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A função pedagógica do diretor de escola

ROSA, Paula Bravo da. . A função pedagógica do diretor de escola. Luanda: Editora Bc/Livetec Lda, 2016. 115 p.

Se tivéssemos que classificar a obra de Paula Bravo da Rosa, oportuna seria o adjetivo apropriado. Oportuna pelo momento crucial que a educação e todo o sistema de ensino angolano está a atravessar, a procura de um rumo para o futuro; oportuna porque vem a público num momento em que a educação naquele país enfrenta inúmeros desafios de reconhecimento e eficácia; oportuna porque já se começa a debater a sua qualidade, em detrimento da quantidade, enfoque que prevaleceu desde o período pós-independência devido à elevada taxa de analfabetismo e à necessidade de recursos humanos qualificados.

E é esse debate sobre a qualidade da educação e do sistema de ensino que tem conduzido a análises profundas sobre o seu modo de funcionamento, assim como o perfil daqueles que exercem funções no setor. Se ao ensino superior é atribuído responsabilidade por graduar recursos humanos sem qualidade, este se defende argumentando que os estudantes chegam àquele nível de ensino com muitas debilidades em termos de formação de base, com destaque para o ensino primário, “apresentado como sendo o suporte fundamental para o início da aprendizagem” (p. 22).

Resultado da reforma educativa de 2001, o ensino primário em Angola conta com seis anos de escolaridade em regime de monodocência; ou seja, um professor na sala de aulas, para o leque variado de matérias lecionadas que constam do programa elaborado pelo ministério da educação, condição que coloca em causa a sua qualidade dado o perfil do próprio docente, tem como formação somente a escola do magistério primário (técnico médio), por isso apresenta dificuldades em disciplinas cruciais como Matemática e Língua Portuguesa. Entre as diferentes causas que são apontadas como responsáveis pela falta de qualidade no ensino primário, Paula Bravo foca a sua análise no perfil e função pedagógica do diretor de escola. É, pois, objetivo da autora “compreender a função do diretor de escola do ensino primário na promoção da qualidade de ensino, bem como analisar e descrever a compreensão que ele tem relativamente à sua intervenção na gestão pedagógica dos processos de ensino e aprendizagem” (p. 57).

Com um currículo impressionante na área educativa, que vai da docência, da direção pedagógica, à coordenação provincial em diferentes áreas e atualmente como diretora da escola do magistério primário, que reforça a sua formação de base em Pedagogia. Paula Bravo da Rosa disserta, ao longo das 60 páginas que correspondem ao resultado da sua investigação no âmbito da frequência do mestrado em administração escolar, sobre pontos-chave, como a gestão escolar, a avaliação e o processo de aprendizagem, realçando sempre a figura do diretor de escola. Embora a sua experiência profissional tenha servido de impulsionador para a realização da investigação, a autora validou o seu estudo utilizando uma metodologia científica, realizando entrevistas semiestruturadas com cinco diretores de escola no município de Viana, em Luanda, com diferentes perfis de formação, bem como inquéritos, cujos guiões (anexo A para as entrevistas e anexo B para o questionário) são apresentados no final da obra.

Se por um lado, poderíamos questionar os resultados da investigação argumentando que cinco entrevistas não são suficientes para a construção do objeto de estudo em torno das funções pedagógicas do diretor de escola. Porém, há que se ter em conta que se trata de um estudo qualitativo, em que prevalece a qualidade da informação em detrimento da quantidade, não permitindo generalizações a todos os diretores de escola da província de Luanda nem tão pouco aos diretores de escola de todo o país. Por outro lado, ao analisarmos a transcrição das entrevistas que a autora disponibiliza nos anexos (anexo C a G), constatamos que se regista uma saturação da informação recolhida, ou seja, a realização de mais entrevistas não iria trazer nenhum elemento novo que permitisse ampliar o campo de análise do objeto de estudo. Por isso realçamos a necessidade de conhecimento do contexto socioeducativo angolano, para uma melhor perceção das dificuldades e constrangimentos que o setor educativo enfrenta, em particular os diretores de escola que influem na qualidade da educação, o que a autora sintetiza muito bem no seguinte parágrafo:

muitos dos diretores interagem pouco com os docentes, no que diz respeito ao aconselhamento pedagógico, não promovem a realização de atividades que proporcionem o aumento do nível de conhecimento dos alunos, relativas ao estudo, nem propõem medidas que garantam o sucesso educativo e escolar dos alunos. Existe o fraco domínio de conhecimento, sobre o trabalho de planificação didático/pedagógico por parte de alguns diretores. (p.80).

Nisso a autora faz algumas recomendações pertinentes, no final da obra, dirigidas ao diretor de escola, para que “valorize(m) cada vez mais o papel de agente de mudança” (p. 80), e também dirigidas à repartição municipal e à direção provincial de educação de Luanda, para que “defin(am) estratégias para o melhoramento dos resultados” (p. 81).

De realçar uma vez mais que se trata de uma obra introdutória ao debate sobre a temática, servindo sobretudo como ponto de partida para se começar a fazer mais e melhor neste e noutros campos educativos. A autora poderia ter explorado melhor a informação teórica, bem como relacionado essa informação com os dados recolhidos no campo, ou seja, a sua operacionalização. A sua larga experiência no setor, bem como a temática em si permitem uma exploração mais profunda do objeto de estudo, pois, das 115 páginas, somente 60 correspondem ao trabalho de investigação, sendo as restantes reservadas para a bibliografia e os anexos. Fica assim uma sugestão para ela própria dar continuidade a sua investigação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017

Histórico

  • Recebido
    18 Abr 2017
  • Aceito
    21 Abr 2017
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