Acessibilidade / Reportar erro

EFEITO DOS FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS METARHIZIUM ANISOPLIAE E BEAUVERIA BASSIANA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE MUSCA DOMESTICA L. (DIPTERA: MUSCIDAE) EM LABORATÓRIO

EFFECT OF THE ENTOMOPATHOGENIC FUNGI METARHIZIUM ANISOPLIAE AND BEAUVERIA BASSIANA ON THE DEVELOPMENT OF MUSCA DOMESTICA L. (DIPTERA: MUSCIDAE) IN THE LABORATORY

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar a porcentagem de emergência de Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) após exposição a isolados fúngicos em diferentes concentrações. A partir dos resultados obtidos concluiu-se que o isolado de Metarhizium anisopliae (CG34) afeta o desenvolvimento pupal de M. domestica em condições laboratoriais, levando a uma diminuição da taxa de emergência conforme se aumentou a concentração de conídios, já o isolado de Beauveria bassiana (CG240) não apresentou efeitos sobre o desenvolvimento deste inseto.

PALAVRAS-CHAVE
Metarrhizium anisopliae ; Beauveria bassiana ; controle biológico; Musca domestica

ABSTRACT

The objective of this research was to evaluate the percentage of emergence of Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) after exposure to the isolate of the fungi in different concentrations. From the obtained results it was concluded that the isolate of Metarhizium anisopliae (CG34) affects the pupal development of M. domestica under laboratory conditions, leading to a decrease of the emergence tax and an increase in the conidia concentration, while the isolate from Beauveria bassiana (CG240) did not present effects on the development of this insect.

KEY WORDS
Metarrhizium anisopliae ; Beauveria bassiana ; biological control; Musca domestica

Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) é uma espécie de grande importância médica sanitária, pois atua como vetor mecânico e/ou biológico de diversos agentes patogênicos, incluindo parasitos do homem e de animais domésticos. Infestações por M. domestica causam sérios problemas em criações de animais, interferindo no ganho de peso como agente causador de estresse, podendo afetar a postura em aves, resultando assim em perdas econômicas significativas. Possui distribuição geográfica mundial, mostrando-se predominante sobre os demais dípteros sinantrópicos (NUNES et al., 2002NUNES, M.S.; COSTA, G.L.; BITTENCOURT, V.R.E.P.; SOUZA, E.J. Avaliação in vitro dos fungos Aspergillus flavus e Penicillium corylophilum em larvas de Musca domestica (Diptera: Muscidae). Parasitología Latinoamericana, v.57, n.3/4, p.134-140, 2002.).

Devido aos crescentes riscos de contaminação, o uso de pesticidas no controle de pragas tem sido reduzido em várias partes do mundo, conseqüentemente maior interesse vem sendo dado ao controle alternativo, sendo que o uso de fungos parasitas de insetos tem recebido maior atenção no Brasil (ASSUNÇÃO & HPADHYAY, 1990ASSUNÇÃO, W.C.G. & HPADAYAY, H.P. Recentes avanços no uso de fungos como agentes de controle biológico de insetos e nematóides. In: SEMINÁRIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 2., 1990, Brasília. Resumos. Brasília, 1990. p.113.). Além de fungos, outros agentes podem ser utilizados para o controle biológico de M. domestica, tais como Spalangia cameroni (Hymenoptera: Pteromalidae) (SKOVGARD, 2004SKOVGARD, H. Sustained releases of the pupal parasitoid Spalangia cameroni (Hymenoptera: Pteromalidae) for control of house flies, Musca domestica and stable flies Stomoxys calcitrans (Diptera: Muscidae) on dairy farms in Denmark. Biological Control, v.30, p.288-297, 2004.), Spalangia endius e Muscidifurax raptor (CRESPO et al., 1998CRESPO, D.C.; L ECUONA, R.E.; HOGSETTE, J.A. Biologicalcontrol: an important component in integrated management of Musca domestica (Diptera: Muscidae) in caged-layer poultry houses in Buenos Aires, Argentina. Biological Control, v.13, p.16-24, 1998.), Spalangia nigroaenea (GREENE et al., 1998GREENE, G.L.; GUO, Y.; CHEN, H. Parasitization of house fly pupae (Diptera: Muscidae) by Spalangia nigroaenea (Hymenoptera: Pteromalidae) in cattle feedlot environments. Biological Control, v.12, p.7-13, 1998.), Muscidifurax uniraptor (THOMAZINI & BERTI FILHO, 2001THOMAZINI, M.J. & BERTI FILHO, E. Ciclo biológico, exigências térmicas e parasitismo de Muscidifurax uniraptor em pupas de mosca doméstica. Scientia Agricola, v.58, n.3, p.469-473, 2001.). No Brasil, a utilização de fungos entomopatogênicos como agentes de controle biológico vem sendo aplicada utilizando-se principalmente as espécies Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana, sendo que poucos são os estudos direcionados ao controle biológico de moscas por fungos entomopatogênicos, principalmente, avaliando a ação destes sobre diferentes formas evolutivas de dípteros (NUNES et al., 2002NUNES, M.S.; COSTA, G.L.; BITTENCOURT, V.R.E.P.; SOUZA, E.J. Avaliação in vitro dos fungos Aspergillus flavus e Penicillium corylophilum em larvas de Musca domestica (Diptera: Muscidae). Parasitología Latinoamericana, v.57, n.3/4, p.134-140, 2002.). STEINKRAUS et al. (1990)STEINKRAUS, D.C.; GEDEN, C.J.; RUTZ, D.A.; KRAMER, J.P. First report of the natural occurrence of Beauveria bassiana (Moniliales Maniliaceae) inMusca domestica (Diptera, Muscidae). Journal of Medical Entomology, v.27, p.309-312, 1990. realizaram infecções experimentais com larvas de terceiro instar e adultos de M. domestica, inoculando suspensões conidiais de B. bassiana. Os autores observaram que as larvas tratadas apresentaram uma baixa viabilidade pupal. COSTA et al. (1998)COSTA, G.L.; MORAES, A.M.L.M.; OLIVEIRA, P.C. Pathogenic action of Penicillium species on mosquito vectors of human tropical diseases. Journal of Basic Microbiology, v.38, p.337-341, 1998. verificaram a capacidade de cepas de Penicillium causarem a morte de larvas de segundo instar de Aedes fluviatilis em um período menor que 72h.

Tabela 1
Mortalidade de Musca domestica dez dias após o período de exposição das larvas a diferentes concentrações de dois isolados fúngicos, Pelotas, RS, 2005.
Tabela 2
Média de mortalidade de Musca domestica após exposição das larvas a Metarhizium anisopliae (CG34) e Beauveria bassiana (CG240), Pelotas, RS, 2005.

Considerando os problemas causados pela M. domestica e as possibilidades de um controle não prejudicial ao meio ambiente o objetivo do presente estudo foi o de avaliar o potencial patogênico de dois isolados fúngicos, sendo um de M. anisopliae e um de B. bassiana, sobre larvas de terceiro instar de M. domestica.

Os de B. bassiana (CG240) e M. anisopliae (CG34), estocados sob refrigeração em meio de cultivo batatadextrose-agar (BDA) foram repicados para tubos de ensaio contendo o mesmo meio de cultivo sendo em seguida incubados em estufa a 25º C com fotoperíodo de 12h. Após a esporulação das culturas foram feitas suspensões nas concentrações 105 a 107 conídios/ mL, em água destilada estéril adicionada de espalhante adesivo (Tween 80) na proporção de 0,01%.

As larvas foram obtidas junto a criação do Laboratório de Biologia de Insetos/Departamento de Microbiologia e Parasitologia/Instituto de Biologia/ UFPel. As gaiolas contendo as moscas encontravamse acondicionadas em câmara de criação, com temperatura de 25 ± 2º C, umidade relativa de 70% e fotofase de 12h, tendo a alimentação composta por farinha de peixe, serragem e açúcar. Após obtenção das larvas, estas foram mergulhadas por um segundo nas respectivas suspensões, sendo o tratamento controle composto apenas por água destilada estéril adicionada de 0,1% de Tween 80. Em seguida as larvas foram acondicionadas em placas de Petri, forradas com papel absorvente previamente umedecido, em grupos de cinco larvas sendo cinco repetições por tratamento, totalizando 25 larvas. O experimento foi avaliado por um período de dez dias, sendo a porcentagem de emergência de adultos o fator analisado.

O isolado de M. anisopliae (CG34) apresentou maior potencial entomopatogênico sobre as pupas de M. domestica (Tabelas 1 e 2), sendo que com o aumento da concentração da suspensão de conídios ocorreu diminuição do número de emergência de insetos. Já o isolado de B. bassiana (CG240) não apresentou efeito sobre o desenvolvimento das larvas e pupas do díptero.

BARSON et al. (1994)BARSON, G.; RENN, N.; BYWATER, A. Laboratory evaluation of six species of entomopathogenic fungi for the control of the house fly (Musca domestica L.), a pest of intensive animal units. Journal of Invertebrate Pathology, v.64, p.107-113, 1994., avaliando o potencial entomopatogênico de seis espécies de fungos, citam M. anisopliae como a espécie com maior potencial patogênico sobre larvas de terceiro instar de M. domestica, quando estas foram mergulhadas em suspensões de 1 x 106 e 1 x 105 conídios/mL emergindo apenas 1,0 e 16%, respectivamente, sendo que com o aumento da concentração ocorreu a morte de todas as larvas, portanto, resultados estes semelhantes aos encontrados neste trabalho. Por outro lado, WATSON et al. (1995)WATSON, D.W.; GEDEN, C.J.; LONG, S.J.; RUTZ, D.A. Efficacy of Beauveria bassiana for controlling the house fly and stable fly (Diptera: Muscidae). Biological Control, v.5, p.405-411, 1995., obtiveram resultados contraditórios aos encontrados neste trabalho, pois observaram a morte de 56% e 48% das larvas de M. domestica quando submetidas a concentração de 1 x 1010 conídios de B. bassiana, isolados L90 e P89, respectivamente.

Larvas de M. domestica expostas a M. anisopliae reduzem a viabilidade dos estágios de pupas, enquanto a linhagem de B. bassiana não afeta o desenvolvimento larval nem pupal.

REFERÊNCIAS

  • ASSUNÇÃO, W.C.G. & HPADAYAY, H.P. Recentes avanços no uso de fungos como agentes de controle biológico de insetos e nematóides. In: SEMINÁRIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 2., 1990, Brasília. Resumos Brasília, 1990. p.113.
  • BARSON, G.; RENN, N.; BYWATER, A. Laboratory evaluation of six species of entomopathogenic fungi for the control of the house fly (Musca domestica L.), a pest of intensive animal units. Journal of Invertebrate Pathology, v.64, p.107-113, 1994.
  • COSTA, G.L.; MORAES, A.M.L.M.; OLIVEIRA, P.C. Pathogenic action of Penicillium species on mosquito vectors of human tropical diseases. Journal of Basic Microbiology, v.38, p.337-341, 1998.
  • CRESPO, D.C.; L ECUONA, R.E.; HOGSETTE, J.A. Biologicalcontrol: an important component in integrated management of Musca domestica (Diptera: Muscidae) in caged-layer poultry houses in Buenos Aires, Argentina. Biological Control, v.13, p.16-24, 1998.
  • GREENE, G.L.; GUO, Y.; CHEN, H. Parasitization of house fly pupae (Diptera: Muscidae) by Spalangia nigroaenea (Hymenoptera: Pteromalidae) in cattle feedlot environments. Biological Control, v.12, p.7-13, 1998.
  • NUNES, M.S.; COSTA, G.L.; BITTENCOURT, V.R.E.P.; SOUZA, E.J. Avaliação in vitro dos fungos Aspergillus flavus e Penicillium corylophilum em larvas de Musca domestica (Diptera: Muscidae). Parasitología Latinoamericana, v.57, n.3/4, p.134-140, 2002.
  • SKOVGARD, H. Sustained releases of the pupal parasitoid Spalangia cameroni (Hymenoptera: Pteromalidae) for control of house flies, Musca domestica and stable flies Stomoxys calcitrans (Diptera: Muscidae) on dairy farms in Denmark. Biological Control, v.30, p.288-297, 2004.
  • STEINKRAUS, D.C.; GEDEN, C.J.; RUTZ, D.A.; KRAMER, J.P. First report of the natural occurrence of Beauveria bassiana (Moniliales Maniliaceae) inMusca domestica (Diptera, Muscidae). Journal of Medical Entomology, v.27, p.309-312, 1990.
  • THOMAZINI, M.J. & BERTI FILHO, E. Ciclo biológico, exigências térmicas e parasitismo de Muscidifurax uniraptor em pupas de mosca doméstica. Scientia Agricola, v.58, n.3, p.469-473, 2001.
  • WATSON, D.W.; GEDEN, C.J.; LONG, S.J.; RUTZ, D.A. Efficacy of Beauveria bassiana for controlling the house fly and stable fly (Diptera: Muscidae). Biological Control, v.5, p.405-411, 1995.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2006

Histórico

  • Recebido
    26 Dez 2005
  • Aceito
    10 Fev 2006
Instituto Biológico Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana - São Paulo - SP, 04014-002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arquivos@biologico.sp.gov.br