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Editorial

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EDITORIAL

A pesquisa e o ensino de Química são atividades muito interessantes no Brasil de hoje. Isto é devido à situação positiva da indústria química brasileira, que se soma aos desafios intelectuais intrínsecos à Química. A webpage da Abiquim traz informações muito positivas: em 2004 a produção brasileira atingiu 59,4 bilhões de dólares americanos, com um substancial crescimento sobre 2003. No primeiro bimestre de 2005, as exportações químicas aumentaram mais de 50% (mas o deficit de comércio exterior atingiu 1,1 US$B, no mesmo período). As previsões são favoráveis, pelo menos até 2006.

As perspectivas atuais da indústria química também são positivas em muitos outros países e as previsões para a economia brasileira são geralmente positivas. Entretanto, a atual situação da indústria química brasileira não é uma simples conseqüência destes fatos.

Examinando dados de produção desde 1990, fica claro que o choque da temerária "abertura" do início dos anos 90 foi superado pelo setor químico (mas não podemos esquecer os grandes desastres e perdas que o setor sofreu naquele período). O setor químico cresceu continuamente nos últimos dez anos, incluindo os períodos difíceis de 1998 e 2002, quando outros setores passaram por grandes problemas.Resumindo, faz sentido ensinar aos estudantes de Química e Engenharia Química, porque há empregos e existe mesmo uma crescente demanda por pós-graduados, na indústria. A indústria química brasileira já se diferencia de muitos outros setores porque ela emprega pós-graduados e esta diferença parece estar crescendo. Também faz sentido fazer pesquisa, porque a indústria tem sido capaz de inovar, criando e melhorando produtos e processos que a tornam mundialmente competitiva. Faz-se hoje no Brasil pesquisa, desenvolvimento e inovação significativos, em empresas brasileiras e também em empresas transnacionais.

Inovação é hoje um assunto em debate aberto, no Brasil. Observamos que o debate é dominado pela repetição de afirmações negativas e deprimentes, a respeito da nossa capacidade de inovar. Algumas dessas afirmações foram erigidas em dogmas mas elas foram criadas por pessoas ligadas a setores pródigos em fiascos no Brasil, especialmente o setor de semicondutores-microeletrônica e tecnologias de informação.

Nós químicos não devemos disseminar estes dogmas. Faremos muito melhor se anunciarmos que este país é hoje o único, no mundo, que produz combustível líquido a partir de fontes renováveis a preços competitivos com os dos derivados de petróleo e sem qualquer subsídio. Em 2005, quase toda a indústria automobilística brasileira produz carros "flex" que podem utilizar álcool ou gasolina, indistintamente. O proprietário do auto escolhe o combustível cada vez que abastece e a preferência pelo álcool é óbvia. Essa é uma enorme inovação, especialmente quando o preço do petróleo é assunto da imprensa, todos os dias, e o próprio petróleo esteve na origem de guerras recentes. Mais importante, esta inovação coloca o Brasil à frente da transição mundial para a era pós-petróleo.

Este impressionante resultado não é apenas a consequência de sol, água, terra e mão de obra abundantes e baratos. Afinal, cerca de 20 anos atrás a terra era mais barata, o sol e a água eram tão abundantes quanto hoje e o álcool só seria competitivo se o petróleo custasse US$60/barril. Ao contrário, este resultado decorre de décadas de inovações em todos os aspectos do "complexo cana".

A Química está presente nesta indústria, desde os fertilizantes e agroquímicos, o manejo do vinhoto (que já foi um problema e hoje é uma solução) até as usinas que exibem uma produtividade sempre crescente de açúcar, álcool e energia elétrica.

O complexo cana é uma cadeia de produtos, entre muitas outras, cheias de oportunidades para a Química. Todo o setor químico oferece hoje muitas razões de entusiasmo. No passado, milhares de químicos trabalharam juntos, planejando, implementando, fabricando, inventando, melhorando e criando riquezas. Lembremos por um momento do significado de nomes como Capuava, Camaçari, Triunfo assim como Jandira, Paulínia, Novo Hamburgo, Duque de Caxias e muitos outros. Lembremos do Pronaq, Procat e especialmente do PADCT, e vamos preparar-nos para os novos desafios.

Fernando Galembeck

UNICAMP

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Maio 2005
  • Data do Fascículo
    Abr 2005
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