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Leggere Gramsci: una guida alle interpretazioni

RESENHAS

Leggere Gramsci: una guida alle interpretazioni

Lilian Anna Wachcwicz

Professora da Universidade Federal do Paraná e Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

JOCTEAU Gian Carlo. Leggere Gramsci; una guida alle interpretazione. Milano, Feltrinelli, 1975. 167 p.

O Autor se propõe a construir uma "tipologia essencial", ainda que esquemática, das abordagem, publicadas na Itália e na Europa ocidental, desde o final dos anos 30 ate os anos 70, sobre o trabalho de Antonio Gramsci. para responder as exigências trazidas pela crescente e polêmica divulgação desse trabalho, especialmente pela inacreditável capacidade revelada por Gramsci, na antecipação, ou intuição, dos grandes problemas políticos e culturais atuais.

A função de ponto de referência, atribuída a Gramsci, definiu-se a partir das questões de renovação cultural e política, frente à qual viu-se a Itália apôs a queda do fascismo. Numa espécie de antologia de ordem cronológica, o Autor expõe as posições dos intérpretes de Gramsci, desde Togliatti até Macchiocchi, ou seja, desde uma leitura de Gramsci na posição de um homem de partido político, até a posição de um teórico que reflete os problemas orgânicos da sociedade. Sem pretender apresentar um panorama, ainda que parcial, de todos os estudos dedicados a Gramsci, o Autor justifica o enfoque de cronologia política e a intenção de divisar conceitos, métodos e conteúdos, através de duas questões emergentes do conjunto de intérpretes de Gramsci: a correlação existente entre o interesse por essa obra e os momentos mais significativos do debate político e cultural no Ocidente, a partir dos anos da Segunda Guerra Mundial; e a legitimidade das interpretações as quais esse debate conduziu, apresentando-se posições diferentes e até contrastantes.

A heterogeneidade dos temas do livro, decorrente de sua própria intenção, é indicada pelos seus capítulos:

I - O Gramsci de Togliatti.

II - O debate nos anos 50.

III - Novas contribuições apôs a desestalinização.

IV - "Nossas contas com Gramsci".

V - A Convenção de Cagliari.

VI - A historicidade do pensamento e da Ação de Gramsci.

VII - Tentativas recentes de interpretação global do pensamento de Gramsci.

VIII - 0 desenvolvimento do conhecimento de Gramsci, fora da Itália.

Os capítulos são seguidos de notas de referências, encontrando-se ainda, no final do livro, bibliografia específica dos temas de cada capítulo, bibliografia esta que se limita, por opção do Autor, a elencar os textos levados em consideração nos diversos capítulos.

Palmiro Togliatti, segundo o Autor, tem absoluta proeminência na difusão do conhecimento de Gramsci e na criação de sua imagem publica, ainda que não se possa encontrar, nos trabalhos de Togliatti dedicados a Gramsci, a presença de um modelo interpretativo uniforme: sua intenção é inserir a nova realidade de seu partido, em uma adequada tradição histórica e política, insistindo sobre a fecundidade de herança gramsciana, sobre o patrimonio da ¡cultura nacional italiana. Afirmar a validade do método gramsciano de pensamento e reivindicar-lhe a herança, significa para Togliatti, fundamentar-se no historicismo; diferenciando-se do liberalismo e do idealismo,

Gramsci critica a visão abstrata, hegeliana, de liberdade como ideologia imediatamente cirscunstanciada..."

(Togliatti: O antifascismo de Antonio Gramsci, 1952.) É esta concepção insuficiente da liberdade, separada da justiça e da concreticidade histórica, que torna Croce incapaz de perceber o fenômeno fascista na sua realidade. A consideração acentuada da esfera da superestrutura, própria da perspectiva historicista, acompanhando-se de uma particular valorização da dimensão etico-política, facilita o encontro de Gramsci com os intelectuais de influência croceana, idealista. Eugênio Garin, historiador da Filosofia, tentou estabelecer uma ligação entre o pensamento de Gramsci e o contexto da cultura italiana do século, ressaltando seu esforço em estabelecer uma relação de continuidade-superação com o croceanismo. Togliatti atribui a Gramsci a imagem de "consciência critica de um século de história em nosso país".

Nos anos 50, encontram-se intervenções como de Mateucci e Garosci, expoentes da cultura influenciada pelo croceanismo. Mateucci tentou reconstruir a "filos o fia gramòciana da praxis", acentuando sua relação com a cultura italiana. Sugeriu uma interpretação segundo a qual Gramsci substituiu as três fontes do marxismo (o idealismo alemão, a economia inglesa e a política francesa) , por duas fontes especificamente italianas: a filosofia de Croce e uma experiência política ligada às reflexões de Maquiavel. Garosci reflete Gramsci em um espaço que tem dois poios, um de sinal positivo e outro de sinal negativo: o historicismo e o totalitarismo contraditórios na perspectiva gramsciana.

Muitos outros autores são apresentados em "flashes", sendo que, nos anos 50, prevaleceu a consideração de Gramsci teórico. Segundo o Autor, o retardamento dos escritos originais de Gramsci sobre sua militância política ativa (que somente na segunda metade dos anos 50 foram publicados, sendo que a morte de Gramsci se deu em 37), condicionou sem duvida o desenvolvimento do estudo da obra de Gramsci.

Um artigo de Merli, intitulado "Nossas contas com a teoria da revolução sem revolução, de Gramsci", propõe um balanço e uma elaboração de valor estratégico, aos trinta anos da morte de Gramsci. Havia surgido, já nos anos 50, uma atitude crítica, nos confrontos a Gramsci, que centrava suas considerações sobre a exigência de uma reapropriação, por parte do marxismo italiano, do componente "cientifico", deixado em segundo plano pela tradição humanística e históricista.

Esta polêmica contra o historicismo, nos anos 60, não se limitou ao contexto cultural italiano. Segundo Althusser, o pensamento historicista, ignorando o materialismo dialético, permanece aquém da postura epistemológica que se constitui na obra de Marx e Engels e que se afirma na revolução cognoscitiva que esta obra projetou no campo de conhecimento da Historia.

Segundo o Autor, Gramsci, encontra-se em boa companhia, como objeto desta situação, com teõricos como Korsch e Lukacs. Na Itália, a crítica ao gramscismo também seguiu uma direção diferente, e a denúncia do historicismo foi frequentemente substituida por um desacordo da esquerda sobre temas políticos específicos.

Em abril de 67, realiza-se em Cagliari uma convenção internacional de estudos gramscianos. Destacaram-se em Cagliari uma convenção internacional de estudos gramscianos. Destacaram-se as intervenções de G arin e Bobbio. Garin sintetizava as características gramscianas, justamente em torno do humanismo e do historicismo: a máxima tensão do pensamento gramsciano é não confundir o materialismo histórico e o materialismo dialético, a ideologia e a ciência. Garin destaca a amplitude com que Gramsci utiliza a noção de intelectual e de cultura, e a sua estreitíssima relação com a configuração histórica da sociedade.

Bobbio ja havia colocado com clareza exemplar, na convenção romana de 1958, o problema do uso da dialética em Gramsci. Segundo Bobbio, o conceito chave para reconstruir o pensamento de Gramsci é sua concepção de sociedade civil, diferente de Hegel e de Marx.

Em Gramsci, como em Marx, o princípio ativo e positivo da História é posto na sociedade civil, mas é diferente o uso que ambos fazem. deste princípio. Segundo Bobbio, para Gramsci a sociedade civil não nertence ao momento da estrutura, como em Marx, mas ao momento da superestrutura. O grande exemplo histórico que Gramsci apresenta, sob este conceito, é a Igreja, coincidindo na época medieval com a sociedade civil, como aparato da hegemonia do grupo dirigente, que não tendo um aparato próprio, isto é, não tendo uma organização cultural e intelectual própria, sentia como tais, a organização eclesiástica universal.

A antítese é entre o momento económico e o ético-político, entre necessidade e liberdade, entre subjetividade e objetividade.

Massimo Salvador tentou a leitura de Gramsci em relação ao contexto histórico em que ele pensou e agiu, chegando a apontar a maior originalidade teórica de Gramsci na elaboração ideológica, em que o elemento da subjetividade e o elemento "redde rationem", pois é através da consciência que se adquire uma linha política e um comportamento prático.

Leonardo Paggi insiste numa colocação de Gramsci no contexto dos movimentos populares internacionais abandonando as interpretações venerandas de suas origens na política italiana, de modo a fazer "camminare Gramsci con le proprie gambe"... Por exemplo, o conceito de democracia, em Gramsci, tem uma importância central, por ser radicalmente diverso da praxis do comunismo internacional, na era staliniana. Para Gramsci, democracia é o momento da hegemonia das classes populares, que se fundamenta sobre a autonomia organizativa dessas classes, e sobre a contraposição à ideologia do bloco dominante. Daí, a importância atribuída ã obra de Gramsci para a Educação.

Para reconstruir e expor organicamente o pensamento de Gramsci, os autores atuais contam com o desenvolvimento recente do conhecimento da história do movimento operário italiano, divulgado nos anos 60, e com a publicação dos escritos de Gramsci, da época anterior à sua prisão por Mussolini, de onde saiu poucos dias antes de morrer, e já condenado pela doença.

O conhecimento de Gramsci fora da Itália foi por muito tempo bem limitado. É essencial recordar que até há pouco tempo o debate teórico, nos movimentos populares europeus, era particularmente restrito. Neste contexto, o pensamento de Gramsci, criativo e perigosamente tendente ã heterodoxia, permanece desconhecido.

No ultimo capítulo, o Autor destaca:

. na França, a atenção pela análise científica da superestrutura. Jean-Marc Piotte estuda o pensamento político de Gramsci e destaca a teoria dos intelectuais, a concepção do partido político, "o principe moderno", como o intelectual coletivo, e a teoria da hegemonia;

. também na França, Hugues Portelli, que coloca no centro de sua análise o conceito de bloco histórico;

. Maria Antonieta Macchiocchi, que publica um trabalho sob a influência de sua experiência de ensino na Universidade de Vincennes e sob a influência dos estudos gramscianos na França.

Após apresentar outros autores atuais, na Alemanha e nos Estados Unidos da América, o Autor conclui destacando o progressivo diálogo com Gramsci nos países ocidentais, onde é considerado atual. A "atualidade" de Gramsci é destacada por vários autores, por trazer sua obra contribuição para a solução dos problemas estratégicos dos movimentos populares nos Estados modernos, problemas que Gramsci definiu já nas décadas de 20 e 30 como sendo os da organização popular, dos intelectuais, da ideologia, da superestrutura e da "revolução cultural".

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1982
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