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“SÓ”, “EXCLUSIVAMENTE” E SUAS POSIÇÕES NA SENTENÇA

Resumos

Neste artigo, são examinadas algumas propriedades de advérbios altos e baixos para mostrar que o focalizador pertence ao primeiro grupo. Conclui-se que o comportamento do advérbio de exclusão no Português do Brasil é mais bem explicado do ponto de vista da Sintaxe, isto é, em termos da sua posição na hierarquia universal. A pista para chegar a tal conclusão vem da distribuição do focalizador exclusivamente, que também é um advérbio de exclusão, mas se comporta de forma diferente em relação a no que diz respeito a algumas propriedades sintáticas que põem de um lado os advérbios altos e de outro os baixos. Além disso, este texto revela que a previsão de Bever e Clark (2008) – de que a Semântica seria responsável pelas assimetrias entre os advérbios quantificacionais e o exclusivo – não é correta, na medida em que o focalizador de exclusão exclusivamente, no Português do Brasil, compartilha propriedades sintáticas com advérbios quantificacionais.

Advérbios; Advérbios focalizadores de exclusão; Advérbios quantificacionais; Hierarquia funcional; Cartografia; Sintaxe Gerativa


In this paper, I examine some properties of higher and lower adverbs to suggest that the focusing só ‘only’ belongs to the first group. I argue that the behavior of exclusive só in Brazilian Portuguese is better explained on syntactic grounds, i.e. in terms of its position in the universal hierarchy. The key to arrive at this conclusion comes from the distribution of the focusing exclusivamente ‘exclusively’ which is also an exclusive adverb but behaves differently from só with respect to some syntactic properties which discriminate between lower and higher adverbs. I will show that Bever and Clark’s (2008) predictions that Semantics would be responsible for the asymmetries between quantificational adverbs and the exclusive só is not accurate inasmuch as exclusive exclusivamente ‘exclusively’, in Brazilian Portuguese, goes together with quantificational adverbs as far as some syntactic properties are examined.

Focusing adverbs; Exclusive adverbs; Quantificational adverbs; Functional hierarchy; Cartography; Generative Syntax


Introdução

Pode-se dizer com segurança que o princípio do “One Feature, One Head” (‘Um traço, um núcleo’), de Kayne (2005)KAYNE, R. S. Movement and Silence. New York: Oxford University Press, 2005., tornou-se o cânone dos estudos em Cartografia (sintática), já por capturar e sintetizar a ideia inicial que tem motivado os estudos dessa vertente da teoria dos Princípios e Parâmetros com os seus primeiros trabalhos na década de 90 (CINQUE, 1994CINQUE, G. On the Evidence for Partial N Movement in the Romance DP. In: CINQUE, G. et al. (Ed.). Path Towards Universal Grammar:Studies in Honour of Richard S. Kayne. Washington: Georgetown University Press, 1994. p. 85-110., 1995CINQUE, G. Adverbs and the Universal Hierarchy of Functional Projections. GLOW Newsletter, Utrecht, n.34, p.14-15, 1995., [e, especialmente] 1999; RIZZI, 1997RIZZI, L. The Fine Structure of Left Periphery. In: HAEGMAN, L. (Ed.). Elements of Grammar. Dordrecht: Kluwer Academic Publisher, 1997. p.281-337.): a premissa de que os átomos da Sintaxe não se reduziriam a palavras ou morfemas que os teóricos de até então representavam nos marcadores sintagmáticos (por exemplo, vP, IP/TP, CP, etc. para a sentença; DP, para a expressão nominal), mas seria, pelo contrário, muito mais enriquecida (assim, o IP/TP da sentença seria constituído de cerca de 40 projeções funcionais; o CP, de cerca de quinze). Sem dúvida alguma, deve-se reconhecer Abney (1986)ABNEY, S. P. The English Noun Phrase in its Sentential Aspect. 1986. 234 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, 1986., Szabolcsi (1987)SZABOLCSI, A. Functional Categories in the Noun Phrase. In: KENESEI, I. (Ed.). Approaches to Hungarian. v. 2. Budapest: Jate Szeged, 1987. p. 167–189., Pollock (1989)POLLOCK, J.-Y. Verb Movement, Universal Grammar, and the Structure of IP. Linguistic Inquiry, Massachusetts, v. 20, n. 3, p. 365-474, 1989., Beghelli e Stowell (1997)BEGHELLI, F.; STOWELL, T. Distributivity and Negation. In: SZABOLCSI, A. (Ed.). Ways of Scope Taking. Dordrecht: Kluwer Publications, 1997. p. 71-107. como os grandes precursores da empresa cartográfica em Sintaxe: esses trabalhos abriram os caminhos para que as investigações sobre estrutura da oração e de seus sintagmas principais se voltassem à descrição de suas pequenas unidades formadoras.

No presente contexto, vale a pena citar Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999. cujos esforços se concentraram em determinar a posição de diferentes classes de advérbios, cerca de 40, que encontraria correspondência – surpreendentemente (para a época) – na posição de diferentes classes de núcleos funcionais (também na casa dos 40). Cinque, em seu trabalho seminal, não só tece importantes contribuições à sintaxe dos advérbios e da estrutura da oração – vale lembrar que esse teórico oferece uma interessante abordagem gerativista sobre oMiddlefield, muitíssimo atenta a descrições que tipologistas já tinham feito sobre línguas das mais diversas famílias –, mas também traz duas grandes contribuições teórico-conceptuais ao gerativismo: (i) o modo de entender osprincípios que seriam compartilhados por todas as línguas (como herança da Gramática Universal); e, (ii), relacionado a (i), o modo de entender a interessante questão da variação paramétrica – que, para ele, se reduziria a movimentos sintáticos e pronunciação ou não de constituintes gramaticais (ver, nesse sentido, o interessante trabalho de Moura (2005)MOURA, D. Variação em sintaxe. In: MOURA, D.; FARIAS, J.Reflexões sobre a sintaxe do português. Maceió: Ed. da UFAL, 2005. p. 47-71. sobre a variação linguística na teoria de Princípios e Parâmetros).

Se os estudos em Cartografia estiverem no caminho certo, espera-se, então, que não somente os advérbios descritos em Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999., mas também os advérbios focalizadores (somente, também, exclusivamente, principalmente, precisamente, etc.) das mais diversas (sub)classes semânticas se ordenem rigidamente, i.e., ocupem uma posição fixa na hierarquia universal da oração.

O presente trabalho traz alguma contribuição à empresa cartográfica, no sentido em que procura mostrar, com base na distribuição sintática de uma classe de focalizadores – os AdvPs focalizadores de exclusão (só, exclusivamente, etc.) –, que tais adverbiais não só se ordenam rigidamente em relação aos demais advérbios da hierarquia de Cinque, mas também se ordenam entre si.

Algumas propriedades sintáticas de AdvPs altos são trazidas à luz (por exemplo: (i) não poderem ser recuperados pelo VP-elíptico em português; (ii) não admitirem a extração do seu foco associado; (iii) não poderem aparecer em posição final, etc.). Faz-se o mesmo para o focalizador só. A conclusão a que se chega é que também deve ocupar uma posição entre os advérbios ditos altos.

O comportamento sintático de focalizadores de exclusão do tipo deexclusivamente – que surpreendentemente se comportam como advérbios quantificacionais e não como o focalizador (que, conforme veremos, pertence a uma outra classe sintática, apesar de sua semântica)nos leva a sugerir que haveria (pelo menos) duas posições distintas para focalizadores de exclusão, uma na zona alta e outra na zona baixa de IP.

O corolário óbvio dessa ‘dualidade’ é o reconhecimento de que os diferentes comportamentos de advérbios exclusivos e quantificacionais não podem ser, em primeira instância, um problema puramente semântico, mas deve encontrar sua respostana estrutura: o que explica o comportamento distinto de advérbios exclusivos e quantificacionais é a posição que ocupam nas hierarquias, isto é, a questão se relaciona à própria arquitetura oracional.

Na seção seguinte, apresenta-se a proposta cartográfica de Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999.. Na sequência, procura-se determinar a posição que ocupa entre os advérbios da hierarquia, para, num terceiro momento, apresentar as propriedades sintáticas desse focalizador. Num quarto momento, comparam-se as propriedades de advérbios quantificacionais e do advérbio focalizador só. Em seguida, comparam-se os comportamentos sintáticos de advérbios baixos, incluídos aí os quantificacionais; advérbios altos se comportam como only/só. Ulteriormente, propõe-se uma posição para o advérbio de exclusão baixo, exclusivamente. Um resumo geral do trabalho é feito na penúltima seção. Na última seção, apresentam-se os agradecimentos.

Fundamentação teórica

Com base na distribuição relativa de advérbios de classes semânticas distintas em diferentes línguas, Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999. propõe que o IP (CHOMSKY, 1986CHOMSKY, N. Barriers. Cambridge: MIT Press, 1986.) (ou o “TP” da tradição minimalista (CHOMSKY, 1995CHOMSKY, N. The Minimalist Program. Cambridge: MIT Press, 1995.)) seria, na verdade, constituído pelas seguintes distinções funcionais, realizadas ou não foneticamente via AdvPs (em Spec) ou núcleos funcionais (“X°s”), tal qual apresentadas a seguir.

A menos que algum traço da estrutura informacional (Tópico, Foco, etc.) tenha de ser valorado, os advérbios em (1) ocupam uma posição fixa na estrutura e não se movem da posição em que são “Soldados” (Merged). Desse modo, os advérbios são diagnósticos para o movimento de outros constituintes da sentença (por exemplo, V, auxiliares e modais, argumentos de V, etc.).

Para chegar à hierarquia em (1), Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999.vale-se de testes de transitividade envolvendo advérbios de classes semânticas distintas. Assim, se um dado AdvPA precede (“>”) um dado AdvPB, que precede, por sua vez, um AdvPC, por transitividade chega-se à conclusão de que o AdvPA precede o AdvPC:

Os dados (4-6), retirados de Cinque (1999CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999., p. 33), ilustram esse ‘teste da transitividade’ aplicado a AdvPs ingleses: AdvPs de ato de fala precedem AdvPs avaliativos (4) que precedem evidenciais (5), os quais, por sua vez, precedem os epistêmicos (6):

O teste da transitividade também é aplicado aos núcleos funcionais (de diversas línguas). (7), por exemplo, apresenta ‘verbos’ ditos ‘auxiliares’ no inglês e espanhol, que tem sido considerados categorias nucleares da Flexão (IP):

Em (7), have ‘ter’ (a) e han (b) lexicalizam o núcleo de tempo; been (7a) e estado (7b), o aspecto perfeito; being (7a) e siendo (7b), o progressivo; o verbo lexical, dada a construção passiva, lexicaliza (derivacionalmente) a Voz (read, in (7a), e leídos,em (7b)). De (7), é possível inferir a seguinte ordenação parcial (cf. (8)):

Uma vez que os advérbios e os núcleos funcionais correspondem (entre si) em termos de número, ordenação relativa e classes semânticas, é possível propor que advérbios são parte integrante da estrutura funcional da oração. E é justamente esta uma das inovações que Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999. traz à teoria gramatical.

Já que o particípio passado ativo pode ocupar uma posição à direita e à esquerda de cada um dos advérbios baixos em italiano, Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999. sugere que haveria apenas uma posição nuclear entre dois advérbios, um argumento a favor da sua proposta para os AdvPs em Spec.

E os AdvPs focalizadores?

Apesar de sua abrangência empírica e conceptual, a hierarquia universal de Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999., apresentada em (1), não contempla posições para AdvPs focalizadores de diferentes classes (semânticas).Cinque (1999CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999., 2004CINQUE, G. Issues in Adverbial Syntax. Lingua, Leiden, v.114, n.6, p.683-710, 2004.) reconhece, no entanto, que possam ser tratados na esteira de Bayer (1996)BAYER, JDirectionality and Logical Form: On The Scope of Focussing Particles and Wh-in situ. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1996. e Kayne (1998)KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998..

Munaro (2011)MUNARO, N. On The Syntax of Focalizers in Some Italo-Romance Dialects. In: BAAUW, F. et al. Romance Languages and Linguistic Theory. Amsterdam: John Benjamins, 2011. p.157-174. também fornece um tratamento “cartográfico” para advérbios focalizadores: considera-os como o núcleo de uma projeção de foco das periferias (esquerda (CP) ou direita (vP)). Para Munaro, que também segue Kayne (1998)KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998., o focalizador atrairia o foco ao seu Spec (cf., na Figura 1, o passo representado por (1)), seguido pelo movimento do focalizador ao núcleo imediatamente acima (cf. (2)), e, na sequência, pelo movimento do remanescente (cf. (3) na Figura 1).

Figura 1
– A focalização por advérbios em Kayne (1998)KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998. e Munaro (2011)MUNARO, N. On The Syntax of Focalizers in Some Italo-Romance Dialects. In: BAAUW, F. et al. Romance Languages and Linguistic Theory. Amsterdam: John Benjamins, 2011. p.157-174.

Atraente por sua simplicidade – uma vez que a focalização por advérbios reflete o processo (mais) geral de focalização (com os advérbios focalizadores ocupando a posição de núcleo de uma das duas projeções de foco da sentença) –, a proposta de Munaro aparentemente não fornece uma razão estrutural para a existência de uma hierarquia de diferentes classes semânticas de advérbios focalizadores, haja vista o fato de assumir apenas duas posições de Soldagem (em CP e vP) para esses advérbios, independentemente de sua classe (semântica).

Avanços recentes em Cartografia ((CINQUE; RIZZI, 2010CINQUE, G.; RIZZI, L. The Cartography of Syntactic Structures. In: HEINE, B.; NARROG, H. (Ed.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis.Oxford: OUP, 2010. p. 51-65.) e referências citadas lá) nos levam à seguinte indagação: “Qual/quais a(s) posição(posições) que diferentes classes (semânticas) de advérbios focalizadores ocupariam em termos de hierarquias funcionais?”. Uma maneira de abordar a sintaxe de advérbios focalizadores em consonância com o Projeto Cartográfico seria reconhecendo que cada uma das diferentes classes desses AdvPs teria uma posição distinta de Soldagem (Merge), em consonância com o princípio do “One Feature, One Head” (KAYNE, 2005KAYNE, R. S. Movement and Silence. New York: Oxford University Press, 2005.). Este ponto de vista (forte) será o assumido aqui.

Os dados seguintes sugerem que diferentes classes de AdvPs focalizadores também se ordenam rigidamente entre si e em relação aos outros advérbios da hierarquia de Cinque:

Relativamente às ocorrências em (8-17), é importante observar que estamos assumindo que os advérbios em questão ocupam posições de especificadores a nível sentencial. Assim, para um dado AdvP, por exemplo,provavelmente, este item ocupará sempre a posição de [Spec,ModEpistemicP] – salvos, naturalmente, os casos de homonímia para os quais uma mesma forma lexical poderia ser soldada (‘merged’) em mais de uma posição, com especificações semânticas para cada uma das posições distintas. Assim,provavelmente em (19a, b, c) ocupa sempre a mesma posição na estrutura da sentença. O mesmo vale para só.

Há fatos empíricos para propor que, mesmo em casos como (19c) – que escondem uma interessante ambiguidade sucintamente descrita mais adiante – o advérbio ainda é Soldado na projeção estendida do verbo (ou sentença) e não é Soldado diretamente como adjunto do DP. Ao discutir fenômenos da elipse verbal em português (cf., bem mais adiante, sentenças (36-39) e texto relacionado), deverá ficar claro por que teorias que defendem que um AdvP possa ser adjungido diretamente a um DP não podem estar corretas. Se o advérbio não pode ser retomado pelo VP elíptico (em construções de elipse de VP), isso significa que o AdvP não pode ser um adjunto do DP. Este é um dos motivos por que se pode dispensar completamente a possibilidade de adjunção livre e direta de AdvPs a DPs e outros constituintes da sentença.

Para além disso, (19c) e ocorrências similares não só no PB, mas também no PE (ver o capítulo 5 de Tescari Neto (2013)TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013.) são ambíguas: os advérbios em (c) podem, em uma leitura, modificar apenas o DP (como se vê pela paráfrase em (19c’), a seguir), mas podem, numa outra, também modificar todo o VP (dada a aceitabilidade de (19c’’)).

Dado este fato, parece-nos ser muito mais atraente propor que ambas as leituras são derivadas da mesma maneira, i.e., pela subida do constituinte sob o escopo do(s) AdvP(s) ao especificador de um núcleo-probing atrator, seguido pela Soldagem do AdvP e posterior movimento do remanescente, à la Kayne (1998)KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998. (ver também Ambar (2008)AMBAR, M. On Some Special Adverbs, Word Order, and CP: Variation vs. Micro-Variation. Canadian Journal of Linguistics, Montréal, v.53, n.2/3, p.143-179, 2008., que propõe uma derivação muito similar para advérbios confirmativos do PE). Derivações como esta serão discutidas e representadas no texto que se segue às sentenças em (28). Assim, para as sentenças de (19), o mesmo processo se repete cada vez que um dos advérbios entra na estrutura, i.e., um movimento ao Spec do núcleo-probing (ver nota 5 a seguir) associado a só, com posterior Soldagem de e subida do remanescente, e um movimento de + DP ao Spec do núcleo-probing associado aprovavelmente, seguido pela Soldagem de provavelmentee movimento do remanescente.

Como consequência de tudo isso, não há por que distinguir AdvPs que modificam a sentença de AdvPs que modificam constituintes relativamente à posição que esses adverbiais ocupam na estrutura ou relativamente à porção da estrutura à qual os AdvPs se “adjungem”: essa posição é sempre a mesma – conforme ficará claro no decorrer do trabalho (ver a discussão sobre a sentença (30)) –, por serem os AdvPs exclusivamente modificadores da projeção estendida do verbo. O que contará ao “cálculo do escopo” do AdvP é a porção da estrutura que se eleva ao especificador do núcleo-probing associado ao adverbial e Soldado antes dele na derivação. Esse ponto será abordado quando introduzirmos as sentenças em (28) e representações arbóreas correspondentes. Deste modo, se apenas o DP-complemento é que se move, tem-se o ‘escopo estreito’ (como em (19c’), acima); se o constituinte que se eleva ao especificador do núcleo-probing inclui uma cópia não pronunciada do verbo – que, por razões independentes relacionadas ao movimento de V (POLLOCK, 1989POLLOCK, J.-Y. Verb Movement, Universal Grammar, and the Structure of IP. Linguistic Inquiry, Massachusetts, v. 20, n. 3, p. 365-474, 1989.; CYRINO, 2013CYRINO, S. On Richness of Tense and Verb Movement in Brazilian Portuguese. In: CAMACHO-TABOADA, M. V. et al. (Ed.) Information Structure and Agreement. Amsterdam: John Benjamins, 2013. p. 297-317., especificamente para o PB), se elevou a uma posição em INFL –, obtém-se uma leitura em que o AdvP tem escopo sobre todo o VP (‘escopo alargado’ ((19c’’), visto acima) dada a reconstrução da cópia daquele V no especificador do núcleo-probing.

A próxima seção explora a posição que o advérbio ocuparia na hierarquia universal.

Onde o advérbio se posiciona na hierarquia de Cinque?

Bever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008. e Shu (2011)SHU, C. Sentence Adverbs in the Kingdom of Agree. 2011. 253 p. Tese (Doutorado em Linguística) – Stony Brook University, New York, 2011. reconhecem que os advérbios focalizadores sejam classificados nas seguintes classes semânticas:

(i)exclusives: only, just, merely, etc.

(ii)non-scalar additives: too, also, etc.

(iii)scalar additives: even

(iv)particularizers: in particular, for example, etc.

(v)intensives: really, totally, etc.

(vi)minimizing downtoners: kind of, barely, hardly, etc.

(vii)maximizing downtoners: at most, at best, at a maximum, etc.

Conforme dito anteriormente, dos focalizadores da tabela, investiga-se, no presente trabalho, a posição dos advérbios de exclusão em relação aos demais AdvPs da hierarquia de Cinque. Propor-se-á, ao final, que esses advérbios correspondem, na verdade, a duas classes sintáticas – que são ‘sintatizadas’ em duas projeções distintas e não adjacentes –, devido à posição distinta que ocupam na hierarquia, o que explica seu comportamento distinto relativamente a uma gama de propriedades sintáticas.

Do trabalho de Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999., vale lembrar que advérbios habituais (solitamente ‘geralmente’) precedem a negação pressuposicional (mica) que precede, por sua vez, più(‘mais’):

Se considerarmos o focalizador only/só e os advérbios de (20), no tocante às relações de transitividade na sequência linear das sentenças (cf. (21) e (23)), teremos o quadro (parcial) em (22) e (24):

Uma vez que completamente é um AdvP de VP, i.e., se posiciona acima da projeção de vP, pode-se adicionar a observação em (24):

A instigante pergunta a fazer no presente contexto, dadas as relações de transitividade discutidas acima, seria: afinal, onde só/solo/onlyse posiciona? Os dados até então apresentados e as sentenças em (25-26), a seguir, parecem sugerir que o advérbio focalizador ocupa uma posição numa ‘zona de fronteira’ dentro do Middlefield, i.e., em uma posição entre os advérbios altos e os advérbios baixos da hierarquia em (1) (ver, para isso, (27)).

Aplicando testes de transitividade envolvendo e os advérbios alocados próximos ao aspecto habitual, é possível especificar a posição ocupada porna hierarquia de AdvPs do IP. deve seguir necessariamente o advérbio de aspecto tardio finalmente, o advérbio de aspecto predisposicional tendencialmente e o advérbio de aspecto repetitivo novamente (cf. (28a-c), respectivamente).

Em relação ao AdvP frequentativo (28d, d’), ao AdvP volitivo (28e, e’) e ao AdvP acelerativo (28f,f’), aparentemente (e somente aparentemente) parece não ser possível estabelecer uma ordenação relativa com o só:

Essa ordenação livre é muito mais aparente do que real. Se assumimos a proposta deKayne (1998)KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998. para a análise de focalizadores (ver Tescari Neto, 2013TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013.), podemos inferir que, após a atração do constituinte sob o escopo de, o outro AdvP pode ou não se mover como parte do remanescente à esquerda, criando a impressão de que não é possível estabelecer uma ordem rígida e fixa. Ver as figuras 2, 3 e 4 a seguir, em que a Figura 2 corresponderia ao que há de comum às derivações dessas ocorrências; a Figura 3 (mais adiante) corresponde aos passos finais da derivação de (28d, e, f) e a Figura 4, bem mais adiante ainda, à derivação de (28d’, e’, f’). Contudo, o fato de ter necessariamente de preceder(cf. (28g, g’)) é uma evidência importante a favor da ideia de que ocupa uma posição rígida e fixa na hierarquia, necessariamente depois de novamente (cf. (28c, c’)).

Figura 2
– A derivação de (28d, d’; e, e’; f, f’): primeiros passos

Figura 3
– A ordenação AdvP

Figura 4
– A derivação da ordem AdvP6 6 Os dados a seguir trazem o advérbio linearizado entre o sujeito e o verbo lexical. A tradição pós-Pollockiana entende que advérbios ocupam posições rígidas e que o que se desloca na sentença seriam outros constituintes, motivo por que advérbios podem ser utilizados como diagnósticos para movimentos. Mesmo (ia) é ambígua: o advérbio pode tomar por escopo todo o constituinte que o segue (cf. paráfrase (ia’)), leitura que se assemelha a que denominamos de ‘’escopo alargado’’ ou escopo sobre o VP, ou apenas o constituinte mais encaixado na estrutura (cf. paráfrase (ia’’)), caso típico de ‘escopo estreito’ (CHOMSKY, 1971). A ambiguidade será preservada na sentença em que o constituinte-QU é extraído (ib): provavelmente poderá tomar por escopo quer todo o VP (formado, nesse caso, pelo V mais a cópia não pronunciada do constituinte-QU extraído) quer apenas o constituinte-QU extraído. Para nós, apenas a leitura em que o advérbio tem escopo alargado (sobre o VP) é possível. Se se tem em mente, na formulação do teste, que o advérbio tem escopo apenas sobre o constituinte-QU extraído (como em (ib’) acima), a leitura deverá ser agramatical. Nos exemplos que se seguirão, os leitores perceberão que, na formulação desse teste, preferimos nos valer da posição do advérbio à direita do verbo lexical como em (34a) e (35b). Trata-se apenas de uma opção metodológica, pelo fato de os falantes que consultamos preferirem a leitura de escopo estreito em declarativas em que o advérbio se posiciona entre o verbo e o seu complemento (como em (34a) e (35b)). Igualmente, preferem, para (ia) acima, a leitura de ‘escopo alargado’. Questão de preferência apenas: as sentenças são sempre ambíguas. – focalizador exclusivo

Conforme sugere a Figura 2, antes da Soldagem (Merge) do AdvP frequentativo no especificador da projeção funcional correspondente (CINQUE, 1999CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999.), um núcleo atrator (probing) K0 atrai, para o seu especificador, o constituinte sob o escopo do advérbio frequentativo, conforme Kayne (1998)KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998. (cf. o passo indicado como (1) naFigura 2). Após o movimento do constituinte a ser focalizado, o advérbio entra na derivação no especificador imediatamente acima, seguindo a hierarquia de Cinque. Na sequência, há o movimento do remanescente (cf. (2) na Figura 2), que restaura a ordem anterior, criando a ilusão de que não houve movimentos. Esses passos são comuns à história derivacional de todas as ocorrências de (28 d/d’-f/f’).

Para derivar as ocorrências em que precede o outro advérbio, os passos seriam basicamente os mesmos: se o escopo de advérbios é atribuído, em Sintaxe visível, por movimento (KAYNE, 1998KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998.;TESCARI NETO, 2013TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013.), antes da Soldagem de, um núcleo probing atrairia ao seu especificador o constituinte – contendo o advérbiofrequentemente/voluntariamente/rapidamente – que porta o traço de foco, seguido pela Soldagem do advérbio no especificador acima e pelo movimento do remanescente à esquerda, novamente restaurando a ordenação anterior à Soldagem dos AdvPs na estrutura (cf. Figura 3, a seguir).

Para os casos em que frequentemente/voluntariamente/rapidamenteprecedem o advérbio , os primeiros passos da derivação são os mesmos que os descritos na Figura 2. A diferença acertará o material que será movido ao especificador do núcleo atrator5 5 Poder-se-ia questionar o porquê de esse mesmo expediente utilizado comfrequentemente – i.e., o movimento do remanescente contendo ou não o advérbio só –, que produz duas ordens possíveis, não poder ser usado com já. No presente momento, parece não haver resposta a essa indagação. No entanto, do ponto de vista de uma teoria Cartográfica pura – como a que aqui assumimos –, esse comportamento único dos advérbios de (28d, d’; e, e’; f, f’) – frequentemente aí incluído –, que podem ser linearizados quer na ordem AdvP-só, quer na ordem só-AdvP, é muitíssimo revelador: AdvPs de uma pequena “zona” do Middlefield (aqueles citados em (28d-f’), que na hierarquia se encontram abaixo de só (ver (29)) têm a faculdade de se moverem à esquerda de só como parte do remanescente ou não, ao passo que já e os AdvPs que se posicionam abaixo dele não têm tal faculdade. O que esse comportamento diferenciado dos advérbios de (28) em relação a só e do advérbio já em relação a só tem a nos dizer é que há operações sintáticas (no presente caso, a Soldagem interna (‘Merge’ interno) em sua modalidade de movimento do remanescente) que são disponíveis a advérbios pertencentes a uma certa porção da estrutura hierárquica e que não são disponíveis a advérbios pertencentes a outra(s) porção(ões) da hierarquia. À primeira vista não há nada de semântico que explique por que os advérbios de (28d-f’) tem um comportamento distinto de járelativamente à faculdade de serem ou não parte do remanescente: os advérbios de (28d-f’) incluem aspectuais (frequentemente eraramente) e um advérbio de modalidade volitiva (voluntariamente); já é um advérbio de tempo anterior. A resposta deve ser encontrada na estrutura, i.e., na posição que o advérbio ocupa em termos hierárquicos. Fatos como este parecem deixar claro que não há uma outra alternativa à Cartografia. e o remanescente: aquele não conterá o advérbiofrequentemente/voluntariamente/rapidamente que se moverá como parte deste, criando a ilusão de que não é possível estabelecer uma ordenação rígida e fixa entre o advérbio focalizador efrequentemente/voluntariamente/rapidamente (cf. Figura 4, a seguir).

Os dados apresentados até então mostram que ocupa uma posição entre AspRepetitive(I) ‘de novo/again’ e AspFrequentative(I)‘frequentemente’ (ver (29) a seguir). Portanto, seria um advérbio alto. Há algumas propriedades sintáticas de AdvPs altos que são também válidas para o advérbio só, conforme veremos nas próximas seções.

Algumas propriedades sintáticas dos advérbios ditos “altos”

Há uma certa confusão na literatura acerca do estatuto sintático dos advérbios, se advérbios altos (sentenciais ou de IP) ou baixos (ou de VP). A confusão aumenta ainda mais quando se pensam em advérbios altos que tomam por escopo argumentos de V (rever discussão sobre (19c, c’, c’’), acima). Tal confusão é muito nítida em uma língua como o PB em que um advérbio dito alto pode-se linearizar em diferentes posições da sentença:

O posicionamento do advérbio entre V e o DP-complemento (“ganhará provavelmente a Copa...”) parece ser problemático às teorias formais, segundo as quaisprovavelmente ocuparia uma posição alta no espaço IP (JACKENDOFF, 1972JACKENDOFF, R. Semantic Interpretation in Generative Grammar. Massachusetts: MIT Press, 1972.). Esse aparente problema decorre do fato de não se poder derivar tal posicionamento pelo simples movimento do V por sobre provavelmente, dada a agramaticalidade de (31):

Conforme mostrado por Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999., o particípio passado ativo não se pode mover por sobre advérbios altos em italiano.Tescari Neto (2013)TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013. rediscute o teste apresentado por Cinque, sugerindo que ele tem validade absoluta se se utilizam apenas verbos inergativos como mentir, que indubitavelmente não apresentam argumento interno, haja vista o fato de, em sentenças como (32), o posicionamento do verbo lexical à esquerda do advérbio ser o resultado, conforme já se disse aqui, de um movimento do remanescente.

Embora para Cinque (1999)CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999. pareça ser pouco relevante se um advérbio é de sentença ou de constituinte, se o rótulo correto deva ser “advérbio de IP” e “advérbio de VP” ou outro qualquer, o autor classifica os advérbios de sua hierarquia em altos e baixos. Ser “alto” significa não só aparecer numa posição alta do Middlefield, mas também não poder ser linearizado à direita do particípio passado ativo em italiano. Ser “baixo” significa, então, além da posição medial-baixa do item noMiddlefield, poder aparecer à direita do particípio passado. Apresentam-se, na sequência, algumas das propriedades sintáticas que Tescari Neto (2013)TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013. menciona como sendo comuns aos advérbios que Cinque denomina de advérbios altos – e que a literatura tem também denominado de advérbios de sentença. Essas propriedades serão cruciais em nossa argumentação para mostrar que o advérbio se comporta como um advérbio alto, ao passo que advérbios quantificacionais e, surpreendentemente, o advérbio de exclusão exclusivamente, se comportam como advérbios baixos.

A primeira propriedade teria a ver com a possibilidade de o advérbio aparecer em posição final de sentença: AdvPs altos não podem aparecer em posição final, a menos que estejam de-acentuados (BELLETTI, 1990BELLETTI, A. Generalized Verb Movement. Turin: Rosenberg & Sellier, 1990.; CINQUE, 1999CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-linguistic Perspective. New York: Oxford University Press, 1999.; ERNST, 2002ERNST, T. The Syntax of Adjuncts. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.; LAENZLINGER, 2002LAENZLINGER, C. A Feature-based Theory of Adverb Syntax. GG@G: Generative Grammar in Geneva, n. 3, p. 67-105, 2002.; TESCARI NETO, 2013TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013.). Repare que (33a, a’) são agramaticais: o AdvP alto aparece em posição final e não está prosodicamente marcado (entoação plana para essas sentenças). (33c, c’) são gramaticais: o AdvP baixo pode aparecer em posição sentencial final. AdvPs altos só são possíveis em posição sentencial final se de-acentuados (cf. (33b, b’), onde a vírgula tenta capturar, na escrita, a de-acentuação do AdvP na linearização da sentença). (33a, b, c) são sentenças do italiano, cujas versões em português são dadas respectivamente em (33a’, b’, c’).

Observe que o AdvP que, a partir dos testes de transitividade, ocupa uma posição na parte superior do Middlefield, i.e., uma posição entre os advérbios altos, se comporta exatamente como provavelmente,em relação a essa primeira propriedade:

A segunda propriedade tem a ver com a possibilidade de extrair o constituinte associado ao AdvP: nos casos em que o AdvP alto focaliza um constituinte da sentença (i.e., quando um AdvP alto toma por escopo um constituinte da sentença diferente do VP), dado o Congelamento Criterial(“Criterial Freezing”) (RIZZI, 2004RIZZI, L. On the Form of Chains: Criterial Positions and ECP Effects. 2004. Disponível em: <http://www.ciscl.unisi.it/doc/doc_pub/Rizzi_2004-On_the_form_of_chains.pdf>. Acesso em: 2 set. 2015.
http://www.ciscl.unisi.it/doc/doc_pub/Ri...
), esse constituinte não pode ser extraído (BEVER; CLARK, 2008BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008.; TESCARI NETO, 2013TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013.):

É importante observar que a agramaticalidade de (34b) está para a leitura em que o advérbio toma por escopo o constituinte-QU extraído, e não para a interpretação em que o advérbio modifica todo o VP. (34a) é ambígua, motivo por que (34b) também o é. As paráfrases em (34a’, a’’) ilustram as duas leituras possíveis para (34a), possibilidade esta já mencionada no início desta seção.

Se se considera a possibilidade de o advérbio em (34b) ter escopo alargado, i.e., escopo sobre o VP (como na paráfrase (34a’’) para (34a)), (34b) poderá ser considerada gramatical. Para os propósitos do presente trabalho, é de suma importância a exclusão dessa leitura de escopo alargado (sobre o VP), uma vez que tal leitura deverá ser sempre possível, haja vista o fato de o advérbio se encontrar em uma posição necessariamente mais alta que a de pouso de V (que não se pode elevar à esquerda de AdvPs altos, conforme já deixamos claro ao discutir (31) e (33)).

A exclusão de (34b) – repetida a seguir,

para a qual é preciso ter em mente, mais uma vez, que o dado relevante envolve a modificação, pelo advérbio, de apenas o constituinte extraído e não de todo o VP – é que servirá como critério para distinguir AdvPs altos de baixos, uma vez que o constituinte sob o escopo dos primeiros não poderá jamais ser extraído. Conforme veremos mais adiante, o constituinte associado a um advérbio baixo pode ser extraído, sem o risco de agramaticalidade para a sentença. Desse momento em diante, portanto, para os casos de extração à periferia esquerda,estaremos considerando apenas a possibilidade do escopo estreito.

Retomando, então, a segunda propriedade, segundo a qual constituintes sob o escopo de um advérbio alto não podem ser extraídos, o mesmo padrão observado acima em relação a provavelmente foi observado para o focalizadorsó: o foco associado a ele também não pode ser extraído (BEVER; CLARK, 2008BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008.; JACKENDOFF, 1972JACKENDOFF, R. Semantic Interpretation in Generative Grammar. Massachusetts: MIT Press, 1972.; KAYNE, 1998KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998.; TESCARI NETO, 2013TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013.) (cf. (34) e (35b)):7 7 Aqui reside uma das diferenças entre o PE e o PB, que Cyrino e Matos (2002) mencionam em seu texto: (39) não é somente ambígua entre uma interpretação de elipse de VP para a lacuna (“[-]”), naturalmente agramatical se o advérbio for recuperado (39a), e uma interpretação de complemento nulo para a lacuna (39b), possíveis quer para o PB quer para o PE. (39), no PB, é ainda compatível com a possibilidade de o verbo comerser tratado como monoargumental, de argumento implícito. A possibilidade de interpretação da lacuna como sendo um objeto nulo ou de o verbocomer ser aí monoargumental em PB não invalida, entretanto, o teste, que claramente mostra que, se aplicada a elipse de VP por exemplo à (39), o resultado deverá ser agramatical (39a), estando o adjunto em uma posição mais alta do que a do verbo.

A terceira propriedade dos advérbios altos enuncia que estes não podem ser recuperados pelo VP elíptico em português (TESCARI NETO, 2013TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013.), uma vez que se encontram acima da posição de pouso de V (em seu movimento à Flexão):

No presente contexto, é necessário discriminar entre aquilo que de fato consiste no fenômeno sintático da elipse do VP em português e outras construções sintáticas de apagamento de constituintes, como o ‘despojamento’. É também necessário, para uma compreensão correta do fenômeno, discriminar os fatos sobre a elipse de VP em inglês e em português. Ocorrências como (37) são exemplos claros de despojamento, não de elipse de VP:

(37) distingue-se de casos reais de elipse de VP pelo fato, já muitíssimo conhecido pelos sintaticistas que descrevem o PB, de o despojamento não poder aparecer no interior de uma ilha (CYRINO; MATOS, 2002CYRINO, S.; MATOS, G. VP Ellipsis in European and Brazilian Portuguese: a Comparative Analysis. Journal of Portuguese Linguistics, Lisboa, v. 1, n. 2, p. 177-195, 2002.) (ver (37’)). A elipse de VP é possível no interior de ilhas (ver (36’)).

Desde o trabalho de Matos (1992)MATOS, G. Construções de Elipse do predicado em Português: SV Nulo e Despojamento. 1992. 459 f. Tese (Doutorado em Linguística Portuguesa) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 1992. sobre as construções de elipse em português, sabemos que um dos pontos que distinguem o fenômeno da elipse em português (europeu e brasileiro) do mesmo fenômeno em inglês diz respeito à possibilidade de o verbo lexical legitimar o apagamento do VP-elíptico em português, mas não em inglês, motivo que explica a agramaticalidade de (38a), do inglês, face à gramaticalidade de (38b), do português.

A impossibilidade de (38a) se justifica em termos da ausência do movimento do verbo à flexão em inglês (POLLOCK, 1989POLLOCK, J.-Y. Verb Movement, Universal Grammar, and the Structure of IP. Linguistic Inquiry, Massachusetts, v. 20, n. 3, p. 365-474, 1989.). É condição necessária ao fenômeno da elipse a presença de um constituinte dotado de traço [+V] em INFL. Como o inglês não tem movimento de V a INFL, construções de elipse serão possíveis apenas se um verbo auxiliar ou modal estiver presente na numeração. Tal verbo será diretamente soldado em INFL e, a partir daquela posição, poderá legitimar o apagamento do VP em inglês (ver (38c), a seguir).

O português (brasileiro e europeu) apresenta movimento de V a INFL (CYRINO; MATOS, 2002CYRINO, S.; MATOS, G. VP Ellipsis in European and Brazilian Portuguese: a Comparative Analysis. Journal of Portuguese Linguistics, Lisboa, v. 1, n. 2, p. 177-195, 2002.; MATOS; CYRINO, 2001MATOS, G.; CYRINO, S. Elipse de VP no Português Europeu e no Português Brasileiro. Boletim da Abralin 26, Guamá, n.esp., p. 386-390, 2001.; CYRINO, 2013CYRINO, S. On Richness of Tense and Verb Movement in Brazilian Portuguese. In: CAMACHO-TABOADA, M. V. et al. (Ed.) Information Structure and Agreement. Amsterdam: John Benjamins, 2013. p. 297-317., dentre outros). Estando o verbo lexical em INFL, ele pode legitimar o apagamento de todo o constituinte por ele c-comandado (no caso, de todo o VP, que conterá eventuais adjuntos e complementos de VP e a cópia não pronunciada de V, cuja matrix pronunciável estará em INFL). Esta é uma importante diferença entre os fatos da elipse verbal no inglês e em português. Portanto, é lícito valermo-nos de ocorrências de elipse de VP envolvendo o verbo lexical em português. E faz sentido à nossa argumentação que ocorrências de elipse de VP envolvam o verbo lexical, não um verbo auxiliar, justamente pelo fato de o movimento do verbo lexical ser limitado: via de regra, conforme vimos, o verbo lexical não pode subir acima de AdvPs altos. Por esse motivo, o teste da elipse é um teste fidedigno para detectar se um advérbio é alto ou baixo (em português), justamente pelo fato de advérbios altos não poderem jamais ser recuperados pelo VP elíptico por ocuparem uma posição mais alta do que a posição máxima de pouso do V em INFL, posição a partir da qual o V legitimará o apagamento de toda a porção da estrutura por ele c-comandada. Auxiliares, mesmo em inglês, têm a faculdade de se moverem a posições altas (POLLOCK, 1989POLLOCK, J.-Y. Verb Movement, Universal Grammar, and the Structure of IP. Linguistic Inquiry, Massachusetts, v. 20, n. 3, p. 365-474, 1989.). Não servem, então, para discriminar entre um AdvP alto e um baixo.

As observações feitas sobre provavelmente em (36), i.e., que este advérbio não é recuperável pelo VP-elíptico em PB, também valem paraonly do inglês (BEVER; CLARK, 2008BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008.) e seu correspondente em português. Falantes do PB para os quais o focalizador pode ser apenas um AdvP alto não conseguem recuperar este advérbio no segundo elemento da coordenação em construções de elipse de VP (Lílian Teixeira, com. pessoal):

Portanto, conforme se viu nesta seção, em relação às três propriedades geralmente atribuíveis a AdvPs altos, se comporta como um AdvP alto.

O AdvP de exclusão vs. AdvPs quantificacionais

Bever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008. observam que o foco (estreito) associado a advérbios quantificacionais, diferentemente do foco (estreito) associado a um AdvP de exclusão (por exemplo, ), pode ser extraído e movido à periferia esquerda. Nesta seção, mostraremos alguns dados (envolvendo extração-QU, focalização, clivagem, fronteamento de adjuntos e relativas – processos sintáticos tradicionalmente assumidos pela literatura como envolvendo deslocamento de constituintes à periferia esquerda) que influenciaram Bever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008. a sugerirem uma interpretação semântica para as diferenças entre os AdvPs de exclusão e os quantificacionais. Nas seções seguintes, ampliaremos o espectro de análise, incluindo aí outros tipos de advérbios altos e baixos, para mostrar que os dados de Bever e Clark são apenas epifenomenais: o focalizador não passa de um AdvP alto; e, como tal, se comporta como os outros advérbios altos em relação às possibilidades de extração, em relação à retomada pelo VP-elíptico e em relação à colocação em posição final de sentença (esta última propriedade não fora mencionada em Bever e Clark, 2008BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008.). Diferentemente dos advérbios altos – aí incluído o focalizador de exclusão –, os quantificacionais, por serem advérbios baixos, apresentam um comportamento oposto relativamente a tais propriedades. A moral da história, que se sugerirá ao final de tais comparações na penúltima seção de nosso trabalho, será a de que as diferenças entre os focalizadores de exclusão e os quantificacionais não se podemsimplesmente reduzir a um problema semântico: na verdade, a razão éestrutural e se relaciona à posição que o advérbio ocupa na hierarquia. Noutras palavras, o problema é da Narrow Syntax e tem a ver com a posição em que o elemento entra na derivação.

1. Extração-QU: Ao passo que AdvPs quantificacionais admitem a extração-QU do constituinte a eles associado (cf. (40a, 41a)), o focalizadorsó/only não admite tal extração (cf. (42a, 43a), cuja paráfrase não é possível de ser estendida a (42 e 43) respectivamente):

2. Focalização: Focalização contrastiva envolve movimento à periferia esquerda, i.e., a uma posição remática marcada (ver, para o PB, por exemplo, MIOTO, 2001MIOTO, C. Sobre o Sistema CP no Português Brasileiro. Revista Letras, Curitiba, n. 56, p. 97-139, jul./dez. 2001.). Observe que a interpretação dada em (44a’) para (44a) é gramatical, i.e., o foco associado ao advérbio frequentativo pode ser extraído. O advérbio only ‘só’, por outro lado, não admite a extração de seu associado (cf. a paráfrase de (44b) em (44b’)).

Novamente, AdvPs quantificacionais se comportam diferentemente do focalizadorsó/only, que se comporta, conforme veremos, como um advérbio alto.

3. Fronteamento de AdvPs: Advérbios quantificacionais permitem o fronteamento de um AdvP por eles modificados (ver (45) e a paráfrase em (45a’)).

O advérbio only ‘só’, por outro lado, não admite o fronteamento de um AdvP a ele associado (cf. a paráfrase (45b’), de (45b), que mostra que (45b) não pode receber a interpretação em que On Sunday foi fronteado (45’b)).

Conforme se verá na próxima seção, advérbios altos também não permitem o fronteamento do constituinte a eles associado.

Advérbios baixos se comportam como os quantificacionais; advérbios altos se comportam como

Nesta seção, mostramos que a polarização não deveria ser “advérbios quantificacionais” versus “focalizador exclusivo só” –conforme se depreende da leitura e interpretação de Bever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008. –, mas “advérbios altos”versus “advérbios baixos”. Vale repetir que colocar o focalizador só num extremo da linha e os quantificacionais no outro extremo, como o fizeram Bever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008., é no mínimo bastante redutor: o focalizador nada mais é do que um representante da classe dos advérbios ditos altos e os quantificacionais nada mais são do que representantes da classe dos AdvPs ditos baixos, i.e., aqueles que ocupam a zona medial-baixa do Middlefield. Para mostrar como a polarização de Bever e Clark é redutora, na seção que se seguirá a esta se verá que há uma classe de focalizadores também de exclusão que se comporta como os advérbios baixos e não como o exclusivo que ocupa uma posição alta. A motivação é estrutural e se relaciona com a posição de Soldagem (‘Merge’) do advérbio na hierarquia.

1. Focalização: Advérbios altos se comportam como , i.e., não admitem a extração do constituinte sob seu escopo (estreito). Assim, (46) é agramatical se o AdvP tem escopo estreito. Já o constituinte associado a um advérbio baixo (47) pode ser deslocado à esquerda:

2. Fronteamento de adjuntos: Adjuntos também não podem ser fronteados, se associados a um AdvP alto (48). Se associados a um AdvP baixo, tal fronteamento é possível (49):

3. Clivagem: Também a clivagem, por envolver deslocamento à esquerda por movimento, será possível ao associado de um AdvP baixo (51). O associado de um AdvP alto (50) não pode entrar nessas estruturas.

4. Extração-QU: Também o movimento-QU será possível apenas ao constituinte associado a um advérbio baixo (53). O associado a um advérbio alto não poderá jamais ser extraído (52), se o advérbio o toma por escopo.

5. Relativas: Uma vez que envolve também movimento ao CP, a relativização é um bom diagnóstico para diferenciar advérbios altos e baixos: os baixos admitem que o constituinte a eles associados sejam relativizados (ver (55)), ao passo que os altos reagem a tal movimento (de seu constituinte associado) (cf. (54)).

Até o momento, vimos que o advérbio de exclusão se comporta como os demais advérbios altos em relação às possibilidades de extração do constituinte por ele modificado. Advérbios altos e o focalizador apresentam um mesmo comportamento em relação a tais possibilidades de extração: não podem ser extraídos. Se a Semântica fosse responsável pelas assimetrias que colocam o exclusivo de um lado e os advérbios quantificacionais de outro, não deveríamos encontrar casos de advérbios exclusivos que se comportam também como os quantificacionais em relação, por exemplo, à extração à periferia esquerda. Isso é o que será mostrado na próxima seção. A conclusão será que o que Bever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008. pensaram que deveria receber uma explicação semântica deve, na verdade, receber uma explicação estrutural (sintática).

Mas há duas posições para advérbios de exclusão

O interessante fato de uma mesma sentença poder contar com dois advérbios focalizadores de exclusão ( e exclusivamente, respectivamente) sugere a existência de duas posições distintas para advérbios de exclusão:

Exclusivamente parece ser um candidato, em português brasileiro, para preencher a posição baixa. Alguns falantes nunca recuperam o em elipses de VP (cf. (37), repetido como (55) a seguir).

Curiosa, mas não supreendentemente, falantes deste grupo recuperam o focalizador de exclusão exclusivamente:

Em suas gramáticas, o foco associado a exclusivamente, mas não o associado a só, pode também ser extraído:

Há, portanto, boas razões para postular a existência de duas posições sintáticas para advérbios de exclusão (uma alta – entre os advérbios altos – e uma baixa – com o advérbio exclusivamente a comportar-se como um AdvP baixo).

Evidência ulterior para uma posição baixa para o advérbio de exclusão vem de fatos do movimento do verbo em PB. O movimento do V em PB é obrigatório à esquerda do AdvPcompletamente (GALVES, 1994GALVES, C. V-movement, Levels of Representation and the Structure of S. Letras de Hoje, Porto Alegre, n. 96, p. 35-58, 1994.):

Espera-se, portanto, que o AdvP de exclusão exclusivamente – ou (no caso de haver um baixo) para aqueles que também aceitam que seja recuperado pelo VP elíptico – ocupe uma posição acima de AspSingCompletivo(I), uma vez que exclusivamentepode preceder o V em PB:

Observe que (59b) indubitavelmente é mais aceitável do que (59a) que, entretanto, não é agramatical. O fato de (59a) ser aceitável em alguma extensão nos leva a concluir que exclusivamente, o advérbio de exclusão baixo, ocupa necessariamente uma posição à esquerda de completamente, que, como vimos em (58), deve obrigatoriamente aparecer à direita do V, i.e., V deve subir à sua esquerda.

Exclusivamente deve seguir brevemente(AspDurative) (60), quase(AspProspective) (61), repentinamente(AspIncoativo(I)) (62), obrigatoriamente(MoodObligation) (63), em vão(AspFrustrative) (64), que, por seu turno, precedem o AdvP completivocompletamente na hierarquia:

Os dados apresentados nesta seção nos levam a concluir, para a posição dita baixa do advérbio de exclusão, que esta se situa entre o aspecto frustrativo (lexicalizado pelo advérbio em vão) e o aspecto completivo (completamente), conforme o esquema dado em (64’).

Há, pois, razões para assumir também uma posição baixa para o advérbio de exclusão. Neste uso, o advérbio de exclusão (exclusivamente), diferentemente do advérbio de exclusão alto (), é recuperado pelo VP elíptico – como os advérbios baixos (cf. (65-66)) –, pode aparecer em posição final – como um advérbio baixo – (cf. (67a) e (67b)) e pode ter o constituinte sob o seu escopo extraído à esquerda, como um advérbio baixo (movimento-QU (68a, b), clivagem (69a, b)).

(65-69) mostram que o advérbio de exclusão se comporta na verdade como um advérbio baixo, no que diz respeito a algumas propriedades sintáticas. Se a interpretação deBever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008. estivesse correta, esperar-se-ia que, em virtude de sua semântica, o advérbio exclusivoexclusivamente se comportasse como o seu “parente”, o exclusivosó. Mostramos que o que está em jogo é, na verdade, a posição que os elementos ocupam na estrutura: advérbios baixos (sejam quantificacionais ou não (aí incluído o focalizador exclusivo exclusivamente)) compartilham um feixe de propriedades sintáticas comuns: (i) aparecem em posição final, (ii) podem ter o constituinte sob o seu escopo extraído à periferia esquerda, (iii) são recuperáveis pelo VP elíptico. Tais propriedades não são compartilhadas pelos advérbios altos e pelo focalizador .

A título de conclusão

Se fosse a Semântica a responsável pelas assimetrias que Bever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008. observaram ao compararem advérbios quantificacionais e advérbios de exclusão, dever-se-ia esperar, para o AdvP de exclusão baixo (exclusivamente), o mesmo padrão observado para o AdvP de exclusão alto ().

A presente proposta tem a vantagem de explicar o mesmo conjunto de dados discutidos por Bever e Clark (2008)BEVER, D.; CLARK, B. Z. Sense and Sensitivity: How Focus Determines Meaning. Malden, MA: Blackwell, 2008. e, para além disso, também pode explicar por que o focalizador se comporta como os demais advérbios altos (em seu uso focalizador). A proposta aqui apresentada também explica o comportamento inesperado do advérbio exclusivo baixo (exclusivamente) tão somente levando em consideração razões estruturais.

O trabalho oferece, portanto, alguma contribuição aos estudos sobre a Cartografia das estruturas sintáticas, ao mostrar haver diferenças nítidas no comportamento sintático de constituintes levando-se em conta apenas a posição que esses elementos ocupam na hierarquia (i.e., a posição em que são Soldados externamente (‘externally Merged’)). Dizer que o responsável pelas assimetrias que põem de um lado advérbios altos e e de outro advérbios baixos (e, dentro desse grupo, os quantificacionais, o exclusivoexclusivamente, dentre outros) é a posição desses itens na hierarquia não significa jamais ignorar explicações semânticas. Significa apenas pôr a Sintaxe em seu devido lugar, mostrando que comportamentos distintos de advérbios podem ter explicação estrutural.

Agradecimentos

Agradeço aos pareceristas anônimos que fizeram com que este trabalho ganhasse muito em qualidade. Limitei-me a mencioná-los no texto apenas quando não compartilhei os seus julgamentos relativos a uma ou outra sentença. Agradeço também a Sonia Cyrino por ter abraçado a ideia de supervisionar um pós-doutorado sobre advérbios focalizadores no framework da Cartografia. A Guglielmo Cinque por inspirar a minha pesquisa e pelos interessantes insights que me deu em outubro de 2013, em Veneza. A Lílian Teixeira pela engenhosa observação que fez no tocante à elipse do verbo, que resultou nas reflexões que aqui apresento. Agradecimentos aos colegas presentes ao simpósio sobre a periferia esquerda do II Seminário Internacional de Língua e Literatura na Fronteira Sul, de Chapecó/SC, em novembro de 2013, pelas sugestões, e também aos companheiros do Dipartimento di Scienze del Linguaggio, onde também problematizei, em palestra, os tópicos que aqui apresento. Agradecimentos mais do que especiais à FAPESP pelo apoio (Processo 2013/04001-1).

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  • 1
    Os índices F1 e F2 referem-se aos advérbios focalizadores que tomam sob o seu escopo respectivamente os constituintes 1 e 2. Repare que, em chinês, a sintaxe visível deve espelhar a relação de escopo entre os focalizadores: assim, há um movimento pré Spell-Out de uma porção da oração, indicada pelo índice “i”, que contém o modificador 1 e o foco F1. Para a presente discussão, é importante frisar que a linearização “[1 F1]i [2 F2] … ti” reflete exatamente uma hierarquia subjacente em que Adv1 > Adv2 (que também vimos em (8-11)).
  • 2
    Para um dos pareceristas anônimos, (i.b) é apenas marginal, mas não agramatical:
    Para nós, (b) é agramatical, a não ser que só seja “prosodicamente marcado”. Para os propósitos deste trabalho, ao produzir julgamentos de gramaticalidade, é importante criar ‘pares mínimos reais’, i.e., sentenças com entoação “plana”. Se o “só” em (b) é prosodicamente marcado, (b) não forma par mínimo com (a) e as duas sentenças devem ser descartadas da amostra.
  • 3
    Para um dos pareceristas, (ia), a seguir – que forma um legítimo par mínimo (no sentido da nota 2) com (ib) –, não é agramatical, mas marginal, depois de muita insistência: $$
    Para nós, mesmo (ia) é gramatical. Vale, no entanto, notar que, apesar da degradação de ambas, o parecerista oferece julgamentos distintos e bem claros às sentenças em (a) e (b): considera (a) menos degradada do que (b), esta última por ele considerada completamente agramatical. $$ É importante, no presente contexto, trazer à discussão a sentença (ic), a seguir, também fornecida pelo parecerista.
    Para os propósitos teórico-metodológicos do presente trabalho, sentenças do tipo de (ic) devem ser desconsideradas por uma razão: (ic) não forma par mínimo com (ib), haja vista o fato de os advérbios de (ic) não estarem em contiguidade. A contiguidade é extremamente necessária aqui – estejam os AdvPs precedendo um auxiliar ou mesmo o V lexical, estejam os AdvPs precedendo um dos argumentos de V –, pois o movimento do remanescente pode mascarar a ordenação dos AdvPs, criando a ilusão de que não é possível estabelecer uma ordenação rígida e fixa entre ambos. Por esse motivo, é necessário que os AdvPs sejam contíguos.
  • 4
    Em Kayne (1998)KAYNE, R. S. Overt vs. Covert Movements. Syntax,Harvard, n. 1, p. 128-191, 1998., esse núcleo atrator seria lexicalizado pelo próprio advérbio focalizador, que, após o movimento do foco a seu especificador, também se moveria, adjungindo-se ao núcleo imediatamente acima. A modificação feita aqui – que mantém a ideia original de Kayne e o mesmo processo derivacional – se diferencia da proposta original deste autor apenas pelo fato de que o núcleo atrator não seria preenchido pelo advérbio focalizador em si, que entraria na derivação no Especificador da projeção imediatamente acima, mas por um núcleo não pronunciado em português. Há, entretanto, conforme Tescari Neto (2013)TESCARI NETO, A. On Verb Movement in Brazilian Portuguese:A Cartographic Study. 2013. 392 p. Tese (Doutorado em Ciência da Linguagem) – Università di Venezia, Venezia, 2013. faz notar, evidência forte para assumir que o núcleo atrator não seria o advérbio focalizador, mas uma partícula associada a foco. SegundoShu (2011, pSHU, C. Sentence Adverbs in the Kingdom of Agree. 2011. 253 p. Tese (Doutorado em Linguística) – Stony Brook University, New York, 2011., p. 132), há, em mandarim, um marcador de concordância, CAI, que pode aparecer com um advérbio focalizador:
    O ponto interessante aqui é que essa partícula cai aparece sempre imediatamente à direita do foco, i.e., ela sinaliza a borda direita do constituinte focalizado. Pode-se, pois, tomar essa partícula como sendo o núcleo atrator do foco, que se associa necessariamente a um advérbio. Em PB, no entanto, esse núcleo é silencioso.
  • 5
    Poder-se-ia questionar o porquê de esse mesmo expediente utilizado comfrequentemente – i.e., o movimento do remanescente contendo ou não o advérbio –, que produz duas ordens possíveis, não poder ser usado com já. No presente momento, parece não haver resposta a essa indagação. No entanto, do ponto de vista de uma teoria Cartográfica pura – como a que aqui assumimos –, esse comportamento único dos advérbios de (28d, d’; e, e’; f, f’) – frequentemente aí incluído –, que podem ser linearizados quer na ordem AdvP-só, quer na ordem só-AdvP, é muitíssimo revelador: AdvPs de uma pequena “zona” do Middlefield (aqueles citados em (28d-f’), que na hierarquia se encontram abaixo de (ver (29)) têm a faculdade de se moverem à esquerda de como parte do remanescente ou não, ao passo que e os AdvPs que se posicionam abaixo dele não têm tal faculdade. O que esse comportamento diferenciado dos advérbios de (28) em relação a e do advérbio em relação atem a nos dizer é que há operações sintáticas (no presente caso, a Soldagem interna (‘Merge’ interno) em sua modalidade de movimento do remanescente) que são disponíveis a advérbios pertencentes a uma certa porção da estrutura hierárquica e que não são disponíveis a advérbios pertencentes a outra(s) porção(ões) da hierarquia. À primeira vista não há nada de semântico que explique por que os advérbios de (28d-f’) tem um comportamento distinto de relativamente à faculdade de serem ou não parte do remanescente: os advérbios de (28d-f’) incluem aspectuais (frequentemente eraramente) e um advérbio de modalidade volitiva (voluntariamente); é um advérbio de tempo anterior. A resposta deve ser encontrada na estrutura, i.e., na posição que o advérbio ocupa em termos hierárquicos. Fatos como este parecem deixar claro que não há uma outra alternativa à Cartografia.
  • 6
    Os dados a seguir trazem o advérbio linearizado entre o sujeito e o verbo lexical. A tradição pós-Pollockiana entende que advérbios ocupam posições rígidas e que o que se desloca na sentença seriam outros constituintes, motivo por que advérbios podem ser utilizados como diagnósticos para movimentos.
    Mesmo (ia) é ambígua: o advérbio pode tomar por escopo todo o constituinte que o segue (cf. paráfrase (ia’)), leitura que se assemelha a que denominamos de ‘’escopo alargado’’ ou escopo sobre o VP, ou apenas o constituinte mais encaixado na estrutura (cf. paráfrase (ia’’)), caso típico de ‘escopo estreito’ (CHOMSKY, 1971)CHOMSKY, N. Deep Structure, Surface Structure and Semantic Interpretation. In: STEINBERG, D. D.; JAKOBOVITS, L. A. (Ed.).Semantics. Cambridge: CUP, 1971. p.62-119..
    A ambiguidade será preservada na sentença em que o constituinte-QU é extraído (ib): provavelmente poderá tomar por escopo quer todo o VP (formado, nesse caso, pelo V mais a cópia não pronunciada do constituinte-QU extraído) quer apenas o constituinte-QU extraído. Para nós, apenas a leitura em que o advérbio tem escopo alargado (sobre o VP) é possível. Se se tem em mente, na formulação do teste, que o advérbio tem escopo apenas sobre o constituinte-QU extraído (como em (ib’) acima), a leitura deverá ser agramatical. Nos exemplos que se seguirão, os leitores perceberão que, na formulação desse teste, preferimos nos valer da posição do advérbio à direita do verbo lexical como em (34a) e (35b). Trata-se apenas de uma opção metodológica, pelo fato de os falantes que consultamos preferirem a leitura de escopo estreito em declarativas em que o advérbio se posiciona entre o verbo e o seu complemento (como em (34a) e (35b)). Igualmente, preferem, para (ia) acima, a leitura de ‘escopo alargado’. Questão de preferência apenas: as sentenças são sempre ambíguas.
  • 7
    Aqui reside uma das diferenças entre o PE e o PB, que Cyrino e Matos (2002)CYRINO, S.; MATOS, G. VP Ellipsis in European and Brazilian Portuguese: a Comparative Analysis. Journal of Portuguese Linguistics, Lisboa, v. 1, n. 2, p. 177-195, 2002. mencionam em seu texto: (39) não é somente ambígua entre uma interpretação de elipse de VP para a lacuna (“[-]”), naturalmente agramatical se o advérbio for recuperado (39a), e uma interpretação de complemento nulo para a lacuna (39b), possíveis quer para o PB quer para o PE. (39), no PB, é ainda compatível com a possibilidade de o verbo comerser tratado como monoargumental, de argumento implícito. A possibilidade de interpretação da lacuna como sendo um objeto nulo ou de o verbocomer ser aí monoargumental em PB não invalida, entretanto, o teste, que claramente mostra que, se aplicada a elipse de VP por exemplo à (39), o resultado deverá ser agramatical (39a), estando o adjunto em uma posição mais alta do que a do verbo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    Dez 2013
  • Aceito
    Abr 2014
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