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Reabilitação de pacientes portadores da doença de Kienböck submetidos a ressecção da fileira proximal do carpo

Resumos

A proposta deste estudo foi a aplicação de um protocolo de avaliação e tratamento desenvolvido no Serviço de Terapia da Mão do Setor de Terapia Ocupacional da Disciplina de Fisiatria do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, destinado a pacientes portadores da Doença de Kienböck e submetidos a técnica cirúrgica de ressecção da fileira proximal do carpo. O protocolo de avaliação foi aplicado em 16 pacientes que foram avaliados no pré e pós-tratamento, considerando-se a dor, perímetro do punho, força muscular, amplitude articular do antebraço e punho e a capacidade funcional. Considerou-se também alguns referenciais subjetivos, no que se refere à satisfação pessoal do paciente quanto ao tratamento. Os resultados mostraram que o protocolo de tratamento aplicado foi eficaz na redução da dor, no aumento do arco de movimento da pronação e supinação do antebraço, abdução e adução do punho e favoreceu a melhora da capacidade funcional da mão afetada. Na avaliação subjetiva 90% dos pacientes tratados em nosso protocolo estavam satisfeitos com a sua recuperação.


The aim of this study was to apply an evaluation and treatment protocol developed by the Hand Therapy Department of the Occupational Therapy Group of Physiatrics Medicine, Department of Orthopedics and Traumatology, University of São Paulo, to patients with Kienböck disease underwent proximal row carpectomy. The protocol was applied to 16 patients who were assessed in the pretreatment and post-treatment periods concerning some objective parameters, such as pain, wrist circumference, muscular strength, forearm / wrist articular range of motion and functional capacity. Patients' satisfaction with their evolution was evaluated through a questionnaire according to the treatment. Results have shown that the group underwent a rehabilitation approach showed better outcomes concerning pain, muscle strength, supination, abduction and adduction range of motion and an improved hand functional efficacy. Subjective evaluation showed 90% satisfaction in the rehabilitation group.


ARTIGO ORIGINAL

Reabilitação de pacientes portadores da doença de Kienböck submetidos a ressecção da fileira proximal do carpo

Lima, S.M.P.F.I; Leite, V.M.II; Masiero, D.III; Santos, J.B.G.IV; Laredo Filho, J.V

ISimone Maria Puresa Fonseca Lima: Terapeuta Ocupacional, Chefe do Setor de Terapia Ocupacional da Disciplina de Fisiatria do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, Mestre em Reabilitação

IIVilnei Mattioli Leite: Livre Docente da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membros Superiores do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo

IIIDanilo Masiero: Livre Docente e Chefe da Disciplina de Fisiatria do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo

IVJoão Baptista Gomes dos Santos: Doutor e Assistente da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membros Superiores do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo

VJosé Laredo Filho: Titular e Chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo.

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Lar Escola São Francisco. Disciplina de Fisiatria. Rua dos Açores, 310 - Jardim Luzitânia CEP: 04032-060 São Paulo - SP Tel: 549-3322 R:222 - Tel /fax: 571-0906

RESUMO

A proposta deste estudo foi a aplicação de um protocolo de avaliação e tratamento desenvolvido no Serviço de Terapia da Mão do Setor de Terapia Ocupacional da Disciplina de Fisiatria do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, destinado a pacientes portadores da Doença de Kienböck e submetidos a técnica cirúrgica de ressecção da fileira proximal do carpo. O protocolo de avaliação foi aplicado em 16 pacientes que foram avaliados no pré e pós-tratamento, considerando-se a dor, perímetro do punho, força muscular, amplitude articular do antebraço e punho e a capacidade funcional. Considerou-se também alguns referenciais subjetivos, no que se refere à satisfação pessoal do paciente quanto ao tratamento.

Os resultados mostraram que o protocolo de tratamento aplicado foi eficaz na redução da dor, no aumento do arco de movimento da pronação e supinação do antebraço, abdução e adução do punho e favoreceu a melhora da capacidade funcional da mão afetada. Na avaliação subjetiva 90% dos pacientes tratados em nosso protocolo estavam satisfeitos com a sua recuperação.

INTRODUÇÃO

Diversos estudos sobre a doença de Kienböck vem sendo desenvolvidos desde a sua descoberta em 1910 por Robert Kienböck.12 Propostas de tratamentos conservadores ou cirúrgicos são descritos pensando-se na melhor forma de intervir-se sobre a doença. Dentre os procedimentos cirúrgicos destaca-se a ressecção da fileira proximal do carpo, discutida e aplicada em diversos Serviços de Ortopedia.1,2,4,5,6,8,9,11,12,15

Programas de seguimento pós-operatório que descrevam o processo de reabilitação acompanhado por um terapeuta especializado são bastante escassos.

Os autores desenvolveram um protocolo de avaliação e tratamento para ser aplicado nesta população de pacientes portadores da doença de Kienböck e submetidos a ressecção da fileira proximal do carpo.

MATERIAL E MÉTODO

O material estudado constituiu-se de dados de 16 pacientes portadores da doença de Kienböck e tratados cirurgicamente pela ressecção da fileira proximal do carpo. Formaram-se dois grupos, sendo o grupo I constituído por 10 pacientes que foram tratados e acompanhados no período de maio de 1994 a julho de 1995.

Estes 10 pacientes foram tratados partindo-se de um protocolo de tratamento que consistia da utilização da cinesioterapia, termoterapia, massageamento, eletroterapia, atividades terapêuticas e orientação domiciliar.

O grupo II, foi constituído por 6 pacientes que foram tratados em outros Serviços não especializados em terapia da mão e sob condutas terapêuticas direcionadas para termoterapia e exercícios, sem atuação direta do terapeuta.

Em todos os 16 pacientes aplicamos um protocolo que constava de avaliação pré-operatória e pós-tratamento de reabilitação.

O protocolo de avaliação pré-operatória constava de: identificação do paciente (nome, sexo, idade, profissão, cor, mão dominante, mão lesada e principais sintomas), avaliação da dor (escala visual análoga de REVIL et al., publicada em 198415), avaliação do edema (medida circunferencial17), avaliação da força de preensão (dinamometria, descrita por MATHIOWETZ et al. em 198414), amplitudes articulares do antebraço e punho (goniometria, medidas padronizadas por COLE em 19863). No pós-operatório aplicamos as mesmas referências, acrescentando-se a avaliação da função manual (teste da função manual, descrito por JEBSEN et al. em 196910 ). Elaboramos ao final 3 perguntas para avaliar subjetivamente a satisfação do paciente frente aos tratamentos nos quais esteve submetido (quadro 2)13.


O protocolo de tratamento aplicado aos pacientes do grupo I, foi dividido em 10 semanas, considerando-se ainda a semana inicial do paciente com imobilização gessada (quadro 1).


Os autores aplicaram um questionário aos pacientes do grupo II para investigação do tratamento de reabilitação no qual estiveram submetidos, foram feitas algumas perguntas de forma simples e sem o emprego de termos técnicos, acompanhando-se um roteiro pré-determinado para uso do terapeuta.13

Para análise dos resultados aplicamos os testes de Wilcoxon para as duas amostras não independentes (SIEGEL, 197516), com a finalidade de comparar, separadamente os grupos I e II, quanto aos períodos pré-operatório e pós-tratamento, em relação aos valores das medidas estudadas. Aplicamos também os teste de Mann-Whitney para duas amostras independentes (SIEGEL, 197516), com o objetivo de comparar os mesmos grupos em relação as diferenças percentuais (D%) calculadas a partir dos valores medidos no pré-operatório e pós-tratamento. Em todos os testes fixou-se em 0,05 ou 5% o nível para rejeição da hipótese de nulidade.

RESULTADOS

Os resultados indicaram que após a aplicação do protocolo de tratamento de reabilitação em Terapia de Mão aos pacientes do grupo I, alguns resultados significantemente melhores (p< 0,05) foram encontrados para as variáveis: dor, força muscular - força de preensão, amplitude articular do antebraço nos movimentos de pronação e supinação, amplitude articular do punho nos movimentos de abdução e adução e desempenho da função manual (teste da função manual de JEBSEN10) nos subtestes específicos de escrever e empilhar peças de dama. Na avaliação subjetiva, 90% dos pacientes do grupo I estavam satisfeitos com os resultados do tratamento, no grupo II, 66% dos pacientes relataram satisfação com o tratamento recebido em outros Serviços.

DISCUSSÃO

A doença de Kienböck ainda é incluída no grupo de patologias idiopáticas e apesar das diversas correntes que a tentam explicar, ainda não é possível afirmar a sua origem.2,12,15 Vários são os tratamentos preconizados na área médica e a ressecção da fileira proximal do carpo aparece enquanto alternativa cirúrgica e que muitas vezes permite a recuperação precoce do paciente.15 A reabilitação destes pacientes depende muitas vezes de uma atuação terapêutica especializada para sua reintegração ocupacional.13

Instituiu-se a necessidade de melhor estudar e atender a esta população devido à demanda ao Serviço de Terapia da Mão do Setor de Terapia Ocupacional, da Disciplina de Fisiatria do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, advinda do Hospital São Paulo, através da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior.

A partir da prática clínica e terapêutica, estruturamos um protocolo de avaliação e tratamento e os cuidados foram direcionados para a cicatriz, edema, dor, além da observância da amplitude articular da extremidade superior, força muscular e capacidade funcional.

Estabeleceu-se os protocolos e após algum tempo da sua aplicação prática, alguns resultados foram obtidos.

A idade média dos pacientes dos grupos I e II demonstrou que a população estudada encontrava-se numa fase produtiva ( 36,7 e 43,5 anos) o que justificava a reabilitação eficiente que os reintegrasse às suas ocupações anteriores ou a novas funções.

A profissão predominante de ambos os grupos foi a "do lar", contrariando a literatura pesquisada onde o predomínio eram as atividades braçais.2,7,11,12 A nossa amostra apresentou o sexo feminino em maior número e com atividades ocupacionais de cunho doméstico e em nosso meio, tal função não é reconhecida como atividade braçal.

No tratamento propriamente dito, fundamentamos a intervenção a partir da sintomatologia proveniente da patologia (quadro 1).

Enfatizou-se a introdução das atividades graduadas com o objetivo de estimular o uso funcional manual o mais precocemente possível visto que, encontramos nos pacientes restrições funcionais com mais de um ano após o sintoma inicial 13. Este sintoma inicial era referido principalmente como dor 11,13 e foi combatido desde a primeira semana para encorajar juntamente com as atividades o retorno às funções normais.

Na avaliação subjetiva, 80% pacientes do grupo I continuaram exercendo as mesmas atividades anteriores a doença e do grupo II, 66,6%. Quanto a dor 70% dos pacientes do grupo I ainda apresentavam alguma dor, porém com alívio e em menor grau; do grupo II, 100% ainda tinham algum grau de dor. No que se refere a satisfação dos pacientes do grupo I quanto ao tratamento recebido 90% estavam satisfeitos e no grupo II, 66,6%. A média de retorno as atividades foi de 3,2 meses e 4,1 meses de acompanhamento em terapia dos pacientes do grupo I, dos pacientes do grupo II a média foi de 4 meses para o retorno as atividades e 4,2 meses de acompanhamento em terapia.

Significantemente, obtivemos resultados melhores quanto a dor, força muscular (preensão), movimentos articulares de antebraço (pronação e supinação) e punho (abdução e adução), como também alguns aspectos da função manual (escrever e empilhar peças de dama).

Em síntese este estudo não permitiu uma análise estatística de comparação entre os grupos I e II, porém os resultados são sugestivos de uma evolução melhor do grupo I em relação ao grupo II, o que permite concluir pela eficiência do protocolo aplicado.

  • 1 - BEGLEY,B.W. - Proximal row carpectomy in advanced Kienböck disease.J.Hand Surg., 19 (A): 1016 -1018, 1994.
  • 2 - BRUNICARDI,R.;ZABALA,N.;PIZZOLLA, P.;VERAML.;BRUNICARDI,A._ Carpectomia proximal: resultados a largo plazo In: Congreso de La Sociedad Suramericana de Cirurgia de La Mano, 5, Jornadas Nacionales de la Sociedad Venezolana de Cirurgia de La Mano, 17, Caracas,1995.Temas Livres Valência.
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  • Endereço para correspondência
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Maio 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2000
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