Acessibilidade / Reportar erro

'Shakespeare': um nome para textos

Resumos

Neste artigo, demonstro a importância histórica de se entender o caráter contingente da associação editorial do nome 'Shakespeare' às peças que o monumentalizaram a partir do fólio de 1623. Trata-se de uma forma deliberada de romper com o cânone autoral romântico, quando muitas peças associadas ao seu nome começaram a ser lidas pelo movimento Sturm und Drang como exemplos excelentes de oposição estética e temática ao paradigma clássico francês. Deste modo, alguns enunciados ou apelativos de valor nos frontispícios das peças impressas e associadas ao nome 'Shakespeare' entre 1594 e 1637 deixarão de ser entendidos como se fossem regidos pela preocupação de preservação de uma integridade intelectual-textual individualizada de Shakespeare.

Shakespeare; materialidade textual; Antigo Regime.


This article intends to show how important is to understand the incidental aspect of the link between the name 'Shakespeare' and the plays monumentalized by the 1623 folio. This is a possible way of breaking the romantic expectation of understanding from the cultural movement Sturm und Drang, whose emphasis was the cultural fight against the French classicism of taste and rule of arts in German nobility. So, with this study, I think the forms of creating valour to the Shakespearean plays' frontispiece, between 1594 and 1637, will cannot be understood as a preoccupation of preserving the intellectual individuality of Shakespeare, but as a collective process of creation.

Shakespeare; textual materiality; Ancient Regime.


Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • BARIANI, Edison. Indivíduo, sociedade e genialidade: Norbert Elias e o caso Mozart. Revista Eletrônica Urutágua, n. 8, 2005.
  • BREIGHT, Curt. Treason doth never prosper: The tempest and the discourse of treason. Shakespeare Quartely, v. 41, n. 1, p. 1-28, 1990.
  • CARLSON, Marvin. Teorias do teatro. São Paulo: Unesp, 1997.
  • CHARTIER, Roger (org.). Leituras e leitores na França do Antigo Regime. São Paulo: Unesp, 2004.
  • CHARTIER, Roger (org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 2001.
  • CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XVI e XVIII. Brasília: UnB, 1994.
  • CHARTIER, Roger. Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna - séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002.
  • CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo: Unesp, 2002.
  • CREEDE, Thomas; BURBY, Curthbert. The most excellent and lamentable tragedie of Romeo and Iuliet. London: Creede-Burby, 1599.
  • DANTER, John; ALLDE, Edward. An excellent conceited tragedie of Romeo and Iuliet. London: Danter-Allde, 1597.
  • DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
  • DOBRÁNSZKY, Enid Abreu (org.). Defesas da poesia: Sir Philip Sidney & Percy Bysshe Shelley. São Paulo: Iluminuras, 2002.
  • ELIAS, Norbert. Mozart: sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
  • ELIAS, Norbert. Sociedade de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
  • GRAZIA, Margreta de; STALLYBRASS, Peter. The materiality of the shakespearean text. Shakespeare Quartely, v. 44, n. 3, p. 255-283, 1993.
  • GREENBLATT, Stephen. Novo historicismo: ressonância e encantamento. Estudos Históricos, v. 4, n. 8, p. 244-261, 1991.
  • HANSEN, João Adolfo. A sátira e o engenho: Gregório de Matos e a Bahia do século XVII. São Paulo: Ateliê Editorial/Unicamp, 2004.
  • HANSEN, João Adolfo. O discreto. In: NOVAES, Adauto (org.). Libertinos e libertários. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 77-102.
  • JAGGARD, Isaac; BLOUNT, Edward. Mr. William Shakespeares comedies, histories, & tragedies. London: Iaggard-Blount, 1623.
  • KANTOROWICZ, Ernst. La souveraineté de l'artiste: note sur quelques maximes juridiques et les théorie de l'art à la Renaissance. In: Mourir pour la Patrie. Paris: PUF, 1984, p. 31-57.
  • KASTAN, David Scott. Proud Majesty made a subject: Shakespeare and the spectacle of rule. Shakespeare Quartely, v. 37, n. 4, p. 459-475, 1986.
  • KASTAN, David Scott. Shakespeare and the book. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
  • KOSELLECK, Reinhardt. Futuro passado. Barcelona: Paidós, 1993.
  • MARAVALL, José Antônio. Cultura do Barroco. São Paulo: EdUSP, 1997.
  • MARCUS, Leath S. Levelling Shakespeare: local customs and local texts. Shakespeare Quartely, v. 42, n. 2, p. 168-178, 1991.
  • McKENZIE, D. F.. La bibliographie et la sociologie des textes. Paris: Éditions du Cercle de la Librairie, 1991.
  • REYNOLDS, Bryan; WEST, William N. (eds.). Rematerializing Shakespeare: authority and representation on the early Modern English Stage. New York: Palgrave Macmillan, 2005.
  • ROSSET, Clément. A antinatureza. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988.
  • SIMMES, Valentine; WISE, Andrew. The tragedy of king Richard the third. London: Simmes-Wise, 1597.
  • VIANNA, Alexander Martins. Estado e individuação no Antigo Regime: por uma leitura não-romântica de 'Shakespeare'. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação de História Social da UFRJ. Rio de Janeiro, 2008.
  • WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
  • WELLS, Stanley (ed.). The Oxford Shakespeare: the complete works. Oxford: Claredon Press, 1998.
  • WERSTINE, Paul. Narratives about printed Shakespeare texts: 'foul papers' and 'bad' quartos. Shakespeare Quartely, v. 41, n. 1, p. 65-86, 1990.
  • WERSTINE, Paul. The textual mistery of Hamlet. Shakespeare Quartely, v. 39, n. 1, p. 1-26, 1988.
  • 1
    VIANNA, Alexander Martins. Estado e individuação no Antigo Regime: por uma leitura não-romântica de 'Shakespeare'. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação de História Social da UFRJ. Rio de Janeiro, 2008.
  • 2
    Ver: GREENBLATT, Stephen. Novo historicismo: ressonância e encantamento. Estudos Históricos, v. 4, n.8, p. 244-261, 1991.
  • 3
    KASTAN, David Scott. Shakespeare and the book. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, p. XI.
  • 4
    GRAZIA, Margreta de; STALLYBRASS, Peter. The materiality of the shakespearean text. Shakespeare Quartely, v. 44, n. 3, p. 255-283, 1993.
  • 5
    McKENZIE, D. F. La bibliographie et la sociologie des textes. Paris: Éditions du Cercle de la Librairie, 1991.
  • 6
    WELLS, Stanley. General introduction. In: The Oxford Shakespeare: the complete works. Oxford: Claredon Press, 1998, p. XXIII-XXIV.
  • 7
    DOBRÁNSZKY, Enid Abreu (org.). Defesas da poesia: Sir Philip Sidney & Percy Bysshe Shelley. São Paulo: Iluminuras, 2002, p. 128-129.
  • 8
    BARIANI, Edison. Indivíduo, sociedade e genialidade: Norbert Elias e o caso Mozart. Revista Eletrônica Urutágua, n. 8, 2005.
  • 9
    CHARTIER, Roger (org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 2001{1985}; CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XVI e XVIII. Brasília: UnB, 1994; CHARTIER, Roger. Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna - séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002; CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo: Unesp, 2002.
  • 10
    ELIAS, Norbert. Mozart: sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995, p. 64-65.
  • 11
    WERSTINE, Paul. The textual mistery of Hamlet. Shakespeare Quartely, v. 39, n.1, p. 1-26, 1988.
  • 12
    KASTAN, David Scott. Shakespeare and the book. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, p. 14-78.
  • 13
    WERSTINE, Paul. Narratives about printed Shakespeare texts: 'Foul papers' and 'Bad' quartos. Shakespeare Quartely, v.41, n.1, p. 65-86, 1990.
  • 14
    MARCUS, Leath S. Levelling Shakespeare: local customs and local texts. Shakespeare Quartely, v. 42, n. 2, p. 168-178, 1991.
  • 15
    Para conhecer um balanço sistemático parcial deste tema (pois que originalmente publicado em 1986), ver: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 146-172. Ver também: CHARTIER, Roger(org.). Leituras e leitores na França do antigo regime. São Paulo: Unesp, 2004{1987}; CHARTIER, Roger(org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 2001{1985}.
  • 16
    Mary "Hebert" (nascida "Sidney") se destacou na corte de Elizabeth por ser bem letrada e ótima tradutora. Ela foi irmã de Sir Philip Sidney (1554-1586), que lhe dedicou a sua "Arcádia" e se notabilizou como cortesão, poeta, homem de Estado, soldado nobre e patrono das artes. Dele é também um opúsculo chamado "Defesa da Poesia", em que faz um apelo eloqüente sobre o valor social da "ficção imaginativa", escrito provavelmente em 1582-1583. Ver edição em português: DOBRÁNSZKY, Enid Abreu (org.). Defesas da poesia: Sir Philip Sidney & Percy Bysshe Shelley. São Paulo: Iluminuras, 2002.
  • 17
    JAGGARD, Isaac; BLOUNT, Edward. Mr. William Shakespeares comedies, histories, & tragedies. London: Iaggard-Blount, 1623, p.6.
  • 18
    JAGGARD, Isaac; BLOUNT, Edward. Mr. William Shakespeares comedies, histories, & tragedies. London: Iaggard-Blount, 1623, p.7.
  • 19
    Ver discussão sobre decoro das posições e deformação de caracter em: HANSEN, João Adolfo. O discreto. In: NOVAES, Adauto (org.). Libertinos e libertários. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 77-102.
  • 20
    MARAVALL, José Antônio. Cultura do Barroco. São Paulo: EdUSP, 1997.
  • 21
    KASTAN, David Scott. Proud majesty made a subject: Shakespeare and the spectacle of rule. Shakespeare Quartely, v. 37, n. 4, p. 459-475, 1986.
  • 22
    Ver: BREIGHT, Curt. Treason doth never prosper: the tempest and the discourse of treason. Shakespeare Quartely, v. 41, n. 1, p. 1-28, 1990.
  • 23
    Ver: ELIAS, Norbert. Sociedade de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001; MARAVALL, José Antônio. Cultura do Barroco. São Paulo: EdUSP, 1997.
  • 24
    JAGGARD, Isaac; BLOUNT, Edward. Mr. William Shakespeares comedies, histories, & tragedies. London: Iaggard-Blount, 1623, p. 9.
  • 25
    WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 12-30.
  • 26
    KOSELLECK, Reinhardt. Futuro passado. Barcelona: Paidós, 1993, p. 21-85.
  • 27
    Ver: WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 12-30.
  • 28
    Ver: ROSSET, Clément. A anti-natureza. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988, p. 11-121.
  • 29
    KANTOROWICZ, Ernst. La souveraineté de l'artiste: note sur quelques maximes juridiques et les théorie de l'art à la Renaissance. In: Mourir pour la patrie. Paris: PUF, 1984, p. 31-57.
  • 30
    JAGGARD, Isaac; BLOUNT, Edward. Mr. William Shakespeares comedies, histories, & tragedies. London: Iaggard-Blount, 1623, p. 13-14.
  • 31
    WELLS, Stanley. General introduction. In: The Oxford Shakespeare: the complete works. Oxford: Claredon Press, 1998, p. XV-XXXIX.
  • 32
    WELLS, Stanley; TAYLOR, Gary (eds.). General introduction. In: The Oxford Shakespeare: the complete works. Oxford: Claredon Press, 1998, p. XV.
  • 33
    WELLS, Stanley; TAYLOR, Gary (eds.). The Oxford Shakespeare: the complete works. Oxford: Claredon Press, 1998, p. 340.
  • 34
    CREEDE, Thomas; BURBY, Curthbert. The most excellent and lamentable tragedie, of Romeo and Iuliet. London: Creede-Burby, 1599, p. 13.
  • 35
    JAGGARD, Isaac; BLOUNT, Edward. Mr. William Shakespeares comedies, histories, & tragedies. London: Iaggard-Blount, 1623, p. 56 (paginação irregular).
  • 36
    "Names" é o nome que o ator vai ter em cena, ou seja, é a máscara posicional que encarna na trama. Uma tradução literal poderia induzir ao que entendemos hoje como "lista de elenco" (Cast), ou seja, a relação dos atores contratados para assumirem personagens de uma trama.
  • 37
    Sobre esta discussão, ver exemplo de: HANSEN, João Adolfo. A sátira e o engenho: Gregório de Matos e a Bahia do Século XVII. São Paulo: Ateliê Editorial/Unicamp, 2004, p. 29-190.
  • 38
    BRUSTER, Douglas. The Politics of Shakespeare's Prose. In: REYNOLDS, Bryan; WEST, William N. (eds.). Rematerializing Shakespeare: authority and representation on the early modern english stage. New York: Palgrave Macmillan, 2005, p. 95-114.
  • 39
    Ver: CARLSON, Marvin. Teorias do teatro. São Paulo: Unesp, 1997, p. 13-190.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2008

Histórico

  • Recebido
    Jun 2008
  • Aceito
    Ago 2008
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org