PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA UFSC: 45 ANOS DE CONTRIBUIÇÃO PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DA ENFERMAGEM BRASILEIRA

RESUMO

Objetivo:

analisar a contribuição do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina para a internacionalização da enfermagem brasileira.

Método:

trata-se de estudo qualitativo de cunho histórico social e de base político-documental. Foram utilizadas como fontes primárias: 22 relatórios (1998 a 2020), disponíveis nos arquivos do referido Programa e site institucional da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, além dos cinco Planos Nacionais de Pós-Graduação; como fonte secundária, o artigo acerca dos 30 anos do Programa. Os dados foram analisados seguindo os passos da análise de conteúdo temática, com o auxílio do software ATLAS.ti versão 9.1.5.0^®. Os achados relativos às iniciativas de internacionalização realizadas no âmbito do Programa foram interpretados relacionando-os com as macropolíticas da Pós-Graduação brasileira.

Resultados:

as três categorias analíticas: Marco zero - os primeiros passos do Programa rumo à internacionalização (1976-1997), Marco da consolidação - fortalecendo estratégias de internacionalização (1998-2006) e Marco da excelência - a visibilidade da internacionalização (2007-2020) mostram os movimentos internos e externos que envolveram o processo de internacionalização do Programa.

Conclusão:

a contribuição do Programa de Pós-Graduação para a internacionalização da enfermagem brasileira pautou-se no compromisso do seu corpo docente e discente com a profissão e seus desafios, assim como no olhar crítico para os parâmetros legais instituídos. A trajetória, de 45 anos, norteada pelas bases constitucionais das relações internacionais, de modo original e desbravador, fomentou o desenvolvimento de parcerias, assessorias e solidariedade internacional. Todo esse movimento impactou positivamente no fortalecimento da ciência da enfermagem e saúde no mundo.

DESCRITORES:
Enfermagem; História da educação; Educação de pós-graduação em enfermagem; Pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico; Educação em enfermagem; Educação; Pesquisa em enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to analyze the contribution of the Graduate Program in Nursing at Universidade Federal de Santa Catarina to the internationalization of Brazilian nursing.

Method:

this is a qualitative study of a social historical nature and with a political-documentary basis. The following were used as primary sources: 22 reports (from 1998 to 2020), available in the files of the aforementioned program and in the institutional website of the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, in addition to the five National Graduate Plans; and the secondary source was the article about the 30 years of the Program. The data were analyzed following the thematic content analysis steps, with the aid of the ATLAS.ti^® software, version 9.1.5.0. The findings related to the internationalization initiatives carried out within the scope of the Program were interpreted in relation to the macro-policies of Brazilian graduate education.

Results:

the three analytical categories: Ground zero - The first steps of the Program towards internationalization (1976-1997), Consolidation milestone - Strengthening internationalization strategies (1998-2006), and Excellence milestone - The visibility of internationalization (2007-2020), show the internal and external movements that involved the Program's internationalization process.

Conclusion:

the contribution of the Graduate Program to the internationalization of Brazilian nursing was based on the commitment of its faculty and students to the profession and its challenges, as well as on a critical perspective at the legal parameters established. The 45-year trajectory, guided by the constitutional bases of international relations, in an original and pioneering way, fostered the development of partnerships, academic advisory and international solidarity. This entire movement exerted a positive impact on the strengthening of the nursing and health science in the world.

DESCRIPTORS:
Nursing; Education history; Graduate education program in Nursing; Scientific research and technological development; Education in Nursing; Education; Research in Nursing

RESUMEN

Objetivo:

analizar la contribución del Programa de Posgrado en Enfermería de la Universidade Federal de Santa Catarina a la internacionalización de la enfermería brasileña.

Método:

estudio cualitativo de carácter histórico social y base político-documental. Se utilizaron como fuentes primarias: 22 informes (1998 a 2020), Disponíbles en los archivos del citado programa y sitio web institucional de la Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, y cinco Planes Nacionales de Posgrado; y como fuente secundaria el artículo sobre los 30 años del Programa. Los datos se analizaron siguiendo los pasos del análisis de contenido temático, utilizando el software ATLAS.ti versión 9.1.5.0^®. Los hallazgos relacionados con las iniciativas de internacionalización llevadas a cabo en el ámbito del Programa se interpretaron en relación con las macropolíticas de los estudios de Posgrado brasileños.

Resultados:

las tres categorías analíticas: Marco Inicial - primeros pasos del Programa hacia la internacionalización (1976-1997), Marco de consolidación - fortalecimiento de las estrategias de internacionalización (1998-2006) y Marco de excelencia - visibilidad de la internacionalización (2007-2020) muestran los movimientos internos y externos que involucraron el proceso de internacionalización del Programa.

Conclusión:

la contribución del Programa de Posgrado a la internacionalización de la enfermería brasileña se basó en el compromiso de los docentes y estudiantes con la profesión y los desafíos, así como también en una mirada crítica a los parámetros legales establecidos. La trayectoria de 45 años, guiada por las bases constitucionales de las relaciones internacionales, de manera original y vanguardista, fomentó el desarrollo de asociaciones, asesorías y solidaridad internacional. Este movimiento tuvo un impacto positivo en el fortalecimiento de la enfermería y de las ciencias de la salud en el mundo.

DESCRIPTORES:
Enfermería; Historia de la educación; Educación de posgrado en enfermería; Investigación científica y desarrollo tecnológico; Educación en enfermería; Educación; Investigación en enfermería

INTRODUÇÃO

A ciência brasileira pode ser considerada recente, quando comparada com outros países ou quando se retoma expressivos momentos, como a fundação da Sociedade Brasileira de Ciências, em 19161^-2, e as respostas nacionais à expansão de capital, após a segunda guerra. Na época, a comunidade científica que estava instalada em institutos de pesquisa, órgãos governamentais e universidades foi mobilizada a se vincular ao processo de industrialização e modernização, além de desenvolver a “ciência pura”3.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), criada em 1948, exerceu um papel importante na expansão e no aperfeiçoamento do sistema nacional de ciência e tecnologia. Porém, o sistema de pesquisa brasileira ganhou força a partir de 1951, com a criação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), como resultado da luta dos cientistas brasileiros para um melhor espaço de apoio e financiamento de pesquisas nas universidades4. Durante a década de 1950 e início dos anos 1960, há grande ênfase para a formação de recursos humanos de nível superior no exterior, financiados pelas instituições recém-criadas no Brasil, como: CNPq, CAPES, Fundo do Desenvolvimento Técnico e Científico (FUNTEC), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e outras internacionais como a Fundação Rockfeller, Ford e outras afins5.

O avanço da ciência ligou-se fortemente à formação em nível de pós-graduação no país, e o Parecer Sucupira^* (Parecer nº 977/65) assumiu a distinção entre os programas de pós-graduação lato sensu e stricto sensu4. O primeiro dirigia-se para a demanda por postos especializados e criados pelo desenvolvimento econômico; o segundo tinha por finalidade formar cientistas, pesquisadores e técnicos aptos a desenvolver a pesquisa, indispensável aos novos rumos da economia e relações internacionais5^-6.

Do ponto de vista da internacionalização da ciência brasileira, a atuação de pesquisadores visitantes estrangeiros, nas décadas de 1920 e 1930, é reconhecida como a primeira experiência de cooperação internacional. No entanto, somente na década de 1990 a matéria ganha relevância, exatamente pela sua vinculação a padrões internacionais de avaliação da pesquisa e pós-graduação adotados pela CAPES, confirmando a subordinação desses processos ao Estado7.

A internacionalização, porém, ainda não era prioritária em 1965, quando do marco histórico do Parecer Sucupira, em que foram classificados 27 cursos no nível de mestrado e 11 no de doutorado em todo o país. O sistema de pós-graduação stricto sensu contabilizou, em 2019, 6.935 cursos: 3.652 mestrados, 2.401 doutorados, 851 mestrados profissionais e 31 doutorados profissionais. Até 2019 foram titulados 68.777 mestres (acadêmicos e profissionais) e 24.290 doutores, e a meta 14 do Plano Nacional de Pós-Graduação (2011-2020) previa elevar gradativamente os números, visando titular 16.000 mestres e 9.000 doutores por ano8^-9. A Meta 14 dispõe sobre as estratégias para sua expansão e financiamento: “elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação de 60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores”10^:12.

A enfermagem brasileira, acompanhando de perto essas novas medidas, implantou a primeira pós-graduação stricto sensu em 1972, na Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nessa mesma década foram criados outros oito cursos de Mestrado em Enfermagem em vários estados brasileiros, dentre eles, o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 1976. A concentração de cursos na Região Sudeste foi gradativamente minimizada com a ampliação de programas das Regiões Sul e Nordeste11, embora permaneçam os desequilíbrios em relação ao Norte e Centro-Oeste. A criação destes cursos visava suprir a necessidade de formação qualificada de docentes e pesquisadores para atender as demandas do ensino superior, acompanhar o desenvolvimento dos cursos de pós-graduação stricto sensu, fortalecer a pesquisa por meio de grupos e laboratórios de pesquisa, assim como fomentar a criação de cursos de doutorado e, com isso, ampliar os horizontes do ponto de vista internacional.

O doutorado em Enfermagem foi criado em 1981, com o chamado Programa Interunidades de Doutorado em Enfermagem, nas Escolas de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo e Ribeirão Preto. Porém, é na década de 90 que a mobilização das escolas de Enfermagem para a qualificação de seu corpo docente se amplia, tendo como resultado a criação de outros seis cursos de mestrado e cinco cursos de doutorado, incluindo-se o da UFSC, em 1993.

Pode-se dizer que, no início dos anos 1990, os cursos de pós-graduação em Enfermagem no Brasil dividiam-se em três grupos: o primeiro, de cursos em progresso; o segundo, de cursos em condição de estabilidade; e o terceiro, de cursos com queda de qualidade. Além disso, outras universidades estavam se organizando para criar seus cursos e programas de pós-graduação, sendo suas vagas insuficientes para suprir a demanda de alunos de todo o país12. Verifica-se, então, que, desde seu início e nas décadas seguintes, houve um aumento gradativo de docentes cursando doutorado e pós-doutorado em outros países, de modo a fortalecer as parcerias internacionais e evitar a endogenia na qualificação dos pesquisadores. Isto favorecia a internacionalização dos novos PPGs em Enfermagem em diferentes regiões do país, assim como a ampliação e valorização dos grupos de pesquisa, o aumento da produção de conhecimentos e do número de periódicos na área, de forma coerente aos critérios de avaliação da CAPES.

O Brasil é hoje o 13º país produtor de ciência no mundo, sendo responsável por 2,7% de toda a publicação mundial indexada8, o que representa um avanço significativo, que está ligado ao crescimento do número de pesquisadores brasileiros titulados, decorrente da política de incentivo à formação de mestres, doutores e pós-doutores1.

A relevância da enfermagem brasileira no contexto internacional pode ser evidenciada por sua produção científica, que também sinaliza o crescimento da pós-graduação nessa área. Tomando por referência o ranking mundial, a partir dos periódicos indexados na base Scopus/SCImago no período de 1996-2020, o Brasil é o 1º país da América Latina e o 8º no mundo em número de documentos publicados na área de enfermagem, sendo superado apenas pelos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá, França, Alemanha e Espanha^**.

Embora o Brasil seja reconhecido entre os 20 países com o maior número de publicações na área, em termos de citações não se alcança tal relevância13. Tal panorama é decorrente do fato de apenas três periódicos de enfermagem brasileiros estarem indexados na base Web of Science, número bem aquém dos cerca de 41 periódicos existentes na área14.

Nesse contexto, o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC - PEN/UFSC, que completa 45 anos de existência, vem contribuindo de forma exemplar com a ciência brasileira e com repercussões internacionais em termos de formação de pesquisadores, desenvolvimento científico e tecnológico de grande impacto nacional e internacional, e produção de conhecimento de qualidade. Diante da sua expressão acadêmica, social, científica e política nos mais diversos cenários, este texto pretende trazer à luz um dos aspectos que permeia as atividades do programa desde sua criação, a internacionalização de suas ações internas e externas.

Para dar visibilidade a esta excelência, traçamos o seguinte objetivo: analisar a contribuição do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC para a internacionalização da enfermagem brasileira.

Marco referencial e conceitual - o processo de internacionalização da pós-graduação brasileira

O conceito de internacionalização é complexo e vem sendo crescentemente aplicado à ciência e ao ensino superior no contexto ampliado da globalização e da educação internacional, mas suas implicações sociopolíticas e culturais ultrapassam os muros das universidades15^-16.

A internacionalização acadêmica passa a ser assumida no Brasil como “um processo amplo e dinâmico envolvendo ensino, pesquisa e prestação de serviços para a sociedade, além de construir um recurso para tornar a educação superior responsiva aos requisitos e desafios de uma sociedade globalizada. É o estágio mais elevado das relações internacionais entre as universidades”17^:6, se constitui na integração de dimensões internacionais, intercultural ou global das finalidades, funções ou ofertas de educação superior, em especial da pós-graduação16^-18, além de ser estratégica para a consolidação de pólos de excelência científica, tecnológica e acadêmica no Brasil19.

Há pelo menos dois grandes objetivos que distinguem ações de internacionalização, por sua natureza predominantemente institucional ou acadêmica; ou seja, quando se configura como ferramenta de marketing, ao visar o renome ou status institucional, ou quando busca a aquisição de valor na sua capacidade de colaborar para o desenvolvimento científico e educacional em níveis supranacionais20. Quanto às estratégias, se distinguem aquelas especificamente acadêmicas e as organizacionais, relativas a políticas, procedimentos, sistemas e infraestrutura de apoio7.

Processos de internacionalização podem ser identificados de diferentes formas. Em termos de mobilidade, esta pode ser denominada ativa ou passiva, para diferenciar fluxos de pessoas, conhecimentos e recursos em mobilidade do país para o exterior ou em sentido inverso16^-17^,20. Ao invés de vias únicas para países receptores, esperam-se cooperações de reciprocidade ou em parceria simétricas e com contrapartidas não apenas financeiras. Já a internacionalização “em casa” (currículos, métodos e atividades curriculares) mostra-se ainda incipiente21. A colaboração por construções conjuntas transubstantivas sugere, inclusive, discutir a “transnacionalização”, como uma evolução da internacionalização22.

A literatura traz diferentes formas de adjetivar a internacionalização, como cooperativa, lucrativa, solidária; formas de especificar os tipos de cooperação, como horizontal, vertical, madura, simétrica; ou de caracterizar atividades, como interculturais, mundiais, transnacionais, em rede, entre outras18. A partir dos anos 2000 o conceito desponta na literatura nacional e, desde então, tensões e contradições o cercam, como o produtivismo acadêmico, o isomorfismo institucional e a homogeneização cultural, relacionados ao papel de nações ativas e passivas7. Além disso, é presente a lógica empresarial ou da chamada anglo-saxonization das universidades, ligada a novos mercados de alunos e de “cérebros”, pelas desiguais condições de trabalho dos pesquisadores entre os países20. Enfim, as tensões presentes no atual cenário podem ser situadas no amplo debate que envolve correntes críticas da geopolítica mundial e da necessidade da descolonização do saber.

A CAPES foi a maior responsável pela articulação dos Ministérios da Educação e de Ciência e Tecnologia no acolhimento do conceito de internacionalização no sistema educacional brasileiro, o que culmina com a vinculação da internacionalização à meta de excelência de PPG, em 2014, quando incorpora uma setorização de tal processo, focando o padrão internacional nos melhores cursos do país (com notas 6 e 7) e reconhecendo a necessidade de ampliar a autonomia, a accountability e a governança22. Ao assumir-se como principal gestora da cooperação internacional na pós-graduação, a agência promove o protagonismo das IES e diferentes modalidades de bolsas, mobilidade e projetos de pesquisa17.

O mais recente Programa Institucional de Internacionalização das IES e de Institutos de Pesquisa do Brasil (CAPES/PrInt), instituído em 2017, visa fomentar planos estratégicos nas IES, as redes de pesquisas internacionais com foco na qualidade da produção acadêmica e as ações para promover o ambiente internacional nos programas de pós-graduação, especialmente pela mobilidade de docentes e de discentes18^-19. Como um requisito mundialmente valorizado e mensurado, a internacionalização ganha importância em políticas nacionais e institucionais, mas a falta de consensos e modelos dificulta sua gestão, tornando rankings acadêmicos que consideram a internacionalização fortes influenciadores do financiamento, credibilidade e visibilidade das IES16.

Resultados de pesquisa desenvolvida pela CAPES demonstraram que a internacionalização das IES, embora não mais incipiente, ainda necessita forte desenvolvimento, além de mudança da tendência à internacionalização passiva. A diversidade das situações não permite generalizar um único perfil institucional de internacionalização. Por isso, as IES estudadas foram divididas em agrupamento 1 (198 IES) e agrupamento 2 (48 IES), com diferentes necessidades e momentos do processo de internacionalização. O segundo grupo melhor utiliza as oportunidades de fomento oferecidas (número de bolsas implementadas, acordos de cooperação em projetos), ao mesmo tempo em que possui maior número de cursos de pós-graduação (PPGs)17. Obviamente que, anteriormente ao Print, a CAPES expressou seus esforços para a internacionalização em programas diversos e, de forma crescente, em seus Planos Nacionais de Pós-Graduação (PNPGs), daí esses documentos se constituírem fonte privilegiada de análise. Existem cinco PNPGs, compreendendo os períodos de 1975 a 1979, 1982 a 1985, 1986 a 1989, 2005 a 2010 e 2011 a 202023, embora a CAPES considere que um IV Plano (no interstício 1990-2004), embora não promulgado, teve versões feitas a partir de 1996 e foi adotado como diretriz interna, o que totalizariam seis e não cinco PNPGs.

A partir de conceitos, sentidos e componentes da internacionalização em PPGs, acessados em fontes bibliográficas e documentais, foi constituído o presente marco referencial e conceitual, que permitiu sintetizar uma matriz analítica geral, conforme a Figura 1. Neste momento as fontes documentais principais se referem aos PNPGs (I a V)23, enquanto o restante das fontes documentais, referentes à experiência do PEN/UFSC, explicitadas na metodologia, constituem o corpus sob análise. Estas últimas se consubstanciam nos marcos históricos ou momentos de desenvolvimento do PEN, quais sejam: Marco zero, Marco da consolidação e Marco da excelência. Cada um desses marcos se reportará e será discutido à luz de dois componentes centrais da matriz: - estratégias e protagonistas; e - impactos e expressões.

As estratégias e os protagonistas podem se reportar às práticas e praticantes7. No presente estudo foram assumidas como as diferentes ações e atividades que são construídas na vida acadêmica do PPG por atores concretos, individuais ou institucionais, em níveis variados de sistematicidade e organização, que se voltam para a ampliação das relações e visibilidade internacional, assim como para a qualificação da formação e da produção científica no cenário internacional. De acordo com as principais estratégias a que se dirigem programas, induções e pautas da CAPES, e também das vivências dos PPGs retratadas na literatura, são eleitos como componentes, ou subcategorias: - mobilidade acadêmica (fluxos de intercâmbios de estudantes, professores e pesquisadores entre países); - cooperação em pesquisa (parcerias desenvolvidas no desenvolvimento de estudos e redes, compartilhamento de talentos e estruturas); - projetos de formação (iniciativas voltadas para a solidariedade internacional na formação de mestres e doutores ou outras cooperações educacionais). O componente das condições institucionais (formas de institucionalização, estruturas de apoio, recursos captados ou construídos no interior das IES ou programas) não foi explorado particularmente, mas articula-se em vários momentos na reflexão sobre os demais.

Por impactos e expressões considera-se uma das formas evidentes de se manifestar o conjunto de investimentos individuais e institucionais, com destaque para a produção intelectual qualificada e a criação de estratégias de divulgação científica, além de outros possíveis mecanismos de avaliação de impacto, como ações de solidariedade e visibilidade do programa e da relevância nacional e internacional da atuação do corpo docente.

Figura 1 -
Marco Analítico proposto. Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

MÉTODO

Este é um estudo qualitativo de cunho histórico social e de base político-documental. Utilizou como fontes primárias os 22 relatórios do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC (PEN/UFSC), período de 1998 a 2020 (sendo 16 anuais, quatro trienais e dois quadrienais), disponíveis nos arquivos do referido programa e no site institucional da CAPES (Plataforma Sucupira, 2013-2020)^***, além dos cinco Planos Nacionais de Pós-Graduação23. Como fonte secundária essencial, foi utilizado o artigo acerca dos 30 anos do PEN/UFSC3.

A análise de dados foi realizada com a utilização de recursos do software ATLAS.ti versão 9.1.5.0^® e seguiu os passos da análise de conteúdo temática: formação do corpus, leitura em profundidade de cada documento, identificação de trechos significativos com atribuição de codes, revisão e articulação de codes em groups e/ou redes interpretativas orientadas pelo objetivo e referencial teórico construído. Após esse primeiro passo analítico, os achados relativos a iniciativas de internacionalização realizadas no âmbito do programa foram interpretados relacionando com as macropolíticas da pós-graduação brasileira. Para a apresentação dos resultados construiu-se figuras utilizando o recurso de imagem do CANVAS.

Considerando que este estudo é de cunho qualitativo documental e utiliza como fonte de coleta de dados documentos de caráter público, justifica-se a sua realização sem a submissão ao Comitê de Ética em pesquisas envolvendo seres humanos. Justificativa sustentada nos termos da Resolução n. 510, de 7 de abril de 2016 e em conformidade à Lei n. 12.527/2011.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo foi organizado em três macrocategorias analíticas: Marco zero - os primeiros passos do programa rumo à internacionalização (1976-1997), Marco da consolidação - fortalecendo estratégias de internacionalização (1998-2006) e Marco da excelência - a visibilidade da internacionalização (2007-2020).

Marco zero - os primeiros passos do programa rumo à internacionalização (1976-1997)

Introduzimos o marco zero com a Figura 2, representativa dos avanços destes primeiros anos do mestrado e do início do doutorado. Como o foco deste estudo é analisar os processos pelos quais o programa avançou em termos de internacionalização, o texto fará a análise dos aspectos relativos a este feito.

Figura 2 -
Marco zero: dos primeiros anos à formação de doutores. Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

A UFSC, desde sua criação em 1960, se colocou como instituição voltada para inovação e para os desafios educacionais do seu tempo24. O Curso de Graduação em Enfermagem foi criado na primeira década (1969), no contexto da Reforma Universitária, e seus docentes já anteviam a necessidade da criação de um curso de pós-graduação, para capacitar seu corpo docente e fazer frente às perspectivas de futuro.

A preocupação com o aprimoramento e a qualificação do corpo docente fez criar, em 1974, uma Comissão^**** para elaborar um projeto de Curso de Especialização em Enfermagem. Essa Comissão sugeriu a criação de um curso de mestrado, considerando a necessidade de formar enfermeiros para docência e o restrito número de mestres no país em relação ao número de escolas de enfermagem25. A primeira tentativa da comissão foi de estabelecer parceria com IES dos demais estados da Região Sul. A escassez de enfermeiras tituladas em nível stricto sensu motivou uma meta de titular 120 enfermeiras mestres até 1980, das quais 20 caberiam à UFSC. Estas metas se alinhavam ao preconizado no I PNPG da CAPES (1975-1979) e, uma vez que a iniciativa de parceria não se concretizou, as docentes do Departamento de Enfermagem da UFSC decidiram que aquela era a hora de colocar em prática o que já vinha sendo planejado. O Curso de Mestrado se concretizou em 1976, por meio da Portaria n^o. 28, de 27/01/1976, ficando sua coordenação sob a responsabilidade da Profa. Ingrid Elsen26.

Foi denominado de Mestrado em Ciências da Enfermagem - opção Saúde do Adulto e os seus objetivos tinham por princípio qualificar docentes para atender à expansão do ensino da enfermagem na Região Sul; aprimorar a prática de enfermagem por meio dos resultados das pesquisas produzidas no curso, e participar do planejamento global e implementação de programas de enfermagem, atendendo às políticas de saúde e educação brasileiras.

Desde o início, as pioneiras tinham clareza da necessidade do suporte externo de docentes e pesquisadoras de outras regiões do país, assim como internacionais. Neste sentido, destaca-se a contribuição da Profa. Dra. Wanda de Aguiar Horta (da EEUSP), de doutores de outros departamentos da UFSC e da professora visitante Dra. Edna H. Whitley (Doctor of Education dos EUA). Posteriormente outras professoras doutoras brasileiras, provenientes da EEUSP, EEURP, EPM, UFRGS, contribuíram de forma expressiva para o desenvolvimento do Curso. Atinentes às políticas para capacitar seu corpo docente em outros estados (RJ, SP) e países, as primeiras professoras realizaram seu doutorado nos EUA: Ingrid Elsen (University of California, San Francisco (1984); Mercedes Trentini (University of Alabama at Birmingham (1985); e Eloita Pereira Neves (Nursing pela Catholic University of America (1980) e pós-doutorado pela University of California San Francisco (1989). A década de 1980 avança na capacitação de mestres e doutores, além da criação dos primeiros cinco Grupos de Pesquisa do Programa, a partir de 1982. Atualmente, o programa tem 16 Grupos/laboratórios de pesquisa, na maioria criados a partir dos anos 1990.

Dez anos depois de sua criação, é realizado o Seminário de avaliação dos 10 anos de Pós-Graduação em Enfermagem (POSGRADEN), quando foi recomendada a criação do Curso de Doutorado em Enfermagem; e modificação da área de concentração do Mestrado em Saúde do Adulto para “Assistência de Enfermagem”. Além disso, este seminário recomenda que seja criada uma área de avaliação específica da enfermagem, realizada até então por um grupo da área da saúde em geral27. Esta recomendação seria acatada no ano seguinte, sendo a enfermagem instituída como área de conhecimento específica, com representação no Conselho Técnico Científico (CTC) da CAPES28.

Na avaliação do programa pela CAPES, período 88/89 e 90/91, foram destacados como pontos fortes “projetos de pesquisa relevantes, vinculados às linhas de pesquisa; maioria do corpo docente de doutores ou pós-doutores fora do Brasil (88/89); pesquisa em grupos consolidados; curso estendendo-se para o doutorado (90/91)”29^:16.

Os anos 1990 se iniciam com o stricto sensu da enfermagem brasileira ainda pouco expressivo, em especial de doutorado, com apenas quatro (Interunidades USP/SP e USP/RP, 1981; Escola Paulista de Medicina, 1986; UNIRIO, 1989 e; USP/SP, 1989) para dez cursos de mestrado em andamento. Isto mostrava a grande necessidade de investimentos e expansão na área, considerando o ainda incipiente impacto da produção científica e dos grupos/laboratórios de pesquisa na reformulação das práticas ou nos cursos de graduação em enfermagem.

O PEN/UFSC acompanha tais demandas e faz da década de 1990 um período de renovação, inovação e compromisso de investir intensivamente na titulação de mestres e doutores na Região Sul do Brasil. Com isso, em 1993, é implantado o Curso de Doutorado em Filosofia de Enfermagem, inédito no Brasil, e inicialmente apenas para 20 enfermeiras, visando ampliar a capacidade de reflexão teórico-conceitual, ética e metodológica sobre as questões ligadas ao cuidado no processo de ser e viver saudável. Em 1996, com duas turmas em andamento, totalizando 49 discentes, o Curso de Doutorado amplia suas metas, visando tornar-se um centro de referência de estudos avançados e interdisciplinares. A partir daí, até 2000, as áreas de concentração vão se modificando, para fundir-se em uma única - “Filosofia, Saúde e Sociedade”; e ampliando as linhas de pesquisa e sua articulação aos grupos de pesquisa. Em sua última reformulação, em 2010, foram novamente criadas duas áreas de concentração: Filosofia e Cuidado em Saúde e Enfermagem, e Educação e Trabalho em Saúde e Enfermagem.

Dentre os eventos internacionais organizados pelo PEN/UFSC, destaca-se o I Seminário Internacional de Filosofia e Saúde (SEFIS) realizado em 1994, visando fortalecer a fundamentação teórico-filosófica do programa. Organizar seminários internacionais constitui-se em uma contribuição do PEN para a comunidade científica, proporcionando mais um espaço privilegiado para atualização, aprofundamento e troca de conhecimentos sobre a produção relativa à filosofia e saúde.

Cabe lembrar que, no período até aqui tratado, a PG estava sob as diretivas dos três primeiros PNPGs23. O primeiro e segundo ainda não faziam referência direta à internacionalização, mas o III PNPG (1986-1989)23 já pontuava a qualificação de revistas e da produção científica docente segundo padrões internacionais e a necessária articulação da cooperação nacional e internacional (mesmo que focada apenas no intercâmbio passivo - docentes/pesquisadores no exterior); com base de a competitividade internacional do país depende da PG, ciência e tecnologia.

Desde seu início, o programa manteve ações de mobilidade internacional, embora não tivesse ainda uma política específica neste sentido. Após a criação do Doutorado, as atividades relativas à internacionalização se ampliam em oportunidades, muitas delas propiciadas pelas políticas dos órgãos de fomento, como a CAPES e o CNPq. Neste sentido, ressaltam-se: a contribuição do programa na titulação de mestres e doutores oriundos dos países da América Latina; consultorias prestadas a instituições e participação em eventos e cursos ministrados por docentes do Programa internacionalmente; participação de alunos do Doutorado da Enfermagem da UFSC, no Programa “Doutorado Sanduíche”, em Universidades da América do Norte, Europa e América do Sul; realização de pós-doutorado pelos docentes do programa, possibilitando a ampliação das parcerias e convênios internacionais e, consequentemente; o recebimento de professores visitantes estrangeiros.

Uma fragilidade identificada em processos avaliativos era a produção científica de discentes e docentes do programa, porém o número de veículos nacionais de divulgação e socialização desta produção era ainda reduzido. A partir do planejamento do doutorado, esta necessidade passa a ser mais premente, leva a profuso debate e, em 1992, à criação da Revista Texto & Contexto Enfermagem, inicialmente com periodicidade semestral, sob a coordenação da Dra. Ingrid Elsen.

Novamente o caráter inovador se manifesta na decisão por criar uma revista, dirigida a questões importantes para a Enfermagem brasileira, propiciando que o tema específico de cada número fosse discutido sob vários olhares, maior aprofundamento e consistência. Em pouco tempo, a Revista Texto & Contexto Enfermagem passa a ser uma referência essencial para a comunidade científica brasileira. Passados 29 anos de sua criação, a Revista sofreu várias transformações para acompanhar o acelerado desenvolvimento técnico-científico da Enfermagem nacional e internacional30. Também com o objetivo de ampliar a visibilidade do programa, é lançada a Série Teses em 1996, que perdurou até 2003, com 44 publicações destinadas a socializar as Teses defendidas no programa para a comunidade científica. Sua interrupção se deu por uma decisão política, uma vez que as produções científicas não vinculadas a periódicos e sem fator de impacto passaram a não ser valorizadas.

Marco da consolidação - fortalecendo estratégias de internacionalização (1998-2006)

Com o curso de Doutorado implantado e a primeira turma já titulada, este período histórico foi marcado por ousadia e inovação com a definição e implementação de estratégias que contribuíram para a consolidação da internacionalização do PEN/UFSC, entendendo-as como requeridas para o fortalecimento da enfermagem como profissão da saúde e disciplina da ciência.

A formação de mestres e doutores associada às iniciativas para a formalização do pós-doutorado, a produção de conhecimentos para fundamentar a prática e o reconhecimento da saúde como um direito universal orientaram o caminho percorrido. Neste sentido, a necessidade do diálogo internacional, já vislumbrada na criação do Programa, se mostrou imprescindível.

As estratégias formuladas e implementadas foram construídas de modo participativo e sistematicamente avaliadas pelo corpo docente e discente, dialogando com as instâncias da UFSC, com as políticas nacionais da pós-graduação e com as questões em debate na profissão, no Estado de Santa Catarina, no Brasil, e internacionalmente.

Os dados desse período tiveram como fonte os relatórios oficiais do Programa, disponíveis nos arquivos do PEN, e os achados foram organizados em quatro categorias temáticas: mobilidade acadêmica; cooperação em pesquisa; projetos de formação; produção e comunicação científica.

A Figura 3 sintetiza as ações relacionadas à internacionalização desenvolvidas no PEN, no período.

Figura 3 -
Marco da consolidação: o fortalecimento da internacionalização, período 1998-2006. Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

A política implementada no PEN, expressa na definição de buscar constituir-se em um centro de referência nacional e internacional em enfermagem e saúde, ficou fortemente visível no investimento e resultados obtidos em relação à internacionalização no período 1998-2006.

Dentre esses resultados destacou-se, significativamente, a mobilidade acadêmica de docentes e discentes do PEN no exterior, de discentes estrangeiros no Programa, incluindo a titulação plena como mestres e doutores e, ainda, atividades que envolveram docentes/pesquisadores de outros países no PEN. Dentre as ações desenvolvidas pelos docentes no exterior destaca-se o aperfeiçoamento em estágios pós-doutoral na Europa, América do Norte e Austrália, além de múltiplas atividades envolvendo 19 países, de quase todos os continentes. As trocas acadêmicas realizadas incluem atuação como professor visitante, participação em bancas examinadoras de Mestrado e Doutorado, realização de consultorias e assessorias e o estabelecimento de parcerias e convênios. Cabe ressaltar, ainda, a participação de docentes PEN em entidades científico-profissionais internacionais, o recebimento de prêmios e honrarias, a participação em eventos internacionais apresentando trabalhos (iniciativa proativa), o atendimento a convites como palestrante e a participação na organização de eventos internacionais itinerantes no país e exterior.

A construção de conhecimentos e sua divulgação é um desafio permanente, assim, foi realizado significativo investimento na participação internacional dos discentes PEN, destacando-se a realização de estágio sanduíche dos alunos de doutorado em nove países, sendo seis da Europa e nos EUA, Canadá e Argentina. O programa manteve, em média, um aluno de doutorado/ano em estágio sanduíche fora do país, assim como investiu e oportunizou a realização de estágios de curta duração e a apresentação de trabalhos em eventos em vários países. O reconhecimento do PEN e da expertise dos seus docentes gerou a procura de enfermeiros e profissionais de saúde para cursarem Mestrado e Doutorado pleno no PEN, procedentes de seis países da América Latina e de Portugal, além de constantes solicitações de parcerias, consultorias e assessorias em universidades de diversos países, em especial na América Latina.

No período, cabe destacar que o PEN recebeu professores/pesquisadores e representantes de órgãos multilaterais (OPAS, OMS, OEA) e oriundos de nove países. Os docentes/pesquisadores estrangeiros realizaram atividades como visitas de curta duração, participaram de eventos, ministraram cursos, aulas, palestras e conferências, assim como participaram em bancas de Mestrado e Doutorado no Programa.

Esse conjunto diversificado de atividades possibilitou a articulação e estruturação de parcerias e convênios, a organização de novos eventos internacionais, a construção de projetos de pesquisa conjuntos e a publicação de artigos, livros e capítulos de livros produzidos em parceria com pesquisadores internacionais, com publicações em português, inglês e espanhol.

Também foi altamente significativa a implementação de projetos de formação, com destaque para a constituição de redes de pesquisa e ensino. Essa estratégia foi construída com base na crença de que a solidariedade é um valor fundamental para impulsionar a qualificação da força de trabalho em enfermagem, no âmbito nacional e internacional, uma vez que os profissionais de enfermagem são fundamentais para a conquista do direito universal à saúde. Esse reconhecimento ficou mais evidente, alguns anos mais tarde, com a implementação da Campanha Nursing Now liderada pelo International Council of Nursing (ICN) e Organização Mundial da Saúde (OMS)31, além do reconhecimento social do papel primordial dos profissionais de enfermagem na saúde das populações, evidenciado na pandemia de Covid-1932.

O investimento de gestores, docentes e discentes do PEN na visibilidade internacional foi construída e fortalecida pela participação e organização de eventos internacionais, pela produção de material de divulgação em folders nos idiomas português, inglês e espanhol e pelo investimento no site, também com informações nos três idiomas. Um destaque significativo foi o investimento na internacionalização da Revista Texto & Contexto Enfermagem, incluindo ações para a ampliação e diversificação da indexação, publicação trilíngue, divulgação da revista em eventos internacionais, mostrando à comunidade científica a fertilidade desse veículo para a circulação do conhecimento.

As articulações com organizações multilaterais, em especial o Projeto CICAD-OEA (Comissão Interamericana para o Controle e Abuso de Drogas, da Organização dos Estados Americanos), e com entidades representativas da profissão foram muito positivas e férteis. O Projeto CICAD-OEA gerou a organização de vários eventos internacionais no PEN e a participação de docentes nas versões itinerantes do mesmo, gerou também a publicação de livros em co-autoria com parceiros internacionais em três idiomas e a formalização de um convênio internacional. Da parceira CICAD-OEA destaca-se, ainda, a coordenação, por docente do PEN, de curso de especialização internacional sediado no Canadá, em parceria com o Center for Adiction and Mental Health (CAMH), que possibilitou a publicação de três números especiais internacionais da Revista Texto & Contexto Enfermagem. Da relação com as entidades representativas da profissão, em especial a Associação Brasileira de Enfermagem, destaca-se a parceria na formulação de políticas profissionais, incluindo a organização de eventos como o 51^o Congresso Brasileiro de Enfermagem (CBEN)/10° Congreso Panamericano de Enfermería e o 1^o Seminário Internacional sobre o Trabalho da Enfermagem (SITEN). O SITEN tornou-se, a partir daí, um evento regular quadrienal organizado pela ABEn, com apoio do grupo PRAXIS/PEN/UFSC. A 5^a edição ocorreu em 2019, em Manaus, durante o 71º CBEN. Educação, produção do conhecimento e representação profissional articulam-se em busca de soluções para os problemas de saúde da população e os vivenciados nas práticas de cuidado, gestão, educação e pesquisa.

O investimento na cooperação em pesquisa, em projetos de formação inovadores, em parcerias e articulações internacionais, constituiu-se em um pilar fundamental do período. Em relação à cooperação em pesquisa, ressaltam-se os avanços na qualificação e ampliação do número de convênios internacionais e a implementação de diversas iniciativas de divulgação do conhecimento produzido. As iniciativas criativas e de solidariedade já visíveis na emergência do Programa ficam muito evidentes e consolidadas.

Ao analisar a política de internacionalização implementada pelo PEN e o disposto acerca da temática nos Planos Nacionais de Pós-Graduação, II e III, respectivamente para os períodos 1982-1985 e 1986-198923, verifica-se a relação do PEN com o instituído. Verifica-se a implementação de ações que associam referências prescritas, protagonismo e antevisão. As decisões, e ações visaram superar limites e construir futuro, produzindo conhecimentos para o fortalecimento da profissão, da ciência da enfermagem e do campo da saúde.

Um caminhar com forte ênfase na solidariedade, na construção de redes, no investimento na visibilidade (tanto na instituição matriz, UFSC, quanto no cenário internacional), articulação com entidades representativas da profissão nacionais e internacionais, no intercâmbio de conhecimentos e na construção de parcerias sólidas e longevas. O PEN, cada vez mais reconhecido, gerou frutos e tornou evidente a conquista que viria a seguir, o reconhecimento da excelência do programa.

Marco da excelência - a visibilidade da internacionalização (2007-2020)

A trajetória de internacionalização construída no PEN/UFSC demonstra como o corpo acadêmico foi desenvolvendo seu planejamento estratégico e estabelecendo metas, otimizando oportunidades e parcerias que culminaram no marco da excelência, com o estabelecimento de inserção consistente e permanente da internacionalização.

Compreendendo que a pauta da internacionalização22, evoluiu e foi sendo acolhida com maior equilíbrio pelas diferentes instituições estrangeiras, o movimento de aproximação exigiu flexibilidade, sabedoria e abertura ao novo e ao diverso, de forma a possibilitar um promissor crescimento. Investir na internacionalização significa circular o saber, promover ações de cooperação, com transformações concretas nos cenários envolvidos e comprometidos com a solidariedade intelectual a serviço da formação qualificada e no seu impacto social.

No período 2007-2020, as ações do PEN/UFSC expressas nas categorias temáticas: mobilidade acadêmica, cooperação em pesquisa, projetos de formação, solidariedade e produção de conhecimento se destacam pela magnitude em termos de quantidade de circulação de docentes e discentes interna e externamente ao programa, bem como pela qualidade e consistência das ações desenvolvidas. Houve uma ampliação substancial de convênios, de formação de estrangeiros no PEN e expressivo movimento de solidariedade internacional. Como consequência, a produção científica colaborativa ganhou mais qualidade, relevância e maior disseminação do conhecimento. A Figura 4 se utiliza da matriz já evidenciada no Marco II, mas destaca exatamente tudo o que se expandiu e se fortaleceu, mantidas as estratégias e avanços em curso desde o período anterior (note-se o símbolo de expansão no centro da figura), evidenciado em abrangência geográfica e numérica. Além disso, nos campos “Expressão 45 anos”, sintetiza aspectos selecionados dos atuais reflexos da excelência construída.

Figura 4 -
Marco da excelência: a visibilidade da internacionalização (2007-2020). Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

A mobilidade acadêmica se destacou neste período em diferentes ações, como a continuidade da política de desenvolvimento de estágio pós-doutoral no exterior dos docentes do programa e ampliação da participação em missões de estudos, de pesquisa, conferências e cursos no exterior por pesquisadores no PEN/UFSC. Em termos de mobilidade discente, o doutorado sanduíche ampliou-se em participantes e instituições acadêmicas, expandindo para outros países europeus e continente africano, além dos países da América Latina. Considerando o indicador avaliativo da CAPES focar na participação dos docentes permanentes (DPs) nesses processos, ao longo do período essa participação teve uma ascensão de em média de 15-20% para 70-80%. Do mesmo modo, a política de apoio, suporte e incentivo ao discente para estágio doutorado sanduíche no exterior e a participação qualificada em eventos internacionais projetam uma presença média de 30% de discentes PEN.

Os vínculos que se estabelecem nas relações internacionais ultrapassam os contornos institucionais, promovendo laços pessoais e afetivos7, além de estabelecerem o movimento salutar de integração e visibilidade de docentes, discentes, egressos, pesquisadores, experts, novas parcerias, num processo contínuo para a inovação e avanço da ciência de enfermagem e saúde.

Com uma expertise instalada e a cultura da internacionalização incorporada, o PEN/UFSC, em seus 45 Anos, celebra a formação de 71 pós-graduandos estrangeiros, sendo 40 mestres, 23 doutores e oito pós-doutores, oriundos de 11 países: Peru, Colômbia, Costa Rica, Argentina, Portugal, Espanha, Equador, Angola, Chile, Uruguai e Paquistão.

Os trâmites burocráticos, ético-políticos, sociais e culturais alinharam objetivos, processos e relações, de modo a alcançar, progressivamente, números significativos de missões técnico-científicas, publicações multicêntricas, eventos internacionais itinerantes, formação de estrangeiros, discentes e docentes do PEN em qualificação em instituições estrangeiras.

Os 26 convênios internacionais ativos representam uma trajetória consistente e persistente ao longo desses 45 anos, pois, do início, com três convênios efetivos, do Marco Zero, passando para 12 no Marco de Consolidação, chega-se a 26 no Marco da Excelência.

Um consolidado do Marco da Excelência em relação aos intercâmbios e convênios sinaliza que os mesmos se fortaleceram e ampliaram significativamente em número, qualidade e complexidade de ações, abrangendo os cinco objetivos alinhados ao PNPG 2011-202023, como: projetos de pesquisa em parceria; mobilidade docente e discente recíproca; orientação e coorientação de teses e dissertações; participação em bancas, disciplinas, seminários e similares; e produção científica compartilhada.

Assim, consolidamos e expandimos parcerias com a Alemanha (Universität Bielefeld e Universität Osnabrück); França (Université Paris Diderot); Canadá (University of Alberta e University of Toronto); México (Universidad de Guadalajara, Universidad Autónoma del Estado de México e Universidad de Guanajuato); Espanha (Universidad de Barcelona, Universidad de Alicante, Universidad de Córdoba e Universidad Autónoma de Barcelona); Estados Unidos (University of Miami - School of Nursing, Texas University - Scholl of Biomedical Informatics, University of Michigan - School of Nursing, Kent State University, University of Nebraska); Portugal (Universidade do Porto, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Escola Superior de Enfermagem do Porto, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e Universidade de Lisboa); Irlanda (Queen’s University of Belfast e Universidade de Cork); Chile (Universidad de Magallanes); Reino Unido (University of Nottingham e University of Kent); Costa Rica (Universidad Costa Rica); Noruega (Lovisenberg Diaconal University College).

No contexto da internacionalização, o PEN/UFSC tem contribuído com impactos positivos na sociedade, destacando-se: a coordenação de Programa CAPES PRINT, com o objetivo de criar uma rede de educação interprofissional em saúde, formada por uma equipe de pesquisadores brasileiros e estrangeiros (canadenses, espanhóis, portugueses, estadunidenses e ingleses). As ações já desenvolvidas incluíram: oferta de três disciplinas por colegas estrangeiros, realização de um seminário, recebimento de pesquisadora da Colômbia para estágio pós-doutoral por um período de 15 meses.

No tocante à solidariedade internacional, esta política esteve presente desde a criação do Programa, desenvolvendo ações colaborativas junto às instituições e colegas da América Latina na Venezuela, Peru, Colômbia e Bolívia, compartilhando conhecimentos e experiências e, desta forma, permitindo às instituições locais criarem seus próprios programas, fortalecendo a formação de lideranças e qualificada atuação na docência, gestão, assistência e investigação. Acelerando esse processo, a captação de estudantes estrangeiros para o PEN/UFSC também promoveu substancial contribuição, como apontado pelo número de estrangeiros titulados.

Tendo em vista o investimento crescente na formação de mestres e doutores como uma estratégia que visa formar líderes, impulsionar a reflexão crítica sobre os problemas da profissão e da saúde, em 2016 o PEN/UFSC propõe o MINTER - Internacional junto à Universidad de Magallanes em Punta Arenas, Chile, permitindo a qualificação de 20 mestres. A experiência exitosa resultou na proposta do Doutorado Interinstitucional Internacional (DINTER) em tramitação. O protagonismo do PEN atende ao conclamo da OPAS na formação de lideranças na enfermagem das Américas33. A solidariedade internacional também avançou com projetos junto a populações vulnerabilizadas, como as vítimas de desastre natural no Peru; violência doméstica na Espanha; obesidade infantil e de adolescentes no Chile, e missões humanitárias no Haiti e na África.

Cabe relembrar que o PNPG IV (2005-2010)23 reconhece fase de estabilidade e indução do sistema de PG brasileiro (SNPG), pautando o enfrentamento das diferentes assimetrias/concentrações e da integração com outras políticas públicas e programas prioritários. Em termos de políticas de cooperação internacional, traz as premissas do aprimoramento do SNPG como condição para o desenvolvimento econômico e social do país; sugere modalidades de cooperação internacional em modelos de reciprocidade e simetria, e o estímulo às redes de pesquisa na cooperação Sul-Sul; além das já estabelecidas, como prioridades na intensificação do intercâmbio (inclusive de estudantes de graduação) e pós-doutoramento para jovens doutores19^,28.

O que o PEN/UFSC, desde sua criação, projetou no campo da internacionalização potencializou-se no período de 2007 a 2020, pelo esforço coletivo e gestão sistematizada do processo de internacionalização, criando o LARISE & CT, Laboratório de Relações Internacionais & Cooperação Técnica em Saúde e Enfermagem. Informações mais detalhadas são encontradas na página https://larise.paginas.ufsc.br/.

As ações e interlocuções ganham espaço e projeção pela disseminação do conhecimento produzido, seja na publicação de artigos, livros, capítulos de livros, editoriais, anais, protocolos, entre outros. As publicações com pesquisadores estrangeiros fazem parte da meta e compromisso ético-social desde seu nascimento, crescendo significativamente no último quadriênio (2017-2020), com 115 artigos neste tipo de parceria, com envolvimento de mais de 80% de DPs. Esse quantitativo representa a produção de 4,4 (quatro vírgula quatro) artigos por convênio no quadriênio. Número que tende a crescer com o progressivo resultado das investigações colaborativas com as instituições e pesquisadores estrangeiros. Além disso, desponta a importância das consultorias ad hoc internacionais, projeção internacional da revista Texto & Contexto Enfermagem e participação em projetos de pesquisa multicêntricos com suporte de capital financeiro estrangeiro.

As consultorias ad hoc internacionais atestam o potencial e expertise dos docentes tanto em referenciais teóricos no campo filosófico, educacional, tecnológico, epidemiológico, ergologia e força/cargas de trabalho, ética e bioética, história da profissão, do cuidado e da gestão, como no campo metodológico, de pesquisas com abordagem qualitativa, quantitativa e métodos mistos.

A participação em projetos de investigação multicêntricos se mantém pela consistência e desenvolvimento de cinco macroprojetos junto a grupos de pesquisa não consolidados e consolidados, em andamento desde o quadriênio anterior, com Espanha, México, Alemanha, Reino Unido, França e Argélia. Os temas envolvem a promoção da saúde em espaços sociais vulneráveis, problemas e desafios no trabalho contemporâneo de profissionais de saúde em hospitais públicos, sistemas de saúde, atenção médica e transplante renal e impacto econômico da mortalidade materna. São estudos comparativos entre os países já mencionados, contemplando, ainda, Portugal, Bolívia e Uruguai.

Temos a compreensão de que o processo de internacionalização do PEN/UFSC mantém a esperança viva de que é possível atravessar fronteiras, com coragem, apoio, suporte e se atrever a viver tudo o que o movimento exige, desafia e oportuniza, com respeito, ética, resiliência e generosidade. O processo de expansão e de excelência é permanente e a visibilidade do PEN foi aprimorada além de sua webpage, por meio da mídia digital, com página no Facebook, Instagram e canal no Youtube.

CONCLUSÃO

Os marcos da trajetória dos 45 anos do PEN/UFSC revelam sua contribuição para a internacionalização do Programa e da enfermagem brasileira. O compromisso do seu corpo docente e discente com as políticas nacionais e internacionais de formação na pós-graduação e de cooperação internacional se sobrepõe aos interesses institucionais.

Os processos internos e externos que configuraram a internacionalização da Pós-Graduação foram pautados nas bases constitucionais das relações internacionais e das diretrizes da educação, ciência e tecnologia brasileiras.

Ao cumprir as pautas propostas, mas, sobretudo, antecipando movimentos, de modo original e desbravador, como a solidariedade internacional, assessorias, parcerias e formação de estrangeiros com impacto social, político, acadêmico e institucional, imprime a marca presente em seu DNA - o investimento coletivo no fortalecimento da ciência da enfermagem e saúde no mundo.

AGRADECIMENTO

A coordenação do PEN/UFSC pelo honroso convite para elaborar este manuscrito

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NOTAS

• ORIGEM DO ARTIGO

  Artigo especial em comemoração aos 45 anos do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, 2021.

• FINANCIAMENTO

  Este trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código Financeiro 001.
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  Newton Lins Buarque Sucupira, foi o relator do parecer e é considerado o Pai da Pós-Graduação brasileira. Era filósofo e advogado formado pela UFRJ, e na ocasião atuava como Secretário da Educação no MEC4.
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  https://www.scimagojr.com/countryrank.php?area=2900®ion=Latin%20America https://www.scimagojr.com/countryrank.php?area=2900
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  https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/index.xhtml

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  Comissão designada pela Portaria no. 231/74, do Pró-Reitor de Ensino e Pesquisa, Professor Samuel Fonseca, designando as professoras: Eloita Pereira Neves, Ingrid Elsen, Nelcy Terezinha Coutinho Mendes e Rosita Saupe.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  08 Nov 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  06 Set 2021
• Aceito
  23 Set 2021