Acessibilidade / Reportar erro

PREPARO DE LÂMINAS FOLIARES DE ARÁCEAS ORNAMENTAIS: DESINFESTAÇÃO COM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE HIPOCLORITO DE SÓDIO

PREPARATION OF LEAF BLADES TO MAKE EXPLANTS OF ORNAMENTAL ARACEAS: DESINFECTION WITH DIFFERENT CONCENTRATIONS OF SODIUM HYPOCHLORIDE

RESUMO

Objetivando otimizar o processo de produção de mudas de qualidade, via cultura de tecidos, realizou-se avaliação de várias concentrações de cloro ativo para a desinfestação de lâminas foliares de 14 espécies de aráceas ornamentais. Lâminas foliares foram excisadas das plantas-mãe, lavadas em água corrente/5’e em água destilada/3x. Na câmara de fluxo laminar, as folhas foram mergulhadas em álcool 70%/30’’, lavadas em água destilada estéril/3x e imersas em soluções de hipoclorito de sódio comercial (0,0%, 0,5%, 1,0%, 1,5% e 2,0% de cloro ativo)/20’. Os explantes (1cm2) foram colocados em tubos de ensaio com meio MS, com a face adaxial em contato com o meio. A unidade experimental foi composta por 5 tubos/repetição. O delineamento foi inteiramente casualizado, com 4 repetições/tratamento. Os explantes foram incubados em câmara de crescimento/escuro/25 ± 2° C/14 dias e avaliados quanto à contaminação. Os resultados obtidos mostraram diferenças significativas entre as espécies de aráceas quanto a resposta às diferentes concentrações de hipoclorito de sódio, justificando assim a otimização de protocolo individual para cada uma delas. Recomenda-se, no entanto, que seja sempre utilizada uma solução de NaOCl com a menor concentração possível de cloro ativo, a fim de evitar danos ao tecido do explante.

PALAVRAS-CHAVE
Aráceas; ornamentais; desinfestação; hipoclorito de sódio

ABSTRACT

The objective for this study was to determine the most efficient chlorine concentration in order to protect explants in tissue culture from contamination. Leaf blade explants of 1 cm2 were used. The leaves were washed with tap water for 5 minutes and then washed 3 times with distilled water. The explants were placed in a laminar air flow chamber followed by immersion in 70% alcohol for 30 minutes and then washed 3 times with sterile distilled water, followed by 20 minutes immersion in a sodium hypochloride comercial solutions with active chlorine concentrations of: 0.0%, 0.5%, 1.0%, 1.5% and 2.0%. Still inside the laminar air flow chamber, the explants were placed in test tubes (containing MS medium) with the adaxial face in contact with the medium. The experimental design was completely randomized with 5 replications of 5 test tubes per plot, each containing one innoculated explant. The explants in the test tubes were kept in the dark in a growth chamber at 25 ± 2º C during a 14-day period, then evaluated for contamination. There were observed significant differences between species of araceas with regard to their responsiveness to the different concentrations of sodium hypochloride, which supports the difference in concentration to be used specifically for each one. It is advisable to always use a NaOCl solution having the lowest effective concentration of active chlorine to avoid damage to the explants.

KEY WORDS
Araceas; ornamental plants; disinfection; sodium hypochloride

INTRODUÇÃO

A floricultura, em sentido amplo, abrange o cultivo de plantas ornamentais, desde flores de corte e plantas envasadas, floríferas ou não, até a produção de sementes, bulbos e mudas de árvores de grande porte. A produção de flores e plantas ornamentais é um setor altamente competitivo, que exige a utilização de tecnologias avançadas, um profundo conhecimento técnico por parte do produtor, assim como um sistema eficiente de distribuição e comercialização (ROCHA, 1999ROCHA, M.T.R. Cultura de tecidos: uma alternativa para a multiplicação dos gêneros Anthurium e Caladium. 1999. 81p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 1999.).

O mercado de plantas ornamentais está em crescimento, no Brasil e no mundo, o que traz a necessidade da melhoria da qualidade de mudas. Este incremento de qualidade pode ser obtido através da micropropagação, que gera mudas isentas de fitopatógenos e com genótipo e fenótipo homogêneos (SEGEREN et al., 2003SEGEREN, M.I.; CAMPOS, K.J.P.; CORRÊA, M.G.S.; DIAS, J.C.S. Avaliações de fitossanidade de clones de orquídeas no laboratório Proclone. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 14.; CONGRESSO BRASILEIRO DE CULTURA DE TECIDOS, 1., 2003, Lavras. Resumos. Lavras: UFLA/ FAEPE, 2003. p.423.). Apesar da propagação in vitro ter iniciado a ser desenvolvida e utilizada no início do século passado, sua implantação no Brasil, na área de floricultura e plantas ornamentais, ocorreu somente no final dos anos 70. As técnicas de cultivo in vitro são muito importantes para espécies que têm alto valor comercial para o país, como é o caso das ornamentais consideradas exóticas como antúrios, bromélias e orquídeas (TORRES et al., 1998TORRES, A.C.; CALDAS, L.S.; BUSO, J.A. (Eds.) Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa, 1998. v.1, 864p.; DONINI, 2004DONINI, L.P. Preparo de lâminas foliares de Aráceas ornamen- tais: desinfestação e tratamento antioxidante. 2004. 54p. Monografia de conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Biológicas) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2004.).

Os antúrios pertencem à família Araceae, sendo que no Brasil, as espécies desta família são utilizadas especialmente como ornamentais, destacando-se, além dos antúrios, os lírios-da-paz, os filodendros e os copos-de-leite. A família Araceae apresenta cerca de 105 gêneros e, aproximadamente, 3.850 espécies monocotiledôneas herbáceas e trepadeiras. Se Lemnaceae for incluída, serão 109 gêneros e aproximadamente 4.000 espécies. Mesmo ocorrendo naturalmente em todos os continentes, exceto na Antártida, a maioria dos gêneros é encontrada nas áreas tropicais do Novo Mundo (GRAYUM, 1990GRAYUM, M.H. Evolution and phylogeny of the Araceae. Annals of the Missouri Botanical Garden, v.77, p.629-697, 1990.; VIANNA et al., 2001VIANNA, W.O.; SOARES, M.K.M.; APPEZZATO-DA-GLÓRIA, B.A. Anatomia da raiz escora de Philodendronbipinnatifidum Scott (Araceae). Acta Botânica Brasilica, v.15, n.3, p.313-320, 2001.; COELHO, 2004COELHO, M.A.N. Taxonomia e biogeografia de Anthurium Schott. (Araceae) seção Urospadix subseção Flavescentiviridia. 2004. 320p. Tese (Doutorado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.).

As contaminações são um problema constante, os vegetais cultivados a campo apresentam intenso contato com microorganismos que podem comprometer o desenvolvimento dos cultivos in vitro. Para tanto, é essencial que o tecido que dará origem ao explante esteja livre de contaminantes, sendo necessária a realização de um tratamento de desinfestação deste tecido, a fim de eliminar microorganismos exógenos, para a obtenção de um bom resultado no final do processo de estabelecimento in vitro. (GAMBORG & PHILLIPS, 1995GAMBORG, O.L. & PHILLIPS, G.C. Plant cell, tissue and organ culture: fundamental methods. Germany: Springer, 1995. 359p.; ROCHA; 1999ROCHA, M.T.R. Cultura de tecidos: uma alternativa para a multiplicação dos gêneros Anthurium e Caladium. 1999. 81p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 1999.; SOUZA et al., 2003SOUZA, T.V.; ABREU, M.F.; TARAZI, R.; DANTAS, A.C.M.; OLIVEIRA, V.L.; PEDROTTI, E.L. Controle de contaminantes na cultura de tecidos em macieira (Mallus spp). In: In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 14.; CONGRESSO BRASILEIRO DE CULTURA DE TECIDOS, 1., 2003, Lavras. Resumos. Lavras: UFLA/FAEPE, 2003. p.346.; SILVA et al., 2003SILVA, R.M. DOS S.; BLANK, M. DE F.A.; ÂNGELO, P.C. DA S. Desinfestação de explantes de inhame roxo ( Dioscorea rotundata , Poir) coletados no campo para micropropagação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 14.; CONGRESSO BRASILEIRO DE CULTURA DE TECIDOS, 1., 2003, Lavras.Resumos. Lavras: UFLA/FAEPE, 2003. p.329.). Estas contaminações causadas por bactérias, fungos e insetos tornam-se sério problema devido à competição pelos nutrientes, liberação de toxinas, modificação do meio de cultura e predação, resultando na morte do tecido vegetal. É necessário remover as contaminações com desinfetantes antes do estabelecimento in vitro para que não haja perda de material, principalmente quando as contaminações não são detectadas precocemente. Após a escolha do melhor explante, este deve ser desinfetado superficialmente, porque os microrganismos que crescerem no meio de cultivo irão competir vantajosamente com o explante pelos nutrientes (MROGINSKI & ROCA, 1993; SMITH, 2000SMITH, J. Micro-propagation of the Gymea Lily: a report for the Rural Industries Research and Development Corporation. Kingston: RIRDC, 2000. 59p.).

Segundo HIRATA & MANCINI FILHO (2002)HIRATA, M.H. & MANCINI FILHO, J. Manual de biossegurança. Barueri: Ed. Manole, 2002. 496p., no Brasil, o etanol é o desinfestante mais empregado. Além da ação germicida, o etanol tem ação surfactante e facilita a ação de outros produtos. É utilizado em concentrações em torno de 70 a 80%, pois concentrações maiores podem causar desidratação dos tecidos. De acordo com GRATTAPAGLIA & MACHADO (1998)GRATTAPAGLIA, D. & MACHADO, M.A. Micropropagação. In: TORRES, A. C.; CALDAS , L.S.; BUSO, J.A. (Eds.). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa SPI/Embrapa – CNPH, 1998. p.183-260., dentre as várias substâncias germicidas à base de cloro, utilizadas para desinfestação dos explantes, as mais comuns são o hipoclorito de sódio, encontrado em formulações comerciais de água sanitária, ou o hipoclorito de cálcio, encontrado na forma de pó em lojas de material para piscina. HIRATA & MANCINI FILHO (2002)HIRATA, M.H. & MANCINI FILHO, J. Manual de biossegurança. Barueri: Ed. Manole, 2002. 496p., ressaltam que, além do álcool etílico, são utilizados vários produtos liberadores de cloro, sendo mais utilizados os inorgânicos, como os hipocloritos de sódio, cálcio e lítio, e os orgânicos, como o ácido dicloroisocianídrico e seus sais sódicos e potássicos e o ácido tricloroisocianídrico. O mecanismo de ação do cloro ativo não é bem conhecido, embora algumas hipóteses sugiram que há uma combinação com proteínas da membrana celular dos microrganismos, assim formando compostos tóxicos e levando à inibição das enzimas essenciais.

Além do etanol e hipoclorito de sódio e de cálcio, vários esterilizantes podem ser utilizados como peróxido de hidrogênio, nitrato de prata e cloreto de mercúrio, sendo que o sucesso da desinfestação vai depender de tipo e idade do explante, concentração do agente esterilizante e do tempo de exposição. A super-exposição do tecido aos agentes esterilizantes, geralmente, danifica o explante e leva à morte celular (MROGINSKI & ROCA, 1993; SMITH, 2000SMITH, J. Micro-propagation of the Gymea Lily: a report for the Rural Industries Research and Development Corporation. Kingston: RIRDC, 2000. 59p.). Os autores recém citados salientam que não é exeqüível recomendar um procedimento padrão, sendo é necessário investigar efetivamente os procedimentos de desinfestação para diferentes tipos de espécies e tecidos para que a instalação in vitro inicie com explantes saudáveis e o cultivo desenvolva-se com sucesso.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os explantes iniciais foram retirados de lâminas foliares de Anthurium gaudichaudianum, Dieffenbachia sp., Monstera deliciosa, Philodendron undulatum, Philodendron sp., Scindapsus aureus, Scindapsus pictus, Spathiphyllum wallisii, Syngonium podophyllum, Syngonium sp., Zantedeschia aethiopica (variedade flor branca), Zantedeschia aethiopica (variedade flor verde), Zantedeschia eliottiana (variedade 1) e Zantedeschia eliottiana (variedade 2) obtidas de floriculturas e jardins.

As lâminas foliares excisadas da planta-mãe, foram lavadas em água corrente por 5 minutos e, em água destilada esterilizada, por 3 vezes. Em ambiente asséptico de câmara de fluxo laminar, as folhas foram mergulhadas em álcool 70%, por 30seg; lavadas em água destilada estéril, por 3 vezes; imersas nas soluções de hipoclorito de sódio comercial (água sanitária) com diferentes concentrações de cloro ativo (0,0%, 0,5%, 1,0%, 1,5% e 2,0%), por 20min, e novamente lavadas em água destilada esterilizada. Cada explante, com área aproximada de 1 cm2, foi inoculado em tubo de ensaio contendo 10 mL de meio MS (MURASHIGE & SKOOG, 1962MURASHIGE, T. & SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bioassays with tabacco tissue cultures. Physiologia Plantarum, v.15, p.473-497, 1962.), com a face adaxial em contato com o meio.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 3 repetições por tratamento, sendo a unidade experimental composta por 5 tubos com 1 explante por tubo. O material foi incubado em câmara de crescimento, no escuro, a 25 ± 2° C, por 14 dias, quando então foi avaliado quanto à contaminação. Os resultados obtidos foram analisados com o auxílio do pacote estatístico Sanest.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme verificado na Tabela 1, as médias de contaminação dos explantes foliares, das 14 espécies de aráceas analisadas, variaram de 1,34% a 100,00%. A contaminação total dos explantes (100%) ocorreu apenas naqueles tratados com a solução controle (sem hipoclorito de sódio) e o máximo de assepsia (zero contaminação) foi obtido em números variáveis de espécies para as quatro concentrações de hipoclorito de sódio: duas espécies em 0,5%; quatro em 1,0%; oito em 1,5% e quatro em 2,0%. Considerando-se contaminação de até 10% dos explantes como uma freqüência que ainda permite a obtenção de um bom resultado em termos de micropropagação vegetal, observa-se que além das espécies que não apresentaram contaminação, outras situam-se nesta faixa de segurança: cinco espécies tratadas em 0,5% de cloro ativo; quatro em 1,0%; uma em 1,5% e 8 em 2,0%. Os dados obtidos para cada concentração de cloro ativo mostraram, também, que dentro de cada concentração, não houve diferenças significativas entre as citadas anteriormente.

Tabela 1
Porcentagem de explantes contaminados, de 14 espécies e variedades da família Araceae, após tratamento de desinfestação das lâminas foliares com 0,0%, 0,5%, 1,0%, 1,5% e 2,0% de cloro ativo e incubação por 14 dias

Também, na Tabela 1, verifica-se qual a melhor concentração deste desinfestante para cada espécie, o que nos mostra que, para 6 das 14 espécies estudadas, obteve-se o máximo de desinfestação em mais de uma concentração de cloro ativo, destacando-se a espécie Syngomium sp., com nível de infestação mínimo inclusive na solução controle, a qual não diferiu estatisticamente das demais concentrações. Isto permite uma melhor chance de escolha da concentração de cloro ativo a ser utilizada como desinfestante, no sentido da utilização da menor concentração possível para evitar ao máximo os efeitos tóxicos do desinfestante sobre o material utilizado.

A incidência de índices de contaminação na concentração de 2,0% de cloro ativo, que foi a maior concentração utilizada neste trabalho, maiores do que os encontrados na concentração de 1,5% pode ser devido ao fato de que o aumento da concentração de cloro ativo faz com que ocorra o aumento de pH da solução desinfestante. Segundo Hirata & Mancini Filho (2002)HIRATA, M.H. & MANCINI FILHO, J. Manual de biossegurança. Barueri: Ed. Manole, 2002. 496p., a faixa ideal de pH para a solução de hipoclorito de sódio a ser utilizada como desinfestante fica entre 5 e 8, pois o aumento de pH propicia o desenvolvimento de mecanismos de defesa das bactérias, permitindo que se desenvolvam mesmo em concentrações altas de cloro ativo, assim dificultando a ação do produto.

As concentrações recomendadas, na literatura revisada, concordam com as encontradas no presente trabalho. Para DODDS & ROBERTS (1999)DODDS, J.H. & ROBERTS, L.W. Experiments in plant tissue culture. 3.ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. 230p., os melhores resultados para desinfestação dos explantes são obtidos quando se utilizam concentrações menores de hipoclorito de sódio, devido à diminuição da eficiência do produto em maior concentração em função do aumento do pH da solução desinfestante, como já citado anteriormente.

ROCHA (1999)ROCHA, M.T.R. Cultura de tecidos: uma alternativa para a multiplicação dos gêneros Anthurium e Caladium. 1999. 81p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 1999. recomendou a concentração de cloro ativo de 1,5% para explantes foliares do gênero Caladium. Segundo esta autora, menores concentrações de hipoclorito de sódio também proporcionaram menor número de explantes foliares contaminados, como foi o caso do Anthurium andraeanum, para o qual 1,43% de cloro ativo seria a concentração ideal.

No protocolo descrito por FERREIRA (2003)FERREIRA, I.T. Propagação in vitro de crisântemo ‘Funny Pynk’. 2003. 39p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2003., para explantes foliares de crisântemo ‘Funny Pynk’ (Dendranthema grandiflorum), são recomendadas as concentrações de 0,5 e 1,5 % de cloro ativo. TAVARES et al. (1999)TAVARES, A.R.; BETANZOS, R.A.; FRANCISCO, A.A.; P EREIRA, I.T.M.; SILVEIRA, R.B.A.; AGUIAR, F.F.A. Micropropagação de Griffinia hyacinthina (Ker-Gaw.) Ker-Gaw. Amaryllidaceaea nativa da Mata Atlântica. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental, v.5, n.1, p. 87-92, 1999. obtiveram o melhor nível de desinfestação para explantes de Griffinia hyacinthina com a concentração de 1,0 % de cloro ativo.

Para camomila romana (Anthemis nobilis), THIES (2000)THIES, S.F. Camomila Romana (Anthemis nobilis): Cultura de tecidos e citogenética. 2000. 48p. Monografia de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Biológicas) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2000. também obteve menor média de contaminação quando o material foi desinfestado nas concentrações de NaOCl com 1,0 e 1,5% de cloro ativo. BIASIO (1997)BIASIO, S. Cultura de Tecidos e Micropropagação de Anthemis nobilis L. 1997. 92p. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia) Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 1997. utilizou solução de hipoclorito de sódio a 1,0% de cloro ativo e detergente para desinfestação de diferentes explantes de camomila romana. SILVA et al. (2003)SILVA, R.M. DOS S.; BLANK, M. DE F.A.; ÂNGELO, P.C. DA S. Desinfestação de explantes de inhame roxo ( Dioscorea rotundata , Poir) coletados no campo para micropropagação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 14.; CONGRESSO BRASILEIRO DE CULTURA DE TECIDOS, 1., 2003, Lavras.Resumos. Lavras: UFLA/FAEPE, 2003. p.329. utilizaram solução comercial de hipoclorito de sódio, nas concentrações de 0,4%, 0,6% e 0,8% de cloro ativo, em segmentos caulinares de inhame roxo (Dioscorea rotundata) e concluíram que estes tratamentos não foram eficientes, havendo contaminação por fungos e bactérias em taxas que variaram de 66,7% a 100,0%. Apesar de salientar que a maioria dos procedimentos de desinfestação utilizam hipoclorito de sódio ou de cálcio na proporção de 0,5% a 1%, SMITH (2000)SMITH, J. Micro-propagation of the Gymea Lily: a report for the Rural Industries Research and Development Corporation. Kingston: RIRDC, 2000. 59p. descreve o caso de explantes foliares de plantas de café cultivadas a campo, em que SONDHAL et al. (citados por SMITH, 2000SMITH, J. Micro-propagation of the Gymea Lily: a report for the Rural Industries Research and Development Corporation. Kingston: RIRDC, 2000. 59p.) indicam que seja utilizado 2,6% de hipoclorito de sódio no dia do estabelecimento in vitro e novamente no dia seguinte.

O protocolo de micropropagação de antúrios da UPLB (2001)UPLB (University of the Philippines Los Baños) Anthurium micropropagation: Technology and dissemination. 2001. Disponível em: <http://www.uplb.edu.ph/academics/schools/ca/agandg/2001>. Acesso em: 12 set. 2004.
http://www.uplb.edu.ph/academics/schools...
preconiza a assepsia da folhas jovens e pecíolo em água sanitária 20% (0,4% de cloro ativo) adicionada de 1% de hipoclorito de cálcio. Também, LI et al. (2002)LI, Y.; XU, C.; CHEN, J. Establishment of virus-free taro (Colocasia esculenta cv. Fenghuayunaitou) by meristem-tip culture combined with thermotherapy. Pakistan Journal of Plant Pathology, v.1, p.40-43, 2002. utilizaram hipoclorito de cálcio para desinfestação de gemas do caule subterrâneo de Colocasia esculenta, só que em solução saturada.

Para folhas jovens, pontas de meristemas e gemas de tubérculos de Caladium bicolor, AHMED et al. (2002)AHMED, E.U.; HAYASHI, T.; ZHU, Y.; HOSOKAWA, M.; YAZAWA, S. Lower incidence of variants in Caladium bicolor Ait. plants propagated by culture of explants from younger tissue. Scientia Horticulturae, v.96, p.187-194, 2002. utilizaram solução de hipoclorito de sódio com 0,5% de sódio ativo e para pontas de raiz, uma concentração de 0,2%. Inflorescências jovens de Spathiphyllum sp. foram desinfestadas por imersão em uma solução de hipoclorito de sódio comercial, em uma concentração final de 1,0%, conforme protocolo de VARGAS & GARCIA (1995)VARGAS, T.E. & GARCÍA, E. Propagación in vitro de cala blanca Spathiphyllum sp. Agronomía Tropical, v.47, n.2, p.171-183, 1995.. Já EECKHAUT et al. (2001EECKHAUT, T.; WERBROUCK, S.; DENDAUW, J.; VAN BOCKSTAELE, E.; DEBERGH, P. Induction of homozygous Spathiphyllum wallisii genotypes through gynogenesis. Plant Cell, Tissue and Organ Culture, v.67, p.181-189, 2001., 2004)EECKHAUT, T.G.R.; WERBROUCK, S.P.O.; LEUS, L.W.H.; VAN DOCKSTAELE, E.J.; DEBERGH, P.C. Chemically induced polyploidization in SpathiphyllumwallisiiRegel through somatic embryogenesis. Plant Cell, Tissue and Organ Culture, v.78, p.241-246, 2004. utilizaram NaOCl a 10,0% para a assespsia da espádice de Spathiphyllum wallisii.

VARGAS et al. (2004)VARGAS, T.E.; MEJÍAS, A.; OROPEZA, M.; GARCÍA, E. Plant regeneration of Anthurium andreanum cv Rubrun. Electronic Journal of Biotechnology, v.7, n.3, 2004. Disponível em: <http://www.ejbiotechnology.info/content/vol7/issue3/full/11/>. Acesso em: 28 mar. 2005.
http://www.ejbiotechnology.info/content/...
utilizaram NaOCl a 3,0% para esterilizar frutos de Anthurium andreanum e, posteriormente, a 1% para fazer a assepsia das sementes coletadas destes frutos. Já outros pesquisadores preferem realizar a assepsia de lâminas foliares jovens de A. andreanum com solução de cloreto de mercúrio a 0,1%.(MARTIN et al., 2003MARTIN, K.P.; JOSEPH, D.; MADASSERY, J.; PHILIP, V.J. Direct shoot regeneration from lamina explants of two commercial cut flower cultivars of Anthurium andraeanum Hort. In Vitro Cellular Developmental Biology Plant, v.39, p.500-504, 2003., JOSEPH et al., 2003JOSEPH, D.; MARTIN, K.P.; MADASSERY, J.; PHILIP, V.J. In vitro propagation of three cut flower cultivars ofAnthurium andraeanum Hort. Indian Journal of Experimental Biology, v.41, p.154-159, 2003.). BLANCO & VALVERDE (2004)BLANCO, M. & VALVERDE, R. Micropropagación dePhilodendron sp. (posiblemente P. corcovadense ). Agronomía Costarricense, v.28, n.1, p.39-46, 2004. utilizaram tratamento bem intenso para assepsia de Philodendron sp., os ápices caulinares e gemas laterais foram tratados com NaOCl 3,5% somente após imersão em solução de Benlate e Agrimicina, seguido de nova imersão em hipoclorito de sódio 1%.

As espécies Monstera deliciosa, Philodendron undulatum e Syngonium sp., ao contrário das demais, não apresentaram diferenças significativas entre as concentrações de cloro ativo (Tabela 1). Provavelmente, estas 3 espécies possuam menor índice de contaminação, tanto exógena como endógena.

Poder-se-iam justificar os maiores níveis de material contaminado pelo fato de alguns explantes terem sido extraídos de plantas-matriz cultivadas em jardins, como é o caso da Zantedeschia aethiopica (variedade verde). No entanto, Philodendron sp., que estava sendo mantido em vaso, no ambiente de laboratório, há muito tempo, apresentou graus de contaminação médios a altos. Já a espécie Monstera deliciosa, que estava no entorno de um jardim público, local com constante movimento de carros e pedestres, apresentou baixíssima porcentagem de contaminação. Ainda mais, segundo Anthurim culture (1998), citado por ROCHA (1999)ROCHA, M.T.R. Cultura de tecidos: uma alternativa para a multiplicação dos gêneros Anthurium e Caladium. 1999. 81p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 1999., a cultura de tecidos de plantas da família Araceae apresenta problemas na desinfestação, porque os explantes apresentam contaminação por bactérias latentes, podendo desenvolver os sintomas até quatro meses após a instalação in vitro.

CONCLUSÕES

Verificou-se que a concentração ideal de NaOCl, para a desinfestação de explantes de espécies ornamentais da família Araceae, é variável e dependente do genótipo. No entanto, a variação das concentrações situa-se em uma pequena faixa, entre 0,5% a 2,0% de cloro ativo. Recomenda-se que seja sempre utilizada uma solução de NaOCl com a menor concentração possível de cloro ativo, a fim de evitar danos ao tecido do explante. Caso não haja disponibilidade de material, espaço e/ou tempo para avaliar qual a menor concentração efetiva, sugere-se a utilização da solução com 1,5% de cloro ativo.

REFERÊNCIAS

  • AHMED, E.U.; HAYASHI, T.; ZHU, Y.; HOSOKAWA, M.; YAZAWA, S. Lower incidence of variants in Caladium bicolor Ait. plants propagated by culture of explants from younger tissue. Scientia Horticulturae, v.96, p.187-194, 2002.
  • BIASIO, S. Cultura de Tecidos e Micropropagação de Anthemis nobilis L 1997. 92p. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia) Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 1997.
  • BLANCO, M. & VALVERDE, R. Micropropagación dePhilodendron sp. (posiblemente P. corcovadense ). Agronomía Costarricense, v.28, n.1, p.39-46, 2004.
  • COELHO, M.A.N. Taxonomia e biogeografia de Anthurium Schott. (Araceae) seção Urospadix subseção Flavescentiviridia. 2004. 320p. Tese (Doutorado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.
  • DODDS, J.H. & ROBERTS, L.W. Experiments in plant tissue culture 3.ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. 230p.
  • DONINI, L.P. Preparo de lâminas foliares de Aráceas ornamen- tais: desinfestação e tratamento antioxidante 2004. 54p. Monografia de conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Biológicas) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2004.
  • EECKHAUT, T.; WERBROUCK, S.; DENDAUW, J.; VAN BOCKSTAELE, E.; DEBERGH, P. Induction of homozygous Spathiphyllum wallisii genotypes through gynogenesis. Plant Cell, Tissue and Organ Culture, v.67, p.181-189, 2001.
  • EECKHAUT, T.G.R.; WERBROUCK, S.P.O.; LEUS, L.W.H.; VAN DOCKSTAELE, E.J.; DEBERGH, P.C. Chemically induced polyploidization in SpathiphyllumwallisiiRegel through somatic embryogenesis. Plant Cell, Tissue and Organ Culture, v.78, p.241-246, 2004.
  • FERREIRA, I.T. Propagação in vitro de crisântemo ‘Funny Pynk’ 2003. 39p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2003.
  • GAMBORG, O.L. & PHILLIPS, G.C. Plant cell, tissue and organ culture: fundamental methods Germany: Springer, 1995. 359p.
  • GRATTAPAGLIA, D. & MACHADO, M.A. Micropropagação. In: TORRES, A. C.; CALDAS , L.S.; BUSO, J.A. (Eds.). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas Brasília: Embrapa SPI/Embrapa – CNPH, 1998. p.183-260.
  • GRAYUM, M.H. Evolution and phylogeny of the Araceae. Annals of the Missouri Botanical Garden, v.77, p.629-697, 1990.
  • HIRATA, M.H. & MANCINI FILHO, J. Manual de biossegurança Barueri: Ed. Manole, 2002. 496p.
  • JOSEPH, D.; MARTIN, K.P.; MADASSERY, J.; PHILIP, V.J. In vitro propagation of three cut flower cultivars ofAnthurium andraeanum Hort. Indian Journal of Experimental Biology, v.41, p.154-159, 2003.
  • LI, Y.; XU, C.; CHEN, J. Establishment of virus-free taro (Colocasia esculenta cv. Fenghuayunaitou) by meristem-tip culture combined with thermotherapy. Pakistan Journal of Plant Pathology, v.1, p.40-43, 2002.
  • MARTIN, K.P.; JOSEPH, D.; MADASSERY, J.; PHILIP, V.J. Direct shoot regeneration from lamina explants of two commercial cut flower cultivars of Anthurium andraeanum Hort. In Vitro Cellular Developmental Biology Plant, v.39, p.500-504, 2003.
  • MURASHIGE, T. & SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bioassays with tabacco tissue cultures. Physiologia Plantarum, v.15, p.473-497, 1962.
  • ROCHA, M.T.R. Cultura de tecidos: uma alternativa para a multiplicação dos gêneros Anthurium e Caladium 1999. 81p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 1999.
  • SEGEREN, M.I.; CAMPOS, K.J.P.; CORRÊA, M.G.S.; DIAS, J.C.S. Avaliações de fitossanidade de clones de orquídeas no laboratório Proclone. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 14.; CONGRESSO BRASILEIRO DE CULTURA DE TECIDOS, 1., 2003, Lavras. Resumos Lavras: UFLA/ FAEPE, 2003. p.423.
  • SILVA, R.M. DOS S.; BLANK, M. DE F.A.; ÂNGELO, P.C. DA S. Desinfestação de explantes de inhame roxo ( Dioscorea rotundata , Poir) coletados no campo para micropropagação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 14.; CONGRESSO BRASILEIRO DE CULTURA DE TECIDOS, 1., 2003, Lavras.Resumos Lavras: UFLA/FAEPE, 2003. p.329.
  • SMITH, J. Micro-propagation of the Gymea Lily: a report for the Rural Industries Research and Development Corporation. Kingston: RIRDC, 2000. 59p.
  • SOUZA, T.V.; ABREU, M.F.; TARAZI, R.; DANTAS, A.C.M.; OLIVEIRA, V.L.; PEDROTTI, E.L. Controle de contaminantes na cultura de tecidos em macieira (Mallus spp). In: In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 14.; CONGRESSO BRASILEIRO DE CULTURA DE TECIDOS, 1., 2003, Lavras. Resumos Lavras: UFLA/FAEPE, 2003. p.346.
  • TAVARES, A.R.; BETANZOS, R.A.; FRANCISCO, A.A.; P EREIRA, I.T.M.; SILVEIRA, R.B.A.; AGUIAR, F.F.A. Micropropagação de Griffinia hyacinthina (Ker-Gaw.) Ker-Gaw. Amaryllidaceaea nativa da Mata Atlântica. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental, v.5, n.1, p. 87-92, 1999.
  • THIES, S.F. Camomila Romana (Anthemis nobilis): Cultura de tecidos e citogenética 2000. 48p. Monografia de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Biológicas) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2000.
  • TORRES, A.C.; CALDAS, L.S.; BUSO, J.A. (Eds.) Cultura de tecidos e transformação genética de plantas Brasília: Embrapa, 1998. v.1, 864p.
  • UPLB (University of the Philippines Los Baños) Anthurium micropropagation: Technology and dissemination. 2001. Disponível em: <http://www.uplb.edu.ph/academics/schools/ca/agandg/2001>. Acesso em: 12 set. 2004.
    » http://www.uplb.edu.ph/academics/schools/ca/agandg/2001
  • VARGAS, T.E. & GARCÍA, E. Propagación in vitro de cala blanca Spathiphyllum sp. Agronomía Tropical, v.47, n.2, p.171-183, 1995.
  • VARGAS, T.E.; MEJÍAS, A.; OROPEZA, M.; GARCÍA, E. Plant regeneration of Anthurium andreanum cv Rubrun. Electronic Journal of Biotechnology, v.7, n.3, 2004. Disponível em: <http://www.ejbiotechnology.info/content/vol7/issue3/full/11/>. Acesso em: 28 mar. 2005.
    » http://www.ejbiotechnology.info/content/vol7/issue3/full/11/
  • VIANNA, W.O.; SOARES, M.K.M.; APPEZZATO-DA-GLÓRIA, B.A. Anatomia da raiz escora de Philodendronbipinnatifidum Scott (Araceae). Acta Botânica Brasilica, v.15, n.3, p.313-320, 2001.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2005

Histórico

  • Recebido
    24 Ago 2005
  • Aceito
    23 Nov 2005
Instituto Biológico Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana - São Paulo - SP, 04014-002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arquivos@biologico.sp.gov.br