Este artigo investiga os boatos que circularam entre os anos de 1788-89, na Capitania de Minas Gerais, acerca da ameaça de lançamento da derrama, cobrança de um tributo sobre a extração de ouro. Em geral, a historiografia relaciona a cobrança da derrama ao surgimento de um levante popular, interpretado como reação "espasmódica" à extorsão material. Essa interpretação destaca a frivolidade política atribuída à gente pobre, tida por incapaz de reagir, senão quando acossada pela fome ou por pressões materiais. Contudo, analisando os boatos sobre a derrama, é possível questionar a validade do postulado. A incidência social do tributo, os critérios de proporcionalidade baseados na riqueza individual e a existência de mecanismos de dependência econômica indicam que a derrama, antes de ser ofensiva aos pobres, colidia com os interesses da elite mineira.
derrama; boatos; revolta; Inconfidência Mineira; século XVIII.