricas como as de PARSOM, WIRTH e REDFIELD, baseadas na existência de um continuum rural-urbano são altamente mistificadoras da realidade social. A grande cidade é um sistema altamente complexo que permite cm seu bojo a existência de formas organizacionais típicas de um meio pré-urbano. Afirmar, portanto, que a cidade não possibilita a existência de grupos primários, é sociologicamente errado.

MANOEL TOSTA BERLINCK

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 1970
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