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Intelectual vê novela?

Intelectual vê novela?

"Intelectual não vai à praia, intelectual bebe." Esta frase do jornalista Carlinhos de Oliveira entrou para o folclore nacional no final dos anos 60 e, volta e meia, é relembrada a propósito de outros temas que, tradicionalmente, as nossas elites pensantes vêem com reservas. É o caso da novela de televisão. Alienação, perda de tempo, instrumento imperialista, arte menor são expressões que, ao longo dos anos, vêm sendo relacionadas a esse gênero de programa.

Nos últimos tempos, a crítica e os homens de TV dizem que a novela está começando a atingir uma faixa de público mais diferenciada. Será verdade? Marília Garcia e Marijane Lisboa, de LUA NOVA, procuraram uma série de intelectuais, artistas e políticos e fizeram a seguinte pergunta: "Você vê novela de televisão?".

José Arthur Gianotti, filósofo e professor universitário, 55 anos.

Vejo novela, sempre, qualquer novela das sete horas, porque é o único jeito de ficar sossegado com meu filho, enquanto esperamos o jantar.

Luís Inácio Lula da Silva, político e dirigente sindical, 39 anos. Nunca. Houve um tempo em que eu via O Bem Amado. Mas, hoje, não tem mais disso não.

Roque Aparecido da Silva, sociólogo e ex-dirigente sindical, 38 anos.

Nunca vi um capítulo inteiro. Aquela água-com-açúcar, aquela lengalenga, me incomoda. Eu não tenho saco de ficar sentado vendo.

Zita Carvalhosa, cineasta, 25 anos.

Vejo. Acompanhei a última do horário das 7 horas. É importante ver TV para saber o que está acontecendo.

Lídia Goldenstein, economista, 30 anos.

É intermitente. Faço força para não assistir, porque vicia. É uma coisa de desligar, descansar.

Carmem Junqueira, antropóloga, 45 anos.

Não vejo, porque não tenho paciência. Isso de vir cada dia um pouco, me enerva; gosto de coisas rápidas! Além disso, em grande parte dos horários de novela, estou na Universidade, dando aula. Mas minha filha via as Veredas Tropicais e gostava muito.

Octavio Ianni, sociólogo, 58 anos.

Não gostaria de falar sobre novela, em uma entrevista deste tipo, sem poder desenvolver uma discussão maior sobre o tema.

Margarida Genevois, presidente da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, 59 anos.

Muito pouco. Mas vendo uma vez por semana dá pra acompanhar... Vejo sempre com espírito crítico, o que atrapalha. Mas não há dúvida de que distrai.

André Singer, jornalista, 26 anos.

Nesse horário estou no jornal, mas quando estou em casa assisto. Gosto das novelas do horário das 7; têm passagens engraçadas, principalmente quando a história se passa em São Paulo.

Rodrigo de Andrade, artista plástico, 23 anos.

Vejo raramente. Para descansar.

Marco Antônio Rocha, comentarista econômico, 49 anos.

Às vezes. Não sou um habitué. Gosto mais das do horário das 7, que encontraram um caminho alternativo através da comédia de costumes.

José Ângelo Gaiarsa, psiquiatra, 64 anos.

Raramente. Novela não me toca muito. Vejo por interesse quase científico, para me informar do que o povo brasileiro está vendo.

Irma Passoni, deputada federal, 41 anos.

Dificilmente. Mais por não ter o que ver. Questiono um padrão de vida que eles passam para o povo e não tem nada a ver com a realidade.

Fernando Gabeira, escritor, 41 anos.

Não vejo. Ando muito complicado de tempo. De vez em quando ligo a TV na hora da novela. Aí, olho com prazer e ouço com desprazer.

Maria da Conceição Tavares, economista, 54 anos.

Vejo de vez em quando para relaxar. A maquininha de fazer doido tem efeito relaxante para mim, com exceção dos noticiários. Novela é bom, porque é tão fora do mundo real!

Sílvia Pimentel, advogada, 44 anos.

Tenho outras prioridades: leitura, música clássica. Desenvolvi um preconceito contra a TV como um todo, não especificamente contra a novela. Mas meus filhos vêem a novelinha das 7 e de vez em quando sento com eles, só para estar junto.

Rogê Ferreira, advogado e político, 59 anos.

Assisto sempre. É difícil ver regularmente, mas sempre escolho a melhor delas e acompanho como posso. Agora estou acompanhando Corpo a Corpo. Novela é interessante, é uma digressão sobre as coisas da vida. Crítica de novela é pedantismo de muito intelectual.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 1985
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