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Algumas letras, pouca saúde: Campinas, primeira metade do Oitocentos

Some letters, little health: Campinas, first half of eighteen hundred's

Resumos

Em uma região que foi grande produtora de açúcar para exportação e, posteriormente, de café, as preocupações com a educação e a saúde andavam um tanto esquecidas. Os professores eram poucos e as oportunidades de freqüentar escolas eram restritas. Nelas, depois de aprender a obedecer as leis de Deus e do Estado, os alunos aprendiam a ler, escrever e contar. Se o iletramento entre homens livres era grande, entre as mulheres era maior, incluindo muitas esposas de senhores de engenho. Poucos leitores, poucos livros; mas eles existiam: quase sempre religiosos, alguns entretanto sinalizavam interesses de seus donos, como os que tinham como tema a saúde e a doença. Em Campinas, as enfermidades entre livres e escravos eram muitas e eram grandes as dificuldades de receber tratamento de um médico, cirurgião ou boticário. A escassez de homens habilitados "cientificamente" para o exercício da cura motivou tanto ações para suprir a falta daqueles profissionais na região (como a criação de uma Academia Fármaco-Cirúrgica), quanto a ampla atuação de curandeiros entre ricos e pobres, livres e escravos. Muitas famílias, quando suas posses e letras permitiam, se preveniam com pequenas boticas caseiras, nas quais havia de tudo um pouco, ou com livros que poderiam indicar o que fazer em casos de emergência. Lidos em voz alta, esses volumes ajudaram a aliviar dores e a difundir aquilo que muitos denominavam a "verdadeira arte de curar".

educação; saúde; Campinas; século XIX


In a region that had been a big producer of sugar for exportation, and afterwards of coffee, preoccupations with education and health had been a little bit left beside. There was just a little number of teachers and attending schools opportunities were restrict. In these schools, only after learning to obey God's and State Laws, students learned reading, writing and counting. If illiteracy among free men was general, among women it was much bigger, even many wives of sugar-cane farmers. Just a few readers, little number of books: but they existed: they were almost always religious ones, some, however, pointed to their owner's interests, as the ones related to health and sickness. In Campinas, there were a lot of diseases among free people and slaves and there were hard difficulties in relation to medical, surgical or pharmacological treatment. Shortness of men with "scientific" abilities for cure motivated actions in order to supply the lack of such professionals in that region (as the creation of a Pharmacological-Surgical Academy) as well as the wide action of medicine men among rich and poor, slaves or free people. Many families, as their richness and literacy allowed it, prevented themselves with simple home pharmacology, in which there were a little of everything, or with books that could indicate what to do in emergencies. As such books were read aloud they helped to relieve pains and spread what was called the "true cure art".

education; health; Campinas; XIX Century


ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

Algumas letras, pouca saúde: Campinas, primeira metade do Oitocentos* * Dados deste texto estão em Martins (1996) e versão pouco modificada foi apresentada no III Congresso Brasileiro de História da Educação, realizado na PUC-PR. Curitiba, 2004. 1 Província durante o império, estado após a proclamação da república. 2 Censos de Campinas, 1806, 1ª Companhia, fogo 39. Daqui por diante: C.C., ano, Cia, fogo. A palavra fogo nos censos da época significava domicílio. 3 C.C., 1817, 1ª Cia, fogo 13. 4 Sobre o tempo escolar, veja: FARIA FILHO, L. M.; VAGO, T. M. Entre relógios e tradições: elementos para uma história do processo de escolarização em Minas Gerais. In: VIDAL, D. G. ; HILSDORF, M. L. S. (Orgs.) Brasil 500 anos: tópicos em história da educação. São Paulo: Edusp, 2001, p. 117-136. 5 Domingo que precede o primeiro domingo da quaresma. 6 Cf.: SOUZA, 1986, p.130. ESCHWEGE apud SAINT HILAIRE, 1976, p.79. Documentos interessantes ..., v. 44, p.153. 7 A moeda brasileira no século XIX era o réis: $300: trezentos réis; 300$000: trezentos mil-réis; 300:000$000: trezentos contos de réis. 8 C. C., 1825, 1ª Cia, fogo 110. 9 Respectivamente: Inventário, Centro de Memória da Unicamp, Tribunal de Justiça de Campinas, 1º Ofício, caixa 54, processo 1389, ano de 1831; Inventário, Centro de Memória da Unicamp, Tribunal de Justiça de Campinas, 1º Ofício, caixa 120, processo 2730, ano de 1848; Inventário, Centro de Memória da Unicamp, Tribunal de Justiça de Campinas, 1º Ofício, caixa 49, processo 1267, ano de 1829. Daqui por diante: Inv, CMU, TJC, Of, cx., proc., ano. 10 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 4, proc. 99, 1807. 11 Curador habilitado era aquele autorizado pelo governo a praticar seus conhecimentos, eram eles: além dos médicos, cirurgiões e boticários; os sangradores (ou barbeiros-sangradores), as parteiras e até curandeiros ("especialistas" em tratar doenças da terra com medicamentos locais) (PIMENTA, 2003b). Outros curadores existiram desde os primeiros tempos do Brasil colônia: pajés, benzedeiras, bruxos, feiticeiras, etc. A mistura das "artes" foi uma constante. Cf: SOU-ZA, 1995, p.151-156. 12 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 9, proc. 272, 1812. 13 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 42, proc. 1110, 1828. Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 88, proc. 2059,1839. Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 120, proc. 2730, 1848. Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 120, proc. 2730, 1848. 14 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 155, proc. 3282, 1859. 15 Id. Anexo 1861 16 A lei Euzébio de Queirós, de 1850, proibiu o tráfico de escravos para o Brasil. 17 Nesse texto, não pretendo abordar as diferenças (e disputas) entre as atividades de curar reconhecidas na época e as transformações que aconteceram, ainda na primeira metade do século XIX, no campo de atuação desses profissionais. Ver o tema em: PIMENTA, 2003b. 18 C.C., 1817, 6ª Cia, fogo 41. C.C., 1817, 6ª Cia, fogo 43. C.C., 1829, 3ª Cia, fogo 106. 19 Sobre a doença como castigo divino: DELUMEAU, 1989, p.140-141. DUBY, 1998,p.87-89. Sobre a lepra veja: BÉNIAC, [19-] 20 C.C., 1803, 1º Cia, fogo 24. C.C., 1829, 7º Cia, fogo 121. Inv. CMU, TJC, 1º Of, cx.55, 1405, 1831. 21 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 88, 2059, 1839. 22 C.C., 1803, 2ª Cia, fogo 89. C.C., 1800, 1ª Cia, fogo 95. C.C., 1812, 5ª Cia, fogo 47. 23 C.C., 1800, 1ª Cia, fogo 91. C.C., 1800, 1ª Cia, fogo, 72. 24 A Fisicatura-mor, que regulava os ofícios de cura desde 1808, foi extinta em 1828. Novas formas de regulamentação seriam instituídas, entretanto, no período seguinte ao da extinção daquele órgão, a normatização dos que praticavam diferentes artes de curar ficou sem uma única diretriz definida e seguiu, em parte, o que estava estabelecido desde o início do Oitocentos. Cf.: PIMENTA, 2003a. 25 C.C., 1829, 1ª Cia, fogo, 113. C.C., 1829, 7ª Cia, fogo 122.C.C., 1829, 1ª Cia, fogo 150. 26 Os dicionários de medicina doméstica ganhariam grande popularidade no Brasil, principalmente a partir de meados do século XIX. Cf.:FERREIRA, 2003. FIGUEIREDO, 2002, p. 139-184. 27 Aproximadamente 28,7 gramas. 28 A partir do final da década de 1880, a prosperidade de Campinas seria, entretanto, abalada pelas epidemias de febre amarela (a varíola já havia castigado o lugar entre 1873 e 1875). Em 1889, a cidade foi devastada: o número de habitantes foi reduzido a cerca de 10% de seu total (3.500), nos piores dias da doença, devido aos óbitos e à fuga das pessoas. Outros surtos viriam nos anos seguintes e a situação só começou a mudar depois das ações do médico Emílio Ribas, iniciadas em 1896. Ribas conhecia a tese do cubano Carlos Finley sobre a transmissão da febre amarela pelo mosquito stegomyia fasciata (hoje chamado aedes aegypti) (SANTOS FILHO; NOVAES, 1996). Tese que, em poucos anos, ganhou numerosos adeptos e motivou muitas discussões, publicações e ações médico-sanitárias.

Some letters, little health: Campinas, first half of eighteen hundred's

Valter Martins

Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa - PR (UEPG)

RESUMO

Em uma região que foi grande produtora de açúcar para exportação e, posteriormente, de café, as preocupações com a educação e a saúde andavam um tanto esquecidas. Os professores eram poucos e as oportunidades de freqüentar escolas eram restritas. Nelas, depois de aprender a obedecer as leis de Deus e do Estado, os alunos aprendiam a ler, escrever e contar. Se o iletramento entre homens livres era grande, entre as mulheres era maior, incluindo muitas esposas de senhores de engenho. Poucos leitores, poucos livros; mas eles existiam: quase sempre religiosos, alguns entretanto sinalizavam interesses de seus donos, como os que tinham como tema a saúde e a doença. Em Campinas, as enfermidades entre livres e escravos eram muitas e eram grandes as dificuldades de receber tratamento de um médico, cirurgião ou boticário. A escassez de homens habilitados "cientificamente" para o exercício da cura motivou tanto ações para suprir a falta daqueles profissionais na região (como a criação de uma Academia Fármaco-Cirúrgica), quanto a ampla atuação de curandeiros entre ricos e pobres, livres e escravos. Muitas famílias, quando suas posses e letras permitiam, se preveniam com pequenas boticas caseiras, nas quais havia de tudo um pouco, ou com livros que poderiam indicar o que fazer em casos de emergência. Lidos em voz alta, esses volumes ajudaram a aliviar dores e a difundir aquilo que muitos denominavam a "verdadeira arte de curar".

Palavras-chave: educação, saúde, Campinas, século XIX.

ABSTRACT

In a region that had been a big producer of sugar for exportation, and afterwards of coffee, preoccupations with education and health had been a little bit left beside. There was just a little number of teachers and attending schools opportunities were restrict. In these schools, only after learning to obey God's and State Laws, students learned reading, writing and counting. If illiteracy among free men was general, among women it was much bigger, even many wives of sugar-cane farmers. Just a few readers, little number of books: but they existed: they were almost always religious ones, some, however, pointed to their owner's interests, as the ones related to health and sickness. In Campinas, there were a lot of diseases among free people and slaves and there were hard difficulties in relation to medical, surgical or pharmacological treatment. Shortness of men with "scientific" abilities for cure motivated actions in order to supply the lack of such professionals in that region (as the creation of a Pharmacological-Surgical Academy) as well as the wide action of medicine men among rich and poor, slaves or free people. Many families, as their richness and literacy allowed it, prevented themselves with simple home pharmacology, in which there were a little of everything, or with books that could indicate what to do in emergencies. As such books were read aloud they helped to relieve pains and spread what was called the "true cure art".

Key-words: education, health, Campinas, XIX Century.

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Fontes

Texto recebido em 30 mar. 2005

Texto aprovado em 05 jun. 2005

  • BÉNIAC, F. O medo da lepra. In: LE GOFF, J. (Org.). As doenças têm história Lisboa: Terramar, [19-], p.127-144.
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  • FERREIRA, L. O. Medicina impopular. Ciência médica e medicina popular nas páginas dos periódicos científicos (1830-1840). In: CHALHOUB, S. et al. (Orgs.). Artes e ofícios de curar no Brasil. Campinas: Unicamp, 2003. p. 101-122.
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  • MACHADO, A. Vida e morte do bandeirante Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980.
  • MACHADO, R. et al. Danação da norma Rio de Janeiro: Graal, 1978.
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  • MARTINS, V. Livres, escravos e doenças. Campinas, século XIX. In: ENCONTROREGIONAL DE HISTÓRIA, ANPUH, 17., 2004, São Paulo. Anais.. Campinas, 2004. (CD-ROM)
  • MARTINS, V. Nem senhores, nem escravos. Campinas: CMU/Unicamp, 1996.
  • MENDONÇA, A. M. de M. C. e. Memória econômico política da Capitania de São Paulo. Anais do Museu Paulista, tomo XV, São Paulo, 1961.
  • PIMENTA, T. S. Entre sangradores e doutores: práticas e formação médica na primeira metade do século XIX. Cadernos Cedes, Campinas, v. 23, n. 59, p. 91-102, 2003a.
  • PIMENTA, T. S. Terapeutas populares e instituições médicas na primeira metade do século XIX. In: CHALHOUB, S. et al. (Orgs.). Artes e ofícios de curar no Brasil. Campinas: Unicamp, 2003b. p. 307-330.
  • QUEIRÓS, C. P. de. Um fazendeiro paulista no século XIX São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1965.
  • QUEIRÓZ, S. R. R. de. Algumas notas sobre a lavoura do açúcar em São Paulo no período colonial. Anais do Museu Paulista, tomo XXI, São Paulo, 1967.
  • RIBEIRO, A. I. M. A educação da mulher no Brasil colônia São Paulo: Arte & Ciência, 1997.
  • RIBEIRO, A. I. M. A educação feminina durante o século XIX: o Colégio Florence de Campinas, 1863-1889. Campinas: CMU/Unicamp, 1996.
  • SAINT HILAIRE, A. de. Viajem à Província de São Paulo Belo Horizonte: Itatiaia/ Edusp, 1976.
  • SANTOS FILHO, L. de C.; NOVAES, J. N. A febre amarela em Campinas, 1889-1900 Campinas: CMU/Unicamp, 1996.
  • SILVA, M. B. N. da. Cultura no Brasil colônia Petrópolis: Vozes, 1981.
  • SILVA, M. B. N. da. Sistema de casamento no Brasil colonial São Paulo: T.A. Queiroz/ Edusp, 1984.
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  • TSCHUDI, J .J. von. Viagem às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980.
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  • Censos de Campinas, 1800-1829.
  • Documentos Interessantes para a história e costumes de São Paulo, São Paulo, v. 30 e 44, s.d.
  • Inventários - Centro de Memória da Unicamp, Tribunal de Justiça de Campinas, 1800-1850.
  • *
    Dados deste texto estão em Martins (1996) e versão pouco modificada foi apresentada no III Congresso Brasileiro de História da Educação, realizado na PUC-PR. Curitiba, 2004.
    1 Província durante o império, estado após a proclamação da república.
    2
    Censos de Campinas, 1806, 1ª Companhia, fogo 39. Daqui por diante: C.C., ano, Cia, fogo. A palavra fogo nos censos da época significava domicílio.
    3 C.C., 1817, 1ª Cia, fogo 13.
    4 Sobre o tempo escolar, veja: FARIA FILHO, L. M.; VAGO, T. M. Entre relógios e tradições: elementos para uma história do processo de escolarização em Minas Gerais. In: VIDAL, D. G. ; HILSDORF, M. L. S. (Orgs.)
    Brasil 500 anos: tópicos em história da educação. São Paulo: Edusp, 2001, p. 117-136.
    5 Domingo que precede o primeiro domingo da quaresma.
    6 Cf.: SOUZA, 1986, p.130. ESCHWEGE apud SAINT HILAIRE, 1976, p.79.
    Documentos interessantes ..., v. 44, p.153.
    7 A moeda brasileira no século XIX era o réis: $300: trezentos réis; 300$000: trezentos mil-réis; 300:000$000: trezentos contos de réis.
    8 C. C., 1825, 1ª Cia, fogo 110.
    9 Respectivamente: Inventário, Centro de Memória da Unicamp, Tribunal de Justiça de Campinas, 1º Ofício, caixa 54, processo 1389, ano de 1831; Inventário, Centro de Memória da Unicamp, Tribunal de Justiça de Campinas, 1º Ofício, caixa 120, processo 2730, ano de 1848; Inventário, Centro de Memória da Unicamp, Tribunal de Justiça de Campinas, 1º Ofício, caixa 49, processo 1267, ano de 1829. Daqui por diante: Inv, CMU, TJC, Of, cx., proc., ano.
    10 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 4, proc. 99, 1807.
    11 Curador habilitado era aquele autorizado pelo governo a praticar seus conhecimentos, eram eles: além dos médicos, cirurgiões e boticários; os sangradores (ou barbeiros-sangradores), as parteiras e até curandeiros ("especialistas" em tratar doenças da terra com medicamentos locais) (PIMENTA, 2003b). Outros curadores existiram desde os primeiros tempos do Brasil colônia: pajés, benzedeiras, bruxos, feiticeiras, etc. A mistura das "artes" foi uma constante. Cf: SOU-ZA, 1995, p.151-156.
    12 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 9, proc. 272, 1812.
    13 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 42, proc. 1110, 1828. Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 88, proc. 2059,1839. Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 120, proc. 2730, 1848. Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 120, proc. 2730, 1848.
    14 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 155, proc. 3282, 1859.
    15 Id. Anexo 1861
    16 A lei Euzébio de Queirós, de 1850, proibiu o tráfico de escravos para o Brasil.
    17 Nesse texto, não pretendo abordar as diferenças (e disputas) entre as atividades de curar reconhecidas na época e as transformações que aconteceram, ainda na primeira metade do século XIX, no campo de atuação desses profissionais. Ver o tema em: PIMENTA, 2003b.
    18 C.C., 1817, 6ª Cia, fogo 41. C.C., 1817, 6ª Cia, fogo 43. C.C., 1829, 3ª Cia, fogo 106.
    19 Sobre a doença como castigo divino: DELUMEAU, 1989, p.140-141. DUBY, 1998,p.87-89. Sobre a lepra veja: BÉNIAC, [19-]
    20 C.C., 1803, 1º Cia, fogo 24. C.C., 1829, 7º Cia, fogo 121. Inv. CMU, TJC, 1º Of, cx.55, 1405, 1831.
    21 Inv, CMU, TJC, 1º Of, cx. 88, 2059, 1839.
    22 C.C., 1803, 2ª Cia, fogo 89. C.C., 1800, 1ª Cia, fogo 95. C.C., 1812, 5ª Cia, fogo 47.
    23 C.C., 1800, 1ª Cia, fogo 91. C.C., 1800, 1ª Cia, fogo, 72.
    24 A Fisicatura-mor, que regulava os ofícios de cura desde 1808, foi extinta em 1828. Novas formas de regulamentação seriam instituídas, entretanto, no período seguinte ao da extinção daquele órgão, a normatização dos que praticavam diferentes artes de curar ficou sem uma única diretriz definida e seguiu, em parte, o que estava estabelecido desde o início do Oitocentos. Cf.: PIMENTA, 2003a.
    25 C.C., 1829, 1ª Cia, fogo, 113. C.C., 1829, 7ª Cia, fogo 122.C.C., 1829, 1ª Cia, fogo 150.
    26 Os dicionários de medicina doméstica ganhariam grande popularidade no Brasil, principalmente a partir de meados do século XIX. Cf.:FERREIRA, 2003. FIGUEIREDO, 2002, p. 139-184.
    27 Aproximadamente 28,7 gramas.
    28 A partir do final da década de 1880, a prosperidade de Campinas seria, entretanto, abalada pelas epidemias de febre amarela (a varíola já havia castigado o lugar entre 1873 e 1875). Em 1889, a cidade foi devastada: o número de habitantes foi reduzido a cerca de 10% de seu total (3.500), nos piores dias da doença, devido aos óbitos e à fuga das pessoas. Outros surtos viriam nos anos seguintes e a situação só começou a mudar depois das ações do médico Emílio Ribas, iniciadas em 1896. Ribas conhecia a tese do cubano Carlos Finley sobre a transmissão da febre amarela pelo mosquito
    stegomyia fasciata (hoje chamado
    aedes aegypti) (SANTOS FILHO; NOVAES, 1996). Tese que, em poucos anos, ganhou numerosos adeptos e motivou muitas discussões, publicações e ações médico-sanitárias.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Set 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2005

    Histórico

    • Aceito
      05 Jun 2005
    • Recebido
      30 Mar 2005
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