Acessibilidade / Reportar erro

Ensino e Pesquisa

Ao Editor

É com o maior entusiasmo que me dirijo a V.Sa. a fim de congratular-me com a nova orientação que vem sendo impressa ao seu periódico.

Não só a apresentação gráfica, mas, sobretudo, o conteúdo é da melhor qualidade, versando matéria da maior relevância. Que a revista continue assim é o que todos desejamos.

Na oportunidade, entretanto, faço uma observação. Nas freqüentes discussões que aparecem nos periódicos dedicados à educação médica, bem como em simpósios e congressos, verifica-se que se dá pouca importância à pesquisa como recurso pedagógico essencial. Geralmente quase nada é referido sobre seu papel como elemento importante no processo educacional.

Há mesmo quem diga que a pesquisa não é relevante para o ensino da formação. Coloco-me em posição absolutamente oposta, e essa colocação não é meramente opinativa, eis que é ditame das últimas reformas universitárias (Leis 5.539 de 27 de novembro de 1968 e 5.540 de 28 de novembro de 1968). A verdade é que essa estratégia não vem sendo desenvolvida na medida que é necessária.

É importante dizer que a conjugação da pesquisa com o ensino não se faz com o engajamento de todos os alunos numa pesquisa. Serve, porém, como modelo para que os estudantes se inteirem da metodologia experimental, acompanhando projetos em execução.

A participação dos estudantes na pesquisa não visa necessariamente a que eles façam pesquisa, mas que participem das mesmas, acompanhando e inteirando-se das estratégias operacionais e do raciocínio científico.

É com esse objetivo, por exemplo, que o Hospital Universitário da UFRJ absorve os recursos de disciplinas básicas (Biofísica, Microbiologia, Bioquímica etc.), dando acesso aos seus laboratórios e enfermarias a estudantes interessados na pesquisa. Esse procedimento é crítico, porém não é competitivo com os processos de ensino integrado e aprendizagem.

Os laboratórios de pesquisa não se devem constituir em claustros vedados aos estudantes, mas ao acesso dos mesmos, para que completem a sua formação. Ensino e pesquisa não devem constituir “frase” para discurso e nem dispositivos legais infactíveis, mas uma realidade essencial aos objetivos da educação médica.

Cumpre acentuar que a pesquisa constitui a base da pós-graduação e celeiro de novos docentes-pesquisadores. Para esse grau de ensino, o requisito essencial é que a instituição que se proponha a fazê-la tenha atividades regulares de pesquisa. O oposto, no entanto, é o que se vem verificando, ou seja, cria-se a pesquisa para permitir implantação dos cursos para graduados. São improvisações indesejáveis, porque a pesquisa tem necessariamente que se basear em um grande lastro de experiência.

Apontei somente algumas questões de maior relevo do tema abordado. Fiz, porém, com o propósito fundamental de provocar debate sobre o problema.

Paulo de Góes
Professor Titular do Departamento de Virologia do Institut o de Micro-biologia da UFRJ

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 1981
Associação Brasileira de Educação Médica SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023 | Asa Norte, Brasília | DF | CEP: 70712-903, Tel: (61) 3024-9978 / 3024-8013, Fax: +55 21 2260-6662 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: rbem.abem@gmail.com